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ESTUDO DE LAZER: UMA INTRODUÇÃO

Ao longo dos tempos, o termo “lazer” passou a ter conotações e definições


com o intuito de mostrar a importância de pratica-lo. Deu-se início com a expansão
do trabalho manual, pelo qual existia a questão do tédio e do cansaço, aí começou a
ter um aprofundamento geral sobre a inserção do lazer dentro de uma organização.
Inúmeros estudiosos de vários países investigaram esse termo, inclusive
autores brasileiros, com o objetivo de entender em que âmbito que esse termo se
encaixa na sociedade em geral, bem como fatos culturais de um determinado meio
social que se enraizou com o passar dos anos, como no caso do Brasil, em que há
uma paixão pelo futebol e carnaval.
Os estudos demonstraram que lazer pode estar relacionado a questão da
atitude, de acordo com o pressuposto de que um indivíduo pratica algo de forma
prazerosa e livre que tal atividade proporciona. Porém o termo “lazer” está
relacionado a tempo, sabendo que o dia a dia de um cidadão está subdividido pelo
tempo no trabalho, tempo com a família, com a religião, ou até de forma livre de tais
deveres ou obrigações.
Mesmo tendo conceitos controversos, é importante entender que se inserir no
lazer no tempo uma pessoa pode significar tanto ter lazer no tempo livre quanto no
tempo disponível, sendo que o tempo livre seria, de forma mais aprofundada, livre
de deveres sociais, fazendo com que o indivíduo tenha somente um tempo
“disponível”. Portanto, embora possa parecer complicado esse tema, o lazer pode
ser combinado entre o tempo de uma pessoa ao longo do dia, com o próprio estilo
de vida dessa pessoa, ou seja, tempo e modo de vida são bem relacionados.
O presente estudo traçou também a relação de atividades de trabalho,
religiosas, familiares com a possibilidade de as mesmas serem uma forma de lazer,
porém entende-se que deveria haver uma “eliminação” de sentimentos de obrigação
para que houvesse um pleno sentido de lazer em tais atividades. Portanto, essa
relação ficaria ao encargo de consciência do indivíduo, seu prazer, satisfação, não
havendo o pensamento de atividades obrigatórias.
Outro aspecto da relação entre obrigações trabalhistas e o lazer está numa
comparação entre o tempo livre de um desempregado e o tempo disponível pelo
empregado. De acordo com os aspectos levantados, o tempo de lazer de um
desempregado não é em si um tempo desocupado, e não um tempo liberado. A
pessoa sem emprego, portanto, não desencadeia atitudes para se produzir prazer,
como ocorre com o empregado. Até mesmo no caso de um grevista, o fato de estar
fazendo uma greve, utilizando tempo para buscar seus direitos, não se considera
favorável para uma atividade de lazer.
Com o passar do tempo, o termo lazer foi inserido de forma mal interpretada,
levando em conta que praticar uma atividade de lazer seria algo somente voltado
para recreação, passeio, distrações, etc., levando até o Estado a criar certas
nomenclaturas de departamentos, como Secretaria de Esporte e Lazer, Cultura e
Lazer, etc.
A questão de se praticar o lazer envolve elementos que podem não ser
percebidos de imediato, que vão muito além do sentimento de recreação,
divertimento e brincadeiras, pois envolve fundamentos pedagógicos, educativos e de
inclusão social, havendo talvez certo conflito entre o sentimento de obrigação e o
prazer que o lazer proporciona ao indivíduo envolvido. Portanto, conceituar “prazer”
sem entender outros elementos envolvidos pode levar a um entendimento limitado
sobre o tema.
Não se pode deixar enganar pelo conceito de lazer, pois elementos como
consumos, ou seja, muitas áreas em que o homem exerce está inseridas no
contexto de lazer, não sendo restrito a um momento de folga, um final de semana ou
um feriado, mas todos os dias o lazer está inserido no nosso dia a dia. Além disso, o
lazer tem como função estimular e trazer mudanças culturais, morais e sociais,
caracterizando como um fato que se modernizou ao longo do tempo.
No conceito de autores, o lazer tem uma importante função de inibir tensões e
problemas emocionais, e também como forma de se autodominar, como defendeu
Pascal. Já Cavalcanti afirmou que o lazer tem como característica a construção de
ideologias, fazendo o indivíduo se inserir no âmbito urbano ou industrial.
O conceito de lazer pode ser entendido de acordo com o tipo de prática em
que o indivíduo está inserido, através das motivações que o mesmo busca, se
diferindo pelo ambiente, como no caso de alguém que pratica um esporte, em que
busca o prazer através da atividade física, e alguém que frequenta um teatro ou
cinema, em que busca prazer através do entretenimento. Esse conceito
desencadeia o conhecimento das pessoas em questão do que estão procurando
para satisfazer-se, pois elementos do lazer tem um propósito de estimular a
participação e escolher o que quer fazer de acordo com o que se procura.
O lazer está inserido em práticas distintas, como na arte, no turismo, no meio
intelectual, no meio social, de forma manual e no meio físico. Nos meio artístico se
insere a busca pela expressão emocional e sentimental, além do encanto e beleza.
O meio turístico busca o lazer através de viagem e conhecer lugares. O meio social
busca lazer através do encontro em grupos sociais, em lugares específicos, como
festas. O meio físico é a busca pelo lazer através do exercício e prática esportiva. O
meio intelectual é a busca do lazer através do conhecimento, leitura e estudos. E o
meio manual é a busca pelo lazer em manipulação de objetos, artesanato, criação
de objetos, etc. É comum as pessoas escolherem de forma específica pelo menos
um desses meios de lazer, e é muito difícil ter alguém para se interessar por todos
esses de maneira total.
Uma atividade de lazer podendo ser ativa ou passiva, dependendo do
consumismo e prática do indivíduo envolvido. Isso determina o conceito de
passividade, em que tal consumismo pode se diferenciar pela intensidade em que o
indivíduo está envolvido em tal prática, sendo elementar, média ou superior
(inventivo). Porém, as atividades podem ser restringidas por fatores
socioeconômicos, em que muitos podem não ter acesso a diversas práticas
culturais.
O local em que culturalmente ocorre eventos em espaços específicos,
geralmente contribuem para a participação das pessoas em momentos de
entretenimento e para o turismo. Com isso, quando uma comunidade se insere em
participar de um momento cultural num local, isso é passível de preservar-se,
valorizar e revitalizar o urbanismo. Através de fatores sociais, históricos, culturais,
afetivos, formais e técnicos, estabelece-se nas cidades o conceito de Patrimônio
Ambiental Urbano.
Em lugares com grande urbanização, mostra que a grande parte das pessoas
optam em buscar o prazer do lazer dentro do próprio lar, pois a própria casa é
adaptada para que se construa o próprio lazer, não sendo construído
especificamente para isso, mas sendo usado para um fim proveitoso. Há também
locais que não foram feitos especificamente para o lazer, por ser ambiente em que o
objetivo é o consumo alcoólico e não sendo mais considerado um ponto de encontro
adequado.
Há outros exemplos em que o lazer pode ser desfrutado de forma efetiva e
com recursos necessários para que haja uma relação harmoniosa entre os
envolvidos nas práticas, sendo lugares preparados para tal atividade de lazer, no
caso da escola, por exemplo, em que há espaços adaptados para recreação,
brincadeiras, etc., como pátio, quadra e sala de aula. Entretanto, a escola tem
utilizado tais equipamentos para lazer que não envolve algo voltado para o
parâmetro de ensino, mas para organizar eventos festivos para uma comunidade,
com objetivos financeiros.
Em termos de equipamentos específicos, os mesmos se diferem pelo tipo de
lazer e se classificam pelo tamanho e pelo fim específico de se ter tal espaço. Ou
seja, são espaços apropriados para determinado tipo de prática voltada para o lazer,
tais como parques, locais estruturados para acampamentos, praticas esportivas, etc.
Lembrando que tais equipamentos podem ser médios, os macroequipamentos e
microequipamentos.
É fundamental ter espaços reservados de forma democrática para a prática
de um lazer, não bastando somente ter equipamentos, mas sim acesso maior, não
podendo ser um espaço em que poucos tem condição de utilizar. É necessário ter
uma política voltada para a conservação e valorização dos espaços públicos para o
lazer, sendo usado como originalmente começou a ser usado.
Se tratando da qualidade de vida e do patrimônio urbano, a expansão da
urbanização pode ser considerado nocivo a população de um local em questão da
qualidade de vida das pessoas. Sendo assim, é importante uma localidade manter
sua identidade para que haja maior procura turística, havendo participação da
comunidade em prol do ambiente urbano mais acessível para o turismo e lazer.
De um modo geral, as práticas de lazer fora do ambiente familiar estão ligada
mais ao indivíduo homem do que da mulher, talvez seja por motivos culturais,
biológicos e sociais, pois não é difícil ver crianças, jovens e adultos do sexo
masculino mais envolvidos com práticas de lazer fora de casa, enquanto meninas e
mulheres estão envolvidas mais em trabalhos nos lares, serviços domésticos e
também pelo fato de ter mais tendência a ser “caseiras”.
Ultimamente as mulheres procuram se inserir em quaisquer meios sociais e
ambientais, buscando ter uma igualdade social em relação ao homem,
especialmente em termos trabalhistas, e isso envolve totalmente o contexto do
tempo para o lazer, mesmo porque a mulher possui tarefas no ambiente de trabalho,
mas também possui maiores deveres domésticos, talvez influenciando seu tempo
para o lazer. Portanto, o termo lazer pode ser voltado mais como algo com
significado masculino.
No âmbito infantil, muito se fala que a criança é um indivíduo que vive sem
nenhuma responsabilidade e tem total tempo disponível para a prática de uma
atividade de lazer, como brincadeiras lúdicas e uso de brinquedos, porém a questão
da responsabilidade desde a infância é algo real e não pode ser ignorada, mesmo
porque desde pequena, a criança é submetida ao aprendizado desde cedo, através
da inserção da mesma no ambiente infantil, como escolinha, creche, etc., sendo
uma forma eficaz para dar a criança toda estrutura de aprendizagem e
desenvolvimento geral. Outro dado importante, é que uma simples brincadeira
infantil é algo assegurado por especialistas para o desenvolvimento da criança.
Logo, a atividade infantil não é algo voltado somente como fonte de lazer, mas sim
algo específico para sua formação intelectual e física, além da interação social e
cultural.
Existem diversos incisos da lei, como na Declaração dos Direitos da Criança,
Constituição, etc., que afirma veementemente que a criança tem direito ao lazer e a
alegria de brincar, se divertir e ter acesso a ludicidade, saúde, alimentação e
educação. Entretanto, é lembrado que muito tem se negligenciado tais direitos, não
dando assistência necessária à essas crianças, e muitas estão “largadas” ao relento.
Todas eram pra ter acesso a esses direitos, que, segundo o Dr. Winnicott, o brincar
estimula sai criatividade.
As pessoas da terceira idade também podem se associar ao lazer, porém
fatores como indisposição, de saúde, ou de fatores econômicos, são os motivos que
essa faixa etária é a que menos tem acesso ao lazer e ao uso dos equipamentos
dele. Além disso, segundo os estudos, os idosos passam por preconceitos de idade,
através de comentários de terceiros que duvidam da capacidade do homem ou
mulher idosa ao praticar um lazer. Mas ainda bem que há vários grupos que auxiliam
vários idosos a praticar o lazer, mesmo assim eles devem ser mais autônomos
quanto a essa prática, e não ficar dependente de grupos assistenciais.
O lazer tem como fundamentos importantes o desenvolvimento social, sendo
um duplo processo educativo. É um forma de privilégio educacional e também uma
prática que auxilia muito no aprendizado, favorecendo o sentimento de
solidariedade, o autoconhecimento, deixando aguçada a sensibilidade pessoal, além
de ter oportunidades de contatos primários.
Quando fala-se que o lazer é tratado com ambiguidade, significa que o lazer
pode ser levado em conta as esferas que desenvolvem atitudes críticas ou criativas,
e também leva ao conformismo e acomodação. Esses dados podemos classificar
como “atitudes patológicas”.
Conceitua-se “atitudes destrutivas do lazer” atividades realizadas em tempo
disponível que são tratadas como patologia, ou seja, uma prática, sendo até então
atraente, podem ser destrutivas e levar a um conformismo, além de colocar em risco
a qualidade de vida tanto quem pratica a atividade, quanto aquele que observa tal
atividade.
A ocorrência histórica do lazer sempre foi tratado com controvérsias,
considerando que eles caracterizam a sociedade de acordo com suas atividades
trabalhistas, levando em conta a disponibilidade em praticar o lazer, de acordo com
seu tempo, e também sendo um processo da sociedade no seu contexto urbano e
industrial. Existem diferenças entre a sociedade tradicional e a moderna, no seu
contexto cultural em termos dos hábitos e práticas sociais, enquanto a primeira era
algo mais formal, como bater papo durante o intervalo do serviço, a segunda é mais
voltada para o isolamento entre pessoas, e a relação trabalho\lazer se difere entre
as duas sociedades, no comportamento e na forma de interagir.
Na sociedade, é importante não ignorar os juízos de valor, em que uma forma
de se praticar o lazer pode ser tanto pelo tempo livre do trabalho quanto por utilizar
todo o tempo num contexto negativo, baseado no comodismo e desinteresse no
trabalho. Esse consenso se dá pelo fato de que a sociedade enfatiza a moral do
trabalho, em que um indivíduo tem um trabalho desfrutando do seu tempo livre,
concepção inclusive adotada pelo âmbito religioso, como na Igreja Católica,
considerando isso como uma forma de complementar o dia e relaxar diante de um
dia todo de trabalho.
As relações de trabalho e lazer jamais podem ser restringidas a meros
momentos, levando em conta que tempo fora do trabalho é algo que dependerá
muito da disponibilidade do indivíduo em termos de não ter que cumprir certos
deveres, como tempo gasto com transporte, tirar horar extras e até mesmo realizar
pequenos serviços fora do seu horário de trabalho. Durante muito tempo os
trabalhadores buscaram o direito de ter o tempo livre para fazer suas atividades
livres da obrigação do emprego.
Entretanto, a questão trabalhista, em termos econômicos, acabam gerando
uma série de pessoas sem ocupação, levando os mesmos a terem mais tempo para
ter prática do lazer, caracterizando o que já foi falado sobre o tempo usado devido a
falta de ocupação.
Ao longo do tempo as reinvindicações tornaram mais acessível ao trabalhador
o acesso ao lazer, visto que hoje tudo que vemos de direitos em relação a tempo,
remuneração, férias, foi sendo adquirido num longo processo. Além disso, desfrutar
dos prazeres do lazer é algo que enfatiza a vida do indivíduo que tem sua ocupação
e recebe seus direitos.

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