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FICHAMENTO DE LEITURA Data: xx/xx/xxxx

Estudante: xxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxx Turma: x

Introdução às ciências sociais

Tema Discutido: O texto aborda vários temas problematizados nas obras de Karl Marx com o
comentário de Tania Quintaneiro. A autora aborda o problema de interpretações
determinísticas da obra de Marx bem como aponta outras leituras que se contrapõem às
ideias de Marx. O tema principal discutido é a revolução e sua abordagem na atualidade, bem
como a necessidade de uma leitura não dogmática para a visualização das transformações que
ocorreram desde a formulação de suas obras.

Marx ficou conhecido como um dos principais autores da Sociologia, embora não se
denominasse um sociólogo. Analisou a sociedade capitalista com afinco e até hoje é
um dos autores mais estudados, seja no sentido de concordar ou refutar suas
teorias, que são extremamente contemporâneas por apontarem desigualdades
sociais, desnaturalizando-as. Ficou conhecido por utilizar como método de análise a
dialética, originada pelo pensador alemão Hegel e desenvolvida por Marx. A
dialética, “aplicada a fenômenos historicamente produzidos, (...) cuida de apontar as
construções constitutivas da vida social que resultam na negação de uma
determinada ordem (Quintaneiro, p. 65).” No entanto, Quintaneiro afirma que o
reconhecimento do movimento dialético não é suficiente e por isso um fenômeno
social deve ser submetido à crítica de modo que suas potencialidades possam ser
reveladas e atualizadas numa forma mais evoluída.

“Para Marx, a análise da vida social deve ser feita através de uma perspectiva que,
além de procurar estabelecer as leis de mudança que regem os fenômenos, parta do
estudo dos fatos concretos, a fim de expor o movimento do real em seu conjunto
(Quintaneiro, p. 67).” Seu método de abordagem ficou conhecido como materialismo
histórico, segundo o qual as relações materiais e o modo como os homens
produzem seu meio de vida formam a base de todas as suas relações. Conforme as
perspectivas dialética e materialista, todo fenômeno social é efêmero, “as formas
econômicas sob as quais os homens produzem, consomem e trocam são
transitórias e históricas.”

“A premissa da análise marxista da sociedade é, portanto, a existência de seres


humanos que, por meio da interação com a natureza e com outros indivíduos,
buscam suprir suas carências e, nessa atividade, recriam a si próprios e reproduzem
sua espécie num processo que é continuamente transformado pela ação de suas
sucessivas gerações. (Quintaneiro, p.69)” Esse processo se dá pelo trabalho. Os
homens, ao produzir os meios para prover o que precisam, organizam-se e
estabelecem relações sociais, intervindo conscientemente na natureza. O ato de
produzir gera novas necessidades, ou seja, são produtos da existência social.

A forma de uma sociedade depende do grau de desenvolvimento das forças


produtivas e as relações que lhes correspondem. Marx estuda especificamente o
contexto capitalista, que surgiu de uma superação do modelo feudal num momento
em que as relações sociais já não correspondiam à produção, o que mostra o
caráter revolucionário da burguesia.

No capitalismo, a mercadoria é a forma elementar da riqueza. Tudo torna-se


mercadoria, inclusive o trabalho. A mercadoria tem valor de uso, que se realiza no
consumo e um valor de troca. O valor da mercadoria é equivalente ao tempo de
trabalho gasto para sua produção, que varia no tempo e espaço.

O salário é o “valor dos meios de subsistência requeridos para produzir,


desenvolver, manter e perpetuar a força de trabalho” (p. 87). Isso quer dizer que o
trabalhador que vende sua força de trabalho trabalha mais que o suficiente para
pagar o seu trabalho. Por isso, o trabalho é a única mercadoria capaz de produzir
valor, a mais valia, a produção de um excedente, trabalho não pago que permite a
acumulação do capitalista.

Os trabalhos humanos tomam a forma de produtos cujos valores podem ser


medidos, quando são intercambiados, mas essa relação parece dar-se apenas entre
coisas. Conquanto seja “uma relação social determinada dos homens entre si (...)
adquire para eles a forma fantástica de uma relação de coisas entre si”. Este é o que
Marx chama de caráter fetichista da mercadoria, dado pela incapacidade dos
homens de perceber como sociais os frutos do seu trabalho (...). (Quintaneiro, p. 93)
Para Marx, o conjunto das forças produtivas e das relações sociais forma a infra-
estrutura, ou seja, a base material sobre a qual se constituem as demais instituições.
Na superestrutura encontram-se “produtos” sem forma material, instituições como
Estado, que produzem e reproduzem concepções, ideologia, códigos morais, etc. A
superestrutura seria condicionada pela base material, a forma como os homens se
organizam no processo produtivo.

Num primeiro momento, a sociedade estava pautada numa divisão natural do


trabalho. O surgimento de um excedente de produção permite a divisão social do
trabalho, que permite uma apropriação privada e uma acumulação, permitindo que
alguns tenham direitos sobre o produto e até mesmo sobre os trabalhadores.
Surgem, então, as classes sociais. Na teoria marxista, aparecem duas classes
opostas: proletários e capitalistas, trabalhadores e proprietários. Esse modelo pode
ser considerado um tanto simplista, na medida em que talvez não seja suficiente
para análise da complexidade social, mas o próprio Marx percebeu isso. Sua análise
se pauta nas principais classes do sistema econômico em que vivemos, levando em
conta a classe dominante e aquela que considera capaz de superar este modelo. A
crítica marxiana à propriedade privada dirige-se, portanto, à exploração e opressão
de uma classe trabalhadora desprovida dos meios de produção, que só tem como
meio de vida a venda de sua força de trabalho.

Pensando nisso, Marx desenvolveu o conceito de alienação, que demonstra o


estado dos trabalhadores, alienados dos meios de produção, alienados de seu
próprio trabalho e do produto deste, ou seja, o trabalhador não se reconhece em seu
trabalho, no produto que criou.

Tendo isso em vista, Marx afirma que a história da humanidade é a história da luta
de classes. Essa afirmação procura apontar as contradições e conflitos inerentes ao
modelo classista. Tais problemas só seriam resolvidos numa sociedade sem
classes, o comunismo. Para tanto, é preciso que a classe operária deixe de ser
apenas classe em si e torne-se classe para si, ou seja, tome consciência de sua
força e revolucione, instaurando a ditadura do proletariado, primeira etapa em
direção a sociedade sem classes. Marx acredita que este momento é inevitável, uma
vez que o capitalismo ao se desenvolver, desenvolve as forças que o destruirão, ou
seja, está repleto de contradições.
A educação na sociedade capitalista:

Tendo em vista a teoria marxiana da sociedade capitalista, podemos situar a


educação como instituição parte da superestrutura, ao lado do Estado, reprodutor da
ideologia burguesa. Neste contexto, há diversas interpretações de autores
marxistas, como por exemplo, Althusser, que enxerga a escola como aparelho
ideológico do Estado, ou seja, reprodutora da ideologia burguesa. Há também
autores como Gramsci, que enxerga a escola como lugar de disputa de hegemonia,
portanto, o trabalho docente não necessariamente é vão.

Fato é, que independente da interpretação que se tem do aparelho escolar,


podemos concordar que se trata de um sistema perpassado pela luta de classes e
reprodutor dos interesses do capital, acentuando e perpetuando diferenças sociais.
É por esse motivo que não é interessante melhorar a escola pública no Brasil, pois
ela contribui para que a elite capitalista permaneça onde está, já que a escola
disciplina os indivíduos para que fiquem em seus “devidos lugares”, seleciona
aqueles que terão acesso a universidade (principalmente a pública), além de
produzir a mão de obra barata que o mercado demanda.

Cria-se, então, uma consciência de que para melhorar é preciso privatizar e a


educação se torna favor, portanto, chegar ao ensino superior depende do mérito de
cada um de trabalhar para pagar ou conseguir uma bolsa oferecida pelo Estado, que
privilegia mais uma vez a iniciativa privada ao invés de investir na educação pública
de qualidade para todos, nivelando sempre por baixo.

Trata-se, portanto, de uma lógica bastante perversa, que só pode ser superada por
completo, de acordo com Marx, quando da revolução socialista.

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