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Introdução
⇨ explicitar os objetivos para o ensino de língua portuguesa, tendo em vista o perfil do usuário da
língua(gem) que se pretende formar;
⇨ fornecer subsídios teóricos e metodológicos aos professores de Língua Portuguesa na
definição dos eixos estruturantes dos objetos de ensino (práticas de linguagem: escuta,
leitura, produção oral e escrita, análise lingüística) a serem desenvolvidos nas
propostas pedagógicas das escolas;
⇨ resignificar o ensino noturno de língua portuguesa;
⇨ fornecer subsídios teóricos e metodológicos para a prática de avaliação de ensino
aprendizagem de Língua Portuguesa.
O sentido que se atribui ao texto é, de certo modo, efeito do foco que se estabelece
na/para sua leitura. Por isso, chama-se atenção para que o professor considere que a proposição
de Referenciais Curriculares de Língua Portuguesa para o Ensino Médio do Estado da Paraíba é
tarefa que se realiza por meio da discussão e da defesa de uma concepção de ensino e dos
objetos de ensino. Nesse sentido, a discussão sobre o papel da disciplina Língua Portuguesa no
contexto da ação docente envolve, necessariamente, a reflexão sobre o projeto político
pedagógico de cada escola, contexto em que as orientações aqui apresentadas devem ser
discutidas, compreendidas e (re)significadas.
1
freinaldo@uol.com.br Professora Associada IV do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino da Universidade Federal
de Campina Grande Sol Central(PB). Atua na área de Linguística, com ênfase em Linguística Aplicada, principalmente no ensino e
na orientação de pesquisas sobre ensino de língua materna, formação de professor e análise de material didático. 2
Maura.dourado@gmail.com Professora Associada IV da Universidade Federal da Paraíba-João Pessoa. Realiza e orienta pesquisas
sobre educação linguística, o processo de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras em contexto escolar, desenvolvimento de
capacidade linguístico-discursiva na LE, currículo e formação de professores, avaliação e elaboração de
1. A língua como uma forma de manifestação da linguagem
As reflexões produzidas, nos últimos anos, sobre a língua e a linguagem, bem como sobre
o processo de ensino e de aprendizagem de línguas, provocaram o debate em torno da
necessária revisão desse objeto de ensino. Percebeu-se que o ensino centrado na concepção de
língua como código - sistema composto de regras fonológicas, lexicais e sintáticas relativamente
estáveis - é insuficiente para que o aluno se engaje em práticas de linguagem, em que a língua é
apenas uma de suas formas de manifestação.
As Orientações Curriculares do Ensino Médio (2004), inspiradas nos recentes estudos de
letramento, chamam a atenção para o fato de que as práticas de linguagem integram diferentes
sistemas (imagens, sons, gestos, movimentos, cores e designs), mobilizando saberes para além
da letra, cada vez mais freqüentes no cotidiano do mundo multisemiótico contemporâneo:
Num mundo onde as diferentes linguagens não andam separadas, mas se apresentam sempre
em textos e discursos multimodais3– tanto nos impressos, como revistas de variedades, de
divulgação científica, nos jornais, nos livros didáticos, como em ambiente digital multimidiático4
-, compreender e produzir textos não se restringe mais ao trato do verbal (oral ou escrito), mas
à capacidade de colocar-se, em relação às diversas modalidades de linguagem – oral, escrita,
imagem, imagem em movimento, gráficos, infográficos -, para delas retirar5sentido (p.31)
materiais didáticos sensíveis a diferentes estilos de aprendizagem, interface entre neurociência e educação, abordagens críticas de
ensino de lingua(gem).
3
Discursos multimodais são discursos que se apresentam nas diferentes modalidades, quais sejam: escrita,
oral, digital etc
4
Ambiente multimidiático refere-se às diferentes mídias escrita, falada, digital.
5
Retirar, nesse contexto, não implica que o sentido seja imanente ao texto, cabendo ao leitor retirá-lo. O
termo é usado como ‘atribuir’, ‘imprimir’, ‘construir’ sentido pelo leitor, a partir se seu conhecimento prévio de
mundo, de texto e de língua.
6
Está-se considerando mais especificamente a contribuição dos estudos de Bakhtin (Filosofia da
Linguagem), Bronckart (Psicologia), Vygotsky ( Psicologia do Desenvolvimento).
determinado pelas suas condições de produção que, como esclarecem os PCNEM (2002),
incluem:
O contexto, os interlocutores, gêneros discursivos, recursos utilizados pelos interlocutores para
afirmar o dito/escrito, os significados sociais, a função social, os valores e o ponto de vista
determinam formas de dizer/escrever. As paixões escondidas nas palavras, as relações de
autoridade, o dialogismo entre texto e o diálogo fazem o cenário no qual a língua assume o
papel principal (p.143)
7
Esse plano de análise corresponde à dimensão sócio-pragmática e discursiva, denominação adotada nas
OCEM (2006).
fechado e imutável, mas como processo dinâmico de interação, em que interlocutores atuam
discursivamente sobre o outro.
A língua realiza-se por meio de textos, definidos como um todo significativo,
independentemente de sua extensão, e concretizados por meio de formas sócio-historicamente
estabilizadas, denominadas gêneros textuais. Os gêneros textuais, por sua vez, sob diferentes
modos de realização oral (conversa, entrevista, debate, exposição etc) ou escrita (bilhete, notícia,
entrevista, editorial etc), atendem a diferentes domínios discursivos (esferas sociais) ou da
atividade social - interpessoal (cotidiana), lazer, jornalística, literária (ficcional), científica, escolar,
jurídica, virtual, publicitária, religiosa, entre outras. São veiculados em diversos suportes materiais
impressos (jornais, revistas, livros, cartazes), eletrônicos (rádio, tv etc) e virtuais/digitais (sites,
blogs) que determinam o modo de elaboração e compreensão das práticas de linguagem.
Uma outra consideração relevante sobre o caráter dinâmico da língua diz respeito às
variações dialetais e de registro. As variações dialetais são decorrentes das diferenças
geográficas e culturais enquanto as variações de registro decorrem das diferenças situacionais.
Ambas são legítimas, não havendo superioridade intrínseca do ponto de vista lingüístico; todavia,
por determinação das convenções sociais, algumas dessas variações passam a ser mais
valorizadas que outras.
O trabalho de educação lingüística, tarefa da escola, consiste em promover situações de
aprendizagem que favoreçam ao aluno o domínio ativo, crítico e contextualizado das variedades
de prestígio e o desenvolvimento de atitudes de respeito à diversidade e de rejeição aos vários
tipos de preconceito e de exclusão social pela linguagem. Para isso, são necessárias ações de
ensino e aprendizagem, centradas no texto oral e escrito - produzido nas várias esferas sociais,
bem como aquele produzido pelo próprio aluno - como objeto de transformação de saberes
lingüísticos, textuais e enunciativos, que são as diferentes dimensões envolvidas na atualização
de determinado gênero.
São apresentados a seguir alguns conceitos-chave dos fenômenos lingüísticos, textuais e
enunciativos constitutivos das práticas de linguagem e que, portanto, devem ser considerados no
trabalho de consciência lingüística e metalingüística necessária à formação do aluno de ensino
médio.
À luz do quadro teórico aqui esboçado, chama-se a atenção para o fato de que a língua
não se esgota na compreensão de sua estrutura, mas remete à exterioridade. Faz-se necessária
a descrição não apenas dos enunciados, efetivamente produzidos pelos usuários, mas também
do processo de enunciação (condições de produção relativas a tempo, lugar, papéis
representados pelos interlocutores, imagens recíprocas, relações sociais, objetivos visados na
interlocução) como constitutivo do(s) sentIdo(s) desses enunciados, e determinante das escolhas
lingüísticas realizadas. Por serem os fenômenos textuais e enunciativos considerados relevantes
para a prática pedagógica, apresenta-se a seguir breve caracterização de alguns deles.
Dêixis
O mundo é grande
(Carlos Drummond de Andrade. Poesia e prosa. Rio de Janeiro. Nova Aguilar, 1983.)
A expressão nominal Nesta janela (verso 3) tem, neste poema, emprego referencial
dêitico, porque o lugar a que faz referência só pode ser localizado em relação à instância da
enunciação do eu-lírico.
Modalização
O uso dos recursos modalizadores parece estar relacionado ao gênero a que pertence o
texto. As unidades de modalização apreciativa (adjetivos e expressões qualificadoras) podem, por
exemplo, estar quase ausentes em obras enciclopédicas, ou em manuais científico, pois nesses
textos os elementos constitutivos do conteúdo tendem a apresentar-se como dados absolutos ou
“subtraídos à avaliação”, seguindo as convenções implícitas na argumentação científica, como por
exemplo, o uso de expressões não categóricas, especialmente relacionadas ao conhecimento,
como o auxiliar modal poder, indicador de possibilidade epistêmica, no trecho a seguir :
O fenótipo de um indivíduo sofre transformações com o passar do tempo. Por exemplo, à medida que
envelhecemos, nosso corpo se modifica. Fatores ambientais podem alterar o fenótipo: se ficarmos
expostos à luz do sol, nossa pele escurecerá.
Amabis & Martho. Biologia das populações. São Paulo: Ática, 1995
Por outro lado, as unidades de modalização apreciativa podem ser freqüentes em panfletos
políticos, textos jornalísticos, etc, dado que, nestes, os elementos do conteúdo temático são
objeto de debate, discussão, e, portanto de avaliação, função cumprida sobretudo pelos adjetivos
qualificadores, que ajudam na construção de uma argumentação positiva ou negativa.
Nessa afirmação, a polissemia da língua produz uma ironia, ancorada nas palavras
esquerda e direita: a primeira evoca a referência genérica aos críticos da situação governista, e a
segunda assume, ao lado da designação habitual de situação governista, a qualificação de
“correta”, “honesta”.
Essa articulação é atendida pela coesão, fator de textualidade que diz respeito ao inter
relacionamento entre os elementos lingüísticos, através de dois grandes movimentos de
construção do texto: a) a coesão referencial, realizada por meio de substantivos, artigos e
pronomes, que se referem a elementos anteriores (anáfora) ou a elementos posteriores (catáfora)
no texto; e b) a seqüenciação entre as partes do texto, realizada por meio de conectivos,
advérbios e verbos. Ambos os movimentos indicam, sinalizam, instruem o ouvinte/leitor, que
estabelece a relação de sentido.
Intertextualidade
Fenômeno que ocorre quando, em um texto, está inserido outro texto (intertexto), que faz
parte da memória social de uma coletividade ou da memória discursiva dos interlocutores. A
intertextualidade é explícita, quando, no próprio texto, é feita menção à fonte do intertexto
(citações, referências, resumos, resenhas ). Tome-se, por exemplo, o trecho de reportagem a
seguir, em que autor indica a fonte e cita uma de suas partes.
O nome Severino Cavalcanti é uma contradição em termos. Em Pernambuco se diz que o estado é
dividido entre duas categorias: a dos cavalcantis e a dos cavalgados. O nome Cavalcanti faz supor,
portanto, que seu portador ocupa a metade de cima, nos atropelos da cavalgada. Mas o nome Severino é
de outra extração. João Cabral de melo Neto assim o caracterizou, no poema Morte e Vida Severina:
Até que enfim uma lavadeira semi-automática que lava até 5 calças jeans10.
Implícitos
a)pressupostas, idéias não expressas de modo explícito, que decorrem logicamente do sentido de
certas palavras ou expressões contidas na frase. Na afirmação acima apresentada (No Brasil nem
a esquerda é direita), a negativa “nem” é responsável pela informação pressuposta de que “No
Brasil não há instituição política correta”. Esse efeito de sentido não seria observado, por
exemplo, se a negativa usada fosse “não”. Outro exemplo se encontra na afirmação Paulo tornou
se um antitabagista convicto. A informação implícita é a de que antes Paulo não era um
antitabagista convicto, o que decorre do uso do verbo tornar-se.
9
Exemplo extraído de Koch e Elias, 2006, p. 90
10
Idem, p.94.
b) subentendidas, insinuações, não marcadas lingüisticamente, contidas em uma frase ou
conjunto de frases. A frase Que frio terrível! , pronunciada num ambiente em que há uma janela
aberta, por onde entra vento, pode estar insinuando uma solicitação para fechar a janela.
Heterogeneidade e Polifonia
Antigamente nem o policial podia expor sua arma; era obrigado a carregá-la no coldre, presa. Hoje “os
homens da lei” exibem como troféus suas escopetas, metralhadoras e fuzis.
11
Exemplo extraído de Koch (1997), p. 53.
Como objetivos específicos, o ensino da Língua Portuguesa deverá promover situações de
aprendizagem que possibilitem aos alunos:
∙ escutar e ler textos orais e escritos, observando as condições de produção inerentes às
situações de interação social;
∙ produzir textos orais e escritos, atendendo às múltiplas demandas sociais e considerando
as condições de produção impostas pelas situações de interação social; ∙ sistematizar
conhecimentos lingüísticos, textuais e enunciativos.
2. Eixos estruturantes dos conteúdos/objetos de ensino: quais são e como se
apresentam?
O trabalho com os gêneros orais deve ser sistemático, intencional, planejado e reflexivo, a
fim de possibilitar a ampliação do universo enunciativo dos alunos de forma não incidental, mas
consciente. São apresentados, a seguir, alguns procedimentos didáticos que ancoram a fala do
aluno, orientando-a em função dos parâmetros da situação de comunicação (o espaço, o tempo,
os interlocutores e seu lugar social, os objetivos e as especificidades do gênero textual):
As reflexões construídas sobre a leitura enfatizam que ler é reescrever o que lemos,
descobrindo a relação entre o texto, o seu contexto e o contexto do leitor. A escola deve preparar
o indivíduo “para ler como um escritor e não somente como um leitor” (Sautchuk, 2003) . Ao ler
como um escritor, o aluno estará desenvolvendo não apenas as estratégias de leitura, mas
também habilitando-se a exercer as mesmas estratégias numa situação de escrita posterior.
Por essa razão, para se tornarem leitores competentes, os alunos devem ter acesso a
diversos gêneros de texto, desenvolvendo hábitos de leitura que se constroem a longo prazo, de
forma progressiva. Durante o ato de ler acontecem, simultaneamente, várias solicitações ao
cérebro, por isso é necessário automatizar e desenvolver habilidades que são complexas, se se
pretende que os alunos pertençam, de fato, ao mundo dos que lêem com rapidez e naturalidade.
Essa exigência de ordem cognitiva faz com que a leitura nem sempre esteja associada ao
prazer. Muitas vezes os alunos se sentem desconfortáveis, constrangidos por não terem
conseguido realizar com sucesso a tarefa de ler um texto. Alguns fatores contribuem para esse
quadro: o conteúdo, a forma do texto, as habilidades requeridas (atenção, concentração,
acuidade, etc), o momento, o interesse, entre outros.
Algumas condições devem ser observadas, tendo em vista viabilizar a prática de ensino da
leitura. Deve-se ter a clareza de que existem vários tipos de leitura com objetivos diversos, sendo
inadequado, portanto, o tratamento uniforme para a leitura de todos os textos. A produção de um
esquema, por exemplo, pode ajudar na compreensão de um texto de divulgação científica, mas a
utilização desse procedimento para compreensão de um texto literário pode ser inadequada,
dependendo do objetivo que se quer alcançar.
Apresentam-se a seguir algumas sugestões de condições favoráveis ao trabalho de
formação de leitores:
⇨ Existência de uma biblioteca em que sejam colocados à disposição dos alunos, inclusive para
empréstimo, textos de gêneros variados, materiais de consulta nas diversas áreas do
conhecimento - jornais, revistas, filmes, entre outros.
⇨ Disponibilidade, nas salas de aula, de um acervo de livros e de outros materiais de leitura, de
modo a permitir a diversificação de situações de leitura por parte dos alunos.
⇨ Organização pelo professor de momentos de leitura livre, em que ele próprio leia, criando um
circuito de leitura, em que se fala sobre o que se leu, trocam-se sugestões, aprende-se
com a experiência do outro.
⇨ Planejamento pelo professor de atividades regulares de leitura, assegurando que tenham a
mesma importância dada às demais atividades. Nessas atividades, a leitura por si só já
representa um trabalho, não sendo necessário que a cada texto lido se siga um
conjunto de tarefas a serem realizadas.
⇨ Permissão pelo professor para que os alunos escolham suas leituras. Fora da escola, os
leitores escolhem o que lêem. Há necessidade de se cultivar o componente livre da
leitura, sob pena de que, ao saírem da escola, os alunos deixem os livros para trás.
⇨ Organização da escola em torno de uma política de formação de leitores, envolvendo toda a
comunidade escolar. Mais do que a mobilização para aquisição e preservação do
acervo, é fundamental um projeto coerente de todo o trabalho escolar em torno da
leitura, em que não apenas o professor de língua Portuguesa, mas também os
professores das demais disciplinas sejam professores de leitura.
I. Leitura autônoma
12
Adaptados da ficha de avaliação das atividades de leitura no livro didático (Guia do Livro didático de Língua
Portuguesa, 2005). As dimensões da leitura se encontram mais detalhadas na seção 2. 2.1.
alunos podem ser estimulados a antecipar eventuais rumos que a narrativa, por exemplo, pode
tomar, criando expectativas para a leitura dos segmentos subseqüentes. Ainda no momento da
discussão, o professor pode introduzir informações a respeito da obra, do contexto de sua
produção e circulação, da articulação que estabelece com outras obras; enfim, dados que
possam contribuir para a realização de uma leitura que não se detenha apenas no plano do
enunciado, mas articule elementos representativos dos planos expressivo e estético, quando for o
caso de obras literárias.
Outra prática de leitura programada pode ser desenvolvida, de forma diversificada e
gradativa, com o suporte ‘jornal’, a partir de procedimentos como os que seguem:
socialização das diferentes seções e cadernos;
A leitura espontânea é uma situação didática proposta com regularidade, adequada para
desenvolver o comportamento de leitor (atitudes e procedimentos desenvolvidos pelo leitor
assíduo, como formação de critérios para seleção de material a ser lido, rastreamento de obras de
autores preferidos). O objetivo explícito é a leitura em si, como criação de oportunidade para
constituição de padrões de gosto pessoal.
Nessa situação, pode-se temporariamente eleger um gênero específico, um determinado
autor ou um tema de interesse. A partir dessa decisão, os alunos escolhem o que desejam ler, no
suporte que desejarem ler. No dia combinado, parte deles relata suas impressões, comenta o que
gostou ou não, o que pensou, sugere outros títulos do mesmo autor, ou do mesmo tema ou ainda
mesmo gênero.
O ensino de produção de textos não deve ser enfocado como um procedimento único e
global, válido para qualquer texto, mas como aprendizagens específicas de variados gêneros
textuais, que se organizam, de forma diversificada, em seqüências textuais (narrativas,
descritivas, dialogais, explicativas, argumentativas). Com efeito, há necessidade de que o aluno
tome consciência das situações particulares de comunicação escrita, segundo o objetivo que
pretende alcançar (convencer, divertir, explicar, relatar,etc.); o destinatário do texto (pais, irmãos,
colegas da classe, de outra classe ou de outra escola, professores, autoridades); o suporte e
esfera de circulação (ficha de apresentação em sala de aula, mural da classe ou da escola, jornal
da classe ou da escola, jornal da cidade, revista, livro).
Considerando-se que, para aprender a escrever um texto de determinado gênero, é
necessário que o aluno entre em contato com exemplares de textos representativos desse mesmo
gênero de referência, o professor deve providenciar situações de comunicações bem definidas,
precisas e, na medida do possível, reais: uma verdadeira descrição de uma catedral para figurar
num guia turístico; uma verdadeira receita culinária para figurar numa coletânea de receitas, etc. A
produção deve ser antecedida da leitura e análise de textos produzidos em situações similares:
verbetes de enciclopédias, guias turísticos, livros de receitas. Nessa análise, devem ser
enfocados, no texto, as suas condições de produção, o tema, a organização composicional e o
estilo (configuração das unidades lingüísticas: seleção lexical, organização sintática).
● retextualização: escrita de textos, a partir de textos orais ou escritos, tomados como base.
Considerando que a retextualização é a produção de um novo texto a partir de outro, a mudança
de propósito em relação ao texto que se toma como base constitui o condutor da atividade. Isso
pode ser realizado, em tarefas de produção de resumos, resenhas e em pesquisas bibliográficas,
que devem estar sempre orientadas por um objetivo específico.
A preocupação com a orientação para produção de textos escritos se encontra nos PCN
de LP (1998, p.58). Alinhando-se aos estudos lingüísticos, de inspiração sócio-interacionista, esse
documento, recomenda a observação de, além do tema, quatro elementos necessários para o
trabalho de orientação para a produção de textos escritos – finalidade, especificidade do gênero,
lugares preferenciais de circulação e interlocutor eleito. Isso significa que os comandos para essa
atividade devem situar o aluno em relação ao contexto de produção do texto solicitado, definindo
os parâmetros que podem exercer influência sobre a forma como um texto se organiza.
Essa orientação oficial para a didatização dos gêneros na escola torna “envelhecidas”,
porque distanciadas do saber de referência científica, práticas de ensino de produção de texto em
que a mediação do professor tende a não contemplar esses elementos orientadores do processo
de textualização. Com efeito, o espontaneísmo dos comandos orais para produção de texto
escrito responde, em parte, pela dispersão na resolução da tarefa, manifestada nas já conhecidas
dificuldades de tomadas de decisão do aluno produtor, em termos de planejamento e gestão do
texto escrito. Os resultados do trabalho desenvolvido por Reinaldo e Sant’ana (2005) e Reinaldo
(a sair) demonstram ser este tema um objeto de ensino relevante para a formação do professor
de língua.
∙ Ações de escrita:
√ ortografia e acentuação;
√ construção e reformulação: substituição, deslocamento, apagamento e acréscimo de
segmentos textuais de diferentes extensões e natureza: oração, período, parágrafo,
seqüência textual;
√ função e uso da topografia do texto: disposição do texto na página, sua paragrafação,
sua subdivisão em seqüências, a eventual divisão em colunas, os marcadores de
enumeração, entre outros, e de elementos tipográficos essenciais à produção de sentidos (
pontuação, com especial atenção para o uso das aspa, parênteses e travessões).
Exemplo 1:
(Veja, 17 de agosto, 2005)
o objeto em análise é um anúncio, gênero da esfera publicitária, que tem como suporte uma
revista de circulação nacional, e como destinatário um público constituído por indivíduos de
alto padrão aquisitivo;
o objetivo sociocomunicativo do texto, ao anunciar os serviços prestados pelo Citibank, é
estimular o leitor a construir uma imagem de comodidade e praticidade na resolução dos
compromissos financeiros. Para o alcance desse propósito, um conjunto de recursos entram
na composição do texto, devendo por isso ser tomado como objeto de ensino.
Em primeiro lugar, destaca-se a orientação argumentativa, que distribui e organiza as
informações em favor dos interesses do enunciador, no caso, a instituição financeira Citibank. Sob
esse aspecto, chama a atenção o título, que faz referência a duas ações valorizadas na ideologia
da sociedade contemporânea – trabalho e lazer. Já no próprio título, essa forma de referência
provoca efeitos em relação ao modo como se constrói o enunciado, que se apresenta em forma
de seqüência injuntiva, com o objetivo de fazer o destinatário agir de determinado modo,
configurado nas duas ações opositivas: trabalhar (reiteradamente sinalizada) e desfrutar de lazer
(referenciada nas vírgulas, que simbolizam pausas), sendo a segunda ação garantida pela
instituição, que cuida dos assuntos financeiros.
Coerente com essa orientação, o texto se organiza em quatro segmentos, visualmente
separados, e marcados coesiva e semanticamente: uma asserção geral, em que se recorre a um
saber do senso comum [Todo mundo sabe]; uma asserção que, pela oposição [Mas existem mais
coisas na vida], agrega valores não considerados no segmento anterior, e, pela adição [e o
Citibank entende isso], aproxima-se de forma solidária de seus clientes, comprometendo-se a
disponibilizar serviços que garantam o usufruto do tempo e dos valores agregados, sintetizados no
anafórico ‘isso’; uma asserção, iniciada pelo conectivo por isso, que justifica a natureza das
atividades desenvolvidas pelo enunciador [Por isso, nós desenvolvemos produtos como…], que
passa a se manifestar por meio da expressão nós, permitindo ao leitor reconhecer a voz de um
sujeito coletivo que se investe, em termos identitários, na condição de representante da
Instituição; por fim, uma exemplificação de elementos tão ou mais valiosos que o trabalho
[aquelas outra vírgulas de sua vida:…].
Outro recurso a ser destacado no texto é a exploração não só do conhecimento do leitor
sobre uma regra específica do uso da vírgula – enumeração –, mas de seu sentido, significando
metaforicamente, nesse contexto, pausa para dedicação a outros elementos considerados, no
discurso constituído, importantes para o leitor alvo [amigos, família, cinema…]. Note-se que a
seqüência enumerativa culmina com o pronome indefinido ‘tudo’, que engloba todas as atividades
não contempladas anteriormente. Esse cruzamento de referências constitui o recurso conhecido
como intertextualidade.
Por meio desses e de outros recursos que desempenham papel semelhante no texto, são
criadas, para o leitor, condições para que seja construído o sentido de que a Instituição Citibank
representa qualidades, como confiabilidade e tranqüilidade.
Ilustra-se, a seguir, como se pode desenvolver um trabalho de reflexão sobre a
manifestação do sistema modo-temporal-aspectual dos verbos, bem como sobre a manifestação
das vozes e de sua(s) instância(s) enunciativa(s), em um determinado texto.
Exemplo 2:
( Veja, 10 de agosto, 2005, p. 109)
Não apenas os textos (orais e escritos) de circulação social, mas também os textos (orais e
escritos) produzidos pelos alunos devem ser materiais de referência do professor, por meio dos
quais se desenvolverá a prática de análise lingüística.
Essa prática de reflexão consiste em trabalhar com os recursos e fatos da língua, conforme
apareçam na produção (oral e escrita) dos alunos. Neste caso, devem ser aproveitados dois tipos
de situações: a) a ocorrência de um uso adequado de um recurso ou fato da língua, para
discussão sobre as possibilidades significativas desse recurso ou fato lingüístico ; b) a ocorrência
de um uso inadequado de um recurso ou fato da língua, para discussão sobre a razão dessa
inadequação em relação a um determinado ponto de vista ou dimensão.
Na segunda situação, um procedimento evidenciado como adequado, nos estudos aplicados,
é o de apontar e classificar os problemas, de modo a orientar o aluno na busca de soluções para
seu texto, e assim iniciar uma seqüência de procedimentos de refacção. Sugere-se que a leitura
deve ser realizada de modo a focalizar três níveis interrelacionados – coerência textual global,
construção frasal e convenções gráficas.
No primeiro nível, observa-se o aspecto macro de adequação do texto ao gênero
selecionado, compreendendo aspectos relativos à coerência textual global (a organização do
texto, a relação entre as partes, a construção do foco temático, o grau de completude). Os
problemas nesse nível devem ser apontados através da escrita de comentários detalhados,
indicativos para o aluno, com o objetivo de orientá-lo para a primeira refacção do texto.
No segundo nível, volta-se para o aspecto micro das construções frasais (aspectos
relativos à morfossintaxe, às marcas dialetais, à coesão entre frases e entre sintagmas). No
terceiro nível, volta-se para o uso das convenções gráficas (aspectos relativos a ortografia,
pontuação, paragrafação, à disposição do texto na página, etc). Problemas nesses dois últimos
níveis devem ser apontados no texto do aluno e/ou classificados através de sinais indicativos,
conhecidos do aluno (Ruiz, 2001). O objetivo da correção continua sendo o de orientar o aluno na
segunda refacção de seu texto.
Com a leitura e análise do texto refeito do aluno, o professor terá condições de identificar
os problemas remanescentes a serem abordados de forma mais sistemática. Essa identificação
permite um diagnóstico mais confiável do que o aluno já conhece e do que precisa aprender,
subsídio necessário para o planejamento/ seqüenciação dos conteúdos gramaticais e das
atividades que enfoquem os problemas de maior incidência na escrita dos alunos.
Os conteúdos gramaticais, nessa metodologia, são escolhidos em função das
necessidades detectadas nas produções ou nas atividades de leitura (cf., por exemplo, as
atividades sugeridas para o momento da leitura colaborativa), e não de forma descontextualizada.
O texto não se torna pretexto para o estudo de tópicos gramaticais, sem relação com as
necessidades dos alunos, mas objeto de estudo dos recursos e fatos da língua que estão a
serviço de determinado gênero que o aluno quer/precisa dominar (Buim, 2004).
No processo de refacção, portanto, o texto do aluno será o ponto de partida e o ponto de
chegada, configurando-se assim uma proposta de ensino voltada para as necessidades reais do
aluno, capaz de inseri-lo, de forma autônoma e plena, no mundo letrado.
Tome-se, por exemplo, a primeira versão de uma carta do leitor, produzida por um aluno
de 8ª série, em atendimento a um comando, após a leitura e discussão de uma reportagem
publicada na revista Veja, e de outras matérias jornalísticas sobre combate à violência nas
escolas. O comando orientava a produção da carta, em termos de contextualização (a referência
ao tema, no início ou no fim), posicionamento a favor ou contra à reportagem (apresentando fatos
já lidos em outros textos sobre o mesmo tema) e identificação (nome e local).
Bom, eu achei uma boa essa mobilização que houve na Escola Estadual Professora Eulália Silva,
para tentar diminuir a violência e o vandalismo naquela área (simples, barato e eficiente. Erin Mizuta. 25
de maio de 2005. Veja)
14
Algumas questões devem ser levadas em consideração pelo professor nesse contexto: Até que ponto o aluno diria que
“achou ruim essa mobilização ...”?, Até que ponto o aluno não percebe e responde “como deve no jogo escolar” ao que
parece estar implícito na escolha pelo professor de um texto sobre vandalismo e violência , que motiva a mobilização da
uma escola em foco? Até que ponto lhe é dado espaço para contradizer algo por meio de uma carta do leitor para um
público que não pertence, inclusive, a sua faixa etária? O que esse aluno teria a dizer oralmente sobre essa mobilização
se houvesse um debate oral sobre o tema? Até que ponto, se o aluno partisse do debate oral, local de elaboração,
reestruturação e refinamento de idéias, ele não apresentaria os fatos que sustentariam seu posicionamento em uma carta
do leitor, mesmo para um público de outra faixa etária e perfil ?
2.2.3. Análise lingüística e gramática
regência verbal), informando ainda sobre o sentidos que daí podem ser derivados;
regime (preposição e tipo de complemento
- comparação dos significados de diversas
exigido por determinados nomes e verbos)
seqüências textuais construídas com
- levantamento das preposições essenciais e diferentes preposições e sua aplicação em
das acidentais; situações reais e específicas de interação;
b) entrada pela instrução de sentido. Na forma de abordagem pela instrução de sentido estuda
se de que recursos a língua dispõe para expressar uma instrução de sentido básica, o modo
como cada recurso a exprime, bem como as diferenças existentes entre um tipo e outro de
recurso usado para expressar determinado sentido. Na instrução de sentido indeterminação do
agente, por exemplo, pode-se discutir o uso argumentativo dos seguintes recurso/fatos
lingüísticos:
✔ voz passiva sintética (para os que ainda acreditam na sua existência ou pretendem informar
sobre as variedades históricas não contemporâneas);
A comunicação verbal se realiza por meio dos gêneros textuais, e estes são as realizações
empíricas de textos. Levando em conta esse pressuposto teórico, cabe à escola promover
práticas de linguagem que possibilitem aos alunos dominar não apenas o registro informal, mas,
sobretudo, o registro formal, conforme as práticas de linguagem em que se engajem.
Considerando-se que, em uma língua viva, gêneros textuais tendem a cair em desuso ou
até mesmo desaparecer (ex: carta pessoal), e outros surgem a partir das demandas de uma
sociedade letrada (ex: chat), uma proposta curricular deve priorizar, na seleção dos gêneros para
ensino, aqueles que atendem às atuais demandas sociais. Nessa perspectiva, defende-se a
retomada de alguns gêneros durante o ensino médio, desde que seja assegurada nova
perspectiva de trabalho, incluindo a variação de elementos, como a modalidade (oral/escrita), o
suporte, o contexto sociocultural.
A diversidade de gêneros, praticamente ilimitada, impede que a escola trate todos eles
como objeto de ensino; torna-se necessária uma seleção. Neste documento, foram priorizados
aqueles cujo domínio é fundamental à efetiva participação social. No entanto, não se deve
considerar a relação apresentada como exaustiva. Em função do projeto da escola, do trabalho
em desenvolvimento e das necessidades específicas do grupo de alunos, outras escolhas
poderão ser feitas. Portanto, antes de selecionar os conteúdos sugeridos para as práticas de
linguagem, faz-se necessário escolher quais gêneros orientarão o trabalho com os textos –
unidade básica de ensino – tanto no uso (escuta de textos orais/leitura de textos escritos e
produção de textos orais/escritos) como na reflexão (prática de análise lingüística).
No quadro a seguir, é apresentada uma proposta de organização dos conteúdos a serem
ensinados ao longo das três séries, considerando as práticas de linguagem nos dois grandes
eixos organizadores – USO e REFLEXÃO -, tendo por base os seguintes níveis de
sistematização:
II - Gêneros textuais, com sua distribuição por esferas sociais de circulação e por modalidade,
considerando as capacidades do aluno de ensino médio e o perfil de usuário da linguagem
almejado ao término dessa fase da educação básica. Sugere-se a organização em espiral dos
gêneros. Ou seja, um mesmo gênero textual pode ser trabalhado nas diferentes séries, com
objetivos cada vez mais complexos, desde que a sua retomada seja com objetivos mais
complexos, incluindo variação de modalidade, suporte, registro (escolha lexical e sintática),
estrutura composicional, aspectos socioculturais etc.
Essa organização espiralada, além de observar o efeito do ensino a longo prazo e
assegurar uma construção contínua e progressiva, envolve diversidade e gradação:
a) das esferas sociais de circulação: partindo da mais familiar (escolar) para a mais distante
(científica). Aqui, pode-se trabalhar com um mesmo gênero em diferentes esferas. Por
exemplo, o gênero resumo. Vários resumos podem ser colocados lado a lado para análise:
resumos de textos, de livros, de palestras, de debate (todos pertencentes à esfera escolar);
resumos de filmes, de programas, de debates ( pertencentes à esfera jornalística); resumos
de campanhas públicas (pertencentes à esfera publicitária); resumos de pesquisa científica,
palestra, conferência (pertencentes à esfera científica).
b) dos suportes: do mais familiar para o menos familiar. Assim um mesmo gênero é trabalhado
em diferentes suportes. Por exemplo, um resumo de um filme em uma revista para crianças,
para jovens, bem como para adultos, que têm destinatários diferenciados. Um resumo de
filmes em revista e na Internet. Um resumo de filme numa revista, na Internet, na capa de
uma fita de vídeo ou DVD, num catálogo de TV a cabo, no jornal escrito e falado etc.
III - Gramática e textualidade, com a opção de não dividir a língua, de forma estanque, em seus
aspectos gramaticais e textuais, mas de observar a estreita relação existente entre eles. Essa
observação deve dar conta da descrição dos planos morfológico (categorias gramaticais e
formação de palavras); sintático ( a oração e seus constituintes, as relações de coordenação e
subordinação nos períodos compostos) e do seu papel de sinalizadores das instruções de sentido
no texto, enquanto fatores de coesão referencial (por meio de retomadas e antecipações) e
seqüencial ( por meio dos conectores que estabelecem relações de sentido, definindo orientações
argumentativas) e semântico-enunciativo (fatos da língua que permitem os efeitos de sentido
produzidos no texto – figuras de linguagem, modalização, implícitos, etc). Estes Referenciais,
incorporando as recentes reflexões acerca da relação entre gramática e texto, entendem que o
sentido que uma seqüência lingüística assume, numa dada situação interativa ( e que a
transforma em texto), depende de uma série de recursos, fatores, mecanismos e princípios
internos e externos à língua. Tais elementos estão de alguma forma inscritos e regularizados na
língua constituindo a sua gramática ( Travaglia, 2004).
O quadro a seguir visualiza essa proposta de sistematização:
Quadro 5 - QUADRO SÍNTESE DE LÍNGUA PORTUGUESA (conteúdos para reflexão intencional, planejada e sistemática)
Gêneros Textuais Questões de Gramática e Textualidade
língua(gem) e
variedades lingüísticas
A
I linguagem, FUNCIONAMENTO NO TEXTO
A identidade e poder
R
I
• noções de língua
E
C
S
O falada e escrita
E
S
(norma padrão e
variação
R
L • debate regrado • resumo de texto não ficcional de registro) • adjetivo • verbos (correlação
O
• roteiro de • resumo de filme • artigo das • formas simples e
C
S
apresentação • resenha de filme • convenções do • numerais compostas e do sistema
E
de trabalho sistema escrito • pronomes modo-temporal-
(pontuação no texto) (demonstrativos, aspectual, vozes
indefinidos e verbais)
• aspectos da norma possessivos) • advérbios
padrão • estrutura e • preposições
(concordância formação de • conjunções
nominal e verbal, palavras • pronomes relativos
regência nominal e • interjeições
verbal, colocação
pronominal)
• anúncios • anúncios (produtos e
A
T
serviços)
I
• campanhas • sinopse
C
I
• comentário • carta de reclamação relações de sentido
• resenha • coordenação: valores semânticos das orações
T
S
de rádio
Í
L
• comentário de • carta aberta coordenadas
A
tv • editorial • subordinação: valores sintáticos e semânticos
N • carta programa das orações adjetivas desenvolvidas e
R
• artigo de opinião reduzidas • processos coesivos de
• tabela e gráfico
O
A
PLANO SEMÂNTICO-ENUNCIATIVO
N emprego • carta de apresentação DO TEXTO
O
I
• formulário de emprego
S
I
com • verbete de enciclopédia polissemia e duplo sentido, paráfrase,
• tabela e gráfico
F
E
trabalho científico
I
• intertextualidade
• heterogeneidade e polifonia
C
• implícitos
• pronunciamento • ata
L
I
• regulamento
• depoimento
C
F
• currículo
• perfil
O
N (dramatização) • crônica
O
I
• narrativa de viagem
C • conto
C
I
• crônica
F • peça teatral (escuta e leitura)
• romance
cartaz
mural
dicionário
enciclopédia
livros
+ formalidade; - familiaridade
15
Entende-se como suporte de um gênero, seguindo Marcuschi (2003), uma superfície física com formato
específico que serve de ambiente de fixação do gênero materializado como texto.
42
∙ Aprofundamento do tema
Cabem aqui algumas considerações sobre os projetos coletivos da escola. A idéia de projeto
situa-se no mundo do trabalho produtivo, excluindo, portanto, o trabalho alienado: a realização
de um projeto individual dentro de um projeto coletivo leva o homem a relacionar-se consigo
mesmo e com os outros homens.
A decisão da escola de articular seu trabalho em torno de propostas coletivas implica a
preocupação com o equilíbrio entre os aspectos disciplinares e os aspectos interdisciplinares
do projeto, pois as áreas específicas possuem um cabedal de conhecimento acumulado ao
qual o aluno deve ter acesso. Dimensionar de forma eqüitativa esses aspectos envolve a
divisão equilibrada do tempo e do espaço para o próprio aluno construir suas redes de
conhecimento.
A principal vantagem dessa iniciativa reside no fato de ela ser uma via para subverter as
formas rituais e cristalizadas da aula, pois permite a construção conjunta de novas
significações nos vários domínios do saber. Isso torna mais flexíveis os papéis de professor e
aluno, encurtando a distância que os separa em função de um objetivo comum. Nesse
processo de construção, o aprendiz é sujeito ativo engajado na construção de sua própria
rede de
43
conhecimentos, o professor tem função mediadora. O gestor escolar que enxerga essa
realidade como uma rede de conexões e relações buscará fomentar essa construção,
puxando de muitos fios flexíveis um número igual de alternativas que, por sua vez, darão
origem a outras alternativas.
Na metáfora da rede de conhecimentos, ler e escrever são as atividades que propiciam a
aprendizagem e a integração de novas informações aos conhecimentos e experiências
anteriores na construção de significados. Sob esse aspecto, é dever da escola estar
mostrando algumas verdades já comprovadas cientificamente. Uma delas diz respeito ao
papel da leitura e da escrita nesse processo de construção de significados: todo leitor que é
tocado por um texto conhece o prazer de voltar a ele para reorganizar, enriquecer ou
reconstruir um conceito anterior; e todo escritor que experimenta o árduo processo de
explicitar uma informação para leitores desconhecidos sabe o quanto o processo de
reescritura define e dá forma às idéias. Outra verdade é que a aprendizagem da escrita não
está dissociada da oralidade. Por isso, o projeto deve ser também uma construção apoiada
em práticas orais do aluno ( cf. seções .2.1.1 e 2.1.2). Elas promovem a construção conjunta
de uma rede de relações que se originam e se atualizam no texto e remetem às redes de
conhecimento que o aluno já tem. Uma terceira verdade a ser cultivada é a de que tecnologia
da escrita permeia todas as instituições e relações sociais e determina até modos de falar
sobre os assuntos e sobre os textos, orientados pela palavra escrita: um debate, uma palestra,
uma entrevista na tv são gêneros orais de instituições fortemente afetadas pelo impacto social
da escrita. Portanto, a aprendizagem das práticas de leitura e produção de textos (orais e
escritos) implica a aprendizagem das normas das instituições que legitimam essas práticas.
Os projetos interdisciplinares ajudam a desenvolver o letramento pleno, porque expõem o
aluno a vários tipos de texto em vários tipos de eventos, ou a várias formas de ler um mesmo
texto, dando oportunidade para vivenciarem colaborativamente as várias práticas, e com a
ajuda de alguém já familiarizado com elas. Para isso, fazem-se necessárias algumas
exigências em relação à organização, à implementação e à avaliação dessa forma de
organização do ensino.
∙ Significação
∙ Avaliação
16
Assessment for learning vs assessment of learning (Gardner, 2006, p.2).
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acessa o que se propõe a acessar?. Por exemplo, é comum atividades ou perguntas que
pretendem acessar leitura, acessarem vocabulário ou gramática.
No caso da avaliação formativa, o processo de validação de qualquer instrumento que gere a
produção do aluno (exercício, um debate, um texto produzido, a leitura e produção de sentido
para um texto oralmente em sala de aula, as oficinas de planejamento e reorientação, um
teste, uma prova bimestral ou simulado) envolve sempre a busca de insumos que apontem
para outras perspectivas de aprendizagem. Como já dito, a avaliação formativa é prospectiva.
47
Considerando os motivos que levam o aluno a estudar à noite, o seu perfil sócio
econômico-cultural e faixa etária, a Escola deve procurar adotar procedimentos metodológicos
que atendam as necessidades básicas dessa clientela, objetivando, assim, aproximar-se da
vida real desse alunos que buscam escolarização. Nesse sentido, partindo de temas
transversais, das experiências de vida (profissionais ou não) do aluno, do conhecimento de
mundo acumulado, bem como do conhecimento internalizado que o aluno possui de sua
língua materna, sugere-se o engajamento gradativo em práticas de linguagem cada vez mais
elaboradas e diversificadas, que circulam em uma sociedade letrada.
Como dito anteriormente, são os diversos gêneros textuais que possibilitam o acesso à
informação socialmente produzida e a inserção do aluno nas práticas de linguagem. Tal qual
no ensino regular, sugere-se um acesso espiralado aos gêneros, resgatando e valorizando o
conhecimento intuitivo e assistemático que o aluno traz para a escola. Em se tratando de
alunos do turno noturno, as práticas de linguagem em que se engajam fora da escola podem e
devem ser objeto de estudo e reflexão sistematizada na sala de aula.
Mas não basta apenas considerar as suas experiências cotidianas na sala de aula. É preciso
expô-lo à informação sistematizada, socialmente construída, que possa informá-lo, ajudá lo a
rever e, se necessário, transformar velhos hábitos, pautados, exclusivamente, no saber
popular e, ampliar assim, seus horizontes cultural e social.
Almejando a aprendizagem significativa, faz-se necessário relacionar os vários saberes,
lançando mão de temas geradores que exijam um tratamento multidisciplinar, como os temas
transversais. Engajar o aluno noturno em situações-problema, vividos em sua comunidade,
trabalho, família etc, buscar formas de tratamento e soluções nas diversas práticas de
linguagem (abaixo-assinado, carta de reclamação, solicitações etc) não apenas estreita a
relação escola
vida, mas, sobretudo, evidencia a função social da escola, cada vez mais necessária na luta
contra a desigualdade social existente.
Uma simples volta no bairro da escola ou, até mesmo, um olhar crítico para o espaço escolar
é suficiente para elaborar projetos que tratem de questões imediatas que, podem ser
pensadas, minimizadas e até resolvidas lançando mão do saber produzido na escola. Isso é a
escola e o saber científico a serviço da comunidade. Por exemplo, projetos sobre o lixo escolar,
alimentação, condições sanitárias de banheiros, cozinha e refeitório, que envolvam Biologia,
Química, Português, por exemplo, podem contribuir para o bem-estar da comunidade escolar.
A língua estrangeira pode possibilitar o acesso a saberes produzidos em inglês e espanhol,
por exemplo, sobre questões semelhantes. Da mesma forma, um projeto de urbanização de
espaços ociosos ou mal-cuidados, envolvendo as Artes, Matemática, Geografia, Biologia,
Português e
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língua estrangeira pode resultar no bem-estar da própria comunidade escolar. Outra
possibilidade, é planejar atividades culturais na escola, elaborar panfletos de divulgação, bem
como boletins informativos sobre os eventos na escola. Esses projetos reúnem conhecimentos
de português, história, informática, língua estrangeira, sem mencionar experiências de
colaboração e desenvolvimento de habilidades interpessoais, negociação, trabalho coletivo,
responsabilidade, divisão de tarefas.
Dentre os problemas que causam a evasão dos alunos, pode-se destacar os seguintes: a
baixa auto-estima que o aluno traz consigo; as experiências de ‘fracasso’ escolar; o estigma de
ser um aluno noturno; o abismo existente entre a escola e a vida; a não integração com o
restante da comunidade escolar; a relação professor-aluno; a aula centrada no professor, que
despreza a troca e não valoriza o conhecimento de mundo do aluno; a falta de motivação para
aulas que insistem em privilegiar apenas as inteligência lógico-matemática e lingüística,
desconsiderando a espacial, musical, interpessoal, intrapessoal, corporal-cinestésica e
naturalista, igualmente necessárias para a vida cotidiana (Armstrong, 2001).
49
Letramento:
KLEIMAN, Ângela. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social
da escrita. Campinas: Mercado de letras, 1995.
SOARES, MAGDA Letramento: um tema em três gêneros. Belo horizonte: autêntica, 1998.
TFOUNI, Leda. Letramento e alfabetização.s ao Paulo: Cortez, 1995
Análise lingüística
BAGNO, M. Preconceito lingüístico - o que é, como se faz. São Paulo, Edições Loyola, 1999.
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GERALDI, J. W. A análise lingüística. In:__________. Portos de passagem. São Paulo: Martins
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http://portal.mec.gov.br/secad/index.php?option=content&task=view&id=120
Inteligências múltiplas
ARMSTRONG, T. Inteligências múltiplas na sala de aula. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.
51
Referências:
Documentos oficiais