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É estranho falar sobre ausências, partidas e saudades.

Tudo acontece de forma tão rápida,


quando nos damos conta acabou, passou ou finalizou. São os processos que todos nós
passamos nessa vida. Ano passado ficavam os dias ao lado da minha madrinha, não
imaginava que a perderia tão rápido. Se pudéssemos prever a morte, com certeza
tentaremos um adiamento por dias, anos ou séculos. Não falo no lugar da dor, mas das
saudades que ardem dentro do meu peito por não estar ao lado dela, por não receber uma
ligação com ela gargalhando de felicidade. São esses momentos que sinto falta, dos longos
abraços seguidos do te amo, madrinha. São às lágrimas que sempre rompem dos meus
olhos e fazem encontro com as que carrego em meu peito, ao respirar ofegante que dou
quando lembro das nossas conversas.

Essa vida de eternas ausências me deixa nauseada, tudo precisa ser abandonado. Ainda
estou em luto. Mas preciso seguir a vida, pois é assim que aprendemos a lidar com as
coisas: deixando pra lá. Deixando o choro pra amanhã, deixando "o quero você por perto"
para ser dito no outro dia ou nunca será dito... Quando nos damos conta ACABOU. Falo
sobre isso não por sentir dor, são saudades mesmo. Pois meus dias de sol não serão mais
os mesmo sem seu brilho extra de vida. Minha vida foi feita de mulheres incríveis e posso
dar nomes para todas. São referências que não vivo sem. Hoje, Madrinha, era só um abraço
apertado e uma comida cheia de afeto que amenizariam minhas inseguranças. Era só um
cheiro seguido das palavras: Tenho a madrinha mais linda desse mundo, te amo muito
minha véia e dos risos ao receber esse abraço apertado.

Como disse Conceição Evaristo: "As palavras ficam mudas diante da morte".

Demorei para escrever sobre sua partida, pois minhas palavras ficaram mudas diante da
perda. Te amo, madrinha.

Sempre me pego perguntando: E se Aida estivesse aqui, o que estaríamos aprontando?


Sinto tantas saudades, tantas que não recuso que a lágrima caia. A última vez que nos
encontramos ela estava na UTI, era dia 7 de setembro. Me perdi no hospital. Fiquei ansiosa.
Ela estava deitada, tinha acabado de voltar da diálise, cansada. Cheguei pertinho e disse:
Madrinha. Ela abriu os olhos e tentou, mesmo cansada, falar comigo. Fiquei horas olhando
pra ela, horas olhando os roxos em seus braços. Ela tinha o sangue examinado todos os
dias. Encurtando essa história. O tempo ele tira os planos, ele tira os possíveis encontros,
tira futuras possibilidades. Mas fui presente, estive lá, sempre quando me pediam socorro
estava lá. Ela vinha rindo com seu vestido azul florido. Ria e falava: "Os véios vão te dar
muito perdido ainda." Estava feliz pois iria assistir finalmente sua missa no morro da
conceição, pois a nova casa era perto. Eita, tempo o que fizesse comigo. Queria só mais
uns anos ao lado dela, mas obrigada por ter colocado minha madrinha no meu caminho,
meu anjo, meu grande amor.
Saudades, muitas saudades.

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