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Apresentação
As demandas de saúde mental se apresentam frente a quaisquer situações
humanas de sofrimento, sejam fruto de relações pessoais das mais inevitáveis ao longo da
vida até situações extremas de violência e desamparo. Atender às necessidades básicas de
sobrevivência são por si só ações que agem sobre as necessidades psíquicas. Contudo,
existem demandas específicas que exigem distintos níveis de complexidade de atenção
para produzir uma emancipação qualificada. Como consta na apresentação da missão da
Cáritas em seu site, é prática da instituição:
Estratégias de atuação
Matriciamento
A primeira delas é a escuta individualizada. Trata-se de uma conversa feita em
ambiente sigiloso, guiada primeiramente pela demanda trazida pela pessoa atendida. Já
aqui cabe traçar as fortuitas semelhanças e as sensíveis diferenças entre a escuta
individualizada feita por um profissional da psicologia e o atendimento regular de
assistência. É fundamental ressaltar que o atendimento regular, o auxílio a demandas
alimentares, de moradia e jurídicas de qualquer natureza tem efeitos importantes sobre a
saúde mental daqueles atendidos pela Cáritas. Neste entremeio, entender que há
intervenção em saúde mental para além da escuta individualizada feita por profissional da
psicologia, é entender que este atendimento é, muitas vezes, uma instância de
endereçamento de certas demandas. Sendo assim, parece desejável que as demandas as
quais entendamos como melhor atendidas por um profissional possam ser encaminhadas,
mas que aquelas que puderem ser acolhidas já no atendimento regular possam ser
acompanhadas indiretamente pela ou pelo profissional de Psicologia nos moldes daquilo
que na Atenção Básica à Saúde chama-se matriciamento1. Trata-se de uma espécie de
"consultoria" permanente, na qual saberes diversos procuram ocupar-se de uma mesma
demanda a fim de tentar abarcar o maior número de determinantes da sua ocorrência e
onde há um profissional de referência, que concentrará o cuidado.
Quem trabalha
Ainda, não é menos importante, ater-se à condição mental daqueles que trabalham
no atendimento, planejamento e realização de tudo o que é necessário para que a Cáritas
realize seu intento. Conviver com situações de precariedade evoca o que há de melhor em
nós, mas os limites em auxiliar as pessoas e mesmo transformar a realidade na qual se faz
necessário serviços como os que presta a Cáritas, pode por vezes requerer elaborações
complexas e dolorosas que muitas vezes podemos postergar nos determos. Promover
momentos de elaboração coletiva ou mesmo espaços individualizados para tratar aquilo que
do próprio fazer do trabalho cotidiano pesa para a saúde mental também é um espaço
oportuno para a qualificação da atuação de maneira geral.
1
Para uma apresentação extensa do dispositivo do matriciamento ver GONÇALVES, D. A. et al. Guia
prático de matriciamento em saúde mental. Brasília: Ministério da Saúde: Centro de Estudo e
Pesquisa em Saúde Coletiva, 2011.
como membro de uma sociedade como a nossa, ou seja, o sujeito buscará reconstituir sua
condição de consumidor, mesmo que de consumidor empobrecido. Assim, demandas de
ordem emocional como a saudade de familiares, sofrimento no trabalho, dificuldades de
relacionamentos e outras tantas que podem produzir adoecimentos ou prejuízos psíquicos
para cada pessoa, podem aparecer mascaradas como demandas de ordem material. Em
alguns casos, uma escuta feita por profissional da psicologia, realizada sob sigilo clínico,
pode convocar essas pessoas a falarem não apenas do lugar do imigrante ou do
empobrecido, mas do lugar de quem tem uma vida e que tem algo a falar sobre si.
A escuta do sofrimento feito no contexto do auxílio material, mais do que em
qualquer outro contexto, encaminha as elaborações sobre o sofrimento social para o campo
coletivo. Deve-se ter em mente que sempre existirá algo de irresolutamente singular na
maneira como cada uma e cada um se coloca no mundo, na maneira como põe seus afetos
em circulação, como os recolhe e como encaminha seus desejos. Saber disto não põe
obstáculo para o entendimento de que dialogar sobre estas maneiras distintas em lidar com
as dificuldades objetivas principalmente auxilia cada pessoa a ter reconhecida a sua dor
como algo que não pertence apenas a ela e assim abre espaço para o desenvolvimento de
maneiras próprias — construídas a partir da sua experiência conjugada com a de outros
comuns — e novas para si, para lidar com aquilo que faz sofrer.
Fomentar a criação e a manutenção de espaços de partilha que visem o
estabelecimento de um ambiente de reconhecimento mútuo de cada história, de cada forma
de lidar com aquilo que não se resolve facilmente, que não tem protocolo ou fórmula
mágica, é uma estratégia de extrema consequência com a intenção de favorecer a
autonomia, visto, como já dito em outros momentos deste texto de outras formas, que a
autonomia mais qualificada é a autonomia e fazer, desfazer e refazer laços.
2
Guardadas as devidas diferenças e perspectivas, os objetivos aqui traçados buscam referência nas
Referências Técnicas para atuação do(a) psicólogo(a) no CRAS/SUAS/ Conselho Federal de
Psicologia (CFP). -- Brasília, CFP, 2007.
Oferecer espaço de acolhimento de demandas em saúde mental visando o
desenvolvimento de capacidade de transformação possível daquilo que produz a demanda
através de acompanhamento dos atendimentos regulares e atendimentos psicológicos.
Objetivos específicos
● Prestar auxílio à equipe que faz atendimento ao público acompanhando
casos.
● Prestar auxílio a todas e todos os envolvidos no trabalho da Cáritas
promovendo espaço para elaboração coletiva e individual sobre a relação do
trabalho com a saúde de quem realiza o trabalho.
● Oferecer espaço de escuta individualizada sob sigílo.
● Fomentar a construção de grupos de apoio e/ou grupos terapeuticos.