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UNIVERSIDADE ROVUMA

INSTITUTO SUPERIOR DE TRANSPORTE, TURISMO E COMUNICAÇÃO.

DISCIPLINA DE CONTABILIDADE FINANCEIRA

Dr. Irakoze Lydia


Ficha 1
1. Conceitos contabilísticos fundamentais.
1.1. O que é a contabilidade?

A contabilidade financeira é o registo e comunicação periódica de informações de âmbito


económico e financeiro – relativo a uma determinada empresa – às pessoas e entidades externas
com interesses na mesma, condicionada a exigências legais e requisitos fiscais. Ou seja,
distingue-se da contabilidade analítica (interna).

A contabilidade financeira tem como funções a identificação, medição, análise e interpretação de


todas as informações financeiras respetivas à atividade da empresa, bem como garantir o
planeamento e avaliação dos recursos.

Segundo Perreira (1980:23) “a Contabilidade é uma ciência de natureza económica cujo objecto
é a realidade económica passada, presente e futura, de qualqu er entidade pública ou privada,
analisada em termos quantitativos e por métodos específico com o fim de obter informações
económico-financeiras indispensáveis à gestão dessa entidade, nomeadamente ao conhecimento
dasituação patrimonial e dos resultados obtidos e ao planeamento e controlo da sua actividade”.

Segundo Borge (2004), A Contabilidade é a ciência que estuda os fenómenos ocorridos no


património das entidades, mediante o registo, a classificação, a demonstração expositiva, análise
e interpretação desses factos, com o objectivo de fornecer informações e orientações necessárias
para tomada de decisões.

1.2 As funções da contabilidade são quatro:


 Função de registo
 Função de controlo
 Função de avaliação
 Função de previsão

A contabilidade tem como finalidade fornecer informações relevantes sobre o património


(composição e variações) de uma determinada pessoa ou entidade. Essas informações permitem
obter um conhecimento realista da sua situação económica e financeira e tomar decisões com
base em dados objetivos.
1.2.1. As NCRF (Normas de Contabilidade de Relato Financeiro).

Recon
hecimento: conjunto de critérios que determinam quando um elemento deve ser
evidenciado nas demonstrações financeiras (reconhecimento ou mensuração inicial).

Mensuração: conjunto de critérios para valorizar esses elementos após terem sido
reconhecidos nas demonstrações financeiras (mensura ção subsequente). Mensuração
é o processo de determinar as quantias monetárias pelas quais os elementos das
demonstrações financeiras devem ser reconhecidos e inscritos no balanço e na
demonstração dos resultados.

A contabilidade está hoje associada a um importante apoio na gestão empresarial, não se


limitando apenas a meros lançamentos contabilísticos destinados fundamentalmente ao fisco.

Assim, o contabilista deverá estar dotado de grandes competências para poder controlar todos os
processos correntes da contabilidade e ser um suporte de valor acrescentado na definição da
estratégia empresarial e financeira dos negócios e empresas.

2. Empresa.

2.1. O que é uma empresa?

Você já percebeu que diariamente as empresas fazem parte de nossas vidas à medida que
demandamos produtos e serviços e, por outro lado, ofertamos nosso trabalho? Mas oque seria
uma empresa? Para Maximiano (2006, p.6), “a empresa é uma iniciativa que tem o objetivo de
fornecer produtos e serviços para atender à necessidade de pessoas, ou de mercados, e com isso
obter lucro”. Nesse sentido, as empresas nascem com a finalidade de produzir produtos e/ou
serviços que possam servir à sociedade. Essa empresas são compostas por pessoas que trabalham
em conjunto, operacionalizam funções e exploram algum mercado e, por isso, são consideradas
também, organizações sociais. Essa relação citada acima é de dependência, ou seja, precisamos
das empresas para pagar nossos salários e, por outro lado, necessitamos delas para suprir nossas
necessidades básicas. Por isso, o desempenho das empresas é muito importante para todos nós.
Se as empresas possuem problemas, isso afeta os funcionários, acionistas, proprietários e a
comunidade em geral que de uma forma, ou de outra, estão ligados a ela. O desempenho positivo
também beneficia inúmeras pessoas, seja pelo desenvolvimento da sociedade através da geração
de emprego e renda ou pelo simples retorno dado aos seus sócios.

Dada a importância das empresas em nossas vidas, Chiavenato (2002), considera a empresa uma
das invenções mais maravilhosas e complexas dentre as criações do homem. Sua funcionalidade
exige experiência, conhecimento e, principalmente, demandam ferramentas administrativas
eficazes para o bom resultado das mesmas. Com base nas informações acima, conhecer o
funcionamento das empresas, bem como sua classificação, objetivos e a aplicação das funções
administrativas se torna indispensável para poder melhor gerenciar e obter resultados positivos.

Para atingir os objetivos a que se propõem, segundo Maximiano (2006, p.7), as empresas
precisam: “adquirir recursos, estruturar um sistema de operações e assumir o compromisso com a
satisfação do cliente”.

3. Tipos de Empresas

Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI Atuação individual - sem


sócios. Responsabilidade do empresário é limitada ao capital social (valor do investimento, em
dinheiro ou bens). Obrigatoriedade de capital social integralizado de no mínimo 100 salários
mínimos. A EIRELI possibilita a atuação individual – sem sócios – porém, com responsabilidade
limitada. Protege o patrimônio pessoal do empresário através da separação patrimonial. A
EIRELI é uma pessoa jurídica, com patrimônio próprio, não se confundindo com a pessoa física
do empreendedor e seu respetivo patrimônio.

O empresário titular da EIRELI poderá responder com seu patrimônio pessoal por obrigações da
empresa nas mesmas hipóteses previstas para as Sociedades Limitadas.
Microempresa (ME)

Caso a pretensão seja um pouco maior e houver necessidade de uma equipe mais reforçada para
desenvolver o seu produto ou serviço, a alternativa seguinte é abrir uma microempresa (ME).
Neste caso, o facturamento bruto anual deve ser igual ou inferior a R$ 360 mil.

Uma microempresa pode se enquadrar no Simples Nacional. Dessa maneira, o pagamento de


tributos fica unificado e, exatamente por isso, mais facilitado.

Empresa de Pequeno Porte (EPP)

Empresas de Pequeno Porte (EPPs) são empresas que faturam entre R$ 360 mil e R$ 3,6 milhões
anualmente. Com relação à tributação a situação não fica mais complicada, não. EPPs podem
também se enquadrar no Simples, desde que não atuem como bancos comerciais, de
investimento e desenvolvimento, sociedade de crédito, corretora de valores, entre outras opções
deste segmento.

Sociedade Limitada (Ltda.)

Se os seus planos são de faturar mais, ter mais funcionários e mais sócios, com um futuro bem
ousado, mas ao mesmo tempo cuidadosamente planejado, é possível enquadrar a sua empresa em
um modelo de sociedade limitada.

Neste caso, é necessário ter no mínimo dois sócios, que se inscrevam na Junta Comercial
estadual para abrir o negócio. O contrato social irá definir quantos e quem são os sócios da
empresa e como as cotas de capital serão distribuídas. A participação e a responsabilidade de
cada um em relação à empresa são limitadas à proporção das cotas.

Sociedade Anônima (S.A.)


Na Sociedade Anônima (S.A.), a empresa é dividida em papéis, chamados de ações, que são
distribuídos entre os sócios. Por isso, eles também são chamados de acionistas. Na S.A., parte do
lucro, os chamados dividendos, devem ser divididos entre os acionistas obrigatoriamente. Eles
devem ser de 25%, no mínimo. Outra parte deve compor a reserva legal e a reserva para
contingências. Esse modelo pode ser dividido em dois tipos:

Capital Fechado: Essas empresas não emitem ações. Os sócios fazem parte de um grupo
fechado. Isso acontece por escolha ou porque o negócio não tem o facturamento mínimo exigido
pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Capital Aberto: São as companhias que negociam suas ações na Bolsa de Valores. Assim,
investidores podem comprar partes dessas empresas para ajudá-las a captar recursos e fazer
investimentos. É necessário haver registro na CVM.

4. Receitas e Despesas.
4.1. Receita – Definições:

• Receita – Aumento nos benefícios econômicos durante o período contábil, originado no curso
das atividades usuais da entidade, na forma de fluxos de entrada ou aumentos nos ativos ou
redução nos passivos que resultam em aumento no patrimônio líquido, e que não sejam
provenientes de aportes dos participantes do patrimônio.

– Aumento nos benefícios econômicos;

– Curso das atividades usuais da entidade ,Entrada ou aumentos nos ativos ou redução nos
passivos que resultam;

– Em aumento no patrimônio líquido;

– Exceto aportes dos participantes do patrimônio.


Segundo, Iudícibus (2004): Receita é a expressão monetária, validada pelo mercado, do agregado
de bens e serviços da entidade, em sentido amplo (em determinado período de tempo), e que
provoca um acréscimo concomitante no ativo e no patrimônio liquido, considerado
separadamente da diminuição do ativo (ou acréscimo do passivo) e do patrimônio liquido
provocados pelo esforço de produzir receita.

Segundo, Sprouse & Moonitz (1962): Receita de uma empresa durante um período de tempo
representa a mensuração do valor de troca dos produtos (bens ou serviços) durante aquele
período.

Sentido amplo: Aumento nos benefícios econômicos durante o período contábil sob a forma de
entrada de recursos ou aumento de ativos ou diminuição de passivos que resultam em aumentos
do patrimônio líquido da entidade e que não sejam provenientes de aporte de recursos dos
proprietários da entidade.

– As receitas (sentido amplo) englobam tanto as receitas propriamente ditas como os ganhos.

Sentido estrito: Receita é o ingresso bruto de benefícios econômicos durante o período


proveniente das atividades ordinárias da entidade que resultam no aumento do seu patrimônio
líquido, exceto as contribuições dos proprietários.

– Ganhos - representam outros itens que se enquadram na definição de receita e podem ou não
surgir no curso das atividades ordinárias da entidade.

A entidade deve reconhecer receitas quando (ou à medida que) a entidade satisfizer à obrigação
de desempenho ao transferir o bem ou o serviço (ou seja, um ativo) prometido ao cliente.

• O ativo é considerado transferido quando (ou à medida que) o cliente obtiver o controle desse
ativo.
4.2. Despesas - Definições

• Iudícibus (2004):

– Despesa, em sentido restrito, representa a utilização ou o consumo de bens e serviços no


processo de produzir receitas.

• IASB/CPC:

– Despesas são decréscimos nos benefícios econômicos durante o período contábil sob a forma
de saída de recursos ou redução de ativos ou incrementos em passivos, que resultam em
decréscimo do patrimônio líquido e que não sejam provenientes de distribuição aos proprietários
da entidade.

Reconhecimento de Despesas:

• Mensuração em base confiável.

• Surgimento de um decréscimo nos futuros benefícios econômicos provenientes da diminuição


de um ativo ou do aumento de um passivo.

• Confrontação entre despesas e receitas (Regime de Competência).

• Imediatamente no resultado - quando não produz benefícios econômicos futuros ou quando não
se qualificam para reconhecimento no balanço patrimonial como um ativo.

5. Activo, Passivo e Património liquido.


5.1. Activo e Passivo.
O conceito de elementos ativos e passivos de um património é, em regra, intuitivo, porque aos
ativos se lhes associa a propriedade ou o direito de receber e aos passivos a obrigação de pagar.

Contudo, do ponto de vista contabilístico, os conceitos desenvolvem-se não só no quadro


jurídico de propriedade, dos direitos e obrigações, mas também no contexto da substância da
utilização, controlo e assunção dos riscos e benefícios associados a esses ativos e passivos.
Vejamos estes conceitos à luz do referencial contabilístico.

 Activo – É um recurso controlado pela entidade como resultado de acontecimentos


passados e do qual se espera que fluam para a entidade benefícios económicos futuros.

Analisando a definição:

(1) é um recurso, porque as entidades utilizam os equipamentos, as mercadorias, o


dinheiro, etc. com uma determinada finalidade associada aos seus objetivos;

(2) a entidade controla a sua utilização porque pode definir a forma de utilização dos
equipamentos, o preço e a modalidade de venda das mercadorias, o destino a dar ao
dinheiro que possui (deposita a prazo ou à ordem, mantém no cofre, faz aquisições, etc.).

Exemplo 2.1 – Recursos humanos.

A entidade XPTO tem 10 trabalhadores ao serviço.

Questão: Pode considerar estes recursos como ativo da empresa?

Resposta: Não. Quando se contrata uma pessoa para trabalhar, apesar de ser um recurso
(humano), a entidade não o controla, pois, a pessoa contratada não se submete a todo o tipo de
ordens e pode rescindir o contrato de trabalho quando o pretender.
Continuando com a análise da definição:

(3) a entidade espera que os elementos ativos gerem benefícios económicos futuros ou seja,
que da venda ou utilização se obtenham rendimentos e fluam para ela fluxos (entradas) de caixa
resultantes dos recebimentos da venda dos bens e serviços proporcionados por esses ativos.

A obtenção de benefícios económicos futuros são o potencial que um ativo tem de


contribuir, direta ou indiretamente, para os recebimentos de uma entidade. A venda de uma
mercadoria gera diretamente o direito de receber uma dada quantia, enquanto um equipamento
contribui para produzir bens ou serviços capazes de satisfazer as necessidades dos clientes,
assegurando assim o influxo de caixa. Outros ativos poderão contribuir para os benefícios
económicos futuros, reduzindo os fluxos de caixa (pagamentos), designadamente reduzindo os
custos de produção, a aquisição de serviços externos, entre outros exemplos.

Os ativos poderão contribuir para a obtenção de benefícios económicos futuros de


diferentes maneiras. Por exemplo, um ativo pode ser:

(a) Usado isoladamente ou em combinação com outros ativos na produção de bensou


serviços para serem vendidos pela entidade.

Exemplo: Um computador pode ser usado isoladamente, sem ser necessário mais nenhum
equipamento, ou pode ser usado em combinação com uma impressora.

(b) Trocado por outros ativos.

Exemplo: Uma entidade tem uma viatura que já não serve as suas necessidades. Pode trocá-la
por um ativo similar ou outro diferente.

(c) Usado para liquidar um passivo.


Exemplo: Pagar uma dívida com o dinheiro que tem depositado.

(d) Distribuído aos proprietários da entidade.

Exemplo: Distribuição de lucros aos sócios.

(4) Consequência de acontecimentos passados, pois a posse dos ativos (máquinas,


mercadorias, etc.) resultou de anteriores decisões, nomeadamente de aquisição desses elementos.
Normalmente, obtêm-se ativos pela sua compra ou produção. No entanto, outras transações ou
acontecimentos podem gerar ativos, como, por exemplo, bens cedidos pelo Governo ou por
outras entidades, normalmente sob a forma de subsídios ou doações, associados a contrapartidas,
ou não.

Exemplo 2.2 – Equipamento

A empresa Comércio, Lda. adquiriu um computador a crédito de 90 dias para afetar à sua área
administrativa. Pretende utilizá-lo para emitir as faturas de vendas, realizar o expediente geral e
controlar os stocks dos produtos que comercializa. Deste modo, é sua expectativa ter melhor
controlo dos artigos que vende, evitando aquisições desnecessárias ou rotura de stocks,
aumentando desta forma a eficiência na gestão dos mesmos.

Questão: Este computador pode ser classificado como um ativo?

Resposta: Sim, deve ser classificado como ativo porque:

• É um recurso que se espera utilizar nos processos de faturação e do controlo de stocks

• A entidade controla porque decidirá se afeta esse computador à área administrativa ou


não, que tipo de software irá instalar e utilizará, que pessoas terão acesso, a manutenção e em
que momento o substituirá.

• Espera-se que gere benefícios económicos futuros pela melhoria de eficiência das áreas
referidas (faturação atempada, melhor conhecimento dos bens em stock, minimização das roturas
de stock, etc.). Desta forma os benefícios económicos poderão fluir para a entidade pela
antecipação de recebimentos dos clientes, pela diminuição dos prejuízos resultantes da rutura de
stocks, etc.

• A existência desse recurso deve-se a um contrato de compra com um fornecedor


(acontecimento passado). LP

em síntese:

Ativo:

– É um recurso

– É controlado

– Espera-se que gere benefícios económicos futuros

– Decorre de um acontecimento passado

5.2. PASSIVO

Quando as entidades vão ao exterior adquirir os recursos de que necessitam, contraem dívidas
que têm a obrigação de pagar, o que implica a saída (exfluxo) de recursos, em regra com
pagamentos em dinheiro (que inclui não só o pagamento em moeda mas também de outros
meios, como o cheque, transferência bancária, etc.).

Contudo, a liquidação (ou extinção) de um passivo pode ser feita por diversas formas,
nomeadamente, por transferência de outros ativos (exemplo: pagamento em mercadorias),
prestação de serviços, substituição dessa obrigação por outra ou pelo perdão da dívida por parte
do credor.

A obrigação de pagar denomina-se, do ponto de vista patrimonial, um passivo. Segundo


definição da Estrutura Conceptual, define-se passivo como:
uma obrigação presente da entidade proveniente de acontecimentos passados, da liquidação
da qual se espera que resulte um exfluxo de recursos da entidade incorporando benefícios
económicos.

Analisando a definição:

(1) é uma obrigação presente, porque existe um dever ou responsabilidade já constituída


(não depende de um compromisso futuro) para pagar ou executar de certa maneira as obrigações
para com terceiros.

Estas obrigações podem ser:

– Legalmente impostas, como consequência de um contrato, das leis e regulamentos, dos


estatutos. Incluem as quantias a pagar por bens e serviços recebidos, de acordo com as práticas
normais dos negócios, dos empréstimos concedidos pelas entidades financeiras, pelos impostos e
taxas a entregar ao Estado ou outras entidades constituídas como sujeitos ativos, etc.

– Ou podem advir de uma obrigação construtiva. Uma obrigação construtiva é uma


obrigação “moral” que se assumiu perante terceiros.

Exemplo 2.3 – Obrigação construtiva

Admita-se que, no âmbito de uma campanha de marketing, uma dada empresa compro- mete-se
publicamente a devolver o preço dos produtos comprados se o cliente encontrar mais barato na
concorrência.

Questão: Este acontecimento origina uma obrigação para a entidade?

Resposta: Sim. Como há a promessa pública da restituição do valor das compras, se qualquer
cliente invocar essa promessa, deverá ser honrada. A entidade criou uma obrigação construtiva

para com os seus clientes. Como a empresa desconhece quais e quando os clientes poderão
reclamar, deverá ser feita uma estimativa, baseada na sua experiência ou na de outras empresas.
Este passivo é relevado contabilisticamente como uma provisão.

Continuando a análise da definição de passivo:


• É proveniente de acontecimentos passados, isto é, resulta de operações ou de outros
acontecimentos já decorridos, designadamente da aquisição de bens e uso de serviços, o
recebimento de um empréstimo bancário.

• Da liquidação se espera que resulte um exfluxo de recursos. Do pagamento em

dinheiro de um empréstimo bancário, da dívida a um fornecedor, resulta a saída (exfluxo), em


regra, de meios monetários. A liquidação de uma obrigação presente pode ocorrer de formas
diversas, nomeadamente através de:

(a) Pagamento a dinheiro.

Exemplo: Liquidação de uma dívida com entrega de dinheiro, cheque ou transferência bancária

(b) Transferência de outros ativos.

Exemplo: Liquidação de uma dívida com entrega de mercadorias

(c) Prestação de serviços.

Exemplo: Liquidação de uma dívida prestando um serviço como contrapartida

(d) Substituição dessa obrigação por outra.

Exemplo: A entidade ABC deve à entidade XPTO, que por sua vez deve à DEF; estas entidades
podem acordar entre si que a ABC pagará diretamente à DEF.

(e) Conversão da obrigação em capital social.

Exemplo: Um credor torna-se sócio/acionista do devedor

(f) Prescrição da obrigação.

Exemplo: Perda dos direitos do credor por caducidade de prazo de os exercer.

(g) Perdão da obrigação.

Exemplo: O credor abdicar dos direitos

• Um exfluxo de recursos da entidade incorporando benefícios económicos. A extinção


de uma obrigação com a entrega de dinheiro ou outros ativos retira à entidade recursos de cuja
utilização se esperava a obtenção de fluxos futuros para a entidade. Desta forma, a liquidação
dos passivos está, em regra, associada a uma diminuição de ativos e da sua capacidade geradora
de benefícios económicos futuros.

Exemplo 2.4 – Aquisições a crédito

A empresa Comércio, Lda. adquiriu um computador a crédito de 90 dias.

Questão: Este acontecimento origina uma obrigação para a entidade?

Resposta: Sim. De acordo com a negociação estabelecida com o fornecedor, o pagamento será a

90 dias. Ou seja, a empresa tem 90 dias para pagar esta aquisição, o que significa que tem

uma obrigação presente perante o fornecedor. Esta obrigação vai implicar saídas da entidade,
que, de acordo com a terminologia utilizada na Estrutura Conceptual, implica exfluxo de
recursos (o mais comum será o pagamento em dinheiro), que “consomem” os benefícios
económicos gerados pela entidade (diminui o dinheiro existente, à data do pagamento).

Em síntese:

Passivo:

– É uma obrigação

– Implica exfluxos de recursos

– Incorpora benefícios económicos

– É consequência de acontecimentos passados

5.3. MENSURAÇÃO DE ATIVOS E PASSIVOS

processo de mensuração carece da escolha de uma base, dentro das permitidas pelo
enquadramento contabilístico da entidade. Podemos determinar dois momentos de atribuição de
valor:

• na data do reconhecimento inicial de um ativo ou passivo e que, em regra, corresponde


à data de entrada no património da entidade;

• e em cada momento posterior em que ocorra uma nova avaliação (mensuração


subsequente).
Mensurar é o processo de determinar as quantias monetárias dos elementos patrimoniais.
Este processo envolve a seleção da base particular de mensuração, ou seja, selecionar método a
utilizar para medir a quantia monetária.

A atribuição de uma quantia ou valor a um dado elemento patrimonial é um processo que


acompanha esse elemento enquanto pertencer ao património da entidade. Após a atribuição de
uma quantia inicial, esta deve ser periodicamente revista. Existe, portanto, um momento inicial
de atribuição de valor, segundo um dado critério, e ao longo da sua vida possíveis revisões desse
valor.

A referida Estrutura Conceptual aponta como bases de mensuração as seguintes:

1) O custo histórico

O custo histórico é a base de mensuração mais utilizada, não só porque é do ponto de vista técnico mais
simples de aplicar, como também porque é a opção que as diferentes normas contabilísticas mais
privilegiam, particularmente as normas mais simplificadas dirigidas às entidades de menor dimensão34.

Esta base de mensuração implica reconhecer o ativo e o passivo pelas quantias que constam no
documento de suporte ao mesmo (fatura, contrato ou outro documento da operação), após dedução
dos descontos e abatimentos comerciais obtidos.

Esta quantia (preço de compra) é acrescida de outras despesas associadas à transação, designadamente:

– Quaisquer custos diretamente atribuíveis para colocar o ativo na localização e condição


necessárias para o mesmo ser capaz de funcionar da forma pretendida (custos de transporte, seguros,
registo, montagem e testes do equipamento, honorários, etc.)

– Direitos de importação

– Impostos de compra não reembolsáveis

– Da estimativa inicial dos custos de desmantelamento e remoção do item e de restauração do


local no qual este está localizado.

Exemplo – Custo histórico (1)


A entidade DC, S.A. adquiriu uma viatura ligeira de passageiros por 15 000 € (com IVA incluído à taxa
normal), tendo de pagar, para além daquela quantia, 2 000 € para regularização da mesma no registo
automóvel.

Questão: Qual a quantia no reconhecimento inicial desta viatura?

Resposta: De acordo com esta base de mensuração – custo histórico, deve ser efetuado o seguinte

registo no ativo: Equipamento de transporte: 17 000 €.

Preço de compra = 15 000 (supondo IVA não reembolsável) +Custos de registo = 2 000 : Total 17 000

Exemplo – Custo histórico (2)

A entidade JC, SA adquiriu uma fotocopiadora por 1000 €, acrescidos de 230 € de IVA.

Questão: Qual a quantia no reconhecimento inicial deste equipamento?

Resposta: De acordo com esta base de mensuração – custo histórico –, deve ser efetuado o seguinte

registo no ativo: Equipamento administrativo = 1000 €.

Nota: Supondo que o IVA é recuperado, não faz parte do custo de aquisição do equipamento.

2) Justo valor.

O custo corrente, o valor realizável (de liquidação) e o justo valor são bases de mensuração que
implicam uma avaliação, que deve ser efetuada ou por peritos ou por terceiros não interessados.
Nestas opções, os registos das quantias não estão relacionados com o custo de aquisição (como
acontece o custo histórico), mas sim relacionados com os valores de mercado desses itens.

Exemplo – Justo valor (1)

A entidade RD, SA tem um edifício adquirido há dois anos cuja quantia registada (escriturada)
na contabilidade é de 500 000 €. A administração entendeu avaliar o edifício recorrendo aos
serviços de um perito. Segundo o relatório deste, apresentado em dezembro do ano N, o edifício
foi avaliado em 610 000 €.

Questão: Qual a quantia a reconhecer, neste edifício, em dezembro do ano N?


Resposta: Se esta entidade pretendesse aplicar o justo valor como base de mensuração, deveria
acrescer à quantia escriturada 110 000 €, para que, deste modo, o valor final reconhecido fosse
de 610 000 € (500 000 iniciais, acrescidos dos 110 000 que correspondem à diferença de
avaliação). Este critério de determinação do justo valor enquadra-se no nível 3 referido na NIRF
13 porque não utiliza dados de um mercado ativo.

Exemplo – Custo corrente

Suponha que existe uma dívida no montante de 1000 € a um fornecedor. De acordo com o
contratado, essa dívida deveria ser liquidada no prazo de 6 meses. Como o fornecedor pretende
receber mais cedo, no prazo de um mês, pois necessita de dinheiro, está disposto a considerar a
dívida liquidada por 900 €.

Questão: Qual a quantia a reconhecer para essa dívida?

Resposta: Se a entidade devedora utilizar como base de mensuração o custo corrente, deverá
diminuir a quantia em dívida em 100 €, para deste modo refletir os 900 € necessários para a
liquidar no novo prazo.

Exemplo – Valor realizável

Admita que uma entidade tem um veículo de passageiros, escriturado por 7500 €. Para
determinar o valor dessa viatura, contactou vários stands de carros usados. Segundo a
informação recolhida, apurou que o melhor preço para este ativo correspondia a 7000 €.

Questão: Qual a quantia a reconhecer para esse ativo?

Resposta: Se a entidade estivesse a aplicar como método de mensuração, o valor realizável (de
liquidação) deveria diminuir a quantia escriturada deste item em 500 €.

5) Valor presente.

No que se refere ao valor presente, implica que se calcule o valor temporal do dinheiro com
referência a uma determinada data, pois o valor do dinheiro ao longo do tempo não é o mesmo.
Um dos fatores que influencia esse valor é a inflação anual, que diminui o poder de compra.
Imagine-se o valor de 100 €, daqui a 10 anos.

Exemplo – Valor presente


Admita que a entidade AB, Lda. tem de liquidar uma obrigação na quantia de 15.000 € daqui a 5
anos. Sabe-se que a taxa de juro líquida anual é 5%.

Questão: Qual a quantia a reconhecer na contabilidade em N?

❑ VALOR FUTURO ❑ 15000


Resposta:VALOR PRESENTE = n = VALOR PRESENTE = = 11.753
(1+i) (1+ 0,05)5
Em que: i = Taxa de Juro; n = Tempo

Logo, o valor presente dos 15 000 € a liquidar daqui a 5 anos é cerca de 11 753 €, então
nesta base de mensuração é esta a qu antia a considerar em N.

5.4. PATRIMÓNIO LÍQUIDO OU CAPITAL PRÓPRIO

Nos pontos anteriores referimos o conceito de ativo e passivo e que a estes deve ser atribuída
uma quantia monetária. Quando se pretende quantificar o valor de um património, deduz-se, ao
valor dos ativos, o dos passivos, obtendo-se o património líquido. Este valor é sempre reportado
a uma determinada data de referência, o que significa que, se pretendermos determinar o valor do
património em 31 de dezembro do ano N, deverão ser considerados os ativos e passivos
existentes e mensurados nessa data.

Essa diferença corresponde ao valor remanescente para o empresário ou para os proprietários de


uma sociedade se pretendessem pagar todas as dívidas. A diferença entre o valor do Ativo e o
valor do Passivo surge nas demonstrações financeiras, em concreto no balanço, com a expressão
de Capital Próprio.

O balanço é uma das demonstraç ões financeiras obrigatória. É um mapa que nos dá a posição
financeira da empresa, ou seja, permite-nos identificar os elementos do ativo, passivo e do
capital próprio, agrupados em rubricas predefinidas.

Capital próprio ou Património líquido = valor dos ativos – valor dos passivos

O capital próprio pode assumir três valores possíveis:

• positivo (ativo superior ao passivo – caso retratado acima);

• negativo (quando o passivo é superior ao ativo);

• nulo (em que o ativo = passivo).


Exemplo – Capital próprio

Considere que o total do Activo é de 136.500 e do passivo é de 66.100 de uma dada sociedade à
data de 31 de dezembro de 201x:

Resposta: Podemos calcular o património líquido ou capital próprio, no dia 31 de dezembro


de201x, através da diferença entre o ativo e o passivo, obtendo a quantia de 70 400 €.

Ativo 136 500 - Passivo 66 100 = Capital próprio 70 400.

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