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GUSTAVO HANSEL METZ

A RESOLUÇÂO DOS CONTRATOS E SUAS CONSEQUÊNCIAS AOS ENVOLVIDOS.

Trabalho da disciplina de Direito Concursal (Recuperação


de Empresas e Falência).

Santa Cruz do Sul


A falência de uma empresa afeta diversas áreas na mesma, desde os
seus integrantes a suas obrigações, e incluso também, os contratos ativos. É
possível imaginar que uma vez decretada a falência da empresa, os seus
contratos deixariam de existir, porém esse não é o caso, visto que muitas vezes
a empresa continua atuando, por isso, se fez necessário estabelecer como a
falência irá afetar as diferentes categorias de contratos, os bilaterais, unilaterais
e regras individuais para os diversos contratos especializados.
Os contratos bilaterais, isso é, aqueles onde há presente para ambas as
partes um dever, compõem a maior parte dos contratos no mundo dos negócios,
e portanto a maioria dos contratos realizados por empresas. Para esse grupo, a
legislação vigente criou uma regra geral no seguinte sentido: “Os contratos
bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser cumpridos pelo
administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo
da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação de seus ativos,
mediante autorização do Comitê.” Portanto, por padrão, os contratos bilaterais
continuam com a sua existência, mesmo após a decretação da falência.
Existe, no entanto, uma exceção a essa regra geral, sendo o caso dos
contratos bilaterais onde a única prestação devida é de valor monetário por parte
do falido. Por exemplo, se uma empresa já comprou um certo produto, o mesmo
já foi entregue, e a única prestação remanescente é o pagamento do mesmo,
deverá ser pago e o contrato encerrado.
Além dos moldes da regra geral, é o administrador judicial que decide
como irá se proceder com os contratos, tendo ele a opção de resolver os
contratos, efetuando tal decisão de forma soberana, no entanto é cabível
questionamento da mesma.
Por outro lado, pode o administrador judicial decidir pela continuação do
contrato, nesse caso, ele deverá motivar tal decisão conforme as possibilidades
ofertadas pela legislação: a redução do passivo, o impedimento do aumento do
passivo e a manutenção e preservação de ativos. Nas primeiras duas hipóteses,
são vantajosas pois possibilitam o aumento dos valores recebidos pelos
credores, enquanto a manutenção e preservação também contribuem nesse
sentido. Ao contrário da resolução do contrato, a sua continuação exige a
aprovação do comitê de credores, visto que estes são os principais interessados.
Na ausência de autorização do comitê, a mesma também pode ser suprida por
autorização judicial, e independente de como o administrador obteve a
autorização, a decisão é cabível de questionamento.
Quando declarada a falência, os envolvidos tem interesse em saber o
prosseguimento de contratos específicos, se estes serão encerrados ou não, e
quando tal ato irá ocorrer. Existe, para tais situações, a ferramenta de
interpelação, na qual o administrador judicial é acionado a se manifestar quanto
ao prosseguimento ou encerramento de contratos, sendo até o seu silêncio uma
resposta, nesse caso, do encerramento do contrato.
Na possibilidade do encerramento do contrato, é criada uma obrigação de
indenização com a parte que contratou com o ente falido, justificado pelo fato
que qualquer obrigação encerrada gera perdas e danos. Decorrido tal cenário, a
indenização resultante é classificada como crédito quirografário.
O segundo grande grupo de contratos a serem analisados, são os
contratos unilaterais, sendo estes designados como aqueles em que apenas
uma das partes possui uma obrigação em relação a outra. Para estes, não há
uma regra geral, sendo decididos de forma mais individualizada pelo
administrador judicial, por exemplo, pode o administrador acreditar ser vantajoso
continuar em um contrato de comodatário de equipamentos, visto que o mesmos
podem permitir a empresa a continuar operando.
Da mesma maneira que os contratos bilaterais, é decisão soberana do
administrador o encerramento de quaisquer contratos unilaterais e a continuação
deve ser aprovada pelo comitê de credores, bem como, devidamente justificada.
No entanto, se difere dos bilaterais quanto a interpelação, não sendo a mesma
possível para os unilaterais.
Iniciando o rol de contratos com regras especiais, temos exemplos de
contratos de compra e venda, que por serem bilaterais, seguem a regra geral,
mas diferem da norma em diversos casos
Mercadorias em trânsito, grupo composto pelos bem vendidos ao falido,
não tendo sido pagas, entregues e revendidas. Nessa situação, a legislação
permite ao credor, suspender de forma temporária, a entrega das mercadorias,
devendo aguardar a decisão do administrador judicial. É vedado rescindir o
contrato anterior a decisão do administrador, sendo as mercadorias devolvidas
se encerrado e entregues se continuado. Para adequação dessa categoria, é
necessário o cumprimento simultâneas quanto ao bem ter sido pago, entregue e
revendido.
A venda de coisa composta é classificada tipicamente por vendas de
grande porte que ocorrem de forma sucessiva devido a tal grande volume.
Decretada a falência enquanto um desses contratos ocorre, deverá aguardar-se
a decisão do administrador e sendo no sentido não cumprimento, aplica-se a
regra especial. A montante dos equipamentos já recebidos integram a massa
falida, bem como, poderá o ente falido exigir restituição dos valores já pagos
porém que não serão entregues. Devemos atentar que tal exigência não pode
beirar o absurdo, não sendo válida em cenário de quase cumprimento total da
obrigação.
A venda para pagamento em prestações é similar ao caso anterior, no
sentido que a mesma segue a regra geral dos contratos bilaterais, porém,
optando o administrador pelo encerramento do contrato, torna se cabível
exigência de restituição das prestações já pagas, sendo também discutida a
possibilidade de indenização.
No caso da compra e venda com reserva de domínio, que se configura
quando o comprador obtém desde o início a posse, mas a transferência da
propriedade é condicional. A resolução ou não de tal contrato segue a regra
geral, se diferindo no entanto, que mesmo no caso de decisão de encerramento
pelo administrador, o mesmo deverá ouvir a opinião do comitê de credores,
possuindo ainda a decisão final. Encerrando a obrigação, é realizada a
devolução do bem e exigido de volta os valores já pagos. Tal exigência de
devolução de valores é discutível no caso de falência, podendo o possuidor de
bem permanecer com os valores devido a depreciação do bem, assim como,
pode a empresa exigir a devolução devido a crer que a falência sobrepõe se sob
o direito de retenção.
Se tratando das vendas a termo, casos na quais as partes concluem o
contrato mas estabelecem um termo para a posse, também possui uma regra
especial. Caso o administrador judicial decida na conclusão do contrato,
possuindo o bem cotação na bolsa de valores, há ajuste no valor conforme o dia
do contrato e o dia de entrega da mercadoria. Tal situação pode beneficiar
ambas as partes não simultaneamente, conforme o acréscimo ou decréscimo do
valor.
Temos ainda promessa de compra e venda de imóveis. Tal exceção é
voltada aos contratos referentes à área loteada ou a lotes na referida área. Nesse
caso, difere se de forma significativa da norma, devendo em caso de falência do
comprador, liquidar em forma de leilão o direito real, e na falência do devedor,
cumpre-se o contrato e entrega-se o imóvel.
Os contratos administrativos, devido a possuírem interesse público, não
possuem opção de continuar, devendo serem imediatamente extintos. A
locação, de forma oposta, por regra continua sendo efetuada, visto que traz
recursos ao ente falido. O mandado, bem como os contratos de conta corrente
e incorporação imobiliária, devem mediante a falência, ser encerrados.
E finalizando o rol de casos especiais de contratos de compra e venda,
existem os acordos para compensação e liquidação no sistema financeiro, os
quais, mesmo com a falência, não podem ser considerados vencidos
antecipadamente, sendo cumprido com crédito adquirido pela parte falida em
data futura.
Há ainda além dos já mencionados, diversos outros contratos com a suas
respectivas exceções à regra geral, porém ao analisar esse grupo composto
pelos bilaterais e unilaterais bem como as regras especiais dos casos de compra
e venda, Tomazette torna claro o objetivo da legislação da falência e
recuperação de empresa, observados dessa vez pelas consequências nos
contratos, que é o mantimento da empresa, visto que esta é importante ente
social e econômico, porém nota-se também, a igual preocupação com os
interesses dos credores assim como os entes envolvidos com a empresa falida,
para que os mesmos não saiam prejudicados.
Referências:

TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial Vol. 3 – Falência e Recuperação de


Empresas. 5 ED. São Paulo. Atlas, 2017.

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