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DO
MUSEU PAULISTA
PUBLICADA
POR
DIRECTOR DO MUSEU
W@[LiySi>JE WD
SAO PAULO
TYPOQRAPHÍA DO DIÁRIO OFP.OIAL
1911
Extraído de volume digitalizado pelo Internet Archive.
Disponível na Biblioteca Digital Curt Nimuendajú:
http://biblio.etnolinguistica.org/ihering_1911_questao
de Janeiro de 1910).
«Ha um ponto capital em que não estou de accôrdo
com o eminente mestre de biologia. Haeckel entende
que as ideias, que julga estarem provadas, devem entrar
para a escola, e elle deseja pôr de lado as religiões exis-
tentes, como desnecessárias. Aqui o ponto era que os
nossos caminhos se separam. As conclusões ás quaes
o naturalista e o medico chegam, por estudos sinceros
e prolongados, não servem para o espirito inculto. Des-
truir ao povo a sua fé rehgiosa seria um procedimento
insensato, emquanto nada temos para offierecer-lhe que
possa substituil-a. Ha porém outro motivo ainda mais
nobre para chegar á mesma conclusão. E' immense
o capital já accumulado e comprehendido pela sciencia,
mas todas as novas descobertas servem apenas para
afastar de nós mais um pouco o ponto onde acabam o
nosso poder e os nossos conhecimentos. O que vae
além disto é a hypothèse, a theoria, a crença. Si qui-
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zermos ser justos, temos de reconhecer que a crenças
do naturalista monista não vale mais do que a do ho-
mem religioso. Por minha parte estou convencido de
que a rehgião christã, com as novas descobertas das
sciencias naturaes, soffrerá tão pouco como na época de
Galileu e que as actuaes confissões desta rehgião sym-
pathica terão de modificar-se muito para em tempos
futuros servirem de modo sufficiente ao animo e ao
coração dos devotos. Acredito mesmo que virá a época
em que a crença do naturalista moderno e a do christão
observante chegarão ao ponto de se confundir dentro de
certos hmites». As poucas palavras com que aqui pretendi
explicar a minha crença scientifica e religiosa, justificam-
se pela necessidade de esclarecer as minhas doutrinas a
respeito da catéchèse. Não faltou quem interpretasse
malevolamente as minhas ideias, nem quem, ignorante
da conducta moderada e sóbria que o homem prudente
deve manter, extranhasse não ter agido eu com maior
exaltação e intransigência.
Falo dos missionários como historiador imparcial
e systematico, e nenhuma referencia lisongeira profe-
riram meus lábios que não fosse a expressão de mi-
nha consciência, que não fosse um grande dever de
justiça.