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E
ste número da Dirigir&Formar nosso país e a cidade do Porto, também
(D&F) retoma o tema da Europa, conhecida como a Cidade do Trabalho, à
abordado na anterior edição, e na vontade comum de construirmos uma
perspetiva do Pilar Social. Europa mais justa.
A abrir a reflexão sobre a compo- Queremos contribuir para a formação
nente social da União, contamos com de uma identidade europeia que não
ANTÓNIO LEITE uma entrevista concedida pela Senhora apague, antes reforce, as diversidades
Vice-Presidente do Conselho
Diretivo do IEFP, I.P. Ministra do Trabalho, Solidariedade nacionais, culturais e sociais, mas realce
e Segurança Social, Ana Mendes o que nos une, nomeadamente o apego
Godinho. Damos voz aos parceiros à Democracia e à criação de oportuni-
sociais, atores de sempre do diálogo dades equitativas para todas e todos e
social, mas temos também o contributo para cada uma e cada um.
de Paulo Azevedo, na sua qualidade de A Europa começou o seu caminho
membro da European Round Table que de integração pelo lado económico e
nos apresenta um ambicioso programa até de forma bem específica pela livre
de reconversão profissional dirigido a circulação de algumas matérias-primas.
um milhão de trabalhadores europeus Cresceu sempre em número de países
e que esperamos tenha um piloto em membros (pelo menos até recente-
Portugal. A importância da inclusão mente) e nunca lhe faltaram nem faltam
através dos espaços culturais é outra candidatos à entrada. Cresceu também
temática, abordada por Ana Alcoforado, em ambição e nas áreas que progressi-
Provedora para a Inclusão e Cidadania vamente passou a tratar como comuns.
da Direção-Geral do Património Cultural. Nos dias de hoje, sem uma componente
E ainda, no âmbito das atividades da social prioritária não haverá mais compo-
Presidência Portuguesa, um texto de nentes a desenvolver.
Ana Lima Neves sobre a Conferência Em quase 65 anos, muitos foram os
de Alto Nível sobre o Futuro do Trabalho. momentos em que parecia que se chegara
Finalmente, saliento o texto sobre a rein- ao limite da integração e da partilha de
dustrialização na Europa e em Portugal soberania e hoje vivemos, paradoxal-
da autoria de Miguel Pinto, Diretor-Geral mente, um desses momentos. A aposta
da Continental (Vila Real). nas medidas de apoio aos mais frágeis
Com estes dois números da D&F e pode ditar haver, ou não, Futuro para esta
a pretexto da Presidência Portuguesa, Europa. E convém lembrar que nunca na
procuramos refletir sobre a construção história do continente se viveu um período
europeia. Quisemos fazê-lo em linha de paz tão longo entre estes 27 países,
com as preocupações de carácter social mais habituados a combater do que a
presentes desde logo no lema adotado cooperar, a desconfiar do que a partilhar.
“Tempo de Agir. Por uma recuperação Não foi, não é e, seguramente, não
justa, verde e digital” e bem expressa será um caminho fácil, mas queremos
na realização da Cimeira Social da União que seja um caminho de democracia,
Europeia que aprovou o Compromisso de prosperidade e de justiça e, por isso
Social do Porto, associando assim o e para isso, é “Tempo de Agir”.
FICHA TÉCNICA
PROPRIETÁRIO/ EDITOR
SEDE DE REDAÇÃO IEFP
Instituto do Emprego
e Formação Profissional, I. P.
Rua de Xabregas, 52
1949-003 Lisboa
NIPC
501 442 600
DIRETOR
António Leite
RESPONSÁVEL
EDITORIAL
Maria Fernanda Gonçalves
COORDENADORA
Lídia Spencer Branco
CONSELHO EDITORIAL DA REVISTA
Adélia Costa, Ana Cláudia Valente,
Angelina Pereira, António José de Almeida,
António Leite, António Travassos,
Conceição Matos, Fernando Moreira da Silva,
João Palmeiro, José Carlos Bravo Nico,
José Teixeira, Lucinda Dâmaso,
Luís Alcoforado, Madalena Feu,
Miguel Pinto, Nuno Gama de Oliveira Pinto,
Paulo Feliciano e Teresa Medina
REVISÃO
Teresa Souto
REDAÇÃO
Revista Dirigir&Formar
Departamento de Formação Profissional
PRESIDÊNCIA PORTUGUESA DO CONSELHO DA UE
DOSSIER
PROMOVER A INCLUSÃO
EUROPA
74 Competências para um mundo conectado
TOME NOTA
80 A crise e os riscos de desemprego
OS DIREITOS
SOCIAIS E O FUTURO
DO TRABALHO
A
Cimeira Social do Porto, que decorreu nos dias 7 e 8 de maio, assinalou
um momento crucial para os direitos sociais na Europa. Com a assinatura
do Compromisso Social do Porto, a presidente da Comissão Europeia, o
presidente do Parlamento Europeu, o primeiro-ministro português, que exercia à
data a Presidência do Conselho da UE, os parceiros sociais europeus e as organi-
zações da sociedade civil assumiram um Plano de Ação para a concretização do
Pilar Europeu dos Direitos Sociais. Em conjunto, comprometeram-se a desenvolver
esforços para construir uma Europa mais inclusiva e mais social.
Como referiu o primeiro-ministro António Costa, “O compromisso do Porto é um
compromisso para com o futuro e para com a esperança”.
Numa edição dedicada a abordar os desafios de uma Europa mais inclusiva, as
preocupações sociais e de inclusão não podiam deixar de estar presentes. No Tema
de Capa que ocupa as páginas seguintes, ouvimos uma pluralidade de vozes: da
Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social às diferentes abordagens e
perspetivas dos Parceiros Sociais sobre como promover um novo ciclo económico
e de maior coesão social, preocupações que estão também presentes do lado
empresarial com a necessidade premente de reduzir o desfasamento entre quali-
ficações existentes e qualificações necessárias para novos empregos. Exemplo
destas preocupações é o programa Reskilling 4 Employment (R4E) – “Requalificar
para o Emprego”, uma iniciativa de formação europeia, promovida em Portugal pela
Sonae e que visa a requalificação profissional, preparando os trabalhadores para
as novas necessidades do mercado de trabalho europeu.
ENTREVISTA
PORTUGAL
FOI A "COLA"
ENTREVISTA ANA MENDES GODINHO
PORTUGAL FOI A "COLA" QUE UNIUA
QUE UNIU
EUROPA
A EUROPA
AUTORA: Rita Vieira, jornalista FOTOS: Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia
“A Presidência Portuguesa fez história ao colocar a dimensão social na base da recuperação económica, como sendo
a 'cola' que une a Europa e que a diferencia de todos os outros continentes”. A convicção é da Ministra do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social. Na opinião de Ana Mendes Godinho, a retoma tem de assentar numa transição digital
e ambiental, mas deve, sobretudo, ser justa, garantindo uma real inclusão social e uma melhor distribuição da riqueza.
Dirigir & Formar: Portugal assumiu a que nos abalou a todos de uma forma de 8% do montante global do financia-
Presidência Portuguesa do Conselho da imprevisível e que será, porventura, mento do Portugal 2020, o que, tendo em
União Europeia em plena pandemia de o maior desafio da história da Europa conta o momento em que vivemos, se
Covid-19. Apesar de dossiers complexos, desde a Segunda Guerra Mundial. Apesar revela um instrumento muitíssimo impor-
como o da aprovação do Quadro disto, estabelecemos, desde logo, metas tante. O FSE+ vai abranger, para além do
Financeiro Plurianual e do Fundo de ambiciosas e imprimimos a grande preo- Fundo Social Europeu, a Iniciativa para o
Recuperação, terem sido fechados ainda cupação de colocar a dimensão social Emprego dos Jovens, o Fundo de Auxílio
durante a Presidência Alemã, coube-nos no centro das prioridades da recupe- Europeu às Pessoas mais Carenciadas,
também alguma responsabilidade na ração económica. Neste sentido conse- o Programa de Saúde da União Europeia
implementação destes acordos. Que guimos concluir o dossier do Fundo e o Programa da UE para o Emprego e
avanços ocorreram nestas matérias, ao Social Europeu Mais (FSE+), determi- Inovação social, passando a ser um
longo da Presidência Portuguesa? nante para a capacidade de implementar chapéu agregador de todos eles.
Ana Mendes Godinho: Portugal assumiu programas de resposta, quer ao nível do Conseguimos também fechar o dossier
a Presidência Portuguesa do Conselho da emprego quer das qualificações. Portugal da Política Agrícola Comum (PAC), o que
União Europeia num contexto especial- irá receber, deste fundo, cerca de 7,5 mil também foi muito importante porque,
mente difícil, a meio de uma pandemia milhões de euros, o que representa cerca pela primeira vez, passámos a ter como
estamos também a colocar nestas nossas concretos e com metas quantificadas e desemprego, medidas estas que abran-
prioridades a capacidade de alcançar uma mensuráveis relativamente ao emprego, geram cerca de um milhão de pessoas no
força de trabalho, ela própria a base desta às qualificações e ao combate à pobreza. nosso país, ou seja, uma em cada quatro
transição digital e ambiental e que, acima Por exemplo, ao definirmos que, em 2030, pessoas.
de tudo, não fica para trás. pelo menos, 78% da população entre os Estamos a preparar agora, no âmbito
A capacidade de acelerar a quali- 20 e os 64 anos tem de estar empregada, do Programa de Recuperação e Resiliência,
ficação das pessoas é determinante traduz a necessidade de implementarmos o Compromisso Emprego Sustentável, uma
para ganharmos competitividade. Há as medidas necessárias para o fazer, quer medida mais direcionada para os grupos
estudos que apontam para que cerca de sejam medidas regulatórias quer sejam mais afetados pelo desemprego durante
80 milhões de postos de trabalho desa- de financiamento. a pandemia, os jovens e as mulheres,
pareçam com estas transições e outros, que prevê a atribuição de um incentivo
ao mesmo tempo, dão conta de que adicional a quem contrate colaboradores
cerca de 90 milhões de novas oportuni- “O país que conseguir sem ser a título precário e um nível de
dades de emprego surgirão associadas vencimento que valorize os trabalhadores
alcançar um nível de
a estas novas áreas ambientais e digi- qualificados.
tais. Quanto mais conseguirmos acelerar qualificação massiva nas
a capacitação dos trabalhadores e das áreas estratégicas da D&F: O Livro Verde sobre o Futuro do
empresas, mais bem preparados esta- transição digital e ambiental Trabalho é fundamental para a construção
remos para antecipar essas transições. de um caminho fundamentado e equili-
terá trabalhadores
São essas as grandes prioridades que brado na regulação das novas formas de
assumimos no Plano de Recuperação e mais bem preparados, trabalho. O que está a ser preparado para
Resiliência português, que tem uma área que serão determinantes responder a estes novos desafios?
dedicada às dimensões das qualificações nesta retoma.” A.M.G.: Nós procurámos que, a par das
e conta com 1,2 mil milhões de euros, e respostas de emergência, estivéssemos
no novo Quadro Comunitário, com uma a trabalhar do ponto de vista da identi-
enorme aposta nas dimensões digital e ficação daqueles que são os maiores
ambiental e respetivas necessidades de A preocupação de qualquer um dos desafios que temos face ao futuro do
qualificações. Estados-membros, ao longo destes trabalho, nomeadamente do trabalho
intensos meses, tem sido essencial- remoto. Assim, pretendemos que o Livro
D&F: A Cimeira Social do Porto teve como mente a de proteger o emprego. A capaci- Verde identificasse não só as oportuni-
principal objetivo reforçar o compromisso dade de resposta coordenada, por parte dades, mas também os riscos associados
dos Estados-membros, das instituições da Europa, em termos de disponibilização às novas formas de trabalho, seja ao nível
europeias, dos parceiros sociais e da de mecanismos de apoio ao emprego foi da utilização de dados pessoais, da orga-
sociedade civil com a implementação determinante. O SURE (Support to Mitigate nização dos tempos de trabalho, ao direito
do Plano de Ação sobre o Pilar Europeu Unemployment Risks in an Emergency), a desligar ou à necessidade de definir
dos Direitos Sociais. Os líderes europeus instrumento europeu de apoio temporário regras para delimitar a fronteira entre a
fizeram saber que, à medida que a Europa para atenuar os riscos de desemprego numa vida pessoal e a profissional.
se recupera gradualmente da pandemia, situação de emergência, é um exemplo de A consulta pública do Livro Verde já
a prioridade será passar da proteção à como se conseguiu esta grande capacidade terminou e estamos, neste momento,
criação de emprego. Que compromissos de articulação e de resposta conjunta e soli- a ultimar a versão final, integrando os
foram assumidos neste sentido? dária a este momento em que vivíamos. contributos que recebemos. A ideia é que
A.M.G.: A Cimeira Social do Porto foi um Assim, no segundo semestre de 2020, este constitua um pilar do ponto de vista
momento único na história europeia lançámos em Portugal um programa dedi- da regulamentação do trabalho e, nesse
porque tivemos, pela primeira vez no cado ao apoio da criação de emprego, o sentido, estamos a preparar um pacote
palco das decisões, os parceiros sociais ATIVAR.PT, que concede apoios à contra- de alterações legislativas que incorporem
europeus, a sociedade civil europeia, tação e a estágios profissionais. Ao mesmo estas várias dimensões nomeadamente
as instituições europeias e os Estados- tempo que lançámos estas medidas de no âmbito do Código do Trabalho.
‑membros a assumirem o compromisso apoio ao emprego, procurámos também Um exemplo concreto desta necessi-
de atingir, até 2030, objetivos muito criar medidas de resposta ao aumento do dade de regulamentação é o das empresas
“A preocupação
de qualquer um dos
Estados-membros,
ao longo destes intensos
meses, tem sido
essencialmente a de
proteger o emprego.
A capacidade de
resposta coordenada,
por parte da Europa,
em termos de
disponibilização
de mecanismos
de apoio ao emprego
foi determinante.”
de transporte de refeições, no qual grande D&F: Apesar de todas as condicio- Combate à Situação de Sem-Abrigo, ou
parte dos trabalhadores não tem qualquer nantes resultantes da pandemia, que seja, colocámos os mais vulneráveis no
vínculo ao sistema de proteção social e em marcaram este primeiro semestre centro das decisões europeias, o que é
que as relações laborais escapam, muitas de 2021, poderemos dizer que a histórico.
vezes, ao enquadramento legislativo. Presidência Portuguesa definiu o início Durante a nossa Presidência, conse-
A pandemia veio, assim, acelerar a neces- de um novo ciclo na Europa, social- guimos também a aprovação da Garantia
sidade de reforçarmos o nosso sistema de mente mais justo e financeiramente Europeia para a Infância, ou seja, os 27
proteção social, tornando-o mais robusto, mais equitativo? Estados-membros assumiram o compro-
mais forte e, sobretudo, mais inclusivo. A.M.G.: Acredito que a Presidência misso de eliminar a pobreza infantil na
O teletrabalho tem gerado também Portuguesa fez história nesta viragem, Europa e a definirem, cada um deles, num
novas oportunidades. Basta pensar que ao colocar a dimensão social na base da prazo de nove meses, um plano de ação
as pessoas podem estar a trabalhar de recuperação económica, como sendo a com as medidas necessárias para garantir
qualquer parte do país para qualquer "cola" que une a Europa e que a diferencia o acesso gratuito de todas as crianças
sítio do mundo. E a qualidade de vida de todos os outros continentes. A base em risco de pobreza ou exclusão a
nacional pode constituir uma grande desta recuperação tem de ser digital e serviços considerados essenciais, como
oportunidade para atrair capital humano. ambiental, mas deve, sobretudo, ser justa a saúde, educação, habitação e a, pelo
Aliás, Portugal é, por isso mesmo, consi- assentando numa real inclusão social e menos, uma refeição por dia. Quando
derado um dos melhores países para numa melhor distribuição de riqueza, temos 18 milhões de crianças na Europa
nómadas digitais. A par da Europa, o garantindo uma Europa coesa e social- em risco de pobreza ou exclusão, perce-
nosso país enfrenta um grande desafio mente justa. bemos o alcance de um acordo destes.
demográfico, pelo que é fundamental Portugal colocou o pilar social no Medidas como esta teriam sido impen-
conseguirmos atrair e fixar jovens em centro das decisões políticas europeias, sáveis há dois ou três anos. Por isso,
Portugal. Por isso, também, aqui é deter- dando voz a quem tradicionalmente não acho que houve uma grande viragem
minante termos uma agenda do trabalho a tem. Por exemplo, terminámos a nossa na Europa, viragem essa que tem agora
que seja digna, garantindo que os jovens Presidência com a aprovação por unani- de ser consolidada, nomeadamente
olhem para Portugal como o melhor país midade, pelos 27 Estados-membros, do através da implementação de vários
para trabalhar. lançamento da Plataforma Europeia de instrumentos financeiros.
A
grave crise social e económica, decorrente da situação de pandemia de
Covid-19, gerou um movimento solidário entre todos, ao nível dos governos,
das instituições europeias e das próprias pessoas. Uma solidariedade que
se tem afirmado das mais diversas formas.
Como referiu o Primeiro-Ministro António Costa na Cimeira Social do Porto,
“a pandemia colocou as questões sociais entre as maiores preocupações dos
nossos cidadãos” numa época em que “nove em cada dez europeus consideram
a Europa social uma prioridade”.
Nesta Cimeira foram alcançados importantes compromissos de ação relativamente
ao Pilar Europeu dos Direitos Sociais, tendo sido essencial o papel desempenhado
pelos Parceiros Sociais. Embora partindo de abordagens sociais diferentes, tiveram a
capacidade de encontrar, com base no diálogo e no princípio de concertação social,
uma forma de participação e de envolvimento ativo no compromisso final alcançado
para pôr em prática o Pilar Europeu dos Direitos Sociais, como destacou a presidente
da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
De seguida apresentam-se as diferentes abordagens e perspetivas dos Parceiros
Sociais relativamente a como passar do Plano à Ação, de forma a assegurar um cres-
cimento económico sustentado e atingir uma maior coesão social.
O
Pilar Europeu, proclamado e assinado
em novembro de 2017 durante a Cimeira
Social de Gotemburgo para o Emprego
Justo e o Crescimento, teve por objetivo a
criação de uma Europa Social, Justa e Inclusiva,
extensível a todos os cidadãos europeus e
nacionais de países terceiros com direito de
residência na União. Este documento funda-
mental, materializado em 20 princípios e direitos
primordiais, tinha por objetivo principal alcan-
çarmos “o bom funcionamento dos mercados
de trabalho e dos sistemas de proteção social
na Europa do Século XXI”, face aos desafios
decorrentes da evolução social, tecnológica e
económica.
Quando o Pilar foi adotado, a rota do mundo
já se encontrava em processo de mudança, em
direção a um futuro mais verde e digital, mas
estávamos ainda longe de imaginar que o futuro
da União Europeia passaria principalmente
por estas duas linhas de ação e que seríamos
Eduardo Oliveira e Sousa, Presidente da CAP
assolados por uma pandemia. As modificações
operadas, entretanto, requereram a adoção de
processos de transição justa, auxiliando os
PILAR EUROPEU
países, as pessoas e as empresas a adaptarem-
-se a um mundo novo, com um especial enfoque
DOS DIREITOS SOCIAIS nas questões sociais.
Depois de três anos a dar alguns passos
DO PLANO
tímidos no sentido da concretização dos direitos
e princípios do Pilar, a União quer e precisa de
avançar com mais vigor no sentido da sua
À AÇÃO implementação.
Para combater a pandemia, adotamos
medidas de contenção sanitária e estamos a
imunizar as pessoas. A pouco e pouco, estamos
a conseguir debelar a doença, mas os efeitos que
ela provocou na economia irão perdurar ainda
AUTOR: Eduardo Oliveira e Sousa, Presidente da Confederação dos Agricultores de
Portugal (CAP) FOTOS: Cedidas pela CAP
por alguns anos. Para reerguermos as econo- e locais uniram-se e associaram-se em torno
mias, ao mesmo tempo que caminhamos para da aceleração da concretização do Pilar. Houve
uma transição verde e digital, será necessário unanimidade em passar do Plano à Ação.
empreender reformas, ressuscitar empresas, No âmbito da Cimeira, a Comissão Europeia
reabilitar pessoas e competências. Esse trabalho avançou ainda com a definição de três metas
será desempenhado através dos Planos de (ambições comuns) nos domínios do emprego,
Recuperação e Resiliência, construídos em das competências e da proteção social: pelo
cada um dos 27 Estados-membros, atendendo menos 78% da população entre os 20 e 64
às especificidades de cada um e ao seu grau de anos deverá encontrar-se empregada até
desenvolvimento, mas balizados sempre pela 2030, redução do número de pessoas em risco
observância dos direitos e princípios sociais. de pobreza ou exclusão social em pelo menos
Assim sendo, somos convocados a adaptar 15 milhões até 2030, intensificar os esforços
os direitos e princípios sociais do Pilar à nova para aumentar a participação anual de todos os
realidade da economia ecológica e digital e aos adultos em ações de formação, devendo pelo
efeitos nefastos da pandemia na economia e menos 60% desses adultos participarem todos
na sociedade. Em suma, é-nos solicitada a os anos em ações de formação.
criação de um novo conjunto de “regras sociais”, E, por fim, definiu grandes objetivos em
tomando por base os 20 princípios do Pilar, mas torno do Pilar, mas agora reformulados à luz das
adicionando-lhes a transição para a neutralidade novas tendências, tais como: a criação de mais e
carbónica e para a digitalização e as alterações melhores empregos, a adequação da legislação
demográficas, sem perder de vista a recupe- laboral às novas formas de trabalho, o investi-
ração e reconstrução de uma Europa desfeita mento nas competências e na educação para
pela doença. criação de novas oportunidades, a promoção da
Para concretizar os princípios e direitos previstos inclusão social e combate à pobreza, a promoção
no Pilar, a Comissão Europeia adotou um Plano de da saúde e adequação da proteção social ao
Ação Sobre o Pilar Europeu dos Direitos Sociais, em trabalho do futuro.
complemento à ação dos Estados-membros, que No decurso do Plano apresentado, e que
são os responsáveis pelas políticas de emprego, será revisto em 2025, a Comissão Europeia
formação e proteção social. convidou as restantes instituições europeias,
A Cimeira Social do Porto, ocorrida em maio os parlamentos nacionais, os parceiros sociais
de 2021, representou o compromisso, que tive e a sociedade civil à promoção de debates polí-
oportunidade de testemunhar, de todos os ticos regulares, tendo em vista a monitorização
Estados-membros da União, no reforço e reno- dos resultados alcançados. Uma primeira fase
vação, ao mais elevado nível político, do Pilar desenrolar-se-á até 2025, e a partir desta e da
Europeu dos Direitos Sociais. Durante a sua reali- reformulação e revisão do Plano, poderemos
zação, os Estados-membros, os parceiros sociais estar em condições de concretizar uma Europa
europeus e nacionais, e as autoridades regionais Social forte e coesa até 2030.
Os requisitos fundamentais
para o funcionamento correto
da área do euro
A
Confederação do Comércio e Serviços de
Portugal (CCP) acompanhou, no plano
nacional e europeu, os trabalhos conducentes
à consagração, em 2017, do Pilar dos Direitos Sociais.
Nessa altura, tivemos oportunidade de referir que
as políticas da União Europeia (UE) têm sido pouco
eficazes na promoção de uma convergência real ao
nível social e do emprego, conduzindo ao acentuar
das diferenças entre os Estados-membros. O papel
do Pilar só terá sentido se puder dar um contributo
efetivo para combater as assimetrias existentes no
seio da União Europeia, e principalmente no contexto
da União Económica e Monetária. Dito de outra forma,
tivemos algumas reservas sobre a existência de
instrumentos paralelos – por um lado, as restritas
João Vieira Lopes, Presidente da Direção da CCP
regras da União Económica e Monetária e, por outro,
os 20 princípios do Pilar Europeu dos Direitos Sociais
– para garantir um crescimento económico robusto,
fundamental para assegurar uma maior coesão
O PAPEL DO PILAR EUROPEU social no seio da UE.
É verdade que a concretização dos vários prin-
DOS DIREITOS SOCIAIS cípios do pilar depende da iniciativa dos Estados-
‑membros, mas também neste domínio a posição
COMO ELEMENTO DE UMA de partida dos vários Estados é muito desigual,
e se este facto não for adequadamente perce-
UNIÃO ECONÓMICA E bido no desenho das soluções, dificilmente será
possível diminuir o fosso económico e social que
MONETÁRIA MAIS PROFUNDA se continua a verificar entre os vários países da UE.
Reconhece-se que, recentemente, no contexto
E MAIS EQUITATIVA da crise, a UE adotou medidas que revelam uma
maior compreensão das assimetrias existentes
na capacidade de resposta dos vários Estados-
AUTOR: João Vieira Lopes, Presidente da Direção da Confederação do Comércio e Serviços
‑membros aos impactos da pandemia. Outro sinal
de Portugal (CCP) FOTOS: Cedidas pela CCP foi, sem dúvida, o da criação de condições para a
P
ara avançar na conquista de direitos, para
defender e salvaguardar os interesses dos
trabalhadores, a CGTP-IN utiliza todos os
meios que tem à sua disposição, desde logo o
desenvolvimento da luta – seja nas empresas
e locais de trabalho, seja a luta convergente dos
diferentes sectores – que assume um papel
determinante.
Para além da organização, esclarecimento
e mobilização dos trabalhadores para a luta,
a CGTP-IN não abdica da ação no plano institu-
cional e de tirar o máximo partido de todos os
instrumentos que possam servir para sustentar
a elevação das condições de trabalho e de vida.
É a partir desta matriz que analisamos o Pilar
Europeu dos Direitos Sociais (PEDS), ou seja, em
que medida o seu conteúdo e as medidas que
dele emanam representam, ou não, um instru-
mento a usar na luta pelos direitos.
Uma visão objetiva ao PEDS e ao Plano de
Ação recentemente apresentado que lhe dá corpo
conduz-nos a uma posição crítica e a considerá-
Isabel Camarinha, Secretária-Geral da CGTP-IN
-lo até como um entrave à possível e necessária
promoção dos direitos sociais e laborais.
Uma primeira questão que se coloca prende-
-se com a soberania, que os próprios tratados
LUTAR PELOS DIREITOS e regras da União Europeia (UE) definem como
cabendo a cada Estado-membro determinar as leis
UMA NECESSIDADE laborais e a política salarial em cada país.
Com o PEDS há a tentativa de remeter para
DO PRESENTE.
a esfera europeia competências que são de
Portugal, afastando o centro de decisão para diluir
responsabilidades, uma prática bem conhecida
PARA O FUTURO
das instituições da UE e do FMI na denominada
troika, mas que diariamente condiciona o desen-
volvimento do país.
A ligação umbilical do PEDS com os meca-
AUTORA: Isabel Camarinha, Secretária-Geral da Confederação Geral dos Trabalhadores nismos que estrangulam o desenvolvimento
Portugueses - Intersindical Nacional (CGTP-IN) FOTOS: Cedidas pela CGTP-IN nacional, seja o Pacto de Estabilidade, o Tratado
N
os dias 7 e 8 de maio de 2021, realizou-se,
respetivamente, a Cimeira Social do Porto
e a reunião informal do Conselho Europeu.
Como resultado final a ressaltar, foi adotado o
Compromisso Social do Porto, o qual, em síntese,
reflete o empenho das partes na implementação
do Pilar Europeu dos Direitos Sociais e em traba-
lhar em conjunto para promover uma recuperação
inclusiva, sustentável, justa e rica em empregos,
baseada numa economia competitiva que não
deixe ninguém para trás.
Quatro anos depois da Cimeira de Gotemburgo,
onde foi proclamado o Pilar Europeu dos Direitos
Sociais, a Cimeira visou reforçar o compromisso
dos Estados-membros, das instituições europeias,
dos parceiros sociais e da sociedade civil com a
implementação de um Plano de Ação apresentado
pela Comissão Europeia.
As empresas orgulham-se da Europa social
e do seu Modelo que, como sabemos, é um dos
António Saraiva, Presidente da CIP.
mais avançados do mundo.
O progresso social exige uma estratégia equili-
brada e coerente que dê resposta cabal e sustentada
no tempo aos muitos desafios sociais que enfren-
tamos, como o desemprego, a pobreza, a acessibi-
E FORMAÇÃO
social, que todos desejamos, exige cresci-
mento económico, ou seja, a geração de riqueza.
Sejamos claros: os problemas sociais da Europa
DO MODELO
As diferentes situações em matéria social e
de emprego na Europa radicam, em boa parte,
na ausência de implementação de verda-
do desenvolvimento do Modelo Social Europeu, Impõe-se, pois, sem hesitações ou rodeios, uma
destaca-se o da educação e formação profissional. forte aposta na educação e formação profissional, no
Para os empregadores, a qualificação da popu- contexto da aprendizagem ao longo da vida.
lação constitui um pilar essencial para o cresci- É, assim, necessário:
mento económico e para a promoção da coesão • Convencer os jovens sobre a vantagens de
social, uma vez que potencia o aumento da permanecerem no sistema de ensino, seja
competitividade, a modernização das empresas, o clássico ou o profissional, ficando poten-
a produtividade, a empregabilidade e a melhoria ciadas – e muito – as perspetivas de terem
das condições de vida e de trabalho. melhores condições de vida.
É fundamental interiorizar e reconhecer que • Incentivar a atualização de conhecimentos e
a sociedade e, designadamente, os mercados de requalificação dos recursos humanos ao longo
trabalho, estão em constante e rápida mutação, da vida, incutindo em todos os trabalhadores
e que a chave do nosso sucesso coletivo se uma mentalidade de formação contínua.
encontra na capacidade de adaptação das orga- • Incentivar modelos de educação e formação
nizações e das pessoas, desde o nível mais baixo flexíveis que sejam capazes de, rapida-
à gestão de topo. mente, dar resposta às necessidades das
É necessário que as empresas se adaptem empresas e dos trabalhadores.
a novos produtos, novos métodos de produção • Reformular os conteúdos programáticos,
e distribuição, novos mercados, novos padrões incutindo nas pessoas ou valorizando, para
de consumo e, especialmente, a um ainda mais além de novos saberes digitais, a impor-
acentuado crescimento da concorrência. tância da inovação e da capacidade de adap-
O reforço da concorrência promoverá uma tação a novos contextos, não esquecendo
nova dinâmica nas empresas e sectores, dado as soft skills.
que, para além da concorrência baseada nos • Assegurar o financiamento adequado dos
custos de produção, haverá ainda uma concor- diversos sistemas de educação e formação
rência motivada pela inovação. e incentivos às empresas para desenvol-
Por outras palavras, o presente e o futuro obri- verem formação.
garão a novos modelos de negócio. • Reforçar o papel das empresas e dos seus
Acresce que a transição digital e climática, que representantes enquanto elemento-chave
se quer adequada e benéfica para todos, implica para o sucesso dos sistemas de educação
a reformulação profunda dos atuais perfis profis- e formação.
sionais, bem como a criação de novos perfis, e, na
maioria dos casos, elevados níveis de competên- A importância da educação e formação é de
cias ou novos tipos de competências relacionadas tal forma reconhecida que um dos três objetivos
com avanços tecnológicos. mensuráveis do Plano de Ação da Comissão, a
A falta de profissionais com competências alcançar até 2030, é “Pelo menos 60% de todos
adequadas às necessidades das empresas é um os adultos deverão participar anualmente em
problema bem real – hoje, 70% das empresas ações de formação”.
europeias reportam que os seus trabalhadores A CIP está preparada para passar das palavras
não têm as competências necessárias. às ações.
P
ortugal e o mundo atravessam um momento
crítico sem precedentes. Ainda a vivermos
em ambiente de pandemia, provocada pela
Covid-19, mas já com o processo de vacinação em
curso e em progressão, o mercado de trabalho
enfrentou no último ano grandes desafios em
várias esferas.
No domínio do emprego, apesar de não ser
possível contabilizar com rigor a perda de postos
de trabalho no Turismo, tendo em conta a trans-
versalidade do sector, não é difícil de perceber o
impacto negativo da pandemia. O Turismo era, em
2019, responsável por cerca de 340 mil empregos
diretos apenas nas atividades produtivas do
alojamento, restauração e agências de viagens
e turismo. Em 2020, foram registadas perdas de
62% em número de hóspedes, 63% em dormidas
e 66% em proveitos totais em estabelecimentos
de alojamento turístico. As consequências são,
pois, inevitáveis.
Apesar desta crise económica e sanitária,
os empresários mantiveram-se confiantes na
Francisco Calheiros, Presidente da CTP recuperação e empenhados em cumprir com os
seus compromissos económicos e sociais, tendo
PELA
como prioridade a sobrevivência das empresas e
a manutenção dos postos de trabalho.
Estamos agora na fase de desconfinamento
RECUPERAÇÃO
e com as atividades económicas a darem os
primeiros passos para a recuperação e a trabalhar
afincadamente para retomar o ritmo que tínhamos
assume também o seu compromisso para a inovação e das iniciativas de cocriação de valor
concretização das três principais metas a atingir e de trabalho em equipa, demonstrando a neces-
até 2030: taxa de emprego de pelo menos 78% sidade de desenvolver e consubstanciar uma
na União Europeia, participação de pelo menos cultura de inovação capaz de mobilizar a empresa
60% dos adultos em ações anuais de formação e os seus mais diversos recursos. É com base
e redução do número de pessoas em risco de nestas conclusões que a CTP está empenhada
exclusão social ou de pobreza em pelo menos em promover a formação dos profissionais do
15 milhões de pessoas. Turismo, apoiando, assim, os empresários nesta
A CTP, tendo como missão a afirmação do competência.
Turismo na economia portuguesa, tem como Assumindo as atuais dificuldades que grande
uma das suas prioridades o reforço da quali- parte das empresas turísticas ainda atravessam,
dade e da excelência do capital humano, com a compete-nos também alertar o Governo para a
aposta na capacitação de empresários e gestores, necessidade de reforçar as medidas de apoio à
na formação e incentivo a empreendedores e na economia que permitam acelerar esta transição
qualificação dos seus recursos. Neste âmbito, digital e ir ao encontro dos objetivos do Plano de
promove regularmente ações de formação por Ação sobre o Pilar Europeu dos Direitos Sociais.
todo país em diferentes áreas, como Segurança Não falharemos esta missão. Por Portugal e pelos
e Saúde no Trabalho, Marketing Digital e Turismo portugueses.
Inclusivo.
Tendo também consciência do importante
papel que a transição digital assume na recu-
peração da economia social, a CTP tem vindo a
trabalhar, em conjunto com os seus associados,
neste importante campo que integra o lema da
presidência portuguesa da União Europeia.
Em 2020, a CTP apresentou, em conjunto
com a NOVA IMS - Information Management
School, o estudo “Impacto da Economia Digital
na Atividade Económica do Turismo”, através do
qual se concluiu que as empresas estão cientes
da importância da transformação digital.
Este estudo concluiu também que este cons-
titui um processo de desenvolvimento e não
algo que é simplesmente adquirido pelas orga-
nizações; apontou ainda para a necessidade
de requalificar colaboradores em competências
digitais, bem como os processos de gestão da
O
s direitos sociais e a qualificação dos trabalhadores esti-
veram desde sempre nas prioridades da União Geral
de Trabalhadores (UGT) desde a sua primeira hora.
Recordamos as seguintes passagens nos documentos do 1.º
Congresso da UGT em 27-28 de janeiro de 1979:
“7.2.3- A UGT pretende negociar com o Governo uma política
de emprego, baseada, entre outras, nas seguintes medidas:
a).7 Criação do Instituto do Emprego e Formação
Profissional, com gestão tripartida...
7.2.4- (...) implantar centros de ensino profissional por todo
o país(...)”
Bastamo-nos, portanto, num breve bosquejo pela história
da UGT para podermos afirmar inequivocamente que a qualifi-
cação dos portugueses esteve e está no cerne da sua missão tal
como na do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).
A proposta realista e inovadora do 1.º Congresso da UGT viu logo a
luz do dia em dezembro desse mesmo ano com a criação do IEFP.
Também na União Europeia a UGT tem estado na linha
da frente, desde a primeira hora, com os seus parceiros da
Confederação Europeia de Sindicatos, tanto na valorização como
na defesa da importância da formação profissional e na da criação
Carlos Silva, Secretário-Geral da UGT e fortalecimento do Centro Europeu para o Desenvolvimento da
Formação Profissional (CEDEFOP).
Sabemos, também, que tanto em Portugal como na União
Europeia no seu conjunto se continuam a enfrentar graves desafios
no que diz respeito à qualificação e formação, quer dos trabalha-
SOCIAIS,
em economia global e em rápida transformação, como nos vem
alertando a Organização Internacional do Trabalho (OIT) com as
questões da Agenda do Futuro do Trabalho.
A PRIORIDADE
Em Portugal, mais de um quarto dos desempregados detém
baixas qualificações, sendo também neste grupo que se regista
uma das mais elevadas percentagens de desemprego de longa
DAS PRIORIDADES duração, situação que contribui muito para agravar os problemas
da pobreza. O desfasamento existente entre as competências dos
trabalhadores e as necessidades do mercado de trabalho é enorme,
e o mercado de emprego tem vindo a demonstrar continuadamente
lacunas persistentes ao nível das qualificações necessárias para
AUTOR: Carlos Silva, Secretário-Geral da União Geral de as exigências de crescimento e inovação económicas. A UGT tem
Trabalhadores (UGT) FOTO: Cedidas pela UGT vindo a alertar constantemente para a necessidade de adequação
da formação à modernização do país e do modelo económico, Social do Porto de que pelo menos 78% da população entre os 20 e
tornando-se cada vez mais premente a necessidade de ultrapassar, os 64 anos deverão estar empregados até 2030; que pelo menos
de uma vez por todas, o paradigma dos baixos salários e da pobreza 60% de todos os adultos devem participar anualmente em ações
entre os trabalhadores. de formação até 2030, e o acesso a formação em capacidades
Para a UGT, a elevação das qualificações dos portugueses digitais básicas para 80% dos indivíduos entre os 16 e os 74 anos;
sempre constituiu, como já acentuámos, e sempre constituirá além de uma redução de, pelo menos, 15 milhões do número de
uma prioridade sindical, enquanto prevalecer o problema estrutural pessoas em risco de pobreza ou exclusão social, que, através
de défice de qualificações de que há muito o nosso país padece. Tal do Método Aberto de Coordenação, nos permitirá ir medindo os
défice é, nunca será demais sublinhá-lo, um obstáculo não apenas avanços que virão a realizar-se, mostram que queremos e conti-
à competitividade das empresas, em que a capacidade técnica nuaremos a ter a Europa como o diapasão das políticas sociais
continua a ser globalmente reduzida e em que o nível médio de para um mundo mais justo e equitativo, apesar das grandes dife-
qualificações permanece baixo, mas é também um obstáculo à renças que ainda persistem nos diversos países da própria União
modernização do país e uma pecha para o necessário aumento Europeia.
dos salários e dos rendimentos dos trabalhadores portugueses. Se nos focarmos no que concerne à formação profissional e
Os obstáculos de competitividade das empresas e de moder- nas nossas obrigações nacionais de que 60% de todos os adultos
nização do país só serão debelados se todos os atores sociais se devam participar anualmente em ações de formação até 2030
empenharem numa estratégia nacional e europeia que combata, e que pelo menos 80% das pessoas entre os 16 e os 74 anos
ao mesmo tempo, as baixas qualificações e a sua crónica desa- venham a adquirir competências digitais básicas, verificaremos
dequação às necessidades da modernização da sociedade e que temos um grande desafio à nossa frente, pois estamos abaixo
do mercado de trabalho. Para que tal se mostre eficaz, deverão da média europeia e temos um exigente caminho para trilhar, mas
ser dados sinais claros de incentivo à formação individual dos que não podemos nem perder nem soçobrar, sob pena de não
trabalhadores. se fomentar a aquisição de competências, a requalificação e a
Se a Europa está na vanguarda de uma sociedade à escala empregabilidade dos trabalhadores portugueses e a renovação
mundial mais justa e equitativa, onde os valores da cidadania, dos do sector empresarial nacional.
direitos humanos, da solidariedade social, entre outros, estão no A UGT esteve desde a primeira hora na origem da criação
âmago da própria construção da União Europeia, o Pilar Europeu do IEFP e, por isso, nunca será demais lembrar que ao acom-
dos Direitos Sociais (PEDS) é, em tal contexto, um farol para aquilo panhar os desafios que o país tem de suplantar nesta área de
que deve ser uma sociedade do diálogo, do compromisso e de intervenção do Plano de Ação do PEDS acompanhará o IEFP no
combate a muitas das, ainda existentes, iniquidades dos sistemas papel insubstituível que terá na concretização dos desafios
político-sociais que a compõem. ambiciosos lançados no Acordo alcançado pelos Parceiros
Ora é neste contexto que o PEDS é visto pelo movimento Sociais Europeus na área da formação, estando convictos de
sindical democrático e progressista da Confederação Europeia que através da formação também se atenuarão os problemas
de Sindicatos como um caminho para uma União Europeia mais crónicos de pobreza e do desemprego e se contribuirá posi-
justa e coesa. E é, também, em tal contexto que a UGT se sente tivamente para a prossecução destes dois outros objetivos.
embrenhada na execução dos 20 princípios plasmados no PEDS e, O princípio de que “Não pode ficar ninguém para trás” não
por maioria de razão, no compromisso que se alcançou, ainda que pode ser entendido como um mero slogan, mas exige-se que
timidamente, na Cimeira Social do Porto, no âmbito da Presidência seja encarado como uma exigência imposta pela realidade
Portuguesa do Conselho da União Europeia. Não esgota, é verdade, dos acontecimentos e, também por isso, se afigura como a
as áreas de intervenção do PEDS, mas é já um sinal inequívoco da prioridade das prioridades das políticas nacionais e europeias.
determinação dos parceiros sociais nacionais e europeus. O IEFP, enquanto organismo de gestão tripartida, tem um
Os três objetivos consolidados entre os Parceiros Sociais papel central para que os objetivos sejam alcançados com
Europeus – Comissão, Empregadores e Trabalhadores – na Cimeira sucesso, e a UGT não enjeitará, portanto, o seu papel.
A Sonae é um dos promotores da nova verde trouxe também desafios ao nível das energias renová-
iniciativa de formação europeia intitulada veis e, com elas, a necessidade de novas funções. Os ritmos de
mudança a que atualmente estamos sujeitos obrigam-nos a uma
Reskilling 4 Employment (R4E), que tem adaptação mais rápida a novas formas de organizar o trabalho, a
como objetivo requalificar profissionais novas ferramentas e métodos, exigindo de todos novas aptidões
desempregados ou em profissões em risco, como a própria facilidade de adaptação à mudança e uma proa-
preparando-os para as novas necessidades tividade e predisposição para a aprendizagem ao longo da vida.
do mercado de trabalho europeu. À medida que se extinguem velhas profissões, novas ocupa-
ções emergem, com novas necessidades em termos de qualifi-
cação. Há uma década não seríamos capazes de prever a escala
O
mercado de trabalho na Europa está a transformar-se da necessidade de técnicos de instalação de painéis solares,
radicalmente. Estima-se que cerca de 20 milhões de ou de manutenção de parques eólicos, de cuidadores, na área
europeus terão de ser requalificados até 2030, para da saúde, que acompanhassem as necessidades resultantes
assumir novas ocupações, à medida que a Europa faz a sua do envelhecimento da população, ou de analistas de marketing
transição para uma nova economia, mais verde e mais digital. e especialistas em SEO (Search Engine Optimization), ou ainda
É por isso vital ajudar os cidadãos europeus no processo de de programadores e data scientists.
requalificação para se enquadrarem nas novas necessidades A transformação profunda ao nível do emprego tornou
do mercado, melhorando as suas vidas, reforçando a coesão premente a necessidade de se pôr em prática um modelo de
social e promovendo a competitividade europeia. reconversão profissional, de larga escala, com a capacidade
A pandemia de Covid-19 veio pôr pressão adicional na para requalificar e colocar em situação de empregabilidade
necessidade de transição, com cerca de 15 milhões de desem- cerca de cinco milhões de cidadãos europeus até 2030.
pregados desde já, alguns dos quais requerendo a necessidade Esse desígnio permitiu que, desde a primeira hora, os
de requalificação para poder encontrar um novo emprego. membros do European Round Table for Industry1 (ERT) tenham
Não é novidade que as competências digitais são hoje abraçado a ideia de mobilizar os seus esforços no sentido de
competências essenciais, disseminadas por todos os sectores promover a transformação do ecossistema da requalificação
de atividade, sendo vitais para a grande maioria de funções. profissional.
Observamos como os avanços da automação e da inteligência
artificial extinguem, todos os dias, mais postos de trabalho, sobre- 1 O ERT é um fórum que reúne líderes de empresas multinacionais de base europeia,
abrangendo um vasto leque de sectores industriais e tecnológicos. As empresas ERT
tudo os que implicam tarefas manuais e rotineiras. A transição representam cinco milhões de empregos diretos em todo o mundo.
A análise levada a cabo permitiu identificar que os modelos empresas, formadores, agências de emprego, trabalhadores
com maiores taxas de sucesso na colocação de candidatos e todo um conjunto de entidades públicas, privadas e sociais.
em emprego tendem a seguir uma abordagem end-to-end O desafio da reconversão profissional de uma importante
que compreende sete passos essenciais na cadeia de valor parte da população trabalhadora na Europa é um desafio
da requalificação: demasiado grande para qualquer entidade enfrentar sozinha.
1. Monitorização (local) da procura de emprego, incluindo Ensaiar a capacidade de harmonizar objetivos, partilhar conhe-
qualificações e atividades necessárias para o emprego; cimentos e experiências e trabalhar em equipa faz parte do
2. Desenho da formação – construção de programas feitos caderno de encargos deste piloto que agora iniciamos. O nosso
à medida, para ensinar todas as atividades e aptidões objetivo é somar a nossa experiência, conhecimento e capa-
necessárias ao desempenho da função para a qual o cidade de trabalho em equipa de todos os stakeholders que
trabalhador se reconverte; atuam neste domínio.
3. Mobilização dos candidatos, aconselhamento e avaliação Em Portugal, o IEFP, enquanto organismo responsável pela
das necessidades de formação para a requalificação execução da política de emprego e de formação profissional, é
na nova função; naturalmente a entidade-chave para qualquer parceria neste
4. Oferta de formação e certificação; domínio. Mais ainda, porque precisamente a vocação do IEFP
5. Colocação dos candidatos em situação de emprego, o dota da capacidade para uma abordagem end-to-end, da
incluindo formação e mentoria para apoio à procura de formação ao emprego, numa procura de respostas céleres
emprego e candidatura bem-sucedida; e ajustadas ao mercado. Por outro lado, porque o IEFP é um
6. Monitorização e avaliação do processo, medindo os resul- verdadeiro pivô na coordenação das medidas de formação
tados ao nível da empregabilidade (ex.: colocação efetiva a nível nacional, articulando diretamente com entidades
em emprego após três meses de treino), reunindo feed- públicas, sociais e de relevância socioeconómica.
back das entidades empregadoras e atualizando o desenho Para nós, enquanto promotores do projeto-piloto R4E em
da formação à medida que a função-alvo se transforma; Portugal, o empenho do IEFP significa agregar vontades e
7. Financiamento, assegurando a acessibilidade para o constituir momentum para reajustar a oferta da formação
candidato, e alinhamento de incentivos entre candi- profissional e o paradigma da empregabilidade.
datos, formadores e empregadores.
Um piloto, três países
Menos de 1% dos programas de formação avalia o seu No seu primeiro ano, o programa R4E começa com projetos-
impacto, quer ao nível da qualidade dos processos utilizados -piloto em três países europeus: Portugal, Espanha e Suécia.
quer ao nível da taxa de empregabilidade alcançada. Mas é As empresas que lideram o programa nesta primeira vaga
possível descortinar que a falta de incentivos, a fragmentação incluem, para além da Sonae, a AstraZeneca, a Iberdrola, a
da oferta, a ausência de financiamento para quem necessita Nestlé, a SAP, a Telefónica e o Grupo Volvo.
de se requalificar, ou não haver um horizonte de empregabi- O programa será lançado com uma série de iniciativas e
lidade, são algumas das razões do insucesso. Poucas são as potencial para ganhar escala e potenciar os ecossistemas
iniciativas que implementam uma abordagem end-to-end, e de reconversão profissional que já existem, a nível nacional,
aquelas que o fazem têm tipicamente uma escala pequena. desenvolvendo ferramentas e conhecimento, que podem ser
O que encontrámos nos programas de maior sucesso, objeto de partilha, e harmonizando objetivos.
e com melhores taxas de empregabilidade, permitiram O seu propósito traduz-se de forma simples: ajudar as
conclusões inequívocas. Essas conclusões, e em particular pessoas a fazer a requalificação necessária para reentrar no
a evidência de que as grandes empresas possuíam uma parte mercado de trabalho, melhorando as suas vidas, potenciando
essencial da informação atual e prospetiva sobre as necessi- a coesão social e ampliando a competitividade europeia. Só
dades e obsolescência de funções, tornaram-se o catalisador assim se poderá assegurar que a Europa tem o capital humano
do programa R4E e mobilizaram todos os stakeholders em e as qualificações necessárias para levar a cabo com sucesso
torno de objetivos comuns, orquestrando o alinhamento entre as transições verde e digital.
parceiros sociais, públicos e privados. A sua escala é também clara e ambiciosa: o programa
Um programa-piloto está a ser desenhado para, em conjunto R4E propõe-se requalificar um milhão de adultos de todas
com as entidades relevantes em cada país, testar uma abordagem as idades, na Europa, até 2025.
end-to-end da requalificação, no sentido de preparar uma trans- Para já, em Portugal, a ideia é a criação de três Reskilling
formação no ecossistema, alavancada pela capacidade de todos: Labs, que permitirão testar as premissas e a eficácia do
O
Ministério do Trabalho, Solidariedade e “A transição digital tem um enorme potencial e
Segurança Social promoveu, no passado traz com ela inúmeras oportunidades, no acesso “Agora é tempo
dia 9 de março, no âmbito da Presidência ao mercado global, na melhoria dos processos de uma reflexão
Portuguesa do Conselho da União Europeia, produtivos, na desburocratização da vida dos conjunta, que
uma Conferência de Alto Nível sobre o Futuro do cidadãos”. Foi com estas palavras que o Primeiro- garanta que
Trabalho intitulada “Trabalho Remoto: Desafios, ‑Ministro António Costa conduziu a abertura da
os processos
Riscos e Oportunidades” com vista à discussão Conferência, enfatizando que “ninguém pode ficar
do tema com um conjunto alargado de peritos. para trás” nesta transição e que a resposta aos conjunturais
novos desafios deve articular diferentes níveis não se
Sessão de abertura e áreas das políticas públicas, envolvendo os transformam em
A Conferência contou com a abertura do Primeiro- parceiros sociais, as empresas e a sociedade civil. desigualdades
‑Ministro, António Costa, do Diretor-Geral da Defendeu que é “agora tempo de uma reflexão estruturais.”
Organização Internacional do Trabalho, Guy Ryder, conjunta, que garanta que os processos conjuntu-
e do Comissário Europeu para o Emprego e Direitos rais não se transformam em desigualdades estru- António Costa,
Primeiro-ministro
Sociais, Nicolas Schmit. turais”, sendo necessárias iniciativas concretas
que seja garantido o direito de todos à organização, pela Ministra do Trabalho e Economia Social de
representação e negociação, ou como os sindicatos Espanha, Yolanda Díaz Pérez, que identificou a
e associações de empregadores podem participar na dimensão coletiva como fundamental.
regulamentação de formas emergentes de trabalho. A última sessão centrou-se na Regulação do
O Presidente do Comité de Proteção Social, Peter mercado de trabalho, eficácia dos direitos e obri-
Lelie, considerou que os Estados-membros devem gações legais e Segurança e Saúde no Trabalho,
fazer o melhor uso possível da oportunidade que moderada por Ana Olim, Diretora-Geral da DGERT.
é oferecida pela Recomendação do Conselho rela- Na introdução, a Chefe da Unidade de Vida
tiva ao acesso à proteção social dos trabalhadores Profissional da Eurofound, Barbara Gerstenberger,
por conta de outrem e por conta própria, para forta- referiu que a eficácia dos direitos e obrigações
lecer os sistemas de proteção social, ampliar a sua legais e da regulamentação do mercado, bem como
cobertura e torná-los à prova dos desafios do futuro. a aplicação das disposições de saúde e segurança
Já o papel central da tecnologia e das compe- de trabalho em geral, é uma questão transversal e
tências na transição digital foi abordado por Maxime desafiadora a nível nacional e europeu.
Cerutti, Diretor do Departamento dos Assuntos Joaquim Pintado Nunes, Chefe da Divisão de
Sociais da BusinessEurope, que deu nota dos impor- Administração do Trabalho, Inspeção do Trabalho
tantes Acordos-Quadro sobre teletrabalho e digitali- e Segurança e Saúde Ocupacional da OIT, deixou
zação, que procuram responder precisamente aos algumas sugestões para a melhoria da legislação
desafios do futuro do trabalho. Realçando também o e inspeção do trabalho, como o providenciar as
papel dos parceiros social, Rainer Ludwig, Presidente inspeções do trabalho com recursos tecnológicos
do CEEMET, referiu que os parceiros sociais cele- adequados e conhecimentos especializados em
braram importantes acordos coletivos para orga- informática, a inspeção virtual, a digitalização do
nizar o trabalho a fim de enfrentar a pandemia, cumprimento de obrigações ou a celeridade na
adotando diferentes soluções sobre a melhor forma autorização de acesso ao domicílio através de plata-
de organizar e gerir o trabalho, protegendo a saúde formas partilhadas entre inspeção e poder judicial.
e a segurança dos trabalhadores. Salientou ainda a As implicações de saúde e segurança do teletra-
importância de permitir um espaço de ação para que balho domiciliar, como os maiores riscos ergonómicos
os parceiros sociais possam fazer face aos desafios e psicossociais, foram apresentadas pelo Chefe da
de um mundo do trabalho digitalizado. Unidade de Prevenção e Investigação da Agência
Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho A garantia de que a reflexão sobre estas irá
(EU-OSHA), William Cockburn, que manifestou continuar, em particular sobre a conciliação da
também preocupação com o risco de acidentes, vida privada e profissional, o trabalho seguro e
sedentarismo e conflitos domésticos e violência. saudável ou a importância das competências, num
O coordenador da Equipa de Competências e contexto de digitalização, desafios demográficos
Emprego do Centro Comum de Pesquisa, Enrique e integração de género, foi deixada pelo Ministro
Fernández Macías, afirmou a necessidade de uma do Trabalho, Família, Assuntos Sociais e Igualdade
nova regulamentação do teletrabalho, bem como de Oportunidades da Eslovénia, Janez Cigler Kralj.
de uma coordenação transnacional para a regula- Ana Mendes Godinho, Ministra do Trabalho,
mentação desta forma de trabalho. Solidariedade e Segurança Social de Portugal, subli-
O papel da Autoridade Europeia do Trabalho nhou a importância do Livro Verde sobre o Futuro do
(ELA) e a cooperação entre os Estados-membros Trabalho enquanto peça fundamental para a cons-
na garantia de que mudanças na mobilidade laboral trução de um caminho fundamentado e equilibrado
na Europa ocorrem de forma justa, respeitando os na regulação das novas formas de trabalho. Também
direitos e obrigações estabelecidos pela legislação o Plano de Ação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais
da UE sobre trabalhadores e empregadores, foi evi- se afigura central, na medida em que valoriza, não
denciado por Cosmin Boiangiu, Diretor Executivo apenas a dimensão quantitativa dos objetivos em
da ELA. matéria de emprego, mas, também, a dimensão
qualitativa do mercado de trabalho.
Sessão de encerramento Terminou garantindo que “as conclusões que
A sessão de encerramento contou com as interven- apresentaremos ao Conselho sobre o futuro do
ções dos Ministros do Trabalho do trio de presidên- trabalho e, em particular, sobre o trabalho remoto,
cias do Conselho da União Europeia. que emanarem desta conferência serão um contri-
O Ministro Federal do Trabalho e Assuntos Sociais buto importante para os nossos trabalhos e para o
da Alemanha, Hubertus Heil, referiu o debate, que trabalho do futuro” e considerando que “qualquer
acontece atualmente na Alemanha, sobre a necessi- iniciativa europeia nesta matéria deve ser edificada
dade de regras jurídicas vinculativas para o trabalho a partir de um processo de diálogo com os Parceiros
remoto e o estabelecimento de regras claras para a Sociais, como tem sido de resto apanágio das inicia-
proteção da saúde dos trabalhadores. tivas recentes da União Europeia em matéria laboral”.
MUSEU FÓRUM
A PARTICIPAÇÃO CÍVICA COMO ESTRATÉGIA INTEGRADA PARA A
INCLUSÃO SOCIAL
MUSEU FÓRUM
A PARTICIPAÇÃO CÍVICA
COMO ESTRATÉGIA INTEGRADA PARA A
INCLUSÃO SOCIAL
AUTORA: Ana Alcoforado, Provedora para a Inclusão e Cidadania. Direção-Geral do Património Cultural FOTOS: Cedidas pela autora
P
ela voz dos mais influentes pensadores do Templo e fórum ainda coexistem no universo
século XX, os museus têm vindo a assumir museológico. Mas cada vez mais se concebe um
diversas e abrangentes dimensões. Walter museu voltado para o público, característica do
Benjamin acreditava nos museus como “espaços museu fórum: um museu dinâmico, inclusivo e
que suscitam sonhos”, André Malraux via-os como participativo.
locais que “proporcionam a mais elevada ideia do O fórum é um lugar de encontro, de troca
homem”, Duncan Cameron propõe, com alguma de experiências e de exercício de cidadania.
dose de humor, analogias com templos ou fóruns. É através do encontro que se produz transfor-
Como enfatiza, o “Museu Fórum”, por oposição mação. A aproximação ao público, a adoção de
ao “Museu Templo”, sem perder as suas especi- uma postura prática e participativa reforçam
ficidades, é um lugar de ação: “o fórum é onde se a memória e a identidade coletiva e estimulam a
ganham as batalhas, o templo é onde se encon- repensar o papel social do museu, como espaço
tram os vencedores”. transformativo.
Já no século XXI, Nina Simon, ativista por catalisadores na comunidade e como espaços
instituições culturais mais abertas, inclusivas e públicos por excelência.
eficazes, recentra a sua atenção no conceito de A inclusão social e a acessibilidade cultural,
Museu Fórum e numa arquitetura de participação. direcionando a cultura, história e identidade
Pensa o Museu como um lugar de ação, espaço de social, valores estabelecidos que os museus já
fórum de discussão, onde se pode criar, partilhar e perseguem, podem ocorrer através de uma pers-
interconectar uns com os outros, em torno de um petiva de Museu Fórum, priorizando o foco nas
conteúdo (património/coleções), reafirmando a pessoas e a interação com a comunidade.
identidade do espaço e, agindo em rede, tornando- Observando os desafios que se colocam
-o relevante para cada vez mais pessoas. à gestão destes espaços de memória, baseia-
Se os museus almejam tornar-se inclusivos -se a presente reflexão na experiência vivida e
têm de agir como fórum, espaço ou plataforma na estratégia implementada, ao longo de mais
de diálogo, constituindo-se como verdadeiros de uma década, na direção do Museu Nacional
– um dinâmico ecossistema que envolve múltiplos maiores identificar, implementar e replicar projetos e
atores, desde a universidade, empresas, institui- programas de boas práticas inovadoras no domínio
ções públicas e sociedade civil, partindo do reco- do envelhecimento ativo, veio trazer uma nova visão
nhecimento, pela Comissão Europeia (CE), em 2013, e ambição ao programa, que se encontra já replicado
como primeira Região Europeia de Referência para o noutras instituições museológicas nacionais.
Envelhecimento Ativo e Saudável em Portugal. Percebe-se, aliás, que o que torna este projeto
O trabalho em rede e as instituições envol- deveras inovador é o seu carácter intrinsecamente
vidas nesta área de intervenção não deixaram de colaborativo, constituindo um exemplo da capaci-
crescer, tendo contribuído para o fortalecimento dade de funcionar fora das fronteiras institucionais,
do programa que o museu vinha já implemen- com objetivos mobilizadores, com coordenação
tando com grande sucesso. É o caso do projeto/ técnica interna e coordenação científica da principal
programa “EU no museu”, desenvolvido desde instituição parceira. A mobilização de um elevado
2011, que partindo da proposta de um voluntário, número de pessoas, a maioria das quais aposen-
se estabeleceu através de um protocolo com a tadas da área da saúde, em regime de voluntariado,
Associação Alzheimer Portugal. Relacionado com e a eliminação de barreiras institucionais na compo-
o crescente envelhecimento da população e o sição das equipas, a sua natureza transversal e a
consequente aumento de perturbações neurocog- capacidade de auto-organização para a execução
nitivas, este programa visa a estimulação cognitiva das tarefas, constituem uma forma inovadora de
e a promoção da qualidade de vida e do bem-estar trabalhar.
de pessoas com demência e dos seus cuidadores, Neste campo de ação, reconhecendo o poten-
em contexto museológico, proporcionando a um cial de aplicação ao público-alvo do “EU no museu”,
público socialmente excluído e autoexcluído novas foi encetada a participação numa plataforma de
formas de socialização e de cidadania. Trata-se de treino cognitivo online Intellicare – Intelligent
um projeto inovador em Portugal, tendo como refe- Sensing in Healthcare, Lda., no desenvolvimento
rência o Meet Me, desenvolvido desde 2007 pelo de jogos neurocognitivos com forte componente
Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA). de socialização e divulgação cultural, associada
A relação simbiótica estabelecida com o a técnicas de gamificação e inteligência artificial,
consórcio Ageing@Coimbra, que tem como objetivos que através de estímulos e respostas promove
comportamentos, hábitos e estilos de vida saudá-
veis, sendo direcionada às motivações e aos inte-
resses seniores.
Em comum, todos estes projetos têm um modelo
participativo e colaborativo de trabalho, e a intencio-
nalidade de ouvir e fazer acontecer diferentes vozes
no espaço do museu. É desta trama que é feita a
diversidade. Alguns deles sobreviveram ao encer-
ramento dos museus em 2020 e no 1.º trimestre
de 2021, reinventando formatos e meios para a
continuidade do encontro, relembrando-nos conti-
nuamente da profunda relevância de continuarmos
(sermos) abertos.
Se entendemos o Museu como lugar de atua-
lização de memórias e (re)construção da iden-
tidade coletiva, então ele tem de ser um lugar de
ação, de democracia cultural, onde se ganham
batalhas, como a batalha da humanização e da
cidadania crítica e ativa ou, relembrando a metáfora
de Boaventura Sousa Santos (2012), da criação de
laços de pertença, que nos prendem e protegem.
PROMOVER A INCLUSÃO
PROMOVER A
INCLUSÃO
A
presente edição da revista está, como já foi
referido, centrada nas questões sociais e nas
diversas formas de promover a inclusão.
Os artigos deste Dossier procuram refletir sobre
toda a problemática recentemente acentuada pela
crise pandémica que veio colocar no centro das
preocupações as questões sociais, com todas as suas
fragilidades gravemente acentuadas.
Urge desenvolver novas estratégias e soluções
revigoradas que permitam encontrar oportunidades
onde agora nos deparamos com dificuldades. E estas
passam, certamente, por promover a requalificação
e a formação da população ativa, por promover o
crescimento do emprego, aumentar a competitividade
das nossas empresas, desenvolver de forma
equilibrada as nossas regiões, mas encontrar formas
de o fazer sem esquecer os mais vulneráveis, em
situação de pobreza e de exclusão.
Uma sociedade verdadeiramente desenvol
vida é uma sociedade mais coesa e socialmente
responsável. Como refere um dos autores deste
Dossier, queremos uma “sociedade mais Justa, mais
Desenvolvida e mais Democrática”. Este é o grande
desafio em que todos contamos, todos temos um
papel a desempenhar e todos devemos responder de
forma ativa.
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partir de março de 2020, a pandemia
A DE O D
O
maior crescimento no desemprego registado, a partir de Passado um ano, e considerando os números desagregados de
março de 2020, ocorreu precisamente nos meses de abril de 2021 (os últimos disponíveis à data em que escrevo)
março, abril e maio (tendo passado de 296 016 inscritos verificamos que, com exceção das habilitações escolares mais
no fim de fevereiro de 2020 para 384 504 no final de maio do baixas nas quais se verificou um crescimento acima da média,
mesmo ano), fazendo-se sentir em todas as cinco regiões do as tendências gerais estabilizaram, ainda que com algumas
continente (a área de intervenção do IEFP) e foi acompanhado nuances. A diferença entre homens e mulheres manteve o
por fortíssima redução das ofertas de emprego. A partir de maio
de 2020 e até dezembro desse ano, o número de inscritos foi
variando, subindo umas vezes e descendo outras, até terminar
o ano nos 375 150. Com o recrudescimento da pandemia e o
segundo confinamento, aquele número subiu até 405 374,
em março deste ano, para, já em abril, recuar novamente para
396 707. Em resumo, verifica-se que desde fevereiro de 2020
a abril de 2021 o número de inscritos cresceu 103 691 e que
nos três primeiros meses desse período o crescimento foi de
88 488 (85% do total). Muitos são os fatores que explicam esta
relativa estabilidade a partir de maio de 2020, nomeadamente,
a dimensão dos apoios disponibilizados às empresas, permi-
tindo, conjuntamente com o esforço daquelas, não chegar aos
números apocalípticos que muitos temeram que pudéssemos
atingir. Esse, porém, não é o objeto desta reflexão.
Temos, portanto, que o primeiro facto foi o da dimensão
inicial da onda, sendo esse o mais visível, mas sob a super-
fície da onda escondia-se um outro facto muito relevante: as
características dos novos desempregados quanto a idade,
género, habilitações escolares ou sectores de origem.
Podemos salientar alguns pontos: entre o fim de fevereiro
e o fim de maio de 2020, o número de inscritos aumentou
31%, mas esse crescimento foi muito assimétrico quando o
desagregamos por idade e habilitações escolares e, em menor
grau, por género. Assim, o crescimento entre os maiores de
padrão de março a maio de 2020, ainda que com uma diferença em fevereiro de 2020. Pessoas com perfis diferentes, mas a
progressivamente menor entre os géneros; o aumento entre os acrescer aos que já estavam na situação de desemprego. Uns
mais jovens acentuou-se e para uma média global de 35%, os e outros a necessitar de respostas.
menores de 25 anos aumentaram em 45% e na faixa seguinte o Esta nova realidade tornava claro que era preciso conti-
aumento foi de 55%; quando olhamos para a desagregação por nuar a responder aos inscritos pré-Covid e aos novos inscritos.
escolaridade, verificamos um aumento de 42% entre os menos A intervenção do IEFP desenvolveu-se e desenvolve-se ao
qualificados (coerente com o aumento dos maiores de 55 anos, longo de dois eixos, a saber: aumentar e diversificar a nossa
que cresceram 26%) e de 39% entre quem estudou até ao 3.º CEB atuação. Aumentar a oferta formativa. Diversificar os modos,
e de 47% para os habilitados com o ensino secundário. Assistiu-se as parcerias, os conteúdos, as modalidades, as metodologias.
também a um aumento nos diplomados com o ensino superior No Eixo Aumentar, foi visível o incremento do número de
(28%, quando nos três meses atrás mencionados tinha sido de cidadãs e de cidadãos abrangidos em formação profissional,
20%). Por Região, mantêm-se e aprofundam-se as diferenças, com promovida pela rede de serviços de formação do IEFP. De facto,
o Alentejo a aumentar 18%, o Centro 20%, e o Norte 26%, enquanto e apesar das extraordinárias dificuldades operacionais que
em Lisboa o aumento atingia 52% e no Algarve 68%. a pandemia provocou, o ano de 2020 foi mesmo aquele que
Considerando, então, os meses de março de 2020 a conheceu o maior número de formandas/os desde 2015. O desen-
abril de 2021, os grupos mais atingidos continuam a ser os volvimento do plano de 2021 vai já no sentido de se garantir que
homens, os jovens, os detentores do ensino secundário e um número ainda superior de formandos frequentará formação
agora também os menos habilitados escolarmente e os que profissional, contribuindo assim para que se caminhe para os 60%
se situam no outro extremo. de adultos anualmente envolvidos em atividade de educação/
Para se ter uma noção do número de pessoas inscritas formação ao longo da vida, um dos objetivos do Compromisso
em abril, lembro que são 45 mil com menos de 25 anos; 84 mil Social do Porto, aprovado no passado dia 7 de maio.
situados entre os 25 e os 34; 165 mil entre os 35 e os 54; Para que o Eixo Aumentar fosse bem-sucedido em muito
e 102 mil acima dos 55 anos de idade. Por habilitações, são contribuiu a execução do Eixo Diversificar.
30 mil com menos do que o 1.º CEB; 54 mil com o 1.º CEB; A diversificação fez-se e faz-se com programas articulados
entre si, mas com grande plasticidade e amplitude, por vezes
dirigidos a grandes grupos de pessoas, outras com aplicação
prática a poucas dezenas de cidadãs/ãos, programas total-
mente desenvolvidos na rede de centros do IEFP ou em enti-
A intervenção do IEFP
dades formadoras externas e em estreita colaboração com
desenvolveu-se e desenvolve-se entidades públicas, privadas ou do terceiro sector, em áreas
ao longo de dois eixos, a saber: de forte inovação tecnológica e digital ou em alguns dos mais
aumentar e diversificar a nossa tradicionais sectores económicos portugueses. A diversifi-
cação assim conseguida procura cumprir sempre o objetivo de
atuação. Aumentar a oferta
responder às necessidades de formandas/os, de empresas,
formativa. Diversificar os modos, da sociedade e da economia e adaptando a nossa atuação a
as parcerias, os conteúdos, as essas novas e preexistentes necessidades. A título meramente
modalidades, as metodologias. exemplificativo, lembro que temos mais 51 mil inscritos com
pelo menos o ensino secundário e, a esses, a nossa oferta não
pode assentar em respostas de dupla certificação. Contudo,
como temos outros 53 mil sem esse grau escolar (desde há
mais de uma década, a escolaridade obrigatória em Portugal),
55 mil com o 2.º CEB; 81 mil com o 3.º CEB; 125 mil com o não podemos deixar de o fazer também.
ensino secundário e 51 mil com o ensino superior. Procuro referir de seguida alguns exemplos dessa diversifi-
Mais de 396 mil pessoas, não números, mas pessoas, com cação sem pretender ser exaustivo, mas procurando deixar um
necessidades, com aspirações, com famílias a cargo ou sem panorama geral da nossa atividade ao longo do Eixo Diversificar.
elas, mas sempre olhando para o IEFP como uma possível porta O primeiro programa que menciono é o UPskill, porque foi
para sair da situação em que se encontr(av)am. o primeiro a ser operacionalizado, concebido ainda em período
Para o IEFP, trata-se de uma nova exigência, ao ver crescer anterior à eclosão da pandemia, mas cujo acordo de colaboração
em três meses um terço do número de inscritos existentes haveria de ser assinado no dia a seguir àquele em que foram
O UPskill, o Emprego Mais Digital e o são escolas do ensino superior politécnico e universitário. Decorre,
neste momento, a fase final da sua primeira edição que abrange
Jovem Mais Digital são exemplos de
cerca de 400 formandas e formandos e tem por ambição envolver
programas operacionalizados em três mil pessoas até ao final de 2022.
situação de pandemia com o objetivo O Programa UPskill reconhece a crescente incorporação de
de apoiar as pessoas desempregadas no conhecimento e de tecnologia nos processos produtivos, nos
bens e serviços e, naturalmente, nas profissões, mesmo em
desenvolvimento das suas competências
algumas insuspeitas, e que vem reclamar a correspondente
e facilitar a sua reinserção profissional. necessidade de atualização, requalificação e reconversão profis-
sional dos trabalhadores.
Na mesma linha de necessidade encontramos o Programa
Emprego Mais Digital (E+D) que pretende contribuir para o robus-
tecimento do tecido empresarial português, garantindo formação
profissional numa área estratégica para a economia como um
todo e para cada empresa em particular. O Programa resulta da
articulação entre entidades públicas e privadas como o próprio
IEFP, a Equipa de Missão Portugal Digital e as Confederações
Empresariais, nomeadamente a Confederação Empresarial de
Portugal (CIP), a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal
(CCP) e a Confederação do Turismo de Portugal (CTP), com as quais
foram já estabelecidos os protocolos de cooperação, estando a
iniciar, com as suas associadas, a formação no terreno.
Para a execução do plano de formação está mobilizado
um amplo leque de entidades formadoras, a saber: os centros
de gestão direta e os centros de gestão protocolar do IEFP e as
próprias associações, desde que devidamente certificadas para
o efeito. Apesar de lançado nos últimos dias de 2020 e da grave
situação de crise que vivemos, a ambição é de abranger, em 2021,
pelo menos 42 mil trabalhadoras/es em formação nas diferentes
áreas da economia.
Não estando destinado a desempregados, mas sim aos ativos
de cada empresa, o E+D procura antecipar necessidades e mitigar
riscos quer para as/os trabalhadoras/es quer para as empresas.
No mesmo quadro de esforço coerente de desenvolver
competências digitais, surge o Programa Jovem Mais Digital
(J+D). Este programa insere-se na conceção e operacionali-
confirmados os primeiros dois casos de infeção por SARS-Cov-2 zação de medidas de formação profissional com destinatários
em território nacional. Refiro este facto porque é o melhor exemplo específicos, adequando conteúdos, durações, modalidades,
de um programa criado de forma totalmente exógena à crise sani- localizações. Destina-se a jovens até aos 35 anos e com, pelo
tária, mas que haveria de sofrer o impacto imediato da mesma, menos, o 12.º ano de escolaridade. Ainda em 2020, foram
quer em termos de formandas/os abrangidas/os quer no modo abrangidas/os 2130 formandas/os e, em 2021, mais de 5000
de realização do programa. jovens já frequentam um dos 15 percursos diferentes criados
O UPskill é um programa de requalificação de desempregados em articulação com os principais intervenientes no sector.
com longos percursos escolares (pelo menos 12 anos), que Esperamos ainda garantir que o J+D chegue a mais 5000
incorpora formação, formação prática em contexto de trabalho ainda neste ano. Este Programa teve a particularidade de
e colocação em empresas aderentes. Foi concebido entre o incorporar o contributo direto de algumas empresas de topo
IEFP e a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das no desenvolvimento dos percursos formativos, garantindo a
Comunicações que agrega as maiores empresas tecnológicas e sua adequação e atualização face ao que são as necessidades
de comunicação a operar em Portugal. As entidades formadoras desse mesmo mercado de trabalho.
Aqui chegados, importa lembrar que a tecnologia e o organização, da qual o nosso país é membro fundador com
digital não resolverão os nossos problemas, nós resol- participação ativa e ininterrupta desde 1950.
veremos (ou não) os nossos problemas. A questão, como Com este conjunto de programas pretendemos responder
sempre em momentos passados, é de sabermos utilizar às cidadãs e aos cidadãos que, enfrentando uma situação difícil,
bem todos os instrumentos que se encontram ao nosso olham para o IEFP como uma entidade capaz de lhes propor-
dispor para melhorar as nossas vidas. Este é um caminho cionar ferramentas que os ajudem a mudar de ciclo. Mas também
que pretendemos prosseguir e aprofundar. queremos garantir que o tecido empresarial português se forta-
Não se constituindo como uma oferta formativa, não quero lece apoiando a criação de emprego, através da capacitação dos
deixar de referir o primeiro Campeonato Digital das Profissões, seus atuais e futuros trabalhadores, cumprindo a nossa missão
realizado integralmente em modo remoto e envolvendo várias de potenciar a criação de mais riqueza, permitindo a sua redis-
centenas de jovens e adultos de todo o país. Trata-se de uma tribuição de forma mais justa e equitativa
iniciativa totalmente inovadora e sem precedentes no âmbito Por isso, estes programas não são substitutivos da
da Worldskills International e constitui um marco importante formação mais tradicional que oferecemos, mas antes um
do ponto de vista simbólico e da afirmação de Portugal naquela desenvolvimento da nossa atividade. Por outro lado, o envolvi-
mento das mais diversas entidades (instituições de ensino supe-
rior, associações empresariais e outras) acresce em capacidade
de resposta e de adequação às necessidades reais da economia.
A questão, como sempre em Estamos muito cientes da importância do serviço público
momentos passados, é de sabermos de emprego e de formação profissional, no atual contexto e,
utilizar bem todos os instrumentos em boa verdade, em qualquer contexto. Para cumprirmos esse
serviço público, envolveremos todos com pertinência, relevância
que se encontram ao nosso dispor
e vontade no processo, sem exclusões e sem preconceitos.
para melhorar as nossas vidas. Este No fundo, estamos todos a construir uma sociedade mais
é um caminho que pretendemos Justa, mais Desenvolvida e mais Democrática.
prosseguir e aprofundar. Nada menos nos é exigido, nada menos exigimos de nós
próprios.
O
Programa Internacional para a Avaliação competências dos adultos e permite analisar em
das Competências dos Adultos profundidade o modo como estes são capazes
(Programme for the International de mobilizar, na sua vida quotidiana, os conhe-
Assessment of Adult Competencies, PIAAC) cimentos e as capacidades que adquiriram ao
é um programa internacional multiciclo de longo da vida em três domínios distintos: literacia,
avaliação das competências dos adultos promo- numeracia e resolução de problemas, nomeada-
vido pela Organização para a Cooperação e mente em ambientes tecnologicamente desa-
Desenvolvimento Económico (OCDE). Constitui o fiantes. O questionário inclui ainda um importante
estudo internacional mais abrangente sobre as módulo de caracterização do inquirido, onde se
interrogam, entre outras, as dimensões relativas à para concretizar tarefas de complexidade limi-
caracterização demográfica e socioeconómica dos tada) e pontuações altas dizem respeito a níveis
respondentes, trajetória e participação educativa de proficiência altos (capacidade para realizar
e formativa, e uso de competências nos diferentes tarefas diferenciadas e complexas). Para ajudar
espaços sociais da vida quotidiana (OECD, 2013c; a interpretar as pontuações, a escala é dividida
2019b). em níveis de proficiência. Existem seis níveis de
literacia e de numeracia (de “Abaixo do Nível 1”
O PIAAC: dados relevantes para as políticas – o mais baixo – até ao “Nível 5” – o mais alto) e
europeias de educação e formação quatro na resolução de problemas em ambientes
A proficiência dos adultos em cada um dos ricos em tecnologia (de “Abaixo do Nível 1” – o
três domínios avaliados é assumida como um mais baixo – até ao “Nível 3” – o mais alto).
contínuo e medida em escalas; de acordo com os Estão já disponíveis os resultados obtidos no
resultados obtidos nos testes, os participantes no 1.º Ciclo do PIAAC, desenvolvido em 37 países
estudo são posicionados ao longo de escalas de ao longo de três rondas, em 2012, 2014 e 2017.
500 pontos, em que as pontuações baixas repre- No total, foram entrevistadas cerca de 250 mil
sentam níveis de proficiência baixos (capacidade pessoas, representativas de 815 milhões de
adultos com idades entre os 16 e os 65 anos. • os adultos com baixa proficiência revelam
A coleta de dados para o 2.º Ciclo do PIAAC começa menos probabilidade de participar em ativi-
em 2021, prevendo-se que os dados sejam dispo- dades de aprendizagem;
nibilizados a partir de 2024. Portugal participa • 25% dos adultos não possuem as competên-
neste 2.º Ciclo, depois de, por decisão do XIX cias, designadamente de literacia, essen-
Governo Constitucional, ter interrompido a sua ciais para fazer uso eficaz das tecnologias
participação na primeira edição deste programa de informação e comunicação;
(Ávila et al., 2011). • a posse de competências está clara e signifi-
Os dados apurados permitem recolher infor- cativamente correlacionada com resultados
mação essencial para a definição das políticas euro- económicos e sociais positivos.
peias de educação e formação de adultos (OECD,
2013a; 2013b; 2016; 2019a). Neste texto, subli- Os resultados obtidos confirmam, de forma clara,
nhamos alguns que nos parecem especialmente a existência de importantes diferenças no espaço da
relevantes: União Europeia. Quando se olha, por exemplo, para
• quase 20% da população em idade ativa da os dados relativos às competências de literacia, são
União Europeia possui baixa literacia e poucas bem evidentes as variações significativas entre os
competências numéricas; países europeus: 38 pontos separam o país com a
• as diferenças entre os indivíduos com quali- pontuação mais elevada (Finlândia, com score médio
ficações semelhantes são muito significa- de 288) do país com a pontuação mais baixa (Itália,
tivas entre Estados-membros; por exemplo, com score médio de 250). Dentro de cada país, os
os portadores do ensino secundário em níveis de literacia dos adultos variam também consi-
alguns países revelam competências seme- deravelmente: em média, mais de 60 pontos marcam
lhantes ou até superiores aos licenciados de a diferença entre os 25% mais proficientes e os 25%
outros países; menos proficientes. Um aspeto decisivo a considerar
• as competências tendem a deteriorar-se é que a magnitude das diferenças nas pontuações
com o tempo, se não forem usadas com obtidas pelos adultos de cada país é maior nos países
frequência; com os menores valores médios.
30
25
20
15
10
5
0
Itália
Espanha
Grécia
França
Polónia
Hungria
Alemanha
Irlanda
Média
Chipre
Eslovénia
Dinamarca
Áustria
Lituânia
Suécia
Estónia
Noruega
Flandres (B)
R. Checa
Países Baixos
Eslováquia
Finlândia
Inglaterra & Gales
Em cada país, os níveis de literacia e de nume- ISCED4, pontuação de 285,4. Os inquiridos que
racia variam consideravelmente entre adultos com detêm os níveis ISCED5 e ISCED6 apresentam um
diferentes características sociodemográficas, score médio de 302 pontos.
havendo uma associação clara entre a proficiência Uma relação clara pode ser também encon-
e a idade, o nível de educação dos próprios adultos trada entre emprego e literacia. Assim, por
e o dos seus pais, e também com a condição de exemplo, os europeus empregados a tempo
imigração. Em contrapartida, não é evidente a asso- inteiro obtêm, em média, 277,7 pontos, os traba-
ciação com o género dos inquiridos. lhadores a tempo parcial 270,7 e os desempre-
Em termos etários, os europeus com idades gados 255,4. Igualmente significativo é o facto
entre 26 e 35 anos têm a pontuação média de lite- de, em média, os adultos testados na sua língua
racia mais elevada (282,6 pontos), seguindo-se os nativa apresentarem uma pontuação muito
adultos com idades entre os 16 e os 25 (278,1); mais elevada (274) do que a dos adultos para
depois, surgem os inquiridos com idades entre os os quais a língua em que foram testados cons-
36 e os 45 anos (277,1 pontos). Os europeus acima titui a segunda língua (245,9). Já em termos
dos 46 anos têm as pontuações médias mais baixas: de género, as diferenças são pouco relevantes:
os de 46 a 55 anos têm pontuação média de 266,3 os homens europeus têm um nível de literacia
pontos e os de 56 a 65 anos de 253,6 pontos. apenas ligeiramente mais alto (271,9) do que as
Os dados
Igualmente relevante é a relação dos níveis de mulheres europeias (270,3). Os dados relativos apurados no
literacia com o percurso educativo dos europeus. à literacia encontram, regra geral, paralelo nos PIACC permitem
As diferenças, como evidencia o gráfico 2, são dados da numeracia, tanto mais que os dois domí- recolher
muito significativas. Os adultos sem educação nios apresentam associação em matéria de profi-
formal ou com nível de escolaridade abaixo de ciência: habitualmente, adultos mais proficientes
informação
ISCED11 apresentam uma pontuação média de em literacia são também mais proficientes em essencial para
198,8 pontos; para os que possuem o ISCED1, numeracia (e, por maioria de razão, na resolução a definição
a pontuação média é de 225,3; os que têm o de problemas). das políticas
ISCED2 registam uma pontuação de 251; com
o ISCED3, pontuação de 272,1; e os que têm o Baixos níveis de competências
europeias de
dos adultos e exclusão social educação
1 Classificação Internacional Normalizada da Educação (do inglês:
Os níveis de competências dos adultos europeus e formação
International Standard Classification of Education -ISCED) é uma
classificação dos níveis educativos destinada a permitir a comparação de
estão claramente relacionados com os rendimentos de adultos.
estatísticas e de políticas educativas entre sistemas educativos diferentes. e o capital cultural das suas famílias e, portanto,
também com os riscos de pobreza e exclusão. Os resultados do PIAAC revelam ainda que as
Os dados do PIAAC revelam, por exemplo, que o dificuldades sentidas pelos adultos com baixos
salário por hora está fortemente associado à profi- níveis de competências podem gerar, de múltiplos
ciência em literacia: o salário médio por hora dos modos, processos sérios de exclusão social. Para
trabalhadores com pontuação alta em literacia isso contribui o facto de, para muitos, esta situação
(Níveis 4 ou 5) é 94% maior que o dos trabalhadores tender a ser encarada como uma fatalidade, o que
com pontuação baixa (Nível 1 ou inferior). Além dificulta o seu envolvimento em processos forma-
disso, os trabalhadores mais bem pagos (no 75.º tivos. Estes adultos envergonham-se, amiúde,
percentil) entre os que têm uma pontuação alta de das suas fragilidades e acreditam que estão muito
literacia ganham mais do dobro dos trabalhadores velhos para aprender, considerando impossível
mais bem pagos que, todavia, apresentam baixas melhorar a sua situação ou receando fracassar no
competências de literacia. Os dados recolhidos no caso de se envolverem em percursos formativos.
âmbito do PIAAC apontam, de uma forma expec- Este sentido de fragilidade da sua situação revela-se
tável, mas que deve ser assumida com preocu- igualmente no facto de estes adultos considerarem
pação, para uma relação forte entre os baixos níveis ter mais problemas de saúde, quando comparados
de competências dos adultos e a sua pobreza. com adultos com os níveis de competências mais
É, de resto, um problema que tende a reproduzir-se, elevados.
pelo impacto que esta situação tem nas gerações Por outro lado, os dados do PIAAC revelam que
seguintes, uma vez que os pais pobres têm menos os adultos com menor proficiência têm menor
probabilidade de apoiar os filhos na escolaridade, probabilidade de confiar nos outros e de acreditar
em virtude dos seus baixos níveis educativos e que um indivíduo pode ter impacto no processo
de literacia. político. Com efeito, quando comparados com os
EDUCAÇÃO
DE ADULTOS
E DESENVOLVIMENTO
COMUNITÁRIO
AUTOR: António Fragoso, CEAD – Centro de Investigação em Educação de Adultos e Intervenção Comunitária, Faculdade de Ciências
Humanas e Sociais, Universidade do Algarve, Campus de Gambelas FOTOS: Shutterstock
Numa altura em que uma presumível identidade europeia de espaços simbólicos, e esta ideia, que pode parecer fugidia
se desejava como se fosse um alicerce inevitável da vida ou menos visível, parece-nos fundamental.
moderna, as respostas eram muito diversas e nada alinhadas
com a “simplicidade” da pergunta. Muitas pessoas tinham Educação de adultos – um eterno errante
identidades locais bem firmadas e afirmavam pertencer Para trabalhar no desenvolvimento comunitário é preciso
com orgulho à sua aldeia, vila, bairro, etc. Outras possuíam compreender os espaços simbólicos mais significativos para
identidades regionais, mais alargadas, ou até nacionais, e as pessoas. Se se trabalhar a partir da educação de adultos, há
uma minoria mostrava construir, até, identidades globais. outros princípios que aparecem quase como tacitamente assu-
Também não faltava o fenómeno das identidades híbridas e midos. É curioso, até, como a “comunidade dos educadores de
múltiplas. Mas todos pertencemos a algum lado, ao sítio que adultos” consegue falar, às vezes, com tanta fluidez, a partir de
chamamos e sentimos como casa. E o sentimento de pertença um campo que alguns designam de fraco.
está, muitas vezes, relacionado com diversos aspetos simbó- É que a educação de adultos não tem um campo teórico
licos da comunidade. próprio. A Sociologia e a Psicologia, por exemplo, têm desenvol-
O que significa uma ponte sobre um rio? Algo que une as vido há bastante tempo as suas próprias teorias e avançado ao
duas margens? Ainda que essa imagem possa prevalecer na abrigo desse espaço protegido. É a partir dessa herança dinâmica
nossa mente, a ponte pode representar, igualmente, um sítio de construída que analisam o mundo, vão fazendo a sua investigação
passagem que, longe de aproximar as duas margens, as torna e propondo as suas soluções para os problemas que encontram.
incomensuravelmente distantes, numa espécie de ironia do Mas a educação de adultos funciona como um eterno errante,
progresso. Um mesmo símbolo pode significar dois sentidos buscando aqui e ali o que precisa, no momento determinado, para
opostos, portanto. Muitas comunidades constroem-se em torno operacionalizar os seus princípios de eleição a favor dos adultos.
Este campo fraco significa, também, o carácter eclético que Não sabemos. Participámos e fomos para casa a seguir. Isso
orienta a sua investigação e a ligação permanente dessa mesma não é participação.
investigação com as práticas e as experiências concretas. É assim Para participar, as pessoas e os grupos comunitários têm de
que a comunidade de educação de adultos se propõe melhorar a ter capacidade de decisão no processo para o qual se convidam.
vida das pessoas, tendo uma atenção constante aos mais desfa- Este tipo de participação tem uma consequência que é angus-
vorecidos, tantas vezes lutando pela inclusão e por noções de tiante para muitos: é imprevisível. Não são os trabalhadores comu-
justiça e responsabilidade social. Assim será no desenvolvimento nitários, educadores adultos, educadores sociais, ou outros que,
comunitário: queremos caminhar com as pessoas, tentando iden- donos de alguma verdade relativa, são capazes de prever os
tificar o que queremos do nosso futuro comum, teimosamente resultados de uma decisão coletiva. Como tal, temos de aceitar
acreditando que no processo se pode aspirar à mudança social. que os resultados práticos das dinâmicas comunitárias nem
Para fazer este caminho, a educação de adultos e o desenvol- sempre são o que eu, enquanto indivíduo, poderia eventualmente
vimento comunitário acreditam na participação não paternalista. esperar. Faz parte de um jogo democrático.
A própria participação tem tido muitos sentidos diversos. Tempos Finalmente, a análise de muitas situações e dinâmicas parti-
houve em que foi vista como ingerência ou como subversão e cipativas, em contextos muito diferentes, revela alguns enganos
utilizada por militantes nesse sentido, em lutas muitas vezes comuns que se encontram à volta deste tema. Um deles diz
desiguais. Já foi apanágio de determinados sectores políticos e respeito à confiança quase cega que depositamos nos “diag-
temida pelos adversários correspondentes. Mais recentemente, nósticos” que efetuamos sobre as “necessidades comunitárias”,
tem sido usada como cooptação e destituída dos seus signifi- ou sobre os “problemas comunitários”.
cados originais. Muitos políticos entenderam que a participação Usamos uma panóplia de instrumentos afinados para que,
pode render votos e determinar eleições com um risco mínimo. depois de tudo analisado, possamos triunfantemente declarar
Toda esta diversidade de sentidos e usos requer que quem que fomos capazes de “capturar” os ditos problemas e necessi-
trabalha no desenvolvimento comunitário saiba como gerar dinâ- dades. O que obtemos, na grande maioria das vezes, é apenas
micas participativas, mas, simultaneamente, seja orientado por a perceção das pessoas com base nas suas condições estrutu-
um sentido ético maior. Alguns factos práticos são muito impor- rais, que frequentemente lhes limitam o horizonte dos possíveis,
tantes, porque orientam a ação. diminuindo a sua capacidade de ação e reação.
Por exemplo, hoje em dia, as pessoas participam quando Mas se em vez de olharmos apenas para a descrição da infor-
veem nisso alguma vantagem para si, em termos pessoais, ou mação que as pessoas nos deram, tentarmos compreender o
para a sua comunidade, em termos concretos e não abstratos. que isso significa, talvez possamos concluir que qualquer “diag-
Segundo, a participação anda de mãos dadas com a consciência nóstico” nada mais é do que uma construção social – subjetiva-
de que mudar é possível, numa espécie de mini-espirais que mente construída na inter-relação entre as pessoas. Não há nada
tanto funcionam num sentido como noutro. Se um grupo de a capturar; há, sim, muito a construir em conjunto com as pessoas
pessoas se mobilizar e empreender alguma ação que tenha e para que as pessoas consigam imaginar um futuro em que as
um resultado visível positivo, isso alimenta a participação e a suas vidas sejam melhores.
capacidade subsequente de as pessoas enfrentarem desafios Muito provavelmente, o desenvolvimento comunitário estará
de complexidade crescente. a mudar em Portugal. Precisamos de mais investigação para
Trabalhando numa comunidade, é então fundamental entender, claramente, o que se está a passar. Mas enquanto
garantir que de uma determinada ação conjunta possam sair isso não acontece, podemos não perder de vista alguns destes
alguns resultados a breve trecho, alimentando a capacidade princípios centrais – que têm servido de inspiração em muitas
coletiva de esperar, mais algum tempo, por outros resultados experiências de mudança social comunitária.
mais demorados.
Mas se a participação for realmente não paternalista, isso Agradecimentos:
significa que as pessoas da comunidade têm, efetivamente, Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT
capacidade de decidir em todas as etapas do processo. Este – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do Projeto
facto muito simples distingue, tantas vezes, a verdadeira UIDB/05739/2020.
participação da auscultação. Para quantas reuniões já fomos
convidados porque as pessoas (ou instituições) queriam
“ouvir as nossas opiniões”, “ouvir as nossas vozes”, ou outras Referências bibliográficas:
expressões semelhantes, sempre apresentadas como a última FRAGOSO, A. (2009). Desarrollo comunitario y educación. Xàtiva: Diálogos.
MELO, A. (2012). Passagens Revoltas. 40 anos de intervenção por ditos e escritos. Lisboa:
novidade da participação? O que fazem das nossas ideias? In Loco.
PRISCILA SOARES
A IMPORTÂNCIA
DA EDUCAÇÃO DE ADULTOS
PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL
AUTORA: Rita Vieira FOTOS: Cedidas pela entrevistada
T
rabalhou na área do desenvolvi- prossecução do programa que equi- de animação territorial como condição
mento local na serra do Caldeirão valia ao LEADER, um projeto de iniciativa primeira para que possam emergir
(Algarve) durante mais de 30 anos, comunitária. Este já foi “nacionalizado” e projetos locais. Infelizmente, o programa
concebendo e coordenando projetos nas chama-se atualmente Desenvolvimento DLBC não comporta, em termos finan-
mais diversas áreas: formação profis- Local de Base Comunitária (DLBC). ceiros, essa componente, pelo que
sional, apoio à criação de empresas, Trata-se de um dos projetos estruturantes tentamos implementá-la através de
valorização e promoção de produtos da Associação IN LOCO, que continua a ser outros programas.
agroalimentares de pequena escala, aplicado na serra do Caldeirão e tem, entre Temos um trabalho muito forte na
preservação e valorização do património outros objetivos, reforçar e diversificar o área da promoção dos produtos locais.
natural e cultural, entre muitas outras. tecido económico do território. Foi uma coisa feita logo no LEADER I,
Foi um dos elementos responsáveis pela em 1992, e que ainda hoje se mantém.
criação do Projeto RADIAL e, mais tarde, D&F: Os propósitos do DLBC são os Estamos a falar do apoio aos produ-
da IN LOCO, organização à qual presidiu mesmos que os do programa LEADER? tores locais e da valorização dos seus
durante 11 anos. P.S.: São idênticos, mas há uma grande produtos, hoje, mais na vertente da
Aos 72 anos, Priscila Soares faz o alteração relativamente ao que foi a inter- construção de cadeias curtas, através
balanço destas três décadas e traça venção inicial, uma vez que esta tinha da ligação direta entre o produtor e o
aquele que deve ser o futuro da educação uma componente fortíssima de animação consumidor, nomeadamente através
de adultos em Portugal. territorial. A animação territorial é um da entrega de cabazes, no caso dos
processo dinâmico de intervenção social, produtos agrícolas, e das feiras e
Dirigir & Formar: Neste momento, está que pressupõe uma atitude reflexiva ativa mercados locais, no caso dos produtos
reformada, mas mantém-se ligada e cooperativa, com o intuito de responder agrícolas e dos transformados.
à Associação IN LOCO e aos projetos a um conjunto de problemas específicos Existe também uma grande aposta
de educação de adultos que estão a de um determinado território, mas preser- no que diz respeito à promoção da
decorrer... vando sempre a sua identidade. dieta mediterrânica. Esse projeto que
Priscila Soares: Faço parte da Mesa da Nós estamos a trabalhar numa lançámos, e em que estivemos profun-
Assembleia-Geral da IN LOCO e mantenho- zona muito carenciada e, portanto, damente associados à Câmara Municipal
-me a par dos atuais projetos como a privilegiamos sempre a componente de Tavira, está, neste momento, a ser
Registo de várias
décadas de intervenção
na serra do Caldeirão.
assumido por outras regiões do país. e os próprios produtores. Portanto, o consciencializem de que têm de mudar
E nós já somos consultores das Direções- Prato Certo e a componente de apoio à os seus hábitos de consumo por uma
‑Regionais de Agricultura dessas regiões Valorização dos Produtos Locais acabam questão de saúde, de preservação do
para tentar promover também uma abor- por se interligar, conduzindo à mudança ambiente e de desenvolvimento local,
dagem idêntica nesta matéria. dos hábitos de consumo das pessoas, e comprando os produtos da região.
Na serra do Caldeirão, já estamos a essa mudança passa também pela aqui- Na componente de criação de emprego
trabalhar a questão da introdução da dieta sição de produtos locais. destacaria, por um lado, o DLBC, uma
mediterrânica nas cantinas escolares, vez que muitos dos projetos que vão
através do projeto Prato Certo. Portanto, D&F: Dos projetos que estão a decorrer, sendo aprovados preveem a criação de
já estamos um passinho mais à frente, quais é que destacaria em termos de emprego: de restaurantes, atividades de
uma vez que começámos este projeto educação de adultos e de criação de animação turística, alojamentos locais, etc.
há mais tempo. O Prato Certo consiste autoemprego? Por outro, o programa +CO3SO Emprego.
na educação de grupos muito diversi- P.S.: No que diz respeito à educação Neste âmbito, fomos a entidade que mais
ficados nas escolas para a adoção de de jovens e de adultos, destacaria o candidaturas apresentou aqui no Algarve
uma alimentação saudável: os profes- Prato Certo porque, em conjunto com e temos já mais de 20 projetos aprovados
sores, os responsáveis das cantinas, os o projeto de Valorização dos Produtos nas mais diversas áreas, que vão permitir
encarregados de educação, os alunos Locais, vai permitir que as pessoas se criar 54 postos de trabalho. Os projetos vão
entrar agora em fase de execução, ou seja, que ocupa mais de um terço de toda Podiam ser recolhidas às 7h30 e só ter
as pessoas vão receber apoios financeiros a região e com situações económicas aulas no final da manhã. E, nesse caso,
para criarem o seu próprio emprego. e sociais muito diferentes. Surge em estavam ali uma manhã inteira sem terem
1985, com o objetivo de criar novas onde se abrigar, sem qualquer apoio em
D&F: O Projeto RADIAL e, mais tarde, a atividades económicas e contribuir termos alimentares, sem atividades, sem
Associação IN LOCO têm procurado, ao para a melhoria da qualidade de vida nada. E o mesmo se passava de tarde.
longo dos anos, melhorar a vida das das populações... Acabámos por perceber que se trata de
pessoas, capacitando-as de maior P.S.: A equipa inicial da RADIAL contava um excelente ponto de entrada numa
autonomia... com três elementos que não conhe- comunidade porque, atrás das crianças,
P.S.: Nós começámos em 1985, com o apoio ciam a região, nem a realidade da serra vêm as mães, os pais, os irmãos mais
de uma Fundação holandesa, lançando do Caldeirão, pelo que era necessário velhos, as tias, os avós...
um projeto comunitário que se chamou conquistar a confiança das pessoas.
D&F: E conseguiram conquistá-los.
P.S.: Conseguimos, sobretudo, pô-los
“Nós trabalhamos a trabalhar e a pensar em conjunto.
para que as pessoas Optámos, desde o início, por contratar
percebam que animadores locais nos centros de
animação infantil porque sabíamos que a
podem criar futuro,
escola local chegava a ter 15 professores
criar economia, criar diferentes num ano letivo. Os professores
a possibilidade de iam trabalhar para a serra como quem vai
permanecer no local para o desterro. Se não apostássemos em
animadores locais, aconteceria o mesmo.
com qualidade de
Por outro lado, era importante trabalhar
vida. O sentimento com pessoas que conhecessem bem
de pertença é as localidades e as crianças e tivessem
essencial nisto.” vontade de permanecer na região.
A formação dos animadores locais
foi sempre feita em contexto de trabalho.
Isto é, os animadores dos centros de
animação infantil começaram logo a
trabalhar com as crianças e vinham
Rede de Apoio ao Desenvolvimento D&F: Presumo que não tivesse sido fácil. fazer formação a Faro um dia por mês
Integrado do Algarve (RADIAL) e foi P.S.: Não foi nada fácil. As pessoas com professores do Instituto Politécnico.
ainda, nesse âmbito, que lançámos estavam convencidas de que quem vinha E, todas as semanas, os professores iam
os primeiros cursos de Conservação do exterior só ia para a serra do Caldeirão lá acima e participavam num dia de ativi-
do Património Cultural (CPC). Eu nem porque ganhava ajudas de custo. O que dade normal no centro, vendo até que
diria que nós ajudamos as pessoas a nós tivemos de fazer foi criar um espaço ponto eles estavam a conseguir aplicar
melhorar a sua qualidade de vida, nós de comunicação que nos permitisse, as aprendizagens.
criamos processos que permitem às pouco a pouco, criar laços de confiança. Fizemos o mesmo, por exemplo,
pessoas melhorar a sua qualidade de Por isso, criámos centros de animação com as mulheres em todos os Cursos de
vida porque são elas as autoras dos infantil, uma vez que esta era uma das Património Cultural (CPC). Começaram a
percursos que realizam. grandes necessidades apresentadas trabalhar, desde o primeiro dia, como se
pela comunidade local. Na altura, só se tratasse de uma unidade produtiva e
D&F: No fundo, concedem-lhes os havia escolas do 1.º ciclo, e o 2.º ciclo era todas as matérias dadas correspondiam
instrumentos. O projeto RADIAL partiu dado através da televisão. Além disso, as às necessidades do dia a dia. Portanto, a
da ideia de que uma grande parte do crianças não tinham onde ficar. Eram arre- metodologia de projeto foi qualquer coisa
Algarve (4/5) era constituído por uma banhadas por aqueles montes dispersos que nós utilizámos em todas as inicia-
ruralidade profunda, com uma serra e trazidas para a Sede de Freguesia. tivas, colocando as pessoas em situação
as tecedeiras tradicionais se limitavam a D&F: De que forma a educação de vieram pedir-nos apoio para concretizar
memorizar os padrões já existentes. adultos contribuiu para melhorar a vida o projeto. Portanto, há uma evolução, são
As formandas perceberam que isto lhes das pessoas ao longo destes 36 anos? elas as promotoras da ideia. Aqui vemos o
abria portas espantosas: estavam a P.S.: Tudo o que fizemos até agora foi percurso que foi feito e o crescimento que
aprender a ser produtoras e empresárias. educação de adultos porque a vertente houve por parte daquelas pessoas. Aliás,
da formação pessoal dos participantes uma das formandas é, neste momento,
D&F: Qual a importância do sentimento está presente em qualquer iniciativa. Presidente da Junta de Freguesia. Era
de pertença à comunidade nestas Mesmo quando se vai a uma feira, trata-se uma pessoa que estava frequentemente
experiências? de formação porque as pessoas fazem- à beira da depressão e, hoje em dia, não
P.S.: É essencial. Daí que seja tão impor- -no para vender um produto e precisam tem tempo para isso porque transborda
tante ter animadores locais. A pertença de aprender a fazê-lo. Portanto, nós de projetos.
ao local, a identificação com o local, o tentamos em todas as atividades criar No caso dos cursos CPC, eram
desejo de contribuir para a sua melhoria condições e fornecer informação às mulheres que estavam em casa, muito
é fundamental. pessoas para que possam realizar essas isoladas, os maridos trabalhavam no
No caso dos cursos, a componente aprendizagens. exterior e elas passavam semanas sozi-
local é muito forte também porque se nhas com a responsabilidade de tudo:
aproveita, por um lado, a cultura local das crianças, dos mais velhos, da casa,
para desenvolver os produtos de uma da horta. E, naqueles meios, as mulheres
determinada empresa, mas também as “Nós criamos processos nem sequer iam ao café.
ligações existentes à Junta de Freguesia, que permitem às pessoas
que apoia a participação numa feira, ou D&F: O que é que ainda falta fazer na
à Câmara que pode, por exemplo, pagar
melhorar a sua qualidade área da formação de adultos?
a despesa da eletricidade da pequena de vida porque são elas P.S.: É um trabalho que tem de ser pros-
unidade em que se trabalha, particular- as autoras dos percursos seguido. Isto é como a história da demo-
mente na fase de arranque. que realizam.” cracia. Tem de se continuar a trabalhar
Quando cheguei ao Algarve e fui lá porque as pessoas muito facilmente
acima à serra, sempre que perguntava adormecem. É preciso manter uma
onde é que ficava a serra do Caldeirão, atitude de aprendizagem, o que exige
diziam-me que ficava mais à frente ou um esforço constante e esse esforço
mais atrás, nunca era no sítio onde as D&F: Que balanço faz destas quase exige formação. Nós só temos pena
pessoas estavam. Ninguém queria quatro décadas? que os programas atuais estejam tão
estar ligado àquela realidade. O território P.S.: Há alturas em que estou pessimista e formatados.
apresentava uma conotação negativa penso que aquilo não é um oásis e que as
porque tinha sido completamente aban- pessoas continuam a abandonar a serra D&F: Deviam ser mais flexíveis, de
donado, tinha perdido mais de metade do Caldeirão. Mas quando paro para fazer forma a poderem adaptar-se às dife-
da população, não tinha luz, não tinha o balanço é que me dou conta da quanti- rentes realidades?
escolas... A partir do momento em que as dade de coisas que fizemos, a quantidade P.S.: Isso era essencial. Não é através
pessoas começam a reivindicar a quali- de pessoas que pusemos em movimento. da formatação que se consegue impedir
dade serrenha, demo-nos conta de que a Em alguns casos, começámos a trabalhar os abusos. Tem é de haver um acompa-
situação está a inverter-se, surgiu o licor com os pais, já trabalhámos com os filhos nhamento real dos projetos e, dessa
da serra, a lojinha de produtos locais, a e já estamos a trabalhar com os netos. maneira, conseguir manter o nível de
promoção da região nas festas popu- Por exemplo, no caso das mulheres exigência e os padrões de qualidade.
lares, etc. de Cachopo, começámos a fazer formação As entidades, quando têm uma maior
Nós trabalhamos para que as para criarem pequenas empresas. Mais autonomia, são capazes de produzir
pessoas percebam que podem criar tarde, elas próprias tiveram a ideia de muito melhor do que quando têm de
futuro, criar economia, criar a possibili- fazer, na freguesia, uma feira de artesanato trabalhar no interior de coisas completa-
dade de permanecer no local com quali- porque os outros artesãos da freguesia mente formatadas, que não se adaptam
dade de vida. O sentimento de pertença também queriam ter uma oportunidade. de maneira nenhuma à realidade com a
é essencial nisto. Associaram-se à Junta de Freguesia e qual trabalham.
IN-VI
IN-VISÍVEL
PESSOAS EM SITUAÇÃO DE SEM-ABRIGO
PESSOAS EM SITUAÇÃO
DE SEM-ABRIGO
N
as sociedades modernas assiste-se à afirmação do • Reforço de uma intervenção promotora da integração das
diverso – humano, cultural, religioso, linguístico – a pessoas em situação de sem-abrigo: visa assegurar a quali-
par de um individualismo crescente, sendo urgente dade e eficácia das intervenções técnicas e garantir que
dar visibilidade às causas estruturais de fenómenos de desi- ninguém tenha de permanecer na rua mais de 24 horas.
gualdade e marginalização inscritas nas trajetórias individuais • Coordenação, monitorização e avaliação: procura incluir
das pessoas em situação de sem-abrigo. Afirma-se, assim, a indicadores sobre as pessoas em situação de sem-abrigo
necessidade de proteção social, garantindo não só o acesso nos instrumentos de planeamento da rede social do
a condições mínimas de sobrevivência, mas também a opor- concelho e fomentar a coesão no NPISA.
tunidades que conduzam a um exercício de cidadania de
pleno direito. Importa referir que um dos primeiros compromissos assu-
Em Évora, a intervenção dirigida às pessoas em situação midos pela ENIPSSA diz respeito ao conceito de pessoa em
de sem-abrigo surgiu há cerca de cinco anos, no âmbito do situação de sem-abrigo a utilizar de modo comum a nível
acompanhamento aos beneficiários do Rendimento Social nacional e por outros países europeus, com vista à facilidade
de Inserção (RSI) efetuado pelas entidades com assento no da sua aplicação e operacionalização. “Considera-se pessoa
Núcleo Local de Inserção. Tendo por base a identificação de 16 em situação de sem-abrigo aquela que, independentemente
pessoas nessa condição, em 2017, foi constituído um grupo da sua nacionalidade, idade, sexo, condição socioeconómica
de trabalho, a Unidade de Rede Sem Abrigo de Évora (URSA), e condição de saúde física e mental, se encontre: sem teto,
com dois objetivos muito claros: intervir para que ninguém vivendo no espaço público, alojada em abrigo de emergência ou
tenha de permanecer na rua por ausência de alternativas e com paradeiro em local precário; ou sem casa, encontrando-se
caracterizar a problemática, contribuindo para o diagnóstico em alojamento temporário destinado para o efeito.”
social do concelho. Trata-se de um conceito, cujas categorias se enquadram
No alinhamento com a Estratégia Nacional para a Integração na European Typology of Homelessness e que traduzem um
de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA 2017-20231) conjunto de necessidades: (i) espaços de habitação privados
em julho de 2020, a URSA passa a designar-se Núcleo de e seguros, (ii) estatutos legais de ocupação, (iii) condições
Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo (NPISA) que, com base de habitabilidade e (iv) capacidade financeira autónoma.
num protocolo de parceria e com os mesmos objetivos, procura Esta abordagem assumida pela Comunidade Europeia,
desenvolver um trabalho assente em três dimensões: vem alargar o leque de dimensões associadas ao fenómeno,
• Promoção do conhecimento do fenómeno das pessoas alertando para a sua complexidade e dificuldade ao nível
em situação de sem-abrigo, informação, sensibilização das estratégias e modelos de intervenção social. Em simul-
e educação: configura a consolidação da utilização do tâneo, alerta para a desfiliação social das pessoas em situação
conceito e a prevenção do fenómeno. de sem-abrigo, revelando que o processo se inicia antes da
situação visível de rua, personificado nas pessoas sem-teto.
1 RCM 107/2017 de 25 de julho.
2017 47
2018 32
2019 21
PREVENÇÃO 2020 19
Total 119
NPISA
INTEGRAÇÃO Foram quatro anos marcados por diferentes movimentos,
INTERVENÇÃO ocorrências e intervenções, sendo de destacar: o internamento/
COMUNITÁRIA
institucionalização temporária (sobretudo em comunidade
terapêutica), as saídas do concelho, a recusa da intervenção
e falta de colaboração.
No final de janeiro deste ano temos 26 pessoas em acom-
No domínio da prevenção, o modelo preconiza a monitori- panhamento (24 portugueses e dois migrantes), que embora
zação contínua do fenómeno, incluindo indicadores de risco invisíveis aos olhos da maioria, vivem na cidade de Évora.
das situações de sem-abrigo e de precariedade habitacional. Da análise dos quadros 2, 3, 4 e 5 salienta-se:
A dimensão de intervenção contempla a emergência e o • Estamos perante uma população de meia-idade, a
acompanhamento. A emergência compreende um conjunto média de idades é de 54 anos, variando entre os 34
de procedimentos que permitam retirar a pessoa da condição e os 80 anos.
de sem-teto e inicia-se com a sinalização e encaminhamento • Quanto ao género, predomina o masculino, verificando-
para serviço/unidade de atendimento de emergência do NPISA. -se a existência de 21 homens e cinco mulheres.
A partir desta sinalização, é realizado um diagnóstico multidis- • A maioria (13 pessoas) tem o ensino básico.
ciplinar e definido o plano individual de intervenção. • Muitas destas pessoas apresentam problemas de
Por sua vez, a dimensão da integração comunitária procura saúde, verificando-se uma predominância da doença
mobilizar um conjunto alargado de áreas de intervenção, como mental e dos comportamentos aditivos.
Quadro 2
• No que respeita a rendimentos auferidos, verifica-se Pessoas em situação
que a maioria é pensionista ou beneficiária de RSI, de sem-abrigo
sendo que seis pessoas não têm qualquer rendimento. por local de pernoita
UM NOVO
UM NOVO RENASCIMENTO INDUSTRIAL EUROPEU
RENASCIMENTO
INDUSTRIAL
EUROPEU
AUTOR: Miguel Pinto, Managing Director da Continental Advanced Antenna Portugal FOTOS: Shutterstock
N
este preciso momento em que a pandemia ocupa grande revolução foi impulsionada pelo carvão, a segunda teve na
parte do foco mediático, e em que todos olham com sua génese a descoberta da eletricidade, do gás e do petróleo
apreensão para a terrível crise sanitária existente, que e a consequente invenção do motor de combustão tendo por
começa a dar lugar a uma não menos terrível crise económica e base estas fontes de energia. Ao mesmo tempo, o desenvol-
social, julgo não ser novidade para ninguém afirmar que esta irá vimento da tecnologia de comunicação deu um salto com o
ser foco de todas as atenções num futuro próximo. Por esta razão, telefone. Todos estes fatores aceleraram o processo produtivo
pareceu-me pertinente olhar para a Reindustrialização como em massa permitindo a novas “legiões” de consumidores o
foco de criação de riqueza e qualidade de vida no nosso país. acesso a produtos que até então lhes tinham sido vedados.
A Terceira Revolução Industrial começou nos anos 70
As três revoluções industriais passadas em pleno século XX e pautou-se pela introdução do uso de
– breve caracterização tecnologia e do sistema informático na produção industrial, do
Começo por apresentar uma breve descrição das três revolu- desenvolvimento da robótica, do uso da engenharia genética
ções industriais passadas até àquela com que hoje nos depa- e da biotecnologia, da capacidade de armazenar, processar e
ramos e que está a revolucionar os últimos anos da economia transmitir informações em formato digital, que levou à recon-
em geral e particularmente a do sector industrial, apelidada versão de quase todos os sectores de atividade e, consequen-
como Indústria 4.0. temente, da nossa vida profissional e social.
A Primeira Revolução Industrial, ocorrida no final do
século XVIII em Inglaterra, foi caracterizada por duas impor- A Quarta Revolução Industrial
tantes invenções que transformaram, de forma significativa, o A Quarta Revolução Industrial teve início na segunda década
sector produtivo e dos transportes. A descoberta do potencial do nosso século e continua a decorrer nos nossos dias, tendo,
do carvão, como fonte de energia, que permitiu a criação da na minha opinião, sido brilhantemente descrita por Klaus
máquina a vapor e da locomotiva, promovendo a dinamização Schwab, Economista e fundador do Fórum Económico Mundial
do transporte de pessoas, matéria-prima e distribuição de da seguinte forma: “Estamos à beira de uma revolução tecno-
mercadoria, estabelecendo assim novos paradigmas no que lógica que modificará a forma como vivemos, trabalhamos e
à produção e locomoção diz respeito. Com esta transformação nos relacionamos. Numa escala de alcance e complexidade, a
iniciou-se uma transição de enorme quantidade de mão de transformação será diferente de qualquer coisa que o género
obra da agricultura para a indústria e, consequentemente, a humano já experimentou antes”.
deslocação da mão de obra dos campos para as cidades. Em todos estes momentos da história, a nossa sociedade
A Segunda Revolução Industrial viria a ocorrer cerca de sofreu alterações que permitiram inovação, desenvolvimento,
cem anos mais tarde, no final do século XIX. Se a primeira crescimento económico e bem-estar social, mesmo que por
A par de toda esta complexidade, deparamo-nos com a aos produtos, muitas vezes de elevada complexidade. Esta
necessidade urgente de protegermos o nosso planeta! Temos mudança de paradigma tem o poder de fazer crescer as expor-
assim como missão torná-lo ecologicamente sustentável tações nacionais de bens transacionáveis, mas também de
para as gerações futuras, exigindo que a descarbonização e criar ecossistemas de conhecimento transformacionais para
a implementação de práticas sustentáveis sejam imediatas a nossa economia. Neste sentido, passaremos a assumir uma
e irreversíveis. economia com empresas de dimensão global de capital portu-
Não há dúvidas de que temos em mãos um grande desafio, guês, em que temos sido muito humildes nos últimos anos
que só será possível ultrapassar com a consciência da neces- (com exceção de alguns bons exemplos, estas empresas de
sidade de uma estratégia sólida e robusta baseada nestes três dimensão global não abundam no nosso país).
grandes vetores: inovação tecnológica, recursos humanos Conscientes de que este processo de Reindustrialização
qualificados e sustentabilidade ambiental. irá transformar as nossas fábricas num conceito de produção
A industrialização que precisamos de trazer para o nosso industrial suficientemente amplo, holístico e integrado, abran-
país não é a que se deslocou para países de mão de obra mais gendo a incorporação de serviços de apoio à atividade industrial,
barata em finais do século passado, mas sim uma indústria de com valor acrescentado, que inclui a inovação e a tecnologia,
elevado valor acrescentado, capaz de fornecer cada vez mais nomeadamente as tecnologias digitais, assim como o design
bens e serviços de forma integrada. Trata-se de uma mudança e outros fatores que imprimam competitividade. Não poderia
significativa de paradigma, deixar de oferecer exclusivamente ser de outra forma, sob pena de se excluir à partida uma vertente
produtos industriais para passar a vender serviços associados que é atualmente crucial: a integração entre o físico e o digital
(Sistemas ciberfísicos, que combinam máquinas com
processos digitais, sendo capazes de tomar decisões descen-
tralizadas e de cooperar entre eles e com humanos).
Obviamente que isto irá obrigar a que as unidades indus-
triais integradas tenham profissionais mais qualificados (bem
remunerados) e ágeis, onde diariamente lhes é exigido a reso-
lução de problemas multifatoriais de elevada complexidade,
muitas vezes tendo de ter por base soluções mais automati-
zadas com suporte à inteligência artificial capaz de analisar
os dados de forma a melhorar a produtividade e, consequen-
temente, a competitividade.
Não será certamente um processo fácil, pois, conforme
todos sabemos, as revoluções implicam mudanças e estas,
apesar de permitirem sempre melhorias das condições econó-
micas, são processos disruptivos, mas não me parece que
tenhamos outro caminho. Apesar da forte pressão social, a
crescente digitalização e automatização dos processos não
implicará o desaparecimento de empregos per si, mas cons-
tituirá, acima de tudo, uma oportunidade única na criação de
empregos mais qualificados, ágeis e versáteis. Como aliás
aconteceu em revoluções industriais anteriores.
Em todos estes momentos da
Acredito que dada a vontade demonstrada pelos líderes
nossa história, a nossa sociedade europeus em promover a Reindustrialização, “Uma Nova
sofreu alterações que permitiram Estratégia Industrial para a Europa” (março de 2020), os fundos
inovação, desenvolvimento, europeus disponíveis (PRR + QFP 2021-2027), associada à
vontade política dos nossos decisores políticos nacionais e
crescimento económico e
a planos estratégicos da parte das associações empresariais
bem-estar social, mesmo que por e empresários, em que saliento o “Portugal Industrial 5.0”
vezes com “dores de crescimento” apresentado pela Associação Empresarial de Portugal, temos
inerentes a mudanças disruptivas. condições para implementar no nosso país e na Europa “Um
novo renascimento Industrial Europeu”!
COMPETÊNCIAS
PARA UM MUNDO
CONECTADO
AUTORA: Ana Nogueira, Comissão do Controlo Orçamental do
Parlamento Europeu FOTOS: Shutterstock
N
estes últimos tempos, muitos adultos e crianças foram
confrontados, pela primeira vez, com a literacia digital
básica, a ciber-higiene, a privacidade e a literacia mediática,
a proteção de dados, o ciberassédio e os jogos em linha perigosos.
A desinformação (fake news) constituiu igualmente um desafio
particular durante a crise sanitária.
Mais do que um instrumento, a educação digital tornou-se uma
necessidade e uma solução generalizada para fazer face ao confi-
namento, proporcionando educação ao maior número de alunos
possível e permitindo o teletrabalho. Esta nova realidade acentuou
a necessidade de adotar uma abordagem europeia da educação
digital e de a União Europeia (UE) trabalhar em conjunto com insti-
tuições e intervenientes globais, como as Nações Unidas, o Banco
Mundial e o Conselho da Europa, na identificação de soluções adap-
tadas aos novos desafios.
O Plano de Ação para a Educação Digital (2021-2027) propõe um conjunto de iniciativas para
uma educação digital de elevada qualidade, inclusiva e acessível na Europa, no sentido de uma
cooperação reforçada a nível europeu entre os Estados-membros, e também entre as partes
interessadas, para garantir que os sistemas de ensino e de formação estejam verdadeiramente
preparados para a era digital.
Na Resolução do Parlamento Europeu (PE), de uma educação digital de elevada qualidade, inclu-
25 de março de 2021, sobre a definição da polí- siva e acessível na Europa. Trata-se de um apelo
tica para a educação digital1, sublinha-se a neces- à ação no sentido de uma cooperação reforçada
sidade de um Plano de Ação para a Educação a nível europeu entre os Estados-membros, e
Digital ambicioso, que permita desenvolver uma também entre as partes interessadas, para garantir
abordagem coerente e integrada da educação que os sistemas de ensino e de formação estejam
digital, com objetivos claros, apoio financeiro e verdadeiramente preparados para a era digital.
um calendário, conducente a uma abordagem No entanto, à semelhança do que aconteceu
comum a nível europeu envolvendo todas as com o primeiro plano de ação para a educação
partes interessadas. digital, adotado em janeiro de 2018, mantém-se
a ausência de medidas destinadas a aprendentes
Adultos pouco qualificados adultos pouco qualificados e a pessoas de idade
– os eternos esquecidos mais avançada. Esta lacuna prejudica a dimensão
Em 2019, mais de 75 milhões de adultos euro- essencial da aprendizagem ao longo da vida no
peus em idade ativa não possuíam, pelo menos, domínio da educação digital e mina os esforços
competências digitais básicas, com especial para assegurar que todas as pessoas tenham
destaque para os indivíduos mais velhos, os competências digitais para a vida.
indivíduos com baixos níveis de escolaridade e A crise que atravessamos sublinhou a necessi-
os desempregados. dade de os Estados-membros coordenarem de forma
A clivagem digital entre adultos com e sem mais eficaz as políticas e medidas em matéria de
competências digitais básicas varia considera- educação digital e partilharem as melhores práticas
velmente entre os Estados-membros. através de uma abordagem multilateral da política
A média para a UE-27, de acordo com dados de educação, a fim de garantir que esta satisfaça
do Eurostat de 20192, é de 56%, no entanto, nos as necessidades dos cidadãos da UE e coloque os
Países Baixos é de 79%, em Portugal é de 52% alunos no centro das atenções.
enquanto na Bulgária é de 29%. E não se trata Temas até agora pouco discutidos, como, por
apenas de competências, mas também de acesso exemplo, a influência que o design da sala de aula
a equipamentos e infraestruturas digitais que tem nos processos de aprendizagem (e comporta-
podem ajudar muito na aquisição de competên- mento) dos alunos, fazem agora parte dos debates
cias: na Suécia, quase todos os alunos têm acesso sobre “a escola pós-Covid” – o design da sala de
a escolas altamente equipadas e conectadas digi- aula pode aumentar os níveis de interação entre
talmente, enquanto, por exemplo, na Roménia a alunos e (entre estes e os) professores por meios
percentagem é inferior a 20%. formais e informais, melhorando envolvimento/
O Plano de Ação para a Educação Digital (2021- empenho e a aprendizagem. Acresce que salas
‑2027)3 propõe um conjunto de iniciativas para de aula confortáveis, física e psicologicamente,
promovem uma sensação de bem-estar, mantêm
a mente focada e limitam as distrações.
1 https://www.europarl.europa.eu/doceo/document/TA-9-2021-0095_
PT.html Caminhando no sentido de promover um
2 https://appsso.eurostat.ec.europa.eu/nui/show.do?dataset=isoc_sk_
dskl_i&lang=en processo de criação conjunta e um sistema de
3 https://ec.europa.eu/education/sites/default/files/document-library-
docs/deap-communication-sept2020_en.pdf
acompanhamento contínuo ao nível da educação
digital, a UE assumiu o compromisso de criar uma nos Estados-membros não melhoraram signifi-
Plataforma Europeia da Educação Digital, que visa cativamente nos últimos anos.
estabelecer uma ligação entre as estratégias de Em conformidade com o Acordo-Quadro dos
educação digital nacionais e regionais e envolver as Parceiros Sociais Europeus sobre Digitalização,
principais partes interessadas e peritos, incluindo as empresas que utilizam tecnologias novas e
as organizações da sociedade civil, com o objetivo emergentes têm a responsabilidade de propor-
de incluir abordagens diferentes vindas de dentro cionar oportunidades adequadas de requali-
e fora do ensino regular (aprendizagem não formal ficação e melhoria de competências a todos
e informal). Mais concretamente, a iniciativa visa: os trabalhadores em causa, para que estes
• estabelecer uma ligação entre as iniciativas e possam aprender a utilizar as ferramentas digi-
os agentes nacionais e regionais em matéria tais, adaptar-se à evolução das necessidades do
de educação digital; mercado de trabalho e permanecer no mesmo.
• favorecer a colaboração intersectorial e novos Segundo um inquérito europeu de 2014 sobre
modelos para o intercâmbio de conteúdos de as competências e o emprego4, mais de 70% dos
aprendizagem digital, abordando questões trabalhadores da UE declararam necessitar de
como normas comuns, interoperabilidade, competências de nível básico (19%) ou médio
acessibilidade e garantia da qualidade. (52%) no domínio das Tecnologias de Informação
e Comunicação (TIC) para desempenharem as
Mais de 90% dos empregos já exigem, no suas funções5. A Figura 1 mostra a situação de
mínimo, competências digitais básicas. No entanto, cada um dos Estados-membros da UE.
de acordo com os indicadores utilizados pela
4 European skills and jobs survey (ESJS), Cedefop.
Comissão, os níveis de competência digital básica 5 Cedefop (2016), “The great divide: Digitalisation and digital skill gaps in
the EU workforce”, #ESJsurvey Insights, No 9, Salónica, Grécia.
1 Nota: os níveis de competências em TIC foram definidos da seguinte forma: nível básico (utilizar um computador,
tablet ou dispositivo móvel para enviar emails ou navegar na internet); nível médio (utilizar programas de
processamento de texto ou criar documentos e/ou folhas de cálculo); nível avançado (desenvolver software,
aplicações ou programar e utilizar sintaxe de computador ou pacotes de análise estatística). Fonte: Cedefop, European Skills and Jobs Survey, 2014.
Quadro 1 - Ações em curso na UE e respetivos domínios de competências, níveis de competências e grupos etários
tempo de trabalho reduzido. Este apoio relatórios subsequentes que deverão ser
ajudará as empresas e contribuirá para apresentados semestralmente.
manter postos de trabalho”, referiu a
presidente da Comissão Europeia, Ursula
von der Leyen.
Recentemente, a Comissão Europeia
publicou a primeira avaliação preliminar
sobre o impacto gerado pelo instru-
mento SURE, estimando que este possa
ter permitido aos Estados-membros Cooperação inter-regional
pouparem cerca de 5,8 mil milhões de Duas regiões portuguesas, Norte de
euros em juros devido à elevada notação Portugal e Médio Tejo, estão envolvidas
de crédito da União Europeia. em projetos promovidos pela Comissão
“Pela primeira vez na história, a Europeia que visam apoiar o desenvol-
O
instrumento europeu de apoio Comissão emitiu obrigações sociais vimento de parcerias inter-regionais
temporário para atenuar os riscos nos mercados para mobilizar fundos em quatro domínios considerados
de desemprego numa situação que contribuíram para manter postos de prioritários:
de emergência, denominado SURE, já trabalho durante a crise. Como demonstra • soluções inovadoras relacionadas
disponibilizou mais de 94 mil milhões de o relatório sobre o Instrumento Europeu com o coronavírus;
euros a 19 Estados-membros da União de Apoio Temporário para Atenuar os • economia circular na saúde;
Europeia (UE), entre os quais Portugal. Riscos de Desemprego numa Situação • turismo sustentável e digital;
Os empréstimos concedidos por este de Emergência, o impacto positivo sobre • tecnologias do hidrogénio em regiões
novo instrumento de apoio criado pela as empresas e os respetivos trabalha- com utilização intensiva de carbono.
Comissão Europeia destinam-se, sobre- dores é concreto e tangível”, salientou
tudo, a cobrir os custos diretamente Johannes Hahn, comissário responsável A parceria RegioTex, em que parti-
relacionados com o financiamento pelo Orçamento e a Administração. cipam 16 regiões com projetos na área
dos regimes nacionais de redução do O documento de avaliação, publi- da inovação têxtil, é liderada pela região
tempo de trabalho, assim como de cado pela Comissão Europeia, sobre Norte de Portugal. Por seu lado, a região
outras medidas com vista a preservar o instrumento SURE é o primeiro rela- do Médio Tejo é uma das 12 regiões que
o emprego que tenham sido adotadas tório semestral dirigido ao Conselho, integram a parceria europeia dos vales
em resposta à pandemia de Covid-19, ao Parlamento Europeu, ao Comité do hidrogénio, inserida no domínio das
nomeadamente dirigidas aos trabalha- Económico e Financeiro e ao Comité do tecnologias do hidrogénio em regiões
dores independentes. Emprego. Nos termos do artigo 14.º do com utilização intensiva de carbono.
“A nossa prioridade é salvar as vidas regulamento deste novo instrumento Com o lançamento desta iniciativa, a
e também os meios de subsistência das de apoio, a Comissão estava legalmente Comissão Europeia pretende incentivar
pessoas. A União Europeia está a mobi- obrigada a apresentar o primeiro rela- a cooperação inter-regional no domínio
lizar até 100 mil milhões de euros em tório de avaliação sobre o SURE no prazo da inovação como forma de responder à
empréstimos concedidos aos países da de seis meses a contar da data da sua crise económica e social provocada pelo
UE, para ajudar a financiar regimes de ativação, o mesmo sucedendo com os novo coronavírus.
Sempre consigo.
82 DIRIGIR & FORMAR