Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região

Ação Trabalhista - Rito Ordinário

0000410-14.2019.5.09.0003

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 29/04/2019

Valor da causa: R$ 198.126,00

Partes:
RECLAMANTE: PATRICIA FELISBERTO SILVA DOS SANTOS
ADVOGADO: IVAIR JUNGLOS
ADVOGADO: LEANDRO MARTINS
RECLAMADO: POP TRADE MARKETING E CONSULTORIA LTDA
ADVOGADO: CLAUDIA DA SILVA PRUDENCIO
ADVOGADO: RAISSA BRESSANIM TOKUNAGA
RECLAMADO: SEVEN TRADE MARKETING E CONSULTORIA LTDA
ADVOGADO: CLAUDIA DA SILVA PRUDENCIO
ADVOGADO: RAISSA BRESSANIM TOKUNAGA
RECLAMADO: LIQ CORP S.A.

ADVOGADO: DANIEL BATTIPAGLIA SGAI

ADVOGADO: REINALDO LUIS TADEU RONDINA MANDALITI
RECLAMADO: PROCTER & GAMBLE INDUSTRIAL E COMERCIAL LTDA
ADVOGADO: LUCIANA YURIE MATSUMOTO
ADVOGADO: MARCELO AUGUSTO PIMENTA
ADVOGADO: FABIO DE ASSIS
TERCEIRO INTERESSADO: Ordem dos Advogados do Brasil
CUSTOS LEGIS: MINISTERIO PUBLICO FEDERAL
TERCEIRO INTERESSADO: AMATRA IX - TRT 9ª REGIÃO
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 PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO
03ª VARA DO TRABALHO DE CURITIBA
ATOrd 0000410-14.2019.5.09.0003
RECLAMANTE: PATRICIA FELISBERTO SILVA DOS SANTOS
RECLAMADO: POP TRADE MARKETING E CONSULTORIA LTDA E OUTROS
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INTIMAÇÃO

Fica V. Sa. intimado para tomar ciência do Despacho ID e4a70ce

proferido nos autos.

Vistos...

Na audiência de instrução de fl. 1145 ocorreu, de

forma evidente e inusitada, lamentável episódio de atuação
indecorosa do advogado Raphael Bueno Silva (OAB 359965/SP), que ao
compartilhar documento na sua tela de computador, no intuito de
instruir a contradita por ele apresentada, após o indeferimento da
mesma, escreveu expressão injuriosa.

Pois bem.

O artigo 1º do Código de Ética e Disciplina da

OAB estabelece que o exercício da advocacia exige conduta
compatível com seus preceitos e com os demais princípios da moral
individual, social e profissional.

Ainda prevê o artigo 2º do referido Código que o

advogado é indispensável à administração da Justiça, sendo também
defensor da moralidade pública, visto que sua atividade está
subordinada à elevada função pública que exerce.

Continuando, o parágrafo único do referido artigo

estabelece, dentre outros, que são deveres do advogado preservar,
em sua conduta, a honra, a nobreza e a dignidade da profissão,
zelando pelo seu caráter de essencialidade e indispensabilidade,

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 atuar com honestidade, decoro, veracidade, lealdade, dignidade e
boa-fé.

Veja-se, portanto, que diante do comportamento do

advogado em questão, vários deveres profissionais foram, salvo
melhor juízo, lamentavelmente descumpridos.

Diante da importância do seu papel profissional,

o artigo 27 do Código de Ética da OAB ainda preceitua que o
advogado deve observar nas relações com autoridades, servidores
públicos, terceiros em geral, dentre outros, o dever de urbanidade,
tratando a todos com respeito e consideração. Ainda, o artigo 28
estabelece, dentre outros, que se consideram imperativos de uma
correta atuação profissional o emprego de linguagem escorreita e
polida. No entanto, todas estas disposições foram, salvo melhor
juízo, soterradas diante do comportamento do referido advogado.

Prosseguindo, o artigo 5º do Código de Processo

Civil prevê que todos os participantes do processo devem atuar com
boa-fé, sendo este um princípio geral do processo. Segundo Luiz
Guilherme Marinoni, Sérgio Arenhart e Daniel Mitidiero, tal artigo
estabelece os princípios de lealdade e boa-fé, sendo que a “
Lealdade, nesse contexto, está no sentido de sinceridade,
fidelidade e honestidade”, e “Está de boa fé no processo aquele que
se comporta de forma aceitável, segundo padrões de conduta
socialmente adequados” (Luiz Guilherme Marinoni, Sérigo Arenhart e
Daniel Mitidiero, Código de Processo Civil Comentado, RT, 7ª
edição, p. 248).

E artigo 77 do Código de Processo Civil, ao

tratar dos deveres dos participantes do processo, dentre eles o
advogado, prevê no seu inciso I, a obrigação de atuação conforme a
verdade, o que significa atuar com probidade. Inclusive há previsão
de aplicação de pena para aquele que descumprir tal obrigação, no
entanto, quanto ao advogado, compete ao órgão de classe a apuração
da sua conduta (§6º).

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 Ou seja, o comportamento ético e moral permeia a
atuação de todos os participantes do processo, especialmente dos
profissionais da área do Direito, que não podem alegar
desconhecimento das normas no particular.

A conduta desonrosa do advogado atingiu, em

última análise, a todos os participantes da audiência, que faziam
jus a um ambiente permeado pelo decoro, respeito, lealdade e boa-
fé. O comportamento indecoroso ofende, por fim, o próprio Estado e
a moral.

Neste mesmo sentido transcrevo trecho de decisão

do nobre colega Juiz Substituto Sandro Santos, deste Regional, em
decisão proferida na RT 922.2014.125.09.00-6. Vejamos:

“Por isso, ainda que os deveres éticos do juiz

caibam somente a ele, a defesa de sua autoridade moral não cabe
somente por ele, mas por todos os agentes de um Estado de Direito.
Quando se ofende publicamente um juiz que está exercendo
regularmente os poderes decorrentes de sua autoridade, ofende-se
não somente a pessoa natural, mas o Estado do qual decorre o Poder
Jurisdicional nele investido. A ofensa ao juiz é uma ofensa ao
Estado, e essa compreensão faz com que se entenda o porquê, por
exemplo, de a ofensa de um juízo ou a desobediência à ordem de um
juiz não serem apenas atos contra o juiz, mas contra o Estado
(enquadrando-se nos arts. 330 e 331 do Código Penal, que descrevem
crimes de ação pública incondicionada).

Ora, para discussão da correnteza das decisões

judiciais, o Estado prevê meios, recursos, e tribunais; nada
justifica que o juiz seja atacado pessoalmente, porque seu poder
reside principalmente no respeito à sua autoridade. E já que sua
autoridade não é somente a estatal, mas também a moral, isso
implica o dever de respeito do jurisdicionado não somente à
autoridade estatal, mas também à moral”.

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 Diante de todo o exposto, com fulcro no artigo
145, §1º, do CPC, a fim de se evitar qualquer questionamento acerca
da minha imparcialidade, decido me afastar do julgamento destes
autos.

Para que sejam tomadas as eventuais providências

cabíveis, determino a expedição de ofícios à Ordem do Advogados do
Brasil - SP, a fim de que seja apurada a conduta profissional do
advogado e ao Ministério Público Federal, para que seja apurada
possível ocorrência dos crimes previstos nos artigos 331 e 140 do
Código Penal (este c/c o art. 141, incisos II e III do mesmo
Código), com cópia do presente despacho, ata de audiência de
instrução e respectiva mídia, conforme determina o artigo 41 do
CPP.

Para ciência desta decisão expeçam-se também

ofícios à Amatra IX, à Presidência deste Tribunal e à Corregedoria
Regional do TRT 9ª Região, obtendo-se orientação junto a esta
quanto ao prosseguimento do feito.

Intimem-se as partes.

Intime-se o advogado Raphael Bueno Silva (OAB

359965/SP).

Nada mais.

CURITIBA/PR, 08 de abril de 2021.

EDINEIA CARLA POGANSKI BROCH

Juíza do Trabalho Substituta
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https://pje.trt9.jus.br/pjekz/validacao/21040810243265200000087117646?instancia=1
Número do processo: 0000410-14.2019.5.09.0003
Número do documento: 21040810243265200000087117646