Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
tions. This situation resulted in the oppression and submission of women and in the
“naturalization” of these relations, leading to the misrecognition of women in so-
ciety. In face of this scenario, there have always been women resistance movements
seeking for equity in gender relations. More recently, in modern times, some orga-
nized movements appeared to change this situation, being the precursors of many
advances in the improvement of women’s life. They were called feminist movements
and women’s movements. So the present article intends to approach the trajectory
of these movements, especially in Brazil, emphasizing the legal advances and the
citizenship rights achieved by women.
Keywords feminist movement; gender relations; women and law.
Considerações iniciais
A história das relações de gênero tem sido contada de forma bastante controver-
sa. Na história oficial, as mulheres quase não são mencionadas. Porém, estudos mais
recentes, realizados a partir do século XIX, têm feito uma releitura da participação
feminina na história da humanidade e demonstrado que, apesar de um longo período
(aproximadamente 5 mil anos) de opressão e submissão das mulheres, sempre houve
movimentos de resistência e busca de um espaço na vida pública. Na modernida-
de, esses movimentos de resistência são denominados “movimentos feministas” ou
“movimentos de mulheres”.1
Embora, em algumas sociedades, os movimentos feministas apresentem-se
mais organizados do que em outras, não se pode olvidar que eles acompanham o
movimento feminista mundial, de modo que se torna difícil limitá-los, neste artigo, a
um único lugar ou a somente uma de suas múltiplas faces. Apesar de tal circunstân-
cia, pretende-se, com a presente abordagem, tratar do processo de reconhecimento
da identidade das mulheres, bem como a construção da equidade nas relações de
gênero2 no Brasil, levando-se em consideração os movimentos feministas e de mu-
lheres que deflagraram a conquista de diversos direitos pelas mulheres.
1
Os movimentos feministas apresentam um caráter mais político no sentido de buscar a equidade nas
relações de gênero e, portanto, abordar temas que envolvem política, direito sobre o corpo, econo-
mia etc. Já os movimentos de mulheres, no Brasil, estavam ligados às pastorais sociais das Igrejas e
ocuparam-se mais com demandas voltadas para a melhoria das condições de vida das famílias, como
saneamento, direito à saúde, alimentação, habitação. Mesmo assim, no Brasil esses movimentos se
uniram, no final da década de 1970, para lutar por bandeiras comuns envolvendo a busca de direitos
para as mulheres.
2
As relações de gênero pressupõem as relações entre seres humanos do gênero masculino e do gê-
nero feminino. Os seres humanos não nascem homem ou mulher. Essas identidades são construídas
socialmente.
Não se pode deixar de referir que os poucos dados hoje disponíveis acerca da
história das mulheres, desde o início da humanidade, são compostos por evidências
arqueológicas interpretadas de diversos modos, em sua maioria por homens e, geral-
mente, seguindo uma análise masculina dominadora. Atualmente, essas descobertas
arqueológicas estão sendo reinterpretadas e têm revelado uma perspectiva ainda des-
conhecida: na pré-história existiram sociedades mais pacíficas e as mulheres tinham
um papel de destaque na vida social.3
Segundo essas pesquisas arqueológicas, os seres humanos do período paleolíti-
co e neolítico viviam em uma sociedade com relações humanas de parceria, em que
as mulheres eram veneradas por seu poder de gerar a vida e, portanto, por seu im-
pressionante poder de manutenção da espécie humana.4 Para melhor esclarecer essa
conclusão, Eisler (2007, p. 27) salienta que “em tradições que remontam ao princípio
da civilização, a vulva era venerada como o portal mágico da vida, possuindo o po-
der tanto de regeneração física quanto de iluminação espiritual e transformação”.
Vê-se, pois, que as relações entre o gênero humano, atualmente, ainda carac-
terizadas pela opressão e submissão das mulheres, não devem ser tratadas como um
fato “natural”, como insistem alguns, embora se perceba que a “naturalização” desse
processo de opressão das mulheres foi maquiado no decorrer dos milênios, também
por meio dos mitos que reforçaram o papel imposto de submissão das mulheres aos ho-
mens. Juntamente com a subjugação feminina, foi difundida a ideia de que às mulheres
é reservado o mundo privado, de dissabores e de servidão, que perdurou por séculos.
Entretanto, salutar se faz registrar que, em todos os períodos da história, também foram
percebidos movimentos de resistência das mulheres contra a opressão masculina.
Esta resistência contra o ideário social acerca do papel de submissão feminina é
retratada por Eduardo Galeano, em sua obra Mulheres, na qual o autor faz referência
à resistência de uma poetisa argentina chamada Alfonsina Stormi contra o machismo
de sua época:
3
Duas obras recentes apresentam a outra versão da história da humanidade ressaltando como viviam mu-
lheres e homens. São elas: O cálice e a espada: nosso passado, nosso futuro e O prazer sagrado: sexo,
mito e a política do corpo, da socióloga, advogada e historiadora cultural Riane Eisler, da Califórnia.
4
Esta teoria é desenvolvida por Riane Eisler na obra O cálice e a espada: nosso passado, nosso
futuro (Trad. Tônia Van Acker. São Paulo: Palas Athena, 2007) e retrata descobertas arqueológicas
que evidenciam um período no qual as mulheres não eram discriminadas e oprimidas, o que não
significa dizer que estas oprimissem os homens. Ao contrário, vivia-se num ambiente de cooperação
e parceria entre os sexos, embora a divisão do trabalho já fizesse parte do ambiente social.
5
Embora, na atualidade, as mulheres estejam reconquistando espaços públicos, o que se percebe é que
as obrigações tidas como próprias do sexo feminino foram mantidas, o que acaba tendo um custo mui-
to elevado às mulheres, ou seja, o acúmulo de trabalho e responsabilidades, pois, além das tarefas da
esfera pública, elas mantêm todas as obrigações domésticas. No decorrer da história da humanidade,
as mulheres têm desenvolvido uma relação diferenciada com a natureza em comparação aos homens e
apresentado uma predisposição a proteger o meio ambiente. Tudo isso tem uma explicação. Uma das
primeiras representações divinas criadas pelos seres humanos foi a figura da “Deusa”, que representa-
va a “Mãe Terra”. Também as religiões pagãs antigas, como as dos vikings e celtas cultuavam deusas,
concedendo um destaque especial para as mulheres, pois estas tinham uma proximidade muito grande
com a “Mãe Terra”, possuindo, ambas, o poder da fertilidade, da criação e da vida. Também às mu-
lheres coube a tarefa do cuidado com a alimentação e a saúde das pessoas. Assim, elas desenvolveram
uma proximidade muito grande com a preservação da vida humana e de seu habitat.
“se impõe quando elas não se reconhecem mais em imagens, vivências e represen-
tações que evocam o ‘eterno feminino’ dos poetas, quando aceitam a travessia da
ambiguidade como preço de experiências desejadas e temidas e se dispõem a encarar
o vazio como ponto de partida” (OLIVEIRA, 1993, p. 12).
Para Simone de Beauvoir, a construção da identidade ocorre a partir de posi-
ções binárias, pois “é por meio desses dualismos que as mulheres são construídas
como as outras, de forma que as mulheres são apenas aquilo que os homens não são”
(BEAUVOIR apud WOODWARD, 2000, p. 52).
Já para Silva, tanto a identidade como a diferença são resultado das relações
sociais e estão sujeitas a relações de poder entre os sexos, sendo estas impostas e
disputadas (SILVA, 2000, p. 81). Considerando tais aspectos, o autor refere que
Não se pode olvidar que, antes do movimento organizado em prol dos direitos
das mulheres, sempre houve movimentos de resistência contra sua opressão e sub-
missão. Nessa linha de pensamento, Eisler (2007, p. 219) relembra que “na Grécia
clássica, e depois nos tempos de Jesus, as mulheres, de fato, tiveram grande impacto
mente para o mundo privado, com o fito de serem boas esposas e mães exemplares. As-
sim, foi no contexto da abolição da escravatura brasileira que as mulheres começaram
a perceber que também vivenciavam situação análoga, pois estavam presas às amarras
que lhes eram impostas pelos laços familiares e sociais. Diante de tal constatação, ini-
ciaram um lento processo de busca pela emancipação feminina.
A primeira fase do feminismo no Brasil ocorreu na década de 1920, sob lide-
rança de Bertha Lutz, que criou a Federação Brasileira para o Progresso Feminino,
tendo como bandeira os direitos políticos, nesse caso, o direito ao sufrágio para as
mulheres.10 Mas é preciso mencionar que já em 1910 havia sido criado o Partido
Republicano Feminino, cujo objetivo era conquistar o direito ao sufrágio e a eman-
cipação das mulheres. Como estratégia, as mulheres participavam de eventos de vi-
sibilidade para a imprensa.11 (PINTO, 2003, ps. 18-19).
No Brasil, o direito ao sufrágio feminino foi alcançado somente em 1934, quan-
do foi constitucionalizado. Após essa conquista, os movimentos sufragistas acaba-
ram se desfazendo e o próprio movimento feminista brasileiro se enfraqueceu.
Nessa breve retomada do movimento feminista brasileiro, não se pode olvidar
da contribuição do feminismo anarquista no início do século XX. Essas mulheres
traziam ideais anarquistas de seus países, em especial da Itália, e foram trabalhar em
fábricas de São Paulo e Rio de Janeiro, embora não se declarassem feministas. Mui-
tas tinham, inclusive, resistência ao feminismo, não se preocupavam com os direitos
políticos, mas denunciavam o poder dos homens sobre as mulheres e batalhavam por
melhores condições de trabalho específicas para elas (PINTO, 2003, p. 33), tendo
alcançado muitos direitos trabalhistas.
10
Embora não de forma organizada, como no movimento feminista, no Brasil “no séc. XIX apa-
receram mulheres que lutaram pelo direito ao voto, porém de forma individual, solicitando seu
alistamento como eleitoras e candidatas. Em 1881, a dentista Isabel de Sousa Matos requereu, com
base em uma lei que facultava o voto aos portadores de títulos científicos, o direito de se alistar. Foi
vitoriosa em sua cidade natal, mas teve o direito suspenso quando tentou se alistar no Rio de Janeiro
em 1890” (PINTO, 2003, p. 15).
11
Um dos mecanismos importantes da difusão das ideias feministas foi a criação de um jornalismo fe-
minista, por muitos historiadores denominado “imprensa feminista”, que teve como escopo divulgar
as causas das mulheres. No Brasil, a primeira mulher a fundar um jornal com essas características
foi Francisca Senhorinha Motta Diniz, que fundou, em Minas Gerais, no ano de 1873, o jornal deno-
minado O sexo feminino. Depois disso, muitos outros jornais, revistas e periódicos cumpriram essa
função (PINTO, 2003, p. 28 ss). Porém, junto a essas revistas, existiram as revistas femininas que
cumpriam um papel oposto: manter e legitimar as relações patriarcais existentes. Nesse sentido, Car-
la Beozzo Bassanezi realizou um trabalho interessante sobre revistas femininas brasileiras em sua
obra Virando as páginas, revendo as mulheres: revistas femininas e relações homem-mulher 1945-
1964, buscando demonstrar como as mulheres se viam e como eram vistas no período mencionado
(BASSANEZI, 1996).
Por volta de 1963 fortificou-se a participação das mulheres nos sindicatos, onde
se uniam para buscar melhores condições de trabalho, o fim das revistas íntimas no
ambiente de trabalho e dos testes de gravidez, a igualdade salarial para aquelas que
ocupassem o mesmo cargo que os homens, dentre outras reivindicações.
Um fato que marcou a ascensão ou retomada do movimento feminista brasilei-
ro foi a ditadura militar de 1964, quando um significativo contingente de mulheres
juntou-se aos homens para protestar contra a falta de democracia. O exílio dessas
mulheres, em sua maioria na Europa, colocou-as em contato com os movimentos fe-
ministas de lá. Ao retornarem ao Brasil, trouxeram novas ideias e avaliações sobre o
movimento no País. Isso contribuiu para uma visão mais clara e para a elaboração de
estratégias para a construção do movimento feminista brasileiro. Aqui encontraram
muitos movimentos de mulheres de baixa renda, a maioria ligada às pastorais sociais
das igrejas. Unidas, elas buscavam direitos básicos, como saúde, educação, alimen-
tação, moradia e saneamento. O grande desafio foi juntar o movimento feminista aos
diversos movimentos de mulheres, em especial porque estes últimos não tinham um
debate acerca das relações de gênero; ao contrário, eram contra muitas das bandeiras
do movimento feminista, como o direito de as mulheres decidirem sobre seus cor-
pos. Mesmo assim, houve uma importante aliança entre o movimento feminista e os
grupos populares de mulheres vinculados às associações de moradores e aos clubes
de mães, que passaram a trabalhar temas ligados às especificidades do gênero, tais
como creches e trabalho doméstico, assim difundindo o movimento feminista em
diversas cidades brasileiras. Novas bandeiras foram assumidas, como a dos direitos
reprodutivos, do combate à violência contra a mulher,12 da sexualidade, dentre ou-
tros, tendo-se conquistado muitos direitos cidadãos. Importante se faz salientar que
outros movimentos se juntaram a este, como os de gays, lésbicas e negros.
No caso brasileiro, na década de 1980, o interesse político-partidário parece ter
recaído sobre o movimento feminista. Os partidos políticos passaram a incorporar as
demandas das mulheres a seus programas e plataformas eleitorais, criando, inclusive,
comitês femininos. A possibilidade de atuação do feminismo no âmbito institucional
do Estado representava, para muitas mulheres, uma brecha na luta pela autonomia
do movimento feminista, pois elas não podiam deixar de reconhecer a influência do
Estado sobre a sociedade, seja por meio da força coercitiva, seja por meio de leis, de
políticas sociais e econômicas, de ações de bem-estar, de mecanismos reguladores
da cultura e comunicação públicas. Assim, elas compreenderam que o Estado seria
um importante aliado na transformação da condição feminina (MOLYNEUX, 2003,
p. 68). A par disso, elas conheciam os limites da política feminista no sentido da
Em 1985 foram criadas as Delegacias da Mulher, que muito têm contribuído para o combate à vio-
12
terada com o novo Código Civil de 2002,15 a subjetividade desta ideologia perdura,
legitimando a autoridade do homem na tomada de decisões, muitas vezes, arbitrá-
rias, dentro da família. Como se não bastasse, o Código Civil Brasileiro, que vigorou
até poucos anos atrás, previa a anulação do casamento quando a mulher tivesse sido
“deflorada” antes do casamento,16 colocando-a na condição de simples mercadoria
que, depois de “usada”, perdia seu valor e poderia, portanto, ser “devolvida” a quem
havia vendido o bem “avariado”. Nesse contexto lastimável, não se pode olvidar que
o Código Penal brasileiro previa, na seara dos crimes contra os costumes (delitos
sexuais), a extinção de punibilidade em virtude do casamento do agente agressor
com a vítima ou do casamento da vítima com terceiro, afrontando, dessa forma, o
princípio da dignidade da pessoa humana em favor da honra da família patriarcal, o
que, felizmente, foi modificado pelo legislador.
Além da legislação, algumas decisões judiciais brasileiras também envolvem
um caráter sexista. No olhar da jurista Maria Berenice Dias,
Dificilmente se identifica em uma decisão judicial uma preocupação
com o contexto cultural, uma tentativa de visualizar as características
individuais dos envolvidos. O modelo é tão marcadamente masculino,
as sentenças são tão encharcadas de ranço discriminatório, que decisões
conservadoras e sexistas acabam sendo reproduzidas sem que se tome
consciência da perpetuação de injustiças. (DIAS, 2004, p. 9).
Artigo 1.567 – A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela
mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos.
Parágrafo único – havendo divergências, qualquer dos cônjuges poderá recorrer ao juiz, que decidirá
tendo em consideração aqueles interesses.”
15
Este cenário jurídico foi alterado antes do novo Código Civil de 2002, por meio da Constituição Fe-
deral de 1988, que explicitou que homens e mulheres têm os mesmos direitos na sociedade conjugal,
alterando o próprio conceito de família: “Art. 226, § 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade
conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.”
16
“Artigo 219 - Considera-se erro essencial sob a pessoa do outro cônjuge:
IV – o defloramento da mulher ignorado pelo marido” (Código Civil de 1.916).
A jurista Francis Olsen formulou uma tese de que o Direito tem sexo e que esse é o masculino (OL-
17
A lógica jurídica, então, ainda parece ser masculina. Por isso ela deve ser ques-
tionada, não com o intuito de substituir uma racionalidade por uma irracionalidade,
mas para evitar reducionismos de situações que são mais complexas do que parecem,
assim como as relações de gênero.
Uma análise mais feminista dos direitos requer uma transformação dessa sua
dimensão androcêntrica individualista para uma perspectiva mais dinâmica, concre-
ta, relacional, que abranja as relações e os conflitos dos(as) oprimidos(as). O que se
espera é uma interpretação dos casos mais voltada para a realidade social e, portanto,
para a proteção efetiva da equidade de gêneros para que não aconteçam fatos como
os noticiados na imprensa eletrônica no mês de agosto de 2011, segundo a qual
28,4% das mulheres assassinadas no País o foram dentro de seus lares. Esse número
torna-se ainda mais significativo se comparado ao número de vítimas masculinas de
assassinatos dentro de casa, que é de 9,7%. Esses índices teriam sido extraídos do
Anuário das Mulheres Brasileiras 2011 e divulgados no País em julho pela Secre-
taria de Políticas para Mulheres do governo federal e pelo Dieese (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). De acordo com informa-
ções extraídas do referido Anuário, quatro em cada dez mulheres já foram vítimas
18
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/956164-28-das-mulheres-assassinadas-no-
pais-morrem-em-casa.shtml. Acesso em: 08 ago. 2011.
19
Disponível em: http://noticias.r7.com/brasil/noticias/lei-maria-da-penha-completa-cinco-anos-em-
vigor-20110922.html. Acesso em: 22 set. 2011.
A lógica jurídica também parece continuar masculina. Por isso, deve ser ques-
tionada, não com o intuito de substituir uma racionalidade por uma irracionalidade,
mas para evitar reducionismos de situações que são mais complexas do que parecem,
como a das relações de gênero. Por isso, uma análise mais feminista dos direitos re-
quer uma transformação dessa sua dimensão androcêntrica individualista para uma
perspectiva mais dinâmica, concreta, relacional, que abranja as relações e os con-
flitos dos(as) oprimidos(as). O que se espera é uma interpretação mais consentânea
com a realidade social, como forma de proteção da equidade de gênero.
Considerações finais
somente por meio de leis penais que se poderá pensar em equidade e, sim, por uma
mudança da estrutura ideológica por meio da educação. Superar o preconceito e
construir uma relação diferente de gênero não depende somente dos movimentos or-
ganizados, mas passa pela vontade humana, que também é responsável pela criação
do Direito. A sociedade, assim como o Judiciário, não deve permanecer inerte diante
dos atos discriminatórios que ocorrem e atentam contra os direitos, seja de que na-
tureza forem. É preciso superar o sistema patriarcal para que os diferentes possam
viver como iguais, sem distinções de sexo ou de qualquer natureza, já que o mundo
não deve ser somente dos homens. Para tanto, a construção de uma sociedade de
parceria é fundamental, tanto para os homens quanto para as mulheres que buscam
um convívio mais harmônico.
Como se pode observar, os movimentos feministas já são vitoriosos e, no de-
correr da história, proporcionaram melhores condições de vida para as mulheres.
Porém, as relações patriarcais e sexistas ainda persistem na sociedade e isso pode ser
constatado pela baixa participação das mulheres nos altos cargos da administração
pública, seja de que esfera ou função de poder for, onde predomina uma hierarquia
eminentemente androcêntrica.
Para que os direitos preconizados pela Constituição Federal e os princípios de-
mocráticos transformem-se em realidade social é necessário, portanto, mais do que
um esforço dos movimentos organizados de mulheres ou de juristas. É preciso um
esforço de toda a sociedade, por meio de uma mudança de pensamento que só se dará
por meio de uma educação voltada para os direitos humanos, sob pena de tornarem-
se letra morta. Viabilizar seu exercício em um contexto tão multicultural como o atu-
al passa pela criação de condições sociais, políticas, econômico-financeiras e fiscais.
Este é o desafio do presente para viabilizar um futuro mais equânime a todos.
Referências
EISLER, R. O cálice e a espada: nosso passado, nosso futuro. Trad. Ana Luiza Dan-
tas Borges. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.
FACIO, A. Hacia otra teoría crítica del derecho. El Otro Derecho, Bogotá, Isla, n.
36, 2007.
GALEANO, E. Mulheres. Trad. Eric Nepomuceno. Porto Alegre: L&PM, 2000.
GOLDENBERG, M.; TOSCANO, M. A revolução das mulheres: um balanço do
feminismo no Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 1992.
GOMES, R. R. Os “novos” direitos na perspectiva feminina: a constitucionalização
dos direitos das mulheres. In: WOLKMER, A. C.; LEITE, J. R. M. Os “novos”
direitos no Brasil: natureza e perspectivas. Uma visão básica das novas conflituo-
sidades jurídicas. São Paulo: Saraiva, 2003.
HABERMAS, J. A inclusão do outro: estudo de teoria política. Trad. George Sper-
ber, Paulo Astor Soethe e Milton Camargo Mota. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2007.
HALL, S. Quem precisa da identidade? In: SILVA, T. T. (Org.). Identidade e dife-
rença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.
KOLLONTAI, A. Autobiografia de uma mulher comunista sexualmente emanci-
pada. Trad. Lígia Gomes. São Paulo: Sundermann, 2007.
MACLAREN, P. Multiculturalismo crítico. Trad. Bebel Orofino Schaefer. São
Paulo: Cortez, 1997.
MILL, S. A sujeição das mulheres. Trad. Benedita Bettencourt. Coimbra: Almedi-
na, 2006.
MOLYNEUX, M. Movimientos de mujeres en América Latina: un estudio teórico
comparado. Madrid: Catedra/Universidad de Valencia, 2003.
MONTEIRO, C. S. A luta das mulheres por reconhecimento. In: BERTASO, J. M.
(Org.). Cidadania, diversidade e reconhecimento: produção associada ao projeto
de pesquisa Cidadania em sociedades multiculturais: incluindo o reconhecimento.
Santo Ângelo: FURI, 2009.
MORAIS, M. L. Q.; NAVES, R. (Orgs.). Advocacia pro bone em defesa da mu-
lher vítima de violência. São Paulo: Unicamp, 2002.
OLIVEIRA, R. D. Elogio da diferença: o feminino emergente. 3. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1993.
PANDJIARJIAN, V. Os esteriótipos de gênero nos processos judiciais e a violência
contra a mulher na legislação. In: MORAIS, M. L. Q.; NAVES, R. (Orgs.). Advo-
cacia pro boné em defesa da mulher vítima de violência. São Paulo: Unicamp,
2002.
PERROT, M. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru, SP: Edusc, 2005.
PINSKY, C. B.; PEDRO, J. M. Igualdade e especificidade. In: PINSKY, J.; PINSKY,
C. B. (Orgs.). História da cidadania. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2003.