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1. Wilson Gomesdisse:
9 de novembro de 2018
2.3K
(Arte Andreia Freire/ Revista CULT)
Eu não sou um homem hétero, cis, branco e cristão. Mas se fosse um deles, muito
dificilmente votaria em um partido desses da esquerda identitária. Cada pessoa vota,
principalmente em eleições majoritárias, calculando perdas e ganhos. Todo mundo precisa
de um torrão de açúcar para se dar ao trabalho e à agonia de participar de eleições. Mas para
quem é homem hétero, cis, branco e cristão, a esquerda identitária oferece apenas uma culpa
e um conjunto de dívidas e obrigações daí decorrentes. Ora, ninguém gosta de se sentir
culpado nem de assumir responsabilidade por pecados, principalmente quando julga que
não os cometeu. Nem gosta de ouvir o tempo todo que tudo em sua vida é resultado de
privilégios, principalmente quando olha em volta e vê que tem menos do que mereceria ter.
Ou nem se considera propriamente uma pessoa desprovida de méritos, esforços e
sacrifícios, que não tenha que matar um leão por dia, que não tenha tido que enfrentar
desvantagens e dificuldades. Mas a esquerda identitária basicamente diz para esse sujeito
que sua vida se resume a privilégios, que ele é parte da injustiça social e que tem que se
acostumar a perder para que os outros possam, enfim, ganhar alguma coisa.
O bolsonarismo faz parte de uma onda mundial de guinada à direita conservadora, que tem
um dos seus fundamentos na chamada guerra cultural. Trata-se, dentre outras coisas, de
uma reação (e de um reacionarismo) aos avanços liberais em pautas relacionadas a minorias
e a controvérsias morais. Mas é também um movimento importante no jogo na política
identitária.
A luta identitária
Política identitária (identity politics), para quem não sabe, é uma forma de politização das
contraposições entre determinados grupos sociais cujos membros reconhecem que o seu
pertencimento é compelido por aspectos da sua identidade. Exemplos de tais identificações
são grupos de referência – ou “comunidades”, como dizem os americanos –, como aqueles
baseados em cor, sexo, orientação sexual, etnia, em deficiências, dialetos, origem
geográfica, identidade de gênero etc. O mundo da luta identitária acaba se tornando um
conjunto de peças que nunca formam um mosaico, porque há superposições e há colisões,
em que cada pauta identitária tende a se fragmentar em um processo infinito, uma vez que
constantemente aparece uma nova microidentidade se desgarrando do núcleo a que se
vinculava e reivindicando o direito à autorrepresentação. Estabelecido o princípio de que só
a autorrepresentação é a autêntica representação e estabelecida uma ética de convivência
que se move pela inclusão de qualquer reivindicação de identidade, o resultado é uma
fragmentação infinita assumida como destino.
Uma forte vertente da política baseada em identidades é aquela que estabelece que os
grupos identitários são oprimidos e que o caminho para a justiça passa pela remoção da
opressão. Antes, a identificação do tipo de opressão a que cada comunidade está submetida
é o princípio de corte identitário: quem sofre da mesma opressão, se identifica uns com os
outros sob aquele aspecto. Depois, no interior do recorte feito, vão se identificando
sucessivos estratos de opressão, a que parte dos membros da comunidade estão submetidos
e outra parte não, que fornecem sucessivos pontos de corte, identidade dentro das
identidades, até que não se tenha mais nada para cortar. “Átomo”, em grego, significa
literalmente o que não pode mais ser cortado ou recortado. Individuum, em latim, é o que
não pode mais ser dividido. A atomização é para onde se dirige a lógica dos cortes e
recortes que perpassam a política identitária.
A esquerda identitária precisa decidir o que disputa no campo político, se quer ganhar
eleições ou se quer simplesmente vencer o campeonato de superioridade moral.
Superioridade moral é importante, mas ter razão não é superior a ter votos se o propósito é
ganhar disputas eleitorais. De fato, a democracia tem em seu cerne este inconveniente: para
governar você precisa ter a maioria do seu lado. Um lado não precisa necessariamente ser
melhor que o outro, mas precisa ser maior. E o seu lado não se torna maior apenas porque
você acredita ter superioridade moral. A esquerda tem grande dificuldade de entender isso e
trata a disputa eleitoral como se fosse uma extensão das tretas e disputas que ambientes
acadêmicos dominantemente de esquerda mantêm, em moto contínuo, no seu interior. Com
isso, fala cada vez mais para si mesma e cada vez menos com os que estão fora dos muros
de autocomplacência e de extrema afinidade em que se refugia.
Estes dois movimentos em falso (a satanização dos opressores e imposição, aos indivíduos
singulares, das obrigações de pagar por opressões históricas das categorias a que pertencem)
podem ser politicamente fatais. A prova disso são os sucessivos êxitos eleitorais recentes
dos ultraconservadores, quando resolvem se promover como um discurso de emancipação
daqueles que foram satanizados pelos seus adversários da esquerda liberal identitária. Como
tal paradoxo é possível?
Numa dessas entrevistas ao vivo neste ciclo eleitoral, indagado sobre políticas de
compensações para negros em função do passado escravocrata do país, Bolsonaro reagiu
prontamente: “Eu nunca escravizei ninguém”. A multidão de eleitores de Bolsonaro vibrou
em uníssono pelos grupos de WhatsApp Brasil afora. “Que horror”, disse a esquerda
identitária, “essa gente fascista saiu do armário”. Na verdade, ali se registrava pela enésima
vez o fato de que não existe qualquer torrão de açúcar para este público no discurso
identitário quando ele se torna discurso eleitoral. A esquerda identitária diz para a maioria
numérica da sociedade que ela tem que arrastar correntes para sempre, para purgar por
privilégios que ela não reconhece, expiando incessantemente uma culpa histórica que
jamais poderá cessar. Estrategicamente a direita conservadora aparece no cenário para
oferecer à maioria, paradoxalmente, uma oportunidade emancipatória: “Você não
escravizou ninguém, a culpa não é sua, não abra mão dos seus direitos para pagar uma
dívida que você, singularmente, não contraiu”.
Satanizações
O que o bolsonarismo vendeu foi a ideia de que se você é cis, branco e hétero, a esquerda/os
comunistas/os direitos humanos/os petistas lhe farão arrastar correntes para sempre, farão
políticas públicas para transferir seus direitos para as suas minorias preferidas, não
reconhecerão seus méritos e valores e ainda destruirão a sua imagem. A satanização
consiste justamente nisto: em demonstrar que o outro deve ser temido, odiado e, quando
surgir a oportunidade, exorcizado. Ambos os lados, o bolsonarismo ou a esquerda
identitária, satanizam o seu inimigo predileto. Mas neste momento, no Brasil, o
bolsonarismo foi mais eficiente em converter a satanização em voto. E em produzir uma
“metassatanização”: a satanização da satanização das pessoas brancas, cis, hétero, cristãs.
Lutas identitárias fazem definitivamente parte do horizonte político do século 21. Há boas
razões históricas e sociais para que elas existam. Mas toda luta se compõe de tentativas e
erros, táticas e estratégicas que se provam eficientes e outras que não levam a lugar algum.
Já há muita bibliografia sobre as consequências, para a fragmentação da esquerda, das
pautas identitárias. Ou sobre o quão contraproducente para tais pautas é a dispensa da
empatia social, trocada pela imposição do dogma da autorrepresentação, a famigerada “treta
do lugar de fala”. Gostaria de incluir dentre essas táticas destinadas ao fracasso, como lição
que se pode depreender do sucesso eleitoral da onda ultraconservadora que prospera no
mundo, a satanização da maioria. Afinal, ao fim e ao cabo, a democracia liberal é um
governo de maiorias. Pisar nos pés da maioria e ainda pretender vencer eleições não parece,
portanto, uma ideia promissora. Ainda mais se, no fim das contas, a satanização do outro,
além de taticamente ineficaz, não me parece nenhuma dimensão essencial, moralmente
superior ou democraticamente justificável da luta por direitos, estima social, igualdade e
respeito.
Introdução
Este texto é resultado do grupo de estudos Concreto Pensado, do
coletivo Bacamarte, do qual fazemos parte. Nossos estudos têm
perpassado temas como a indústria cultural, correlações ente marxismo
e arte, análises de conjuntura, discussões sobre a questão da mulher na
pandemia e diversos outros temas, todos sob a orientação do
materialismo histórico-dialético como método.
Identitarismo versus Marxismo
Recentemente temos visto principalmente na internet – assim como
também nas relações sociais concretas – diversas polêmicas que
envolvem os chamados setores identitários com o restante da sociedade
de espectros políticos mais amplos. Isso naturalmente tem gerado
enormes desgastes sociais desde as relações interpessoais às
organizações e demais setores da sociedade, como o próprio Estado
burguês. Essas polêmicas são carregadas de termos como lugar de
fala, apropriação cultural, cancelamento, lacração, pós-
moderno, opressão, privilégio, gênero, raça etc. Tudo isso faz parte das
lutas sociais que decorrem de uma contradição da ordem estrutural,
ainda que raras vezes esteja presente nessas polêmicas conceitos
como luta de classes, contradição, História e capitalismo. Há também
termos como inclusão, representatividade e empoderamento,
mas revolução e superação ou emancipação humana também pouco se
vê. Liberalismo também está presente, pois é a via escolhida por estes
setores de uma forma geral. Certamente há segmentos que partem de
uma leitura materialista e revolucionária, mas são veementemente
combatidos, quase sempre por correntes de caráter pós-moderno ou pela
extrema direita. Uma das armas preferidas dos setores identitários é
combater o materialismo histórico-dialético, resultando na criminalização
direta do comunismo e de qualquer luta que se pretenda emancipatória
do ponto de vista social, pois tal esforço requer enfrentar diretamente o
socio-metabolismo do capital.
Nesses termos o identitarismo funciona como uma espécie de moeda de
troca com o próprio sistema capitalista e sua máquina burocrática e
repressiva – o Estado – sobretudo quando reivindica inclusão no lugar do
rompimento definitivo, deixando de lado, portanto, a perspectiva
anticapitalista. Segundo Haider (2019, p. 38):
Por isso, conclui Haider que “essa experiência me mostrou que a política
identitária é, ao contrário, uma parte integral da ideologia dominante. Ela
torna a oposição impossível.” (HAIDER, 2019, p. 68).
E continuam:
Haider (2019, p. 31) afirma que “para o CCR, a prática política feminista
significava, por exemplo, participar dos piquetes durante greves na
construção civil durante os anos 70.” Portanto, ao longo da década de
60, o partido dos Panteras Negras, continua Haider (2019):
Uma pista então para identificar essas novas marginalidades talvez seja
justamente a rejeição das estéticas ou temas progressistas, que
substituem a emancipação coletiva pelo festivo domínio da marginalidade
como glamourização, portanto, entretenimento confortador. Trata-se de
lógica notoriamente inserida no campo da competição, haja vista sua
predisposição para produzir mercadorias – enquanto produtos culturais
resultantes da expressão artística – cujo capital simbólico reitere a
centralidade da identidade per se. Aqueles que forem capazes de melhor
expressar as expectativas sobre determinada identidade, serão aqueles
que obterão maior retorno financeiro e de reconhecimento social para
suas obras, inserindo-se com sucesso no mercado da indústria cultural.
A produção cultural baseada nessas premissas certamente produz
capital simbólico – no âmbito das abstrações – e novas elites na classe
artística – do ponto de vista das relações sociais. É sobre esse processo
de estratificação – que não se restringe à classe artística, mas à toda
classe trabalhadora – que abordaremos a seguir.
Identidade enquanto estratificação social: a visão weberiana
Subjacente às relações entre os detentores dos meios de produção e o
proletariado, anteriormente explicitadas, aplica-se a análise baseada na
estratificação econômica em relação a capacidade aquisitiva proposta
por Weber (apud LEMOS, 2012). Desse modo, se constituem “classes”
weberianas de acordo com a capacidade de consumo de determinados
grupos, como acontece com o denominado “Pink Money” em relação a
população LGBTI e, mais recentemente, o “Black Money”, relacionado à
população de pessoas autodeclaradas negras. De fato, as duas
abordagens – marxista e weberiana – se entrecruzam neste caso. Assim,
a classe dominante utiliza a subdivisão da classe trabalhadora em nichos
de mercado diferentes como mais um elemento desagregador das
pautas comuns – interesses semelhantes de grupos oprimidos distintos –
em interesses de consumo diversificados. E estimula a constituição
dessas diferenças através da diversificação cada vez maior de
mercadorias, cuja ampliação de escopo as potencializa ainda mais à
medida que se amplia seu consumo.
Note-se que, ao abordar a perspectiva marxista na seção anterior, o
tema central era a exploração por parte das classes dominantes –
enquanto empresariado dono dos meios de comunicação – na
identificação e posterior estímulo ao consumo de mercadorias que
atendam a esses nichos. Já na perspectiva weberiana, analisamos o
fenômeno que se dá a partir desse primeiro movimento: a constituição de
classes de consumo que competem entre si por satisfação de interesses
particulares na busca por ampliar seu poder de dominação econômica,
social e política, pois quanto maior a posse de bens e a amplitude de
consumo de serviços relacionados a um determinado nicho, mais se
aprofunda o processo de identificação amparado pelas relações sociais
mediadas pelas mercadorias consumidas (consequentemente aumenta
também o poder de influir nas decisões de compra de seus pares).
Social, pois o consumo ampliado de mercadorias que associem o
consumidor à identidade que ele deseja projetar, tende a aumentar
seu status naquela comunidade identitária (fora do âmbito econômico
estrito, quanto maior a produção intelectual relacionada àquela
identidade, maior será a relevância social do indivíduo que a veicule).
Política, no âmbito institucional principalmente, à medida que é capaz de
mobilizar a constituição de subjetividades jurídicas – na esfera pública –
e contratuais – na esfera privada – que garantam direitos a uma
determinada minoria política ou nicho de mercado, respectivamente (aqui
entendidos ambos como grupos identitários).
Assim, em complementação à abordagem econômica, já demonstrada,
as demandas político-institucionais – a influência nas decisões
políticas através das relações de dominação – e socioculturais – o
status ou prestígio relacionado ao acúmulo de bens simbólicos – também
ganham relevância na análise da dinâmica do identitarismo.
Com relação aos aspectos socioculturais, é possível relembrar um
episódio histórico, já mencionado no início deste artigo, que esperamos
ser suficiente para evidenciar como se dão essas relações sociais na
constituição de um fetichismo baseado na lógica de mercado em última
instância. Relembramos, então, o próprio Asad Haider (2019), quando
menciona o movimento do “nacionalismo reacionário”, no qual a elite, por
meio da mobilização de um capital simbólico derivado das lutas raciais,
desvia-se de questões concretas que atingem a totalidade da classe
trabalhadora: tanto negra enquanto minoria política, quanto a de outras
etnias. No mesmo sentido, é possível citar a solidariedade racial entre
elites brancas que se constitui como fonte de manutenção de prestígio
enquanto acúmulo de bens simbólicos: seja na produção intelectual, seja
na definição da etiqueta vigente ou do que consideram como referência
estética aceitável.
Já no que diz respeito aos aspectos político-institucionais, dois exemplos
bastante atuais – demandas por políticas públicas compensatórias em
detrimento das construtivas (MULLER, 2018) e eleições no sistema
representativo social-democrata – os quais são descritos brevemente a
seguir – poderão ser capazes de demonstrar como a dinâmica identitária
pode se constituir como uma armadilha nesse campo.
O populismo autoritário e a
cultura do cancelamento
Destacamos aqui, entre os exemplos de armadilhas da identidade, o
fenômeno denominado “populismo autoritário”, cunhado por Stuart Hall,
que é citado no artigo de Achille Mbembe (2016), “A era do humanismo
está terminando”. O autor (MBEMBE, 2017, online) denomina o mesmo
fenômeno de “autoritarismo liberal”:
O principal choque da primeira metade do século XXI […] será entre
a democracia liberal e o capitalismo neoliberal […]. Apoiado pelo
poder tecnológico e militar, o capital financeiro conseguiu sua
hegemonia sobre o mundo mediante a anexação do núcleo dos
desejos humanos e, no processo, transformando-se ele mesmo
na primeira teologia secular global. Combinando os atributos de uma
tecnologia e uma religião, ela se baseava em dogmas inquestionáveis
que as formas modernas de capitalismo compartilharam
relutantemente com a democracia desde o período do pós-guerra –
a liberdade individual, a competição no mercado e a regra da mercadoria
e da propriedade, o culto à ciência, à tecnologia e à razão. Cada um
destes artigos de fé está sob ameaça. Em seu núcleo, a democracia
liberal não é compatível com a lógica interna do capitalismo
financeiro. É provável que o choque entre estas duas ideias e princípios
seja o acontecimento mais significativo da paisagem política da primeira
metade do século XXI, uma paisagem formada menos pela regra da
razão do que pela liberação geral de paixões, emoções e afetos.
(grifos nossos)
Assim, nos interessa destacar o que diz respeito à “liberação geral de
paixões, emoções e afetos” mencionada por Mbembe (2017, online),
como uma das armadilhas da identidade pela ênfase que dá ao viés
exclusivamente subjetivo enquanto modo de interpretação da realidade.
Por mais válido e legítimo individualmente que seja reconhecer traumas,
visões de mundo, impressões e percepções – compartilhando-as para
buscar sua superação através das trocas afetivas – constituir identidades
coletivas apenas a partir dessas percepções fracionadas embota a visão
objetiva, necessária a uma articulação social ampla. Impede-se, assim, a
organização a partir de pautas políticas comuns: coletivas enquanto
conjunto de ações propositivas universais, não de alinhamento
comportamental e personalista. Enquanto isso, detentores dos meios de
produção utilizam esses dados objetivos para ampliarem sua dominação
no sentido de definirem os critérios pelos quais as relações entre
pessoas se darão, substituindo de forma cada vez mais profunda o papel
do Estado e as próprias relações sociais concretas (grifos nossos):
“Em vez de pessoas com corpo, história e carne, inferências estatísticas
serão tudo o que conta. As estatísticas e outros dados importantes serão
derivados principalmente da computação. Como resultado da confusão
de conhecimento, tecnologia e mercados, o desprezo se estenderá a
qualquer pessoa que não tiver nada para vender. A noção humanística e
iluminista do sujeito racional capaz de deliberação e escolha será
substituída pela do consumidor conscientemente deliberante e eleitor. Já
em construção, um novo tipo de vontade humana triunfará. Este não
será o indivíduo liberal que, não faz muito tempo, acreditamos que
poderia ser o tema da democracia. O novo ser humano será
constituído através e dentro das tecnologias digitais e dos meios
computacionais.” (MBEMBE, 2017, online)
Considerando que Mbembe escreveu este artigo em 2016, quando ainda
não estávamos no contexto da pandemia de COVID-19, tendemos a
acreditar que sua análise de conjuntura tome contornos ainda mais
graves, à medida que constatamos a intensificação das relações digitais.
Nesse sentido, outra armadilha que a identidade traz é a individualização
das pautas políticas que acabam por convergir no compartilhamento e
circulação de sentimentos em comum, especialmente nas redes. Não é
de se admirar que, num contexto de opressão que se dá constante e
consistentemente, o ódio e o ressentimento se tornem um dos elementos
emocionais em torno dos quais se constituem a forma de manutenção
dessas identidades coletivas. Como coloca Mbembe (2017, online):
A era computacional – a era do Facebook, Instagram, Twitter – é
dominada pela ideia de que há quadros negros limpos no
inconsciente. As formas dos novos meios não só levantaram a tampa
que as eras culturais anteriores colocaram sobre o inconsciente,
mas se converteram nas novas infraestruturas do inconsciente.
Ontem, a sociabilidade humana consistia em manter os limites sobre o
inconsciente. Pois produzir o social significava exercer vigilância sobre
nós mesmos, ou delegar a autoridades específicas o direito de fazer
cumprir tal vigilância. A isto se chamava de repressão. A principal função
da repressão era estabelecer as condições para a sublimação. Nem
todos os desejos podem ser realizados. Nem tudo pode ser dito ou
feito. A capacidade de limitar-se a si mesmo era a essência da
própria liberdade e da liberdade de todos. Em parte, graças às formas
dos novos meios e à era pós-repressiva que desencadearam, o
inconsciente pode agora vagar livremente. A sublimação já não é mais
necessária. A linguagem se deslocou. O conteúdo está na forma e a
forma está além, ou excedendo o conteúdo. Agora somos levados a
acreditar que a mediação já não é necessária. Isso explica a crescente
posição anti-humanista que agora anda de mãos dadas com um
desprezo geral pela democracia. […] No entanto, sob as condições do
capitalismo neoliberal, a política se converterá em uma guerra mal
sublimada. (grifos nossos)
Assim como Amazon, Netflix e Apple utilizam a estratégia de estimular o
consumo baseado em nichos mercadológicos, as redes
sociais, Facebook, Instagram, Twitter e WhatsApp promovem a criação
de bolhas estanques, baseadas em preferências políticas, entre outras
impossíveis de serem definidas, haja vista o hermetismo do
funcionamento dos algoritmos que as regem. O fato é que surgem
fenômenos como a instrumentação da linguagem: apagando a
polissemia de palavras e expressões, que passam a ser censuradas
indiscriminadamente, desconsiderando seu contexto e semiótica.
Também a repetição sistemática de temas específicos, baseado nas
preferencias e comportamento virtual dos usuários, dificulta sua
autonomia na interlocução com pontos de vista diferentes. Em redes
sociais com as mencionadas, a lógica de mercado, assim como a lógica
de segregação, já está posta pelos próprios algoritmos à medida que
estabelecem critérios de interação e seleção de conteúdo. Já
mencionamos também a questão do estímulo ao consumo segmentado,
baseado em preferências a partir da coleta de dados provenientes do
que os usuários escrevem, do que curtem e mesmo do que falam em voz
alta. Geram-se assim dados que são vendidos para outras empresas
anunciantes ou mesmo governos que desejem influenciar resultados
eleitorais, como já é de conhecimento geral. Achille Mbembe continua
(2017, online):
O capitalismo neoliberal deixou em sua esteira uma multidão de sujeitos
destruídos, muitos dos quais estão profundamente convencidos de que
seu futuro imediato será uma exposição contínua à violência e à ameaça
existencial. […] Neste contexto, os empreendedores políticos de maior
sucesso serão aqueles que falarem de maneira convincente aos
perdedores, aos homens e mulheres destruídos pela globalização e
pelas suas identidades arruinadas. […] Em um mundo centrado na
objetivação de todos e de todo ser vivo em nome do lucro, a eliminação
da política pelo capital é a ameaça real. A transformação da política em
negócio coloca o risco da eliminação da própria possibilidade da política.
Referências
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Horizonte: Editora UFMG, 2002.
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vendas: como lucrar com a fragmentação dos mercados. Rio de Janeiro:
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Disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/08/o-
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MOURA, Arthur. Identitarismo: a nova cara do liberalismo. YouTube.
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SILVEIRA, Luís Gustavo Guadalupe. Alienação Artística: Marcuse e a
ambivalência política da arte. 2009. Dissertação de Mestrado em
Filosofia Social e Política. Uberlândia: UFU. 166 pp.
Este fenômeno que parece ter surgido com o Occupy Wall Street, o Me too e o Black Lives
Matter, vem de muito antes
Nos últimos anos, entretanto, o ativismo social com base em traços específicos de
identidade parece distanciar-se e, mais do que isso, querer se sobrepor ao eixo em
torno do qual a esquerda tradicional se apoia: a luta de classes. Hoje a pauta
identitária interdita o debate político e seu discurso sectário e conceitual se afasta do
diálogo popular.
:: Artigo | Filmes sobre a atualidade mostram ódio e repúdio aos direitos humanos;
veja lista ::
Este fenômeno que parece ter surgido de movimentos como o Occupy Wall Street, o Me
too e o Black Lives Matter, vem de muito antes. As sementes desta militância
puramente identitária germinaram no Pós Guerra, se desenvolveram nos movimentos
americanos e europeus da década de 1960 e se consolidaram com o fim da Guerra
Fria.
Holton aponta o início da Guerra Fria, em 1947, como um marco e afirma que já
naquela época a então URSS denunciou a hipocrisia dos EUA que sustentava um
discurso baseado nos direitos humanos como a “linguagem moral do mercado
competitivo”, mas mantinha em seu território a segregação racial no Sul (o apartheid
estava em alta), a falta de direito das mulheres, as numerosas invasões a Países
estrangeiros e as más condições oferecidas aos trabalhadores e aos povos indígenas.
Soma-se à hipocrisia deste discurso pretensamente humanitário o fato de os EUA ter
sido o único país do mundo a fazer uso da bomba atômica, jogando-a nas cidades
japonesas de Hiroshima e Nagasaki em 6 e 9 de agosto de 1945.
Mas a crítica que deve ser feita ao ativismo puramente identitário não é apenas que
ele pulveriza as questões políticas e sociais e fragmenta o campo progressista.
Os problemas são mais profundos e estão mais ligados ao conteúdo do que à forma.
Para resumir, podemos levantar que, em primeiro lugar, esse discurso que se
considera mais evoluído que um mero “binarismo popular” se distancia da realidade
do povo trabalhador, preso a urgências como emprego, renda e sobrevivência.
O efeito rebote que isso tem causado é assustador. É notório que nas eleições
americanas de 2016 trabalhadores afetados pela crise de 2008 viabilizaram a vitória
do empresário de extrema direita Donald Trump. A mesma linha de raciocínio pode se
aplicar à eleição de Jair Bolsonaro no Brasil em 2018, lembrando que a chapa que o
confrontou foi fortemente influenciada pela pauta identitária.
Em 2020, mesmo com sua derrota, Trump conquistou uma votação expressiva entre
negros e latinos. No artigo “Voto de não brancos em Trump revela armadilha do
identitarismo“, a jornalista Maria Cristina Fernandes mostra que o perfil antissocial de
Trump não impediu “que ele tivesse, em relação à eleição de 2016, uma votação
proporcionalmente maior entre latinos, negros e asiáticos. Foi a melhor votação
republicana entre os não brancos dos últimos 60 anos”, mesmo depois da comoção
mundial provocada pela morte de George Floyd e de todo o vigor do Black Lives
Matter.
Isso mostra que o identitarismo tem uma receptividade maior entre a classe média
dos centros urbanos, com maior poder de consumo, mas afasta o povo que acaba
encontrando acolhimento em políticos simplórios que vendem soluções fáceis como
Trump e Bolsonaro.
Dissociar a luta de classes do ativismo social faz com que os militantes não se
identifiquem como trabalhadores, criando uma barreira entre uma militância seleta
que se vê como “vanguarda” e o povo.
Mas para ser vanguardista e revolucionária a esquerda deve ser crítica a esse discurso
liberal e tomar cuidado com as fronteiras tênues entre ele e as chamadas pautas
identitárias. Deve considerar o povo oprimido e a classe trabalhadora. Não dividir esse
povo entre mulheres, negros, indígenas, homossexuais etc. As questões raciais,
ambientais e de gênero só são revolucionárias quando abordadas a partir da raiz das
desigualdades e das injustiças históricas. Este é um caminho mais complexo e que
encontra grande resistência, uma vez que abala as estruturas sociais. Mas é o que
diferencia a esquerda progressista da direita liberal.
Resenha — Como a
política identitária dividiu
a esquerda: uma entrevista
com Asad Haider
Amanda Santos
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Referência bibliográfica
A política identitária e a
ideologia liberal
Nos últimos anos, entretanto, o ativismo social com base em traços
específicos de identidade parece distanciar-se e querer se sobrepor
ao eixo em torno do qual a esquerda tradicional se apoia: a luta de
classes
Mas a crítica que deve ser feita ao ativismo puramente identitário não
é apenas que ele pulveriza as questões políticas e sociais e fragmenta
o campo progressista.
O efeito rebote que isso tem causado é assustador. É notório que nas
eleições americanas de 2016 trabalhadores afetados pela crise de
2008 viabilizaram a vitória do empresário de extrema direita Donald
Trump. A mesma linha de raciocínio pode se aplicar à eleição de Jair
Bolsonaro no Brasil em 2018, lembrando que a chapa que o
confrontou foi fortemente influenciada pela pauta identitária.
Eleutério F. S. Prado
Divinização do dinheiro
"A sociedade do consumo é o último recurso de sobrevivência do capitalismo", escreve
6
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portanto, se manifesta em ambas essas formas – ainda que diferentemente: como forma
última análise, são formas da relação social de troca – mediações da relação de capital.
O próprio valor, portanto, é por excelência forma das relações sociais que constituem
esse modo de produção. Note-se, agora, que há uma maneira sintética de apresentar tudo
isso; eis que ela separa por uma barra a aparência da essência da mercadoria:
por exemplo) é o lugar do fetiche, o dinheiro fiduciário, ainda como forma geral do
valor, é o lugar da divinização na sociedade moderna. Apesar disso, boa parte da teoria
econômica trata o dinheiro como algo quase supérfluo – mas não toda.
Divinização? Será? Se essa parece ser uma tese estranha para muitos, que se deixe então
parece confirmá-la. Por enquanto, saiba-se que “um sentimento de algo ilimitado, sem
barreiras, como que oceânico” pode assaltar a compreensão de mundo do ser humano
em geral na sociedade moderna. Tal como mostrou Freud, esse tipo de anseio pode
ou seja, a contradição entre valor e valor de uso, ela aparece no mercado como valor de
uso e valor de troca. Enquanto valor de uso ela consiste de algo que tem uma
Posto isso, é preciso dizer que fetiche na sociedade moderna vem a ser o produto do
caráter de valor ao valor de uso, identificando assim a forma valor com o suporte dessa
forma, ou seja, com o valor de uso. Se a mercadoria é tomada desse modo, o valor de
troca passa a estar fundado no valor de uso, mais propriamente, em suas propriedades
que satisfazem necessidades humanas. O valor, pois, parece interno ao valor de uso. De
qualquer modo, um exemplo clássico é pensar que o ouro como tal é dinheiro. Em geral,
tem-se:
que ganha valor de troca nos mercados, entendido ele mesmo, portanto, como valor. O
valor de troca é, assim, tomado como uma mera convenção criada pelo sujeito
“mercado”; e o valor de uso ou bem, em consequência, se torna um mero portador do
valor de troca. Este, sendo definido pelas interação de mercado entre produtores e
consumidores, afigura-se externo ao bem enquanto tal. Ora, essa idealização põe o
dinheiro fiduciário como uma coisa divina, ou seja, como valor simplesmente.
Agora, veja-se que essa tese que aqui se defende não consiste numa acusação sem
fundamento, numa crítica externa ao modo de pensar dos economistas; não se trata, em
provada com base em textos de autores que não criticam o sistema capitalista enquanto
renda etc. Aqui se emprega para essa finalidade dois escritos de economistas que
pertencem ao campo da Teoria Monetária Moderna (TMM). O primeiro deles vem a ser
um livro de Warren Mosler, o qual foi escrito com o objetivo de apontar o que considera
A primeira delas consiste em pensar que o Estado se encontra limitado em seus gastos
pela soma dos impostos que arrecada com os empréstimos que toma junto ao setor
privado – principalmente junto aos capitalistas. De fato, o Estado não enfrenta essa
restrição orçamentária que sempre se impõe para as empresas e as famílias: eis que pode
se financiar emitindo o dinheiro fiduciário que ele próprio cria institucionalmente. Daí
que Mosler diga: “o governo federal sempre pode gastar e pagar em seu própria moeda
corrente, pouco importa o tamanho do déficit ou a insuficiência das receitas que obtém”.
Mas, não haveria outras restrições além daquela propriamente monetária? E essa é uma
Esse autor sabe que o Estado não deve criar mais demanda efetiva do que pode a oferta
agregada atender; pois, se o fizer, ele gerará inflação. Como acredita, entretanto, que
produzindo grandes déficits orçamentários. Diante da crise dos anos 1970, Mosler
Como?
Ora, ele apresentou três propostas realmente fantásticas, as quais mostra em seu livro:
1ª) retirar todos os impostos sobre salários das folhas de pagamentos de todas as
organizações estatais e privadas; 2ª) fazer um fundo com 150 bilhões de dólares para os
governos estaduais para que eles pudessem criar empregos para todos os que quiserem
trabalhar; 3ª) criar um programa de emprego com salário mínimo para todos os que
estivessem fora da força de trabalhadores, mas que estavam querendo nela entrar. Em
conjunto, essas três propostas pretendiam fazer um milagre e este seria produzido
meramente por meio da emissão de moeda. Ora, assim, ele supõe que o dinheiro seja
todo poderoso, já que tem, por si mesmo, a capacidade de restaurar uma prosperidade
que fora perdida. Mesmo que não o diga, ele toma essa aptidão extraordinária como
Agora, é preciso examinar certas afirmações de um livro de Ann Pettifor que se chama
peculiar, essa autora considera o dinheiro como uma mera “construção social” cuja
“produção é elástica”, ou seja, que não sofre grandes restrições normalmente. O seu
único limite estaria na capacidade de produção máxima que seria improvável atingir,
De qualquer modo, essa autora julga que o “poder de criar dinheiro vem do ar”, ou seja,
algo que cai do céu no balanço dos bancos centrais e dos bancos comerciais. O dinheiro
é para ela um “grande avanço civilizacional” já que “permite fazer o que se quer dentro
dos limites dos recursos naturais e humanos. É assim, porque o dinheiro ou o crédito
não existe como resultado da atividade econômica, como muito acreditam… o dinheiro
cria a atividade econômica”. Será? Teria o dinheiro essa capacidade divina ou estaria
essa autora movida por um desejo reformador que apenas pode ser satisfeito num
mundo imaginário?
Ora, dinheiro não é nem criado por um poder exógeno ao sistema econômico nem surge
do nada – apesar da aparência em contrário, algo que apenas se sustenta quando a sua
dinheiro obedece a uma lógica que é interna ao devir desse complexo social que inclui a
o Estado. E essa lógica, como bem se sabe, visa sobretudo a geração de lucro. Se não é
produção capitalista.
meramente de opções de política econômica ou, de modo ainda mais redutivo, parece
ser uma questão que se resolve no campo das teorias econômicas. Para propor reformas
miraculosas, eles sempre começam apontando erros nas crenças dos economistas e dos
políticos. Ao fazê-lo, eles cometem um erro ainda maior que consiste em ignorar a
natureza do sistema econômico expandido, que não pode deixar de incluir o Estado.
Como foi apontado por Anwar Shaikh[v], ignoram as conexões entre o gasto estatal, o
também a natureza conflitiva dos interesses que movem as classes sociais e suas
frações.
capitalismo que atravessa toda a teoria monetária moderna: (a) pleno emprego aparente
não pode ser atingido, senão raramente e por pouco tempo, na economia capitalista. Eis
que, se acontece como evento, isso diminui drasticamente o poder de barganha dos
salários reais e, assim, a reduzir as taxas de lucro; (b) A formação de preços depende do
historicamente de tal modo que a concorrência, hoje, se dá sob uma elevação rastejante,
mas constante, dos preços; (c) Em consequência, uma aceleração “perigosa” da inflação
outras causas;
(d) O Estado não é uma instituição “benevolente” que esta “fora” do sistema econômico
industrial e financeira – a emissão monetária feita pelos bancos está condicionada a esse
mesmo objetivo. A emissão de dinheiro para outros objetivos entra em conflito com a
natureza do capitalismo e sofre, por isso, uma oposição ferrenha das classes dominantes
pela divinização. É assim que na sociedade desencantada, que fora apresentada por Max
Weber na passagem do século XIX para o século XX, os mutantes humanos caíram
Mercado, que lhes diz sempre: gozem![vii] Ora, esse apelo da sociedade do consumo é o
último recurso de sobrevivência do capitalismo, pois ele está em conflito aberto com os
imperativos ecológicos.
Notas
[i] Ver Freud, Sigmund – O mal-estar na civilização. São Paulo: Cia das Letras, 2011.
tinha uma compreensão idealista dele e, por isso, punha o significado sobre o
significante. Note-se, porém, que o signo invertido não é o significante tal como
entendido usualmente.
[iii] Mosler, Warren – The deadly innocent frauds of economic policy. EUA: Valance
Co., 2010.
[iv] Pettifor, Ann – The production of money – How to break the power of bankers.
In: https://eleuterioprado.blog/2019/04/22/a-critica-de-anwar-shaikh-a-tmm/
Sade.
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Paulo Freire’s Ideas Are Just as
Powerful Today as Ever
BY
PETER MCLAREN
Socialist educator Paulo Freire was born one hundred years
ago today in the Brazilian city of Recife. A longtime
comrade of Freire, leading Marxist pedagogue Peter
McLaren writes about how his life and work remain deeply
relevant today.
Paulo Freire’s celebrity has made him both a target and a prophet in his home country
of Brazil. (UNICEN Argentina)
Our new issue, “The Working Class,” is out in print and online now.
Today marks the centennial anniversary of the birth of Brazilian philosopher
Paulo Freire. Most widely known for his magisterial Pedagogy of the
Oppressed, Freire continues to be a lodestar for teachers working in poverty-
stricken communities across the globe, and for just about anyone who’s
searching for a sense of justice in an unjust world.
Every critically minded educator has at some point used Freire in their
teaching — either to gain some insight into the upside-down world of the
oppressed or as the inspiration that led them to view teaching as a way to
overturn society’s asymmetries of power and privilege. Freire’s literacy
programs for empowering peasants are now used in countries all over the
globe, and Pedagogy of the Oppressed is currently the third-most-cited work
in the social sciences, and first in the field of education.
Freire’s celebrity has made him both a target and a prophet in his home
country of Brazil. Presently, he is being singled out by far-right groups like
Movimento Brasil Livre and Revoltados Online, and president Jair Bolsonaro
claims he is behind a conspiracy of Marxist indoctrination in the Brazilian
school system.
One such cultural circle saw three hundred sugarcane harvesters learn to read
and write in an astonishing forty-five days. Understandably buoyed by
Freire’s success, the Brazilian government led by president João Goulart drew
up plans to establish two thousand Freirean cultural circles that would ideally
reach five million adult learners and teach them to read within a two-year
period. It was to be a great accomplishment in a country where only half the
adult population could read and write.
That did not happen. Instead, in 1964, a right-wing military coup overthrew
Goulart’s democratically elected government. Freire was accused of preaching
communism and interrogated and arrested. He was imprisoned by the military
government for seventy days and went into self-exile for fear that his
prominent position in the national literacy campaign might lead to his
assassination. Indeed, the Brazilian military considered Freire “an
international subversive” and “a traitor to Christ and the Brazilian people,”
accused of trying to turn Brazil into a “Bolshevik country.”
Freire’s sixteen years of exile were both tumultuous and productive: after a
brief stay in Bolivia, he spent five years in Chile, where he became involved
in the Christian Democratic Agrarian Reform Movement and worked as a
UNESCO consultant with the Research and Training Institute for Agrarian
Reform. He served a visiting appointment in 1969 to Harvard University’s
Center for Studies in Development and Social Change, only to move the
following year to Geneva, Switzerland. There, he acted as a consultant to the
Office of Education of the World Council of Churches, where he developed
literacy programs for Tanzania and Guinea-Bissau that focused on the re-
Africanization of their countries. He was also involved in the development of
literacy programs in postrevolutionary former Portuguese colonies such as
Guinea-Bissau and Mozambique, and he assisted the governments of Peru and
Nicaragua with their own literacy campaigns.
Freire was decidedly Marxist, but his language never canvassed the political
landscape with the usual Marxist-Leninist argot.
Freire met the architect of the Cuban Literacy Campaign, Raúl Ferrer, in 1965
at the World Conference Against Illiteracy in Tehran. Ferrer and Freire met
again in 1979 to discuss the role of literacy in the Sandinista revolution in
Nicaragua.
Freire considered the Cuban Literacy campaign, which was responsible for
making literate over nine hundred thousand people in less than one year, as
among the great educational achievements of the twentieth century. He said
similar things about the Sandinista’s literacy campaign in Nicaragua.
A Resolute Marxist
For Freire, challenging capitalism was an urgent and pressing necessity. He
did not often provide exact descriptions of what his vision of a socialist
alternative would look like, but Freire’s adherence to a materialist
epistemology was firm and deep, and he maintained throughout his life a
modernist faith in human agency and in language’s unshakeable sociality.
Freire was decidedly Marxist, but his language never canvassed the political
landscape with the usual Marxist-Leninist argot. He did not, for instance,
preach that all value originates in the sphere of production, nor did he believe
that the main role of schools is to serve the agents of capital and its masters.
Freire, himself a Catholic, was not overly concerned with “religiosity” but
rather with the prospect of a liberated church — in a region where much of the
education system was still under control of religious authorities. Freire
dreamed instead of what he called “the prophetic church”: a Church that
would stand in solidarity with the victims of capitalist society. It was that
vision that led Gustavo Gutierrez, who codified Liberation Theology’s central
tenet of the “option for the poor,” to invite Freire to elaborate some of the key
elements of the emerging radical Christian doctrine.
Freire was unrivaled in his obsession with the power of the spoken and written
word — with what that power reveals about the world as it appears before us
and about what the world could be. For Freire, the sphere of literacy enables
human beings to live in the subjunctive mode — in an “as if” state that opens
up pathways to new worlds.
“Dialogue” and “dialectic” are key words in the Freirean vocabulary. The
dialogical “encounter,” as Freire called it, is actually the opposite of
indoctrination (an irony lost on Brazilian and American critics concerned with
critical race theory or Freirean “indoctrination”). Freire resisted what he called
“banking education” — depositing taken-for-granted knowledge into the
brain-pain of hapless students — because it was both socially oppressive and
assumed a world so fixed that the same lessons could be repeated ad nauseam.
As Freire says in Pedagogy of the Oppressed:
Since dialogue is the encounter in which the united reflection and action of the
dialoguers are addressed to the world which is to be transformed and humanized, this
dialogue cannot be reduced to the act of one person’s ‘depositing’ ideas in another, nor
can it become a simple exchange of ideas to be ‘consumed’ by the discussants. . . .
Because dialogue is an encounter among [humans] who name the world, it must not be a
situation where some [humans] name it on behalf of others.
Our world is one that Freire in many senses fought to forestall: one where
knowing through problem-posing is losing ground to endless culture wars;
where teachers are being criticized for evidence-based reasoning; where
people are punished for challenging the history of the United States’ colonial
entanglements and its brutal history of slavery. The kind of courageous
thinking that Freire called for makes the moral cowardice of most of today’s
political leaders and public figures all the more damning.
At its root, whether it’s in Brazil or the United States, the Right is stoking
fears of a vast conspiracy of indoctrination because they themselves are afraid.
By imagining our schools as a place of Darwinian struggle to impose
competing worldviews, conservatives are conveniently trying to make us
forget what Freire helped us to understand: that education is not just about
static worldviews but also, potentially, about world-changing. Or as Freire put
it: “Reading the world comes before reading the word.”
Read
The eternal mystery of fascism is: Why did so many people buy into
it? The protean nature of fascism is key to unlocking that mystery.
It’s also protean because leaders like Hitler and Mussolini had many
different policies to enfold different people in the fascist state. For
example, they had social welfare policies, like pre- and postnatal
assistance, to appeal to women.
Read
Read
The Origins of Nazi Violence, by Cornell historian Enzo
Traverso, is your next recommendation.
Trump proudly uses repetition, as Hitler did. The reason Trump did so
many rallies during his campaign and since taking office is that mass
gatherings can catalyze hatred and help keep it alive. In my research
for my next book, Strongmen, I found that Trump thought, once he
was in office, that Hillary Clinton chants were no longer needed. So,
he went to a rally and said, we don’t need this anymore.
But that wasn’t a popular stance with his base. So, ever the marketer,
he reintegrated the “lock her up” chants into his rallies, fanning the
flames of misogyny and hatred. And he still uses it two and a half
years after the election.
Read
Her most useful (and her most chilling) conclusion for today is that
totalitarian tools were not specific to Nazism or Stalinism or any
ideology. The Hitler and Stalin and Mussolini regimes used a common
set of tools to create certain kinds of subjects. The key thing in
totalitarianism is the isolation of the individual that causes the
inability to distinguish between fact and fiction.
Many of her observations have application far beyond the regime she
was talking about. Her words should be studied today by those who
want to do what to prevent the further spread of authoritarian regimes
and the ideologies they are propagating.
Not entirely, but the 20th century did produce the phenomenon of
totalitarian dictatorships with personality cults fed by mass media.
That was the basis of the regime of Mao, of Hitler, and of Mussolini.
Mass media enable these men to efficiently propagate and standardize
the messages of their regimes. That distinguishes modern
dictatorships.
1
(Foto: REUTERS)
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no mundo inteiro. Pela primeira vez em quase 15 meses - quando o mundo vivenciava o
auge da pandemia do novo coronavírus - o minério de ferro saiu cotado abaixo de US$
A incorporadora imobiliária tem 200 mil funcionários, presença em mais de 280 cidades
e afirma ser responsável por gerar 3,8 milhões de trabalhos indiretos na China.
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Evergrande foi favorecida pelos créditos fáceis das instituições financeiras chinesas, que
dificuldade para vender seus imóveis e, desta forma, conseguir dinheiro para pagar suas
dívidas com credores.
Crise em cadeia
A Evergrande acumula dívidas no valor de mais de US$ 300 bilhões (cerca de R$ 1,6
da África do Sul. Os números mostram a amplitude da crise financeira que ocorreria se,
por falta de recursos, a empresa chinesa tivesse de dar calote nas dívidas. Surgiria um
do mundo (US$ 24,143 trilhões), que nos últimos anos mostra aspectos além da situação
na China, acumulando uma queda no valor de 61% desde a cotação recorde de US$240
Brasil, houve queda no valor da Vale e das siderúrgicas Gerdau, CSN e Usiminas na
Além disso, a crise da Evergrande levaria a uma queda do mercado local chinês,
pequeno acordo com um credor local, para evitar o calote dos juros de um título
por taboola
Links promovidos
Ibovespa cai mais de 3% seguindo exterior em meio a caso Evergrande; dólar sobe a R$
5,32
momentaneamente, a curto prazo, pois a nota não menciona o pagamento dos juros de
outro título que também vencem na quinta-feira, quando a empresa terá de pagar juros
recuperação, nesta quarta, do valor do minério de ferro que subiu para US$ 103,38 por
Porém, essa situação é paliativa e apenas alivia a crise por alguns dias. Para evitar um
iniciando com uma bolha imobiliária, o governo chinês deve interferir na reestruturação
da empresa.
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Segundo o ING, órgão financeiro alemão, a reestruturação deve ser longa, e há grandes
O susto causado no início da semana fez até o mais neoliberal dos neoliberais defender
a intervenção estatal na crise da empresa - como foi feito pelo governo Roosevelt nos
EUA após a crise de 1929, e, desta vez de forma criminosa, pelo governo Obama, que
injetou trilhões nos bancos para salvá-los da crise de 2008, enquanto deixou o povo
chinesa é apenas um dentre os vários casos pelo mundo que podem ocasionar o
(Lênin) - isto é, sua fase final, que é a atual. Desde o século XX, o capitalismo já não é
Este sistema vive atualmente como um paciente terminal numa UTI, à base de aparelhos
A pobreza, a miséria, a fome, a inflação, a crise política, etc. têm levado à falência dos
classes dominantes (censura, repressão policial, golpes de Estado, etc.), por outro,
insurreições populares contra o domínio dos monopólios explodem por todo o mundo.
Na América Latina, vimos exemplos disso com a rebelião das massas no Chile, no
estão perdendo a guerra na Síria e foram expulsos pelo Talibã no Afeganistão - uma
derrota tão avassaladora que deve promover rebeliões em todo mundo árabe e
impor contra regimes políticos não-alinhados, como China, Rússia, Cuba, Venezuela,
Irã, etc. A polarização política tomou conta do planeta, tanto nos países atrasados, como
Brasil e África do Sul, quanto nos países imperialistas: França, EUA, Inglaterra, Itália,
Alemanha, etc.
Por este motivo, a vanguarda revolucionária precisa ter um programa para a crise
Trótski para a IVª Internacional. Este programa inclui uma série de reivindicações
Escala móvel de salários e escala móvel das horas de trabalho - redução da jornada de
trabalho sem perda salarial e aumento dos salários, num programa para combater o
desemprego e a miséria;
Formação de comitês de greve e de fábrica dos operários - os verdadeiros interessados
em resolver a crise social e econômica - para aumentar o controle sobre a produção
pelos trabalhadores e para superar a política de paralisia das atuais lideranças
sindicais;
Abolição do "segredo comercial" para que os trabalhadores saibam a verdadeira
situação das empresas, evitando o absolutismo dos capitalistas e evidenciando suas
fraudes para espoliar os operários;
Estatização com controle administrativo dos trabalhadores sobre as empresas falidas;
Realização de grandes obras públicas para restabelecer a malha industrial, ferroviária,
rodoviária, etc. e, ao mesmo tempo, dar trabalho à grande massa de desempregados;
Expropriação sem indenização das companhias monopolistas da indústria da guerra,
das estradas-de-ferro, das mais importantes fontes de matérias-primas (latifúndio,
mineradoras; reestatização completa da Petrobras, da Eletrobras…), etc;
Estatização dos bancos privados e do sistema de crédito para promover o
planejamento econômico sem ser prejudicado pelos abusos dos banqueiros;
Armamento do povo para romper com a ditadura da burocracia capitalista (polícia,
exército permanente), e intensificação das greves com ocupações (piquetes);
Nacionalização da terra e reforma agrária, contra o latifúndio;
Mobilização contra as guerras imperialistas e a pilhagem da burguesia: ‘confisco dos
benefícios de guerra e expropriação das empresas que trabalham para a guerra’;
Essas são algumas das reivindicações operárias imediatas que Trótski colocou como
Populares de Saúde; fim das patentes das vacinas; produção pelo Estado (se necessário,
máscara, luvas, álcool em gel, e a sua distribuição gratuita; ampla testagem contra a
pandemia; etc.
...
(Foto: Reprodução)
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Chicote do Pessoa
Entrou na clandestinidade
Marighella militou
No Partido Comunista
Defendia o proletário
Na vida de um guerreiro
Do partido comunista
por taboola
Links promovidos
No Brasil é imoral
É preciso urgentemente
Marighella desejava
Um Brasil equilibrado
O delegado Fleury
Assassinou Marighella
Na vigência da tortura
Defendia cegamente
Um real socialismo
O Brasil o reverencia
A memória de um guerreiro
Também na democracia
De um Carlos Marighella
Desigual e de favela
Introdução
Este texto é resultado do grupo de estudos Concreto Pensado, do
coletivo Bacamarte, do qual fazemos parte. Nossos estudos têm
perpassado temas como a indústria cultural, correlações ente marxismo
e arte, análises de conjuntura, discussões sobre a questão da mulher na
pandemia e diversos outros temas, todos sob a orientação do
materialismo histórico-dialético como método.
Somos um coletivo de artistas independentes que vêm buscando aliar a
teoria à prática como forma privilegiada de compreender e superar
determinados limites impostos pela sociedade hodierna. As lives que
fizemos estão disponíveis no canal da Bacamarte Produções
no YouTube e agora pensamos em registrar em formato de texto o
debate sobre a questão do identitarismo, transmitido em
videoconferência no dia 25 de outubro de 2020 (NASCIMENTO;
CHALHOUB, 2020). Há também uma análise, baseada neste artigo,
disponível no canal da 202 filmes (MOURA, 2020).
O livro escolhido como referência foi “Armadilha da Identidade: raça e
classe nos dias de hoje”, de Asad Haider, prefaciado pelo professor Silvio
Almeida. Como leitura complementar há diversos outros autores que
também nos serviram como base e nos ajudaram a melhor descortinar
esse tema tão complexo. Ao longo do texto buscaremos destacar alguns
pontos importantes colocados por esses outros referenciais também.
Identitarismo versus Marxismo
Recentemente temos visto principalmente na internet – assim como
também nas relações sociais concretas – diversas polêmicas que
envolvem os chamados setores identitários com o restante da sociedade
de espectros políticos mais amplos. Isso naturalmente tem gerado
enormes desgastes sociais desde as relações interpessoais às
organizações e demais setores da sociedade, como o próprio Estado
burguês. Essas polêmicas são carregadas de termos como lugar de
fala, apropriação cultural, cancelamento, lacração, pós-
moderno, opressão, privilégio, gênero, raça etc. Tudo isso faz parte das
lutas sociais que decorrem de uma contradição da ordem estrutural,
ainda que raras vezes esteja presente nessas polêmicas conceitos
como luta de classes, contradição, História e capitalismo. Há também
termos como inclusão, representatividade e empoderamento,
mas revolução e superação ou emancipação humana também pouco se
vê. Liberalismo também está presente, pois é a via escolhida por estes
setores de uma forma geral. Certamente há segmentos que partem de
uma leitura materialista e revolucionária, mas são veementemente
combatidos, quase sempre por correntes de caráter pós-moderno ou pela
extrema direita. Uma das armas preferidas dos setores identitários é
combater o materialismo histórico-dialético, resultando na criminalização
direta do comunismo e de qualquer luta que se pretenda emancipatória
do ponto de vista social, pois tal esforço requer enfrentar diretamente o
socio-metabolismo do capital.
Nesses termos o identitarismo funciona como uma espécie de moeda de
troca com o próprio sistema capitalista e sua máquina burocrática e
repressiva – o Estado – sobretudo quando reivindica inclusão no lugar do
rompimento definitivo, deixando de lado, portanto, a perspectiva
anticapitalista. Segundo Haider (2019, p. 38):
“O que torna um movimento anticapitalista não é necessariamente o
tema de mobilização. O mais importante é saber se ele é capaz de atrair
um amplo espectro de massas e de possibilitar sua auto-organização,
buscando construir uma sociedade na qual as pessoas se governam e
controlam suas próprias vidas. Possibilidade essa que é
fundamentalmente impedida pelo capitalismo.”
Por isso, conclui Haider que “essa experiência me mostrou que a política
identitária é, ao contrário, uma parte integral da ideologia dominante. Ela
torna a oposição impossível.” (HAIDER, 2019, p. 68).
E continuam:
Haider (2019, p. 31) afirma que “para o CCR, a prática política feminista
significava, por exemplo, participar dos piquetes durante greves na
construção civil durante os anos 70.” Portanto, ao longo da década de
60, o partido dos Panteras Negras, continua Haider (2019):
Uma pista então para identificar essas novas marginalidades talvez seja
justamente a rejeição das estéticas ou temas progressistas, que
substituem a emancipação coletiva pelo festivo domínio da marginalidade
como glamourização, portanto, entretenimento confortador. Trata-se de
lógica notoriamente inserida no campo da competição, haja vista sua
predisposição para produzir mercadorias – enquanto produtos culturais
resultantes da expressão artística – cujo capital simbólico reitere a
centralidade da identidade per se. Aqueles que forem capazes de melhor
expressar as expectativas sobre determinada identidade, serão aqueles
que obterão maior retorno financeiro e de reconhecimento social para
suas obras, inserindo-se com sucesso no mercado da indústria cultural.
A produção cultural baseada nessas premissas certamente produz
capital simbólico – no âmbito das abstrações – e novas elites na classe
artística – do ponto de vista das relações sociais. É sobre esse processo
de estratificação – que não se restringe à classe artística, mas à toda
classe trabalhadora – que abordaremos a seguir.
Identidade enquanto estratificação social: a visão weberiana
Subjacente às relações entre os detentores dos meios de produção e o
proletariado, anteriormente explicitadas, aplica-se a análise baseada na
estratificação econômica em relação a capacidade aquisitiva proposta
por Weber (apud LEMOS, 2012). Desse modo, se constituem “classes”
weberianas de acordo com a capacidade de consumo de determinados
grupos, como acontece com o denominado “Pink Money” em relação a
população LGBTI e, mais recentemente, o “Black Money”, relacionado à
população de pessoas autodeclaradas negras. De fato, as duas
abordagens – marxista e weberiana – se entrecruzam neste caso. Assim,
a classe dominante utiliza a subdivisão da classe trabalhadora em nichos
de mercado diferentes como mais um elemento desagregador das
pautas comuns – interesses semelhantes de grupos oprimidos distintos –
em interesses de consumo diversificados. E estimula a constituição
dessas diferenças através da diversificação cada vez maior de
mercadorias, cuja ampliação de escopo as potencializa ainda mais à
medida que se amplia seu consumo.
Note-se que, ao abordar a perspectiva marxista na seção anterior, o
tema central era a exploração por parte das classes dominantes –
enquanto empresariado dono dos meios de comunicação – na
identificação e posterior estímulo ao consumo de mercadorias que
atendam a esses nichos. Já na perspectiva weberiana, analisamos o
fenômeno que se dá a partir desse primeiro movimento: a constituição de
classes de consumo que competem entre si por satisfação de interesses
particulares na busca por ampliar seu poder de dominação econômica,
social e política, pois quanto maior a posse de bens e a amplitude de
consumo de serviços relacionados a um determinado nicho, mais se
aprofunda o processo de identificação amparado pelas relações sociais
mediadas pelas mercadorias consumidas (consequentemente aumenta
também o poder de influir nas decisões de compra de seus pares).
Social, pois o consumo ampliado de mercadorias que associem o
consumidor à identidade que ele deseja projetar, tende a aumentar
seu status naquela comunidade identitária (fora do âmbito econômico
estrito, quanto maior a produção intelectual relacionada àquela
identidade, maior será a relevância social do indivíduo que a veicule).
Política, no âmbito institucional principalmente, à medida que é capaz de
mobilizar a constituição de subjetividades jurídicas – na esfera pública –
e contratuais – na esfera privada – que garantam direitos a uma
determinada minoria política ou nicho de mercado, respectivamente (aqui
entendidos ambos como grupos identitários).
Assim, em complementação à abordagem econômica, já demonstrada,
as demandas político-institucionais – a influência nas decisões
políticas através das relações de dominação – e socioculturais – o
status ou prestígio relacionado ao acúmulo de bens simbólicos – também
ganham relevância na análise da dinâmica do identitarismo.
Com relação aos aspectos socioculturais, é possível relembrar um
episódio histórico, já mencionado no início deste artigo, que esperamos
ser suficiente para evidenciar como se dão essas relações sociais na
constituição de um fetichismo baseado na lógica de mercado em última
instância. Relembramos, então, o próprio Asad Haider (2019), quando
menciona o movimento do “nacionalismo reacionário”, no qual a elite, por
meio da mobilização de um capital simbólico derivado das lutas raciais,
desvia-se de questões concretas que atingem a totalidade da classe
trabalhadora: tanto negra enquanto minoria política, quanto a de outras
etnias. No mesmo sentido, é possível citar a solidariedade racial entre
elites brancas que se constitui como fonte de manutenção de prestígio
enquanto acúmulo de bens simbólicos: seja na produção intelectual, seja
na definição da etiqueta vigente ou do que consideram como referência
estética aceitável.
Já no que diz respeito aos aspectos político-institucionais, dois exemplos
bastante atuais – demandas por políticas públicas compensatórias em
detrimento das construtivas (MULLER, 2018) e eleições no sistema
representativo social-democrata – os quais são descritos brevemente a
seguir – poderão ser capazes de demonstrar como a dinâmica identitária
pode se constituir como uma armadilha nesse campo.
O populismo autoritário e a
cultura do cancelamento
Destacamos aqui, entre os exemplos de armadilhas da identidade, o
fenômeno denominado “populismo autoritário”, cunhado por Stuart Hall,
que é citado no artigo de Achille Mbembe (2016), “A era do humanismo
está terminando”. O autor (MBEMBE, 2017, online) denomina o mesmo
fenômeno de “autoritarismo liberal”:
O principal choque da primeira metade do século XXI […] será entre
a democracia liberal e o capitalismo neoliberal […]. Apoiado pelo
poder tecnológico e militar, o capital financeiro conseguiu sua
hegemonia sobre o mundo mediante a anexação do núcleo dos
desejos humanos e, no processo, transformando-se ele mesmo
na primeira teologia secular global. Combinando os atributos de uma
tecnologia e uma religião, ela se baseava em dogmas inquestionáveis
que as formas modernas de capitalismo compartilharam
relutantemente com a democracia desde o período do pós-guerra –
a liberdade individual, a competição no mercado e a regra da mercadoria
e da propriedade, o culto à ciência, à tecnologia e à razão. Cada um
destes artigos de fé está sob ameaça. Em seu núcleo, a democracia
liberal não é compatível com a lógica interna do capitalismo
financeiro. É provável que o choque entre estas duas ideias e princípios
seja o acontecimento mais significativo da paisagem política da primeira
metade do século XXI, uma paisagem formada menos pela regra da
razão do que pela liberação geral de paixões, emoções e afetos.
(grifos nossos)
Assim, nos interessa destacar o que diz respeito à “liberação geral de
paixões, emoções e afetos” mencionada por Mbembe (2017, online),
como uma das armadilhas da identidade pela ênfase que dá ao viés
exclusivamente subjetivo enquanto modo de interpretação da realidade.
Por mais válido e legítimo individualmente que seja reconhecer traumas,
visões de mundo, impressões e percepções – compartilhando-as para
buscar sua superação através das trocas afetivas – constituir identidades
coletivas apenas a partir dessas percepções fracionadas embota a visão
objetiva, necessária a uma articulação social ampla. Impede-se, assim, a
organização a partir de pautas políticas comuns: coletivas enquanto
conjunto de ações propositivas universais, não de alinhamento
comportamental e personalista. Enquanto isso, detentores dos meios de
produção utilizam esses dados objetivos para ampliarem sua dominação
no sentido de definirem os critérios pelos quais as relações entre
pessoas se darão, substituindo de forma cada vez mais profunda o papel
do Estado e as próprias relações sociais concretas (grifos nossos):
“Em vez de pessoas com corpo, história e carne, inferências estatísticas
serão tudo o que conta. As estatísticas e outros dados importantes serão
derivados principalmente da computação. Como resultado da confusão
de conhecimento, tecnologia e mercados, o desprezo se estenderá a
qualquer pessoa que não tiver nada para vender. A noção humanística e
iluminista do sujeito racional capaz de deliberação e escolha será
substituída pela do consumidor conscientemente deliberante e eleitor. Já
em construção, um novo tipo de vontade humana triunfará. Este não
será o indivíduo liberal que, não faz muito tempo, acreditamos que
poderia ser o tema da democracia. O novo ser humano será
constituído através e dentro das tecnologias digitais e dos meios
computacionais.” (MBEMBE, 2017, online)
Considerando que Mbembe escreveu este artigo em 2016, quando ainda
não estávamos no contexto da pandemia de COVID-19, tendemos a
acreditar que sua análise de conjuntura tome contornos ainda mais
graves, à medida que constatamos a intensificação das relações digitais.
Nesse sentido, outra armadilha que a identidade traz é a individualização
das pautas políticas que acabam por convergir no compartilhamento e
circulação de sentimentos em comum, especialmente nas redes. Não é
de se admirar que, num contexto de opressão que se dá constante e
consistentemente, o ódio e o ressentimento se tornem um dos elementos
emocionais em torno dos quais se constituem a forma de manutenção
dessas identidades coletivas. Como coloca Mbembe (2017, online):
A era computacional – a era do Facebook, Instagram, Twitter – é
dominada pela ideia de que há quadros negros limpos no
inconsciente. As formas dos novos meios não só levantaram a tampa
que as eras culturais anteriores colocaram sobre o inconsciente,
mas se converteram nas novas infraestruturas do inconsciente.
Ontem, a sociabilidade humana consistia em manter os limites sobre o
inconsciente. Pois produzir o social significava exercer vigilância sobre
nós mesmos, ou delegar a autoridades específicas o direito de fazer
cumprir tal vigilância. A isto se chamava de repressão. A principal função
da repressão era estabelecer as condições para a sublimação. Nem
todos os desejos podem ser realizados. Nem tudo pode ser dito ou
feito. A capacidade de limitar-se a si mesmo era a essência da
própria liberdade e da liberdade de todos. Em parte, graças às formas
dos novos meios e à era pós-repressiva que desencadearam, o
inconsciente pode agora vagar livremente. A sublimação já não é mais
necessária. A linguagem se deslocou. O conteúdo está na forma e a
forma está além, ou excedendo o conteúdo. Agora somos levados a
acreditar que a mediação já não é necessária. Isso explica a crescente
posição anti-humanista que agora anda de mãos dadas com um
desprezo geral pela democracia. […] No entanto, sob as condições do
capitalismo neoliberal, a política se converterá em uma guerra mal
sublimada. (grifos nossos)
Assim como Amazon, Netflix e Apple utilizam a estratégia de estimular o
consumo baseado em nichos mercadológicos, as redes
sociais, Facebook, Instagram, Twitter e WhatsApp promovem a criação
de bolhas estanques, baseadas em preferências políticas, entre outras
impossíveis de serem definidas, haja vista o hermetismo do
funcionamento dos algoritmos que as regem. O fato é que surgem
fenômenos como a instrumentação da linguagem: apagando a
polissemia de palavras e expressões, que passam a ser censuradas
indiscriminadamente, desconsiderando seu contexto e semiótica.
Também a repetição sistemática de temas específicos, baseado nas
preferencias e comportamento virtual dos usuários, dificulta sua
autonomia na interlocução com pontos de vista diferentes. Em redes
sociais com as mencionadas, a lógica de mercado, assim como a lógica
de segregação, já está posta pelos próprios algoritmos à medida que
estabelecem critérios de interação e seleção de conteúdo. Já
mencionamos também a questão do estímulo ao consumo segmentado,
baseado em preferências a partir da coleta de dados provenientes do
que os usuários escrevem, do que curtem e mesmo do que falam em voz
alta. Geram-se assim dados que são vendidos para outras empresas
anunciantes ou mesmo governos que desejem influenciar resultados
eleitorais, como já é de conhecimento geral. Achille Mbembe continua
(2017, online):
O capitalismo neoliberal deixou em sua esteira uma multidão de sujeitos
destruídos, muitos dos quais estão profundamente convencidos de que
seu futuro imediato será uma exposição contínua à violência e à ameaça
existencial. […] Neste contexto, os empreendedores políticos de maior
sucesso serão aqueles que falarem de maneira convincente aos
perdedores, aos homens e mulheres destruídos pela globalização e
pelas suas identidades arruinadas. […] Em um mundo centrado na
objetivação de todos e de todo ser vivo em nome do lucro, a eliminação
da política pelo capital é a ameaça real. A transformação da política em
negócio coloca o risco da eliminação da própria possibilidade da política.
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Disponível em <https://www.youtube.com/bacamarteproducoes>. Último
acesso em 07 nov 2020.
Longe de ser uma simples subdivisão do material sob análise
[Grundisse], a distinção entre “capital em geral” e “pluralidade de
capitais” constituía uma abordagem metodológica que refletia uma visão
específica da estrutura da sociedade burguesa. Sua originalidade pode
ser vista quando a comparamos com as análises econômicas de Marx
nos anos de 1840. Estas se direcionavam, principalmente, aos
movimentos do mercado, e nelas Marx considerava a concorrência como
o mecanismo crucial de explicação de um espectro muito diverso de
fenômenos. Por isso, em Trabalho Assalariado e Capital, Marx atribuía à
concorrência tanto o movimento dos salários quanto o desenvolvimento
das forças produtivas (Marx, 1849). Os Cadernos sobre David Ricardo,
de 1851, indicavam outra posição na qual Marx distinguia “o processo
real” de sua “lei” (Marx, 1850, p. 362). Os Grundisse marcaram uma
compreensão inteiramente nova sobre a concorrência. Marx escreve:
“Concorrência em geral, esta força locomotiva essencial da economia
burguesa, não estabelece suas leis [da economia burguesa], mas é sua
executora [executor]. Portanto, a concorrência desmedida não é um
pressuposto para a validade das leis econômicas, mas sim uma
consequência delas – a forma de manifestação na qual sua necessidade
[das leis econômicas] é externalizada” (Marx, 1857, Vol. 28, p. 475).
Ricardo simplesmente presume a concorrência desmedida para
compreender as leis do capital: a concorrência servia tão-somente como
uma hipótese teórica, “não como… desenvolvimento do capital, mas
como um pressuposto imaginário do capital” (Marx, 1857, Vol. 28, p.
480). De modo contrário, Marx estabeleceu a concorrência como forma
de manifestação das leis do capital. Ao realizar a crítica dessa
pressuposição, Marx encontrou o cerne da filosofia moral liberal-
burguesa e da economia política, formulado de modo clássico pela
“Fábula das Abelhas” de Mandeville e pela “Mão Invisível” de Adam
Smith: notadamente, que a irrestrita busca por interesses individuais
privados produzirá, no final das contas, o interesse geral. Logo no início
dos Grundisse, Marx escreve
“A questão é que o próprio interesse privado já é um interesse
socialmente determinado… É o interesse de pessoas privadas; mas, seu
conteúdo, assim como sua forma e meios de realização, são
determinados por condições sociais independentes deles” (Marx, 1857,
p. 94).
O interesse geral burguês não é o resultado da busca por interesses
privados, mas está presente, na verdade, no próprio ato desta busca, na
medida em que já determina tais interesses privados. Isto implica o
seguinte para a concorrência:
“Conceitualmente, a concorrência não é nada mais que a natureza
interna do capital, sua qualidade essencial, manifestada e percebida
como a ação recíproca de diversos capitais sobre si; tendência imanente
realizada como necessidade exterior” (Marx, 1857, Vol. 28, p. 341)
Para Marx, a percepção de que as leis da natureza interna do capital são
tão-somente externalizadas no movimento real dos capitais individuais
significou uma ruptura qualitativa em relação às suas análises anteriores
baseadas nas atividades do mercado. Seu problema principal tornou-se,
a partir de então, encontrar as categorias que o permitissem formular
adequadamente, na estrutura da sociedade burguesa, este insight. A
distinção entre “capital em geral” e “pluralidade de capitais” não resume
esse novo entendimento, tão fundamental para a crítica da economia
política; [essa distinção entre “capital em geral” e “pluralidade de
capitais”] foi simplesmente uma primeira tentativa de abordar esse novo
entendimento.
Embora esta distinção [entre “capital em geral” e “pluralidade de
capitais”] tenha aparecido de forma ampla nas discussões travadas nas
décadas de 1960 e 1970, nenhuma análise precisa desses conceitos
jamais foi realizada. Rosdolsky, por exemplo, definiu o conteúdo do
“capital em geral”, com base numa passagem dos Grundisse, como a
totalidade das características comuns a todos os capitais individuais
(Rosdolsky, 2001, p. 52). Para Rosdolsky, [essa característica comum]
era a valorização. Explicar a produção do mais-valor requer, inicialmente,
uma análise do imediato processo de produção, e, em seguida, do
processo de circulação, como um complemento necessário do processo
de produção. Contudo, a introdução do processo de circulação faz
parecer que o mais-valor é determinado pelo tempo de circulação e não,
exclusivamente, pelo mais-trabalho apropriado no imediato processo de
produção. Quando medido em face do capital total adiantado, o mais-
valor assume a forma transformada do lucro – com o qual Rosdolsky
encerra a seção sobre “capital em geral”. Não foi possível apresentar o
estabelecimento de uma taxa geral de lucro uma vez que esta pressupõe
a concorrência, ponto de partida a partir do qual a abstração teve de ser
realizada (Rosdolsky, 2001, p. 55). A compreensão de Rosdolsky do
“capital em geral” como conceito genérico que abarca todas as
características comuns dos diversos capitais não se sustenta. Isto porque
a taxa média de lucro também é uma característica comum a todos os
capitais, porém, de acordo com Rosdolsky, deve ser excluída da
exposição [do “capital em geral”]. Ademais, a definição, realizada por
Rosdolsky, do conteúdo do “capital em geral”, não está de acordo com a
seção planejada por Marx. Como mostram os rascunhos dos inúmeros
planos – planos, acrescente-se, publicados pelo próprio Rosdolsky -,
Marx não pretendia encerrar o “capital em geral” com “lucro”, mas com
“juros”[4].
Nos Grundisse, Marx inicialmente utiliza o conceito de “capital em geral”
na análise do processo de produção. Após avaliar os conceitos de capital
usados pelos economistas burgueses, ele [Marx] resume sua própria
abordagem da seguinte maneira:
“Capital, na forma que o consideramos até aqui, como uma relação de
valor e dinheiro, a qual deve ser distinguida, é capital em geral, isto é, a
quintessência das características que distinguem o valor como capital do
valor como simples valor ou como dinheiro” (Marx, 1857, Vol. 28, p. 236).
Isto é, “capital em geral” deveria abarcar aquelas características que
devem ser acrescentadas ao valor a fim de que este se torne capital: são
características que, como Marx escreveu, “transformam o valor em
capital” e que, por essa razão, também se tornam características de cada
capital individual. Contudo, a exposição do “capital em geral” não apenas
abstrai a existência de uma pluralidade de capitais, mas também exclui o
capital individual, considerado isoladamente:
“Entretanto, nós ainda não estamos preocupados nem com uma
forma particular de capital, tampouco com um capital individual distinto
de outros capitais individuais etc. Estamos diante do seu [do capital]
processo de devir. Esse processo dialético de devir é apenas a
expressão ideal do movimento real através do qual o capital vem a ser”
(Marx, 1857, Vol. 28, p. 229).
“Capital em geral” não deve ser compreendido como o conceito de um
objeto real, como um capital individual: não há correlação empírica direta.
O “processo dialético do seu devir”, observado no [conceito de] “capital
em geral”, é a reprodução no pensamento da natureza interna do capital:
as características que transformam o valor em capital devem ser
entendidas e compreendidas neste âmbito[5].
Marx não partiu do capital individual, como ele aparece (como lucro e
juros) e como ele existe na concorrência. Ele pretendia começar através
da elaboração das características do capital com base na lei do valor em
geral. Portanto, ele precisava mostrar como era possível a produção de
mais-valor com base na troca de equivalentes e como o mais-valor, ao
final, transformava-se nas formas lucro e juros, conforme estas [formas]
aparecem na superfície da sociedade burguesa. Como o capital não
havia sido exposto nas formas em que aparece na concorrência, Marx foi
levado a abstrair a concorrência durante este processo de
desenvolvimento conceitual. É de crucial importância, aqui,
[compreender] aquilo que Marx inclui sob [a noção de] “concorrência”:
não apenas o movimento real dos capitais individuais, mas também
qualquer relação que envolva capitais distintos, independentemente do
nível de abstração. Numa passagem dos Grundisse (após Marx ter
acabado de expor os problemas do processo de circulação), ele observa,
com firmeza:
“Tendo em vista que nós estamos lidando aqui com capital como tal,
capital no processo de formação – a pluralidade dos capitais não existe
ainda para nós – tudo que temos fora do capital não é nada além do
próprio capital…” (Marx, 1857, vol. 29, p. 115).
A exposição das características do “capital em geral” abstraindo a
concorrência implicava uma restrição considerável do conteúdo do
“capital em geral”, dado o amplo conhecimento de Marx sobre
concorrência. Por outro lado, como se tem normalmente negligenciado,
há um conteúdo específico pré-determinado que deve ser exposto. O
capital tem de ser conceituado, ao final, dentro da seção sobre “capital
em geral”, incluindo todas as características que se manifestam na
concorrência. Isto porque,
“Na realidade, aquilo que é inerente à natureza do capital é
externalizado, como uma necessidade exterior, tão-somente através da
concorrência, a qual não passa da imposição, pelos distintos capitais, um
sobre o outro e sobre si mesmos, das determinações imanentes ao
capital” (Marx, 1857, Vol. 29, p. 39).
Portanto, Marx pretendia que a seção sobre “capital em geral” atingisse
dois objetivos. De um lado, o conteúdo do “capital em geral” devia ser
exposto em um nível específico de abstração – notadamente, abstração
da concorrência (a qual incluía tanto o movimento real quanto todas as
relações entre capitais distintos). Por outro lado, este conteúdo precisava
também ter um alcance específico, notadamente aquelas características
visíveis na concorrência.
O atendimento simultâneo de ambos os objetivos evidenciou o problema
fundamental de toda essa abordagem [distinção entre “capital em geral”
e “pluralidade de capitais”].
A dissolução do “capital em geral” nos Manuscritos Econômicos de
1861-1863
Embora Marx tivesse planejado sua “Economia” por muito tempo, ele não
tinha nenhum plano detalhado em mente quando começou a escrevê-la
em 1857, como se evidencia da estrutura crua presente na “Introdução”
aos Grundisse (Marx, 1857, Vol. 28, p. 45). Rascunhos de planos
somente puderam surgir durante o curso de sua escrita, como resultado
do desenvolvimento da sua compreensão da estrutura da sociedade
burguesa. Ao terminar os Grundisse, Marx pretendia que sua obra
econômica consistisse em seis livros: capital, propriedade fundiária,
trabalho assalariado, Estado, comércio exterior e mercado mundial. Os
três primeiros livros deveriam estabelecer “as condições econômicas de
existência das três grandes classes nas quais está dividia a moderna
sociedade burguesa” (Marx, 1859, p. 261). No que se refere ao livro
sobre o capital, estavam previstas as seguintes seções: a) capital em
geral, b) concorrência, c) sistema de crédito, d) capital dividido em ações
(Letter, Marx to Engels, 2 April 1858, Selected Correspondence, p. 97).
A seção sobre “capital em geral” deveria abranger: 1. valor, 2. dinheiro, 3.
capital em geral (cf. Letter, 11 March 1857, MEW 29, p. 554).
A Contribuição à crítica da economia política (1859), Primeiro Livro, a
primeira e única edição da obra planejada, tratou dos dois primeiros
pontos [valor e dinheiro]. Em 1861, Marx iniciou a escrita do terceiro
ponto, o capítulo sobre “capital em geral” (tanto a primeira seção quanto
seu terceiro capítulo têm o mesmo nome). Contudo, logo o texto
transformou-se em um manuscrito preparatório, repleto de digressões e
antecipações de temas posteriores. Foi durante o curso deste manuscrito
que Marx desistiu de publicar uma continuação direta da Contribuição de
1859 e decidiu elaborar uma nova obra com o título de O Capital (Letter,
18 December 1862, MEW 30, p. 639). (Eu pretendo analisar a relação
entre os três volumes de O Capital e o plano original [de seis livros] na
seção final abaixo). Os Manuscritos de 1861-1863 revelam as
dificuldades de Marx em expor [o conceito de] “capital em geral” e
mostram como essa abordagem foi abandonada ao final.
As primeiras dificuldades já estavam evidentes nos Grundisse. Durante a
exposição do processo de circulação do capital, Marx deparou-se com o
problema de que tanto os elementos materiais do capital quanto os
meios de subsistência precisavam ser reproduzidos, além [do problema
de] que tal reprodução simultânea só poderia ser exposta ao se
considerar a relação entre diferentes capitais. Ou seja, as características
imanentes do processo de circulação necessitam da exposição de
diferentes capitais. No entanto, [esta exposição] não seria possível em
virtude do nível de abstração pretendido para o [conceito de] “capital em
geral”. Nesse ponto, Marx não podia fazer nada além de oferecer a
garantia [assurance]:
“Aqui, de qualquer modo, nós podemos tratar de um único capital em
ação, uma vez que estamos considerando o capital como tal” (Marx,
1857, Vol. 29, p. 111).
Outro problema surge com a lei da queda tendencial da taxa de lucro. Se
há uma lei geral, então esta deve ser exposta antes da concorrência: isto
é, na seção sobre “capital em geral”. Por outro lado, para Marx estava
nítido que a queda era da taxa média de lucro (Marx, 1857, Vol. 29, p.
132-3). Contudo, a taxa média de lucro não poderia ser tratada até a
seção sobre concorrência, [isto é,] após a lei de sua queda. E, por fim, a
incerteza de Marx [quanto à utilização do conceito de “capital em geral”]
também se evidencia na observação de que “‘capital em geral’ não era
simplesmente uma abstração, mas também tinha uma existência real”, a
qual havia sido reconhecida pelos economistas burgueses em sua
“doctrine of evening up” (Marx, 1857, Vol. 28, p. 378). Entretanto, Marx
nunca especificou o que ele entendia por esta existência real; na
verdade, ele usou essa expressão apenas uma vez [6].
Os Manuscritos de 1861-1863 revelam alterações na abordagem
[metodológica de Marx], em relação aos Grundisse, as quais resultam de
um estágio mais avançado de análise. Por exemplo, Marx trata, pela
primeira vez de forma sistemática, do desenvolvimento das forças
produtivas como um método de produção de mais-valor relativo. A seção
sobre o processo de produção do capital também abarca temas que
os Grundisse haviam destinado ao Livro sobre Trabalho Assalariado,
como a duração da jornada de trabalho (Marx, 1861-63; p. 158ff) e o
trabalho de mulheres e de crianças (ibid. p. 303ff). Esta incorporação de
maneira alguma foi arbitrária, tendo decorrido do reconhecimento de que
estes [temas] eram tendências imanentes ao capital. [Essa incorporação]
remete, também, ao posterior abandono de tratar separadamente, em
três volumes, as condições de existência das três classes principais
[trabalhadores assalariados, capitalistas e proprietários fundiários]. De
maneira interessante, Marx agora propõe-se a incorporar a acumulação
na exposição do processo de produção. Esta [a acumulação] havia sido
excluída dos Grundisse em virtude de requerer a consideração da
pluralidade de capitais (Marx, 1857, vol. 28, 245f). Enquanto,
nos Grundisse, Marx compreendia a acumulação, transformação de lucro
em capital, como um processo de um capital individual, os Manuscritos
de 1861-1863 incluíram a transformação de mais-valor em capital.
Embora tais alterações pudessem facilmente ser abarcadas no conceito
de “capital em geral”, houve alterações que o superaram [o conceito de
“capital em geral”], como a exposição da reprodução e da circulação do
capital social total e da taxa média de lucro.
Marx foi impelido a analisar o capital social total em sua crítica do
“Smith’s dogma”. Adam Smith havia sustentado que o valor total de uma
mercadoria se resolve [resolves itself] em salários e lucro (incluindo a
renda [rent]), assim como a parte do capital constante que participa do
valor da mercadoria poderia também se resolver em salários e lucro
[could also be resolved into wages and profit]. Isto levou à compreensão
por Adam Smith de que o valor total anual das mercadorias se resolvia
[resolved itself] em salários e lucro. Em contraste, Marx acreditava que a
parte constante do capital não poderia ser tratada dessa maneira.
Contudo, [esta crítica] o conduziu ao problema de
“como é possível que os lucros e os salários anuais comprem o
fornecimento anual de mercadorias, as quais, além do lucro e dos
salários, também contêm capital constante (Marx, 1861-61, p. 398,
translated in Theories of Surplus Value, Part 1, p. 107).
Marx, por fim, resolveu este problema através da distinção entre dois
âmbitos [departments] do capital social total – um que produz os meios
de produção e outro que produz os meios de consumo – e do
intercâmbio [exchange] entre esses dois âmbitos. Uma série de
passagens (Marx, 1861-63, p. 402, 436) mostra que Marx pretendia
expor este ponto dentro do processo de circulação do capital – isto é, na
seção sobre “capital em geral”. Contudo, isto marcaria um abandono do
nível de abstração que ele indicara anteriormente: não apenas a
categoria capital social total não se encaixava adequadamente à
distinção entre “capital em geral” e concorrência, como também não fora
sistematicamente desenvolvida nos Grundisse. Os vários âmbitos do
capital social total também eram “formas particulares” de capital e, assim,
estavam expressamente excluídos da exposição do “capital em geral” (cf.
the quote above from Marx, 1857, vol. 28, p. 236).
Marx tratou do problema sobre se a renda [rent] absoluta é conciliável
com a lei do valor, numa digressão sobre a taxa média de lucro, e
observou:
“concorrência entre capitais procura, assim, tratar cada capital como uma
parte do capital agregado e, por conseguinte, [procura] regular sua
participação [de cada capital] no mais-valor e, consequentemente, no
lucro (Marx, 1861-63, p. 685, translated in Theories of Surplus Value,
Part 2, p. 29).
Posteriormente, Marx torna sua exposição mais precisa ao distinguir o
duplo movimento da concorrência: na mesma esfera de produção, a
concorrência conduz ao estabelecimento do valor de mercado unitário
[unitary market-value], e entre esferas de produção, a concorrência nivela
os valores [evens the values up] como “preços médios” (os quais Marx
inicialmente denominou “preços de produção” em O Capital), o que
viabilizava o estabelecimento de uma taxa média de lucro (Marx, 1861-
63, p. 777, 851ff). Marx pôde, então, explicar a possibilidade da renda
absoluta com base na lei do valor: se o valor dos produtos da terra está
acima dos preços médios, ainda assim eles são comercializados no seu
valor (tendo em vista que não participam no processo de compensação
[equalisation] que estabelece a taxa média de lucro), produzindo um
lucro excedente em relação à taxa média de lucro, o qual o proprietário
fundiário apropria como renda (absoluta) (Marx, 1861-63, p. 692). Marx,
então, decidiu incorporar tanto o processo de compensação
[equalisation] que ocorre na taxa média de lucro quanto a renda absoluta
(na verdade, como um exemplo deste processo) na seção sobre “capital
em geral” (Marx, 1861-63, p. 907 and letter to Engels, 2 August
1862, Selected Correspondence, p. 120). Embora Marx não ofereça
uma justificação explícita, há uma referência subsequente no excurso
sobre “Rendimento [Revenue] e suas fontes”. Nele, Marx mantém sua
posição de que juros, que deveria concluir a exposição sobre “capital em
geral” conforme os Grundisse, pressupõem lucro e, na verdade, a taxa
média de lucro (Marx, 1861-63, p. 1461).
A seção “Capital e Lucro”, uma das seções mais importantes dos
Manuscritos de 1861-1863, demonstra as dificuldades que Marx teve
para expor a taxa média de lucro (e, portanto, também parte da
“concorrência”) dentro do “capital em geral”. Embora quisesse tratar da
taxa média de lucro, Marx pretendia retomar a “relação da concorrência”
tão-somente como um “exemplo” (Marx, 1861-63, p. 1605). E, pouco
depois, lemos, com certa reserva:
“Uma investigação mais profunda deste ponto pertence ao capítulo sobre
concorrência. Não obstante, as considerações gerais e decisivas devem
ser acrescentadas aqui” (Marx, 1861-63, p. 1623).
Marx resume o que seriam essas “considerações gerais e decisivas” nos
seguintes termos:
“Na verdade, a questão pode ser explicitada da seguinte maneira: lucro –
como primeira transformação do mais-valor – e a taxa de lucro nessa
primeira transformação, expressa mais-valor em proporção ao capital
individual do qual é produto…
Lucro médio ou empírico [Empirical or average profit] expressa a mesma
transformação, o mesmo processo, mas em relação ao montante total de
mais-valor, e, por conseguinte, ao mais-valor apropriado por toda a
classe capitalista… A segunda transformação é um resultado necessário
da primeira, a qual decorre da natureza do próprio capital” (Marx, 1861-
63, p. 1629)
Marx pretendia, aqui, expor a relação entre mais-valor e o capital total,
tanto como processo de um capital individual quanto como processo do
capital social total. Ele tenta manter a distinção entre “capital em geral” e
“concorrência” enfatizando a concorrência como mero “agente” [“agency”]
através do qual a taxa média de lucro é determinada (Marx, 1861-63, p.
1628).
Não obstante, “capital em geral” já está em questionamento, não apenas
pelo fato de que os lucros médios – os quais Marx agora reconhece
como pertencente à natureza do capital – pressupõem uma análise da
concorrência; mas também porque não pode ser conciliado com a
distinção entre capital individual e capital social total. A categoria “capital
em geral” começa a se dissolver. Não é mais simplesmente a
“quintessência das características que distinguem o valor como capital do
valor e do dinheiro” (Marx, 1857, vol. 28, p. 236) e, portanto, também não
é capital individual. Embora Marx não explicite este problema,
aparentemente ele tinha consciência das deficiências de sua análise. Por
isso, ele escreve, no ponto seguinte, tratando da lei da queda tendencial
da taxa de lucro:
“Assim, portanto, mais uma vez estamos em terreno firme, onde, sem
entrar na concorrência entre capitais, podemos derivar a lei geral
diretamente da natureza geral do capital, tal como desenvolvida até
agora” (Marx, 1861-63, p. 1632).
Mesmo após a decisão de Marx de não publicar seu manuscrito como
uma continuação da Contribuição de 1859, mas sim como uma nova
obra, O Capital, ele manteve a distinção entre “capital em geral” e
“concorrência”, como demonstra sua carta a Kugelman, de 28 de
dezembro de 1862. Em janeiro de 1863, Marx rascunhou novos planos
para as seções sobre “O Processo de Produção” e sobre “Capital e
Lucro”, nos quais estabeleceu as mudanças descritas [acima] e a
exposição da taxa média de lucro (Marx, 1861-63, pp. 1816ff and 1861ff).
Os editores da MEGA interpretaram esse ato da seguinte maneira:
“O trabalho intensivo de Marx na elaboração deste manuscrito culminou
em um novo plano, estruturado em janeiro de 1863, no Caderno XVIII.
Este novo plano marcou a definição da estrutura do que deveria ser O
Capital. A inclusão da teoria do lucro médio na exposição assinalou o
abandono da distinção, anteriormente pretendida, entre capital em geral
e concorrência, e a expressão ‘capital em geral’ não foi mais usada,
posteriormente, por Marx” (MEGA, Part II, Vol. 3.1, Introduction, p. 12).
No entanto, isto não está correto. Embora as alterações feitas no novo
plano ponham em questionamento a antiga concepção de “capital em
geral”, Marx não reconheceu isso e tentou manter sua abordagem
anterior. Por exemplo, não apenas sua carta a Kugelmann, escrita
poucos dias depois de concluir o novo plano, ainda se refere à distinção
entre “capital em geral” e “concorrência”, como a alegação dos editores
da MEGA, de que Marx não mais utilizou o termo “capital em geral”,
também não está correta. O termo apareceu ao menos uma vez (Marx,
1861-63, p. 2099). Primeiramente e mais importante, Marx não poderia
“abandonar” a distinção entre “capital em geral” e “concorrência”, como
alegam os editores da MEGA. Essa distinção era constitutiva de sua
inteira exposição. Para que pudesse abandoná-la (o que de fato ocorre
posteriormente), ele precisaria de uma nova abordagem metodológica: e
Marx não a desenvolve nos Manuscritos de 1861-1863. Apesar de ter
encontrado o conteúdo essencial da futura obra O Capital, Marx ainda
não havia encontrado sua estrutura (que é mais do que a simples
ordenação do conteúdo).
As dificuldades com as quais Marx se deparou na exposição do “capital
em geral” nos Manuscritos de 1861-1863 podem ser resumidas a seguir.
“Capital em geral” precisava abarcar um conteúdo específico,
notadamente todas as características que aparecem no movimento real
dos capitais, na concorrência; por outro lado, este conteúdo devia ser
apresentado em um nível específico de abstração. Marx também foi
compelido a expor a reprodução do capital social total e a taxa média de
lucro. Para fazê-lo, primeiramente Marx abandonou o nível anterior de
abstração para dar conta da análise de um movimento particular da
concorrência; em segundo lugar, ao contrapor capital individual e capital
social total, Marx utilizou categorias que superam a distinção anterior
entre “capital em geral” e “concorrência”. Embora não estivesse
totalmente claro para Marx, dissolveu-se a sua concepção metodológica
original: contudo, não havia ainda uma nova no horizonte.
Interpretação da mudança dos planos de Marx
Rosdolsky tratou em detalhe a relação entre os três volumes de O
Capital e os seis livros originalmente planejados. Ele estabeleceu uma
separação precisa entre os três primeiros livros (capital, renda da terra,
trabalho assalariado) e os três finais (Estado, comércio exterior, mercado
mundial) e, corretamente, apontou que O Capital não abrange os
assuntos destinados aos três últimos livros, mas contém os elementos
principais dos três primeiros. Em específico, O Capital não apenas
abarca o conteúdo destinado à seção sobre “capital em geral”, como
também os temas planejados originalmente para as seções seguintes
(concorrência, sistema de crédito, capital dividido em ações). Embora o
esquema de Rosdolsky acertadamente reproduza a alteração de local
dos vários temas, sua tese, segundo a qual a mudança na estrutura
consistiu tão-somente num simples rearranjo dos capítulos individuais,
está errada. Rosdolsky via a mudança no plano de Marx como um
“progressivo estreitamento da estrutura original… a qual correspondeu,
contudo, a uma expansão da parte remanescente. Embora ele [Marx]
tivesse desistido de expor, separadamente, a concorrência e o capital
dividido em ações… a primeira seção do primeiro livro, que trata sobre
“capital em geral”, foi aos poucos expandida para abarcá-los” (Rosdolsky,
2001, p. 51-56)
Contudo, Rosdolsky falha ao não questionar se a expansão da seção
sobre “capital em geral” poderia ocorrer sem uma ruptura com a
abordagem subjacente.
“Assim como o plano estrutural original, os Volumes I e II de O
Capital estão restritos ao… ‘capital em geral’ … A real diferença
metodológica surge no Volume III de O Capital. Este supera o contexto
do ‘capital em geral’” (Rosdolsky, 2001, pp. 69-70). “Assim, a prévia e
fundamental distinção entre a análise do ‘capital em geral’ e aquela da
‘concorrência’ se encerra aqui” (Rosdolsky, 2001, p. 70).
Para Rosdolsky, portanto, Marx tratou a parte do “capital em geral” nos
dois primeiros volumes de O Capital, e a parte restante, juntamente com
a “concorrência”, no terceiro volume. Ao que parece, para Rosdolsky, a
mudança de plano de Marx envolveu uma simples reordenação dos
temas individuais. Não é de surpreender, portanto, que Rosdolsky seja
incapaz de citar qualquer razão concreta que justifique a necessidade de
mudança no plano, além da alegação de que a estrita distinção entre
“capital em geral” e “concorrência” foi um pontapé essencial (Rosdolsky,
2001, p. 51), posteriormente abandonado como uma limitação supérflua
e limitante (Rosdolsky, 2001, p. 52).
Rosdolsky compreendida a alteração de plano como uma mera
reorganização dos conteúdos, deixando a abordagem subjacente intacta:
“Nós, portanto, consideramos que as categorias ‘capital em geral’ e
‘pluralidade de capitais’ fornecem a chave para a compreensão, não
apenas da estrutura original, mas também da obra posterior, isto é, O
Capital” (Rosdolsky, 2001, p. 50).
Essa compreensão, errônea, exerceu uma ampla influência nas
interpretações posteriores de O Capital[7]. Como já exposto, “capital em
geral” implica que um específico conteúdo é apresentado num específico
nível de abstração; tal conceito não poderia sobreviver a um simples
reagrupamento de temas individuais. O Capital, portanto, contém uma
nova abordagem estrutural.
Contribuições recentes da República Democrática Alemã e da URSS
também sustentaram que O Capital superou o plano estrutural definido
pela categoria “capital em geral”. Contudo, os autores envolvidos nestas
contribuições não foram capazes de explicar por que, nem especificar a
nova concepção estrutural. Jahn/Niez (1978) afirmam, por exemplo, que
a “estrita versão do ‘capital em geral’ teria dificultado” a incorporação das
descobertas realizadas entre 1861 e 1863 e que, portanto, teve de ser
modificada.
No entanto, eles não explicam o porquê da modificação, nem como ela
foi realizada. Por fim, eles contradizem a própria posição ao afirmar “que
a noção de ‘capital em geral’ marca toda a exposição de O Capital”
(Jahn/Niezold, 1978, p. 168). Ternovski/Tscherpurenko (1987)
caracterizam “capital em geral simplesmente como um ‘universal
abstrato’, mas não avançam [na análise] ao afirmar, meramente, que a
‘restrição metodológica’ [do conceito de “capital em geral”] contradizia as
‘tarefas teóricas’” (Ternovski/Tscherpurenko, 1987, p. 179)[8].
A estrutura de O Capital
O Capital, publicado em 1867, não faz menção aos livros planejados em
1859, tampouco os três volumes de O Capital são idênticos ao
anteriormente previsto “Livro sobre Capital”. Os três volumes também
abarcam importantes seções dos livros planejados sobre propriedade
fundiária e trabalho assalariado. O “estudo específico sobre trabalho
assalariado” (Marx, 1867, p. 683), ao qual Marx faz referência, e o
tratamento independente da propriedade fundiária (Marx, 1894, p. 752),
constituem estudos específicos em níveis muitos distintos de abstração.
A exposição de Marx sobre as lutas pelo limite da jornada normal de
trabalho, os efeitos da maquinaria nas condições de trabalho, a lei geral
de acumulação capitalista e sobre salários e renda [rent] como
modalidades de rendimento [revenue], abarcaram a análise das
“condições econômicas de existência das três grandes classes” (Marx,
1859, p. 19), inicialmente prevista como objeto dos três primeiros livros.
A ligação íntima entre essas condições de existência e as leis do capital
tornou impossível tratá-las separadamente. Marx, então, escolheu como
objeto de O Capital a análise do “modo capitalista de produção” (Marx,
1867, p. 90).
No que se refere às quatro seções originalmente planejadas para o Livro
sobre Capital (capital em geral, concorrência, sistema de crédito, capital
dividido em ações), O Capital contém os conteúdos essenciais de todas
elas, embora não nesta ordem. Rosdolsky corretamente apontou a
mudança na localização dos temas. Contudo, houve também uma
alteração na abordagem metodológica que estruturou a exposição. O
Capital não pode mais ser compreendido nos termos da distinção
anterior entre “capital em geral” e “concorrência”: o conceito de “capital
em geral” foi abandonado. O reconhecimento, por Marx, desse processo,
repousa no fato de que “capital em geral” não é usado nem como título
de capítulo, tampouco ao longo do texto de O Capital.
A dissolução da abordagem anterior não foi inspirada por considerações
metodológicas genéricas, tampouco foi esquecida arbitrariamente, mas
teve de ser abandonada porque não poderia mais se sustentar. “Capital
em geral” foi abandonado porque não era mais possível elaborar todas
as determinações da forma (Formbestimmungen) necessárias para a
transição da “generalidade” para o “movimento real” abstraindo-se do
movimento da pluralidade de capitais. Era necessário considerar a
relação específica entre capital individual e capital social total, tanto no
processo de reprodução, quanto no processo de compensação
[equalisation] que produz a taxa média de lucro. Contudo, a exposição
desta relação [entre capital individual e capital social total] parecia levar a
uma tautologia. De um lado, os capitais individuais teriam que ser
analisados independentemente e aprioristicamente em relação ao capital
social total, o qual eles constituem. Por outro lado, o capital total impõe
limites ao movimento dos capitais individuais, de modo que a exposição
dos capitais individuais pressupõe a exposição do capital total. Marx lidou
com esse problema em O Capital tratando o capital individual e a
constituição do capital social total em diferentes níveis de abstração. Isto
é, nem o capital individual nem o capital social total, o qual Marx
inicialmente estabeleceu como seu objeto de estudo, são os fenômenos
determinados em última instância que parecem ser [finally determined
phenomena which they appear to be] do ponto de vista da observação
empírica. Em vez da abordagem anterior baseada na distinção entre
“capital em geral” e “concorrência”, O Capital trata dos capitais
individuais e da constituição do capital social total em três níveis
sucessivos: o imediato processo de produção, o processo de circulação e
o processo global, que pressupõe a unidade da produção e da
circulação.
O Volume I de O Capital analisa o capital individual no nível do imediato
[9]processo de produção, abstraindo sua interação com outros capitais. A
preocupação inicial de Marx é com a produção do mais-valor e com a
acumulação de capital. O Capítulo 25 marca o início do tratamento do
capital social total. Nesse ponto da exposição, capitais individuais são
distintos entre si tão-somente pela grandeza e composição orgânica;
razão pela qual apenas estes aspectos são considerados no tratamento
inicial do capital social total. O capital total é exposto meramente como a
soma aritmética dos capitais individuais. Contudo, mesmo neste nível de
abstração, o efeito do movimento do capital total sobre os capitais
indivisas torna-se visível e é ilustrado nas duas primeiras subseções do
Capítulo 25. O nível de análise seguinte, o processo de circulação do
capital [Volume II], inicia com o tratamento do circuit and turnover do
capital individual [10]. Entretanto, aqui [na exposição do processo de
circulação do capital], os capitais individuais não mais existem
meramente justapostos, e o capital social total deixa de ser a mera soma
dos capitais individuais. Marx afirma:
“Contudo, os circuitos [circuits] dos capitais individuais são interligados,
eles pressupõem um ao outro e condicionam um ao outro, e é
exatamente por serem interligados dessa forma que eles constituem o
movimento do capital social total” (Marx, 1885, p. 429).
O capital total é, portanto, considerado não apenas da perspectiva da
acumulação, mas também da reprodução. E, na medida em que este
processo requer certo grau de proporcionalidade, tanto no que se refere
ao conteúdo material quanto ao valor, ele [o processo de circulação do
capital] impõe limites ao movimento dos capitais individuais. No Volume
III de O Capital, no qual é estabelecido o processo global de acumulação
capitalista [process of capitalist accumulation as a whole] como unidade
dos processos de produção e circulação, Marx expõe a transformação do
mais-valor em lucro inicialmente como um processo envolvendo o capital
individual. Neste ponto, os capitais individuais, que produzem lucro,
constituem o capital social total ao estabelecer uma taxa geral de lucro.
O processo através do qual isso acontece não é aquele que se dá
meramente através da ligação de seus circuitos [circuits], mas através da
“concorrência”, não no sentido da economia burguesa de uma
concorrência perfeita, mas como a forma específica da reprodução social
(Verqesellschaftunq Sweise), a qual transforma capitais individuais em
componentes homogêneos do capital social total:
“Esta é a forma pela qual o capital toma consciência de si como poder
social, pela qual cada capitalista participa conforme sua parte [in
proportion to his share] no capital social total” (Marx, 1894, p. 297).
Embora a taxa geral de lucro seja estabelecida, primeiramente, na
concorrência entre capitais individuais, ela aparece como um
pressuposto finalizado em face do capital individual e, por conseguinte,
determina seu movimento [do capital individual]. Em cada um dos três
níveis [processo imediato de produção, processo de circulação e
processo global], portanto, o que é exposto é, primeiramente, o capital
individual, depois a constituição do capital social total a partir dos capitais
individuais, juntamente com o efeito retroativo do capital social total sobre
o movimento dos capitais individuais.
Nós demonstramos acima que a diferença fundamental entre
os Grundisse e as análises econômicas de Marx dos anos 1840 consiste
no reconhecimento da distinção entre as leis imanentes do capital e sua
manifestação no movimento real dos vários capitais. Marx tentou dar
conta dessa nova compreensão através da distinção entre “capital em
geral” e “concorrência”. A ruptura com essa abordagem [distinção entre
“capital em geral” e “concorrência”] em O Capital não significou que
este insight [de que o movimento real é a manifestação, como
necessidade exterior, da natureza interna do capital] se perdeu. A
abordagem anterior incluiu a visão definitiva de como o “movimento real
dos capitais”, a ser exposto na “concorrência”, devia ser compreendido:
como todas as circunstâncias e relações que surgissem na consideração
de vários capitais, independentemente do nível de abstração. A
exposição das leis imanentes do capital, portanto, e somente por essa
razão, tinha de ser realizada abstraindo-se de todas as relações que
envolvessem vários capitais. Por outro lado, em O Capital, Marx
reconhece que o “movimento real da concorrência”, o qual tão-somente
manifesta, mas não cria as leis do capital, não é idêntico ao movimento
da pluralidade de capitais, apenas constituindo uma parte deste. E essa
parte também está excluída de O Capital:
“Na exposição da coisificação das relações de produção e da autonomia
que elas adquirem para os agentes de produção, nós não entraremos na
forma através da qual estas relações aparecem para ele [os agentes da
produção] como leis sobrenaturais, dominando-os independentemente da
vontade deles, na forma em que o mercado mundial e suas conjunturas,
o movimento dos preços de mercado, os ciclos da indústria e do
comércio e a alternância entre prosperidade e crise prevalecem sobre
eles como uma necessidade cega. Isto porque o real movimento da
concorrência encontra-se fora do nosso plano e nós pretendemos tão-
somente expor a organização interna do modo de produção capitalista,
em sua média ideal” (Marx, 1894, p. 969f. my emphasis).
No entanto, essa abordagem não é totalmente sustentada no Volume III
de O Capital. As investigações de Marx na Parte V, em específico, não
estão finalizadas e a exposição da “média ideal” ocorre através do estudo
dos processos concretos de crises e do sistema contemporâneo inglês
de crédito. Há também a questão fundamental de até que ponto crises e
sistema de crédito podem ser expostos no nível previsto de abstração.
Por fim, uma questão surge ainda sobre como o estudo do “movimento
real” da concorrência deve ser conduzido: simplesmente pela “aplicação”
das leis gerais a um período histórico concreto ou um entendimento de
como estas leis gerais são realizadas no “movimento real” demandaria
uma investigação da relação historicamente específica entre os âmbitos
político e econômico e sua materialização [da relação entre a política e a
economia] nas formas institucionalizadas [institutitional forms].
NOTAS DE RODAPÉ
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Probleme des zweiren and dritten Bandes des “Kapital”, and das
Schicksal des Begriffs des “Kapital im Allgemeinen”‘ in Marxistische
Studien, Jahrbuch des IMSF, 12.
– Com os dois que tenho eu, sete! Agora, sim, ganhamos a guerra!”
Muitos anos depois, Fidel Castro, já presidindo Cuba, diria que a política
é a arte de tornar possível o impossível. As diversas vitórias que a
revolução alcançaria ao longo das décadas subsequentes certamente
reafirmam este espírito nitidamente revolucionário de tornar o improvável
uma realidade.
Nota:
[1] “Rabo de pato”: expressão utilizada em Cuba para os luxuosos
automóveis dos anos 1950, cuja parte traseira era semelhante a um
“rabo de pato” e simbolizava o privilégio das elites dominantes.
O ultraliberalismo enquanto
categoria conceitual
LavraPalavra
dezembro 2, 2020
Sem Comentários
Por João Elter Borges Miranda
“O ultraliberalismo enquanto categoria traz elementos mais precisos para
conceituar a série de correntes que se formam ao longo do século XX.
Tais correntes são, tradicionalmente, denominadas de neoliberais.”
O termo “neoliberal” é bastante controverso e escorregadio e está
distante de possuir status de uma categoria conceitual precisa e
sistematizada. Francisco de Oliveira colocará que o termo está aquém da
tragédia. “De nada nos serve agredir a realidade: neoliberalismo,
neocolonialismo são termos aquém da tragédia” (OLIVEIRA, 2006, p.
247). Pierre Salama apontará que “não sabemos ainda precisar com
exatidão o que é o neoliberalismo, que acabou se tornando uma
categoria muito difusa. Se por um lado é claro que conhecemos os seus
efeitos, em termos analíticos ele se tornou num conceito muito
escorregadio” (SALAMA, 2000, p. 139). E Virgínia Fontes afirmará que
neoliberalismo possuí caráter descritivo e viés de denúncia dos
antagonismos sociais provocados pelo capitalismo, porém, não propicia
vislumbrar os aspectos similarmente capitalistas no pós-guerra. Por isso,
a historiadora reivindica a sua categoria de capitali-imperialismo, a qual
abarca transformações tanto no âmbito da estrutura, quanto da
superestrutura (FONTES, 2010, p. 154).
Segundo Rodrigo Castelo, o termo neoliberalismo “demonstrou uma
vitalidade invejável nos anos 1990 a partir da luta ideológica travada pela
esquerda contra a chamada globalização capitalista. Com ele, os críticos
das mutações gestadas nos últimos 30-40 anos conseguiram
demonstrar, com alguma dose de eficácia, os efeitos econômicos,
políticos e sociais mais danosos para as classes subalternas”. Por isso,
muitos intelectuais da classe dominante “negaram a pecha, taxando seus
críticos de antiquados, ultrapassados, anacrônicos, que não teriam
percebido os ventos inevitáveis da mudança no mundo moderno, ou pós-
industrial” (CASTELO, 2011, p. 240).
Fluxograma
Elaboração própria.
Considerações finais
Diante do fato de os preceitos epistemológicos ultraliberais
impossibilitarem que os seus formuladores compreendam fenômenos
complexos, constituindo uma cegueira intelectual, tais preceitos podem
até ser considerados epistemológicos enquanto abordagem do real, mas
não ontológicos enquanto reflexão do real em si. Ainda assim, para os
ultraliberais, o ultraliberalismo é um pensamento da complexidade social,
ao passo que noções como “justiça social” são resultado de análises
primitivas incapazes conceberem ordens que emergem
espontaneamente através do mercado.
Referências
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GENTILI, Pablo (orgs.) Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o
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HOBSBAWM, Eric J. Era dos extremos: o breve século X: 1914-
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MACIEL, David. Melhor impossível: a nova etapa da hegemonia
neoliberal sob o governo Lula. In: Universidade e Sociedade, nº 46,
Brasília – DF: Andes-SN, p. 120-133, junho de 2010.
MARX, Karl. O Capital. Vol. 1. 3ª Edição. São Paulo: Nova Cultural,
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OLIVEIRA, Francisco de. Oração a São Paulo: a tarefa da crítica.
In: Francisco de Oliveira: a tarefa da crítica. Cibele Rizek e Wagner
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SALAMA, Pierre. A trama do neoliberalismo: mercado, crise e exclusão
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democrático. Emir Sader e Pablo Gentili (orgs.). 5ª edição. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2000.
FONTES, V. O Brasil e o capital imperialismo. Teoria e história. Rio
de Janeiro: EPSJV/UFRJ, 2010.
O imperialismo ainda é um
conceito relevante?
LavraPalavra
setembro 20, 2021
Sem Comentários
Por David Harvey, transcrito e traduzido por Gabriel Oliveira
Transcrição das intervenções de David Harvey no debate “Imperialism: Is
it still a relevant concept?”, realizado na New School for Social Research
em 1 de Maio de 2017 quando do lançamento do livro A Theory of
Imperialism, de Utsa Patnaik e Prabhat Patnaik. O debate também
contou com a participação de Duncan Foley, Nancy Fraser e Prabhat
Patnaik, além de ter sido mediado por Sanjay Reddy. O debate está
disponível no youtube.
Não deixe de ver também o livro Introdução ao Imperialismo Tardio.
Minhas discordâncias com o livro de Utsa Patnaik e Prabhat Patnaik
decorrem em parte do fato de que sou um geografo e, enquanto
geógrafo, eu me interesso por onde as coisas acontecem, para onde as
coisas vão, e os fluxos e movimentos intrincados do capital no e ao redor
do mundo. Quando eu ministrava um curso de geografia para
graduandos, costumava iniciar as aulas com a pergunta “De onde vem o
seu café da manhã?”. Depois de uns três dias fazendo isso os
estudantes se aborreciam e respondiam: “Eu não tomei café da manhã
hoje!”. E este era precisamente meu ponto. Eles iriam passar fome sem a
rede de todos os tipos de fluxos vindos do mundo inteiro, milhões de
pessoas envolvidas somente em colocar algo como um café da manhã
na sua mesa. Portanto, de onde vem e para onde vai são perguntas
extremamente importantes, e considero que o livro dos Patnaik é muito
impreciso em respondê-las. Seu conteúdo é muito vago, muito geral, e
não faz, a meu ver, as perguntas específicas sobre onde as coisas
acontecem. Só para dar um exemplo, um dos maiores produtores e
exportadores de grãos no mundo são os Estados Unidos, onde o
agronegócio é fortemente subsidiado. Os principais exportadores de
algodão do mundo são os Estados Unidos, e tudo bem enfatizar a
importância de regiões tropicais e subtropicais para a produção de certos
bens, uma parte dos Estados Unidos está na região subtropical, tanto
que o país exporta suco de laranja. Frente a isso, me parece que não se
pode tomar uma determinada atividade como a produção de grãos, isolá-
la de todo o resto e dizer que é só em torno dela que o imperialismo se
processa. Claro que existem diferentes tipos de grãos. Não sei se soja é
um grão, mas a maior parte da América Latina foi transformada, em mais
ou menos quinze anos, numa vasta plantação de soja. Mas para quem
ela está sendo produzida? Não para os Estados Unidos, já que os
Estados Unidos exportam soja. Quem está ficando com ela? A China. A
China é o seu maior mercado consumidor. Podemos por isso dizer que a
China é uma potência imperialista, já que está consumindo este tipo de
mercadorias?
Penso que são essas as questões que imediatamente vêm à cabeça ao
olharmos a geografia de onde algo é produzido e para onde ele vai. E é
claro que as coisas se tornaram muito mais complicadas, e creio que
devemos levar em conta essas complicações. E nisso eu também penso
enquanto geógrafo. Se você ler a carta maravilhosa que Marx escreveu
para Annenkov, acho que em 1847, verá que enquanto ele está
comentando o livro de Proudhon ele demonstra, basicamente, que nós
devemos sempre ajustar nossas categorias de acordo com as
transformações históricas que estão se passando. Conforme muda a
divisão do trabalho, conforme mudam as forças produtivas, as relações
sociais e todo o restante, então temos de estar preparados para mudar o
quê nós falamos. E um dos problemas que tenho com muitas pessoas na
esquerda é que elas são muito relutantes para acompanhar de verdade
essas mudanças.
Claro que o imperialismo era, obviamente, um termo relevante para
apreender o que estava ocorrendo no século XIX. Ele persistiu
posteriormente em uma forma diferente, mediado por legalidades e
estruturas que começaram a emergir no final do século XIX. Depois de
1945 tivemos o período da descolonização, e na década de 1970,
conforme muitas pessoas apontam, todas as coisas voltaram a se
transformar novamente. Uma das grandes mudanças que ocorreram nos
anos 1970 foi que você poderia construir um carro global, você poderia
manufaturar o motor de um carro no Brasil, as calotas viriam do México e
tudo poderia ser montado em Detroit. E atualmente vários processos
produtivos funcionam exatamente assim. Além disso, se tornou cada vez
mais evidente para mim que onde o valor é produzido não é
necessariamente o mesmo lugar em que ele é realizado. Por exemplo,
eu li no Financial Times que a taxa de lucro da Foxconn em Shenzhen é
de 3% e a taxa de lucro da Apple pela venda de computadores é 28%.
Esses computadores da Apple são vendidos nos EUA, portanto o valor
produzido na China está sendo realizado nos EUA. Agora, claro que a
Apple vai afirmar que ela atua no design e em outras funções, então de
fato não é plenamente verdadeiro que todo o valor é produzido na China.
Inclusive, se você olhar todos os microchips que estão no computador da
Apple, verá que eles também não são produzidos em Shenzhen.
Podemos perceber todo um conjunto de questões aqui, tais
como onde e como o valor está sendo criado e onde ele está sendo
apropriado. Essas são questões bastante complexas, e principalmente
desde os anos 1970 se tornou cada vez mais difícil dar-lhes uma
resposta precisa. Justamente por esse motivo eu me tornei cada vez
mais inclinado à ideia de que não fazia mais sentido tentar enfiar tudo
isso em algum conceito universal de imperialismo.
Não há dúvida de que o tempo todo ocorrem redistribuições do valor
entre as diferentes regiões, mas elas são complicadas, demasiadamente
complicadas. Nós devemos, portanto, elaborar uma nova forma de olhar
para esses fluxos, e se simplesmente os enquadramos na camisa de
força do conceito de imperialismo com certeza perdemos algo. Eu fui
parcialmente convencido disso quando por volta de 1974 Giovanni Arrighi
escreveu um livro chamado The geometry of imperialism. Seu título me
fazia crer que era sobre imperialismo, e como eu sou um geógrafo, e
geografia e geometria meio que caminham juntas, eu estava procurando
por um grande esclarecimento sobre a questão, mas na verdade é
basicamente um livro que diz que o conceito de imperialismo não
funciona. Na verdade, o que precisa ser feito é olhar para as hegemonias
mutáveis [shifiting hegemonies] do poder político e econômico, que são
instáveis e que estão sempre se transformando. Elas estão em
movimento constante, e enquadrá-las como algum tipo de barreira
estrutural fixa é, na verdade, um equívoco. O que Giovanni diz é que
devemos observar essas hegemonias mutáveis, e assim olhar para quem
é o poder hegemônico corrente. Ele não negou na época que os Estados
Unidos podiam fazer a reivindicação de sê-lo com bastante justiça, mas
será que eles continuam hegemônicos? Deixe-me lhes contar uma coisa
que li outro dia e que me surpreendeu bastante. Descobri que, em 2008,
quando o Lemon Brothers entrou em falência e pegou de surpresa os
Estados Unidos, e de novo minha fonte é o Financial Times, ótimo jornal,
o único que do meu ponto de vista vale a pena ler, eu descobri que os
Estados Unidos estavam extremamente relutantes em deixar o AIG, o
Fannie Mae e o Fraddie Mac entrarem em bancarrota porque isso
acabaria destruindo todo o investimento chinês nos EUA, e os chineses
ficariam no mínimo furiosos, e isso seria um tremendo desastre para os
EUA naquele momento. Está se tornando cada vez mais evidente a partir
dos vazamentos de informações que estão vindo de todos os lugares que
naquela época a Rússia propôs à China que eles fizessem uma venda
rápida de todos os seus ativos que estavam nessas instituições e
quebrassem todo o sistema financeiro global. E, sem dúvidas, era isso
mesmo que teria acontecido. China e Rússia possuíam 50% do capital
dessas instituições. Se incluirmos o Japão, vai para 60 ou 70¨%. Mas
enquanto a Rússia estava negociando, os chineses recusaram. Bem,
esse é um momento que você se pergunta se o conceito de imperialismo
ajuda a entender esse episódio. E ele não ajuda. Mas o conceito de
disputas hegemônicas, aí sim, é disto que se trata.
Quem é hegemônico, o que é o dinheiro mundial nos dias de hoje? Essa
é uma questão central. Nos parece que o dólar continua a ocupar esse
papel, mas outros tipos de elementos como as cestas de moedas e o
problema do endividamento global estão se tornando cada vez mais
interessantes. O FMI um dia desses fez as contas sobre a dívida global e
descobriu que ela se encontra em torno de 225% do PIB global. 225%.
Se você dissesse isso quarenta anos atrás, a maioria das pessoas iria
dizer “Meu Deus do Céu, é o fim do mundo!”. Mas hoje o FMI publica
essa informação e todo mundo pensa “bem, é 225% do PIB global, fazer
o quê?”. Se vinte anos atrás alguma nação tivesse chegado nessa
situação, o FMI iria lá e imediatamente a obrigaria a fazer um programa
de ajuste estrutural, e mesmo se você protestasse contra, eles
responderiam que era a única coisa que poderia ser feita. Me parece
fundamental analisar e tentar responder questões tão importantes como
essas e outras tipo quem está pegando emprestado de quem, quem está
carregando a dívida, onde estão os seus detentores e o que eles estão
fazendo. E eu não acho que o conceito de imperialismo particularmente
útil para essas situações, e a partir dos anos 1970 eu comecei a
trabalhar com outros conceitos.
He doesn’t dwell on existing problems. Enough has been written about those and we’re
all too aware of them. Navel-gazing about them doesn’t take us out of our predicament;
it only tells us how clever we are at analysing our predicament. In No Bosses, there’s no
navel-gazing, no retreading of the predictable, no doomism. This book is optimistically
and exclusively future-orientated and solution-focused. But in abiding in the realm of
solutions for the future, Albert goes further than simply announcing the aims of his
proposed alternative economy. His model is fleshed out with detail, starting with values
and arriving at the defined features of institutions within the economy. And this is really
what makes his work stand out from pretty much everyone else who inhabits this arena.
In the earlier chapters, the book proposes a model for a new kind of workplace, with not
a boss in sight, going far beyond what today’s co-operatives offer their worker-owners.
It puts forward a framework that, if applied, has the potential to create a truly equal and
just workplace and economy: non-ownership rather than ownership; self-management in
decision-making rather than authoritarianism; pay based on effort and sacrifice rather
than reward for property or power; solidarity rather than cut-throat competition;
diversity rather than uniformity and conformity; ecological sustainability rather than
extraction and exploitation; collective ownership through consumer and worker councils
rather than private ownership; internationalism rather than war-mongering; balanced
jobs which have a fair mix of the rote and empowering work rather than jobs with the
typical division of labour we’ve come to accept.
And when it comes to the thorny subject of allocation, a central component of any
economy, No Bosses goes straight for the jugular, rejecting outright the market and
central planning, and calling out their inherent flaws. Often, models for an alternative
economy stop short of doing this. They don’t envisage a future without markets,
believing that we’re stuck with them, and instead propose ways the current market
model can be tweaked or altered to make it less rapacious, less callous, a little bit kinder
to the huddled masses and the planet and giving us some crumbs from the table. There’s
no such resignation from Albert. He snaps us out of the myth that we have no
alternative to markets or central planning, and provides us with a radically different
other way: participatory planning, a hands-on approach which requires negotiation
between councils of consumers and workers. This is fresh thinking that’s worth serious
consideration, especially in the face of climate and ecological crises.
The penultimate chapter of the book does something rare. It gives an analysis not of the
present but of the future, specifically of the Parecon vision for the future. It gives
practical advice to those of us who want fundamental change, discussing how we can
win reforms while not being reformist; how we can organise to achieve those reforms
and plant the seeds of the future in the present; and how we can to go beyond the
sentiment of “fighting the good fight” that so often dampens our belief that we can
realise progressive change. In this chapter, Albert manages to instil in his reader a
confidence that we can and will win.
By the end of the book, we come to understand that Parecon is just one part of a wider
vision for an entirely participatory society called Parsoc, which brings the same
egalitarian principles into our political systems, into our gender, sexual and familial
functions, into our culture and communities, into our ecology and environment.
Read No Bosses and you will be changed. Read it and you will have hope. Read it and
you will want to live in a Parsoc world. Read it and you will ask yourself, why aren’t
we doing this already?
Note: Feasta is a forum for exchanging ideas. By posting on its site Feasta agrees that
the ideas expressed by authors are worthy of consideration. However, there is no one
‘Feasta line’. The views of the article do not necessarily represent the views of all
Feasta members.
Bridget Meehan
Bridget Meehan is a left activist and writer, and is co-founder of the Northern Mutual
campaign for a mutual bank in the north of Ireland and of Collaboration for Change.
She is a member of the Collective20 group of writers. She gave a presentation on her
mutual bank project at the Feasta/CEF event Banking on the Community, in April
2021.
Life under capitalism. Rampant debilitating denial for the many next to vile enrichment of
the few. Material deprivation, denial, and denigration. Dignity defiled. Michael Albert's book
No Bosses advocates for the conception and then organization of a new economy. The
vision offered is called participatory economics. It elevates self-management, equity,
solidarity, diversity, and sustainability. It eliminates elitist, arrogant, dismissive,
authoritarian, exploitation, competition, and homogenization. No Bosses proposes a built
and natural productive commons, self-management by all who work, income for how long,
how hard, and the onerousness of conditions of socially valued work, jobs that give all
economic actors comparable means and inclination to participate in decisions that affect
them, and a process called participatory planning in which caring behavior and solidarity
are the currency of collective and individual success.
Can Xi Jinping defeat
three stubborn modern
inequalities?
by Branko Milanovic on 18th October 2021
Systemic inequalities
But there are three types of inequality—very similar to those faced by
the US—which are systemic to all modern capitalist societies and
much more difficult to control. They are the concentration of ownership
of private assets (capital), creation of an elite rich in capital and labour
incomes, and inter-generational transmission of advantage.
This is obvious in the US, where the top 10 per cent of the
population received in 2019 60 per cent of the income from capital.
The situation is similar in China: the latest available, 2013 data show
that the top income decile received 45 per cent of all capital income.
That percentage has probably increased since.
They are different from the old-fashioned capitalists, whose sole, albeit
high, income stemmed from assets. They do represent a new elite,
invulnerable to crises, as they have plenty of ‘human’ as well as
financial capital. And they are observable, for the first time, in China:
the elite at the top is hard-working but also capital-rich. As in the US,
one third of those in the top income decile are also among the richest
capitalists and richest workers.
The issue in China is the highly rivalrous education system, linked with
parental wealth, which decides the (very young) child’s future 50 years
ahead, via their comparative performance in rote tests. It perpetuates
inequality and squanders talent as it breeds indifference and
resignation among the less successful—since decisions made years
earlier determine their entire life.
2
Rede Brasil Atual - Consórcio de veículos de comunicação chamado
“The Facebook Papers” publicou neste sábado (23) denúncias de que a
rede social de Mark Zuckerberg vem contribuindo há anos para a
disseminação de fake news. Reportagens exibidas em veículos como
The New York Times, CNN e Washington Post mostram, inclusive,
que o Facebook amplificou a mobilização de grupos de extrema-
direita que culminou na invasão ao Capitólio em 6 de janeiro e deixou
cinco mortos. O consórcio é formado por um total de 17 organizações
jornalísticas norte-americanas.
Facebook exposto
"Custo Bolsonaro explica boa parte da inflação brasileira", diz José Luís Oreiro
O economista culpou o governo Bolsonaro pela depreciação do real e
pela consequente inflação. Os ataques contra a China e contra a
democracia geram incerteza, o que, somado à crise hídrica, tornou o
Brasil um caso à parte. Assista na TV 247
22 de outubro de 2021, 19:55 h Atualizado em 22 de outubro de 2021, 20:34
5
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“Mas a nossa [depreciação cambial] aqui foi muito forte. E por quê?
Não precisa ser nenhum gênio para perceber que o Brasil é hoje uma
pária internacional, seja por conta da questão da preservação da
floresta amazônica, seja por conta dos ataques que o governo fazia, e
ainda faz de vez em quando, ao nosso maior parceiro comercial, que é
a China, seja por conta dos ataques que o presidente faz, dia sim e
outro também, ao Estado democrático de direito. Tudo isso vai
criando ruído e aumenta a percepção de incerteza. E como nossa
moeda não é uma moeda de reserva internacional, quanto maior a
incerteza, maior a preferência dos agentes pela liquidez expressa em
dólares americanos, em euros ou yuans”, ponderou Oreiro.
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Ele citou, ainda, a crise hídrica, a pior dos últimos 100 anos, que
reflete no preço dos alimentos. “Óbvio que isso se reflete direto no
preço dos alimentos, porque quanto menos chuvas nós temos, o pasto
dos bois cresce menos, portanto, leva mais tempo para o boi engordar
e o preço da carne sobe”, explicou ele.
Constance Markievicz
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Constance Markievicz
Constance Markievicz
Member of Parliament
In office
Teachta Dála
In office
In office
In office
December 1918 – May 1921
In office
Personal details
4 February 1868
Buckingham Gate,
London, England
Dublin, Ireland
Fianna Fáil (1926–1927)
Political party
Sinn Féin (1908–1926)
Georgina Hill
Military service
Allegiance Irish Republican Brotherhood
Cumann na mBan
Rank Lieutenant[1]
Easter Rising
Socialism
History
Outline
show
Development
show
Ideas
show
Models
show
Variants
show
People
show
Organizations
show
Related topics
show
Lists
Socialism portal (WikiProject)
Communism portal
Organized Labour portal
v
t
e
1Early life
2Marriage and early politics
3Easter Rising
4First Dáil
5Civil War and Fianna Fáil
6Death
7Tributes
8Notes
9References
10Further reading
11External links
Early life[edit]
Constance Georgine Gore-Booth was born at Buckingham Gate in London in
1868, the elder daughter of the Arctic explorer and adventurer Sir Henry Gore-
Booth, 5th Baronet, an Anglo-Irish landlord who administered a
100 km2 (39 sq mi) estate, and Georgina, Lady Gore-Booth, née Hill. During
the famine of 1879–80, Sir Henry provided free food for the tenants on his
estate at Lissadell House in the north of County Sligo in the north-west of
Ireland. Their father's example inspired in Gore-Booth and her younger
sister, Eva Gore-Booth, a deep concern for working people and the poor. The
sisters were childhood friends of the poet W. B. Yeats, who frequently visited
the family home Lissadell House, and were influenced by his artistic and
political ideas. Yeats wrote a poem, "In Memory of Eva Gore-Booth and Con
Markiewicz", in which he described the sisters as "two girls in silk kimono, both
beautiful, one a gazelle" (the gazelle being Constance). [4] Eva later became
involved in the labour movement and women's suffrage in Great Britain,
although initially Constance did not share her sister's ideals.
Sculpture of Markievicz and her cocker spaniel, Poppet, on Townsend Street, Dublin
Easter Rising[edit]
Markievicz in uniform examining a Colt New Service Model 1909 revolver, posed c.1915
First Dáil[edit]
In 1918, she was jailed again for her part in anti-conscription activities. At
the 1918 general election, Markievicz was elected for the constituency of Dublin
St Patrick's, beating her opponent William Field with 66% of the vote, as one of
73 Sinn Féin MPs. The results were called on 28 December 1918.[3] This made
her the first woman elected to the United Kingdom House of Commons.
However, in line with Sinn Féin abstentionist policy, she did not take her seat in
the House of Commons.[31]
Markievicz was in Holloway prison, when her colleagues assembled in Dublin at
the first meeting of the First Dáil, the Parliament of the revolutionary Irish
Republic. When her name was called, she was described, like many of those
elected, as being "imprisoned by the foreign enemy" (fé ghlas ag Gallaibh).
[32]
She was re-elected to the Second Dáil in the elections of 1921.[33]
Markievicz served as Minister for Labour from April 1919 to January 1922, in
the Second Ministry and the Third Ministry of the Dáil. Holding cabinet rank from
April to August 1919, she became both the first Irish female Cabinet
Minister and at the same time, only the second female government minister in
Europe.[a][34] She was the only female cabinet minister in Irish history until 1979
when Máire Geoghegan-Quinn was appointed to the cabinet post of Minister for
the Gaeltacht for Fianna Fáil. Her Labour department was concerned with
setting up Conciliation Boards, arbitrating labour disputes, surveying areas and
establishing guidelines for wages and food prices. [35]
Death[edit]
Markievicz died at the age of 59 on 15 July 1927, of complications after
two appendicitis operations, a deadly surgery in those days before antibiotics.
She had given away the last of her wealth, and died in a public ward "among
the poor where she wanted to be". [41][42] One of the doctors attending her was her
revolutionary colleague Kathleen Lynn.[43] Also at her bedside were Casimir and
Stanislas Markievicz, Éamon de Valera and Hanna Sheehy Skeffington.
[43]
Refused a state funeral by the Free State government, she was laid out in the
Rotunda, where she had spoken at so many political meetings. Thousands of
the Dubliners who loved her lined O'Connell Street and Parnell Square to pass
by her body and pay their respects to 'Madame'. It took four hours for the
beginning of the funeral, starting from the Rotunda, to reach the gates
of Glasnevin Cemetery. Eamon de Valera gave the funeral oration, while Free
State soldiers stood on guard to prevent the rifle salute that Michael Collins had
called “the only speech which it is proper to make above the grave of a dead
Fenian”.[41][44]
Her former Citizen Army colleague the playwright Seán O'Casey said of her:
"One thing she had in abundance—physical courage; with that she was clothed
as with a garment."[45]
A Dublin City Council 1916 Commemorative plaque, unveiled on 15 July 2019, to commemorate
Constance Markievicz and the house she lived in from 1912 to 1916
Tributes[edit]
In 2018 a portrait of Markievicz was donated by the Irish parliament to the
British House of Commons to commemorate the 1918 Representation of the
People Act, under which, some women were allowed the right to vote for the
first time in the United Kingdom.[46]
In 2019 a Dublin City Council Commemorative Plaque was unveiled at
Markievicz's former home in Dublin, Surrey House on Leinster Road
in Rathmines.[47]
Notes
The Essential Joseph Schumpeter: An Easy
and Accessible Introduction to an Important
and Complex Thinker
Art Carden
– July 14, 2020
Schumpeter was very prolific, but four key works stand out: The
Theory of Economic Development (German edition 1911, English
edition 1934), Business Cycles (1939), Capitalism, Socialism, and
Democracy (1942), and the posthumously published, incomplete
but still very important History of Economic Analysis (1954).
Schumpeter was the complete scholar, asking and answering very
big questions while appreciating and understanding their
intellectual history and context.
unida e autossuficiente, e possivelmente é por conta disto que teve seu sangue
derramado
1
julgamento dos acusados por este crime. Dentre os réus encontra-se o ex-presidente
Blaise Compaoré, este o melhor amigo de Sankara, que após o assassinato em 1987
lembrado, lançando um olhar sobre suas conquistas e sonhos. Sankara viveu e morreu
almejando que seu país, mas também o continente africano, se tornasse independente
aos ensinamentos de Sankara pode ser visto como uma fonte de inspiração e esperança.
Líder este que lutou por justiça social e defendeu a formação e conscientização de seu
povo.
De modo geral, estes acontecimentos nos dão a oportunidade de voltar nosso olhar para
o continente africano e sua rica história, principalmente para os grandes heróis nascidos
naquela terra. Patrice Lumumba, Kwame Nkrumah, Nelson Mandela, Jerry Rawlings...
Thomas Sankara é mais um dentre os grandes homens que a África lançou ao mundo e
Olhar para o passado, para tudo que Sankara fez e desejou fazer, é pensar e refletir sobre
Acheter
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Résumé
S’il y a bien eu et s’il y a, encore aujourd’hui, un capitalisme
de la séduction, il faut produire un communisme du sublime.
Thème
Le matérialisme dialectique et historique (MDH) –
épistémologie et objectivité en sciences humaines et sociales
– critique du positivisme et du cognitivisme.
Thèse
Le MDH est l’outil pour saisir le mouvement réel, mais aussi
le reflet d’une compréhension du sujet comme trans-
individuel, pouvant aboutir au renversement du capitalisme
par la prise de conscience d’une classe révolutionnaire.
Questions concrètes
• Comment établir une objectivité en sciences humaines et
sociales ?
• Quels sont les obstacles à l’unification des sciences
humaines et sociales ?
• Quelles sont les limites du positivisme ?
• Qu’est-ce que le matérialisme dialectique et historique ?
• En quoi est-ce un enjeu de se le réapproprier ?
Résumé détaillé
La période de parution de l’ouvrage est caractérisée par une
crise globale provoquant un ressurgissement du marxisme,
mais dénaturé. Avec ce livre qui s’inscrit dans la continuité de
ses travaux, Loïc Chaigneau vient rétablir la méthode de
compréhension objective du réel développée par Marx : le
matérialisme dialectique et historique (MDH).
Jeremy Corbyn
...
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remediação dos danos infligidos ao país pelo regime golpista de direita liderado por
O golpe de 2019, planejado com bastante antecedência por líderes opositores de direita
e por militares de alta patente, anteviu que o presidente de longa data e constantemente
Prevendo que o resultado final daria a Morales uma vitória expressiva no primeiro
turno, conforme contavam-se os votos das regiões rurais, de populações indígenas e pró-
carta branca da polícia, que insurgiu – primeiro em Cochabamba, e depois pelo resto do
país.
para evitar mais derramamentos de sangue, estava Áñez, até então uma senadora de
direita.
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Sob o regime golpista, o país foi atingido por uma onda de abusos aos direitos humanos.
policiais.
Durante os seus onze meses no poder, o regime golpista caracterizou-se por pouco mais
e sociais.
De maneira crítica, ele fracassou em desenvolver uma estratégia coerente para enfrentar
os gastos com o setor público foram drasticamente reduzidos no último quartil de 2019.
Durante o ano de 2020, 400.000 bolivianos perderam seu emprego, as rendas oriundas
dispararam conforme medidas austeritárias brutais faziam efeito. A dívida externa foi
Mas, atravessando tudo isso, uma ampla coalizão de movimentos sindicais, camponeses
Arce, conquistou uma vitória decisiva, recebendo 55% dos votos contra 29% de seu
oponente mais próximo, o ex-presidente Carlos Mesa. O MAS também obteve controle
econômicas enfrentadas pelo país na história recente, uma das primeiras ações de Arce
foi promulgar as leis que sustentariam a iniciativa Bônus Contra a Fome. Essa iniciativa
havia sido aprovada pela assembleia nacional majoritariamente composta pelo MAS,
Aliada a outras medidas, como o aumento nas pensões e um imposto anual direcionado
aos muito ricos (aqueles cuja renda ultrapassa 4,3 milhões de dólares), esta iniciativa
ajudou a economia boliviana a crescer 5,3% nos primeiros quatro meses de 2021.
Para o longo prazo, o governo está desenvolvendo uma estratégia industrial sustentável
muitos governos direitistas à pandemia – como aqui no Reino Unido -, mas a boa
notícia é que a Bolívia mostrou que tal abordagem pode ser revertida.
O governo Arce deu início a uma estratégia tripla de resposta à pandemia. Ela envolveu
que haviam sido desfeitos pelo regime golpista. O governo renovou seu apoio à
integração regional da América Latina, retomando sua participação em três das mais
A Bolívia foi impactada de forma injusta pelos efeitos das mudanças climáticas, e nas
catástrofe climática.
envolvidos em uma ampla gama de crimes e delitos cometidos sob o regime golpista.
boliviana responde a acusações criminais – assim como Áñez, que responde a acusações
Dada o grau do apoio militar ao golpe e ao regime golpista, o presidente Arce também
agiu rapidamente para realizar mudanças nos altos níveis das forças armadas com o
Fernando Camacho e Carlos Mesa, recentemente chamaram uma “greve cívica” contra
o governo Arce.
abandono das acusações contra a Resistência Juvenil Cochala (um grupo paramilitar
clamavam por liberdade para Áñez. No entanto, milhares de cidadãos de diversas partes
movimentos sociais e ao governo Arce contra quaisquer tentativas por parte de forças
Bolívia.
Robby Berman
Though we know a lot about the anatomy of the brain, its functions
remain largely enigmatic. For instance, what is the biological
mechanism that encodes memories? On a computer, files are encoded
digitally with a series of ones and zeroes, a type of discrete storage.
Cassette tapes are analog recordings, and information is stored
magnetically. How does the brain store information? We don’t know.
Where consciousness is located in the brain — that is, the parts and
functions that make us “us” — is likewise shrouded in mystery.
Before we dive further into the field of brain mapping, let’s first define
what we’re talking about. There are actually two types of brain
mapping.
The second type of brain mapping deals with identifying areas of the
brain using qEEG technology in order to strengthen or heal them
through neurofeedback training. Neurofeedback practitioners claim
some impressive therapeutic value for people with all sorts of conditions
relating to the brain, including ADHD, autism, depression, and anxiety.
Some experts have expressed skepticism about some such claims.
The jury’s still out on this type of brain mapping.
What kind of map could map the brain?
There is almost nothing about mapping the human brain that will be
easy. From logistical issues (like the open exchange of information) to
scientific challenges (such as technological and theoretical advances),
much will be required to make sense of the human brain.
“It’s no exaggeration to say that Behave is one of the best nonfiction books I’ve ever
read.” —David P. Barash, The Wall Street Journal
"It has my vote for science book of the year.” —Parul Sehgal, The New York Times
"Hands-down one of the best books I’ve read in years. I loved it." —Dina Temple-
Raston, The Washington Post
Sapolsky's storytelling concept is delightful but it also has a powerful intrinsic logic: he
starts by looking at the factors that bear on a person's reaction in the precise moment a
behavior occurs, and then hops back in time from there, in stages, ultimately ending up at
the deep history of our species and its evolutionary legacy.
And so the first category of explanation is the neurobiological one. A behavior occurs--
whether an example of humans at our best, worst, or somewhere in between. What went
on in a person's brain a second before the behavior happened? Then Sapolsky pulls out to
a slightly larger field of vision, a little earlier in time: What sight, sound, or smell caused the
nervous system to produce that behavior? And then, what hormones acted hours to days
earlier to change how responsive that individual is to the stimuli that triggered the nervous
system? By now he has increased our field of vision so that we are thinking about
neurobiology and the sensory world of our environment and endocrinology in trying to
explain what happened.
Sapolsky keeps going: How was that behavior influenced by structural changes in the
nervous system over the preceding months, by that person's adolescence, childhood, fetal
life, and then back to his or her genetic makeup? Finally, he expands the view to
encompass factors larger than one individual. How did culture shape that individual's
group, what ecological factors millennia old formed that culture? And on and on, back to
evolutionary factors millions of years old.
The result is one of the most dazzling tours d'horizon of the science of human behavior
ever attempted, a majestic synthesis that harvests cutting-edge research across a range of
disciplines to provide a subtle and nuanced perspective on why we ultimately do the things
we do...for good and for ill. Sapolsky builds on this understanding to wrestle with some of
our deepest and thorniest questions relating to tribalism and xenophobia, hierarchy and
competition, morality and free will, and war and peace. Wise, humane, often very
funny, Behave is a towering achievement, powerfully humanizing, and downright heroic in
its own right.
Denis Villeneuve
From Wikipedia, the free encyclopedia
Denis Villeneuve
OC CQ
Villeneuve at the 2018 Cannes Film Festival
Bécancour, Quebec, Canada
Film director
Occupation
film producer
screenwriter
Years active 1990–present
Children 3
Jacques Villeneuve (second-cousin)
Early life[edit]
Villeneuve was born on October 3, 1967, in the village of Gentilly in Bécancour,
Quebec, to Nicole Demers, a homemaker, and Jean Villeneuve, a notary. He is
the eldest of four siblings. His younger brother, Martin, also became a
filmmaker.[7][8]
Villeneuve attended the Séminaire Saint-Joseph de Trois-Rivières[7] and later
studied science at the Cégep de Trois-Rivières.[8] He studied cinema at
the Université du Québec à Montréal.[9]
Career[edit]
Villeneuve began his career making short films and won Radio-Canada's youth
film competition, La Course Europe-Asie, in 1991.[10]
August 32nd on Earth (1998), Villeneuve's feature film directorial debut,
premiered in the Un Certain Regard section at the 1998 Cannes Film Festival.
[11]
Alexis Martin won the Prix Jutra for Best Actor. The film was selected as the
Canadian entry for the Best Foreign Language Film at the 71st Academy
Awards, but was not nominated.[12][13]
His second film, Maelström (2000), attracted further attention and screened at
festivals worldwide, ultimately winning eight Jutra Awards and the award for
Best Canadian Film from the Toronto International Film Festival. He followed
that up with the controversial, but critically acclaimed black and white
film Polytechnique (2009) about the shootings that occurred at the University of
Montreal in 1989. The film premiered at the Cannes Film Festival and received
numerous honours, including nine Genie Awards, becoming Villeneuve's first
film to win the Genie (now known as a Canadian Screen Award) for Best Motion
Picture.[14]
Personal life[edit]
Villeneuve is married to Tanya Lapointe, a journalist and filmmaker,[49] and he
has three children from a previous relationship. [50] His younger brother, Martin
Villeneuve, is also a filmmaker.[51]
Filmography[edit]
Villeneuve with Josh Brolin, Emily Blunt, and Benicio del Toro at the 2015 Cannes Film
Festival premiere of Sicario
Feature films[edit]
200
Maelström Yes Yes No
0
200
Polytechnique Yes Yes No
9
201
Incendies Yes Yes No
0
Prisoners Yes No No
201
3
Enemy Yes No No
201
Sicario Yes No No
5
201
Arrival Yes No No
6
201
Blade Runner 2049 Yes No No
7
202
Dune Yes Yes Yes
1
202
Dune: Part Two Yes Yes Yes
3
Short films[edit]
199
La Course Destination Monde Yes No
0
199
REW FFWD[52] Yes Yes
4
199
Cosmos ("Le Technétium" segment)[53] Yes Yes
6
200
120 Seconds to Get Elected Yes Yes
6
200
Next Floor Yes No
8
201
Rated R for Nudity Yes Yes
1
Television[edit]
Yea Executive
Title Director Notes
r Producer
Reception[edit]
Critical, public and commercial reception of Villeneuve's directorial features.
Rotten Box
Metacritic[ BFCA[5 CinemaScor Budg
Film Tomatoes[ 56] 7] office[59]
55]
e[58] et [60]
$3.4 $0.3
Maelström 81% 66 71/100 N/A
million million
Polytechniq $6 $1.6
87% 63 N/A N/A
ue million million
Rotten Box
Metacritic[ BFCA[5 CinemaScor Budg
Film Tomatoes[ 56] 7] office[59]
55]
e[58] et [60]
$6.8 $16.1
Incendies 92% 80 87/100 N/A
million million
$46 $122.2
Prisoners 81% 70 85/100 B+
million million
$4.6
Enemy 71% 61 74/100 N/A N/A
million
$30 $84.9
Sicario 92% 82 89/100 A−
million million
$47 $203.4
Arrival 94% 81 88/100 B
million million
Blade
$185 $259.2
Runner 88% 81 87/100 A−
million million
2049
$165 $293.7
Dune 83% 75 TBD A−
million million
Accolades[edit]
Main article: List of awards and nominations received by Denis Villeneuve
Year Title
201
Incendies 1 1
0
201
Prisoners 1
3
201
Sicario 3 3
5
201
Arrival 8 1 9 1 2
6
Total 18 3 21 3 2 0
References