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08/04/2021

Universidade Federal da Paraíba – UFPB


Centro de Ciências Exatas e da Natureza – CCEN
Departamento de Química - DQ

Química Quântica e
Espectroscopia

Prof. Gerd Bruno Rocha


Prof. Higo de Lima Bezerra Cavalcanti
E-mail: gbr@academico.ufpb.br

João Pessoa – PB

Parte I

O longo caminho até a Função de Onda

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Comportamento Ondulatório da Matéria

O Efeito fotoelétrico nos mostra que a radiação eletromagnética pode


apresentar comportamento corpuscular

Poderia o contrário também ser válido? A matéria como a conhecemos poderia


apresentar comportamento ondulatório? (Simetria universal?)

O físico francês Louis De Broglie dedicou seu doutorado a responder esta


questão
Por Planck Por Einstein

Comportamento Ondulatório da Matéria

Consequências da hipótese de de Broglie:

Entidades tidas como partículas podem se comportar como ondas!!

Possuímos uma expressão matemática consistente que relaciona propriedades


de matéria e da radiação eletromagnética

Observação experimental: Difração de elétrons (Clinton Davisson e Lester Gerner,


1927)

Exercício 1: Qual o comprimento de de Broglie de uma bola de beisebol se


movendo com uma velocidade v = 10 m/s e m = 1,0 Kg

Exercício 2: E quanto a um elétron com energia cinética 100 ev?

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Princípio da Incerteza de Heisenberg

Mecânica clássica: uma partícula macroscópica


possui uma trajetória definida (podemos saber
sua posição e momento linear a cada instante)

(equações de movimento!!)

Como podemos medir a posição de uma partícula que se comporta como uma
onda??

Se tentarmos localizar o elétron com uma luz de comprimento de onda λ, a


precisão da medida é de no máximo +/- λ

Se λ for diminuído para aumentarmos a precisão da medida, teremos uma


incerteza no momento linear, pois a energia transferida para o elétron mudará
sua velocidade

O Princípio da Incerteza de Heisenberg estabelece um limite para a precisão com


que a posição e o momento linear de uma partícula podem ser simultaneamente
determinados

Princípio da Incerteza de Heisenberg

A própria medida interfere na posição ou na velocidade do elétron!

“Na escala de massa de partículas atômicas, não podemos determinar


exatamente a posição, a direção do movimento e a velocidade
simultaneamente”

Para uma partícula quântica, não existe o conceito de trajetória

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Experimento da fenda dupla com elétrons

Elétron

Experimento metal do Gato de Schrödinger

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Medições

Retiramos as informações sobre um sistema através de uma medida com


auxílio de um aparelho

As informações que podem ser medidas são observáveis físicos e os aparelhos


são instrumentos (clássicos) que interagimos com o sistema

Na mecânica quântica apenas alguns possíveis valores podem ser obtidos na


medida de um observável físico (ex.: espectro eletrônico)

Cada um desses valores possui uma probabilidade de acontecer após a


medida

O processo de medida sempre afeta o estado do sistema (colapso da função


de onda)

Quanto mais exata a medida, mais intenso é o efeito sobre o sistema

Clássico vs Quântico

Mecânica Clássica

Para determinar o estado do sistema, devemos conhecer as posições e as


velocidades das partículas num tempo t

 6 variáveis para cada partícula (Vx, Vy, Vz; X, Y, Z)t

 Podemos prever o futuro e reconstruir o passado

 É uma mecânica determinística

 Predição total para o estado do sistema


MAS....

Por de Broglie O elétron tem comportamento de onda

Por Heisenberg Para uma partícula quântica não vale o conceito de


trajetória

Precisamos de uma nova Mecânica!!

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Função de onda

Naturalmente, a construção dessa nova mecânica deveria incluir a quantização


da energia e o comportamento ondulatório das partículas

Se as partículas se comportam como ondas então deve haver uma função de


onda, uma função matemática que descreve os estados do sistema quântico

A essa função matemática deu-se o nome de Função de Onda

 Não podemos prever o futuro com certeza total

 Mecânica determinística nas probabilidades

A função de onda é uma função matemática complexa

 A função de onda contém toda a informação do sistema, basta que


consigamos obtê-la

Parte 2

Equação de Schrödinger

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Equação de Schrödinger

Erwin Schrödinger substituiu a trajetória precisa da partícula por uma função


de onda

Equação de uma onda plana (unidimensional):

Solução da equação diferencial


Fase da onda

Sabemos que

Equação de Schrödinger

Derivando a equação da onda plana em relação a t:

Rearranjando: Operador
Energia

Derivando a equação da onda plana em relação a x:

Rearranjando: Operador
Momento
Linear

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Equação de Schrödinger

Formalismo de Hamilton

Conservação da energia total = Energia cinética + Energia potencial

Onde Ĥ é o Operador Hamiltoniano

Equação de Schrödinger

Com isso chegamos a...

Equação de Schrödinger dependente do tempo

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Equação de Schrödinger

O operador Hamiltoniano atua na função de onda, gerando uma outra função de


onda, χ por exemplo

Se χ for igual a então, Ψ é uma solução da ES dependente do


tempo

     corresponde à energia total do sistema




Para um sistema de N partículas:

Equação de Schrödinger

Nesse ponto, faremos uma separação de variáveis

Escreveremos a função de onda como sendo composta de duas partes, uma


dependente do tempo, e outra dependente das coordenadas:

Derivando com relação a t e duas vezes com relação a posição:

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Equação de Schrödinger

O lado esquerdo desta equação depende apenas do tempo, enquanto o lado


direito, por sua vez, apenas da coordenada x

Entretanto, temos uma igualdade que nos diz que o lado esquerdo depende
das variáveis do lado esquerdo, e vice-versa

Para sair desse dilema, há apenas uma saída para nós, afirmar que cada lado
da equação, individualmente, é igual a uma constante

Equação de Schrödinger

Vejamos o lado esquerdo da equação:

Com isso acabamos de determinar a parte


temporal da função de onda

Ψ(x) corresponde às soluções


estacionárias da eq. de Schrödinger

O lado direito da equação corresponde à Equação de Schrödinger independente do


tempo:

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Equação de Schrödinger

Numa forma simplificada:

Considerações:

E é a energia do sistema. Resolver a equação de Schrödinger significa obter ψ e E, ou


seja, as funções de onda e suas energias correspondentes

Estas funções de onda correspondem a estados de energia total constante. Cada


função de onda possui sua própria energia total, constante para aquele estado

Sabemos que ψ contém toda a informação possível de se saber sobre um sistema,


mas qual é seu real sentido físico?

Parte 3

Interpretando a
função de onda

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Interpretação de Max Born para a função de onda

Iremos interpretar a função de onda em termos da localização da partícula

Max Born utilizou uma analogia com a teoria ondulatória da luz, onde o quadrado
da amplitude de uma onda eletromagnética é interpretado como a intensidade da
luz

Em termos quânticos, uma medida da probabilidade de encontrarmos um fóton


numa região do espaço

Com isso, analogamente, a interpretação de Born da função de onda opera com


seu quadrado, ou com o quadrado do módulo, se ψ for complexa

Interpretação de Max Born para a função de onda

“Se a função de onda da partícula vale ψ num certo ponto x, a probabilidade de se


encontrar a partícula entre x e x+dx é proporcional a dx”

No caso de uma partícula realizando um movimento unidimensional, |Ψ(x,t)|2dx


fornece a probabilidade, no instante t, de encontrarmos a partícula entre x e x +
dx.

|Ψ(x,t)|2 fornece a densidade de probabilidade

Para o caso tridimensional, temos a probabilidade de encontrar a partícula num


certo elemento de volume dτ = dxdydz

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Interpretação de Max Born para a função de onda

A abordagem de Max Born é bastante útil se pensarmos que ela elimina a


necessidade de interpretarmos valores negativos ou complexos de ψ

A função de onda, por si só, não possui significado físico!

Valores positivos ou negativos de ψ, podem nos fornecer a mesma probabilidade


de encontrarmos a partícula naquela região

O sinal de ψ terá importância mais adiante, ao analisarmos o fenômeno de


interferência construtiva e destrutiva das funções de onda

Interpretação de Max Born para a função de onda

Por que não obtemos a densidade de probabilidade simplesmente tomando um


sistema que estava no estado Ψ e medimos repetidamente a posição da partícula?

Tal procedimento não funciona simplesmente porque o próprio ato de medir


geralmente muda o estado de um sistema.

A mecânica quântica é estatística por natureza. Mesmo que saibamos em que


estado o sistema se encontra, não é possível prever com absoluta certeza o
resultado de uma medida da posição; tudo o que podemos prever são as
probabilidades correspondentes aos vários resultados possíveis.

A mecânica quântica nos diz que são os padrões de probabilidade (funções de


onda) utilizados para descrever o movimento da partícula (elétron) que se
comportam como ondas, e satisfazem a uma equação de onda.

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Interpretação de Max Born para a função de onda

Interpretação direta de ψ2  Densidade de probabilidades!!

Interpretação de Max Born para a função de onda

Observemos a função de onda da forma:

|Ψ|2 = [e-iEt/ħ ψ(x)]*e-iEt/ħ ψ(x)


= eiEt/ħ ψ*(x)e-iEt/ħ ψ(x)
= e0ψ*(x)ψ(x)

|Ψ|2 =ψ*(x)ψ(x)
|Ψ|2 = |ψ(x)|2
Assumimos que “E” é real

A densidade de probabilidade não varia com o tempo, e os estados descritos por


este tipo de função de onda são chamados de estados estacionários

A função ψ(x) é frequentemente chamada de função de onda, embora a função de


onda completa de um estado estacionário seja obtida multiplicando ψ(x) por e-iEt/ħ.

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Requisitos para a função de onda

A abordagem probabilística assumida aqui também impõe algumas restrições à


função de onda para que esta seja fisicamente aceitável

 Ψ deve ser quadrado integrável

A probabilidade de encontrarmos a partícula em todo o espaço deve ser


igual à unidade (100%)

A função de onda não pode tender ao infinito


em uma região finita do espaço, ou a integral
acima também tenderia a infinito

Logo, a função mostrada ao lado não é


permitida para uma função de onda em
mecânica quântica

Requisitos para a função de onda

 Normalização

Se ψ é solução da equação de Schrödinger, então Nψ também o é!!

É sempre possível encontrar uma constante de normalização N que transforme


na unidade a proporcionalidade que surge da interpretação de Max Born

Função de onda normalizada

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Requisitos para a função de onda

 Ψ deve ser unívoca

Se ψ for unívoca, então ψ*ψ também deverá ser unívoca

Uma vez que ψ*ψ representa uma densidade de probabilidade, então deve haver
apenas um valor para cada ponto do espaço

Exceções apenas quando o spin do elétron é levado em conta

 Ψ deve ser contínua

 Ψ deve ter derivadas contínuas

Pela própria definição das derivadas em todo o domínio, faz-se necessário a


continuidade da função

Requisitos para a função de onda

Em resumo, ψ deve ser bem


comportada

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Parte 4

Operadores

Operadores

Um operador nada mais é que uma regra que transforma uma dada função em
outra
Ex.: Operador diferencial: Ôf(x) = f’(x)

Um operador  atua numa função f(x) transformando-a numa função g(x), então
temos que Âf(x) = g(x)

Seja f(x) = 3x2 – 5x

Ôf(x) = d/dx (3x2 – 5x) = 6x – 5


(operador x ⋅) 
·  · 3  − 5  3  − 5 

Os principais operadores em mecânica quântica correspondem à observáveis


físicos, tais como a energia, momento angular, posição, etc.

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Operadores

Propriedades dos operadores

Soma e diferença:

Produto

O operador  atua no resultado da operação do operador  !!

Operadores

Para o exemplo visto há pouco não faz diferença qual operador é aplicado
primeiro, pois um deles é uma constante multiplicativa

Porém, em geral:

Considere os operadores
e d/dx:

Dois operadores são iguais se:

Para qualquer função f

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Operadores

Os operadores obedecem a lei associativa da multiplicação:

Porém não obedecem a lei comutativa da multiplicação:

Com isso em mente, construímos dois novos operadores baseados nessa


propriedade:

Comutador

Se    , então ,   0. Ou seja,  e  comutam.


Se    , então ,   0. Ou seja,  e  não comutam.

Operadores

Anti-Comutador

Quadrado de um operador

É definido como o produto do operador por ele mesmo

Â2 = Â Â A enésima potência de um operador é


definida pela aplicação sucessiva de n vezes
o operador

Ân = Â Â ... Â

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Operadores

Multiplicação por uma constante

Operadores Lineares

Os operadores em mecânica quântica pertencem à classe dos operadores


chamados lineares

Um operador  é dito linear se e somente se satisfizer as seguintes condições:

f e g são funções arbitrárias e c uma constante não necessariamente real

Exercício: Provar a linearidade ou não-linearidade dos seguintes operadores: x2,


d/dx, d2/dx2, cos() e ( )2.

Operadores

O operador d/dx é, portanto, linear, enquanto a aplicação da


raiz quadrada não é linear

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Operadores

Identidades

Exercício: Provar
estas identidades!

Operadores

Autovalores e autofunções de um operador

Se o efeito resultante da aplicação de um operador  numa função f(x) gera a


própria função multiplicada por uma certa constante (k), dizemos que a função f(x)
é uma autofunção do operador Â, com autovalor k.

Autofunção ou autovetor
Autovalor
Exemplo: a função e2x é uma autofunção do operador d/dx, com autovalor 2:

Contudo, sen2x não é uma autofunção de d/dx, pois (d/dx)(sen2x) = 2cos2x

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Operadores

Operadores em Mecânica Quântica

Operador Hamiltoniano: as suas autofunções são as funções de onda do sistema, e


os autovalores são as energias dos estados.

Como dito anteriormente, este operador simplesmente é obtido a partir da função


Hamiltoniana da Mecânica Clássica (H).

Autofunção de H com
Operador autovalor E

Esta correspondência entre quantidades físicas observáveis e operadores constitui


um postulado fundamental da Mecânica Quântica: para toda propriedade física
(por exemplo, energia, posição, momento) há um operador correspondente na
Mecânica Quântica

Operadores

A questão agora é descobrir como obter o operador referente a uma dada


propriedade A

Nós escrevemos a forma clássica para a propriedade A como função das


coordenadas cartesianas e do momento, e então substituímos:

As coordenadas cartesianas por um operador cuja ação seria


multiplicar pela coordenada:

Cada componente do momento linear é substituído pelo operador:

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Operadores

Operador correspondente Valor da observável


a uma observável física física

Exemplo: Operador potencial harmônico

Forma clássica

Forma quântica

Exercício: Mostrar SE os operadores momento linear e posição (unidimensional)


comutam

Operadores

Cada operador possui seu próprio conjunto de autovalores e autofunções

Representando as autofunções de um operador por fi e seus autovalores bi,


teríamos:

O subscrito i representa os muitos possíveis autovalores e autofunções

A mecânica quântica postula que uma medida da propriedade B fornece um dos


autovalores do operador B

Esta função de onda é autofunção do


operador energia?

Sendo assim, Ψ(x,t) é uma autofunção de   , e ao medirmos a energia do sistema


(no estado descrito por Ψ(x,t)), certamente obteremos o valor E

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Operadores

Valor Médio
Considere o seguinte conjunto de valores medidos para uma certa propriedade:

{0, 5, 3, 3, 9, 3, 4}
N=7

Valor Médio: ou

Onde N é o número de medidas, nb é quantidade de vezes que um valor b é obtido

Para funções contínuas:

Operadores

Em mecânica quântica, Px é o quadrado da função de onda!

Por que dessa forma? Veja:

x ψ*

Lembre que:

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Operadores

Valor médio de um
operador

Ψ é uma autofunção do operador B com autovalor k

Algumas identidades:

Normalmente utilizamos o termo valor esperado ao invés de valor médio. O valor


esperado não é necessariamente um dos possíveis valores que podemos observar

Operadores

Operadores Hermitianos

Já vimos que os operadores em mecânica quântica são lineares

Entretanto, ainda há outra condição a ser satisfeita

Os operadores em mecânica quântica são também da classe chamada Operadores


Hermitianos

Seja  o operador linear representando a propriedade física A. Seu valor esperado


é:

Uma vez que o valor esperado é um número real:

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Operadores

Um operador linear que satisfaz a relação:

É dito Hermitiano!

Todos os operadores em mecânica quântica são lineares e Hermitianos

Funções Ortogonais e Ortonormais

Desde a interpretação de Max Born da função de onda conhecemos sua


característica de ser normalizada

Duas funções são ditas ortogonais se:

Duas funções são ditas ortonormais se além de ortogonais:

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Notação de Dirac (Interpretação Vetorial das Funções de Onda)

O estado de um sistema quântico pode ser representado por um vetor KET:

Para todo Ket existe um vetor BRA que é o seu adjunto ou complexo conjugado

Dado um Ket:

Seu Bra:

Produto Escalar de Funções

Elementos de matriz de um
operador

Identidades:

Degenerescência e combinação linear

Degenerescência
Um nível de energia é dito degenerado quando duas ou mais funções de onda
independentes correspondem ao mesmo valor de energia.

a
Funções de onda f e g
E w o valor de energia do
Sejam n funções de onda independentes
nível degenerado

Pode ser mostrado que qualquer combinação linear de n funções de onda de um


 com autovalor w
nível degenerado é uma autofunção do operador 

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Parte 5

Teoremas e Postulados da
Mecânica Quântica

A MQ é definida como teoria com base nos seus


postulados.

Teoremas e Postulados da Mecânica Quântica

Os teoremas da mecânica quântica baseiam-se nos teoremas dos operadores


Hermitianos

Matriz transposta conjugada

Teorema 01: Os autovalores de um operador Hermitiano são números reais

Teorema 02: As autofunções de um operador Hermitiano são ou podem ser


escolhidos para ser mutuamente ortogonais

Vamos provar que:


Considere:

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Teoremas e Postulados da Mecânica Quântica

Expansão em termos das autofunções

Um conjunto de autofunções g1, g2, ..., gi é dito formar um conjunto completo se


qualquer função f bem comportada e que obedeça às mesmas condições de
contorno das funções g puder ser expressa como combinação linear das funções g

Subentende-se que f e g são funções das mesmas variáveis

O somatório inclui todos os membros do conjunto completo

Teorema 03 o conjunto das autofunções de qualquer operador Hermitiano que


represente uma quantidade física forma um conjunto completo

Teoremas e Postulados da Mecânica Quântica

Mas quem são os ai’s? Os coeficientes da expansão?

Vamos multiplicar os dois lados da equação por uma função qualquer g* que
pertence ao conjunto completo, em seguida integramos em todo o espaço:

Delta de Kronecker
= 0 se i ≠ k

= 1 se i = k

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Teoremas e Postulados da Mecânica Quântica

Tomemos o conjunto completo de autofunções do operador Â, e seja f uma


autofunção de  (logo, pertence ao conjunto completo) com autovalor k. Se f for
expandida como combinação linear:

Os únicos coeficientes não-nulos são aqueles em que g tem autovalor k

As autofunções de um operador Hermitiano formam um conjunto completo,


ortonormal e com autovalores reais

Teoremas e Postulados da Mecânica Quântica

Autofunções de operadores de comutação

Se a função de estado Ψ for, simultaneamente, uma autofunção dos operadores  e


 , com autovalores aj e bj (respectivamente), então uma medida da propriedade
física A irá fornecer o resultado aj, enquanto que uma medida da propriedade B irá
fornecer o resultado bj .

Portanto, as duas propriedades A e B possuem valores bem definidos quando Ψ é


simultaneamente uma autofunção de  e  .

Teorema 04: Se os operadores lineares  e  possuem um conjunto completo


comum de autofunções então  e  comutam

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Teoremas e Postulados da Mecânica Quântica

Teorema 05: se operadores Hermitianos  e  comutam, podemos selecionar um


conjunto completo de autofunções para eles

Sejam gi e ai (respectivamente) as autofunções e os autovalores do operador Â

Aplicando o operador  em ambos os membros desta equação chegamos a:

Uma vez que  e  comutam e  é um operador linear, obtemos

Esta equação significa que a função  gi é uma autofunção do operador  com o


mesmo autovalor ai da autofunção gi

Teoremas e Postulados da Mecânica Quântica

Teorema 06: se i e j são autofunções do operador Hermitiano  com diferentes


autovalores e se  é um operador linear que comuta com Â, então:

Para ai ≠ aj

Se os dois operadores comutam então i também é autofunção de B

Se os a’s são degenerados, a aplicação do operador  na função i resultará uma


combinação linear de n autofunções do autovalor degenerado ai

x j*

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Teoremas e Postulados da Mecânica Quântica

Medidas e superposição de estados


A Mecânica Quântica pode ser considerada como um esquema que nos permite
calcular as probabilidades referentes aos vários resultados possíveis de uma medida.

Por exemplo, se soubermos a função de onda Ψ(x,t) de uma partícula, a


probabilidade de que uma medida da posição da mesma (no tempo t) forneça um
valor entre x e x + dx é dada por |Ψ(x,t)|2dx.

Vejamos para uma dada propriedade B.

Teorema 07: Se bm é um autovalor não degenerado de operador  e m é sua


correspondente autofunção normalizada, então quando a propriedade B é medida
num sistema quântico cuja função de estado no tempo t é Ψ, a probabilidade de
obter o resultado bm é dada por . Se o autovalor é degenerado, a
probabilidade de obter bm é encontrada somando os valores para as
autofunções cujo autovalor é bm.

Teoremas e Postulados da Mecânica Quântica

Teorema 08: Se a propriedade B é medida num sistema quântico cuja função de


estado no tempo t da medida é Ψ, então a probabilidade de observar o autovalor
bj é onde j é a autofunção normalizada de  correspondente ao autovalor
bj

Superposição de autoestados do operador 

Probabilidade

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Teoremas e Postulados da Mecânica Quântica

Postulados da Mecânica Quântica

Postulado 1: O estado de um sistema é descrito por uma função Ψ das coordenadas


das partículas e do tempo. Esta função, chamada função de estado ou função de
onda, contém toda a informação que pode ser determinada acerca do sistema. Ψ
deve ser mono-valorada, contínua e quadrado integrável.

Postulado 2: A toda propriedade física corresponde um operador linear e


Hermitiano. Para obtermos a expressão referente a um dado operador devemos
primeiramente escrever a sua expressão em termos das coordenadas das partículas
e das componentes do momento linear, utilizando a Mecânica Clássica. Em seguida
substituímos (q) e (pq) pelos seus operadores correspondentes na mecânica
quântica.

Postulado 3: Os únicos valores possíveis que podem ser obtidos a partir de uma
medida de uma propriedade física B são os autovalores bi na equação  gi = bigi,
em que  é o operador correspondente à propriedade B.

Teoremas e Postulados da Mecânica Quântica

Postulado 4: Se  for um operador linear e Hermitiano que representa uma


propriedade física, então as autofunções gi de  formam um conjunto completo.

Este postulado nos permite expandir a função de onda de qualquer estado


como uma superposição de autofunções ortonormais de qualquer operador
Hermitiano

Postulado 5: Se Ψ(q,t) corresponder à função normalizada de um sistema (em um


dado instante de tempo t), então o valor esperado de um observável físico B
(neste mesmo instante de tempo) é dado por:

Postulado 6: A evolução temporal do estado de um sistema mecânico-quântico é


dada pela equação de Schrödinger (ES) dependente do tempo:

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Teoremas e Postulados da Mecânica Quântica

Suponha que nós temos (no tempo t = t0) vários sistemas idênticos e não-
interagentes, descritos pelas mesmas funções de onda Ψ(q,t0).

Se deixarmos cada um dos sistemas evoluir, a sua função de estado vai mudar de
acordo com a ES dependente do tempo

Uma vez que cada um dos sistemas possui o mesmo Hamiltoniano (pois são
idênticos), cada um deles vai ter a mesma função de estado Ψ(q,t1) em um tempo
posterior t1

Contudo, suponha que em um outro tempo posterior t2 nós faremos a medida de


uma propriedade B em cada um dos sistemas.

Apesar de cada um dos sistemas ser descrito pela mesma função Ψ(q,t2), no
instante da medida, não iremos obter o mesmo valor da propriedade B em cada
um deles

Ao invés disso nós iremos obter uma distribuição de valores bi (em que bi
correspondem aos autovalores do operador  )

Fixação dos conceitos da Mecânica Quântica


Ψ(x,t)
Arremesso de dados: Um jogo quântico?

• Quantização: número de pontos na face superior do dado


são os observáveis. Esses números podem ser apenas: 1,
2, 3, 4, 5 e 6. Ou seja, o resultado do arremesso do dado é
quantizado.

Os estados possíveis são: |⟩, |⟩, |⟩, |⟩, |⟩  | ⟩.

|!⟩, onde ! é um número quântico. Definir um valor para o número quântico é o


suficiente para caracterizar completamente um estado do sistema.
 , onde
O observável número de pontos pode ser associado a um operador "
podemos usar a equação de autovalores a seguir:
 |!⟩ = !|!⟩
"

Autofunções do operador Autovalores do operador

|!⟩ são estados estacionários. Ou seja, o número de pontos não varia no tempo.
https://pubs.acs.org/doi/abs/10.1021/ed061p1044

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Fixação dos conceitos da Mecânica Quântica


Ψ(x,t)
Arremesso de dados: Um jogo quântico?

• Medição da observável física:


Segundo B. de Barros Neto: “O lançamento de um dado é um
experimento cujo resultado nós não podemos prever. Tudo o
que podemos fazer é calcular a probabilidade de ocorrência de
um certo número de pontos. Em um dado honesto, esta
probabilidade é a mesma para todos os valores possíveis,
sendo igual a 1/6, como todos sabem”.
1 1 1
# 1 = ,# 2 = ,⋯,# 6 =
6 6 6
A probabilidade de 1 ou 2 ou 3 ou 4 ou 5 ou 6 é igual a p(1) + p(2) + p(3) + p(4) + p(5 + p(6),
que é igual a 6p, que dá como resultado 1. Isso é o exemplo do conceito de normalização.
No arremesso de dados, cada um dos possíveis resultados é completamente independente
dos outros. Assim, isso é um exemplo de ortogonalidade dos autoestados. Dessa forma, o
conjunto dos autoestados do operador "  , constitui um conjunto completo. E assim
qualquer estado do sistema |(⟩ pode ser obtido como uma combinação linear dos
autoestados |!⟩.
|(⟩ = ) *! |!⟩
! DOI: 10.1021/ed061p1044

Fixação dos conceitos da Mecânica Quântica


Ψ(x,t)
Arremesso de dados: Um jogo quântico?

• Medição da observável física:

Estado do dado quando jogamos ao ar para que caia na


|(⟩ = ) *! |!⟩ mesa. Esse é um exemplo de estado superposto. Escrito
!
como uma combinação linear dos possíveis auto estados
.
do operador "

Ao cair na mesa e o observador fazer a medida (olhar a face


de cima do dado) o estado |(⟩ é projetado em um dos
possíveis auto estados |!⟩, que é um exemplo para o colapso
da função de onda ao se medir uma observável física.
DOI: 10.1021/ed061p1044

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Fixação dos conceitos da Mecânica Quântica


Ψ(x,t)
Arremesso de dados: Um jogo quântico?

• Valor esperado:

 , do número de pontos é simplesmente a média


O valor esperado, "
de todos resultados possíveis ponderadas pelas respectivas
probabilidades de obter o resultado:


 = ) *! · ! = )
" · ! = , 
!+ !+

Veja que o valor esperado não precisa ser um dos autovalores.

DOI: 10.1021/ed061p1044

Fixação dos conceitos da Mecânica Quântica


Ψ(x,t)
Arremesso de dados: Um jogo quântico?

• Degenerescência e indistinguibilidade:

Vamos considerar o lançamento de dois dados. O número total de pontos agora será a
soma obtida pelos dois dados e vai variar de 2 até 12. Os autoestados desse novo
sistema será |!,⟩, onde - é o número quântico do dado 1 e . é o número quântico do
dado 2. Percebam que agora teremos 36 autoestados.

Os autoestados |⟩, |⟩, |⟩ possuem autovalor 4. Isso é um exemplo de


degenerescência. Esse autovalor é dito degenerado, na realidade é triplamente
degenerado ou possui grau de degenerescência igual a 3.. Os únicos estados não
degenerados são |⟩ e | ⟩. Veja a tabela para todos os estados degenerados.

DOI: 10.1021/ed061p1044

36
08/04/2021

Fixação dos conceitos da Mecânica Quântica


Ψ(x,t)
Arremesso de dados: Um jogo quântico?

• Degenerescência e indistinguibilidade:

2 3 4 5 6 7

|⟩ |⟩ |⟩ |⟩ |⟩ | ⟩ 8

|⟩ |⟩ |⟩ |⟩ |⟩ | ⟩ 9

|⟩ |⟩ |⟩ |⟩ |⟩ | ⟩ 10

|⟩ |⟩ |⟩ |⟩ |⟩ | ⟩ 11

|⟩ |⟩ |⟩ |⟩ |⟩ | ⟩ 12

| ⟩ | ⟩ | ⟩ | ⟩ | ⟩ | ⟩

DOI: 10.1021/ed061p1044

Fixação dos conceitos da Mecânica Quântica


Ψ(x,t)
Arremesso de dados: Um jogo quântico?

• Degenerescência e indistinguibilidade:

Outro aspecto, o estado |!,⟩, onde - é o número quântico do dado 1 e . é o número


quântico do dado 2, e o estado |,!⟩, onde . é o número quântico do dado 1 e - é o
número quântico do dado 2, são ditos estados indistinguíveis. São indistinguíveis
quanto ao número de pontos, e desde que existe apenas uma observável física a ser
medida, o estado |!,⟩ não pode ser distinguível do estado |,!⟩. Nesse caso dizemos
que esses dois estados apresentam simetria permutacional, desde que um deles pode
ser obtido a partir do outro apenas trocando um dado pelo outro.

DOI: 10.1021/ed061p1044

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08/04/2021

Fixação dos conceitos da Mecânica Quântica

Arremesso de dados: Um jogo quântico?

Agora troquem o dado por um elétron, átomo ou


molécula e vamos começar a brincadeira real.

Ψ(x,t)
Ψ(x,t)

DOI: 10.1021/ed061p1044

Parte 6

Aplicações da Equação de
Schrödinger

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08/04/2021

Um prelúdio: Equações Diferenciais

Consideraremos apenas equações diferenciais ordinárias (de apenas uma variável


independente)

Uma equação diferencial ordinária relaciona uma variável independente x, uma


variável dependente y(x) e as enésimas derivadas de y

A ordem de uma equação diferencial é determinada pela derivada mais alta da


equação

Uma equação diferencial linear segue:

Onde os A’s e a g são funções de x apenas

Se g(x) = 0, dizemos que a equação diferencial é homogênea

Um prelúdio: Equações Diferenciais

A equação de Schrödinger independente do tempo unidimensional é uma equação


diferencial linear, homogênea de segunda ordem

Vamos nos ater a equações diferenciais lineares, homogêneas e com coeficientes


constantes:

Onde p e q são as constantes

Para resolver tal equação, vamos assumir uma função tentativa da seguinte forma:

Estamos procurando uma função cujas derivadas quando multiplicadas por


constantes cancelam a função original. Funções do tipo exponencial são as
melhores funções tentativa por se repetirem quando diferenciadas.

39
08/04/2021

Um prelúdio: Equações Diferenciais

Resolvendo para a função tentativa:

onde a última equação é dita equação auxiliar. É uma equação quadrática com
duas raízes, s1 e s2, e tais raízes fornecem então duas soluções independentes para
a equação diferencial.

Com isso tomamos a seguinte solução geral para a equação diferencial:

Trata-se de uma combinação linear das possíveis solução para a equação


diferencial linear, homogênea de segunda ordem com coeficientes constantes. Para
equações de maior ordem, mais soluções seriam possíveis, e surgiriam mais
coeficientes c’s.

A partícula livre em movimento unidimensional

Quando nos referimos a uma partícula livre, queremos dizer que esta não sofre
ação de qualquer potencial

O Hamiltoniano se reduz a:

E a equação de Schrödinger é escrita:

Chegamos a seguinte solução geral:

40
08/04/2021

A partícula livre em movimento unidimensional

Vamos verificar estas soluções a partir da substituição na eq. de Schrödinger

Relação de Euler:

Aplicando a relação de Euler, chegamos a:

Em qualquer uma das duas formas os coeficientes A e B (ou C e D) devem ser


determinados a partir das condições de contorno.

Um ponto importante a ser considerado é que uma função da forma dada (eikx)
não é quadrado-integrável.

O problema da partícula livre corresponde a uma situação física irreal, pois não é
possível encontrar uma partícula realmente livre de qualquer interação.

A partícula livre em movimento unidimensional

Um aspecto bastante importante a ressaltar é que o não-confinamento da


partícula faz com que a sua energia não seja quantizada. Existe uma solução
aceitável para qualquer valor de “E”; basta usar o valor apropriado de k

Se E < 0:

Com isso, o termo imaginário some

Vai para ∞ quando x  - ∞ Vai para -∞ quando x  ∞

Logo, temos que para a partícula livre em movimento unidimensional:

41
08/04/2021

A partícula livre em movimento unidimensional

Significado dos Coeficientes

O significado dos coeficientes na função de onda pode ser determinado


simplesmente considerando o efeito do operador momento linear.

Supondo que B = 0 temos:

Ou seja, esta função de onda é uma autofunção do operador momento linear, e o


seu autovalor é

Para A = 0

A partícula livre em movimento unidimensional

Significado dos Coeficientes

A diferença entre as duas soluções é o sinal do autovalor. Como o momento linear


é um vetor, podemos concluir que as duas funções de onda correspondem a
estados em que a partícula possui mesmo módulo do momento linear, mas em
direções opostas.

Este é um ponto muito importante, pois nos permite escrever as funções de onda
de partículas que possuem não apenas uma energia cinética definida (e portanto
um valor definido para o momento linear), mas também direções específicas.

O significado dos coeficientes A e B agora deve estar mais claro: eles dependem do
estado em que a partícula foi preparada. Se ela veio de um feixe da esquerda para
a direita, então B = 0. Se, por outro lado, veio da direita para a esquerda, A = 0.

42
08/04/2021

A Partícula na Caixa

No problema da partícula na caixa a mesma está sujeita a uma energia potencial


infinita ao longo de todo o eixo x, exceto numa região finita de comprimento l (ver
figura), onde a energia potencial é nula.

Embora este modelo pareça muito longe da realidade, ele pode ser aplicado com
algum sucesso para certas moléculas conjugadas

I: V(x < 0) = ∞; ψ(x < 0) = 0

II: V(0 < x < L) = 0; Partícula Livre

III: V(x > L) = ∞; ψ(x > L) = 0

Há três regiões a serem consideradas. Nas regiões I e III V  ∞ e a ES


independente do tempo se torna:

A Partícula na Caixa

Logo, podemos facilmente concluir que ψ é nula fora da caixa: ψI = 0 e ψIII = 0.


Para o desenvolvimento das equações vou fazer o tamanho da caixa, L = l.

Para a região II ( 0 < x < l), em que V = 0, a ES se torna:

m é a massa da partícula e E é a sua energia

A equação acima é uma EDO linear homogênea de 2a ordem, com coeficientes


constantes

43
08/04/2021

A Partícula na Caixa

Solução geral:

Onde θ = (2mE)1/2x/ħ

Temos que eiθ = cosθ + isenθ e e-iθ = cos(-θ) + isen(-θ) = cosθ – isenθ

cos(-θ) = cosθ
e sen(-θ) = -senθ

A função de onda pode ser reescrita como:

A Partícula na Caixa

A e B são novas constantes arbitrárias, expressas em termos de c1 e c2. Desta


última equação segue que

A e B podem ser determinados a partir das condições de contorno de ψ. Se


impusermos que ψ é contínua em x = 0, então ψI e ψII tenderão ao mesmo valor
quando x  0

Em x = 0, ψI = ψII

Como A = 0 a função de onda se torna:

44
08/04/2021

A Partícula na Caixa

Agora aplicamos a condição de continuidade para x = l

Em x = l, ψII = ψIII

B não pode ser zero, pois isso resultaria numa função de onda nula em toda a
região da caixa o que, por sua vez, implicaria em uma caixa sem partícula!
Consequentemente:

Os zeros da função seno ocorrem em 0, ±π, ±2π, ±3π, ..., donde segue que

Esta equação resulta em:

n é chamado de número quântico!!!

A Partícula na Caixa

n = 0 também não é permitido, pois resultaria numa função de onda nula

Apenas estes valores de energia fazem com que ψ satisfaça às condições de


continuidade em x = l

As condições de contorno levaram à quantização da energia!

Contraste com o resultado clássico, segundo o qual a partícula pode ter qualquer
energia positiva

A diferença entre níveis de energia adjacentes


diminui com o aumento do tamanho da caixa

45
08/04/2021

A Partícula na Caixa

Fazendo as substituições necessárias:

Para determinarmos a constante B recorremos à condição de normalização da


função de onda

A integral foi calculada utilizando-se a identidade trigonométrica 2sen2t = 1 –


cos2t. Segue que |B| = (2/l)1/2

A Partícula na Caixa

Como podemos observar a partir da figura a seguir, a probabilidade de encontrar a


partícula em várias posições da caixa é bem diferente do resultado clássico

Classicamente, uma partícula de energia fixa colidiria elasticamente com as


paredes,
indo e voltando numa velocidade constante. Sendo assim, classicamente seria
igualmente provável encontrar a partícula em qualquer posição da caixa
Porém, segundo o resultado mecânico-quântico há uma maior probabilidade de
encontrarmos a partícula no centro da caixa, se a mesma estiver no estado
fundamental
A distribuição de
probabilidade vai se
tornando mais
uniforme

Nós da função de onda

46
08/04/2021

A Partícula na Caixa

À medida que vamos para estados de energia cada vez maior (isto é, maior número
quântico n), o número de nós aumenta, assim como a proximidade entre eles.
Consequentemente, no limite de n  ∞, as variações na probabilidade (ao longo
de x) se tornem indetectáveis: Princípio da correspondência de Bohr!

Com isso resolvemos completamente a equação de Schrödinger para a partícula na


caixa, pois obtivemos as funções de onda e suas respectivas energias

A Partícula na Caixa

Regras de seleção

A absorção e emissão de um fóton se dá através da interação da radiação com a


matéria via um operador de dipolo elétrico (este fato pode ser provado com a
aplicação de Teoria de Perturbação dependente do tempo)

47
08/04/2021

A Partícula na Caixa

Todas as funções que não


possuem nó em x’=0 são
simétricas com relação a
esse ponto e dão ditas
Nós da função de onda funções par

Função par: f(-x) = f(x)

Função ímpar: f(-x) = -f(x)


-L/2 0 L/2

Uma integral do tipo: é zero se f(x) é ímpar

Se o integrando do dipolo de transição consiste de uma função ímpar, então não


existirá transição eletrônica entre os dois estados

A Partícula na Caixa

O operador é uma função ímpar, então se o produto ψk(x)ψl(x) for ímpar


existirá transição eletrônica, se esse produto for par, não existirá

Paridade de funções:

Paridades Resultado
+ + +
- + -
+ - -
- - +

Regra de seleção
ψk(x)  ψl(x)
As funções de onda devem ter
(+) (-) paridades opostas!!
(-) (+)

Δn = ± inteiro ímpar; 1  2, 2  1, 1  4, 4  1, 2  5, 5  2, etc

48
08/04/2021

A Partícula na Caixa
Partícula numa caixa tridimensional

Energia Potencial:
b
a
0≤x≤a

V(x,y,z) = 0 0≤y≤b
c a
0≤z≤c
c
b
Equação de Schrödinger:

Ψ(0, y, z) = Ψ(a, y, z)
Condições de contorno: Ψ(x, 0, z) = Ψ(x, b, z)
Ψ(x, y, 0) = Ψ(x, y, c)

Vamos aplicar o procedimento da separação de variáveis:

Ψ(x, y, z) = φ1(x)φ2(y)φ3(z)

A Partícula na Caixa

Com isso obtemos três equações que podemos resolver independentemente

Normalização:

Energia:

No caso de a = b = c:

nxnynz 111 211 121 112 221 212 122

3 6 6 6 9 9 9

degenerados

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08/04/2021

A Partícula na Caixa

Partícula num poço de potencial retangular

Não mais tomamos o potencial como sendo infinito nas paredes da caixa

Podemos nos deparar com duas situações: E > V e E < V

Podemos provar que quando a profundidade do poço de potencial tende à infinito


a expressão que dá os níveis de energia tende à expressão encontrada para a
partícula na caixa

Barreira de altura V e extensão semi-infinita

A equação de Schrödinger é dividida em duas


regiões:

A Partícula na Caixa

As equações anteriores correspondem à equações de Schrödinger para a partícula


livre, exceto pelo termo (E-V) que surge na região II. As soluções gerais seguem:

Vamos nos concentrar no caso em que E < V, pois desse forma, classicamente
seria impossível encontrar a partícula em x > 0 (dentro da parede)

A condição E < V implica em k’ imaginário, então escrevemos k’ = iκ, onde κ


(kappa) é real

Esta função de onda é uma mistura de exponenciais que decaem ou crescem,


porém, não é uma função oscilante

50
08/04/2021

A Partícula na Caixa

A exponencial crescente levaria à infinitas amplitudes, então, dentro da barreira, a


função de onda deve se limitar a um decaimento exponencial, e-κx

A função de onda não é zero dentro da barreira!!

Isso implica que há a probabilidade da partícula ser encontrada numa região


classicamente proibida, num fenômeno chamado penetração

A rapidez com que a função de onda decai para 0 é determinada pelo valor de
kappa, que por sua vez depende da massa da partícula e da altura da barreira
(termo V – E)

O efeito de penetração, não observado para partículas de massa muito grande


(mundo macroscópico) é de grande importância para processos de superfície
(ex.: eletrodos) e para todos os eventos em escala atômica

A Partícula na Caixa

Barreira de altura V e de largura finita

Agora consideramos o caso de uma barreira de largura finita. A forma da energia


potencial e as soluções gerais podem ser escritas imediatamente:

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08/04/2021

A Partícula na Caixa

Classicamente, a partícula não tem energia suficiente para superar a barreira de


energia potencial (E < V). Com isso a probabilidade de encontrar a partícula em x
> L seria exatamente 0

Entretanto, para a mecânica quântica, a partícula pode ser encontrada à direita


da barreira mesmo quando E < V

Incidente Refletida Transmitida

A Partícula na Caixa

Para a região II:

Os coeficientes são determinados impondo-se os critérios de continuidade


referentes à função de onda em si e à sua derivada primeira, nos pontos em que
as regiões se encontram.

Após a barreira a função de onda volta a oscilar, devido aos termos e±ikx na função
de onda referente à região III

Tal fenômeno recebe o


nome de Tunelamento

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08/04/2021

A Partícula na Caixa

Para a região II:

Podemos observar facilmente a partir desta expressão que quanto maior for a
massa da partícula mais acentuado vai ser o decaimento da primeira exponencial,
ou seja, a penetração da partícula na barreira vai ser mais improvável, como
mostrado na figura abaixo:

A Partícula na Caixa

No livro texto Físico-Química, Atkins; 7ª edição. Vol 2. há uma interessante


discussão sobre a interpretação dos coeficientes das funções de onda discutidas
aqui e uma expressão para a probabilidade de transmissão ou tunelamento
(tentem ler)

Quando E > V, a partícula possui energia para “passar por cima” da barreira, 100%
de probabilidade de passar, contudo, a mecânica quântica leva a um resultado
diferente

Mesmo quando E > V, há a probabilidade da partícula ser refletida pela barreira,


este fenômeno é conhecido como anti-tunelamento ou reflexão quântica

Exercícios:

1. Pesquisar sobre o fenômeno de


tunelamento envolvido na inversão da amônia

2. Pesquisar sobre microscopia de


tunelamento

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08/04/2021

O Oscilador Harmônico

O oscilador harmônico é um sistema de grande importância por ser um modelo


para vibrações moleculares

Um sistema massa-mola é um
exemplo clássico de oscilador
harmônico

Inicialmente vamos revisar o tratamento proveniente da mecânica clássica

Temos uma partícula de massa m na qual atua uma força restauradora (que tenta
‘empurrar’ a partícula para o ponto x=0 (Ver figura)) proporcional ao
deslocamento x da partícula

A constante de proporcionalidade k é chamada constante de força

O Oscilador Harmônico

Pela segunda lei de Newton: F = m.a

Onde t é o tempo;

Com relação a energia potencial, temos que

Para o oscilador harmônico unidimensional:

A integração fornece:

Temos um potencial parabólico e


simétrico em relação ao ponto de
equilíbrio

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08/04/2021

O Oscilador Harmônico

A constante de força está relacionada com a curvatura do potencial!!

Para a dinâmica do sistema temos:

Soluções:

A  amplitude
ν  frequência
Φ  fase da oscilação

O Oscilador Harmônico

Tratamento mecânico-quântico

Energia Potencial:
Clássico Quântico

O operador Hamiltoniano para o Oscilador Harmônico toma a forma:

Onde:

Multiplicamos a equação de Schrödinger ( ) por

Equação de Schrödinger para o


oscilar harmônico

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08/04/2021

O Oscilador Harmônico

A resolução desta equação pode ser obtida a partir da substituição de ψ por uma
função tentativa exp[iBx], entretanto é uma solução muito mais trabalhosa que as
demais opções

Há duas maneiras mais práticas de solucionar este problema analiticamente: a


solução em série de potências ou a solução via operadores criação e aniquilação.

As soluções da equação de Schrödinger para o oscilador harmônico seguem:

A energia, assim como no caso da partícula na caixa, é quantizada, sendo v o


número quântico vibracional

Para o oscilador harmônico, porém, o número quântico v = 0 é permitido

v=0 Energia do ponto zero

O Oscilador Harmônico

Diferença entre níveis adjacentes:

A diferença entre os níveis não depende do


número quântico vibracional, v

Os níveis de energia do oscilador harmônico


são igualmente espaçados

A energia do ponto zero seria a energia vibracional de um oscilador harmônico na


temperatura de 0 absoluto, e pode ser entendida a partir do princípio da incerteza

Se o estado de energia mais baixo apresentasse E = 0, implicaria em tanto energia


cinética quanto potencial iguais a 0

Energia cinética = 0 implica em momento = 0 e incerteza no momento = 0


Energia potencial = 0 implica na partícula sempre localizada na origem e a
incerteza na posição seria 0

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08/04/2021

O Oscilador Harmônico

As funções de onda
As solução da equação de Schrödinger fornecem funções de onda que seguem o
seguinte padrão:

N é uma constante de normalização

Funções Gaussianas são funções da forma e-x2

A forma analítica das funções de onda segue:

Cada fator Hv(y) são polinômios bem conhecidos das soluções de equações
diferenciais e são conhecidos por polinômios de Hermite

α carrega informações sobre a partícula e o potencial harmônico

O Oscilador Harmônico

Funções de onda para o estado


fundamental e primeiro estado
excitado do oscilador harmônico

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08/04/2021

O Oscilador Harmônico

Normalização:

N depende de v, m e k

A função de onda do estado fundamental mostra uma maior probabilidade de


encontrar a partícula em regiões próximas ao ponto de equilíbrio, máximo em x = 0

Para o primeiro estado excitado, há um nó em x = 0 e máximos em x = ±α

O Oscilador Harmônico

A figura ao lado mostra uma


sequência de funções de onda do
oscilador harmônico

O número de nós da função de onda cresce


com v

Em números quânticos elevados, as funções têm maiores amplitudes nas


vizinhanças dos pontos de reversão do movimento clássico, pontos onde E = V
(energia cinética nula)

As propriedades clássicas aparecem nos números quânticos elevados, pois é mais


provável encontrar uma partícula nas vizinhanças dos pontos de reversão (menor
velocidade)

Agora avaliaremos a aplicação de alguns operadores à função de onda do oscilador


harmônico

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08/04/2021

O Oscilador Harmônico

Valores esperados para o oscilador harmônico

Teorema do Virial

Se a energia potencial de uma partícula tiver a forma V = axb, então as energias


potencial média e cinética média estão relacionadas por:

Para o caso do oscilador harmônico, b =2

Probabilidade de encontrar a partícula em regiões classicamente proibidas

Podemos calcular a probabilidade de encontrar a partícula em regiões além dos


pontos de reversão

O Oscilador Harmônico

Vibração em moléculas

Ao resolver a equação de
Schrödinger para uma molécula
diatômica, obtêm-se sua energia
eletrônica para diversas posições
nucleares

Esta energia eletrônica pode ser


assumida como sendo a energia
potencial a qual os núcleos estão
submetidos

Com essa energia potencial pode-se resolver a equação de Schrödinger nuclear

A figura acima mostra um exemplo de superfície de energia potencial (linha escura)

59
08/04/2021

O Oscilador Harmônico

O minímo da curva está relacionado à


distância de equilíbrio entre os
núcleos

Em distâncias próximas a distância


de equilíbrio, a aproximação do
oscilador harmônico é válida

v é a frequência vibracional de equilíbrio, μ é a massa reduzida

Para energias vibracionais mais altas faz-se necessário correções anarmônicas

O Oscilador Harmônico

Espectroscopia para o oscilador harmônico

Já vimos que a separação entre os níveis de energia do oscilador harmônico é


constante, ou seja, os níveis são igualmente espaçados

Regras de seleção

Temos que avaliar quais situações a integral do dipolo de transição se anula ou é


diferente de 0

Para v (número quântico vibracional) par, incluindo o zero, as funções de onda são
pares e quando v for ímpar as funções de onda serão ímpar

x operador relacionado a uma função ímpar

Ψm* e ψn deverão ter paridades diferentes

Regra de seleção para o oscilador harmônico: Δv = ±1

60
08/04/2021

Movimento de Rotação

Agora consideraremos o movimento de uma partícula ao redor de um certo ponto


fixo

Deste tratamento acarretará um dos tópicos mais importantes em química


quântica que é o momento angular

Características do movimento circular:

Velocidade
angular

Aceleração
angular

Movimento de Rotação

Momento Angular

Vamos utilizar uma notação vetorial:

Seja r o vetor que parte da origem até a posição instantânea da partícula

Por sua vez, definimos o vetor velocidade:

O vetor momento linear é dado por:

61
08/04/2021

Movimento de Rotação

Definimos o vetor momento angular, como o seguinte produto entre vetores:

onde mi é um elemento de massa

O vetor momento angular é perpendicular ao plano formado pelos vetores r e v

Movimento de Rotação

Vamos escrever as componentes de L na sua forma de operadores:

Vejamos algumas propriedades desses operadores:

Para seguir com o tratamento mecânico-quântico do movimento de rotação,


faremos uma transformação de coordenadas (figura acima), que após alguma
trigonometria fornece:

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08/04/2021

Movimento de Rotação

Agora escrevemos os operadores relacionados às componentes do momento


angular com respeito às novas coordenadas, r, θ e ф

Os operadores acima não dependem de r!

Queremos encontrar as autofunções dos operadores momento angular, que são


função apenas de θ e ф (logo, se foram multiplicadas por uma função R(r)
continuam sendo autofunções de L)

Para a componente z:

Movimento de Rotação

Faremos a seguinte separação de variáveis:

Em geral, a função T não é unívoca. Para garantir essa condição, ao adicionarmos


2π a ф, T deve assumir o mesmo valor
Para satisfazer:

Onde

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08/04/2021

Movimento de Rotação

Os autovalores do momento angular no eixo z são quantizados

A partir da condição de normalização determinamos o valor de A:

O próximo passo é resolver para L2, e assim obter as funções S(θ)

Movimento de Rotação

Das soluções dessa equação segue:

64
08/04/2021

Movimento de Rotação

As funções S são bem conhecidas em matemática e são chamadas funções


associadas de Legendre

Pode ser mostrado que:

As funções Y são conhecidas como harmônicos esféricos

O vetor L se localiza na superfície de um cone que satisfaz:

Movimento de Rotação
Partícula num anel
Antes de tudo, definimos o momento de inércia:

Onde IA é o momento de inércia


da partícula A

Por sua vez, a energia cinética segue:

Para o caso em que V = 0, E = K

65
08/04/2021

Movimento de Rotação

Hamiltoniano para a partícula no anel:

Fazendo x = r•cosφ e y = r•senф, ficamos com:

Para este caso, a quantidade r é constante, pois trata-se de um rotor rígido, assim,
as derivadas com relação a r podem ser descartadas

Equação de Schrödinger

As soluções gerais são da forma:

Movimento de Rotação

Bem como no estudo das funções de onda dos operadores momento angular,
aplicamos a condição cíclica

As funções de onda completas


apresentam a forma:

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08/04/2021

Movimento de Rotação

Densidade de Probabilidade

A densidade de probabilidade é uniforme, não depende de qualquer


variável

Movimento de Rotação

Partícula numa esfera

Agora consideramos o caso de uma partícula movendo-se sobre a superfície de uma


esfera, cujo centro é a origem e sua superfície definida a uma distância r da origem

A energia potencial da partícula é tomada como


sendo 0

Dessa forma, o operador hamiltoniano é escrito


simplesmente:

Para melhor representar a simetria esférica do


problema, escrevemos o operador Laplaciano (nabla)
em termos das coordenadas esféricas polares

Onde o
Legendriano é
definido por:

67
08/04/2021

Movimento de Rotação

O Legendriano é a parte angular do laplaciano. A imposição do raio fixo faz com as


derivadas com relação a r desapareçam

Lembramos que o momento de inércia é definido por:

A equação de Schrödinger a ser resolvida toma a forma:

Onde ψ é função dos ângulos θ e ф

Notem a semelhança entre esta equação e a obtida


para a partícula no anel. De fato, uma espera pode
ser descrita como uma série de anéis, mas para a
esfera, a partícula tem a liberdade de viajar entre os
anéis

Movimento de Rotação

Mais uma vez assumimos que a função de onda é separável, de modo que
aplicaremos a técnica da separação de variáveis

As soluções para a partícula na esfera são os harmônicos esféricos!! Estes


satisfazem:

As funções Θ são as funções associadas de Legendre

68
08/04/2021

Movimento de Rotação

Com relação a energia:

Degenerescência graças a ml

69

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