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O mundo vive uma grande crise climática e ambiental. O aquecimento global e a perda de
biodiversidade são evidências de ultrapassagem de duas fronteiras planetárias que podem
gerar um grande colapso ecológico global ainda no século XXI. Utilizando um verso de uma
canção de Marília Mendonça para refletir o atual “pacto suicida” da insustentabilidade
ambiental: “Ninguém vai sofrer sozinho. Todo mundo vai sofrer”.
A figura abaixo, da Global Footprint Network, mostra que a Pegada Ecológica estava em 20,9
bilhões de hectares globais (gha) em 2017, para uma Biocapacidade do Planeta de 12,1 gha. O
déficit estava em 73%. A solução é reduzir a Pegada Ecológica para a casa de 12 bilhões de gha,
pois, como bem lembrou Deborah Danowski “Não tem mais mundo pra todo mundo”.
Há 5 maneiras para reduzir a Pegada Ecológica global no curto e médio prazo: 1) diminuir a
produção de bens e serviços; 2) modificar o estilo de produção e consumo (fazendo uma
mudança na matriz energética, mudando a dieta alimentar, reduzindo o luxo e o lixo, etc.); 3)
avançar com a tecnologia e a eficiência produtiva; 4) reduzir as desigualdades sociais e
regionais; 5) reduzir o tamanho da população.
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A primeira alternativa requer o decrescimento do Produto Interno Bruto. Porém,
simplesmente diminuir a produção e a renda agregada significa empobrecer a nação. Assim, é
uma alternativa amplamente minoritária no pensamento mundial, pois existe a “doença” do
crescentismo e do desenvolvimentismo. Governantes, partidos políticos, empresários,
sindicados, associações de trabalhadores, igrejas e a sociedade civil em geral querem
aumentar a produção e o consumo. De modo geral, o empresário quer aumentar o lucro, o
trabalhador que aumentar o salário, o Estado quer aumentar os impostos e a nação quer
aumentar seu poder geoestratégico. Por tudo isto, a perspectiva de decrescimento econômico
é muito difícil de ser colocada em prática. Os países pobres, por exemplo, querem diminuir a
pobreza e reivindicam o direito ao desenvolvimento e a um alto padrão de vida.
A quarta alternativa advém da possibilidade de haver menor crescimento e com a redução das
desigualdades. O crescimento do padrão de consumo dos países pobres, poderia ocorrer em
função do decrescimento do padrão de consumo dos países ricos. O mesmo poderia ocorrer
dentro de cada território nacional, com a adoção de uma melhor distribuição de renda. Isto
implica deixar os pobres um pouco mais ricos e os ricos um pouco mais pobres. Teoricamente
é uma proposta justa e que contribuiria para uma maior harmonia social, todavia, é muito
difícil de ser colocada em prática, especialmente numa situação de baixo crescimento
econômico ou de decrescimento da riqueza nacional ou global.
A quinta alternativa implica reduzir o volume das populações nacionais e global, o que
contraria a tendência dos últimos 12 mil anos, quando a população mundial cresceu 2 mil
vezes, passando de cerca de 4 milhões de habitantes no ano 10 mil antes da Era cristã para 8
bilhões de habitantes em 2023. A redução da população dos países ricos traria um alívio mais
rápido no grau impacto sobre o ambiente e a redução da população dos países pobres ajudaria
nas políticas de redução da pobreza.
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deve ter um grande crescimento e chegar a 3,1 bilhões de habitantes em 2100. Os países de
renda média possuem cerca de 6 bilhões de habitantes atualmente e devem chegar a 7 bilhões
no final do século. Devido à política de filho único e o envelhecimento populacional, a China
deve perder cerca de 400 milhões de habitantes entre 2020 e 2100. No total, a população
mundial deve chegar a 8 bilhões em 2023 e a cerca de 10 bilhões em 2100.
Desta forma, as alternativas para evitar um colapso ambiental existem, mas são de difícil
aplicabilidade, pois há muitas divergências entre as nações e muita discordância internamente
em cada país. A confrontação interna e internacional tende a aumentar na medida em que os
danos ambientais vão impactando progressivamente toda a população mundial. Os mais
poderosos vão tentar socializar os prejuízos e privatizar os benefícios. O fato é que, com a crise
climática e ambiental, a discórdia tende a superar a harmonia e a tragédia dos comuns fica
mais evidente, pois a atmosfera virou uma grande lixeira da poluição gerada pela civilização.
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particulares, é quase impossível que se constitua e se consolide uma vontade geral em
benefício do bem comum. A ação política requerida para levar à frente uma transição do
modelo econômico e social da magnitude que o momento exige necessita uma governança
forte e convergente capaz redirecionar um mundo tão desigual, injusto e insustentável em
termos ecológicos. Mesmo havendo consenso de que é preciso evitar a possibilidade de um
colapso ambiental falta união na hora de decidir o caminho a ser trilhado.
Como diz o ditado popular: “Em casa onde falta pão, todos brigam e ninguém tem razão”. Ao
invés da harmonia do tripé economia, sociedade e ambiente o que o mundo enfrenta é o
trilema do crescimento deseconômico, a sociedade dividida e o ambiente degradado. A crise
ambiental agrava a crise econômica e acirra as divisões da sociedade, dificultando as ações
para evitar o círculo vicioso de perdas e danos do colapso ecológico, que já se manifesta por
meio do aumento dos custos dos crescentes desastres ambientais. Portanto, não é uma tarefa
simples romper com todos estes impasses. E o tempo para remediar a situação está cada vez
mais curto.
Referência:
ALVES, JED. Economia Ecológica e dinâmica demográfica global e nacional: cenários para o
século XXI, Economia Ecológica, 24/06/2021
https://www.youtube.com/watch?v=baxzJkmgazE