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TRABALHO FINAL
Resumo
Este projeto pretende analisar a partir da obra “Elite da Tropa” 1 de Luiz Eduardo
Soares, a estetização da violência na história como crítica a uma dimensão pouco estudada:
uma estética que orienta a insensibilidade histórica para as violências contemporâneas,
discutir a respeito do papel ou função da violência na historiografia fora dos espaços de
regimes de exceção, apontando a História pública e a mobilização de afetos como possíveis
ferramentas de apreensão e acolhimento de passados denegados pertencentes as camadas mais
periféricas de nossa população, além de propor que a partir da percepção do papel da
violência independente de seu tempo, conjuntura ou espaço geopolítico para historiografia,
poderíamos reconfigurar o horizonte histórico que nos está disposto, obliterando
possibilidades de esquecimentos e apagamentos memoriais e historiográficos.
Palavras-Chave
1 SOARES, Luiz. Eduardo; BATISTA, A.; PIMENEL, R. Elite da tropa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.
Adequação do projeto ao Programa e ao orientador indicado
O referido projeto se insere na linha 1 intitulada “Poder, Espaço e Sociedade”, pois visa
trafegar pela constituição social epistemológica de uma historiografia possível, a partir das
vozes denegadas, silenciadas e principalmente periféricas. Emular História, Temporalidades e
Ética em seus planos pragmáticos/epistemológicos e o conceito de passado irrevogável como
sugerido por Berber Bevernage, em História, Memória e Violência de Estado (2018) 2.
Neste contexto proferir um avivamento das memórias, reconhecer a incapacidade de “cura”
pela simples passagem do tempo ou opção pelo esquecimento(?), ou ainda um tempo como
“pacificador automático” (BEVERNAGE, p, 2018). O fazer-se pertencer a um tempo, história
e espaços reconhecíveis em seus coletivos e subjetividades dos menos privilegiados e
demonstrar que a não publicização sistemática das formas de violência institucionais cala e
silencia as vozes das camadas (ou classes) mais vulneráveis de nossa sociedade, ocultando
sujeitos e invisibilizando-os no tempo.
A função da violência sobre corpos e personas de menor valor e a ausência de um debate mais
profundo, sistematizado e tornado público, sobre o fenômeno da violência imposta as
camadas populares da população, naturaliza esta mesma violência lançando sobre ela uma
certa opacidade, sendo necessário relativizar a dicotomia entre democracia e autoritarismo
como marcos de um axioma conceitual que separa duas realidades. Tais violências atravessam
os tempos e regimes políticos se enraizando em nossa sociedade. A violência do estado não
precisou da ditadura para ser operada, precisou, assim nos parece, de um aparato institucional
e certa conivência “social”. Sendo mais claro, a violência contra as camadas mais
desassistidas de nossa sociedade faz parte de nossa contemporaneidade e até os dias de hoje,
assim se faz, um modo ou modelo de atuação de nossas instituições.
Da mesma forma como é apresentado na descrição da linha no sítio da pós-graduação3,
pretende-se investigar pela ótica da historiografia, os pressupostos e especificidades do jogo
de relações e posições que conduzem à configuração política e social, inscrita na experiência
dos sujeitos, nos campos da violência e sua contemporaneidade.
Este projeto se desenvolve a partir das leituras de dois livros do Professor; Doutor Marcelo de
Mello Rangel, proposto por nós como orientador do mesmo, sendo eles: Da ternura com o
passado: história e pensamento histórico na filosofia contemporânea4 e A História e o
2 Bevernage, Berber. História, memória e violência de Estado: Tempo e justiça: Edição do Kindle.2018
Delimitação do tema
Justificativa
Por que o debate sobre o papel da violência na historiografia: História pública e mobilização
de afetos em tempos contemporâneos? A análise sobre o papel e a naturalização da violência,
justificada como educadora, exemplar e necessária ao “bem viver”, e a constatação de que
essas mesmas violências vem sendo ressignificadas e acomodadas em nossas casas como
parte constituinte do mundo contemporâneo se apresenta como imprescindível para uma
retórica conservantista, e em contraponto que a partir destes debates historiográficos podemos
reconstruir e constituir possibilidades de afetos ligados aos passados tanto pelo
reconhecimento destes, quanto pelo devoluto lugar a que pertencem. Ademais construirmos
possibilidades de publicização para estes passados nos parece eficaz no sentido de
restabelecimento e pertença destes passados negligenciados, possibilitando uma atmosfera de
acolhimento para histórias e sujeitos. Tornar pública a história dos sujeitos sociais em suas
classes e encantos, em seus espaços e ambiências nos parece uma vereda a ser cruzada ou
caminho a ser percorrido no sentido de resgate, de pertencimento a um passado obscurecido,
talvez negligenciado. Para além de outras definições do que seria a história pública, aqui nos
interessa, principalmente, comunicar a história para audiências mais amplas, propor ou
interpor maior sentido de pertença das histórias e memórias individuais às histórias eruditas e
acadêmicas, assim inculcando a difusão, circulação, apropriação e recepção dos passados,
7 CATELA, Ludmila da Silva. Violencia política y ditadura em Argentina: de memorias dominantes, subterrâneas y denegadas. In: FICO,
Carlos; FERREIRA, Marieta de Moraes; ARAUJO, Maria Paula Nascimento; QUADRAT, Samantha Viz (Org). Ditadura e Democracia na
América Latina. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.
reafirmando as funções sociais da historiografia.
Em fim contribuir, apesar da alta complexidade do tema, para a discussão sobre o papel da
violência na historiografia: História pública e mobilização de afetos em tempos
contemporâneos.
Objetivos
Fontes
Hipóteses
Perspectivas Teórico-metodológicas
Ao pensar este projeto me deparei com algumas inquietações no que diz respeito ao
desencantamento ou perda de confiança em passados e futuros, passados não reconhecidos e
futuros aniquilados sob a perspectiva do (des)respeito, do (não)conhecimento e (in)alteridade
sobre os indivíduos e coletivos em suas temporalidades.
De acordo com Koselleck 8, as categorias de experiência e expectativa se equivalem as de
espaço e tempo para demonstrar, ainda que antropologicamente, como nos mobilizamos a
partir destas mesmas categorias. Os passados não nos orientam somente em conteúdos, mas
também em afetos com os quais podemos reorganizar expectativas. Destarte apreender suas
durações, mudanças, rupturas e permanências mobiliza melhores condições de
desenvolvimento e amadurecimentos afetivos ligados as temporalidades de passados e
futuros.
As “memórias” sobre violências institucionais contemporâneas são constantemente
adormecidas pelas objetividades cotidianas e seus instrumentais. Apesar de não haver simetria
entre o espaço de experiência e o horizonte de expectativa o obscurecimento destas
experiências influi e impede, de alguma forma, possibilidades de futuros, ou seja uma
dificuldade coletiva e singular de projetar futuros.
Assim demonstrado pela citação a bell hooks, as experiências precisam ser reveladas,
cogitadas como possibilidades para novas jornadas e posições. Os espaços para “quebra” da
insensibilidade histórica para as violências contemporâneas perpetradas as camadas mais
vulneráveis de nossa sociedade precisa ser apontado, demarcado e tornado público em suas
histórias. Deste modo a articulação pelo reconhecimento destas experiências vividas e
8KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro:
Contraponto; Puc-Rio, 2006.
8hooks, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: WMF Martins Fontes.
2017
viventes perpassa pela conquista dos espaços da História Pública para grandes e maiores
audiências possíveis, ocupando para além dos espaços escolares e acadêmicos os habitats
possíveis as divulgações de histórias obscurecidas, “assombradas” e denegadas de nossas
populações em maior vulnerabilidades socioeconômicas.
9 CERTEAU, Michel de. A escrita da história. tradução de Maria de Lourdes Menezes ;*revisão técnica [de]
Arno Vogel. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.