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Noções de Direito

Profª Luciana Zanotelli


Apresentação
1- da professora

2- dos alunos: nome, curso, alguma noção


de direito?

3- da disciplina – o que engloba a disciplina


• UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASILÁREA DE
CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
• ANO / SEMESTRE: 2008/1 Disciplina : Noções de
Direito CÓDIGO: 601611
• CRÉDITOS: 04 C / H TOTAL: 68

• PLANO D E ENSINO-APRENDIZAGEM
• EMENTA O Estudo do Direito. A sociedade humana,
valores sociais e regras de conduta. Teoria da norma
jurídica e teoria do ordenamento jurídico.

• OBJETIVOS DA DISCIPLINA:2.1 Proporcionar ao


aluno os conhecimentos basilares de Direito e seus
conceitos para a posterior compreensão e a análise dos
fenômenos jurídicos.2.2 Capacitar o acadêmico para a
tomada de posição de frente ás demandas jurídicas
através da construção do saber jurídico teórico-prático.3.
• ABORDAGENS TEMÁTICAS

• 1. Direito. Direito com Ciência

• 2. As instituições sociais. Valores sociais e regras de


conduta. Instrumentos de controle social e a
normatividade.

• 3. Teoria da norma jurídica. A regra jurídica; preceito e


sanção; coação e coercibilidade. Esquema da regra.
Distinções entre regras e princípios.

• 4. Teoria do ordenamento jurídico. A unidade do


ordenamento jurídico. A norma fundamental. A
coerência do ordenamento jurídico: o problema das
antinomias. O problema das lacunas. Relação entre os
ordenamentos jurídicos.
• 5.ORGANIZAÇÃO METODOLÓGICA As aulas serão desenvolvidas de
forma expositiva, com a introdução da temática pelo professor. A aula
deverá se desenvolver de forma dialogada em que seja permitido ao aluno
sua participação efetiva tanto na formulação de questões como em
possibilitar que desenvolva suas habilidades no uso de linguagem
adequada. Serão realizados trabalhos, em grupo ou individualmente,
oportunizando a capacidade do trabalho em grupo e formulação de
sínteses, como também o desenvolvimento do texto.

• 6. PROCESSOS AVALIATIVOS A avaliação será composta primeiramente


pelas das provas de grau 1 e grau 2, se necessário a substituição de grau.
As provas deverão ser descritivas, podendo se fazer a opção de algumas
questões serem de caráter objetivo. Está contemplado no processo
avaliativo a execução de trabalhos em sala de aula ou não.

• 7. BIBLIOGRAFIA BÁSICA ( conforme exigências do MEC); BOBBIO,


Norberto. O positivismo jurídico. São Paulo: Ícone., 2000.NADER, Paulo .
Introdução ao Estudo do Direito. 28 ed. Rio de Janeiro: Forense,
2007CASTRO, Celso. Sociologia do direito. São Paulo: Atlas, 1995

• 8. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR (conforme exigências do MEC):


FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Introdução estudo do direito. São
Paulo: Atlas, 2001TREVES, Renato. Sociologia do direito. Barueri:
Manole, 2004
AVALIAÇÕES
• G1 – TRABALHOS EM SALA DE AULA –
a cada aula haverá um trabalho, somando
2 pontos PROVA – 8 pontos – data
14/04/2008

• G2 – TRABALHOS EM SALA DE AULA –


a cada aula haverá um trabalho, somando
3 pontos PROVA – 7 pontos
O QUE É DIREITO?
• A noção de o que é o Direito foi vista na
disciplina de Propedêuticas Profissionais ou
teoria do Direito I, mas devemos sempre
relembrar alguns pontos para que possamos
começar a entender e aplicar a hermenêutica
jurídica.
• Temos contato com o direito desde pequenos,
direito é regra de conduta, é o direito que
permite que o homem viva em sociedade.
• O homem é um ser egoísta por natureza,
queremos sempre aquilo que nos traz
prazer, somente abrimos mão de nosso
prazer para fazer o “que é certo”, ou o
“nosso dever”, etc.
• Ou seja, somente abrimos mão de nosso
prazer em virtude de regras que nos
dizem que devemos fazê-lo.
Mas e se não houvessem tais
regras?
• Se não houvesse qualquer regra que nos
dissesse até onde podemos ir, seria impossível
a vida em sociedade.
• Ex.: Eu vejo o caderno que está com um(a)
aluno(a) e gosto dele, então, como não há
nenhuma regra que me diga que eu não posso
pegá-lo vou lá e pego, mas, o(a) aluno(a) não
gosta que eu lhe tome o caderno, e como não
há nenhuma regra que impeça que ele(a) tome
o caderno de mim a força, vem e toma o
caderno.
• Como não há nenhuma regra que me
impeça de lutar com ele pelo caderno,
entro em luta pelo caderno e assim vamos
indefinidamente ou até que um dos dois
pereça.

• Diante de tal situação fica claro que para


que possamos ter uma convivência
pacífica ( e nem tanto assim) precisamos
de regras que limitem o nosso querer e
permitam que o outro também tenha seu
“querer” respeitado.
• Desde pequenos, quando nossos pais
começam a dizer “não” para a criança que está
descobrindo o mundo, está impondo o direito à
criança.
• É um direito caseiro, familiar, mas é o primeiro
contato que temos com as regras que limitam o
nosso querer.

• Mas o Direito mesmo, é um fenômeno social, e


para que possamos entendê-lo devemos voltar
à sua origem para que então possamos
vislumbrar como ele se aplica hoje.
Evolução Histórica
• As sociedades mais antigas viviam em
ambientes muito hostis sendo necessário
proteger o grupo social o máximo possível,
e, para que tal proteção fosse efetiva foram
necessárias certas regras de convivência.
• É aí que surge a primeira manifestação
do que hoje chamamos de DIREITO, que
nessa época era eminentemente Penal.
• Nas primeiras sociedades a pena
existia para proteger o grupo das
ameaças externas, como por exemplo a
ira dos deuses, e dentro dessas
sociedades, quando havia disputas havia
a vingança privada, ou seja, cada um agia
da forma que acreditasse melhor para
defender seus interesses. Com a fixação
das sociedades à terra, há a organização
do estado, e este chama para si o Jus
Puniendi (direito de punir).
• Após, surge a Lei de Talião, onde há pela
primeira vez a limitação da pena a ser imposta,
sendo a mesma ditada no limite do mal causado
“olho por olho, dente por dente”.
• Na época dos grandes impérios, a pena visa
garantir a submissão do povo dominado ao
Império Conquistador. A discordância de
qualquer mandamento imperial implicava em
penas severas ( flagelos, torturas, crucificação,
morte pelas feras). É no Direito Romano que se
vê o início do desenvolvimento do direito
privado.
• Na Idade Média, o poder é concentrado nas
mãos dos monarcas, que se diziam
transmissores e detentores da vontade divina,
criando regras obscuras em constante mutação,
punindo a quem quisessem sem qualquer
garantia jurídica.
• Ocorrem os Tribunais da Santa Inquisição, onde
se tem o ápice da mistura de direito penal e
religião (o crime era sinônimo de pecado e vice
versa), onde os hereges eram freqüentemente
submetidos à suplícios e pena de morte. É a
época do terror.
• Surge então, o Iluminismo, aparecem novas
idéias de controle das punições e das leis
penais. Aparecem as idéias de anterioridade
legal, definição de crime e ainda, há o final do
processo inquisitório. São expoentes nestas
ideais Cesare Bonesana (marquês de Beccaria),
Montesquieu e Russeau).
• Com a Revolução Francesa fixam-se os
princípios de liberdade, igualdade e
fraternidade, há a proclamação da Declaração
Universal dos Direito do Homem e do Cidadão,
com o banimento quase completo das penas de
morte e penas infamantes, sendo substituídas
por pena de prisão.
• Ainda, na mesma época histórica temos a
Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra
e depois difundida em todo o mundo,
trazendo, ambas as revoluções um grande
salto no direito privado, uma vez que o
direito aqui deixa de ser tão ligado à
religião e passa a ser definitivamente
laico.
Mas o direito sempre foi feito por
todos os membros da sociedade?
• Não, nem mesmo na famosa democracia
grega o direito era feito por todos os
membros da sociedade.
• O Direito sempre foi feito por alguns
membros da sociedade que “deveriam”
representar o desejo do povo, sendo que
na verdade sempre representaram o
desejo de seus pares.
Conceitos de Direito
• Então chegamos ao ponto de tentar conceituar (ao
menos em parte) o que vem a ser o Direito.
• Sabemos que as normas se fundam na NATUREZA
SOCIAL HUMANA e na necessidade de organização no
seio da sociedade, tendo por finalidade a coexistência
dos seres humanos.
• Logo, chega-se a um primeiro conceito do que vem a
ser direito: “Conjunto de normas estabelecidas pelo
poder político que se impõem e regulam a vida social de
um dado povo em uma determinada época”[1].

[1] DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.
245.
• Porém o Direito é bem mais abrangente
que as normas jurídicas.
• Para entender o Direito no campo de sua
atuação, importante se faz o estudo do
quadro das ontologias, que está dividido
em objetos naturais; ideais; valores,
metafísicos e culturais.
I - objetos naturais
• são todos os elementos que integram a natureza, cuja
sua existência independe da vontade humana, como,
p.e., os animais, as plantas ,os rios, os minerais entre
outros.
• No reino da natureza, nada ocorre por acaso, onde todo
fenômeno tem sua explicação em uma causa
determinante. Os objetos naturais, portanto, estão
subordinados ao PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE, onde
cada fenômeno tem sua explicação em uma causa
determinante.
• Os objetos naturais dividem-se em FÍSICOS (física,
química, biologia, astronomia entre outros) e
PSÍQUICOS (estudados pela psicologia, e se referem,
por exemplo à sensação, desejo, emoção).
Os objetos naturais têm como
principais características:
• a) Reais: tais objetos existem no tempo e no
espaço, com exceção dos objetos psíquicos que
são apenas temporais;
• b) Estão na experiência: são conhecidos pela
percepção humana. Enquanto os objetos físicos
são apreendidos pela percepção externa
(sentidos); os fenômenos psíquicos são
assimilados pela percepção interna;
• c) Neutros ao valor: por si sós, eles não
possuem sentido, mas pode o homem atribuir-
lhes valores.
Os objetos naturais também obedecem às leis da
natureza, sendo que esta está em constante
movimento e modificação, possuindo os seguintes
caracteres: universalidade, imutabilidade,
inviolabilidade, isonomia e importância.

• Universalidade: pois são iguais em todos os lugares


do universo;
• Imutabilidade: pois as leis da natureza não sofrem
variações ao longo do tempo e do espaço. E quando
existem modificações sobre os tratados científicos a
respeito de um determinado enunciado sobre uma lei
natural? É sinal de que a concepção anterior era falsa,
pois o cientista apenas a enuncia, logo, não a cria,
podendo ser passível de erro, devido à falibilidade
humana.
• Inviolabilidade: não se pode alterar a ordem das
coisas, e o homem só pode influenciar sobre o objetos
naturais até onde as leis naturais permitem. P.e.:
técnicas de inseminação artificial: se o homem
consegue por em prática na atualidade, teoricamente
tal fenômeno era possível há séculos e séculos atrás.
Faltava ao homem conhecimento e recursos
tecnológicos, somente.
• Isonomia: todos são iguais perante a natureza, como,
por exemplo, a morte, que atinge a todos os seres
vivos, decorrente de leis biológicas.
• Importância: deve-se dar importância ao
conhecimento obtido pelo homem no que diz respeito
aos objetos naturais, pois procurar introduzir essas
descobertas em fatos concretos, como por exemplo,o
avanço das ciências biológicas.
II – Objetos ideais
• tais objetos inexistem na natureza, são
produtos do conhecimento do homem, a
partir do exame de suas características.
Como objetos ideais pode-se citar como
exemplo, os números, as figuras
geométricas.
Possuem como caracteres
básicos:
• São irreais: não existem na natureza visível, não
ocupam lugar no espaço, e nem tem duração.
• Não estão na experiência sensível: não são
acessíveis pelos sentidos, pode-se dizer, então que
são, a princípio, subjetivos, onde o psíquico gera uma
informação independentemente ao que está
concretizado no mundo exterior.
• São neutros em relação aos valores: não podem ser
qualificados dentro de uma escala valorativa, que
compreende o bem e o mal. Sua materialização
poderá representar valor, mas deixará de ser um
objeto material.
III- Valores:
• Teoria dos valores: AXIOLOGIA: É a parte da
filosofia que estuda os valores em caráter
abstrato. O homem só atribui valor a algo que
possa satisfazer suas necessidades, decorrente
da noção de bem e de mal, bom e mau, coisas
que podem promover ou destruir o homem entre
outros, como, p.e., a estética existe em função
do belo; a técnica visa alcançar o útil; a moral
visa o bem; a religião, a divindade; o Direito; a
justiça.
Os valores têm como caracteres:
• correspondem a necessidades humanas: se o
homem não possuísse necessidades, não se falaria
de valores.
• São relativos: pois s as atividades humanas não são
padronizadas, não há de se falar em valores
padronizados, como o exemplo de um certo aluno de
Direito dar grande importância a uma Constituição
Federal, sendo que esta não é valorizada por um
estudante de engenharia. Importante salientar que
diante das coisas o homem pode assumir três
posições básicas: positivo, negativo ou manter-se
neutro.
• Bipolaridade: cada valor positivo corresponde a um
negativo: justiça e injustiça; amor e ódio; feio e belo.
• Hierarquia: é a linha de prioridade estabelecida pelo
homem, e pode ser variável de um ser humano para
outro. Geralmente leva-se em consideração as
necessidades e os interesses do gênero humano,
falando-se, portanto, de uma gradação de valores:
bens espirituais, bens materiais; bens de
sobrevivência, bens de ostentação.
• Localização: no sujeito: teoria subjetiva: tem como
ponto básico a circunstância de que o sujeito é
portador de necessidade; no objeto: teoria objetiva:
apóia-se no fato de que o objeto que irá suprir a
necessidade, fazendo com que tal objeto seja valioso
aos olhos do homem; eclética: relação entre o sujeito
e o objeto: o valor não existe isolado, mas existe uma
co-participação entre sujeito e objeto
IV – Objetos Metafísicos:
• são objetos que, apesar de possuírem
existência real, estão fora da experiência
do homem. Exemplo: Deus. Não são
alcançados pelos sentidos, mesmo
reconhecendo sua existência individual no
tempo e espaço. Não são neutros em
relação aos valores.
V – Objetos Culturais:
• é um produto da criatividade humana, ou seja
todas as criações do homem, visando atender
às suas necessidades. É resultante do trabalho
humano. Subdivide-se em Cultura material e
cultura espiritual.
• Cultura material: é o resultado do trabalho
humano sobre o mundo da natureza.
• Cultura Espiritual: são necessidades não
materiais: espiritualidade, idealismo,
aperfeiçoamento, crenças, histórias, canções.
3. DIREITO NO QUADRO DAS
ONTOLOGIAS (O MUNDO DO
DIREITO)
• Sabe-se eu o Direito é algo criado pelo
homem, tendo por finalidade estabelecer
condições de respeito que são
indispensáveis à ordem e ao
desenvolvimento da sociedade.
• O direito traz em si três elementos: FATO
(relações sociais, acontecimentos);
VALOR (dado pela sociedade); NORMA
(regras postas pelo Estado)
Eis o Direito no quadro das
Ontologias:
• I – Direito e Objetos naturais: tanto o mundo
do direito quanto o mundo da natureza possuem
leis. Enquanto as leis naturais são consideradas
imutáveis, invioláveis e universais, as leis
jurídicas possuem suas peculiaridades como:
• a) O direito normativo não é universal, pois
varia no tempo e no espaço (experiência de um
povo, costumes, cultura).
• b) Devido sua dinamicidade, o direito não é
imutável¸ como fica comprovado pelo decorrer
da história.
• c) O Direito não possui formas de impedir a
violação de seus preceitos, mesmo sendo
obrigatório e possuidor de coercibilidade,
dependendo, portanto, de uma adesão humana.
• d) O princípio da isonomia (no Direito, todos são
iguais perante a lei) não possui a mesma
eficácia que no mundo da natureza, pois
quando o Direito é aplicado a isonomia
transforma-se em relatividade, para que se trate
igualmente os iguais e desigualmente os
desiguais. (direito à vida, direito à intimidade -
direito de informação - imposto de renda).
• e) Enquanto que a natureza é regida pelo
princípio da causalidade, o mundo o
direito é regido pelo princípio da finalidade
(idéia de fim a ser alcançado).

• f) A ordem natural das coisas é obra do


criador, enquanto que do Direito é
elaboração humana;
• g) O ser do Direito não possui matéria, é
abstrato, enquanto que o ser do mundo
natural é material.
• h) o direito é um processo que tem por
finalidade a realização de valores
enquanto que os objetos naturais são
indiferentes ao valor.
• Percebe-se, portanto, que o direito não se
encontra no mundo da natureza.
II – Direito e objetos ideais
• pelo fato de os objetos ideais não terem
existência, não estarem na experiência e
serem neutros ao valor, são
impossibilitados de terem qualquer tipo de
identificação com o direito, que possui
existência, está na experiência e realiza
valores (FATO, VALOR, NORMA)
III – Direito e valores:
• é inegável sua importância na vida do
direito.
IV – Direito e Objetos
Metafísicos:
• como os objetos metafísicos não estão
presentes na experiência, não se pode
falar de uma possível ligação com o
Direito, que está na experiência.
V – Direito e Cultura:
• Como processo de adaptação social
(dinamicidade), o direito é objeto criado
pelo homem e dotado de valor. Como, por
definição , objeto cultural é qualquer
produto criado pela experiência humana,
subentende-se que o direito é um objeto
cultural.
conclusão
• A partir de tudo o que foi visto então, nos
é possível compreender o que seja o
direito, e ainda, nos é possível ver que o
direito não possui uma única definição
verdadeira e imutável, mas que varia de
lugar para lugar.

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