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UMA INTRODUÇÃO
Chanceler
Dom Jaime Spengler
Reitor
Joaquim Clotet
Vice-Reitor
Evilázio Teixeira
Conselho Editorial
Jorge Luís Nicolas Audy | Presidente
Jorge Campos da Costa | Editor-Chefe
Jeronimo Carlos Santos Braga | Diretor
Agemir Bavaresco
Ana Maria Mello
Augusto Buchweitz
Augusto Mussi
Bettina S. dos Santos
Carlos Gerbase
Carlos Graeff Teixeira
Clarice Beatriz da Costa Sohngen
Cláudio Luís C. Frankenberg
Érico João Hammes
Gilberto Keller de Andrade
Lauro Kopper Filho
Gabriele Rosenthal
5ª edição
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo,
especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos.
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(arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).
Sumário
17INTRODUÇÃO | 17
5.5.2 Exemplo empírico: qual o significado tem a morte da mãe para diferentes
perguntas de pesquisa? | 205
281REFERÊNCIAS | 281
281ÍNDICE REMISSIVO | 307
APRESENTAÇÃO À EDIÇÃO BRASILEIRA1
Relevância e ação em reconstruções biográficas
O meu primeiro contato com a obra de Gabriele Rosenthal não foi nem
consciente nem sistemático. Durante a elaboração da minha tese de douto-
rado em ciência política na Freie Universität Berlin, em meados da década
de 1990, me encontrava às vezes com minha amiga de longa data Profa.
Dra. Bettina Völter, que à época realizava entrevistas para seu doutorado,
sob a orientação da Profa. Rosenthal. Lembro-me de como a Profa. Bettina
Völter se mostrava quase sempre exausta ao relatar por alto as entrevistas
que havia feito, não apenas pelos conteúdos das entrevistas sobre judaísmo
e comunismo na ex-Alemanha Oriental com três gerações de famílias de
origem judaica, mas também pelo trabalho minucioso de análise de todo
o material produzido. Na verdade, eu não compreendia muito bem o que
estava fazendo e, no meu desconhecimento da diversidade metodológica
e analítica da sociologia alemã contemporânea, não entendia muito bem
se todo aquele empreendimento poderia ser considerado sociologia. Essas
lembranças são importantes para mim, pois é com esse tipo de impressão
– ou desconfiança e crítica – que tenho que lidar, tanto diariamente em
sala de aula quanto nos congressos de sociologia que participo no Brasil,
ao expor a abordagem metodológica proposta por Gabriele Rosenthal para
a análise de narrativas biográficas.
Durante meu período de graduação, em meados da década de 1980,
ouvia falar que professores do departamento de sociologia onde estudava
realizavam pesquisas com biografias. Essas pesquisas estavam restritas
à elite de políticos, considerados “merecedores” de uma biografia por te-
rem sido testemunhos privilegiados dos acontecimentos importantes da
sociedade local. Esse tipo de abordagem não me interessava antes. Hoje,
meu interesse por esse tipo de abordagem tampouco cresceu.
1
Trata-se de versão modificada de palestra intitulada “Relevanz und Handlung in bio-
graphischen Rekonstruktionen: eine Annäherung an die Soziologie Gabriele Rosenthals”
[Relevância e ação em reconstruções biográficas: uma aproximação à sociologia de Gabriele
Rosenthal] que proferi durante as comemorações dos 60 anos da autora, em 9 de maio de 2014,
na Universität Göttingen, Alemanha.
9
Apenas mais recentemente, depois de assumir meu interesse pela so-
ciologia de Alfred Schütz, que já vinha do período de graduação, mas que
se mantinha adormecido e quase clandestino, é que passei a buscar formas
de realizar pesquisa empírica usando explicitamente o método de pesquisa
proposto por Schütz, ou seja, de fazer do conhecimento do senso comum
o objeto de análise. Nesse período atuava como assessor na secretaria es-
tadual no Rio Grande do Sul responsável, dentre vários outros temas, por
lidar com o problema de adolescentes que haviam cometido delitos graves
e se encontravam cumprindo “medida socioeducativa”. Foi nesse momento
que me deparei mais sistematicamente com o problema do envolvimento de
jovens, homens e mulheres, com diversos tipos de delitos e ações violentas.
Passei a dedicar-me a compreender o que faz com que jovens se en-
volvessem com ações violentas. Equipado com gravador, filmadora e um
roteiro de perguntas, iniciei minhas incursões semanais à instituição que
albergava os adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, onde
realizava as entrevistas. Passados alguns meses, me dei conta que havia
algo inconsistente em meu procedimento. Nunca perdi de vista que uma
das minhas motivações originais era, e continuava sendo, incorporar a
sociologia de Schütz em minhas atividades de pesquisador. Nessa socio-
logia, três elementos se destacavam para mim: o interesse pela ação, o
sistema de relevância dos sujeitos pesquisados e as motivações dos sujeitos.
Minha conclusão ou pelo menos minha suspeita inicial foi que com meu
roteiro de perguntas, que inclusive expunha cenários hipotéticos aos meus
entrevistados para que se posicionassem diante deles, acabava por reali-
zar o que passei a chamar de “colonização do sistema de relevância” dos
entrevistados, já que o que ocorria, na prática, era que os entrevistados
deveriam reagir a uma diversidade de temas – que eu supunha, poderiam
me oferecer elementos para a compreensão das ações e motivações daque-
les adolescentes. A partir daí, passei a procurar de maneira sistemática
por procedimentos que estivessem mais de acordo com meus interesses
de pesquisa, orientados, como afirmei, pela sociologia de Alfred Schütz.
A partir de um texto de Fritz Schütze – um dos sociólogos alemães
contemporâneos mais influentes – publicado em Neue Praxis, cheguei aos
textos de Ralf Bohnsack e, em seguida, aos textos de Gabriele Rosenthal. As
diferenças entre essas diferentes abordagens foram ficando mais evidentes,
assim como a grande proximidade da abordagem da Profa. Rosenthal com a
sociologia de Schütz. Ao mesmo tempo, a leitura mais sistemática dos textos
da Profa. Rosenthal me parecia ter uma vantagem adicional: a incorporação
10
da obra de Aron Gurwitsch. Gurwitsch, com quem Schütz manteve grande
amizade, sobretudo em seu período em Paris, além de ter contribuído para que
Gurwitsch pudesse escapar da França durante a Segunda Guerra Mundial e
encontrasse trabalho nos Estados Unidos, também assumiu a cátedra na New
School for Social Research após a morte de Schütz, em 1959. Já estava nos
meus planos realizar leituras sistemáticas dos textos de Gurwitsch. Minha
feliz surpresa foi deparar-me com Gurwitsch já incorporado adequadamente
na abordagem analítica da Profa. Rosenthal, a partir da análise dos chamados
“campos temáticos” de uma narrativa biográfica. Com isso, minha busca por
um procedimento metodológico já sistematizado tinha dado os melhores frutos.
Em que consistem as vantagens da abordagem proposta por Rosenthal?
Trata-se de uma sociologia que explicita as influências sobre as quais cons-
trói sua própria proposta analítica, isso é positivo e didático, e de maneira
alguma um procedimento recorrente. Rosenthal é uma herdeira de Fritz
Schütze, mas que realizou incrementos importantes sobretudo no processo
de análise, ainda que a condução da entrevista narrativa mantenha-se em
sua essência idêntica àquela proposta por Schütze. Rosenthal incorporou
também à produção de “dados”, por exemplo, a realização de entrevistas
narrativas biográficas com membros de distintas gerações de uma mesma
família. A partir da distinção, no processo de análise, entre vida narrada
e vida vivenciada, a abordagem adotada por Rosenthal permite explicitar,
no fluxo biográfico e na Gestalt de uma narrativa, elementos importantes
para a compreensão de diferentes tipos de ação social presentes em um
tempo histórico e em um contexto social específico. O ponto de partida é
precisamente que já na condução da entrevista, mas também e especial-
mente no processo de análise, o sistema de relevância dos entrevistados
seja evidenciado. Isso se dá quando o pesquisador não organiza a entrevista
a partir dos seus próprios interesses de pesquisa e quando, na análise,
procura evidenciar os campos temáticos das biografias produzidas, uma
contribuição incorporada da obra de Gurwitsch. Além disso, apresenta a
sequencialidade na análise, proposta por Oevermann, e o processo siste-
mático de produção de hipóteses, considerando rigorosamente o que foi
trazido pelos próprios entrevistados, contribuição da Grounded Theory,
seguindo o método abdutivo de Charles Peirce. Todo esse procedimento
analítico, que vai exposto na presente obra, permite uma análise bastante
rigorosa para se aproximar ao sistema de relevância tanto do entrevistado
quanto do contexto em que vive ou é socializado. Com isso, evita-se cair
na armadilha, bastante recorrente na realização de pesquisa empírica,
11
de se “colonizar” o sistema de relevância dos entrevistados. Todo esse
complexo procedimento metodológico tem por objetivo chegar-se à re-
construção de biografias marcadas pelas mais diferentes experiências
que se queira pesquisar, como migração, violência, desemprego, dentre
inúmeras outras que possam ser objeto de interesse de pesquisadores da
sociologia e de disciplinas afins.
Sendo o sistema de relevância o fio condutor para a compreensão
das ações e escolhas realizadas pelos indivíduos em um determinado
contexto social, a abordagem narrativa biográfica proposta por Schütze,
e especialmente como reelaborada por Gabriele Rosenthal, oferece uma
possibilidade bastante sistematizada para sua apreensão. Alfred Schütz,
nos últimos anos de sua atividade profissional na New School for Social
Research em Nova York, se interessou por pesquisas empíricas sobre de-
linquência juvenil nos bairros pobres da cidade. Suspeito, no entanto, que
o próprio Schütz não saberia empregar seus escritos teóricos de maneira
mais adequada na condução de pesquisas empíricas.
Embora tenha havido outras tentativas importantes de adotar a
sociologia de Schütz em pesquisa empírica, como a Etnometodologia
de Garfinkel, tivemos que esperar até que um grupo de pesquisadores
liderados por Fritz Schütze, cerca de vinte anos após a morte de Schütz,
pudesse propor um procedimento que faz jus a seus escritos, ainda que
informado igualmente por outras escolas interpretativas da sociologia.
Importa destacar que as reflexões e os desenvolvimentos metodológicos
prosseguem, sejam nas atividades de pesquisa do próprio Schütze, assim
como da Prof. Rosenthal e de seus ex-colaboradores e equipe atual no
Methodenzentrum Sozialwissenschaften (Centro de Métodos em Ciências
Sociais) da Universidade Göttingen.
Se hoje essas abordagens, tanto aquela desenvolvida por Schütze quan-
to aquela desenvolvida por Rosenthal, já estão consolidadas em diversos
países, não apenas na Alemanha, não se pode perder de vista a resistência
que esses autores sofreram por parte de representantes de outras escolas
interpretativas que dominavam – e dominam ainda – a produção sociológica
aqui e em outros lugares. A sociologia dominante via com desconfiança,
e até mesmo desdém, as contribuições que a pesquisa com narrativas
biográficas poderia aportar ao conhecimento sociológico da realidade.
Pode-se dizer que a resistência, onde ainda hoje persiste, é fruto muito
mais do desconhecimento da riqueza analítica que a análise de narrativas
já demonstrou do que propriamente da desconfiança em relação ao seu
12
potencial analítico, já que encontra-se disponível uma vasta produção, tanto
teórica quanto empírica, a partir de diversas perspectivas analíticas. Esse
me parece ser o caso da comunidade acadêmica do Brasil, onde a pesquisa
biográfica permanece relativamente marginal, mesmo considerando que
já na década de 1940 sociólogos brasileiros já tenham realizado pesquisa
utilizando relatos orais e que alguns poucos sociólogos brasileiros tenham
participado da criação do Comitê de Pesquisa “Biografia e Sociedade” da
ISA (International Sociological Association), que foi primeiro presidido pelo
francês Daniel Bertaux e posteriormente dirigido por Gabriele Rosenthal
durante oito anos. Nos anos mais recentes, observa-se um interesse cres-
cente de pesquisadores brasileiros pela adoção de narrativas, ou mais
especificamente de narrativas biográficas, em pesquisas empíricas. É
nesse contexto que a abordagem da Profa. Gabriele Rosenthal vem sendo
introduzida no Brasil de maneira sistemática.
A abordagem metodológica apresentada por Gabriele Rosenthal
permite distinguir entre sociologia de viés positivista e sociologia inter-
pretativa, cuja vantagem desta última residiria no fato de considerar as
interpretações dos sujeitos para a compreensão das diversas facetas da
realidade social. Sempre foi um desafio estabelecer mecanismos seguros
para dar conta da experiência dos sujeitos como elemento fundamental
para a atividade sociológica. Com sua abordagem de narrativas biográ-
ficas, Gabriele Rosenthal parte do pressuposto, com Alfred Schütz, que
indivíduos têm passado, presente e agem igualmente em consideração ao
futuro, enfim, constroem uma biografia e, ao mesmo tempo, um discurso
sobre sua experiência biográfica. Partindo desse pressuposto, seu rigor
metodológico, tanto no processo de produção dos “dados” – a apresentação
biográfica – quanto no processo de análise desses discursos biográficos,
permite-nos obter acesso a aspectos da realidade social que de outra ma-
neira nos escaparia. Esse procedimento metodológico tem sido adotado por
pesquisadores em diversos países e tem sido responsável por incrementar
o conhecimento que se tem da realidade.
A publicação desta obra, baseada em muitos anos de pesquisa empírica e
reflexão metodológica, deverá contribuir para preencher importantes lacunas
na formação de sociólogos no Brasil, assim como para orientar pesquisas
na sociologia e em disciplinas afins que se valem de narrativas biográficas.
Hermílio Santos
Göttingen, junho de 2014
13
PREFÁCIO
15
estudos, e em especial na interpretação conjunta dos materiais empíricos,
não apenas entrei em contato com mundos da vida bastante diversos, mas
certamente aprendi mais sobre metodologia do que imaginava ser possível.
Um agradecimento especial a Bettina Völter, pelo diálogo já de anos
sobre questões teóricas e de método – assim como por sua crítica constru-
tiva das minhas reflexões sobre análise de discurso –, e outro a Michaela
Köttig, não apenas pelo estímulo gerado na didática conjunta e pelas dis-
cussões sobre seu trabalho empírico e seu ensino engajado, mas também
por ter me possibilitado, como minha assistente no recém-fundado – e
ainda em construção – Centro de Métodos, que encontrasse tempo e base
emocional para escrever este livro. Artur Bogner, com sua sofisticada
perspectiva teórica, chamou minha atenção para algumas inconsistências
e, sobretudo, imprecisões, além de ter motivado alguns ajustes. Por esses
e outros apoios, meus sinceros agradecimentos.
16
INTRODUÇÃO
2
Das publicações recentes sobre métodos que buscam satisfazer a esse interesse, pode-
mos citar: Bohnsack (2003); Flick et al. (2000); Hitzler e Honer (1997); e Schröer (1994). Os
dois volumes de Lamnek (1988; 1989) trazem, por seu lado, uma pesquisa social que em parte
ainda se orienta pelos critérios do procedimento quantitativo.
3
Glaser e Strauss (1979) apontam para as diferenças entre teorias que partem do objeto,
as que dizem respeito a um campo de estudos específico – que abordam por exemplo a assis-
tência a doentes – e as teorias formais, essas desenvolvidas a partir das primeiras e que se
caracterizam por um alto grau de generalização.
17
de investigação durante o trabalho. Uma “fórmula”, por exemplo, para a
realização de entrevistas – como o modo narrativo – ou então para o acesso
a determinado campo – através de um anúncio em um jornal, por exem-
plo – pode se mostrar bastante eficaz neste ou naquele estudo, mas, em
outro, uma medida contraprodutiva. Espero conseguir, ao longo da minha
exposição, mostrar a necessidade de uma aplicação flexível e criativa de
certos instrumentos e, assim, encorajar a realização de pesquisas pouco
comprometidas com um esquema fixo de regras, mas, antes, atentas às
especificidades dos cotidianos que queremos investigar.
Por causa da minha formação sociológica, raramente abandono o âm-
bito da minha disciplina ao falar da metodologia, da história da pesquisa
interpretativa e de suas proposições teóricas fundamentais. Os métodos
por mim apresentados, tanto para o levantamento quanto para a análise
de dados – sempre que se trate da pesquisa de fenômenos sociais –, não
estão vinculados, porém, a uma ou outra área do saber. As regras para um
levantamento de dados realizado de acordo com o princípio da abertura
(ver subcapítulo 2.4), isto é, para uma entrevista aberta ou para uma ob-
servação participante, são as mesmas para um sociólogo, para um etnólogo,
psicólogo, para um historiador e para um pedagogo. Da mesma forma, os
princípios que regulam uma análise sequencial e reconstrutiva – seja para
a análise de transcrições de entrevistas, de registros audiovisuais ou de
protocolos de observação – não são restritos a uma disciplina específica.
No que diz respeito à reconstrução de casos – diferente dos procedimentos
que tomam hipóteses como referência e dos voltados à análise de conteú-
do –, essas disciplinas só tomam seu rumo próprio depois que o processo
de reconstrução esteja concluído, isto é, quando se trata de desenvolver
teorias e realizar outras generalizações teóricas.
18
1
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PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
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1
Nisso, e não na distinção entre quantitativo e qualitativo (BOHNSACK, 1991; SOEFFNER,
1989), consiste a diferença entre os vários métodos de pesquisa das Ciências Sociais.
21
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
2
Sobre as diferenças e semelhanças entre mundo cotidiano e mundo das ciências, ver:
Alfred Schütz (1971a; 1971b).
3
Sempre que, nesse estágio, as hipóteses puderem ser discutidas pelos membros do gru-
po de pesquisa, isso servirá para torná-los conscientes dos pressupostos científicos e cotidianos
envolvidos na investigação, mas também para estabelecer um distanciamento crítico, reflexivo
dos primeiros com relação aos últimos.
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GABRIELE ROSENTHAL
4
Na Alemanha, o método da discussão em grupo foi desenvolvido sobretudo por Ralf
Bohnsack, autor de manuais bastante instrutivos tanto sobre levantamento como também sobre
análise (BOHNSACK, 2003). Sobre a história da discussão em grupo, ver: Bohnsack (1997).
5
Sobre a análise desse tipo de discussão, ver: Angela Keppler (1994).
6
Sobre o procedimento da análise sequencial de vídeo, ver Witte e Rosenthal (2007). Para
uma análise dos assim denominados dados “naturais”, ver os textos publicados em Schröer
(1994).
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PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
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GABRIELE ROSENTHAL
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PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
Fica claro, assim, com base nessas observações, quais são os principais
objetivos da pesquisa social interpretativa: a reconstituição do sentido
subjetivamente visado e a reconstrução do sentido latente e, com isso, do
conhecimento implícito que o acompanha – relativo aos atores no mundo
social. Por sentido subjetivamente visado não se deve compreender proces-
sos privados ou psíquicos internos; pelo contrário, os atores do cotidiano
atribuem significados a suas ações e à realidade social a partir da apro-
priação de estoques de conhecimento social ao longo da socialização. Além
da reconstrução desses estoques de saber – formados e constantemente
modificados na socialização – e do significado conscientemente intencionado
de uma ação (como também de um ato de fala), a interpretação de um texto
visa à reconstrução de seu significado social geral. Além da reconstrução
desse estoque de conhecimento que se constitui e se transforma de maneira
consciente ao longo da socialização e do significado intencionado de uma
ação consciente (como também de um ato de fala), a interpretação de um
texto procura reconstruir o significado social do texto. Por texto compre-
endem-se trechos de entrevista, artigos de jornal, registros audiovisuais
de situações cotidianas ou então protocolos de observação. Trata-se de um
conceito bastante amplo e que se refere a todas as formas de expressão
produzidas na interação social e que são protocoladas de algum modo.
Para além das intenções do produtor, o texto representa uma realidade
autônoma a ser interpretada. Paul Ricoeur (1972, p. 257), cujos trabalhos
também influenciariam profundamente o método da hermenêutica objetiva,
descreve a realidade autônoma do texto da seguinte forma:
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GABRIELE ROSENTHAL
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PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
vez, durante uma entrevista com uma deficiente visual, pude perceber
como expressava minha atenção mais por meio do olhar do que com sinais
acústicos. Também quando comecei a realizar entrevistas para um proje-
to de pesquisa sobre famílias constituídas por pessoas de três gerações
(ROSENTHAL, 1997), estava de fato consciente – na condução da entrevista
não havia enfrentado grandes problemas – de que utilizava determinadas
técnicas adquiridas ao longo da minha formação e da minha prática em
consultoria pedagógica, mas de início me pareceu bastante complicado
explicar aos colegas do projeto como procedia nessas entrevistas. Antes
mesmo que as transcrições da conversa gravada estivessem prontas – as
quais esclareceriam meu procedimento –, tornou-se evidente, através de
observações feitas pelos colegas que participaram das entrevistas, que eu
aplicava, quase de forma automática, sempre a mesma técnica de fazer com
que os membros da família se posicionassem em relação a declarações de
seus parentes e que também trocassem mutuamente de papéis. Pode-se
dizer que essa técnica, a qual havia desenvolvido vários anos antes – de
forma consciente e, por sinal, trabalhosa –, tinha se tornado rotina não
consciente. Com relação à pesquisa social interpretativa, podemos, de fato,
afirmar ser possível analisar muitas dessas ações rotinizadas dos pesqui-
sadores e também seus efeitos na interação com os entrevistados, com a
ajuda de registros em áudio e vídeo e dos nossos sistemas de anotação. Mas
a busca por revelar todo o conhecimento implícito ou habitual não apenas
acabaria por exigir demais, como também tornaria impossível a conclusão
de projetos empíricos. Além disso, por conta da nossa socialização em um
contexto histórico e social específico e do inconsciente social que age sobre
nós pesquisadores, determinados conteúdos de sentido, de forma seme-
lhante como ocorre no cotidiano, não se oferecem à interpretação textual.
Por essa razão que, na atualidade da situação histórica, não temos acesso
a significados que são apenas exploráveis a posteriori, tendo em vista que
estão baseados em estoques de conhecimento social amplos (RITSERT,
1972, p. 41-42). Tal como, a título de exemplo, os cidadãos da República
Democrática Alemã, que, após a queda do muro e os acontecimentos de
1989, enxergam o período anterior de maneira bastante particular e, com
base no conhecimento adquirido desde então, atribuem a determinadas
vivências novos significados, também ocorrem, na análise social, reinter-
pretações do tipo, isto é, são descobertos novos modos de leitura.
A interpretação científica – à exceção, porém, das atitudes do pesquisa-
dor em uma entrevista ou durante uma observação participante – difere-se
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Ver, entre outros: Oevermann (1975; 1979); sobre a história do desenvolvimento da her-
menêutica objetiva, ver: Reichertz (1986).
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PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
8
Entre os quais Alfred Schütz, Aron Gurwitsch, Karl Mannheim e Norbert Elias, mas
também a maioria dos representantes da teoria da Gestalt, como Kurt Lewin, Max Wertheimer,
Wolfgang Köhler e Kurt Koffka, e os maiores expoentes da “Escola de Frankfurt”: Theodor W.
Adorno, Max Horkheimer e Erich Fromm.
9
O instituto foi fundado em 1924 em Frankfurt. Anos depois, quase todos os seus mem-
bros foram obrigados a deixar a Alemanha nazista e emigrar para os Estados Unidos. Em 1951,
o instituto seria reaberto por Max Horkheimer, Friedrich Pollock e Theodor W. Adorno. O termo
“Escola de Frankfurt” faz referência ao trabalho desse círculo de cientistas sociais.
10
Esse termo, cunhado por Theodor W. Adorno, faz referência à controvérsia iniciada no
encontro da Sociedade Alemã de Sociologia realizado em Tübingen no ano de 1961 a partir
das apresentações de Karl R. Popper e do próprio Adorno, controvérsia que também encontrou
eco em textos de Jürgen Habermas e Hans Albert. Dito de uma maneira geral, tratou-se de um
choque entre os defensores de uma ciência dos “fatos” empíricos voltada à determinação de
regras (“nomológica”) e “livre de valores”, e os representantes da ideia de uma teoria crítica da
sociedade com base na filosofia da história e que se encontrasse voltada para o estudo da ordem
social vigente. Enquanto os primeiros privilegiavam a análise de modelos microssociológicos de
ação, a Escola de Frankfurt buscava desenvolver concepções macroteóricas de sociedade e de
“evolução” social.
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11
Ver a análise sobre o conceito de grupo de discussão realizada nos anos 1950 por Ralf
Bohnsack (2003, p. 105).
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PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
12
O antissemitismo predominante à época na Alemanha, o qual também considerava a pessoa
como judia com base na sua origem, causou a Simmel, cujos pais eram judeus convertidos ao cris-
tianismo, vários problemas durante sua carreira. Foi o antissemitismo que o impediu, por exemplo,
de assumir uma cátedra de filosofia em Heidelberg em 1908 (NEDELMANN, 2002, p. 129).
13
A primeira formulação do conceito de “sociologia compreensiva” encontra-se no arti-
go de Weber “Algumas categorias da sociologia compreensiva”, publicado em 1913. Sua ela-
boração mais conhecida só viria a público, porém, em 1921, no capítulo inicial – intitulado
“Conceitos Fundamentais da Sociologia” – de Economia e sociedade, publicado postumamente.
14
Após seus estudos em ciências jurídicas, Alfred Schütz trabalhou como advogado do
setor financeiro em um banco de Viena. Com a adesão da Áustria ao “Terceiro Reich”, Schütz
– de origem judaica e que desde 1937 já planejava sua migração – decidiu não retornar de uma
viagem de negócios a Paris. Mais tarde, sua mulher e seu filho o seguiriam, para, em 1939,
emigrarem para Nova York. Schütz, que em Nova York continuou desempenhando a função no
setor financeiro em um banco, passaria paralelamente, em 1943, a lecionar na New School for
Social Research, onde assumiu, em 1952, uma cátedra em sociologia e psicologia social.
38
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15
Fundamental para a compreensão da ideia weberiana de sociologia e das relações entre
pesquisa social qualitativa e quantitativa é, também, o conceito de “ciências da realidade”, que
Weber entende como alternativa a “ciências nomológicas”. Com sua definição de sociologia
como ciência da realidade, Weber expressa a ideia segundo a qual investigar a realidade da
vida social implica pesquisar essa realidade em seus dados “históricos”, individuais e concretos,
embora, por diversas causas de natureza prática, isso só seja possível a partir de uma forma
seletiva e a partir da perspectiva das questões levantadas (WEBER, 1973, p. 170-176; ROSSI,
1987, p. 20-62).
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PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
16
Sobre a obra de G. H. Mead, ver, sobretudo: Hans Joas (1980).
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17
As aulas de religião foram abolidas das escolas francesas em 1905. O governo, à época,
nomeou Émile Durkheim para formar uma comissão com a finalidade de desenvolver um méto-
do que pudesse ensinar moral para crianças sem aula de religião. Convencido de que a socio-
logia poderia dar conta disso, Durkheim forneceu sua “Introdução” como disciplina obrigatória
nas escolas.
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18
Em seu estudo monográfico Espelhos e máscaras (1974), Strauss fala da influência de
organizações sociais sobre o self e sobre seu lugar em contextos históricos. Goffman, em seu
estudo Estigma (1975), aprimora a teoria da identidade de Mead a partir de uma diferenciação
entre identidade pessoal e social.
19
Para um panorama sobre seus métodos, vide a exposição sistemática de Willems
(1996:2000).
43
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
20
Embora professor da Faculdade de Filosofia, Mead também exerceu grande influência
sobre estudos sociológicos. Entre 1900 e 1927, sua palestra anual sobre psicologia social era
evento obrigatório para os estudantes de sociologia. Com base nas anotações das palestras, foi
publicado em 1934 o texto Mind, Self and Society.
44
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21
A partir dos trabalhos de Znaniecki, desenvolveu-se na Polônia “uma sociologia forte-
mente orientada – no que diz respeito ao método – pela escrita autobiográfica”, bastante ativa
até hoje (FISCHER-ROSENTHAL, 1991a, p. 118).
22
Em Werner Fuchs (1984, p. 99) é possível encontrar uma análise minuciosa do significa-
do metodológico dessa obra e das reflexões de Herbert Blumer (1939) sobre método desenvol-
vido a partir dela.
45
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
23
Sobre as análises da Escola de Chicago, ver: Mikl-Horke (1997, p. 188), Schütze (1987)
e, de forma mais detalhada – sobretudo sobre Park –, Lindner (1990; 2000).
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2
1
A tradução alemã foi publicada em 1971.
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PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
não as criam; em geral apenas notam o que a situação, para eles, pode
vir a ser, e comportam-se em adequação a essa ideia” (GOFFMAN, 1977,
p. 9). Sempre que entramos em alguma interação, a primeira questão
com a qual nos deparamos é “o que ocorre aqui?” (p. 16). Na tentativa de
responder a essa pergunta e de escolher e definir a ordenação do agir,
recorremos a um sistema de regras. Por exemplo, se noto, durante aquela
viagem de trem, ser necessário sinalizar mais claramente à senhora sobre
minha intenção de ler o jornal, posso me mostrar estar pouco interessada
na conversa evitando contato visual, direcionando meu olhar para a folha
de jornal, mas também de forma paralinguística (com “uhm” e “anhãs”).
Na maioria das vezes, tais processos, ações ou pequenas estratégias são
desenvolvidos e aplicados de forma mais ou menos automática, sem pla-
nejamento consciente. Além disso, o agente, como afirma Goffman (p. 31),
“não está, na maioria das vezes, consciente da forma com que o recorte
está organizado, e, caso questionado, tampouco consegue descrevê-lo
integralmente, mesmo que apenas de forma aproximada, embora isso
não o impeça de aplicá-lo com alguma facilidade”. Somos conscientes de
uma variedade de regras (por exemplo, para dar fim a conversas) que
configuram, entretanto, em grande parte, saber implícito. Rotineiras, es-
sas regras são objeto de aplicação não planejada explicitamente. Porém,
sempre que surge uma crise no interior da interação, levantamos a questão
explicitamente: “o que está acontecendo aqui afinal?” ou “até que ponto
minha definição de situação não está condizendo com a do outro?” Caso
meu chefe, sentindo-se insultado, rejeite meu pedido de férias – enquanto
que eu, de início, colocando-me em seu lugar, diria não haver razão para
que ele não se alegrasse comigo por minha viagem para a Turquia –, isso
vai me obrigar a refletir sobre meu comportamento e minha definição da
situação, a enxergar nesse contexto, ainda que contra minha vontade, uma
conversa antes com um superior do que com um amigo. Além disso, talvez
seja apenas nessa situação de crise que eu acabe tomando consciência do
fato de ter definido a situação como uma conversa, de início, entre amigos,
e de ter buscado me comportar de maneira correspondente a ela. Assim,
podemos partir do princípio de que, em geral, a percepção daquilo que,
de acordo com Goffman, “a situação pode ser para nós” ocorre no interior
da ação. Aqui é possível falar de uma produção ativa, prática, da definição
situacional ou do enquadramento, na qual não apenas a definição determi-
na a situação, mas, antes, a primeira seja, do contrário, da mesma forma
determinada pela ação enquanto processo.
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GABRIELE ROSENTHAL
2
Hans-Georg Soeffner (1989, p. 151), autor de diversas críticas do conceito de “frame”,
relaciona à expressão “encenação” “nem acaso lúdico, nem planejamento eficazmente instrumen-
talizado ou instrumentalizável”, mas “a intercorrelação rotinizada entre, de um lado, interação
com vistas a um fim e, de outro, saber implícito sobre tipos de significado e sobre formas comu-
nicacionais de representação adquirido através da socialização e por meio de experiência”.
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3
O conceito “agente do cotidiano” faz referência ao pensamento de Alfred Schütz e à sua
investigação fenomenológica do cotidiano.
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4
A análise dessa entrevista pode ser encontrada em Rosenthal (2002c).
5
Nos dias de hoje, o temor da deportação é com frequência responsável por despertar o
medo da morte e de outras experiências de violência semelhantes às já vivenciadas.
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GABRIELE ROSENTHAL
Mas como que posso falar àquela pessoa sobre essas coisas,
sobre esses sentimentos? Ele não quer nem saber, o funcioná-
rio tá nem aí pra essas coisas... que pessoa mais fria... Eu fui
bastante claro com ele: “me desculpa, mas eu quero saber, você
não tem nenhum sentimento ou compaixão com essa gente?”
Mas eu percebi logo que ele queria mandar a família embora do
país, de qualquer maneira. Aí eu não consegui segurar, disse a
ele pra deixar minha mãe em paz, que ela precisa se esquecer
de tudo (transcrição, p. 28).
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GABRIELE ROSENTHAL
filha atenciosa): “... cada papel conta a estória de suas próprias atitudes,
sentimentos e comportamentos” (p. 32). Questionar o entrevistado sobre
esses processos de enquadramento não os torna visíveis, uma vez que o
próprio e os entrevistadores não são de todo conscientes deles. Além disso,
mesmo que respostas às perguntas com as quais concluímos a entrevista
(por exemplo: “Que vivência você fez dessa conversa?”) façam referências
importantes aos enquadres, não temos acesso a todas as possibilidades
de significação. Antes, necessitamos de métodos – tanto de levantamento
quanto de análise – que permitam ao entrevistado aplicar regras de en-
quadramento e enquadres próprios, e, com isso, oferecer a nós a possibi-
lidade de expô-los na análise. Para isso se exigem sobretudo métodos de
levantamento que satisfaçam ao princípio da abertura.
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para experiências de guerra e para o modo como elas são tratadas atual-
mente, mas desde um ponto de vista biográfico (ROSENTHAL, 1990). A
tarefa consistia, inicialmente, em investigar a diferença entre experiências
específicas ao grupo masculino em comparação com as do grupo feminino
e – em relação, de certo modo, direta – as diferenças entre vivências que
tiveram lugar na frente de batalha, na base militar ou no próprio país. Esse
interesse era guiado pela hipótese ou suposição de que essas disparidades
também seriam responsáveis por diferenças no modo com que, contem-
poraneamente, se lida com o passado. Começamos, assim, a desenvolver
nossa amostragem realizando entrevistas com homens e mulheres nascidos
entre 1910 e 1935 e que vivenciaram a Segunda Guerra Mundial desde o
interior de uma dessas três “zonas”. A cada entrevista ficava mais claro
que, para os homens, a diferença mais importante, no que dizia respeito
a vivências e ao tratamento dado a elas, não estava ligada à sua presen-
ça, seja na frente de batalha ou na base, mas, antes, à participação em
crimes de guerra e em ações que violavam direitos humanos (crimes em
sua maioria ocorridos nas regiões ocupadas, especificamente no interior
de bases militares). Ao longo da análise, também notamos como, em ge-
ral, e tanto para os homens como para as mulheres, a idade, assim como
experiências prévias e especialmente o posicionamento ideológico com
relação ao nacional-socialismo, determinavam as semelhanças e diferenças
das vivências e da forma de compreendê-las hoje. Após uma entrevista
de início fora dos planos, a importância do pertencimento a determinada
geração enquanto determinante não pôde mais ser ignorada. O entrevis-
tado, à época da entrevista, estava internado em um hospital; ali estava
sempre comentando com os outros sobre seus traumas de guerra. Quem
o indicou para entrevista foi o médico que o tratava, um amigo de um dos
pesquisadores. Em comparação com outros homens com quem havíamos
conversado – inclusive no contexto da nossa pesquisa sobre a juventude
hitlerista (ROSENTHAL, 1987) –, seu paciente, que não pertencia à mesma
geração dos outros entrevistados, tinha um discurso totalmente diferente
sobre a Segunda Guerra. Nascido em 1899, ele já havia sido enviado, ain-
da jovem, para lutar na frente de batalha ocidental da Primeira Guerra;
anos mais tarde, em 1939, por ainda ter idade para servir, foi obrigado
novamente a se apresentar. O entrevistado sempre falou de forma positiva
sobre o moral dos soldados na Primeira Guerra, os quais, na Segunda –
contava com exaltação –, por outro lado, teriam sofrido injustiças. Além
das consequências de um trauma originado nas trincheiras da Primeira
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GABRIELE ROSENTHAL
Guerra, pudemos notar, ali, um ideal pacifista que, mesmo implícito, não
encontramos em outras entrevistas (ROSENTHAL, 1988). Essa conversa,
assim como sua análise, deu origem a uma mudança determinante no
planejamento da amostragem. Nos lançamos então à procura por vetera-
nos da Primeira Guerra e realizamos entrevistas narrativas biográficas
com 16 homens nascidos entre 1888 e 1900. Conforme mencionado, com
essas entrevistas tornou-se impossível ignorar a importância, no sentido
atribuído por Karl Mannheim (1928), do pertencimento a determinada ge-
ração histórica e, em relação direta, das experiências pessoais anteriores
ao cotidiano de guerra de 1939 a 1945. Tal pertencimento, assim como a
diferença entre as perspectivas contemporâneas com relação à Segunda
Guerra e ao nacional-socialismo, tornou-se, dessa forma, elemento central
na investigação; ambos passariam a constituir a questão mais fundamen-
tal do projeto e possibilitariam as conclusões e generalizações teóricas,
a nosso ver, mais importantes do estudo. Surgia, ali, a questão empírica
sobre as diferentes condições da constituição de gerações históricas, a
qual trabalharíamos mais tarde em outros projetos (ROSENTHAL, 1997).
Ademais, pude perceber, a cada entrevista com pessoas dessa geração,
mas também graças à leitura paralela tanto de ficção quanto de textos cien-
tíficos e autobiográficos que tinham como tema a Primeira Guerra, e isso de
forma cada vez mais clara, como a vivência e as consequências – psicológicas
e para a história de vida – da guerra de exaustão (no primeiro conflito) são
estruturalmente diferentes daquelas ligadas à guerra de manobra da Segunda
Guerra (ROSENTHAL, 1988). Com essa descoberta empírica a partir do con-
tato com veteranos da Primeira Guerra Mundial, surgiria ao longo do projeto
de pesquisa outra questão, agora referente às diferenças entre a vivência
da Primeira e a da Segunda Guerra Mundial. Minha sensibilidade – a qual
crescia com cada entrevista – para as experiências traumáticas dos vete-
ranos da guerra de exaustão, experiências que eles raramente mencionam,
exigiu certas mudanças no modo de conduzir a entrevista devidas também
às consequências dos traumas (ROSENTHAL, 2002c).
Como o exemplo mostra, as modificações e a descoberta de hipóteses,
a coleta de dados e as questões que guiavam a pesquisa – essas emergidas
pouco a pouco no contexto investigativo – determinam-se mutuamente.
Ao longo desse processo, suposições e questionamentos considerados
centrais no início da pesquisa podem assumir caráter apenas marginal.
Por exemplo, a análise, em estudo comparativo, da questão sobre as dife-
renças nas vivências de homens e de mulheres relativas à Segunda Guerra
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6
Como mostram nossas análises de biografias de mulheres nascidas nesses períodos,
aspectos comuns às diferentes gerações são: a substituição da autoridade paterna na casa
dos pais pela autoridade dos maridos que retornam da Primeira Guerra Mundial, todavia
quase sempre traumatizados, ao passo que, durante o conflito, cabe às mulheres vivenciar
crescente autonomia no contexto familiar, ao mesmo tempo em que, fora de suas famílias,
são estimuladas a assumir as rédeas da própria vida. A partir desse contexto relacional é
possível encontrar com frequência sistemas de parceria nos quais os homens de fato conti-
nuam a ter o poder de decisão em domínios essenciais da vida familiar, embora caiba agora
às mulheres – psicologicamente muito mais estáveis do que seus maridos – determinar
fundamentalmente as estruturas comunicacionais na família. Assim, é possível encontrar
entre essas famílias alguns maridos, por um lado, infantilizados por suas mulheres e, em
consequência, por seus filhos – esses ainda socializados no contexto ideológico do nacional-
-socialismo –, mas que, por outro lado, ao mesmo tempo, exercem sua autoridade masculina
sobre tomadas de decisões e a definições situacionais.
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• Procedimento abdutivo.
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Sobre as implicações metodológicas da teoria da Gestalt para a pesquisa biográfica, ver:
Rosenthal (1995).
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8
Esse meu entendimento da abdução tem por base, além de uma leitura dos escritos
de Peirce, mais especificamente a exposição do tema – a nosso ver extremamente clara
e bem trabalhada – que encontramos em Fann (1970) assim como em Sebeok e Umiker-
Sebeok (1985) e, além dela, sobretudo nossa experiência na aplicação do procedimento,
essa orientada pelos primeiros trabalhos metodológicos de Oevermann. Outras leituras
sobre a abdução podem ser encontradas nas obras de Kelle (1994) ou de Reichertz (1993;
2003), nas quais são desenvolvidas críticas a respeito do conceito de abdução trabalhado
por Oevermann. A crítica segundo a qual seu procedimento abdutivo pressupõe as regras
ao invés de gerá-las é de fato pertinente, mas apenas se consideramos a obra tardia de
Ulrich Oevermann.
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ou indução significa, por sua vez, a busca por provas e indícios para testar
a hipótese. “Somente podemos chamar propriamente de indução o tipo de
inferência que, baseada em uma hipótese, parte para a verificação, por
meio de experimentos, de algo antes previsto” (PEIRCE, 1980, p. 7.206).
Por outro lado, quando compreendida como processo autônomo – como
encontramos com frequência na literatura –, indução significa chegar à
regra ou às modalidades de uma classe a partir de um número específico
de casos ou de observações particulares. Essas três formas de conclusão
são tratadas nos trabalhos tardios de Peirce (a partir de 1901, ver FANN,
1970, p. 28) como momentos do processo trifásico da abdução, o qual
apenas na ordem de ocorrência de suas fases constituintes se difere dos
procedimentos – também formados por diversos níveis – da indução e da
dedução. Enquanto que na dedução parte-se de uma teoria, e, na indu-
ção, de uma hipótese, a abdução tem como princípio a observação de um
fenômeno empírico.
Os passos do método trifásico de abdução são os seguintes:
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Como introdução mais simples ao procedimento de abdução, recomenda-se a leitura dos
romances policiais de Sherlock Holmes. Holmes e seu colega Watson estão sempre mostrando
como seus métodos diferem do procedimento indutivo utilizado pela polícia. Vide, entre outros,
The Sign of the Four (DOYLE, 1975, p. 41-50). Para uma comparação entre Holmes e Peirce,
ver: Sebeok e Umiker-Sebeok (1985). O livro de Umberto Eco O nome da rosa também expõe
esse método de forma bastante clara.
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com que a família se dirige a nós entrevistadores e o modo com que tra-
tam de Frank, isto é, se a função que assumimos no contexto do diálogo
familiar for parecida com a do genro.
Podemos, agora, comparar nossas hipóteses com o material empírico.
Petra afirma o seguinte: “Acho que às vezes isso é meio complicado [1] ah,
acertar o [2] o tom ali com o Frank. Esse é ( ) meio que o único problema
[2] é que ((tosse)) às vezes a discussão [1] acaba ficando séria ou [1] o vô
acaba não aguentando”.10
Analisemos a passagem. Segundo a neta, o único problema é discutir
em um tom razoável. Ela afirma, ainda, que, durante as discussões, seu
marido age de um jeito que não agrada ao avô. Os envolvidos e as causas
das discussões não são explicitados. Nota-se, também, que Petra não
consegue abordar o tema diretamente. Mas também podemos trabalhar
outras leituras. Se atentarmos para a sequência do texto, do material de
discurso, é possível supor, entre outras coisas, que o conflito esteja rela-
cionado a segredos e à falta de conhecimento a respeito de algum tema
aparentemente relevante para a família. Uma possibilidade é que Petra
pretende, ali, expressar a intolerância do avô frente aos questionamentos
de Frank. Com isso, as hipóteses 1 e 4 ganhariam em plausibilidade, o que
nos permitiria, por outro lado, rejeitar a hipótese 2 ou ao menos conside-
rá-la como pouco provável.
Mas o que ocorre em seguida? Será que Petra continua com a palavra,
esclarecendo as razões dos conflitos? Ou será que seu depoimento passa
a ser alvo de críticas por algum outro entrevistado? Frank continuará no
centro das atenções, ou será que teremos alguma informação sobre aquelas
questões levantadas por ele e que dão origem ao tipo de discussão que o
avô não consegue suportar? Estariam em jogo, aqui – como a hipótese 1
deixa crer –, as questões que a neta não ousa levantar sem relacioná-las
à pessoa de Frank? De todo modo, no caso de o questionamento de Frank
de fato não agradar a família, é possível que vejamos um integrante da
família impedindo Petra de revelar algo. E é a avó que toma a palavra: “É
[1] o vô levou uma vida diferente do Frank, isso a gente também tem que
[3] reconhecer”.
10
No subcapítulo 3.2.3, o leitor encontra um glossário dos códigos utilizados nas transcri-
ções.
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Fica claro, ainda que de forma indireta, que os conflitos entre Frank e o
avô podem mesmo ter sido causados por determinadas questões levantadas
pelo genro. Porém, não dispomos ainda de informações concretas sobre
as diferenças entre o passado do avô e a vida de Frank; o que há é apenas
a revelação dessa disparidade por parte da avó, a qual também exige
que ela seja levada em conta. O argumento é fortalecido no comentário
seguinte, feito pelo próprio avô: “vivenciamos coisas totalmente diferen-
tes, sofremos muito” – como se o marido da neta não pudesse reconhecer
o sofrimento alheio e essas “outras” experiências vivenciadas pelo avô e
pela sua geração. Até aqui, Frank aparece como causador de conflitos e
como alguém que não reconhece os problemas enfrentados pelos avós.
Mas de que se tratam afinal essas “outras experiências” das quais todos
parecem ter conhecimento? Será que Frank deixará de ser assunto e que
algo será dito concretamente a respeito das brigas? De fato, foi Petra que,
com a pergunta sobre acontecimentos não explicados pela família, trouxe
a figura de seu marido para a discussão. Caso proceda a hipótese segundo
a qual Petra faz uso da temática para dirigir questões a seus familiares, é
possível crer que, para ela, a discussão ainda não foi encerrada. E, de fato,
é justamente a neta que toma a palavra: “O vô tem sempre a sensação de
que [1] de que o Frank, que ele tem más intenções, não acredita nele [3]”.
Segundo a neta, Frank tem uma postura ofensiva em relação ao avô,
ou é o avô que tem essa impressão. Petra sugere indiretamente que Frank
tem suas dúvidas quanto às “respostas” dadas pelo avô, que sobretudo
as questões postas pelo marido não são tão bem trabalhadas pelos in-
tegrantes da família Seewald, ao contrário do que os mesmos parecem
assegurar. Podemos continuar levantando nossas suposições: à família
interessa evitar expor o passado; ou é Frank que ameaça esse estado de
coisas, enquanto que a neta faz as primeiras tentativas de se colocar, por
meio do tema Frank, as questões as quais a família busca de todo modo
evitar (conforme as hipóteses 1 e 4). Caso a hipótese tenha fundamento,
então veremos, como assumido anteriormente, a) Petra se referir apenas
vagamente às questões e/ou b) explicações sendo evitadas por outros
membros da família.
No comentário seguinte, podemos notar como a dinâmica familiar é
mesmo em algum grau dependente de que se evite o assunto: “Mas essa
questão nós já resolvemos”, diz a avó, querendo dar fim à discussão e deixan-
do claro, tanto para Petra quanto para as pesquisadoras, que a abordagem
do tema, ali, para ela, chegou a seu limite (conforme a hipótese 5). O avô,
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11
Lewin (1967, p. 24s.) faz uma comparação entre os momentos constituintes responsáveis
pela produção de um fenômeno e os fatores restantes, os quais podem variar de acordo com o
caso, sem tangenciar o tipo em sua totalidade.
12
Para um complemento teórico sobre a lógica de pesquisa das reconstruções de caso
na tradição da hermenêutica objetiva a partir da concepção de amostragem teórica segundo
Glaser e Strauss, ver também Bude (2003), que discute, nesse contexto, o conceito de “típico”
em Kurt Lewin.
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13
Lewin (1930/31, p. 426) discute o tema a partir de um contraste com o conceito de lei de
Aristóteles, segundo o qual o legal é apenas “o que necessariamente e, ademais, especialmente
destacado pelo filósofo, com frequência ocorre. Excluído do domínio daquilo que é apreendido
conceitualmente, apenas ‘fortuito’, está o único, o indivíduo enquanto tal”.
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em mente que não há, de acordo com a ideia aqui formulada de um tipo
genético-estrutural – e não descritível –, necessidade de correspondência
entre componentes de duas totalidades para considerá-los como referen-
tes a um e mesmo tipo. Do mesmo modo, no âmbito dos fenômenos, dados
iguais podem estar fundados sobre contextos relacionais de constituição
bastante diferentes (LEWIN, 1967, p. 47). Segue que a categorização de
um caso com base em determinado tipo só é possível após uma análise
reconstrutiva, uma vez que sua estrutura não se deixa derivar a partir
dos elementos, dos dados externos idênticos. Formas semelhantes são pos-
síveis, mesmo que elas não coincidam em nenhum de seus componentes.
E, inversamente: formas podem ser bastante diferentes e, em muitas de
suas partes, ao mesmo tempo correspondentes. Não é possível determinar,
portanto, tendo em vista seus elementos constituintes, quais “casos” se
assemelham estruturalmente ou – dito de outra forma – remontam ao mes-
mo tipo. Desde essa perspectiva estruturalista e própria também à teoria
da Gestalt, construir um tipo significa reconstruir a forma do fenômeno
social a ser investigado – seja uma conversa em família, um depoimento
biográfico ou um artigo de jornal –, assim como as regras fundamentais
de sua constituição. Não se trata de construir o tipo descritivamente, de
tomar nota de critérios característicos particulares. Uma comparação que
sirva ao desenvolvimento de modelos – mas uma comparação no sentido
de colocar em contraste casos estruturalmente diversos ou estrutural-
mente semelhantes – só pode dar certo se baseada no procedimento da
reconstrução. Dito de outra forma: no contexto da comparação entre dois
casos, apenas na conclusão de ambas as reconstruções é possível dizer
se se tratam de dois representantes diferentes de um mesmo tipo ou de
dois tipos totalmente diversos.
Daí também a dificuldade em testar, lançando mão de métodos quan-
titativos, a frequência de surgimento de tipos reconstruídos por estudos
interpretativos. Não é o caso de colocar em dúvida a possibilidade de
se investigar a regularidade da ocorrência de um tipo em um universo
determinado. A frequência – em termos de quantidade – só pode ser de-
terminada a partir da análise reconstrutiva de todos os casos em questão
– tarefa que, justamente por ser bastante dispendiosa, é bastante rara,
mesmo quando é possível, após uma construção de tipo, classificar os casos
com relativa rapidez. Uma análise reconstrutiva de alguns poucos casos
(sempre que representem tipos distintos) e uma construção de modelos
– desenvolvida a partir dela – que não se deixem deduzir da frequência
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A opção da mãe por estudar medicina, como mostrou a análise da entrevista, parece ter
ligação direta com o passado profissional da avó, enfermeira em um hospital militar durante a
Segunda Guerra Mundial.
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Nas entrevistas com cada integrante em separado, a família do pai era sempre citada,
antes, como uma família de resistentes ou opositores.
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1
No subcapítulo 4.4 serão abordados em linhas gerais os protocolos de observação e o
modo de analisá-los.
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Sobre a ética de pesquisa, ver: HILDENBRAND, Bruno (1999a, p. 21ss., 75-80); HOPF,
Christel (2000b).
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3
Na carta às famílias judias, o texto varia um pouco; nela expomos claramente nosso
interesse em tematizar as consequências da perseguição nazista.
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Aqui temos que ser mais específicos: também temos que levar em conta a possibilidade
de nos depararmos com entrevistados cujos dados biográficos parecem apresentar contradi-
ções consideráveis – como, por exemplo, haver mais de um dado sobre o mesmo acontecimento
–, entrevistados que com base em profundas revisões de sua história de vida acabam por alte-
rar, em correspondência a ela, seus dados biográficos. Na maior parte dos casos, essas diver-
gências ficam evidentes já em uma análise sequencial (ver subcapítulo 6.2.2). Recomenda-se,
nesses casos, primeiro perguntar sobre o “acontecimento tal como vivenciado à época”, formu-
lar hipóteses sobre as discrepâncias e pôr em questão as possíveis funções dessas contradições
e releituras (ROSENTHAL, 2002a).
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Sobre os diferentes sistemas de transcrição, ver: Psathas (1995, p. 70ss.).
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Códigos de
transcrição
, = pausa breve
É: = extensão da vogal
Não = ênfase
Sim, eu fiz
= falas simultâneas a partir de “eu”
não, ele
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Reconstruções de caso
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Hildenbrand (1999a, p. 65) busca se distanciar de Strauss e Oevermann: “uma
comparação direta em geral não tem por base alguma hipótese sobre a estrutura de caso, mas,
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Contraste mínimo.
Contraste máximo.
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Mayring (1996, p. 116), em contrapartida, rejeita essa avaliação de consistência do ma-
terial referente ao dado qualitativo, e isso porque, a partir do seu ponto de vista, é impossível
que, no levantamento, as partes apresentem alguma coerência entre si. Essa ideia resulta de
uma postura que se caracteriza por um interesse pelo conteúdo, e não pela estrutura do texto.
8
Para questões relativas aos problemas da ética de pesquisa das reconstruções de caso,
ver: Miethe (2003) e Hildenbrand (1999a; 1999b).
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Tratava-se de North-End, em Boston.
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Sobre os problemas estruturais de acesso ao campo e os efeitos da presença do observa-
dor, ver artigo sobre o tema no manual de Wolff (2000).
3
Além do clássico de McCall e Simmons (1969), ver também o manual de Atkinson et al.
(2001) ou a monografia de Spradley (1980).
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O docente responsável por essa oficina fez graça sobre o fato de uma
mulher ter interesse em trabalhar na área. Ele não parecia considerar
a possibilidade de uma mulher conseguir instalar com precisão os re-
gistros dos encanamentos, chegou quase que a se recusar a me passar
instruções, buscando me colocar no papel de mera observadora. Isso
acabou me instigando a trabalhar com mais afinco, a ponto de o resul-
tado final surpreender bastante o mestre. Assim, justamente pelo fato
de o docente colocar em dúvida minha competência, busquei realizar
as tarefas com perfeição, me concentrei no trabalho com esse intuito.
Fui cada vez mais abandonando a postura de observadora participante
para me tornar uma participante, me concentrando menos na interação
entre mestre e aprendizes. Contudo, esse exemplo de vivência revela
não apenas algo sobre mim e minha postura – talvez cada vez mais
evidente –, voltada ali a um bom desempenho nas tarefas, mas tam-
bém sobre a) o modo com que o mestre possivelmente trataria outros
aprendizes do gênero feminino ou jovens que ele julgasse incapazes e
b) qual reação esse comportamento poderia causar naqueles com que
se relaciona na oficina.
Durante o período de observação, também nós observadores partici-
pamos de uma espécie de socialização – processo gradual de familiariza-
ção que consiste também na lenta transformação de aspectos a princípio
vivenciados como estranhos, mas que ao final se tornam naturais, dando
origem, com isso, a rotinas, à construção de conhecimento implícito (cada
vez mais difícil de se identificar em fase mais adiantada do processo de
participação).
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4
Sobre a regra do respeito à ordem sequencial dos cursos de ação, ver: Wolff (1986, p.
363).
133
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5
Esse protocolo foi escrito por Jan Mielenhausen para um seminário ministrado no se-
mestre de verão de 2002 na Universidade de Göttingen e cujo tema era o cotidiano de jovens de
cidades pequenas.
135
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6
O segundo protocolo foi escrito por Kai Hasse.
136
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Primeiro, o contexto externo foi colocado entre parênteses, para que en-
tão cada unidade de sentido (separadas umas das outras em sequências
particulares de ação) pudesse ser analisada abdutiva e sequencialmente
(ver subcapítulo 2.5). Começamos com a unidade: “Depois de cerca de
quinze minutos, ele (A) passa a se dirigir com mais frequência à jovem
que chegou ao estacionamento na carona de seu carro”. Até o final da
análise, não tomamos conhecimento do que aconteceu antes. Ambos
os observadores foram instruídos, durante a realização desse passo da
análise no contexto do treinamento, a não acrescentar informações.
Com cada unidade de significado víamos fortalecer a hipótese de que se
tratava, ali, de uma ação encenada a outras pessoas, de uma encenação
ou administração de impressões da parte de ambos e que exigia a pre-
sença de um público. Os contextos imaginados por nós nos quais essa
sequência poderia ser inserida (do ponto de vista pragmático) faziam
cada vez mais referência a situações nas quais outras pessoas estavam
presentes, impressionadas com essa cena de “violência”. Ao final do
protocolo descobrimos, então, algo que dá ainda mais plausibilidade a
essa leitura: “Muitos dos amigos se encontram próximos, mas sorriem
da mesma maneira que A (o jovem em foco)”.
Contra essa análise detalhada, pode-se argumentar que já no pri-
meiro protocolo tomamos conhecimento da necessidade de encenação
por parte do indivíduo A e também do efeito que ela causa; essa análise
sequencial não traria, segundo essa perspectiva, nada de novo. Quanto
a isso podemos contra-argumentar o seguinte: a) com a análise encon-
tramos mais uma comprovação da plausibilidade dessa encenação; e
b) a partir dela também podemos mostrar o modo pelo qual essa ence-
nação tem origem na interação com a jovem e que esse contexto só dá
origem a processos concretos porque compartilhado desde o princípio
do seu surgimento. Além disso, a análise permite outra leitura, a saber,
que por trás dessa encenação há mais agressão do que pode parecer,
que ela remonta, embora de uma forma lúdica, a eventuais agressões
passadas. Porém, para que essa leitura encontre respaldo, temos que
nos voltar analiticamente para outras sequências.
A análise dessa sequência também foi em outra direção que não a
da seguinte interpretação, à qual o observador, mais adiante, se refere:
“Interpretação: é evidente que as provocações e também a ‘briga de caixi-
nha’ são de caráter lúdico, nada sério. O que ele parece querer é irritá-la um
pouco, criar contato corporal a partir de brincadeiras, chamar sua atenção”.
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Os observadores chegaram ao estacionamento em um Passat modelo sedan. Em seu pro-
tocolo, Jan Mielenhausen faz a seguinte observação: “esse modelo de automóvel, até onde sei,
costuma ser usado por policiais à paisana [...]. Os jovens devem ter nos tomado por policiais”.
144
GABRIELE ROSENTHAL
de uma segunda amostragem teórica (ver capítulo 3). Aqui nos referimos à
análise sequencial não apenas de um, mas também de todos ou de vários
protocolos relativos a um caso específico – e também de outros materiais
disponíveis referentes ao mesmo –, sempre considerando o curso de seu
surgimento e o da investigação (KÖTTIG, 2004, p. 85 ss.). Em uma pes-
quisa de campo mais longa, e no caso de haver uma grande quantidade
de protocolos de observação disponíveis, uma análise detalhada desse
material dificilmente poderá ser realizada. Nesse caso, recomenda-se,
após uma análise global dos protocolos, fazer uma segunda amostragem
– mais objetiva – de alguns deles, referentes às diferentes fases da per-
manência em campo.
Sugere-se também, ainda de acordo com a lógica do procedimento
sequencial, que, após a análise de um protocolo, sejam discutidas formas
– considerando outras hipóteses já formuladas – de dar continuidade ao
trabalho no cenário observado, que se reflita sobre qual continuidade
possível as hipóteses levantadas até ali rejeitam ou sustentam. As ante-
cipações feitas no contexto de uma análise sequencial devem, sobretudo
a fim de evitar atribuições estáticas ou interpretações deterministas e
mecânicas equivocadas do caso, evidenciar conjuntos de eventos que
possibilitem transformações mais profundas.
Por meio de uma análise sequencial de unidades de observação pro-
tocoladas que considere a cronologia do processo é possível, ainda, notar
mudanças na perspectiva do observador ao longo das observações e, com
sua reconstrução, identificar os processos de familiarização do observa-
dor com o mundo cotidiano pesquisado e que a princípio lhe era estranho.
Ou seja, justamente porque o processo de observação mesmo passa a ser
visto como algo de estruturado evita-se a ideia de que a autorreflexão do
observador leva apenas a um questionamento mais amplo a respeito dos
resultados da pesquisa ou, ainda, a um relativismo estéril do ponto de
vista prático.
Tal como Gerald Schneider ou Bruno Hildenbrand (1994), defendo, aqui,
uma observação participante enquanto procedimento voltado para o caso
particular. O primeiro passo do processo é definir a dimensão do caso, o
caso mesmo (ver subcapítulo 6.3). Antes da análise dos protocolos deve
ser determinado se o caso corresponde ao jovem ou ao grupo de jovens
ou – como no contexto da pesquisa na Associação de Moços de Berlim – a
uma oficina, a mestre e aprendizes, ou a uma organização – como um hos-
pital – ou um “pequeno mundo da vida” – como o dos visitantes noturnos
145
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
8
Os protocolos foram realizados no contexto do projeto de pesquisa “Terapia intensiva
voltada ao paciente e técnica medicinal”, coordenado por Elmar Weingarten.
146
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PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
Nicole Witte
Gabriele Rosenthal
Introdução
9
Em relação a essas questões metodológicas, ver, por exemplo: Bohnsack (2009); Fischer
(2009); Friebertshäuser et al. (2007); Knoblauch et al. (2006); Raab (2008); Witte e Rosenthal
(2007).
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10
O projeto de pesquisa Belonging to the Outsider and Established Groupings: Palestinians
and Israelis in Various Figurations, financiado pela Sociedade Alemã de Amparo à Pesquisa
(DFG), é coordenado por Gabriele Rosenthal (Georg-August-Universität, Göttingen, Alemanha),
Shifra Sagy (Bem-Gurion University of the Negev, Beer Sheva, Israel) e Mohammed S. Dajani
Doudi (Al Quds University, Palestina). Outras informações sobre essa pesquisa (ainda em anda-
mento em 2013) podem ser encontradas no site http://www.uni-goettingen.de/de/77993.html.
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Em uma entrevista em grupo, com um grande número de participantes, é importante,
ainda, que o microfone, por exemplo, seja fácil de utilizar, sensível o bastante, e que seus aspec-
tos técnicos correspondam ao objetivo proposto.
151
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
conosco uma câmera portátil que, no início, porém, não chegou a ser
utilizada, já que tínhamos grande dificuldade em encontrar situações de
processos interacionais concretos ou claramente identificáveis. Por essa
razão, buscamos primeiro situações e contextos locais de encontro entre
representantes dos diversos grupos, sempre nos questionando se fazia
sentido ou era oportuno realizar ali registros audiovisuais. Mesmo que
controles de segurança já tenham se tornado parte do cotidiano em Israel
e na Cisjordânia, ficou rapidamente claro para nós que tínhamos que ser
cuidadosos com gravações nesses contextos. Em uma situação como essa,
na qual as diferenças de tratamento por parte dos seguranças – que varia-
vam dependendo das características da pessoa que passava pelo controle
– eram facilmente identificáveis, nossa presença estava sempre ameaçada.
Por outro lado, filmagens a distância, como a de passantes na entrada de
um hospital (ou também em postos de controle), eram relativamente pouco
problemáticas. Embora no hospital fosse possível identificar interações
entre membros de diferentes grupos, durante a gravação ficou claro que
através do visor da câmera só era possível observar um pequeno recorte.
Era fácil perder de vista interações cuja descrição ou constatação poderia
vir a ser utilizada na análise como dado contextual, e isso ainda que es-
sas interações ocorressem em ambiente diretamente próximo das cenas
registradas. Também é importante chamar a atenção para o fato de que
o(a) operador(a) de câmera precisa estar muito bem concentrado, o que,
por sua vez, acaba por prejudicar em muitos aspectos o registro de outras
perspectivas sobre o ocorrido. Ademais, também ficou claro, ao examinar-
mos o material, que algumas interações passíveis de reconstrução quase
não chegaram a ser registradas, ou porque a cena era muito movimentada,
ou porque passantes prejudicavam o campo de visão, e assim impediam
que mantivéssemos o foco nas ações. Somou-se a isso a impossibilidade
de gravar diálogos – em muitos casos pouco compreensíveis – porque a
distância entre câmera ou microfone e os observados era muito grande.
Nos registros que fizemos no hospital, chamou a nossa atenção a exis-
tência de uma mercearia ao lado. Ali conseguimos registrar interações
entre vendedor e clientes como unidades fechadas em si mesmas. Além
de haver pouco movimento na cena, outra vantagem de registrar ações
ali foi a autorização do dono para filmar, o que nos permitiu aproximar
o suficiente dos acontecimentos para realizar bons registros em áudio.
Também pudemos posicionar a câmera de forma a colocar em cena simul-
taneamente tanto os clientes quanto o vendedor.
152
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12
A rigor, não se trata, aqui, da “objetividade” dos dados (no sentido, por exemplo, de
reprodutibilidade intersubjetiva), mas, sim, de sua perspectiva ou seletividade. Sobre a pers-
pectividade de objetos visuais, ver: Karl Mannheim (1995, p. 258 s.).
153
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
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duração das gravações. Caso esse passo não seja tomado, essas informa-
ções sobre o cenário, e que não são necessariamente registradas pelo
vídeo, acabarão perdidas. Os memos devem ser produzidos de maneira
semelhante ao protocolo de observação.13 Porém, ao invés da descrição
detalhada de cada situação observada, toma-se nota apenas dos conteúdos
de cada contexto videografado.
No contexto de uma análise sequencial desse material, é importante
que a edição não se estenda muito; devemos, por exemplo, evitar fazer
muitos cortes ou classificar cenas específicas em uma única categoria.
Devemos respeitar primeiro a sequência cronológica do registro dos dados.
De posse de tais dados, os quais mesmo com a análise das informações
levantadas continua a se ampliar – mas respeitando os critérios da amos-
tragem teórica –, restará ao pesquisador apenas tratar a questão sobre o
modo com que o material disponível pode ser analisado.
13
Instruções detalhadas para a produção de protocolos de observação podem ser encon-
tradas no subcapítulo 4.4.1.
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14
O poder de decisão também cabe aos pacientes, embora seu espaço de ação, tanto no
contexto interno quanto no contexto externo, seja bastante reduzido. Em geral, o paciente tam-
bém pode decidir se e como o tratamento deve ser realizado, e como ocorre a interação com o
médico, mas, na configuração médico-paciente, seu domínio de decisão dentro da – por várias
razões – desigual distribuição de poder é muito menor que o do médico, ou então é o paciente
que, em diversos casos, vendo-se vulnerável por causa de alguma doença, acaba aceitando a
configuração.
158
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15
Contudo, a escolha das salas de consulta também pode ser, por sua vez, restrita, depen-
dendo do lugar onde o médico vive, fato cuja relevância deve ser analisada em fase anterior da
investigação.
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16
Raab e Tänzler (2006, p. 87) propõem uma análise detalhada, bastante semelhante, das
chamadas “cenas-chave” e também a análise de imagens congeladas: “isso significa, a nível
micro, uma interpretação passo a passo, isto é, imagem por imagem, dessas cenas-chave”. O
grupo de pesquisadores deve selecionar essas cenas de acordo com critérios específicos.
17
A duração de cada trecho da sequência a ser analisada é determinada considerando o
fluxo de imagens e de som da gravação. Ao nos voltarmos à parte sonora, caso consideremos
uma troca de falantes no contexto de um diálogo como conclusão de uma sequência, temos que
registrar esses movimentos corporais no fluxo de imagens – gestos ou aspectos da mímica –
como limites sequenciais.
161
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
18
Sobre as diferenças entre a percepção desses tipos de objetos e a de objetos temporais
(isto é, processos), ver: Husserl (1976, p. 382s.).
162
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Temos consciência de que impressões sensíveis olfativas também determinam a percep-
ção de um domínio de ação e são sempre copresentes. O registro de “dados olfativos”, porém,
ainda não é realizável. Por essa razão, não podemos inserir sistematicamente sensações desse
tipo na análise interativa, senão apenas “indiretamente”, caso, por exemplo, os agentes se ex-
pressem explicitamente (verbal ou corporalmente) sobre eles. O mesmo vale para percepções
que tenham origem no tato, embora aqui o caminho “indireto” pareça ser mais curto, já que no
vídeo é possível, em geral, tomar nota daquilo que os agentes tateiam – o que facilita, na análi-
se, que consideremos a relevância desses pequenos atos para a constituição do curso da ação.
163
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
20
O papel da comunicação não verbal no curso de interação exige maiores reflexões que
não temos como tratar nesse contexto. Em breve esperamos poder aprimorar o instrumento de
análise, justamente para esse fim.
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PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
21
O ambiente físico da interação – o espaço de interação – não deve ser descrito aqui por
já ter sido interpretado, tanto na análise contextual quando na análise detalhada da sequência
de abertura.
166
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escuta pode ser rejeitada. Além disso, com o script é “produzida” uma se-
quencialidade totalmente diversa tanto do fluxo das informações visuais
da gravação em vídeo quanto da sequência de percepções dos agentes na
situação, e que é concretizada quando ordenamos sequencialmente – e em
registro escrito (ou verbal) – movimentos simultâneos e objetos espaciais
que sejam a um só tempo apreensíveis.
Mas quais são as implicações metodológicas dessas reflexões? Não há
dúvidas de que o “valor” do script e de sua análise cresce na medida em
que trabalhamos na interpretação e também recorremos às gravações
audiovisuais – o que é comum nesse passo da análise. Na interpretação
em grupo é possível, a partir de seu contraste com registros em vídeo,
refletir criticamente sobre o script.
167
5
DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA À
ENTREVISTA NARRATIVA
5.1 INTRODUÇÃO
1
Sobre entrevista etnográfica na pesquisa de campo, ver: Spradley (1979).
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2
Originalmente publicado em inglês em 1964.
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3
Para um panorama semelhante, ver Flick (1995, p. 94s.), Friebertshäuser (1997a) ou
Lamnek (1995, II, p. 35s.).
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“Quando minha avó vem nos visitar, é sempre uma situação meio
chata. Ela vem e fala sem parar, conta algo sobre conhecidos
dela de quem nenhum de nós ouviu falar, minha mãe se esconde
na cozinha e meu pai vai pra frente da televisão.”
Mas o relato de uma situação, uma estória, pode ser ainda mais detalhado:
“Então ela veio até o meu quarto, eu tentava ler alguma coisa,
ela começou a falar sobre a infância do meu pai, sobre os pro-
blemas que ele enfrentava quando meu avô estava servindo na
guerra, aquele papo todo sobre a Segunda Guerra Mundial.
Aí eu tive que falar mais alto com ela, falei pra ela parar com
aquele discurso sem noção. Você tinha que ver como ela [...]”.
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4
Sobre a relação dialética entre vivenciar, rememorar e relatar, ver: Rosenthal (1995).
188
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por nós (SCHÜTZE, 1976, p. 224). Essa “pressão para expor a Gestalt”
estimula o falante, como afirmam Kallmeyer e Schütze (1977, p. 188) a
dar forma às “estruturas cognitivas iniciadas”. Em relatos espontâneos,
ao contrário do que notamos, por exemplo, em anedotas, isso acaba
dando origem a relatos mais amplos do que de início pretendia-se. Por
outro lado, para que os ouvintes que não vivenciaram o acontecimento
à época do ocorrido possam compreender a estória ou a sequência de
ação, alguns detalhes devem ser suficientemente esclarecidos. Peter
Alheit (1995, p. 4) descreve essa pressão por detalhamento de forma
bem clara:
189
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1ª fase
Solicita-se a narrativa.
2ª fase
b. perguntas externas.
Fim da entrevista.
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193
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
5
As entrevistas foram realizadas com homens e mulheres que, de acordo com eles mes-
mos, sofriam de doenças crônicas. A pesquisa foi feita no contexto de um curso ministrado no
semestre de verão de 2004.
6
Também é perfeitamente possível que a sequência que siga à pergunta inicial seja rela-
tivamente breve e que, assim, apenas mais tarde sejam feitos relatos mais longos. Do mesmo
modo, nessa fase da entrevista é possível, em linhas gerais, optar pela argumentação ou pela
descrição como forma de relato. Nesses casos podemos falar de uma exposição estruturada
autonomamente.
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7
Sobre os efeitos eventualmente terapêuticos da entrevista de relato, ver: Rosenthal
(2002c).
196
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de modo que muitas vezes não precisamos mais levantar perguntas so-
bre as outras anotações feitas à sequência. A princípio, nos limitamos
a questões sobre o que já foi mencionado. Enxergamos nesses temas
introduzidos pelos falantes, nessas experiências biográficas, um convite
ao aprofundamento e não evitamos, ainda quando isso se mostre incô-
modo ou complicado, tematizar essa ou aquela passagem mais uma vez.
Quando se trata de uma fase da vida um tanto problemática, fazemos a
questão no subjuntivo, como: “Será que você poderia contar mais deta-
lhes sobre...?” ou “Você me permitiria fazer uma pergunta sobre a época
em que você...?”.
Apenas depois de encerrada as questões baseadas nas anotações faze-
mos as perguntas voltadas ao esclarecimento de temas abordados, relativas
a campos temáticos de nosso interesse e que não foram mencionados até
ali, ou seja, questões de caráter externo.
Na fase de perguntas, o que se busca é a obtenção de narrativas
e, ao mesmo tempo, evitar questões que possam ter como respostas
justificativas ou opiniões (como “Qual foi o motivo de você...?”, “Por
que você fez isso?”, “Por que você quis...?”). Após anos de experiência
e de experimentos com a entrevista narrativa, ficou claro para mim
que todos os temas ou aspectos que nos interessam podem, de modo
geral, ser investigados através do procedimento narrativo, na medida
em que relacionamos esses elementos – por exemplo, expectativas
ou então vivências imaginadas, das quais apenas se ouviu falar – a
situações práticas nas quais esses assuntos foram articulados ou tra-
balhados ref letidamente. Se, em um contexto bem determinado, longe
de ter sido tomado arbitrariamente, alguém especula sobre seu futuro
profissional, experiências adquiridas de forma mediada, por tradição,
são então trazidas para situações interativas concretas, enquanto que
especulações, por exemplo, a respeito de um passado familiar conhecido
de forma apenas fragmentária, podem ser trazidas à tona dependendo
da situação. Os efeitos da comunicação da experiência também não se
referem apenas ao conteúdo, mas à fase da vida, à situação de intera-
ção concreta e ao modo com que ela foi passada. Por exemplo, quando
uma mãe revela à sua filha, temerosa porque está prestes a passar
pela experiência do parto, sobre as complicações da gravidez quando
grávida dela, o efeito desse relato é totalmente diferente daquele que
surgiria caso ele tivesse sido feito em outra fase da vida da filha.
As perguntas podem ser categorizadas nos seguintes tipos:
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8
Esse modo de proceder é de certa forma semelhante às técnicas aplicadas por Luise Reddmann e Ulrich
Sachse para a descoberta de um lugar interno seguro. “Vários pacientes relatam que, durante a infância, estiveram
concretamente apenas em locais que lhe pareciam seguros (como um bosque ou uma campina), ou então, internamente,
em localidade na qual se sentiam seguros. É isso o que reativamos com a terapia” (REDDEMANN; SACHSSE, 1996, p.
172). Sachsse tenta reavivar as boas experiências, vivências que tragam a sensação de segurança (SACHSSE, 1999, p.
60). Contudo, temos que frisar que Reddemann e Sachse precisaram de várias sessões com os pesquisados para determinar
esse lugar seguro.
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Mundial, que tinha um filho desse casamento – falecido ainda bem novo
–, que conheceu o pai da entrevistada em 1919 e só depois mostrou os pri-
meiros sintomas da esclerose múltipla. A Sra. Liebig fala de novo, então,
sobre as repetidas tentativas de suicídio da mãe, conta que ela tentou,
certa vez, se enforcar, que a polícia e o corpo de bombeiros foram à sua
casa. Outra vez foi seu pai que a salvou. Depois do relato, perguntamos à
entrevistada sobre a doença da mãe. Só agora – com cerca de meia hora
de entrevista – temos a primeira narrativa de uma história. Ela fala de
seus primeiros dias na escola secundária, para onde ia sozinha, já que a
mãe não conseguia andar direito. A pesquisadora tenta, em seguida, fazer
com que ela aborde as tentativas de suicídio da mãe, e pergunta: “Ainda
se lembra dessa tentativa de suicídio?”.
Antes de reproduzir a resposta dada pela entrevistada, gostaria, aqui,
de abordar novamente a crítica, com frequência levantada, de que uma
pergunta do tipo acaba por insistir demais no relato sobre acontecimentos
traumáticos, que não podemos saber os efeitos de uma pergunta como essa
e que ela dá origem, muitas vezes, a desgastes emocionais para o entre-
vistado. A esse respeito, deixa-se aqui registrado que, nessa entrevista,
quando as tentativas de suicídio eram tematizadas – o que aconteceu di-
versas vezes –, quem o fazia era a própria entrevistada. Se não seguirmos
essas pistas sobre experiências traumáticas e, antes, as ignorarmos ao
evitar perguntas a seu respeito, o entrevistado acaba tendo a impressão
de estar nos incomodando, de que elas nos causam algum desconforto e
que o melhor a se fazer, como já mencionado, seria se calar sobre elas.
A resposta da Sra. Liebig à pergunta é um relato rico em detalhes (que
ocupa 30 linhas na transcrição) sobre o dia em que sua mãe faleceu. Ele
é mais preciso do que o primeiro, feito em resposta à pergunta sobre a
doença da mãe. Essa estrutura textual deixa evidente a necessidade ou a
disposição da biografada em expor esses acontecimentos, enquanto que
o conteúdo da história faz referência a um arranjo biográfico de fato com-
plicado. Era o ano de 1933, e a entrevistada conta ter “chegado atrasada
em casa” naquele dia porque tinha ido ao cinema com uma amiga depois
da escola. Ela sentiu logo o cheiro de gás e encontrou a mãe morta na co-
zinha, fechou o registro do gás e foi buscar seu pai no trabalho. No texto,
a Sra. Liebig parece sempre querer frisar ter sido uma jovem responsável,
mas, se considerarmos os significados latentes do material, fica claro seu
sentimento de culpa, no caso, como espécie de defesa; fica claro que a
menina de apenas 12 anos se sentiu culpada pela morte da mãe porque
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9
Glossário com os códigos de transcrição encontra-se no subcapítulo 3.2.3.
210
6
1
Este capítulo é uma versão retrabalhada de dois outros textos (ROSENTHAL, 2002b;
2004).
2
Para maiores detalhes, ver: Fuchs-Heinritz (1998).
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3
Um estudo do tipo foi realizado sob minha supervisão por Michaela Köttig, Nicole Witte
e Anne Blezinger a pedido da organização alemã Jugendmarke (ROSENTHAL et al., 2006).
214
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4
“Compreender” e “explicar” são entendidos aqui no sentido atribuído por Max Weber aos
conceitos. De acordo com Weber, a tarefa do pesquisador consiste primeiro em compreender o
sentido subjetivamente visado do agente (com outras palavras: suas interpretações da situação
e suas intenções com a ação) e, por meio dessa apreensão, explicar seu agir e suas consequên-
cias em interdependência com o agir alheio.
215
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5
O se apresentar à consciência – seja na percepção imediata, na memória ou na represen-
tação – é caracterizado por Husserl como noema. Husserl distingue entre noema relativo à per-
cepção, noema relativo à vivência e noema relativo à memória. Enquanto a noesis configura o
“como” do “voltar-se a” algo, o noema é o “como” da presentificação de algo. Por noema não se
entende o objeto (ou o acontecimento) mesmo, mas o “objeto no ‘como’ de seu ser intencional,
o objeto tal como – e apenas dessa forma – ele se apresenta no ato da consciência em questão,
como ele é apreendido e intencionado nesse ato, o objeto na perspectiva, na referência, sob a
iluminação e no caráter particular em que ele se presentifica” (GURWITSCH, 1959, p. 426).
217
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6
Compreende-se “discurso” no sentido atribuído por Michel Foucault (1988, p. 156), isto
é, enquanto “práticas” de escrita e de fala “que constituem sistematicamente os objetos aos
quais se referem”. Essas práticas implicam na exclusão e também na autorização de falantes e
criam as regras que determinam em qual contexto algo pode ser tematizado, seja por meio da
fala ou da escrita. Sobre análise do discurso, ver subcapítulo 7.4.
7
Sobre a relação entre análise de discurso e análise biográfica, ver: Völter (2003, p.
34ss.).
8
Esses discursos representam, com as experiências constitutivas de uma geração, um elemen-
to essencial para a reconstrução de gerações sociais feita com base empírica (ROSENTHAL, 1997b).
223
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6. Construção tipológica.
A seguir, vou descrever cada passo da análise para então, com a ajuda
de um exemplo empírico, demonstrar o procedimento. Tomarei como re-
ferência a entrevista com uma pessoa – que receberá aqui o nome fictício
de Galina – nascida em 1968 na Sibéria. À época da entrevista, em 1992,
Galina trabalhava como socióloga assistente na faculdade de História de
uma universidade russa (ROSENTHAL, 2000).
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Por seu lado, a análise dos dados biográficos realizada antes da análise
de texto e do campo temático sempre servirá à análise da autoapresentação
de vivências do entrevistado como um interessante ponto de contraste.
Poderemos ver claramente, ali, quais dados biográficos – ou fases e do-
mínios da vida – se consolidam enquanto tais na fala do entrevistado, no
relato principal, assim como os que não chegam sequer a ser mencionados
e em qual sequência cronológica aqueles são trazidos à tona.
Antes de abordar esse passo, quero expor primeiro alguns princípios
da análise de dados biográficos. Tomaremos como referência a entrevis-
ta com Galina, realizada em 1992 e em inglês. Depois dessa conversa, a
própria Galina fez entrevistas narrativas biográficas com sua avó paterna
e com seus pais. Uma tradução das transcrições nos foi disponibilizada.
O primeiro dado que interpretamos diz respeito ao contexto de seu
nascimento e ao cenário familiar e social ao qual a entrevistada pertence.
Todas as informações referentes a esse contexto que nos revelam algo
sobre o contexto social de origem da entrevistada são consideradas na
construção de hipóteses. No caso de Galina, essas informações – resumi-
das – são as seguintes:
Primeiro dado
1.
Galina nasce em 1968 em uma pequena comunidade próxima a
Krasnoyarsk, na Sibéria. Ela mora com sua avó paterna Olga e
com Vera, sua bisavó, mãe de Olga. Vera e Olga se comunicam
com Galina em ucraniano, enquanto seus pais, supõe-se, falam
russo. À época, os pais de Galina, já formados, vivem e traba-
lham em Krasnoyarsk. Sua mãe é da região do rio Volga, onde
moram seus pais e a maior parte da família. Já os familiares do
pai de Galina são da Ucrânia. Olga, uma nacionalista, orgulho-
sa de seu país, viveu até 1943 na Ucrânia – ou seja, também
durante o período da ocupação alemã, que começou em 1941
–, trabalhando em uma escola como professora de língua e
literatura ucranianas. Após a tomada da Ucrânia pelo exército
vermelho em 1943, Olga foi presa por traição, de acordo com o
artigo 58 do código penal soviético, e condenada a dez anos de
reclusão na Sibéria por colaboração com os nazistas. À época,
várias pessoas foram presas de forma bastante arbitrária com
base nesse artigo. Seu filho Wassili, pai de Galina, tinha à época
apenas cinco anos e passou a morar com sua avó Vera, para,
após a guerra, se mudar para a casa de seus avós paternos na
230
GABRIELE ROSENTHAL
1.1
Por ter crescido na companhia de sua avó e de sua bisavó, a
ligação de Galina com elas será mais forte do que a construída
com seus pais. Podemos supor, ainda, que Olga tenha de alguma
forma assumido a função de mãe na relação com a entrevistada.
231
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
E que seu passado, por essa razão, ainda que de modo apenas
latente, terá grande relevância biográfica para a neta, ganhará
cada vez mais significado para a vida de Galina. Aqui também
não podemos ignorar o passado de Olga e de Vera ligado à
mudança no papel que, a partir de 1943, ambas assumem na
vida de Wassili. É possível, assim, que elas venham a disputar
entre si a figura materna.
1.1.a
Caso Galina se identifique mais com sua avó Olga, ela irá, mais
tarde, quando souber da condenação, trabalhar esse passado to-
mando como referência a fase da vida da avó de maior sofrimento,
e não tanto o período anterior à prisão ou da ocupação alemã.
1.1.b
Por causa de sua identificação com a avó, ela assumirá uma pos-
tura relativamente crítica com relação ao socialismo e buscará
se distanciar, o quanto possível, do Movimento dos Pioneiros
(para os jovens a partir de 9 anos de idade) ou da União da
Juventude Comunista (para aqueles que já completaram 14
anos), por exemplo.
1.1.c
Mais tarde, Galina vai trabalhar esse passado familiar na práti-
ca, a partir de decisões concretas que determinam diretamente
o curso de sua vida – referentes, por exemplo, à sua escolha
profissional ou então do parceiro. Essa hipótese se baseia em
resultados empíricos de investigações realizadas sobre casos
semelhantes (ROSENTHAL, 1997a).
1.2
Galina cresce sentindo falta dos pais – causada talvez, entre
outras coisas, por tensões entre Vera e Olga – e sonha com uma
vida tranquila junto da mãe e do pai, na cidade. Ela desenvolve
uma aversão cada vez maior à vida provinciana na companhia
de Vera e Olga.
Também aqui podemos formular várias hipóteses secundárias:
232
GABRIELE ROSENTHAL
1.2.a
Galina procura, de todas as formas possíveis, chamar a atenção
dos pais, como, por exemplo, criando problemas mais sérios na
escola ou então ficando doente com frequência.
1.2.b
Ela tentará se mudar o quanto antes da casa das avós.
1.2.c
Por manter uma relação distanciada com a avó, a entrevistada,
quando adulta, assim que souber da condenação, vai se inte-
ressar mais pelo período anterior à prisão, talvez até mesmo
ignorando-o totalmente por causa da suspeita de colaboração
com os alemães. Ela também pode passar a se identificar cada
vez mais com o socialismo na escola – colocando-se claramente
em oposição à avó – e se engajar nos movimentos socialistas da
juventude. Isso também poderia fazer com que ela não colocasse
em questão a legitimidade da condenação de Olga.
Segundo dado
2.
Aos cinco anos, Galina se muda com sua avó e sua bisavó para
a região de Bataysk, uma localidade próxima à fronteira com a
Ucrânia. O retorno definitivo ao país lhes foi negado com base
em determinações legais. Os pais decidem segui-los e se mudam
um ano depois. Agora, as quatro gerações dividem uma casa. Os
pais se comunicam com Galina em russo. Também nessa época
(1974), Galina é matriculada na escola.
233
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
2.1
Galina enfrenta um forte conflito de lealdade; ela passa a se
perguntar por sua “verdadeira mãe”, isto é, pela figura materna
ou feminina de maior referência, para orientar suas atitudes.
As consequências, considerando as reflexões sobre o primeiro
dado, podem ser das mais variadas:
2.1.a
Por causa da proximidade com a avó (ver 1.1), ela irá rejeitar
a mãe e continuar a ter Olga como referência, o que pode ter
como resultado que Galina, com base em experiência adquirida
fora do contexto familiar (como na escola), passe a assumir uma
postura antissocial.
2.1.b
Ela vai se alegrar com a presença da mãe (ver 1.2) e procurá-la
mais, o que também poderá dar origem a uma busca cada vez
mais intensa por reconhecimento social e a uma postura, de
fato comum em crianças de idade escolar, no sentido de buscar
criar laços mais fortes com outras crianças da mesma idade.
2.1.c
Galina tentará se distanciar do conflito relacional, passar a tomar
o pai ou também a bisavó como referências, ou vai evitar essas
circunstâncias, orientando suas ações cada vez mais pelas ações
de pessoas que não pertencem ao núcleo familiar.
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9
Para uma análise mais detalhada, ver: Rosenthal (1995).
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de uma experiência não é feita por acaso, e que essa articulação pode
ser realizada tanto na forma de relato detalhado como também de uma
breve menção, de descrição ou de argumentação, é possível formular
hipóteses sobre sua funcionalidade a partir de cada caso concreto.
Podemos nos perguntar, então, sobre os motivos da escolha do entre-
vistado por um tipo específico de texto para a sequência e para o tema
do relato – partindo-se da hipótese de que essa escolha tem a ver não
apenas com a interação entre entrevistado e pesquisador, mas também
com sua experiência de vida. É justamente nesse passo da análise que
buscamos apreender a relação constitutiva entre a escolha tanto do
tipo de texto quanto do tema e do conteúdo do relato e o processo inte-
racional entre entrevistado e pesquisador. De sequência em sequência,
buscamos avaliar se os entrevistados tomam seu próprio sistema de
relevância como referência ou então o dos pesquisadores.
Na preparação da análise, todo o texto resultante da entrevista é
sequenciado com palavras-chave de acordo com a ordem cronológica
do relato e em unidades de análise, oferecendo assim uma visão geral
sobre o material levantado. Trocas de falante, mudanças no tipo do
texto e no conteúdo servirão, aqui, como critérios para a construção da
sequência, ou seja, para definirmos o início e o término de unidades.
Trata-se de indicar em quais passagens da entrevista, em quais mo-
mentos da biografia e em quais segmentos do material o entrevistado
argumenta, descreve ou relata algo. Analisemos, então, a primeira
sequência da entrevista com Galina:
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9
O primeiro número se refere à página da transcrição, e, o segundo, à linha.
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241
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questão sobre qual parente Galina tomou como referência, sobre quem
assumiu de fato o papel de mãe na infância da entrevistada em seus
cinco primeiros anos de vida – assunto que retomaremos mais tarde.
Galina conta, ainda, que sua avó lhe contava histórias engraçadas
sobre seu pai, e que ele adorava inventar palavras quando criança. A
sequência nos mostra também que o campo temático desse relato bio-
gráfico de vivências do próprio falante, em sua constituição, pode ter
algo a ver com a identidade daqueles que falam abertamente sobre o
passado e daqueles que o evitam. O mesmo pode ser dito sobre a sequ-
ência seguinte, na qual Galina argumenta que o passado mal explicado
e evitado da avó deu origem a uma “barreira psicológica” entre elas,
criticando-a indiretamente por ter se mantido calada, culpando-a pela
existência dessa barreira. Chama a atenção na passagem os indícios de
que, após essa revelação, Galina necessitará da ajuda do entrevistador
para dar prosseguimento ao relato, já que, podemos supor, as poucas
informações disponíveis sobre o passado da avó também produzirão
barreiras para a estruturação posterior do texto, para a exposição se-
guinte de acontecimentos da própria história de vida. A análise mostra
claramente que os relatos biográficos de Galina são constituídos em
especial por dois temas: “o passado evitado e mal explicado da minha
avó” e “minha própria vida”. A coexistência desses dois assuntos acaba
tornando difícil para ela o relato de sua biografia e determina, por fim,
o campo temático, o qual, por sua vez, evidencia aspectos essenciais
da estrutura biográfica latente de Galina, que pode ser formulado da
seguinte maneira: “Minha própria vida é prejudicada e afetada pelo
passado desconhecido da minha avó”. Esse campo temático aparece de
forma bastante clara na estrutura textual do relato, que é construída
autonomamente. Em determinados momentos, Galina chega a precisar
da ajuda do entrevistador para parar de falar sobre a história da sua
família e descrever acontecimentos de sua própria biografia. O presen-
te da entrevistada e seu horizonte futuro parecem ser determinados
pela necessidade de se libertar do passado familiar de dor e à sua
dinâmica, diretamente relacionada a ele. Nas partes da entrevista em
que ela conta mais sobre sua vida, os assuntos predominantes são sua
formação escolar e sua carreira profissional. A análise mostra, enfim,
que o tema central da entrevista com Galina é a sua busca por tomar
as rédeas da própria vida.
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Galina tinha aulas de inglês na escola. Certo dia, em casa, foi procurar
o significado de uma palavra no dicionário. Embaixo do livro ela encontrou
uma certidão emitida pelo Estado informando que Olga cumpriu pena
de acordo com o “parágrafo 58”, mas, ali, recebia o perdão pelos crimes
cometidos. Após ler o texto, a primeira reação da jovem foi se perguntar
pelo significado do parágrafo:
10
Para as regras de transcrição, ver subcapítulo 3.2.3.
245
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
No texto seguinte, lemos: “isso tá-, ele tá-, ele tá vindo-, ele tá vindo”.
Galina começa a gaguejar, fala no presente, e temos até a impressão de
que ela vivencia tudo de novo. A hipótese de que a cena ainda hoje é fonte
de perturbações para a jovem ganha plausibilidade. Ela continua: “e a voz
dele e a presença dele- dele na nossa casa (3) Não sei”. Parece que, para
Galina, ele está de novo presente na casa. Mas o relato é, então, subita-
mente interrompido – “eu não sei”, diz.
Uma leitura possível é que reviver lembrança tão perturbadora como
essa é algo bastante problemático e por isso evitado pela entrevistada. A
pesquisadora retoma o tema: “quando você se coloca de novo nessa situa-
ção, você vê o ex-marido de sua avó voltando pra casa, berrando alto (3) o
que você vê?”. Galina responde o seguinte: “ah- isso eu não sei dizer é (2)
eu (2) eu estou deitada na minha cama no meu quarto e é, eu é, eu estou
vendo a mesma mesa baixa e aquela cruz e paredes (2) brancas e eu só
ouço a voz dele, é- muito grosso, berrando bem alto” (Galina, 1992, p. 22).
No domínio manifesto, embora também em sentido mais amplo, o texto
fala do pavor que Galina sentia toda vez que o ex-marido da sua avó vinha
visitá-la, das brigas entre os dois. Mas o material oferece também outras
possibilidades de leitura. A jovem, deitada na cama, também é testemunha
da violência sofrida por sua avó. Talvez ela mesma tenha sido vítima, ou
então associe a essas situações outras cenas de violência. Com base em
outras passagens, a hipótese de ser sido de algum modo agredida pelo
ex-marido da avó na infância ganha mais plausibilidade. Ainda que não
possamos comprová-la a partir desse recorte textual, nada nos impede de
acreditar que ter tomado sua avó como assassina remonta a um desejo não
satisfeito e que ela, quando criança, tenha esperado que sua avó pudesse
proteger a si mesma – e também a neta – da violência.
Voltemos à situação da descoberta do documento. Ela corre para seu
pai, que tira o papel da sua mão. Galina quer saber o que aquela certidão
significa e ouve: “isso é sobre a sua avó, você não precisa ficar sabendo
dessas coisas”. Ela o puxa pelo braço, tenta pegar de novo o documento,
mas ele grita com ela: “isso não é da sua conta; não me pergunte nada”.
Galina se surpreende com a proporção da reação: “Eu fiquei tão surpresa,
porque a relação com os meus pais era bem próxima, e aí descubro que
havia algo que ele queria esconder, e então perguntei pra minha mãe, que
tava tão surpresa quanto eu e disse não saber de nada” (Galina, 1992, p. 24).
Descobrimos, assim, que também sua mãe – quem, mais tarde, em uma
outra entrevista, confirmaria tudo – não sabia da condenação da sogra,
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11
Galina afirma, após um comentário da pesquisadora, que ela não atribui muita rele-
vância ao que vivenciou naquela época de grandes transformações sociais: “Posso dizer que
isso não me importa muito... quando essas mudanças começaram, era importante ir às aulas
da universidade e assistir a alguns filmes... Mas hoje tento manter minha vida absolutamente
desligada da vida do Estado”.
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7
7.1 INTRODUÇÃO
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1
Sobre a possibilidade de proceder de acordo com os princípios tanto da análise de con-
teúdo como também sequencial e reconstrutivamente, ver os estudos de Anne Huber (2001).
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2
Na Conferência de Moscou em outubro de 1943, os ministros das relações exteriores dos
Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da União Soviética decidiram formalmente não abandonar
a guerra até a capitulação incondicional da Alemanha, assim como pela posterior instituição
de uma nova organização internacional para a segurança e paz. Ali também foi formulada uma
declaração sobre a Áustria, que passou a ser considerada a primeira vítima da política expan-
sionista de Hitler e, por essa razão, haveria de ser liberta da dominação alemã.
265
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3
Em 23 de fevereiro de 2001, em um encontro partidário, Haider deu a seguinte declara-
ção: “O Häupl contratou um estrategista de campanha chamado Greenberg (gargalhadas são
ouvidas no salão). Que ele trouxe lá da costa leste! Caros amigos, a escolha é de vocês: entre um
relações-públicas da costa leste ou um típico vienense!” (apud WODAK 2001, p. 132) Haider se
esquivou de acusações de antissemitismo negando, entre outras coisas, a conotação antissemi-
ta do termo “costa leste”, utilizado para se referir ao forte lobby judeu de Nova York, alegando
que “costa leste”, ali, tinha significado neutro e geográfico, referente, segundo o próprio, ao
“centro político dos Estados Unidos” (apud WODAK 2001, p. 134), o que, porém, nos permite
de novo identificar, nas entrelinhas, conotação antissemita.
267
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4
Para uma exposição mais ampla do caso, ver: Rosenthal (1997d).
5
Na transcrição, realces em negrito e em caixa alta significam que essas palavras foram
ditas em tom mais alto. Para as regras de transcrição, ver subcapítulo 3.2.
268
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6
A entrevista com Otto Sonntag foi realizada em 1993. Ele aceitou dar uma única entre-
vista, que durou cerca de três horas.
269
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Apenas na fase de aprofundamento fica claro até que ponto essa res-
ponsabilização serve para desviar a atenção das próprias ações na guerra.
À solicitação de ser mais preciso sobre a vivência do começo da guerra, o
entrevistado responde: “Isso eu posso repetir quantas vezes você quiser,
não foi outra coisa que a reação do comando judaico internacional, que
falou que agora eles tavam decididos, que agora não era pra fazer conces-
são nenhuma”. As acusações de crueldade e de desumanidade se voltam,
assim, contra as vítimas.
Como esse exemplo sugere, entrevistas biográficas podem evidenciar
a função de esquemas de interpretação antissemitas na história de vida
da pessoa, mas também reconstruir sua gênese e modificação ao longo de
sua biografia e, portanto, na história da comunidade da qual o entrevistado
participa. A análise de entrevistas biográficas com as assim chamadas
testemunhas do Terceiro Reich mostrou claramente a relação de mútua
constituição entre o desenvolvimento da política estatal usurpadora de
direitos, genocida, e a mudança de postura na população alemã não judia
com relação aos judeus. O processo de desumanização dos judeus, con-
siderando nossa análise de relatos biográficos, nos parece ter ocorrido
de forma bastante gradual, em fases (1933-1935; 1935-1938; 1938-1945),
acompanhando as leis criadas pelo Estado contra a população judia (Leis
de Nuremberg, Noite dos Cristais, Pogrom e deportação em massa)
(ROSENTHAL, 1992, p. 455s.).
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Bettina Völter
Gabriele Rosenthal
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7
A fim de evitar equívocos, vale lembrar que o conceito habermasiano de discurso é dife-
rente do utilizado aqui. Habermas entende por “discurso” processos dialógicos ou argumenta-
ções que seguem e devem seguir determinados princípios. Uma tentativa de combinar a análise
crítica do discurso com a ética desenvolvida por Habermas pode ser encontrada em Wodak
(1996).
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8
Na Alemanha, a análise crítica do discurso foi desenvolvida sobretudo por Jürgen Link,
Ursula Link-Heer (1990) e por Siegfried e Margret Jäger (vide literatura citada).
276
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9
Sobre as relações entre análise biográfica e análise do discurso, ver: Schäfer e Völter
(2005).
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10
Sobre a análise segmental de imagens, ver: Breckner (2003).
11
Margret Jäger (2001, p. 364-380) mostra, por exemplo, como podemos ver surgir uma
espécie de “etnização do machismo” quando o discurso sobre migração se cruza com o discurso
sobre o direito das mulheres.
12
Como sugerem, por exemplo, Jäger (2001, p. 175-187) e Vierhöver (2003).
279
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
13
Ver instruções para triangulação em Köttig (2005).
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ÍNDICE REMISSIVO
Análise de conteúdo 18, 25, 43, 68, 69, 130, 181, 225, 255, 256, 257, 258, 259, 260,
261, 262, 267, 270, 278
Análise detalhada 139, 140, 144, 145, 148, 160, 161, 165, 166, 209, 247, 256, 263,
266, 267, 271, 278
Análise sequencial 18, 23, 54, 74, 86, 87, 89, 110, 126, 127, 130, 131, 132, 133, 137,
139, 142, 143, 145, 147, 155, 165, 226, 243, 247, 251, 252, 267, 278, 280
Argumentação 186, 190, 194, 195, 198, 204, 209, 238, 241, 267, 268, 272, 279
Campo temático 111, 185, 195, 203, 218, 224, 225, 226, 229, 230, 235, 236, 237,
240, 241, 242, 243, 244, 251, 273, 279
Caso particular 19, 30, 32, 34, 44, 68, 69, 72, 74, 75, 77, 78, 81, 86, 90, 99, 100, 104,
105, 115, 117, 145, 181, 182, 209, 210, 220
307
Compreensão intersubjetiva 117, 119
Contato 10, 11, 24, 52, 53, 63, 106, 107, 109, 125, 139, 143, 164, 178, 190, 193, 194
Dados biográficos 110, 118, 226, 228, 229, 230, 233, 236, 243, 244
Descontextualização 81, 88
Escola de chicago 33, 35, 37, 40, 43, 45, 46, 47, 50, 51, 123, 124, 125, 212
Falsificação 118
Fenômenos 18, 19, 20, 25, 26, 30, 34, 47, 74, 80, 103, 134, 165, 173, 215, 221, 261,
271
308
H
Hermenêutica objetiva 21, 26, 35, 68, 81, 87, 88, 90, 133, 138, 142, 157, 161, 224,
225, 247, 251, 252, 278, 280
Memória 127, 132, 133, 150, 154, 189, 190, 191, 217, 218, 219, 228, 263, 264, 265,
266
Motivos de finalidade (“motivos a fim de”) e motivos causais (“motivos por quê”) 128
Observação participante 18, 22, 23, 24, 28, 47, 55, 61, 65, 102, 106, 122, 123, 124,
125, 126, 127, 128, 130, 132, 138, 145, 148, 151, 214, 215
Participação 31, 62, 64, 97, 98, 99, 102, 104, 121, 122, 123, 126, 127, 128, 131, 132,
268, 269
309
Pesquisa biográfica 15, 31, 71, 124, 170, 185, 211, 212, 213, 214, 215, 216, 220, 221,
222, 223, 272
Pesquisa de campo 24, 46, 121, 122, 124, 125, 126, 134, 145, 148, 169
Plausibilidade 32, 74, 81, 82, 86, 117, 139, 161, 164, 229, 231, 246, 251
Positivismo 36
Processo de pesquisa 59, 66, 67, 101, 105, 106, 117, 142, 146, 171, 270
Reinterpretações 216
Relações concretas
Relato 47, 57, 66, 81, 87, 110, 111, 171, 173, 174, 176, 178, 183, 184, 185, 186, 187,
189, 190, 191, 192, 193, 194, 195, 196, 197, 198, 199, 200, 201, 202, 204, 205, 206,
207, 208, 209, 210, 218, 219, 222, 223, 225, 229, 230, 231, 236, 237, 238, 239, 240,
241, 242, 244, 245, 246, 247, 248, 249, 268, 269
Sociologia do conhecimento 20, 21, 35, 49, 50, 87, 124, 180, 274
310
T
Teoria fundamentada 21, 24, 33, 43, 255, 270, 272, 273, 274, 278
Tipo-ideal 100
Transcrição 57, 106, 112, 113, 141, 182, 207, 208, 210, 239, 241, 245, 253, 268, 269
Transformação 54, 112, 118, 126, 131, 221, 222, 228, 251
Triangulação 280
311
Formato 16 x 23 cm
Tipografia DejaVu
Papel Offset
Número de Páginas 312
Impressão e Acabamento Gráfica EPECÊ