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Resumo
Nos últimos anos pôde-se verificar a valorização do local e do regional como contraponto ao
fenômeno da globalização desenfreada. Dessa forma, a relevância de estudos em
Administração voltados às questões regionais ganha cada vez mais evidência. Esta pesquisa
exploratória, com características de um delineamento documental, tem como objetivo
proporcionar maior conhecimento acerca do estudo de questões regionais promovido a partir
de um Programa de Mestrado em Administração (PMA) recomendado pela CAPES. Através
da coleta de dados secundários oriundos da análise dos documentos oficiais do programa, bem
como dos resultados práticos alcançados, foi possível verificar a realidade vivenciada por esse
PMA. Como resultado, fica evidente que a regionalidade é muito mais do que simplesmente
um neologismo empregado para rotular de forma diferenciada a proposta do PMA em foco.
Mais do que isso, a regionalidade constitui-se numa realidade possível que vem sendo
colocada em prática de forma pioneira para a construção e expansão do conhecimento na
ciência da Administração.
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1. Introdução
Poucos tópicos têm sido intensamente apresentados como desafios aos administradores
quanto a globalização. Com efeito, a globalização constitui o mais importante fato a marcar a
passagem do século. E não há como negar que a ela tenha contribuído para propiciar uma
sociedade com economia mais aberta e com maior liberdade para o intercâmbio de bens,
idéias e conhecimentos. Mas, por outro lado, também não se pode esconder sua outra face: o
desenvolvimento de relações econômicas fundamentadas nas exigências dos conglomerados
transnacionais, a concentração da capacidade de informação dos detentores do poder, a
organização de um sistema financeiro dominado pelos interesses dos países economicamente
mais poderosos, a descaracterização das culturas locais e a retomada da força do liberalismo
como ideologia e prática.
A globalização não trouxe, principalmente para os mais pobres da terra, o que prometeu. Ela
não pode, portanto, continuar sem a definição de um novo contexto de valores, posturas éticas
e normas para proteger os bens comuns da Humanidade. Tanto é que um número cada vez
maior de vozes levanta-se contra os efeitos perversos da globalização, como a de Stiglitz
(2002), ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2001 que, em seu livro A globalização e
seus malefícios, já afirmava que a globalização não traz benefícios aos pobres do mundo, não
resolve os problemas ambientais e não contribui para a estabilidade da economia mundial.
Stiglitz (2006) reafirma essas teses em sua mais recente obra Making globalization work, na
qual compara o sucesso econômico dos países asiáticos, que mantiveram distância das
recomendações do FMI, com a instabilidade crescente dos países latino-americanos, que
seguiram à risca as políticas do Consenso de Washington.
Mas nem todas as reações à globalização são constituídas por críticas. Como reação, e em
parte como conseqüência à globalização, constituem-se novas alianças, novos arranjos
institucionais e principalmente novas idéias. E uma das mais visíveis respostas a esse estado
de coisas é constituída pela valorização do local e do regional. A ponto de já se cunhar o
neologismo glocalização.
Essa tendência vem contribuindo para que nos meios acadêmicos se discuta com ênfase cada
vez maior questões de natureza conceitual e teórica relativas à região e conseqüentemente ao
regionalismo. Constata-se que programas multidisciplinares de mestrado e doutorado têm
voltado suas pesquisas para os estudos urbanos e regionais. Muitos programas nas áreas de
Geografia, Economia e Sociologia, por sua vez, vêm inserindo linhas de pesquisa relacionadas
à atuação regional. No campo da Administração não se verifica, ainda, uma significativa
quantidade de cursos, publicações e eventos voltados às implicações do regional sobre o seu
objeto de estudo. Mas em alguns Programas de Mestrado e Doutorado, sobretudo naqueles
que apresentam linhas de pesquisas contemplando o setor público e as organizações sem fins
lucrativos, já se constata o incentivo aos trabalhos de pesquisa que enfatizam programas,
projetos e ações regionais.
Assim sendo, este estudo tem como objetivo analisar um Programa de Mestrado em
Administração (PMA) de uma universidade pública municipal localizada no Estado de São
Paulo, que tem na regionalidade seu principal eixo de pesquisa. Mais especificamente,
analisar seus objetivos, bem como os principais desdobramentos práticos existentes – plano
curricular, disciplinas oferecidas, interdisciplinaridade, grupos de pesquisa e os resultados
alcançados – publicações em periódicos e eventos, bem como elaboração de livros e capítulos
de livros.
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2. Referencial Teórico
À medida que os estudos regionais passam a ocorrer em distintos cenários acadêmicos, torna-
se necessário estabelecer um sistema conceitual para conferir clareza e precisão aos termos
utilizados. Procede-se, então à apresentação e discussão dos conceitos de região, regionalismo
e regionalidade.
2.1. Região
O termo região, do ponto de vista acadêmico, tem sido utilizado principalmente no âmbito da
Geografia. Mas contemporaneamente a região não deve ser entendida como uma estrutura
rígida, uma vez que seus limites não são necessariamente fixados em termos geográficos ou
jurisdicionais. Assim, de acordo com Gil, Klink e Santos (2004), a região vem sendo
entendida em função de múltiplos aspectos, tais como: fatores produtivos predominantes, fuga
de fatores regionais de produção, demandas locais, articulações sociais, empreendimentos
comuns, desafios competitivos e negociações com instâncias supra-regionais. O que significa
que regiões não podem mais ser vistas como entidades eminentemente geográficas. Sua
construção passa a requerer elementos de ordem econômica, política, social, cultural e mesmo
psicológica, já que as regiões podem ser entendidas de forma abstrata, também como
representações mentais (VÄYRYNEN, 2003).
De acordo com essas novas acepções, a região não se define apenas por uma homogeneidade
de condições naturais. Para Frémont (1976), ela é mais do que isso: é um espaço sentido e
vivido pelos seus habitantes. De forma complementar, Boisier (1999) sustenta que a região é
um fato histórico e cultural, bem como uma construção social. Não é apenas a condição de
uniformidade do espaço que a define, mas, acima de tudo, a consciência coletiva desse
espaço. A região passa a ser vista como uma totalidade humano-espacial. Essa complexidade
inerente ao conceito de região é abordada por Santos (2002), ao argumentar que o estudo de
uma região implica penetrar num mar de relações, formas, funções, organizações, estruturas,
etc., o que obrigatoriamente desdobra-se ainda em diferentes níveis de interação e
contradição.
2.2. Regionalismo
O uso do conceito de região conduz ao regionalismo, que pode ser definido de várias formas.
Como o sentimento de apego individual ou coletivo à região à qual se pertence por
nascimento ou vivência, ou como uma doutrina política que defende a distinção de uma região
dentro de um estado sem reclamar a completa independência. Ou, ainda, como a identificação
consciente, cultural, política e sentimental que grandes grupos de pessoas desenvolvem com o
espaço regional. Mas todas essas definições implicam o uso político da identidade regional.
Com efeito, toda região tem uma identidade política que gira ao redor de interesses, de
obrigações e de necessidades. O regionalismo está no uso dessa identidade para disputar
espaços de poder.
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fundamenta o regionalismo: homogeneidade social e cultural; atitudes políticas ou
comportamento externo; instituições políticas; interdependência econômica e proximidade
geográfica.
2.3. Regionalidade
Para Hettne (1999), esse processo evolui, de modo geral, em cinco etapas, de acordo com as
características observadas na região: 1) região como unidade geográfica, delimitada em maior
ou menor grau pelas barreiras físicas e marcada por características ecológicas; 2) região como
sistema social, com relações de várias naturezas entre grupos em diferentes localidades; 3)
região como organização formal para cooperação em alguns campos culturais, econômicos,
políticos e militares; 4) região como sociedade civil, que toma forma quando o arcabouço
organizacional promove a comunicação social e a convergência de valores por toda a região;
5) região como formação histórica com identidade própria que pode ser expressa na formação
de uma micro-região com auto-determinação e autoridade que é obtida do Estado que a inclui.
3. Metodologia
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A presente pesquisa pode ser definida como um estudo exploratório, já que tem como
propósito ampliar o conhecimento acerca do tema com vistas a estimular a reflexão para o
desenvolvimento de novos estudos. Nesse sentido assume as características de um
delineamento documental com o objetivo proporcionar maior conhecimento acerca do tema
proposto, já que a coleta de dados foi realizada através de dados secundários oriundos da
análise dos documentos oficiais do PMA (relatórios Coleta CAPES, disciplinas oferecidas,
planos de ensino, ementas, conteúdos programáticos, planejamento da interdisciplinaridade,
periódicos e eventos desenvolvidos); além dos resultados práticos alcançados (publicações em
periódicos e eventos externos, elaboração de livros e capítulos de livros).
O programa de mestrado analisado está sediado num dos sete municípios que compõem o
chamado Grande ABC Paulista. Foi constituído em 1998, num momento tão expressivo
quanto dramático para a região. O Grande ABC, provavelmente mais do que qualquer outro
grande conglomerado urbano brasileiro, sentiu os efeitos negativos dos processos de mudança
nas plantas industriais que caracterizaram a última década do século XX. Os dirigentes, os
moradores, os industriais, os comerciantes – enfim, todos os atores sociais – passaram a
conviver com fatos com os quais não estavam acostumados: fuga de empresas, diminuição de
postos de trabalho, desemprego e necessidade de readaptação às novas realidades.
Essa situação contribuiu para mobilizar agentes públicos, empresários, sindicalistas, imprensa
e lideranças da sociedade civil. Mobilização essa que contribuiu para a constituição de
expressivos arranjos institucionais, como o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, a
Câmara Regional do Grande ABC, o Fórum da Cidadania e mais tarde a Agência do
Desenvolvimento Econômico do ABC.
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x Formar docentes e pesquisadores para a produção de conhecimento acadêmico em
torno de dois eixos estruturantes: Regionalidade e Gestão, e Inovação
Organizacional;
x Analisar e criticar metodologias de avaliação de projetos sociais focados em temas
próprios da Regionalidade e da Gestão e Inovação Organizacional;
x Estimular o processo de abertura da Universidade para promover discussões teóricas
sobre temas de Regionalidade e Gestão e Inovação Organizacional com os diversos
agentes da sociedade civil, política, econômica, de modo que se possa sistematizar e
registrar conhecimentos e experiências;
x Fomentar a criação de uma "consciência regional" e de uma "identidade regional".
As disciplinas oferecidas pelo PMA pesquisado foram reunidas em dois grupos: aquelas
diretamente vinculadas ao Desenvolvimento da Regionalidade e as demais que atuam como
complementares ou extensivas a essa linha de estudo. Estes dois conjuntos de disciplinas são
apresentados na Quadro 1:
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pesquisa. Para tanto, foram constituídos diversos Grupos de Pesquisa junto ao Diretório dos
Grupos de Pesquisa no Brasil do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq, 2007). É o que mostram os dados do Quadro 2.
Os dados acima demonstram a regionalidade como tema fortemente presente nos Grupos de
Pesquisa cadastrados. Tal situação sugere um alto comprometimento do PMA com sua área
de estudo principal, a Regionalidade. Além disso, também indica a potencial continuidade da
construção e disseminação de conhecimento sobre a Regionalidade como área de estudo da
Administração, principalmente através das publicações oriundas de docentes e discentes
pertencentes a esses grupos de pesquisa.
A partir dos dados disponíveis nos Relatórios Coleta CAPES do triênio 2004-2006 foi
possível estabelecer alguns parâmetros para um melhor entendimento da repercussão da
produção intelectual do PMA analisado, conforme exibe o Quadro 3 abaixo:
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4.6. Editoria de Periódicos
O PMA edita dois periódicos com a finalidade de promover estudos sobre a Regionalidade na
Administração: Cadernos de Pesquisa e Revista Gestão & Regionalidade. No caso
específico deste último periódico, pôde-se verificar que ele tem sido um espaço aberto ao
debate de questões ligadas à região, ao regionalismo e à regionalidade associadas à
Administração. Nesse sentido, constatou-se que artigos oriundos de diferentes regiões do país
são publicados, evidenciando-se assim uma noção de pluralidade da regionalidade através de
diferentes realidades e vivências desse tema na Administração.
A Revista Gestão & Regionalidade foi originariamente lançada em 1983 com outra
denominação. Mas a partir de 2005 foi adotado o atual título, consolidando-se assim o
alinhamento entre a publicação e a linha de pesquisa do PMA. Esse periódico tem como
missão contribuir para a geração e disseminação de conhecimento na área de Administração,
considerando-se as sub-áreas tradicionais desta ciência e incorporando-se estudos que
abordem o tema regionalidade. Trata-se de um periódico generalista na área de
Administração, mas que busca se aprofundar em temas que associam gestão empresarial à
regionalidade, bem como os seus desdobramentos.
Os estudos regionais são desenvolvidos na maioria das instituições de ensino e pesquisa como
temas multidisciplinares. De fato, fica muito difícil tratar de temas relativos às questões
regionais sem fazer considerações de natureza geográfica, demográfica, econômica ou
sociológica. Por outro lado, a Administração, enquanto disciplina científica, é também de
natureza multidisciplinar. Como envolve o estudo de pessoas, grupos e organizações, requer
naturalmente o concurso de conceitos e métodos da Psicologia, da Psicologia Social e da
Sociologia. Assim, muitas das atividades do PMA são desenvolvidas com o concurso de
professores e pesquisadores de outras áreas.
5. Conclusões e Sugestões
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deste PMA. Mais do que isso, o regionalismo constitui-se numa realidade possível que vem
sendo colocada em prática de forma pioneira para a construção e expansão do conhecimento
na ciência da Administração.
Referências
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VÄYRYNEN, Raimo. Regionalism: old and new. International Studies Review. v. 5, n. 1,
mar. 2003, p. 25-51.
WALLIS, Allan. The new regionalism: inventing governance structures for the early twenty-
first century. 2003. Disponível em: <http://www.munimall.net/eos/2002/wallis_
regionalism.nclk>. Acesso em: 28 abr. 2004.
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