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Daniel o Profeta Do Juizo Siegfreid J Schwuantes
Daniel o Profeta Do Juizo Siegfreid J Schwuantes
INTRODUÇÃO
argumentos oferecidos pelos críticos contra a data tradicional do livro e sua autoria.
Data do Livro: De acordo com a afirmação de Dan.1:1 Daniel teria sido levado
para Babilônia em 605 a.C., e teria estado na ativa "até o primeiro ano do rei Ciro" (1:21), até
pouco depois da queda de Babilônia em 539 a.C. De onde a tradição de que o livro foi escrito
no sexto século a.C. Esta opinião foi mantida pela maioria dos comentadores judeus e cristãos
até fins do séc. 18. Com o avanço da crítica literária desde então, a opinião da maioria dos
Os principais argumentos para uma data no segundo século a.C. são os seguintes:
INTRODUÇÃO -
cap. 11, explica-se melhor como uma pseudo-profecia, ou uma profecia post-eventum. De
acordo com os críticos, a descrição corresponde bem com os fatos até 164 a.C., mas quando a
profecia, ou pelo menos profecia de longo alcance, como as que se acham no livro de Daniel.
Conseqüentemente, de acordo com os críticos, uma explicação natural deve ser proposta
quando uma profecia bíblica parece corresponder aos acontecimentos previstos. A explicação
proposta é que a profecia foi escrita depois dos acontecimentos, e não passa de uma pseudo-
profecia.
Para aqueles que crêem na revelação divina e que os profetas foram habilitados
por DEUS para prever o futuro, o argumento não é convincente. Se para DEUS o futuro é
como um livro aberto não há razão para crer que Ele não tenha comunicado a Seus profetas
tanta informação do futuro quanto em Sua sabedoria Ele tenha considerado próprio revelar.
Jeremias só trataram da situação histórica de seus dias. Adereçaram-se sobre tudo aos
arrependimento e reforma. Por que deveria um profeta do sexto século a.C. se preocupar com
os acontecimentos políticos do terceiro e segundo séculos a.C., como parece ser o caso de
Dan. 11 ?
A resposta a essa objeção é que embora os profetas do V.T. como regra estejam
mais interessados nos problemas morais e religiosos de sua própria geração, eles se pronun-
ciam freqüentemente sobre juízos iminentes, os juízos que cairiam sobre gerações futuras, se
não houvesse arrependimento genuíno. Jeremias nos capítulos 25 e 29 de seu livro prediz que
o cativeiro babilônico duraria 70 anos. Além disto há não poucas passagens nos profetas
clássicos que referem-se ao "dia do Senhor", um acontecimento que ocorreria num futuro
indeterminado. As muitas referências nos escritos proféticos a um "dia" futuro com conota-
ção escatológica indicam sua preocupação com o futuro tanto imediato como distante.
militares dos séculos que precederam a era cristã enquadra-se num propósito religioso. Sua
intenção era preparar a comunidade judaica para fazer frente a uma grave ameaça à sua
própria existência. Uma predição tão detalhada estimularia a fé em DEUS como o Senhor da
História, e como Aquele que não falharia a Seu povo num período crítico de sua existência
como nação. A seu turno toda a profecia cumprida fortaleceria a fé naquelas porções da
palavra profética ainda não cumpridas (Dan.9:24). Dada a inspiração divina do livro de
Daniel, as profecias de longo alcance cessam de ser um ônus insuportável para a fé.
contra uma data no sexto século para o livro de Daniel. Um autor do sexto século estaria
melhor informado quanto aos fatos históricos que lhe eram contemporâneos, argumentam os
Embora nenhum sítio de Jerusalém ocorrido em 605 a.C. seja mencionado nos
livros de Reis ou Crônicas, II Reis afirma que "nos dias de Joaquim, subiu Nabucodonozor,
rei da Babilônia, contra ele e ele, por três anos ficou seu servo". (Ver também II Crôn. 36:6).
Esta invasão de Judá não pode ser a de 597 a.C., porque Joaquim morreu no curso daquele
ano. Comparar o v.6 de II Reis 24 com o v.10. De acordo com as Chronicles of Chaldean
Kings (626-556 B.C.), publicadas por D.J. Wiseman, em 1956, pp. 25-27, Nabucodonozor
depois de sua vitória sobre o exército egípcio em 605 a.C., em Carquemis, avançou
vitoriosamente sobre a Síria e a Palestina, entre Abril e agosto do mesmo ano. Nabucodo-
nozor ainda estava no Oeste quando seu pai Nabopolassar morreu em 15 de agosto, quando
foi obrigado a voltar rapidamente a Babilônia. Joaquim, que tinha sido posto no trono de
Jerusalém pelo Faraó Neco II, foi obrigado a transferir sua lealdade a Nabucodonozor. Se isto
ocorreu após um breve sítio em Jerusalém não é claro, mas concebível. Em sua pressa de
voltar a Babilônia, Nabucodonozor poderia ter aceito uma rendição simbólica de Joaquim,
Daniel e seus companheiros. Uma tal hipótese não contradiria as afirmações de II Reis e II
A ausência do nome de Belsazar das várias listas de reis de Babilônia, bem como
históricas gregas, os críticos faziam muito do silêncio das fontes quanto a Belsazar. Este
silêncio, porém, foi rompido quando tabletes cuneiformes foram desenterrados e decifrados
medida que o nome de Belsazar aparecia num número crescente de documentos associado
Smith demonstrou em 1924 que Nabonido, que esteve ausente de Babilônia durante dez anos,
conferiu a regência a Belsazar durante sua longa estada em Tema1. Como J. C. Baldwim
observa: "Uma vez que Belsazar foi para todos os efeitos rei, é pedantismo acusar o escritor
do livro de Daniel de inexatidão por chamar Belsazar de Rei. A acusação é mais ainda fora de
propósito à luz de dan. 5:7, 16 e 29, onde a recompensa oferecida a quem lesse a escrita
misteriosa era de ocupar o terceiro lugar no reino. Evidentemente o autor sabia que Belsazar
22.
O termo "pai" tem uma conotação tão geral nas línguas semíticas antigas que não
se pode atribuir erro a Daniel por empregá-lo no sentido de avô ou simples antepassado
dinástico de Belsazar. Com efeito não há palavra para o "avô" nem no hebraico nem no
aramaico. Basta dizer que Davi é chamado pai de diversos reis de sua dinastia: de Abdias (I
Reis 15:3), de Asa (15:11), de Amazias (II Reis 14:30), de Jotão (15:38), de Acaz (16:2), de
Ezequias (18:3), e de Josias (22:2). Os leitores não tinham dúvidas sobre o que o autor queria
dizer. A hipótese de que Nabonido tivesse casado com uma filha de Nabucodonozor não deve
ser excluída. Seu prestígio na corte retrocede a 585 a.C., na qual data ele mediou um tratado
de paz entre a Média e a Lídia fixando o rio Halis como a fronteira entre os dois reinos. Além
disto, diversos reis assírios chamavam seus pais reis que eram realmente seus avós.3
Babilônia não deve ser interpretado como se o autor assumisse a existência de um Império
Medo que teria sucedido ao de Babilônia. O que os textos acima provam é que de acordo com
o autor, houve um rei Dario o Medo que reinou em Babilônia entre a morte de Belsazar e o
tempo quando Ciro o Persa assumiu o trono de Babilônia.
De acordo com o livro de Daniel o Império Babilônico foi sucedido pelo Império
Medo-Persa. Segundo Dan. 5:28, o reino de Belsazar seria dado aos "Medos e Persas".
Segundo o cap. 6 a lei do novo império é chamada "a lei dos Medos e Persas" (vv. 8, 12, 15).
O carneiro do cap. 8 é interpretado como sendo "os reis da Média e da Pérsia", a Média e a
Pérsia sendo consideradas como uma unidade política. Do mesmo modo que o bode
dois.
Embora as fontes históricas não nos permitam identificar Dario o Medo, o fato de
que Ciro, segundo textos comerciais contemporâneos, não assumiu o título de rei da Babilônia
a não ser um ano depois da queda da cidade, abre a possibilidade de um breve reinado de um
rei desconhecido nas fontes extra-bíblicas, mas identificado no livro de Daniel como Dario o
Medo.
Persa. Ele propõe que Das. 6:28 seja traduzido como segue: "Daniel, pois, prosperou no
reinado de Dario, isto é, no reinado de Ciro o Persa", tratando a conjunção hebraica waw
como um waw explicativo5. J. C. Whitcomb sugere que Dario o Medo era outro nome de
além do rio6. Este Gubaru é sem dúvida o Gobryas que aparece nas fontes gregas.
conhecimentos presentes, mas o que é certo é que o autor de Daniel não postulou a existência
críticos deveriam responder à pergunta de como um autor do segundo século poderia ter
sabido da existência de Belsazar como regente em Babilônia no momento de sua queda,
quando os historiadores gregos que ele poderia ter consultado ignoravam totalmente o fato.
a.C. podia ter sabido que Nabucodonozor merece o crédito principal para a construção de
Babilônia em sua última fase (Dan. 4:30). Comentando o fato, E. B. Pfeiffer escreveu:
"provavelmente nunca saberemos como nosso autor descobriu que a nova Babilônia foi obra
encontra não entre os profetas, mas na terceira seção conhecida como os "escritos".
Dever-se-ia dizer em primeiro lugar, que não há nada sagrado sobre a ordem dos
livros no canon hebraico. Esta ordem varia nos manuscritos do V. T., bem como nas edições
impressas da Bíblia hebraica. Além disso, a ordem dos livros na Bíblia hebraica é diferente da
ordem da Septuaginta, a tradução grega feita em Alexandria entre 250 e 150 a.C. Nos
melhores manuscritos da Septuaginta o livro de Daniel aparece na mesma posição como nas
edições modernas da Bíblia, isto é depois de Ezequiel. Outra indicação de que não havia uma
ordem fixa dos livros canônicos é que as listas destes livros que se encontram nos escritos
patrísticos diferem bastante uma das outras tanto na ordem como no numero dos livros.
Josefo que era sacerdote versado nas Escrituras, afirma haver 22 livros no Velho
Testamento. Ele especifica que 5 constituiam a Lei, e que quatro continham "Hinos a Deus e
preceitos para a conduta da vida humana". Estes quatro com toda probabilidade
a dos Profetas, continha, segundo Josefo, treze livros, entre os quais certamente ele contava o
livro de Daniel.8
Doze, Daniel, Ezequiel e Esdras. R. D. Wilson menciona que "Origenes, em 250 A.D., e
Jerônimo, em 400 A.D., ambos instruídos por rabinos judaicos e afirmando ter obtido sua
informação de fontes judaicas, colocam Daniel entre os profetas... E, afinal, todos os unciais
gregos e os Pais gregos e latinos, são unânimes em colocar Daniel entre os profetas, e em
Há boas razões para crer que o livro de Daniel foi transferido pelos massoretas,
por razões dogmáticas, de entre os Profetas para sua posição presente entre os Escritos. O fato
do livro de Daniel ter sido considerado uma arma importante para os apologistas cristãos em
sua controvérsia com os rabinos sobre a pretensão messiânica de Jesus Cristo, tendia a
despertar o preconceito dos rabinos contra o livro. Particularmente ofensiva aos judeus era a
tentativa da parte dos cristãos de fundar o messianismo de Jesus sobre a profecia de Daniel 9.
O Talmude pronuncia uma maldição contra os que faziam cálculos sobre quando o Messias
devia aparecer.10
volta de 180 A.C., nada sabia de Daniel, de outro modo ele o teria mencionado em seu
panegírico das celebridades bíblicas (caps. 44-50). O fato do Sirácida não mencionar nenhum
dos profetas menores por nome, e nem mesmo Esdras que tanto se destaca na tradição judaica,
torna o argumento sem valor. O argumento reteria seu peso somente se a lista fosse completa,
o que não é o caso. Provavelmente Daniel não se enquadrava nos critérios do Sirácida sobre
quem deveria figurar em sua lista. de outro lado o elogio exagerado que ele faz do sumo-
sacerdote Simeão, seu contemporâneo, nos faz duvidar da validade dos critérios adotados pelo
Sirácida.
Gênesis até o livro de Zacarias. É verdade que o livro de Daniel é o único a mencionar anjos
pelo nome, como Gabriel (Dan. 8:16 e 9:21), e Miguel (10:13 e 21; 12:1). Deve-se observar,
porém, que este último nome é atribuído a um príncipe e não a um anjo especificamente.
dos apocalípticos escritos a partir do segundo século A.C. o Livro de Enoque, por exemplo,
menciona não menos de 27 anjos.11 Outros livros apocalípticos são manos prolíficos, mas
escrevendo em 520 A.C. - e ninguém duvida da data da primeira parte do livro - refere a seu
anjo intérprete dezoito vezes. Além das duas referências a Gabriel, anjos são especificamente
mencionados somente em mais dois textos do livro de Daniel 3:28 e 6:22. Pode-se, pois,
concluir que a angelologia de Daniel é pouco mais avançada que a de seu contemporâneo
Zacarias, que aliás usa o termo "Satan" quase como um nome próprio (3:1,2).
aramaico (2:4b-7:28), outra língua semítica como o hebraico. O aramaico começou a tornar-se
uma língua internacional no Próximo Oriente desde o oitavo século a.C.. Judeus educados
podiam falá-lo como é evidente em II Reis 18:26. Daniel deve ter sido versado tanto no
babilônico a maior parte dos judeus só falava aramaico, o que obrigou Esdras a fazer uso de
Daniel tinha peculiaridades que traiam uma data posterior ao de Esdras. Assim, S. R. Driver
escreveu no fim do século XIX: "As palavras persas pressupõem um período depois do
império Persa estar bem estabelecido; as palavras gregas exigem, o hebraico apoia, e o
aramaico permite, uma data depois da conquista da Palestina por Alexandre o Grande (332
a.C.)"12.
Os critérios usados para atribuir uma data tardia ao hebraico de Daniel são
bastante subjetivos. Falando da linguagem do V. T., D. Winton Thomas observa que, "Débora
não fala de modo muito diferente de Qoheleth, embora mil anos os separem"13.
Mar Morto desde 1947, fornecendo aos estudiosos uma abundância de documentos em
aramaico, os quais datam respectivamente do quinto séc. A.C. e de 150 A.C. a 68 A.D.,
forçou uma revisão crítica quanto à data do aramaico do Livro de Daniel. Assim G. F. Hasel
pp. 139-296, e de um importante artigo de J. Lindar "Das Aramaische im Buch Daniel", ZKT
59 (1935), pp. 502-545, concluiu em 1939 que a velha 'evidência lingüística' (para uma data
e sintaxe do aramaico de Daniel, chegou a uma conclusão semelhante: "O aramaico de Daniel
(e de Esdras) é simplesmente parte do aramaico imperial - do qual não se pode distinguir a
H.H. Rowley contestou a opinião expressa acima, mas seus argumentos foram
refutados por E.Y. Kutscher em seu artigo, "Aramaico", Current Trends in Lingistics 6th ed.
T.A. Seboek (The Hague, 1970), pp. 400-403. A opinião que o aramaico de Daniel pertence
1962), p. 154; e por F. Rosenthal, A Grammar of Biblical Aramaic, 2nd ed. (Wiesbaden
1963), p.6.
encontrado nas cavernas de Qumrã, foi publicado. De acordo com considerações paleográficas
e lingüísticas ele pertence ao primeiro séc. A.C. Estudando este documento P. Winter
observou que ao passo que o aramaico de Daniel e de Esdras é aramaico oficial (imperial), o
Daniel", New Perspectives on the Old Testament, ed. J. B. Payne (Waco, Texas), pp. 160-169.
J.C.Baldwin conclui: "Está se tornando um fato aceito que a data de Daniel não pode ser
decidida por argumentos lingüísticos, e a evidência que se acumula não favorece uma origem
apenas três, e todas as três são nomes de instrumentos musicais - demonstra que o livro de
Daniel foi escrito depois das conquistas de Alexandre o Grande e a difusão da língua grega no
Próximo Oriente. Mas como J.A. Montgnomery observa em seu comentário: "A refutação
deste (argumento baseado no uso de três palavras gregas) para uma data tardia consiste em
evidente que as trocas comerciais e culturais entre o mundo grego e o Oriente remontam ao
oitavo século A.C. Cerâmica grega daquela época tem sido encontrada em muitos lugares do
Nilo, por volta de 600 A.C. Mercenários gregos estavam sendo engajados em exércitos estran-
geiros por este tempo. E podemos imaginar que onde soldados iam os instrumentos musicais
construção dos palácios de Persépolis (500 A.C.), e é provável que alguns foram também
empregados em Babilônia.
fato que a palavra sinfonia não consta ter sido usada no grego como o nome de um
instrumento musical antes do tempo do historiador Pelíbio (c.150 A.C.), pode ser pura
consciência. Muito da literatura grega antiga simplesmente não sobreviveu até nossos dias.
Daniel, nenhum leva um nome hebraico, se o livro foi escrito na Palestina no segundo séc.
A.C.?"18 Quando o grego era bastante disseminado na Palestina a partir do terceiro séc. A.C.,
os críticos devem explicar porque há tão poucos termos emprestados ao grego em Daniel, se é
que o livro foi escrito na Palestina na época dos macabeus. A maior parte das inscrições
séc. antes de nossa era, não há razões que nos constrangem a considerar o livro de Daniel
parte desta literatura. Como vários estudiosos têm observado, a apocalíptica é filha da
profecia, e não se pode estabelecer uma distinção absoluta entre ambas. Traços do estilo
Em vários dos últimos escritos proféticos nota-se uma tendência de mudar o foco
outras de natureza universal. O propósito de Deus para com Israel começou a ser melhor
discernido num contexto mais amplio. Com o exílio ampliou-se a perspectiva geográfica de
Israel, e o conceito de Deus como soberano universal raiou como uma nova revelação. Que as
nações vizinhas, tais como Moabe, Amon, Aram, Filístia, estavam sob a jurisdição de Jeová e
lhe eram moralmente responsáveis, Amós já o tinha afirmado. Mas o exílio babilônico
aprofundou a convicção de que Jeová era o Deus de todas as nações. Ao horizonte geográfico
mais amplo ajuntou-se uma perspectiva temporal mais vasta. A história começou a ser vista
como se desenrolando numa escala temporal muito mais longa. As velhas civilizações de
Babilônia e do Egito não podiam deixar de impressionar os exilados com esta realidade
inquietante.
estendendo sobre milênios, Israel estava preparado para receber uma nova espécie de
revelação caracterizada por sua preocupação universalista e seu escopo escatológico. Esta
revelação seria muito mais rica em simbolismos por causa da dificuldade de expressar
comunicar a verdade religiosa não somente ao intelecto, mas ao ser humano em sua
totalidade. Como uma figura diz mais do que mil palavras, de igual modo símbolos.
Notamos três traços comuns nos escritos apocalípticos: Preocupa- ção supra-
nacional, perspectiva escatológica e uso mais freqüente de linguagem simbólica. Mas todos os
três já estão presentes nos escritos dos profetas exílicos e pós-exílicos em graus diferentes.
Como A.C. Wech observou, "daniel deve ser julgado pelas afinidades com os profetas que o
precederam,e não pelas afinidades com seus imitadores".21 Todos os fatos morais e
Uma razão adicional pode ser sugerida para a necessidade do tipo de revelação
lento e penoso, e a nação de Israel nunca atingiu o nível de prosperidade material previsto por
Isa. 60, por exemplo. Ao contrário, como Neemias testifica, a obra de restauração foi elevada
O que faltava nos escritos proféticos era uma clara perspectiva de tempo.
Acontecimentos futuros na história da redenção eram vistos como um só evento que enchia
todo o horizonte. Não se fazia uma distinção clara entre a primeira e a segunda vindas do
Messias. Chegara o tempo para que apocaliptistas como Daniel introduzissem um senso de
perspectiva nas visões indistintas dos profetas clássicas. Não só o tempo estava maduro para
uma tal revelação, mas a necessidade era urgente para que a fé de um remanescente fiel não
viesse a sossobrar. A Daniel, e mais tarde a João no Apocalipse, luz adicional foi dada por
Deus para iluminar a ordem dos acontecimentos futuros na história da redenção. O futuro
redentor é localizada no final da história, no fim das 2300 "tardes e manhãs" de Dan. 8:14.
Setenta semanas de graça adicional seriam concedidas à nação judaica, período este que devia
culminar com a vinda do Messias e Sua morte de acordo com Dan. 9:24-27.
Temos aqui três profecias com tempo específico que introduziram perspectiva e
ordem onde antes havia apenas uma vaga expectativa do "dia do Senhor". De acordo com
uns aos outros dentro do programa divino. Os crentes poderiam levantar suas cabeças e
renovar sua coragem vendo os marcos sinalizando onde estavam em sua longa peregrina ção
à cidade celeste.
Do que acaba de ser dito torna-se evidente porque o livro de Daniel ocupa uma
posição pivotal no canon bíblico. Se a fé neste livro é minada, a fé cristã tem muito a perder.
Isto explica porque o autor pagão Porfírio, que viveu na última parte do século terceiro a.d.,
fez um ataque tão resoluto contra a credibilidade do livro. Fazendo-o passar por uma pseudo-
profecia escrita no tempo de Antíoco Epifânio, Porfírio esperava privar os cristãos de sua
principal arma na defesa da fé. Ele percebia que seu valor apologético seria destruído, se sua
Estudiosos que mantêm que o livro de Daniel foi escrito no segundo século a.C.
argumentam que a influência da teologia de Zoroastro seria mais sentida nesta época mais
tardia do que no sexto século a.C. O fato é que a pretendida religião de Zoroastro sobre a
apocalíptica em geral, e sobre o livro de Daniel em particular, está perdendo muito de sua
credibilidade à luz de estudos mais recentes.
Assim é que Paul D. Hanson nega uma influência persa sobre Daniel, concluindo
que tanto a influência persa como a helenística foram tardias, "surgindo apenas depois que o
pensamento puramente escatológico... não é nada convincente... Não temos evidência alguma
das idéias escatológicas mantidas pelos zoroastrianos nos últimos quatro séculos antes de
Cristo"23.
É um fato que os ensinos de Zoroastro não foram reduzidos à forma escrita até o
começo da era cristã. O Avesta não datar que do quarto século a.d.24. O Dinkart é, segundo
admite S. B. Frost, uma obra do nono século a.d.25. Em vez de ver idéias iranianas
foi absorvido de fontes estrangeiras, isto é, helenísticas, e a possibilidade de uma tal influência
em geral na formação do canon do Avesta não pode ser negada"26. W. G. Lambert conclui
da evidência zoroastriana permanece incerta será impossível extrair qualquer conclusão válida
Lambert, por sua vez, inclina-se à ver nas profecias babilônicas um protótipo das
atenção a estas assim chamadas profecias babilônicas em seu livro, Babylonian Historical-
Literary Texts, publicado em 1975. Grayson pensou poder ver uma relação íntima entre as
O máximo que se pode dizer é que este gênero de profecia não era desconhecido
em Babilônia mesmo nos dias de Daniel. Alguns membros da comunidade judaica podiam
estar com ele familiarizados. Quão apropriado, então, que Daniel, sob inspiração divina,
detalhada do futuro de modo a inspirar fé em seus leitores quanto à soberania divina sobre o
curso da História. Tais predições satisfariam uma necessidade entre os exilados, e ao mesmo
tempo proveria conforto àqueles que pudessem vir a sofrer na próxima grande crise que a
Em vista das considerações acima um apocalipse escrito no sexto século a.C. não
seria um anacronismo como alguns estudiosos propõem. Como os profetas clássicos que o
precederam, Daniel também estaria satisfazendo as necessidades espirituais de seu povo. Este
estava sendo confrontado com pseudo-profecias e o caráter único de Jeová estava sendo posto
em dúvida. Os repetidos desafios que Isaías tinha feito aos deuses de Babilônia de predizer o
futuro deviam ainda soar no ouvido do povo (Isa. 41:21-23; 44:7-8; 45:20-21). Às predições
acrescentaria algumas profecias de longo alcance, que estabeleceriam um forte contraste entre
profecias autênticas e as que estavam sendo compostas no meio pagão. A. K. Grayson chama
atenção a um tal contraste quando observa: "Não há sugestão em nenhuma profecia babilônica
dominante nas profecias de Daniel. Ele revelaria aquilo que a mera sabedoria humana não
podia prever. Se "profecias" babilônicas proveram a ocasião para seus oráculos apocalípticos,
Daniel iria muito além descrevendo um conflito multi-secular pela dominação do mundo até
F. M. Cross bate na tecla certa quando afirma: "A origem da apocalíptica deve ser
procurada no sexto século a.C. Na catástrofe do exílio a velha forma de fé e tradição entrou
encontrados nas cavernas de Qumrã foram atribuídos ao segundo e ao primeiro século antes
de nossa era. Nenhum manuscrito completo de Daniel foi encontrado, mas diversos
publicados, mas os seguintes textos vieram à luz: Dan.1:10-17; 2:2-6; 2:19-35; 3:22-30; 7:28 -
8:1; 8:16,17, 20-21; 10:8-16; 11:33-36, 38. Um fragmento preserva a transição do hebraico
para o aramaico em cap. 2:4, e outro a transição do aramaico para o hebraico em 7:28 - 8:1.
Todos testificam da correção geral do texto massorético, apesar de variações aqui e acolá,
sobretudo na ortografia.
100 a 50 a.C. A presença de um tal fragmento nas cavernas de Qumrã constitui argumento
forte contra uma data na época dos macabeus para a composição do livro de Daniel. De
acordo com R. K. Harrison uma tal data é "absolutamente excluída pela evidência encontrada
em Qumrã... O tempo seria insuficiente para uma composição macabeana ser posta em circula
- ção, venerada, e aceita como escritura canônica por uma seita macabea".31
invalida o argumento acima. O debate aqui não é sobre a canonicidade do livro de Daniel, mas
quanto a sua data. Um livro que não tivesse sido conhecido previamente como pertencendo à
coleção de livros tidos como canônicos pelos judeus não poderia ganhar tanto prestígio em tão
O fato do livro de Daniel ter sido escrito em duas línguas tem levado alguns
estudiosos a postular mais de um autor. Outro argumento que se alega para uma diversidade
de autores é que 5 dos primeiros 6 capítulos tratam de histórias, ao passo que a segunda parte
do livro é profética em estilo e conteúdo. Alguns estudiosos vão mesmo a admitir a prove-
niência babilônica dos primeiros seis capítulos, aos quais um autor do segundo século a.C.
teria anexado o material profético dos últimos capítulos. O desejo de separar as duas seções
do livro deve-se ao reconhecimento de que as histórias da primeira parte do livro não refletem
pagão que o cercava. Nada se percebe da polarização emotiva que caracterizava a opinião
pública na época dos Macabeus. Com efeito, Nabucodonozor é descrito como um monarca
benevolente, embora por vezes caprichoso. Daniel e seus companheiros não se sentem
Medo. É claro que ninguém escrevendo na época dos Macabeus proporia Daniel como um
religioso que prevalecia na judéia na época dos Macabeus, muitos estudiosos sustentam a
unidade do livro, entre eles S .R. Driver. De sua parte R. H. Pfeiffer não via razão para
impugnar a unidade do livro, mas pensava descobrir "em ambas suas partes o mesmo objetivo
e o mesmo fundo histórico"32. O defensor mais recente da unidade do livro foi H. H. Rowley
que mesmo em 1950 podia escrever: "As características mentais e literárias do livro são as
mesmas através do todo... O ônus de provar o contrário jaz com os que dissecam a obra"33.
maioria dos estudiosos, seu argumento torna-se forçado. A opinião erudita mais recente é que
um editor do segundo século usou o material mais antigo de origem babilônica e acrescentou
as visões dos capítulos 7 a 12. Como A. Jepsen observou: "Se o livro em sua presente forma
parte do livro porque é escrito em aramaico; outros o ligariam com a segunda parte por causa
de sua natureza visionária. Em sua divisão da história em quatro períodos ele tem afinidade
com o cap. 2, mas em outros respeitos tem laços evidentes com os capítulos subseqüentes. Na
opinião deste autor o cap. 7 constitui uma ponte entre as duas seções do livro e confirma sua
unidade. O problema todo da unidade do livro seria resolvido se se assumisse uma data no
sexto século A.C. Afinal de contas esta é a única data derivada do documento, se o valor de
NOTAS
1. S. Smith, Babylonian Historical Texts (Londres, 1924), pp. 84,88; R.R. Dougherty,
ANET, p.276.
4. W.H. Shea, "Darius the Mede: An Update". AUSS, VOL. 20, pp.229-276.
9. Robert Dick Wilson, Studies in the Book of Daniel (New York, 1938), p. 49.
10.G. F. Moore, Judaism, Vol II, p.352. Talmud, Sanhedrim 97b (Vol.ii, p.659).
11.R.H. Charles, ed., The Apocrypha and Pseudoepigrapha, Vol. 2 (Oxford, 1913), pp.
191,193,201,220,223,236.
15."The Aramaic of Daniel", Notes on Some Problems in the Book of Daniel eds. D. J.
19.Em relação ao extenso uso do grego na Palestina nesta época ver Martin Hengel,
Judaism and Hellenism, I (Philadelphia, 1974), p.104, citado por J.C. Baldwin, Daniel, p.
33.
23.The Dawn and Twilight of Zoroastrianism, (1961),p.57, quoted in D.S. Russell, The
24.Ninian Smart, The Religious Experience of Mankind, (Fontona, 1971), p.304, citada
27.Idid
Theology and Tehe Curch, VI, 1969, citado em Baldwin, Op.Cit, p.51.
34."Bemerkungen zum Danielbuch", VT, XI, 1961, p. 186, citado em Baldwin, Op.Cit., p.
46.
DANIEL 1
Este capítulo constitui uma introdução apropriada ao Livro como um todo, pois
responsabilidade no reino. Além disto a informação nele contida é essencial para uma
donosor. Também explica a proveniência dos vasos de ouro e prata do templo de Jerusalém, a
profanação dos quais por Belsazar soou o dobre de finados para o império babilônico.
Jerusalém, entre o culto pagão e o do verdadeiro Deus. Embora humilhados pela deportação e
cativeiro, o povo de Deus não precisava aderir às normas morais que prevaleciam no mundo
pagão. Pela fidelidade de um remanescente dedicado o caráter de Deus seria exaltado entre as
nações.
secundário. Focaliza a atenção sobre alguns momentos decisivos no conflito milenar entre a
luz e as trevas, verdade e erro, e assegura ao leitor que a despeito de perseguição e derrota o
povo de Deus sairá vitorioso no final. Os reinos deste mundo podem ter seu breve período de
glória, mas no fim "o domínio e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao
1:1 A datação precisa dos acontecimentos mostra que o conteúdo do livro deve
ser tomado seriamente. Longe de serem "lendas" colecionadas por causa de seu valor
edificante, os vários episódios merecem ser tomados como acontecimentos históricos.
discordância entre esta data e a de Jer. 25:1, uma vez que se compreenda que o terceiro ano de
ponde ao primeiro ano do reinado deste monarca. O intervalo que decorria entre a morte de
um rei e a primavera seguinte, quando o novo rei recebia o cetro das mãos de Marduk numa
A afirmação de que Jerusalém foi sitiada então, isto é em 605 a.C., não é
uma das inexatidões históricas do livro. O fato é que depois da derrota de Neco II em
Carquemis, Nabucodonozor levou seu exército vitorioso através da Síria e da Palestina até à
fronteira do Egito. No meio tempo Jerusalém bem podia ter sido sitiada, mas o sítio teria sido
à Babilônia antes que surgisse um usurpador, Nabucodonozor teria aceito uma rendição
Templo. A brevidade da operação toda explicaria o silêncio de outras fontes a respeito. Josefo
cita Berosso como autoridade para a afirmação de que Nabucodonozor deixou o exército por
conta de seus generais e voltou apressadamente à Babilônia antes que um rival contestasse seu
direito ao trono.2
1:2 Que Jeová controla os acontecimentos é sugerido pela declaração: "O Senhor
lhe (Nabucodonozor) entregou nas mãos a Jeoaquim, rei de Judá". O cativeiro de Judá não foi
o resultado da fraqueza de Jeová em face dos deuses de Babilônia, mas uma expressão do
propósito divino.
O fato de Babilônia ser chamada "a Terra de Sinear" é um arcaismo que remonta
a Gên.10:10, 11:2 e 14:1. É possível que haja uma relação entre os nomes de Sinear e Sumer,
Nabucodorosor (no hebraico), que é como a palavra é soletrada em Jeremias e Ezequiel, e que
A "Casa do Tesouro" pode ter sido uma espécie de museu, tal como se encontrou
no palácio real em Babilônia, onde objetos de arte de várias partes do império eram postos em
exibição.
1:3 O nome Aspenaz é de origem incerta. Talvez seja uma forma abreviada ou
persa.4 O título chefe dos eunucos traduz o termo Rabsaris, que algumas traduções retêm
como o nome próprio em II Reis 18:17 e Jer.30:3, 13. Sendo o guarda do harém real ele
exército. Em nosso texto ele é encarregado de selecionar alguns judeus da linhagem real e da
nobreza para serem preparados para a administração do império. Nisto Nabucodonozor estava
apenas seguindo uma tradição antiga observada nas cortes do Egito e da Assíria. Tutmosis III
(1479 - 1425), por exemplo, costumava educar príncipes estrangeiros em sua corte, tendo em
vista enviá-los de volts oportunamente para governar seus países de origem como vassalos
fiéis do Egito.5
competência intelectual para serem admitidos à escola palatina, afim de ocupar postos
administrativos no futuro. Entre as matérias a serem aprendidas estava a língua dos caldeus,
língua que tinha muita afinidade com o aramaico e que era falada por uma tribo, os Kashdu,
ou Kaldu, que ocuparam a Baixa Mesopotâmia no começo do primeiro milênio antes de nossa
era. O Império Neo-Babilônico foi a criação de uma dinastia caldéia. O termo "caldeu" veio
também a designar uma classe particular de sacerdotes com privilégios especiais na corte.
este período tinham direito às finas iguarias da mesa real. A expressão finas iguarias traduz o
original pat-bag, um termo derivado do velho persa e que significava "dádivas honoríficas da
mesa real". A presença no livro de termos emprestados ao persa pode ser explicada pela
hipótese de que o livro foi escrito no final da carreira de Daniel, quando o persa tornou-se a
língua da corte, depois de Ciro ter conquistado Babilônia. Outra possibilidade é que a
linguagem do livro foi modernizada durante o período persa, isto é, entre 500 e 330 a.C.
Hananias, Misael e Azarias. Estes nomes que são bastante comuns em hebraico significam
respectivamente: "DEUS é meu juiz", "Jeová mostrou favor", "aquele que pertence a DEUS",
e "Jeová ajuda". Os novos nomes que lhes foram dados podem indicar uma mudança de
operaram na mudança dos nomes dos últimos quatro reis de Judá. Assim, Salum assumiu o
nome de Jeocaz ao subir ao trono (comparar Jer.22:11 com II Reis 23:31). Eliaquim, filho de
Josias, teve seu nome mudado para Heoaquim (II Reis 23:34); Conias assumiu o nome oficial
de Joaquim (comparar Jer.22:24 com II Reis 24:6); e Matanias teve seu nome mudado para
babilônio Belet-sar-usur, "que a Madona (Ishtar) proteja o rei". Belet é o feminino de Bel,
"Senhor", título dado ao deus Marduk, chefe do panteão babilônico. Essa derivação concorda
'Mesaku', "Sou de pouca estima", e em Abdnego alguns estudiosos vêem uma corrupção do
original 'Abed-Nebo', "servo do (deus) Nabu", nome atestado por um papiro aramaico
encontrado no Egito.6
matéria de comer e beber e estilo de vida amoral dos pagãos. Tanto Daniel como seus
pediu ao chefe dos eunucos que lhes permitisse não contaminar-se. Participar das iguarias da
mesa real podia envolver ou a transgressão de preceitos da lei mosaica relativos a animais
judaísmo muitos anos mais tarde levantam-se os textos de Oséias 9:3, Ez. 4:14 e 66:17. Os
de porco. J.C. Baldwin prefere ver na recusa de Daniel participar da comida do rei seus
desejos de não aceitar "uma obrigação de lealdade ao rei. Parece que Daniel rejeitou este
símbolo de dependência do rei porque estar livre para cumprir sua obrigação primária ao
DEUS que servia".7 Nada impede que todas as razões acima mencionadas pesaram em sua
decisão.
Porque Daniel ficou firme a suas convicções DEUS lhe concedeu favor aos olhos
do Rabsaris. Para tranqüilizar a preocupação do mordomo quanto a sua saúde, Daniel propôs
que se fizesse uma experiência durante dez dias, e que aos quatro fossem dadas aos quatro
quatro foram achados com melhor saúde que o resto dos jovens que estavam sendo educados
com eles.
Podemos supor que oraram a DEUS para que lhes desse firmeza de propósito
toda cultura e sabedoria" (v.17). Quando o tempo determinado para o exame dos candidatos
venceu, Nabucodonozor os achou muito mais bem qualificados em todo respeito do que
prefigurado. Este é o tema do conflito entre Babilônia e o povo de DEUS, entre a luz e as
exame ao qual Daniel e seus companheiros foram submetidos vindicou o caráter daqueles que
compromisso. A medida que o conflito entre a religião falsa e a verdadeira assume dimensões
mais ameaçadoras maior será o triunfo daqueles que escolheram ficar leais ao lado de DEUS.
Passaram por um tempo de prova e perseguição, mas sua vitória será tanto mais explêndida.
1:21 "Daniel continuou até ao primeiro ano do rei Ciro". Isto significa que sua
conexão oficial com a corte de Babilônia estendeu-se até 539 a.C., quando Ciro da Pérsia
conquistou Babilônia.
Notas
6. Para uma esplicação diferente ver A. Lacocque, Op. Cit, pp.29, 30.
DANIEL 2
vez que é Daniel que afinal lembra o rei o sonho e diz-lhe a interpretação, há quem diga que
este verso contradiz a informação contida em 1:5, que afirma que Daniel e seus companheiros
deviam ser educados durantes 3 anos. Não há, porém, contradição se se leva em consideração
realizou-se em seu ano de ascensão, isto é, em 605 a.C. A educação de Daniel teria começado
durante o ano de ascensão de Nabucodonozor que se estendeu de setembro de 605 a.C. até a
primavera de 604. Teria continuado durante seu primeiro ano, primavera de 604 a.C. a
primavera de 603 e teria durado até um ponto no segundo ano de seu reinado, 603/602. Além
disto os judeus seguiam o sistema inclusivo de contar, isto é, mesmo uma fração de um ano
era contada como um ano inteiro, do mesmo modo que uma fração de um dia era contada
como o dia todo. Ver. Ester 4:16 e 5:1 como um exemplo de como parte de um dia era
contada como um dia todo. Do mesmo modo os "3 dias e 3 noites" que Jesus passou no ventre
da terra (Mat.12:40) compreenderam na realidade somente parte da sexta feira, todo o sábado
e parte do domingo. Trata-se de uma expressão idiomática que deve ser entendida à moda dos
que a compuseram.
A trivialidade da maior parte dos sonhos não significa que sonhos não possam ser
usados excepcionalmente como um meio de revelação divina. O V.T. atesta um tal uso e Joel
fala do tempo quando "vossos velhos sonharão e vossos jovens terão visões" (Joel 2:28).
Numa cultura na qual sonhos eram tidos como significantes, não admira que DEUS usasse um
encantadores, feiticeiros e caldeus para interpretá-los de acordo com manuais, dos quais
diversas cópias têm vindo à luz. O caráter fictício de tais manuais salta a vista. O fato de que
DANIEL 2 - Erro! Indicador não definido.
nenhum exemplo foi encontrado nos textos babilônicos do uso do termo caldeu para designar
peritos em magia, tem sido alegado por alguns estudiosos como indício da data tardia do livro
de Daniel. Haja vista, porém, que Heródoto (c. 450 a.C.) usou o termo neste sentido. Ora, se
Heródoto usou o termo neste sentido restrito menos de um século depois do tempo de Daniel,
é difícil negar a possibilidade de que o termo já levava esta conotação no tempo em que seu
2:4 Este verso marca a transição do hebraico para o aramaico, que continua
sendo a língua do livro até o final do cap. 7. A transição foi ocasionada pelo fato de que os
caldeus responderam ao rei em aramaico. Sendo de origem caldaica, o rei não teria problema
em compreender o aramaico, que desempenhava nesta época no meio oriente o mesmo papel
que o latim na Idade Média. Familiarizado em ambas as línguas, Daniel continuou a escrever
em aramaico até depor a pena no final do capítulo 7. Quando noutra ocasião ele redigiu os
últimos capítulos do livro voltou ao uso do hebraico. Alguns estudiosos vêem na estrutura A-
atenção para o fato de que o código de Hamurábi apresenta o mesmo tipo de estrutura- as leis
escritas em prosa são enquadradas entre o prólogo e o epílogo redigidos em estilo poético em
estilo altissonante.
adivinhos, provavelmente por causa de sua posição privilegiada na corte. A incapacidade dos
sábios de Babilônia de recontar ao rei seu sonho põe em relevo a sabedoria de Daniel recebida
do único DEUS verdadeiro. É provável que as pretensões absurdas dos adivinhos tenham
despertado na mente na mente do rei expectativas altas demais. O que tornava a situação pior
é que a capacidade de alguém em recordar um sonho era tida como um sinal de que seu deu
estava encolerizado contra ele.2 Ameaçado de morte por sua inaptidão em satisfazer a
DANIEL 2 - Erro! Indicador não definido.
exigência do rei os caldeus finalmente admitiram: "A cousa que o rei exige é difícil e ninguém
há que possa revelar diante do rei, senão os deuses, e eles não moram com os homens" (v.11).
superior.
convocação dos sábios, deviam sofrer com eles a mesma penalidade de morte (vv.12-13).
morte por Arioque, chefe da guarda do rei, Daniel não hesitou em apresentar-se ao monarca
para pleitear uma audiência futura para lhe revelar o sonho e sua interpretação (v.16). A
coragem manifestada por Daniel, cremos, foi inspirada por sua perfeita confiança no DEUS
O que se segue é uma cena comovente de comunhão com DEUS na qual figuram
Daniel e seus 3 companheiros. Eles pleitearam que DEUS lhes revelasse o mistério
relacionado com o sonho do rei, porque desta revelação dependia sua própria vida. Sua fé foi
honrada, e o mistério foi revelado a Daniel numa visão da noite (v.19). A primeira reação de
Daniel foi de expressar sua gratidão numa prece que aparece em forma poética em nosso texto
(vv.20-23). Ele louva a DEUS por Sua sabedoria e poder e por Sua soberania sobre o tempo e
as estações o que equivale a dizer sobre o curso da História. Neste hino de louvor Daniel
anuncia o tema de todo o livro quando declara: É DEUS Quem "remove reis e estabelece reis"
(v.21). No conflito dos séculos esboçado no próprio sonho dado a Nabucodonozor, Daniel
expressa a verdade essencial de que a história, apesar de seus aspectos sombrios, obedecem ao
desígnio eterno de DEUS. Ao dizer que "DEUS dá sabedoria aos sábios e entendimentos aos
entendidos", Daniel declara que DEUS dá sabedoria àqueles que são receptivos à luz celeste,
isto é, aqueles cuja mente está sintonizada à Sua. Em perfeita humildade Daniel não se arroga
DANIEL 2 - Erro! Indicador não definido.
nenhum mérito, mas reconhece que toda sabedoria e poder vem de DEUS, "que a todos dá
liberalmente" (Tia.1:5).
Daniel informa a Arioque que a sentença de morte não precisa ser levada a efeito
pois está pronto a comparecer perante o rei e declara-lhe a interpretação (v.24). Arioque,
aparentemente desejoso de angariar mérito para si, não perde tempo em trazer Daniel à
presença do rei: "Achei um dente os filhos dos cativos de Judá, o qual revelará ao rei a
interpretação" (v.25). O rei parece não menos surpreso à vista de Daniel, um mero sem
nenhuma credencial. Daniel começa por declarar que nenhuma sabedoria humana poderia
revelar o mistério do sonho e esta era a razão por que os sábios tinham falhado. Mas ele
conhecia um DEUS nos céus que revela segredos e seu DEUS se tinha dignado revelar ao rei
glória humana. Se o colosso assírio tinha sido derrubado de seu pedestal pelo curso dos
acontecimentos, que esperança de durabilidade poderia haver para seu império ? Humilhado
estava na disposição correta para receber uma revelação da soberania divina. Esta revelação
era autenticada pelo fato de que o mesmo sonho foi concedido a Daniel e ao rei. O rei estava
possuir qualquer sabedoria superior aos demais mortais. Ele era um simples canal através do
qual a revelação divina estava sendo comunicada ao rei concernente ao "que há de ser", isto é
quanto ao futuro curso dos acontecimentos até o desfecho final da história (vv.28-30).
DANIEL 2 - Erro! Indicador não definido.
O que Nabucodonosor tinha visto no sonho era uma grande imagem ou estátua
(aramaico selem), cuja aparência era aterradora. Esta estátua composta de metade de valor
descrente é descrita em apenas dois versos (vv.32-33). O que avulta no sonho e recebe atenção
mais pormenorizada é uma pedra "cortada sem auxílio de mãos", que feriu a estátua e a
reduziu a pó tão leve como a palha que é levada pelo vento. Mais surpreendente foi a
percepção de que a pedra "se tornou montanha que encheu toda a terra" (vv.34-35).
A Interpretação do Sonho
Seu vasto domínio é descrito numa hipérbole tipicamente oriental (comparar Jer. 27:6 para
uma linguagem semelhante). O fato de que as partes seguintes da estátua são interpretada
como "reinos" sugere que "a cabeça de ouro" simboliza o primeiro reino, do qual
Babilônia foi sucedida pela Medo-Pérsia como a maior potência da época. O domínio
A.C. Entrementes Ciro já havia conquistado a media, a Armênia e Lídia na Ásia Menor. Seu
Filho Cambises II anexaria o Egito em 525, e Dario estenderia seu domínio até à Trácia na
Europa.
DANIEL 2 - Erro! Indicador não definido.
O Império Persa durou aproximadamente dois séculos (539-331), quando por sua
vez foi conquistado por Alexandre o Grande numa campanha relâmpago. Embora Alexandre
mesmo tivesse uma carreira muito breve (356-323), seus sucessores, todos eles generais de
origem macedônica, puderam reinar sobre um mundo helenizado durante dois séculos. O
terceiro reino é caracterizado como um reino de bronze(v.39). Esta descrição quadra bem com
os fatos, pois soldados gregos eram conhecidos por sua armadura de bronze. Heródoto conta
que "Psamético I do Egito viu os piratas gregos que invadiam o Egito o cumprimento do
estendeu-se sobre toda a terra, pois o território controlado por Alexandre e seus sucessores
incluia a Macedônia, a Grécia, e todos os territórios do antigo Império Persa. Este era
uma interpretação mais pormenorizada. Desde Hipólito e Jerônimo até o dealbar da crítica
moderna, estudiosos cristãos eram unânimes em interpretar o quarto império como o Império
Romano.
A maioria dos comentadores admite que há um paralelo entre as visões dos cap.
(v.21). O rei da Grécia é identificado como o bode peludo, e o chifre grande entre os olhos
como o primeiro rei. Os quatro reinos nos quais o reino de Alexandre se dividiu são
simbolizados pelos 4 chifres que surgiram no lugar do primeiro. Segue-se que o ferro da
estátua não pode representar a Grécia nem os reinos dos sucessores de Alexandre. Só pode
apropriadamente descreve Roma como "A Monarquia de Ferro". Foi o império com maior
DANIEL 2 - Erro! Indicador não definido.
tenacidade e com a maior coerência interna. Não admira que Roma tenha exercido uma
soberania indisputada sobre o mundo Mediterrâneo durante mais de meio milênio. Sua grande
durabilidade explica-se tanto por suas leis como por seu poder militar.
como o ferro, Roma também sofreria decadência e ruína. A última fase de sua existência é
representada por pés e dedos em parte de barro e em parte de ferro (v.41). Sob o impacto das
invasões bárbaras o Império Romano finalmente fragmentou-se nas nações que eventualmente
formariam a Europa moderna, nações esta em parte fortes e em parte frágeis (v.42). A
condição dividida da Europa, a despeito dos esforços para uni-la seja pela guerra, seja por
casamentos políticos, continuaria até o dia quando "o DEUS do céu suscitará um Reino que
Os reinos deste mundo desfrutaram por um tempo o fastio de seu poder e glória
para cair no olvido de algumas décadas ou século. Mas o reino de DEUS subsistirá para
sempre. A grande lição que este sonho devia comunicar é que autoridade suprema pertence a
DEUS. Somente ele tem o futuro na mão. Impérios terrestres erigidos sobre sacrifícios
morte. Somente o reino de DEUS fundado sobre o amor e o sacrifício próprio durará para
sempre.
O valor decrescente dos metais da estátua não pode significar que cada império
desmentem essa idéia. O Império Medo-Persa abraçou um território muito mais extenso que o
extensão territorial e duração. É mais provável que o valor decrescente dos metais tenha que
ver com a perspectiva do profeta: os reinos que lhe eram mais próximos no tempo lhe
DANIEL 2 - Erro! Indicador não definido.
pareciam mais importantes do que aqueles mais distantes no horizonte da história. O adjetivo
'inferior' no aramaico sugere uma interpretação pura geométrica: inferior significaria simples-
mas isso pode ser subentendido. Alguns comentadores têm visto, e nós cremos com razão,
uma relação entre os (dez) dedos da estátua e os dez chifres da quarta besta em Dan.7:7. Tanto
desintegrou. Deve-se admitir, porém, que o número dez pode significar simplesmente muitos
nesta linguagem simbólica. De outro lado Daniel não menciona a divisão do corpo da estátua
em duas pernas, e não há razão para se atribuir significado simbólico ao fato. Alguns
épocas simbolizadas pelos quatro metais do poeta grego Hesíodo, ou de fontes iranianas. O
fato, porém, é que Hesíodo escreveu de 5 épocas e não de 4: ouro, prata, bronze, a época dos
heróis e ferro. Além disso sua visão era voltada para o passado, e não para o futuro, como era
o caso com Daniel. Hesíodo imaginava estar vivendo na época do ferro. De outro lado, uma
vez que as cópias mais antigas do Dinkart, onde as idéias de Zoroastro quanto às 4 épocas se
encontram, datam do nono século de nossa era, não há base para a hipótese de que Daniel se
tenha louvado nesta fonte. Ao contrário alguns estudiosos estão começando a sugerir que os
seu Deus pode ser desculpada por sua educação pagã. O que é de surpreender é que Daniel
não tenha recusado, tanto quanto se possa perceber do texto, esta homenagem quase divina.
DANIEL 2 - Erro! Indicador não definido.
Talvez a intenção do rei fosse de honrar a Deus na pessoa de Seu fiel servidor. Como outra
Babilônia e o fez chefe supremo de todos os sábios de Babilônia. Daniel não se esqueceu de
seus companheiros que estiveram a seu lado na crise e que com ele pleitearam o favor divino.
O que é incrível é que esta lenda da corte , como os críticos a chamam tenha sido
incorporada no livro de Daniel sem expurgo, se o livro foi editado no segundo século. A idéia
de um ser humano receber homenagem divina de um rei pagão seria extremamente ofensiva
aos judeus. Igualmente ofensiva na época dos Macabeus seria a história de os judeus
deificação própria como a história do cap.3 o mostra. Nada milita contra uma data do capítulo
Notas
Philophical Society, vol. 46, part 3, 1956,p. 227. Para um sonho de Assurbanipal ver ANET,
DANIEL 3
Na Fornalha Ardente
dos deuses e o Senhor dos senhores', é evidente que não estava contente com as implicações
do sonho descrito e interpretado no cap. 2. Era-lhe extremamente penoso admitir que seu
reino também fosse transitório. Como crente no poder da mágica, ele faria construir uma
imagem inteiramente de ouro que anulasse o encanto da imagem da qual somente a cabeça era
de ouro. Esta imagem devia ser erigida no campo de Dura, na província Babilônica.
harmonia com o sistema sexagesimal babilônico. Sua falta de proporção era indício do caráter
irracional da idolatria. Sua aparência seria mais de um obelisco do que de uma figura humana.
Ou devemos imaginar um pedestal muito alto suportando uma figura humana de proporções
subseqüente de que todos se prostrassem e adorassem a imagem de ouro foi uma decisão
A repetição monótona dos títulos dos oficiais, sete ao todo, bem como dos nomes
dos instrumentos musicais, era típica da retórica semítica, embora soe mal aos nossos
ouvidos. A LXX elimina a repetição sempre que compatível com a clareza do texto. Este
estilo repetitício
DANIEL 3 - Erro! Indicador não definido.
é encontrado em outras seções do livro. Alguns destes títulos são de origem medo-persa, e
sua presença aqui pode ser explicada se esta parte do livro foi redigida depois da conquista de
Babilônia pelos persas. A palavra 'arauto' do v. 4 é uma tradução de keroz, termo que se
pensava outrora ser de origem grega, mas que se sabe hoje ser derivado do antigo persa.1
Baldwin: "Dos seis instrumentos mencionados aqui, somente o primeiro, 'trompa', ocorre no
identificar por falta de evidência, a única chave sendo uma possível conexão com o hebraico
saraq, 'sobiar'. Harpa ou lira (aram. gayteros) ou é a palavra emprestada do grego kítara, ou
tanto ela como o aramaico vêm de uma raiz comum. Cítara (aram. sabbeka) também parece
ser um termo estrangeiro de origem desconhecida... Saltério (aram. pesanterim) pensa-se ser
outro instrumento de corda de forma triangular, o grego psalterion. A última palavra na lista
(aram. sumponeya) traduzida por gaita de foles, pode não ser instrumento algum; antes
significaria 'em uníssono'. De outro lado se tem sugerido que se trata de um instrumento de
Oriente muito antes de Nabucodonozor, de modo que não surpreende achar instrumentos de
origem grega e com nomes gregos na Babilônia do sexto século antes de nossa era.
companheiros de Daniel recusaram a prostrar-se e adorar a imagem de ouro erigida pelo rei. A
ausência de Daniel nesta ocasião tem sido explicada por várias conjecturas. Mas o que é certo
é que se Daniel estivesse presente também teria recusado prestar culto à imagem.
diante do rei. Uma segunda oportunidade lhes foi dada de obedecer, ou em caso contrário de
DANIEL 3 - Erro! Indicador não definido.
serem lançados na fornalha ardente. Uma vez que tinha admitido a verdade da acusação não
sentiam necessidade de apresentar desculpas (v.16). Estavam prontos a morrer por suas
convicções religiosas. Criam firmemente que DEUS poderia salvá-los da sentença de morte,
mas mesmo se DEUS achasse por bem não livrá-los, não renegariam sua decisão de não
adorar a imagem de ouro. A rudeza aparente de sua resposta não visava ofender o rei;
fornalha fosse aquecida ao máximo e os 3 indivíduos fossem lançados amarrados com suas
vestes. Fornalhas havia às dezenas num país que dependia de tijolos para a maior parte das
construções. O combustível usado nestas fornalhas consiste em "óleo cru e palha. Uma
temperatura tremenda é assim produzida, e pela abertura (lateral) o observador pode ver os
Morte por cremação é pouco documentada. Um tablete vem do tempo de Rin Sin,
rei de Larsa (1750 a.C.). Outro vem de Neriglissar, genro de Nabucodonozor, que afirma
"haver queimado adversários e desobedientes". Jer. 29:22 é o único texto do V. T. que faz
referência a este tipo de castigo infligido a dois falsos profetas por Nabucodonozor. Este texto
homens soltos, que andam passeando dentro do fogo" (v.25). Aparecem ilesos e o quarto tem
uma aparência divina. Em sua estupefação o rei se aproxima da boca da fornalha e pede aos
três mártires que saiam. O espetáculo insólito é testemunhado por aqueles mesmos que
e Abede-Nego, cuja fé foi assim publicamente honrada. Movido por esta intervenção do
Altíssimo, o rei baixou um decreto proibindo sob pena de morte qualquer insulto ao DEUS,
que de modo tão maravilhoso livrou Seus servos. A cerimônia toda que tinha em vista ser
uma ocasião para a deificação do monarca redundou para a exaltação dAquele que pode frear
A breve frase de Heb. 11:34, "extinguiram a violência do fogo", parece ser uma
Notas
DANIEL 4
Ao passo que o reconhecimento público do DEUS de Israel vem como clímax nas
histórias dos cap. 2 e 3, no cap. 4 este reconhecimento aparece como o prólogo e o epílogo da
experiência religiosa que descreve. Não há nada inerentemente incrível na história, apesar do
silêncio das fontes babilônicas a respeito. As crônicas dos reis de Babilônia são muito
confirmação em fontes babilônicas. Além disto os cronistas não costumam demorar-se sobre
atestada. O episódio todo foi um desvio insólito dos caminhos tradicionais do Egito, e é
Nabucodonozor descrita neste capítulo tem, pois, um paralelo notável. Além disto, há
evidência nos textos dos profundos sentimentos religiosos de Nabucodonozor, como o hino
seguinte ilustra:
O eterno príncipe!
Tu me criaste, e
Que tu conferes a
Todos os povos,
O tom religioso da proclamação real pode também ser explicada pela hipótese de
que Daniel mesmo a compôs por ordem do rei. Afinal de contas, reis não costumam escrever
seus próprios discursos. A mudança do pronome da primeira pessoa nos vv. 2-27 para a
terceira pessoa nos vv.28-33, e de volta à primeira pessoa nos vv. 34-37, pode ser explicada se
assume que Daniel adicionou algumas notas à proclamação. Seria mais apropriado para
A saudação inicial, "paz vos seja multiplicada!" (v.1), encontra paralelos nos
DANIEL 4 - Erro! Indicador não definido.
editos de reis persas posteriores (ver Esd. 4:17; 7:12). O prólogo em forma de hino resume a
mensagem do livro todo, 'O Seu reino é reino sempiterno, e o seu domínio de geração em
geração' (v.3). Aquilo que e permanente é posto em contraste com a glória transitória dos
Depois desta doxologia, o rei continua contando como sua tranqüilidade foi
perturbada por um sonho, e como de novo os sábios de Babilônia não foram capaz de
interpretar o sonho. No final Daniel foi convocado, e nele somente o rei percebeu 'o espírito
dos deuses santos'. É impossível dizer se a palavra aramaica 'elahin deve ser tomada como um
tradução grega do livro de Daniel leu, "o santo espírito de Deus", no que foi seguido por
mente dos antigos a linha divisória separando as várias classes sob cuja sombra animais e aves
achavam abrigo, e que provia alimento para todas as criaturas. Uma árvore semelhante é
usada pelo profeta Ezequiel para descrever a magnificência do rei do Egito (Ez.31:3-9).
derivado do verbo ur, 'vigiar'. A Septuaginta traduz a palavra por aggelos, 'anjo'.Que se trata
de um ser celeste é claro no texto. A árvore possante é condenada a ser derrubada, mas não
desarraigada de toda. Que a cepa devesse ser atada com cadeias de ferro e de bronze parece
indicar continuidade da existência. Nenhum significado deve ser atribuído ao fato das cadeias
serem de ferro e de bronze. São pormenores necessários para completar o quadro e nada mais.
nos vv. 15b e 16. A árvore realmente representa um ser humano que deve sofrer a indignidade
Esta condição humilhante deveria durar sete tempos. A maior parte dos intérpretes toma o
aram. iddan, 'tempo', como significando anos. A Septuaginta traduz a frase por 'sete anos'.
de que conheçam os vivente que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a
quem quer, e até ao mais humildes dos homens constitui sobre eles". O seguinte comentário
da pensa da inspira-ção vem a propósito: "o complicado jogo dos acontecimentos humanos
está sob controle divino" e um "propósito dominante tem operado através dos séculos". "A
toda a nação... DEUS tem designado um lugar no Seu grande plano" e lhe tem dado a
Qual seja este desígnio é claramente expresso pelo apóstolo Paulo em seu
discurso diante do Areópago: "Para buscarem a DEUS se, porventura, tateando O possam
achar" (At.17:27). Em Seu desígnio inescrutável DEUS pode colocar sobre uma nação "o
mais humilde dos homens". Nabopolassar, o pai de Nabucodonozor, foi "o filho de ninguém"
como ele próprio afirma em uma de suas inscrições. Humildade de origem não é obstáculo
divino.
Este relato autobiográfico conta a seguir como após o fracasso dos sábios de
Babilônia Daniel foi convidado a interpretar o sonho,pois nele habitava o Espírito de DEUS
alarmado com as implicações ele hesitou falar. Somente depois de ser encorajado pelo rei é
que ele procedeu a dar a interpretação. A árvore magnífica cuja fertilidade era uma bênção
DANIEL 4 - Erro! Indicador não definido.
para todas as criaturas simbolizava o próprio rei (vv.20-22). A sentença para abater a árvore,
mas deixar a cepa com as raízes na terra, significava que o rei seria banido do convívio
humano e viveria como um anima por sete anos (vv.23-25), mas que ele seria restaurado
afinal à sua dignidade real se reconhecesse que "o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos
homens".
seu orgulho desmensurado, e se usasse de misericórdia para com os opressos para que ele
também alcançasse misericórdia. Daniel coloca-se na tradição dos profetas clássicos com sua
preocupação com a conduta moral. O homem por sua conduta pode influenciar o curso dos
eventos. Ele não é mero peão no tabuleiro da fatalidade. Como agente moral livre pode
escolher servir a DEUS com humildade de coração ou recusar. Mas naturalmente tem de arcar
Há razão para supor que a seção seguinte (vv.28-33) foi redigida por Daniel
sombrio, tudo indica que gradualmente expulsou a advertência de sua memória. Embora
quando Nabucodonozor estava no auge do poder, quando a riqueza das nações conquistadas
estavam sendo usadas para reconstruir Babilônia numa escala mais magnífica. A Septuaginta
data este episodio do 18º ano do reinado de Nabucodonozor. A causa de seu orgulho é
diretamente relacionada com as construções que empreendera e que devia impressionar seus
deixou transportar pelo orgulho: "Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei.. com o meu
militares de Nabucodonozor. Mas em diversas inscrições ele se ufana de seu esforço de fazer
de Babilônia a maravilha do mundo. Eis um deles: "Em Babilônia, a cidade que prefiro, que
Babilônia cuja importância como cidade remonta aos dias de Hamurabi, tinha
sofrido consideravelmente em 689 a.C., quando o rei Senaqueribe da Assíria irritado pelas
quando Assurbanipal tomou a cidade de assalto para sufocar uma revolução encabeçada por
embarcou em seu programa de reconstrução com entusiasmo. Seu trabalho de reconstrução foi
tão extenso que eclipsou todas as realizações anteriores. Tem-se dito que pouco podia ser
visto que não tinha sido erigido em seus dias. Isto se aplica aos palácios, templos, muros, e até
a área residencial".4
Confirmando o provérbio, "o orgulho precede a queda" mal tinha o rei dado
expressão a sua soberba, quando sua razão apagou-se e ele perdeu o controle dos negócios do
reino. Sua enfermidade tem sido diagnosticada como licantropia, que se caracteriza pelo fato
que o paciente imagina ser um animal e age de acordo. Casos de uma tal enfermidade não
volta a razão quando reconhece a soberania divina. O v.34 diz que quando o rei levantou os
olhos ao céu, voltou-lhe o entendimento. Em vez de se exaltar no orgulho vão, o rei agora
DANIEL 4 - Erro! Indicador não definido.
atribui toda a honra ao Altíssimo, porque unicamente Seu domínio é um domínio eterno, e
somente sua soberania está acima de contestação (v.34-35). À luz de sua experiência amarga,
sua confissão de que "todos os moradores da terra são... reputados por nada" assume um
significado pungente.
por causa de sua alienação mental, pode-se responder que outros reis afligidos de loucura
retiveram suas prerrogativas enquanto viveram. O rei George III da Inglaterra (1738-1820)
não foi deposto do trono por motivo de insanidade mental,6 nem foi o rei Otto da Baviera. Em
caso de incapacidade do Monarca, regentes são designados para cuidar dos negócios do reino
proclamação real. Alega-se que o rei, apesar de sua confissão de fé, revela-se ainda muito vão
caminhos justos, unido à declaração de que DEUS "pode humilhar os que andam na soberba",
Notas
1. G.S. Goodspeed, A History of the Babylonian and Assyrian, p.348, cit. em Jack Finegan,
3. E. Schraeder, Keilinschriftliche Bibliothek, v.3, parte 2, p. 39, citado no SDABC IV. p.793.
4. Ibid
5. F. M. Th. de Ligrebohl, Opera Minora (1953), p. 527, citado no SDABC, IV. p.793.
pp.96-147.
DANIEL 4 - Erro! Indicador não definido.
DANIEL 5
A ESCRITA NA PAREDE
do Império Babilônico. Somente 23 anos separam a morte do grande rei da queda do império
em 539 a.C. Nabucodonozor foi seguido no trono por Amel-Marduk (561-560), que não
possuia nada da habilidade do pai. Foi expulso do trono por seu cunhado Nergal-Shar-Usur
(na Bíblia Neriglissar), que reinou apenas 4 anos. Labash Marduk sucedeu a seu pai, mas seu
reinado foi interrompido pelos sacerdotes do deus Sin, que colocaram no trono Nabonido
(555-539). Crê-se que Nabonido tenha casado com uma filha de Nabucodonozor. Neste caso,
Belsazar filho de Nabonido, poderia ter sido neto de Nabucodonozor por parte de mãe. A
DANIEL 4 - Erro! Indicador não definido.
rainha mencionada no v.10 com toda probabilidade era a rainha-mãe, que estaria bem
historiadores gregos, a própria existência de Belsazar costumava ser negada pelos críticos.
Graças ao deciframento de numerosos tabletes babilônicos, sabe-se hoje que era Belsazar que
funcionava em Babilônia como co-regente durante a longa ausência de seu pai em Tema.
permitem ter uma idéia mais clara dos últimos acontecimentos em Babilônia, antes de sua
queda. Quando Nabonido voltou à Babilônia na primavera de 539 para celebrar a festa do
Novo Ano, era demasiado tarde para recuperar o apoio popular. No outono do mesmo ano os
deixou a capital para travar uma batalha em Ópis, mas foi tomado prisioneiro. Na batalha de
Sypar, Gubaru (Gobryas das fontes gregas), um general de Ciro, forçou a passagem do rio
Tigre, e as tropas de Babilônia retiraram-se em confusão. Dois dias mais tarde o exército persa
entrou em Babilônia sem encontrar resistência (12 de outubro de 539 a.C.). Não houve
pilhagem, e os templos foram protegidos de modo especial. Belsazar deve ter perecido numa
de Babilônia. Aparentemente ele confiava que a cidade fosse ivulnerável contra todo ataque.
Sua temeridade é patente em sua decisão de celebrar uma grande festa, quando os exércitos
inimigos estavam às portas da capital. Festas extravagantes como estas não eram
Assurbanipal II fez uma grande festa na inauguração de um novo palácio, durante a qual ele
entreteve 69.574 hóspedes durante dez dias. De Alexandre o Grande é dito que convidou dez
DANIEL 4 - Erro! Indicador não definido.
mil hóspedes para sua festa de casamento. W. H. Shea sugere que o banquete visava celebrar a
assunção do poder real por parte de Belsazar, quando chegou a notícia que seu pai tinha sido
aprisionado pelos persas. Tanto Herodoto quanto Xenofonte confirmam que Babilôniam se
ordenou que os vasos do templo que Nabucodonozor tinha trazido de Jerusalém fossem
usados na ocasião. Não somente foram os vasos profanados, mas a ocasião foi transformada
numa celebração desabusada em honra aos deuses de Babilônia (v.4). A orgia logo assumiu o
estava marchando para sua ruína inevitável. À fraqueza militar babilônica juntava-se a
corrupção moral.
A bacanália insensata foi silenciada pela aparição súbita de uma mão que escrevia
no estuque da parede oposta ao rei. A consternação à vista deste espetáculo estranho não
podia ser disfarçada. Como de costume o rei recorreu aos sábios para decifrar a escrita na
Mais uma vez ficou provada a incapacidade da mera sabedoria humana para
desvendar os segredos divinos. O malogro dos sábios contribuiu ainda mais ao alarme do rei e
de seus grandes (v.9). Informada do pânico que reinava na sala do banquete, a rainha mãe
entrou sem esperar ser convidada. O prestígio da rainha mãe tanto nas cortes antigas como
modernas é bem conhecido. Para um exemplo particular ver II Reis 24:12 e 15. A rainha
lembrou como o rei confiava na sabedoria de um certo Daniel, que como resultado tinha
ocupado o cargo de chefe de todos os sábios de Babilônia. Ele deixou bem claro que a
distinção de Daniel residia no fato de que estava "o espírito dos deuses santos", ou melhor "do
DANIEL 5 - Erro! Indicador não definido.
DEUS santo (ver o comentário sobre Dan. 4:9 e 18). O estado de intoxicação de Belsazar
explica o fato dele esquecer o papel de Daniel como intérprete de sonhos na corte de
Nabucodonozor e a razão porque Belsazar não reconheceu Daniel, embora ainda estivesse
"antepassado", como quando Davi é chamado "pai" de muitos de seus descendentes distantes.
Daniel foi convocado à presença do rei e se lhe pediu que fizesse aquilo que os
sábios de Babilônia não tinham podido fazer, a saber, ler a escritura na parede e dar a sua
interpretação. Se tivesse êxito receberia as honras que os outros não tinham logrado receber.
honras oferecidas. Nenhuma ambição material devia empanar seu cargo como representante
do único DEUS verdadeiro. Cumpriria seu dever como embaixador do Altíssimo e não pelo
Nabucodonozor e como tinha sido deposto do trono quando permitiu que o orgulho lhe
tinha ultrapassado os limites da paciência divina e selado sua própria sorte. Esta sorte foi
prefigurada nas 4 breves palavras escritas na parede: "Menem, Menem, Tequel e Parsim".
Tanto quanto possamos julgar não havia nada particularmente misterioso quanto
sobrenatural elas exigiam uma sabedoria mais do que humana para acertar com seu
DANIEL 5 - Erro! Indicador não definido.
significado fundamental.
significado 'numerado' ou 'contado'. Por iluminação divina Daniel extraiu desta palavra a
interpretação, "Contou DEUS o teu reino e deu cabo dele" (v.26). TEQUEL como MENEM
devia ter sido vocalizado como um particípio passivo TEQUIL, "pesado". A interpretação
divina foi, "pesado foste na balança e achado em falta" (v.27). A idéia de pesar o coração em
balança diante do juiz celeste era corrente na teologia egípcia e certamente não era
desconhecida em Babilônia. Pompa e orgulho não podiam compensar a falta de peso moral no
caráter de Belsazar.
"porção". O plural parsim pode também ser traduzido por "pedaços". Daniel interpretou as
palavras como significando: "dividido foi o teu reino, e dado aos medos e aos persas". Sob o
ataque dos medos e persas o Império Babilônico estava sendo destroçado. O comportamento
chegaram demasiado tarde. Naquela mesma noite Belsazar foi morto, mais provavelmente
numa escaramuça em volta do palácio, e a História do Oriente Próximo virou outra página. Os
Uma verdade importante que ressalta do texto é que o Império de Babilônia devia
ser dado aos "medos e persas", tratado como uma unidade política. A teoria de que o autor de
Daniel cria na existência de um império medo seguindo ao de Babilônia foi inventada para
favorecer a opinião de que a Grécia e não Roma constitui o quarto império da profecia. Este
babilônicas e persas pouco contribuíram até agora para esclarecer a identidade. Para resolver a
dificuldade diversas conjecturas têm sido propostas através dos anos. Uma é que Dario o
Medo foi Astíages, o último rei da Média antes de sua conquista por Ciro. Outra sugestão é
que Dario o Medo foi Cambises, filho de Ciro. O fato, porém, é que Cambises não poderia ter
62 anos em 539 a.C., como o v.31 afirma. Uma terceira hipóteses que Dario o Medo foi
Gobryas, governador de Babilônia debaixo de Ciro. Gobrias das fontes gregas é então
Babilônia". A objeção principal a esta declaração é que Gubaru ainda vivia muito tempo
depois da queda de Babilônia, e portanto, não é provável que tivesse 62 anos de idade ao subir
ao trono. A quarta posição, que é preferida pelo SDABC, é que Dario o Medo era Ciáxares II,
filho de Astíages e tio de Ciro em virtude de ser o irmão de Mandane, a mãe de Ciro, bem
Wiseman e outros preferem ver em Dario o Medo outro nome de Ciro o Persa. Na opinião de
Wiseman, Dan. 6:28 devia rezar: "Assim este Daniel prosperou durante o reinado de Dario,
isto é, o reinado de Ciro o persa". Que um monarca pudesse ter dois nomes não é sem
precedente. Tiglatepileser III (745-727 a.C.) da Assíria assumiu o nome de Pul(u) como rei de
NOTAS
DANIEL 6
o cap. 6 reza mais como um panegírico de Dario. No enredo deste capítulo os cortesões e não
o rei são os vilões. O rei aparece como protetor de Daniel contra as intrigas dos altos
capítulo. Note-se mais uma vez que um retrato tão favorável de um rei pagão não evocaria
nenhuma simpatia no clima altamente polarizado da época dos macabeus. A solução que
muitos estudiosos propõem é de atribuir uma data muito anterior para a composição desta e
outras histórias da primeira parte do livro, embora retendo uma data no segundo século para a
seção profética. Mas esta solução contradiz a unidade evidente do livro. É preferível manter a
data tradicional do livro que é apoiada pelo colorido local das histórias, e sua familiaridade
número de satrapias, 120, parece discordar do número que se sabe ter existido nos dias de
Dario I (522-486), de acordo com Herôdoto.1 É bem possível que uma satrápia designasse
tanto uma província como suas subdivisões. Alguns historiadores gregos usam o termo
"sátrapa" para oficiais inferiores do reino. Afim de garantir um controle melhor dos sátrapas
deste vasto império três presidentes foram designados, dos quais Daniel era um (v.2). Uma
DANIEL 6 - Erro! Indicador não definido.
grande preocupação era que o rei não sofresse dano, certamente na questão do recolhimento
de impostos.
rei pensava confiar Daniel com responsabilidades ainda maiores. Infelizmente o rei não levou
em consideração a inveja que iria despertar pela promoção de um estrangeiro acima de seus
compatriotas. Como era de esperar, presidentes e sátrapas feridos em seu amor próprio
Seu despeito piorou ainda mais quando não lograram achar falta em Daniel "porque ele era
fiel". Ficaram perplexos diante da fidelidade do profeta.Vendo bloqueada esta via de ataque,
seus adversários procuraram a seguir achar falta com sua religião. Se não houvesse um
assinar um edito proibindo durante um mês que alguém fizesse petição a qualquer deus, ou a
qualquer homem, exceto ao rei. A fórmula apelaria à estima-própria do rei, e ao mesmo tempo
colocaria a suposta lealdade dos funcionários numa luz favorável. Aparentemente contavam
com a incapacidade do rei em adivinhar sua verdadeira intenção. Para garantir que o rei não
mudasse da idéia quando percebesse o objetivo do interdito, chamaram sua atenção para a
No que respeita a Daniel, não iria quebrar seus hábitos de oração por causa do
edito real. Era-lhe mais importante obedecer a Deus do que aos homens. Em questões
puramente seculares era hábito de toda sua vida conformar-se com as leis do país. Mas não
permitiria que leis humanas interferissem com suas convicções religiosas. A despeito do
interdito real, continuaria a orar três vezes ao dia no seu quarto, "onde havia janelas abertas da
perderam tempo em correr ao palácio com sua acusação vil. Lembraram ao rei as palavras do
interdito, e o rei tomado de surpresa admitiu que de acordo com a lei dos medos e persas o
decreto era irrevocável. Montgomery cita um caso no reinado de Dario III (336-331), quando
culpou-se por ter grandemente errado; mas não era possível anular o que tinha sido feito por
autoridade real".2
Somente agora o rei percebeu que o interdito que assinara visava particularmente
a Daniel. Em sua aflição o rei fez tudo que pode para livrar Daniel da sentença horrível que
sobre ele pesava, mas em vão. Seus oficiais trataram de bloquear qualquer solução legal,
invocando com hipocrisia a irrevocabilidade da lei dos medos e persas (vv.14-15). Mas o que
o monarca não pode fazer por causa da força da lei, Deus faria. Esta é a lição principal do
capítulo.
Contrariado em seus sentimentos o rei ordenou que Daniel fosse lançado na cova
dos leões, mas não sem expressar a esperança de que o Deus a quem Daniel servia tão
fielmente o livrasse. Pode-se imaginar que foram os oficiais invejosos que fizeram pôr uma
pedra sobre a boca da cova, e que fizeram que a mesma fosse selada com o sinete do rei e o
seu, "para que nada se mudasse a respeito de Daniel" (v.17). Foi uma demonstração tocante da
alta estima em que o rei tinha seu servo, que ele passou a noite em jejum e certamente em
súplicas. Ao romper do dia o rei dirigiu-se apressado à cova dos leões cheio de esperança de
encontrar Daniel vivo. Com voz comovida o rei chamou a Daniel: "Daniel, servo de Deus
vivo, dar-se-ia o caso que o teu Deus, a quem tu continuamente serves, tenha podido livrar-te
DANIEL 6 - Erro! Indicador não definido.
dos leões?"(v.20). Para sua surpresa e alegria Daniel se achava vivo e pode contar ao rei como
Deus enviara seu anjo e fechara a boca aos leões"(v.22) Uma referência a este acontecimento
memorável é encontrada em Heb, 11:33, onde este livramento é atribuído ao poder da fé. Dan.
A letra da lei tinha sido obedecida. Esta só exigia que Daniel fosse lançado na
cova dos leões (v.7). Não especificava o limite de tempo. Em obediência à ordem do rei
Daniel foi tirado da cova. Furioso com a intriga de seus oficiais, o rei agora ordenou que eles e
suas famílias fossem lançados na cova, onde foram imediatamente esmigalhados pelas feras.
A crueldade do ato é chocante, mas não podemos julgar uma monarca pagão pelas normas de
uma época mais esclarecida. À vista dos massacres perpetrados em campos de concentração
por uma nação dita civilizada, o desfecho é menos absurdo do que Montgomery, escrevendo
DEUS de Daniel por ser ele o único DEUS que vive e cujo domínio dura para sempre.
Com este relato da intervenção divina nos negócios terrenos conclui-se a primeira
parte do livro. O propósito desta e outras narrativas foi de promover fé no DEUS que pode
salvar aqueles que põem sua confiança Nele. A fé atingira o nadir entre os judeus exilados
agora que os setenta anos preditos por Jeremias deviam expirar. Intimidados pelo poder e
majestade de um império terrestre, os exilados punham em dúvida cada vez mais a soberania
universal de jeová. A tarefa de Daniel, como de seu contemporâneo Ezequiel, era de reanimar
reconhecimento: "e sabereis que eu sou o Senhor Deus" (Ez. 23:48; 24:24,27; 25:7,11; 26:6,
etc). Israel devia ser levado a reconhecer que Jeová era o único Deus verdadeiro e que
nenhum poder terrestre poderia frustrar Seus desígnios. Não haveria futuro para os judeus
como nação se esta verdade existencial não fosse gravada em sua consciência uma vez por
todas.
Daniel, por sua parte, sentiu a necessidade de impressionar seu povo com a
verdade de que DEUS é o Senhor da história, que Ele "remove reis e estabelece reis" (2:21),
que um dia o reino visível de DEUS seria estabelecido, e que Sua soberania não passaria a
outro povo (2:44), e sobretudo que os viventes saibam "que o Altíssimo tem domínio sobre o
reino dos homens e o dá a quem quer" (4:17-25). Não somente estas verdades tinham sido
demonstradas nos dias de Daniel, mas eram igualmente válida para o restante da história do
homem neste planeta. Se o passado tinha vindicado o governo benévolo de DEUS, o futuro o
NOTAS
3. Ibid., p.278.
DANIEL 6 - Erro! Indicador não definido.
DANIEL 7
INTRODUÇÃO
passa a guiar seus leitores através dos vários episódios na história da salvação até à
inauguração do reino eterno de DEUS. A visão de Daniel agora volta-se para o futuro, e
particularmente aquela parte do futuro que futuro a Igreja mais diretamente. Da vasta tela da
história apenas alguns pontos são focalizados por causa de seu interesse religioso. A soberania
divina e a liberdade humana aparecem entretecidas num magnífico gobelino que se estende
aeternitatis. Como alguém que tinha acesso ao conselho de DEUS (Jer. 23:18, 22), e somente
este acesso conferia autoridade ao profeta, ele delineia o futuro do ponto de vista do céu, de
tal modo que acontecimentos chaves na terra são vistos como a repercussão de
político. Todos eles têm sua conotação religiosa. Cada profecia indicará que DEUS é
DANIEL 7 -
soberano, que a história marcha rumo ao alvo de Sua própria escolha. O tema dominante é
perseguição em mãos de poderes demoníacos, é a eles que afinal será dado o reino eterno
(vv.22, 27). O cap. 8 exalta a verdade da vindicação do santuário celeste no qual se centraliza
toda obra da salvação, ao passo que o cap. 9 revela aquele aspecto do plano da redenção pelo
qual o termo final seria posto ao pecado, e a justiça eterna seria estabelecida em definitivo (v.
24). Os cap. 10 e 12 constituem uma grande visão com um prólogo (cap. 10) e um epílogo
(cap. 12) do qual o clímax é a ressurreição dos santos mortos para a vida eterna (12:2).
A Perspectiva do Tempo
num grande "dia do Senhor". Num oráculo referente à Babilônia Isaías juntou a destruição
daquele império com o fim do mundo. Ver particularmente Isa. 13:6-13 com sua conotação
do exílio em Babilônia como introduzindo um novo céu e uma nova Terra. À maior parte dos
profetas não lhes foi dada a percepção de que longos intervalos de tempo separavam os
precede sem outra "o grande e terrível Dia do Senhor". Ageu descreve a restauração do templo
depois do exílio como levando diretamente à era Messiânica (2:6-9). Mal. 3:1-5 equaciona a
pergunta que fizeram a Jesus antes de Sua ascensão: "Senhor, será este o tempo em que
DANIEL 7 -
restaures o reino a Israel ?" (AT. 1:6). No tempo em que escreveu a primeira epístola aos
tessalonincenses Paulo parecia esperar a vinda de Cristo em seus próprios dias (I Tes. 4:13-
17). Somente em II Tes. 2:1-4 ele esclarece que a apostasia deve preceder o dia da volta de
Cristo.
sido o desígnio divino não fazer a Igreja imediatamente cônscia do longo tempo que
decorreria antes da vinda de Cristo. Fazê-la consciente teria sido muito doloroso para a
tornou possível quando a inspiração divina lhe revelou períodos proféticos cuja duração seria
história da redenção podiam ser percebidos como separados por intervalos mais ou menos
longos. Assim em Daniel 9 a vinda do Messias é claramente separada da volta do exílio por
vista estender-se sobre um período de 1.260 dias proféticos, isto é, 1260 anos literais (Ap.
12:6, 14 e 13:5).
mão da Providência. Pois estes dois livros suprem um senso de perspectiva na visão profética
do futuro como nenhum outro livro no canon. Não fosse pelas profecias de Daniel 7,8 e 9 e
Apocalipse 11,12 e 13, a Igreja não saberia onde se encontra no curso da história. Mas graças
14), e sua interpretação (vv.15-27). A visão por sua vez pode ser dividida em duas partes:
pergunta de Daniel seguida pela breve explicação do anjo (vv.15-18), e a segunda pergunta de
Verso 2 a Visão é altamente simbólica, mas a maior parte dos símbolos já tinha
sido usada por um ou outro dos profetas clássicos, e muitos deles são interpretados no cap.
Ezequiel descreve o ataque de muitas nações contra as montanhas de Israel nos termos seguin-
tes: "Então subirás, virás como tempestade, far-te-ás como nuvem que cobre a terra, tu e todas
as tuas tropas"(Ez.38:9). A luta perpétua entre as nações por um lugar debaixo do sol é
comparada por Isaías com o bramido do mar e o rugido de suas "impetuosas águas"
(Isa.17:12-13). Em Apo. 17:15 as "águas" são interpretadas como "povos, multidões, nações e
línguas". É claro, então, que os "4 ventos do céu" que "agitavam o grande mar" (v.2)
constituem um símbolo apropriado dos choques militares entre as nações em sua luta contínua
pela supremacia.
como "4 reis que levantarão da terra". No v. 23 o quarto animal é interpretado como o quarto
reino da terra, o qual será diferente de todos os reinos. É evidente, então, que os 4 animais
representam 4 reinos que exercerão domínio universal por um tempo, do mesmo modo que os
Verso 4 "O primeiro era como leão, e tinha asas de águia". O leão que errava
Babilônia a um leão (Jer. 4:7 e 50:17). Ezequiel a compara a uma águia (Ez.17:3 e 12).1 A
DANIEL 7 -
combinação de leão e águia era um motivo comumente usado na arte de Babilônia. Estátua de
touros e leões alados costumavam guardar a entrada dos palácios na Assíria. A estátua de um
leão de basalto foi desenterrada perto das ruínas de Babilônia e pode ser vista pelos turistas
O arrancar das asas do leão e a perda do seu caráter bestial parecem apontar para a
decadência militar eram visíveis muito tempo antes do colapso do poderio babilônico em 539
a.C.
Verso 5 O segundo animal era como um urso. Como o leão estava em casa nas
planícies da Mesopotâmia, assim o urso tinha seu habitat nas montanhas da Pérsia. Os traços
de crueldade e voracidade do urso são atribuídos aos medos em Isa. 13:17 e 18. Mesmo se a
aptidão do símbolo nos escapa, é claro nas páginas da história que a Medo-Pérsia seguiu à
Babilônia como a potência que dominou o mundo conhecido de então o fato do urso se ter
levantado sobre um dos seus lados parece apontar para o fato de que primeiro os medos, e
depois os persas, detiveram a liderança nesta monarquia dupla. É um fato que os medos foram
os primeiros em se organizar num reino unido e a manter a Pérsia em vassalagem. Mas com a
vitória de Ciro II em 550 a.C. as mesas se inverteram, e desde então reis persas ocuparam o
Babilônia em 539 a.C., e o Egito em 525 a.C. A estes outros territórios menores foram
leopardo é conhecido pela sua rapidez e agilidade. Sua rapidez é realçada pela presença de 4
asas nas costas. O Império Greco-Macedônico, fundado por Alexandre o Grande é aqui
simbolizado. O que o distinguiu do império precedente foi a rapidez de suas conquistas. Com
a morte de seu pai Filipe da Macedônia, em 336 a.C., Alexandre, com apenas 20 anos de
idade, tomou as rédeas do poder, e para a admiração de todos conseguiu unificar os estados
gregos e lançá-los contra a Pérsia. Embarcou numa campanha relâmpago para conquistar o
vasto território da Pérsia. Com um exército de 35.000 homens cruzou o Helesponto e derrotou
o pequeno exército persa às margens do Grânico em 334. Toda a Ásia menor caiu em suas
mãos em questão de meses. A segunda grande batalha foi travada em Isso, em 333 a.C., e a
despeito da superioridade numérica do exército persa, sob o comando de Dario III, este sofreu
uma derrota ignominiosa diante do exército greco-macedônico muito mais aguerrido. Esta
vitória foi seguida pela conquista de Damasco, onde se achava parte do tesouro persa, e então
pela conquista de Arvade, Sidon e Tiro, privando assim os persas de seus portos na Fenícia.
No Egito Alexandre foi saudado como libertador do país da opressão persa. Sem perder tempo
Alexandre voltou para a Ásia, atravessou os rios Eufrates e Tigre, e enfrentou os exércitos de
Dario III pela última vez em Arbelas (Gaugamela), não longe da antiga Nínive, em 331 a.C. A
derrota do inimigo foi tão completa que Alexandre não teve dificuldade em conquistar as
cidades de Babilônia, Susã, Persépolis e Ecbatana em rápida sucessão. Nos anos seguintes seu
exército penetrou através d território inimigo até a fronteira da Índia. Nunca tanto território foi
conquistado em tão pouco tempo. Sonhando, enquanto residia em Babilônia, com a conquista
do leopardo. Estas encontram seu paralelo nos 4 chifres do bode peludo de Dan. 8:8, 21 e 22,
o qual é interpretado pelo anjo como sendo o reino ou rei da Grécia, e os quatro chifres
DANIEL 7 -
Alexandre. A decisão foi feita pela batalha de Ipso em 301 a.C., na qual Antígono perdeu a
vida. Como resultado dessa batalha o Império de Alexandre foi desmembrado: Ptolomeu
ficou com a Trácia e uma parte da Ásia Menor, e Seleuco herdou a parte oriental do Império,
incluindo partes da Síria e da Ásia Menor. O poderio destes reinos e suas fronteiras
respectivas variaram durante os séculos, mas grosso modo o símbolo das "quatro cabeças" é
bem apropriado para descrever as várias partes do Império de Alexandre até sua absorção
sobremodo forte". Seus "grandes dentes de ferro" lembram-nos a monarquia férrea em Dan. 2.
O avanço inexorável dos exércitos romanos encontra eco na frase, "devorava e fazia em
pedaços, e pisava aos pés o que sobejava". Esta descrição é muito parecida com a do cap. 2,
"como ferro quebra todas as cousas, assim ele fará em pedaços e esmiuçará" (v.40).
Em vista do paralelismo que salta aos olhos nas profecias dos cap. 2, 7 e 8, a
interpretação dos sucessivos impérios deve ser coerente. Se no cap. 2 a cabeça de ouro é
seguinte, a saber a Medo-Pérsia (v.20), e este por sua vez é sucedido pelo império da Grécia
(v.21), segue-se que nestes 3 capítulos o quarto império deve ser Roma. O desejo de escapar
desta conclusão inspira-se não numa exegese objetiva do texto, mas no conceito que um
escritos do segundo século nada podia saber quanto ao futuro papel de Roma. Em resposta a
esta objeção, poder-se-ia dizer que ao passo que é apropriado falar das "quatro cabeças" do
contrário aos fatos dizer o mesmo do Império Persa. Nunca se dividiu em 4 reinos como a
profecia de Dan. 8:22 prediz da Grécia. Além disso, se o leopardo representa a Grécia, como
comentaristas liberais mantêm, o quarto animal teria 10 chifres de acordo com Dan. 7:7 e 4
de acordo com 8:22. Seria uma maneira altamente confusa de interpretar os símbolos. Tudo se
entrosa, porém, se o terceiro animal é interpretado como a Grécia, e o quarto como Roma. Isto
Os "dez chifres" corresponderiam então aos dez dedos da estátua do cap.2, onde
sob o impacto das invasões bárbaras. Com o rolar dos séculos o foco de atenção na profecia
muda gradualmente do oriente para o ocidente, do mesmo modo que o centro de gravidade do
se torna cada vez mais clara. Este verso marca de fato uma transição de considerações
meramente seculares - uma sucessão de impérios - para as implicações religiosas da visão que
é o assunto do resto do capítulo. Como já foi observado, o livro de Daniel é acima de tudo um
livro religioso. Sua mensagem é antes de tudo uma mensagem religiosa. O contexto histórico
nações surgiu "outro pequeno". A caracterização deste chifre como pequeno deve ser
explicada por seu caráter anti-religioso. Seu papel, porém, é muito importante, pois recebe
mais atenção do que qualquer outro aspecto da visão. Este chifre é dito possuir "olhos, como
os de homem, e uma boca que falava com insolência". Os olhos sem dúvida denotam inteli-
gência e sagacidade. A partir da informação suplementar que é dada nos vv.20 e 21, e da
DANIEL 7 -
interpretação nos vv.24 e 25, é manifesto que este chifre representa uma potência política-
religiosa, pois proferiria "palavras contra o Altíssimo", perseguiria "os santos do Altíssimo", e
cuidaria "em mudar os tempos e a lei"(v.25). Os Reformadores do séc. XVI eram unânimes
Versos 9 e 10. Estes versos transportam o leitor para a esfera celeste onde uma
cena de julgamento é descrita. Em harmonia com seu conteúdo sublime, estes versos foram
escritos em forma poética. O tribunal celeste é presidido pelo "Ancião de dias". Esta descrição
recorda textos como: "Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de
habitação, e por baixo de ti estende os braços eternos". Uma visão do Deus inefável sentado
no Seu Trono é descrita em Ez.1:26-28. O profeta Micaías descreve a corte celeste em termos
semelhantes: "Vi o Senhor assentado no seu trono, e todo o exército do céu estava junto a ele,
à sua direita e à sua esquerda" (I Reis 22:19). À vista da riqueza de imagens que se encontram
simbolismo foi extraído. Afinal Daniel não estava compondo uma peça literária, mas
descrevendo o que viu em visão. Se paralelos devem ser procurados, estes devem ser nos
escritos dos profetas que enchiam a memória do escritor, e não na mitologia pagã.
céus se encontra em textos como Exodo 32:23; Sal.56:8; Mal.3:16, etc. Esta visão da corte
celeste é um lembrete de que homens e nações deverão comparecer um dia diante do tribunal
de Deus (Rom.14:10). Tiranos terrestres podem vangloriar-se por um breve tempo de suas
proezas escritas em sangue, mas o Juiz de toda a terra os chamará um dia a prestar contas. O
DANIEL 7 -
tornou-se patente no "chifre pequeno". O tribunal celeste pronuncia sentença contra o animal,
mas sua execução se realiza nesta terra. Embora o "chifre" persistisse em sua atividade
insultuosa enquanto o tribunal celeste estava em sessão, sua destruição final é certa. O
anúncio de que o "animal foi morto" é prolético. Antecipa-se aqui a sentença que no final
mente de muitos leitores: "Que aconteceu com os outros animais ?" A resposta é que quanto
aos outros animais seu domínio já tinha sido tirado, à medida que cada um foi superado pela
potência mundial seguinte. O aramaico perfeito é melhor traduzido aqui pelo mais-que-
perfeito, de acordo com o contexto, "quanto aos outros animais, seu domínio tinha sido
tirado". Mas embora cada animal tivesse sido suplantado pelo seguinte, "foi-lhes dada
prolongação de vida por um prazo e um tempo". Na transição de uma entidade política para
outra nunca se dá uma exterminação total da população em causa, nem há perda total das
realizações culturais. Deste modo alguns elementos de cada império sobrevivem no seguinte.
confere um reino que jamais será destruído. Em vista do fato que Cristo assume para Si o
título "Filho do homem" em passagens escatológicas como Mat. 24:27, 30, 39, 44; 25:31;
26:64, não resta dúvida que a cena descrita em Dan. 7:13-14 refere-se ao fato de Cristo
receber o reino antes da Sua vinda a esta terra na consumação dos séculos. Que Cristo deve
DANIEL 7 -
receber o reino antes de voltar a esta terra é indicado na parábola de Luc. 19:11-27. Aí Cristo
fala de "certo homem nobre" - evidentemente uma referência a Si mesmo - que "partiu para
uma terra distante, com o fim de tomar posse de um reino, e voltar" (v.12). A parábola
continua no v. 15: "Quando ele voltou depois de haver tomado posse do reino..." É claro,pois
que quando Cristo voltar a esta terra, Ele terá recebido o reino. Pouco importa se a parábola
foi sugerida por um acontecimento histórico real, como por exemplo, o fato de tanto Herodes
I como seu filho Arquelaus terem ido à Roma para serem confirmados reis. O fato é que o
Dan. 7:9-10 e 13-14. Não há dúvida de que o elemento mais importante de um reino são os
súditos, e não o território sobre o qual o rei exercerá sua soberania. O Tribunal Celeste não
decide o direito de Cristo receber o reino. Este direito Cristo adquiriu por Sua morte sobre a
cruz (Ap.5:9). O que o tribunal celeste deve determinar é quem terá direito a ser um súdito do
reino eterno de Cristo (Ap.22:14). Esta questão de suma importância deve ser decidida na
base do que está escrito nos livros (Dan. 7:10 Ap. 20:12). Nomes registrados no "Livro da
Vida" podem ser apagados (Ap.3:5). Somente aqueles que perseverarem até o fim serão
salvos (Mat.24:13). Há muitos que começam bem a jornada do cristão, mas que no final vêm
"a naufragar na fé" (I T Segue-se do que acaba de ser dito que, ao receber o reino, o Filho do
homem recebe o rol dos santos que constituem o reino. São Seus troféus e Sua glória; foram
resgatados para DEUS pelo "sangue de Cristo", homens "de toda tribo, língua, povo e nação"
(I Ped. 1:18, 19 e Apoc. 5:9). O elo lógico entre o julgamento de Dan. 7:9-10 e a entrega do
reino ao filho do homem é este: o julgamento decide quem são os súditos que constituem o
reino que é dado a Cristo. Ao receber os "filhos do reino", Cristo recebe o reino. Salientemos
uma vez mais que o tribunal divino não determina os méritos de Cristo para receber o reino,
DANIEL 7 -
mas as qualificações dos súditos cujos nomes estão escritos no "livro da vida".
se o reino é dado a Ele, ou aos Santos do Altíssimo. Uma vez que se reconhece que os santos
são "co-herdeiros com Cristo", o dilema desaparece (Rom. 8:17). Com efeito Daniel não faz
distinção entre o Filho do homem receber o reino (v.14) e os santos receberem o reino (vv.18,
22 e 27). Em conseqüência Cristo pode saudá-los no final dizendo: "Vinde, benditos de meu
Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" (Mat.25:34)
Alguns comentaristas pretendem que o ser designado por "um como o Filho do
homem" representa um reino espiritual, contraste com os animais que simbolizavam os reinos
deste mundo. Não é nada provável que este contraste entre "animais" e "homem"
desempenhasse qualquer papel na escolha que Daniel fez dos símbolos. Afinal de contas, o
Filho do homem não é símbolo de um reino celeste, mas recebe do Altíssimo um reino
celeste.
desse uma interpretação sobrenatural dos momentos críticos na grande controvérsia entre a luz
e as trevas. Como outros comentários no livro mostram, o profeta sempre sofria fisicamente e
emocionalmente o efeito dessas visões (7:28; 8:27; 10:8, 16 e 18). Mas nada impede que ele
peça a um dos anjos presentes o significado das cousas que acabava de ver. A réplica é
extremamente breve, e aparentemente não continha mais do que o vidente podia suportar
naquele momento. O anjo explica que os 4 animais representam 4 reis (reinos). Segue-se a
cuja aparência retorna à sua mente com pormenores adicionais. Os versos 2 a 8 continham
apenas um esboço muito breve da história universal. O profeta recorda agora pormenores que
DANIEL 7 -
escaparam à sua atenção da primeira vez. A ponta que tinha "olhos com os de homem, e uma
boca que falava com insolência" é vista fazer guerra aos santos e prevalecer sobre eles (v.21).
A cena do julgamento também se lhe torna mais clara. Os santos podem sofrer perseguição da
parte da ponta pequena, mas se lhes assegura que no tribunal divino sentença será pronunciada
a seu favor, e que afinal eles receberiam o reino, reino este que jamais passará (v.22). É
preferível ler com o aramaico, "o Ancião de dias tomou Seu lugar" no tribunal celeste, em vez
de simplesmente "veio". Trata-se neste verso de se fazer justiça aos santos, e não de entregar o
julgamento aos santos. de acordo com o Novo Testamento somente depois de sua própria
vindicação é que aos santos se dá o poder de julgar o mundo e os anjos (I Cor. 6:2-3; Ap. 20:1
ss).
A guerra movida pelo chifre pequeno aos santos é antes de tudo uma guerra
religiosa. Não é questão apenas de perseguição, prisão e morte. É questão de distorção de seu
caráter e de sua crença. Com efeito o,primeiro dever dos inquisidores era demonstrar a
natureza herética das crenças e práticas dos acusados. Seu caráter cristão era posto em
pequeno, mas ter verdadeiro caráter vindicado. A corte celeste preocupa-se com estabelecer o
caráter dos acusados, e assim manter o direito dos santos, em vista de sua relação com Cristo,
à sua herança eterna. Àqueles que são aprovados no tribunal celeste "foi dada uma vestidura
branca" (Ap. 6:11). A vestidura branca é definida em Ap. 19:8 como "os atos de justiça dos
santos", ou simplesmente como "a justiça dos santos". O que reclamam é o reconhecimento de
designado como "o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante
DANIEL 7 -
de nosso DEUS". O direito do crente de herdar a vida eterna é contestado por Satanás, e
precisa ser defendido por Cristo. Esta contestação se efetua no tribunal celeste, à medida que o
registro de cada crente em Cristo é examinado, e explica porque o julgamento que precede o
advento tem-se prolongado por tantos anos. Em vista das questões eternas em jogo,
compreende-se porque Satanás tenta exagerar o desmerecimento de cada santo. Mas todo
crente sincero pode descansar no fato que "temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o
intérprete angélico prossegue com uma explicação mais pormenorizada do quarto animal e
dos dez chifres: "O quarto animal será um quarto reino na terra". Este verso, como já visto,
fornece a chave para a interpretação dos outros animais: eles simbolizam reinos. O quarto
animal, o Império romano, foi "diferente de todos os reinos" sobre tudo por causa de seu
poder irresistível, "devorará toda a terra e a pisará aos pés, e a fará em pedaços, e por causa de
sua maior coesão interior, que lhe permitiu dominar o mundo durante mais de meio milênio.
Outro traço característico é que este animal possuiria dez chifres, que certamente representam
A atenção converge a seguir sobre o décimo primeiro chifre, que seria diferente
dos primeiros e abateria a três reis. Os reformadores e os intérpretes, em geral, até o final do
séc. XVIII, não tinham dúvida de que este chifre simbolizava Roma Papal, a qual, diferente de
outras potências, exercia tanto autoridade política como religiosa. Os 3 reis que seriam
abatidos a fim de abrir caminho para o papado foram os reinos arianos dos hérulos, vândalos e
ostrogodos. Enquanto estas potências arianas eram influentes, o papado não podia exercer
Seus traços religiosos são delineados no v.25. Seria uma potência blasfematória
DANIEL 7 -
que arrogaria para si títulos e prerrogativas que pertencem a DEUS somente. Paulo deve ter
tido em mente o mesmo poder, quando descreveu a apostasia que ocorreria na Igreja num
futuro tão distante (II Tes.2:4-12). João no Apocalipse também se refere a uma "besta" que
A extensão das pretensões papais é ilustrada pela encíclica ditada pelo Papa Leão
XIII, em 10 de janeiro de 1890, na qual afirma que "o pedagogo supremo na Igreja é o
Pontífice
romano. A união das mentes, portanto, exige... completa submissão e obediência voluntária à
32:761).
do Altíssimo, e isto por "um tempo, dois tempos e metade de um tempo". O papado admite ter
perseguido os hereges, e defende o ato como um exercício legítimo de sua autoridade. Quanto
aderentes da Reforma no Países Baixos, Espanha, Itália, França, etc., ver O conflito dos
milhares de assim chamados hereges à prisão e à morte, A Enciclopédia Católica diz: "Na
bula 'Ad extirpanda' (1252) Inocêncio IV declara: 'Quando aqueles julgados culpados de
heresia tiverem sido entregues ao poder civil pelo bispo ou seu representante, ou pela
de cinco dias no máximo executara as leis feitas contra eles'... Nem pode haver dúvida sobre
que regras civis se tem em mente, porque as passagens que ordenam queimar os hereges
DANIEL 7 -
impenitentes foram inseridas nos decretos papais das constituições imperiais 'Comissis nobis'
As autoridades civis, portanto, eram ordenadas pelos papas, sob pena de excomunhão, de
período de supremacia papal, quando sua autoridade na Europa estava no auge. Ap. 12:14
parece referir-se aos mesmo eventos, pois aí é dito que o dragão, a saber Satanás, por
intermédio de potentados terrestres, perseguiria a Igreja também por "um tempo, tempos e
metade de um tempo". O mesmo período aparece em Ap. 12:6 como "mil duzentos e sessenta
dias", e em Ap. 13:5 como "42 meses". Como 42 meses de trinta dias fazem 1260 dias, é
óbvio que todas estas profecias se referem ao mesmo período. Compreende-se de igual modo,
que um tempo significa um "ano" de 360 dias. Daí resulta que o período de um ano, mais dois
anos, mais meio ano de Dan. 7:25 corresponde a 1260 dias. Como a profecia é escrita em
linguagem simbólica, é razoável supor que o termo "dias" seja aqui tomado simbolicamente.
Tomado literalmente um período de 1260 dias, ou três anos e meio, seria irrisório
considerando o vasto intervalo de tempo coberto por estas profecias. Basta dizer que os vários
impérios que aparecem neste capítulo exerceram seu poder durante vários séculos. E se esta
profecia, como seu paralelo no cap.2, deve atingir o final da história, quando DEUS
estabelece Seu eterno reino, então o período de 1260 dias deve ser interpretado em termos de
um dia por um ano, como vários textos bíblicos o sugerem (Núm.14:34; Ez.4:6, etc).
SDABC, vol IV, pp. 834, 835. Para a validade da equivalência dia-ano em matéria de
interpretação profética ver William H. Shea, Selected Studies of Prophetic Interpretation, pp.
56 a 85.
Muitos dos antigos intérpretes protestantes viam o começo do período dos 1260
anos em 538 a.D., quando os Ostrogodos foram forçados a levantar o cerco de Roma,
autoridade do papa em assuntos eclesiásticos. Muitos intérpretes crêem que os 3 reis do v.24,
após o outro, deixando o papado livre para estender sua influência sobre áreas cada vez
maiores na Europa. Esta influência foi grandemente cerceada pela Reforma Protestante no
séc. XVI, e de novo em 1798, quando o General Berthier, obedecendo ordens do Diretório em
Paris, prendeu o Papa Pio VI, enviando-o para o exílio em Valência na França, onde morreu
dois anos depois.4 Embora outro papa fosse eleito em 1800, grande foi a perda de prestígio
para o papado. Quanto aos pormenores da ascensão e queda do papado ver SDABC, vol IV,
pp. 834-838.
detalhes desta profecia seja dificilmente atingível, é claro que o tribunal celeste terá a última
palavra, e que uma sentença de morte será pronunciada sobre a potência que oprimiu os santos
nesta terra. "O tribunal, o mesmo tribunal descrito nos vv. 9 e 10, "se assentará",
Altíssimo". Serão declarados dignos de serem súditos do reino de DEUS, e pela mesma razão
se tornarão co-herdeiros com Cristo do "domínio eterno" que lhe será concedido pelo
DANIEL 7 -
celeste dada nos vv. 9-14. Além disto, o v. 26 nos permite deduzir que o tribunal divino entra
em sessão algum tempo depois do período da supremacia papal. É interessante notar que o
meio deste longo período coincide com o zenite do poder papal durante o pontificado do papa
Inocêncio III (1198-1216), que foi o promotor da cruzada contra os albigenses no sul da
NOTAS
1. Ver S. H. Langson, "Semitic Mithology", The Mithology of all Races, vol 13, pp. 118, 177-
282.
Sibilinos, X, 414, e por Josué ben Levi. Ver G. F. Moore, Judaísmo, Vol II, p.335.
3. Joseph Blotzer, art. "Inquisition", The Catholic Encyclopedia, Vol VIII, citado no SDABC,
4. L. Von Ranke, History of the Popes, Vol II, tr., pp. 458-9.
DANIEL 8
Verso 1 Esta visão é datada do terceiro século do reinado de Belsazar. Esta data
corresponde a c.550/549a.C., que acontece ser o mesmo ano em que Ciro revoltou-se contra
Verso 2 Daniel é transportado em visão para Susã, outrora capital de Elão, mas
que tinha sido incorporada no território da Pérsia. Isto é significativo porque a visão omite os
últimos anos do decadente império babilônico, e focaliza a atenção nos acontecimentos que
transcorrem depois que a Medo-Pérsia assume a liderança nos negócios no Oriente Próximo.
No final da visão Daniel se encontra de novo em Babilônia, tratando "dos negócios do rei"
(v.27). Não há razão, pois, para imaginar que Daniel se jubilara depois da morte de
Nabucodonozor.
monarquia unida da Média e Pérsia. "Reis" e "reinos" se equivalem tanto neste capítulo como
no cap. 7. Assim os 4 chifres que brotaram no lugar do "grande chifre" são interpretados como
4 reinos (v.22 u.p.). A profecia não está lidando com reis individuais, mas com entidades
políticas maiores e mais duradouras. A única exceção a esta regra é o "chifre grande" do "bode
peludo", que é dito ser "o primeiro rei", isto é, Alexandre o Grande. O mais alto dos dois
chifres do carneiro deve simbolizar a Pérsia que de fato só atingiu importância militar depois
da Média. Embora a Média se constituísse como nação primeiro, foi a Pérsia que com Ciro II
para o norte e para o sul, engrandecendo-se cada vez mais até o ponto de eclipsar todos os
Verso 5 A rapidez com que Alexandre à testa das falanges macedônicas veio do
notável" do carneiro é interpretado no v.21 como sendo o "primeiro rei", evidentemente uma
Versos 6 e 7 Assim como o carneiro não podia competir em força com o bode,
os exércitos persas não estavam à altura dos exércitos greco-macedônicos sob o comando de
Grande ou qualquer dos seus sucessores. A Alexandre não foi dado, porém, desfrutar por
muito tempo os frutos de seu esforço hérculeo. Sua morte inesperada quando ainda não tinha
completado 33 anos pôs termo a sua carreira brilhante. O desmembramento de seu império
em 4 reinos é bem descrita neste verso. Verificar a interpretação no v. 22. Para mais
controvérsia pela explicação detalhada dada pelo anjo nos vv. 20-22. A unanimidade dos
o chifre dos vv. 9-12 que surge depois da visão do Império de Alexandre só pode simbolizar
Roma. Deve-se admitir que a maior parte dos comentadores do séc. XX vê neste "pequeno
chifre" um símbolo de Antíoco Epifânio (175-163 a.C.), em sua tentativa fútil de acabar com
entre os cap. 2, 7 e 8, os quais sem exceção cobrem todo o tempo que vai de Daniel até ao
final da História. O sonho do cap. 2 atinge o clímax quando DEUS suscita "um reino que
jamais será destruído" (v.44). A visão do cap. 7 culmina com a vindicação pelo tribunal
DANIEL 8 - Erro! Indicador não definido.
celeste do "povo dos santos do Altíssimo", a quem afinal um reino eterno é dado (v.27). O
cap. 8 reconta as atividades sacrílegas de uma certa potência contra o povo de DEUS, a
verdade de DEUS e o santuário celeste, mas no desfecho da história este poder "será quebrado
sem esforço de mãos humanas" (v.25). A linguagem deste verso recorda a pedra "que do
monte foi cortada... sem auxílio de mãos", a qual provoca o fim catastrófico dos reinos deste
mundo (2:45).
Se Cristo viu "o abominável da desolação" de Dan. 8:13, 11:31 e 12:11 encontrar
cumprimento em seus dias (Mat. 24:15ss.), não há razão que nos obrigue a interpretar o
"chifre" de Dan. 8:9 ss., como símbolo de Antíoco Epifânio, como se ele fosse o objeto
principal desta profecia. É verdade que "muitos anticristos têm surgido" (I João 2:18), e
Antíoco IV bem pode ter sido um deles. Mas há razões poderosas para não limitar o
poderes, e não reis individuais (ver v.22). Antíoco IV era apenas um na longa lista de reis
selêucidas, e de modo algum o mais ilustre. General muito mais competente que Antíoco IV
foi seu pai Antíoco III, que conseguiu arrancar a Palestina das mão dos Ptolomeus depois da
engrandeceu ou "se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa" (v.9),
ou que prosperou em seus empreendimentos (v.12). Não conseguiu conquistar o sul - o Egito -
de modo permanente. Com efeito, em sua segunda campanha contra o Egito em 168 a.C. foi
conseqüências. Nem teve Antíoco muito êxito em direção do oriente. Ao empreender uma
guerra em Elão, em 163 a.C., foi frustrado em seus planos e morreu logo depois, deixando seu
DANIEL 8 - Erro! Indicador não definido.
reino em desordem.1 Tão pouco teve êxito em sufocar a revolta dos Macabeus na Judéia. Um
ano antes de sua morte os judeus reocuparam Jerusalém, rededicaram o templo, e para todos
Se, ao contrário, as afirmações do v.9 são aplicadas à Roma, elas são plenamente
justificadas. Em suas conquistas extensas Roma subjugou Catargo e o Egito no sul, anexou
toda a Ásia Menor, Síria e Mesopotâmia no Oriente, e colocou "a terra gloriosa" - a Palestina -
Digno de nota é o fato que do mesmo modo que em Dan. 7:9 ss. o foco de
atenção é transferido da terra para o céu, o mesmo ocorre em Dan. 8:14 e seguintes. Deste
(conferir com o v.24). Ao perseguir a igreja Cristã nascente, Roma estava, com efeito, fazendo
guerra ao "exército dos céus". Ao perseguir os membros da Igreja Cristã, Paulo estava
segundo G. Hasel2, a transição de Roma pagã para Roma papal. Para A. Lacocque, com a
pertenciam a Cristo e a nenhum outro. Ver o v.25 onde o "príncipe do exército" é chamado
"príncipe dos príncipes". Em Ap. 19:16 Cristo é chamado "Rei dos Reis e Senhor dos
senhores". A mesma expressão "Príncipe do exército" se encontra em Josué 5:14 e 15, onde
DANIEL 8 - Erro! Indicador não definido.
importância capital nesta profecia. Hattmid refere-se primariamente aos holocaustos que eram
oferecidos, sem interrupção, cada manhã e cada tarde, no Santuário, e que constituiam o
centro do culto ali oferecido. Por intermédio do "contínuo" expiação e intercessão eram feitas
a favor de Israel pelo sacerdote oficiante. Em tipo apontava para o futuro ministério de Cristo,
O ato de deitar abaixo "o lugar de seu santuário" aponta para o fato que a própria
existência de um santuário celeste, onde Cristo atua como Nosso Sumo-Sacerdote e único
Mediador, seria ignorada durante séculos a fio. Quanto ao significado vital desta mediação e
intercessão ver I Tom. 2:5; Heb. 7:25 e 8:1-2. Tão indispensável tornou-se a missa e mediação
sacerdotal na terra que não havia lugar na teologia católica para o santuário celeste.
Diga-se de passagem que Antíoco Epifânio nunca deixou por terra o Templo em
Jerusalém, como a profecia específica. O que fez foi profaná-lo e isto durante o período de
cerca de três anos. Neste ponto, como em muitos outros, ele não satisfez a descrição profética.
Verso 12. O "exército" é interpretado no v.24 como sendo "o povo dos santos".
Permissão divina para a entrega do "exército", isto é para a perseguição dos santos, também é
mencionada em Dan.7:21 e 25. Não somente os santos, mas também o "contínuo" seria o
experiência do crente individual o sacrifício oferecido por Cristo na Cruz. Ao passo que a
morte de Cristo na cruz efetuou expiação pelos pecados "do mundo inteiro"(I João 2:2), é Sua
obra mediatória que torna esta expiação significativa para o indivíduo quando ele professa fé
em Cristo. Em outros termos, é a mediação sacerdotal de Cristo que torna efetiva para o crente
individual a expiação histórica obtida na cruz a preço infinito. É compreensível porque esta
quando...?" O espetáculo deste conflito prolongado contra o povo dos santos e as verdades
Verso 14. A resposta dada por outro anjo marca o ponto culminante de toda a
visão: "Até duas mil trezentas tarde e manhãs, e o santuário será purificado."
(passiva) do verbo tsadag. O significado primário de tsadag é "ser justo ou reto", e como regra
encontrar a melhor maneira de expressar seu significado aqui. A Septuaginta traduziu-o por
Katarizesthai, "será purificado", que é adotado na Versão de Almeida . Esta tradução tem
muito a seu favor. Outros tradutores influenciados pela afirmação no v.11 de que o santuário
seria "lançado abaixo" acharam melhor traduzir o verbo por "restaurar", "vindicar", ou
expressão equivalente. Se o v.14 tem ligação com o ritual do dia da expiação, Yôm Kippur,
como parece provável, então o verbo "purificar" seria uma tradução apropriada. Um dos
propósitos daquele ritual era de purificar o santuário da impureza ali acumulada durante o ano
decorrido toda vez que o povo confessava seus pecados e trazia o sacrifício requerido pela lei
DANIEL 8 - Erro! Indicador não definido.
contaminava(Lev.4:6 e 17). Se o sangue do sacrifício não era aspergido sobre o véu, então
parte da carne do sacrifício era comida pelo sacerdote oficiante, e deste modo também o
salvação para todo israelita sincero, de igual modo a purificação do santuário celeste significa
que a aptidão dos santos para o reino de Cristo está sendo determinada na base do
está sob uma nuvem até que o problema do pecado seja finalmente liquidado, e que os
caminhos do Senhor sejam reconhecidos como justos e verdadeiros por todos os remidos. O
Quando o pecado for finalmente removido do santuário celeste pelo processo judiciário
indicado em Dan.7:9-10 e 13-14, então o santuário brilhará de novo em sua glória original.
Com o rol dos remidos completado pelo tribunal celeste, Cristo recebe o reino, e "aparecerá
segunda vez, não para lidar com pecado, aos que o aguardam para a salvação" (Heb.9:28,
corrigido).
implicados são praticamente os mesmos. Em ambas as visões guerra é feita aos santos pelo
quarto império, Roma imperial, ou seu herdeiro o papado. No cap. 7 a potência hostil profere
DANIEL 8 - Erro! Indicador não definido.
cap. 8 a verdade é lançada por terra (v.12). No cap. 7 "um como o Filho do homem", vem ao
Ancião de dias e recebe o reino (versos 13 e 14). Um reino sem súditos nada significa. Os
súditos do reino eterno são determinados pelo tribunal celeste, quando livros são abertos, e o
As "duas mil e trezentas tardes e manhãs" significariam antes de mais nada dois
mil e trezentos dias. Levados pela opinião preconcebida que o tema principal dos cap. 7 e 8
tem que ver com as atividades hostis de Antíoco Epifânio contra a religião judaica, muitos
comentadores se inclinam a introduzir tamid dos vv. 11,12 e 13. Em seguida assumem
Racionando, então, que havia dois tamid por dia, o período profético acima é interpretado
como 1150 dias, durante cujo tempo os sacrifícios no Templo teriam sido suspensos nos dias
de Antíoco Epifânio. Nos parágrafos seguintes chamamos atenção para vários erra nesta
interpretação.
freqüentemente associado com olah, "holocausto", assim olat hattmid, geralmente traduzido
desta associação constante das duas palavras, hattmid tornou-se parte do jargão sacerdotal
para designar o holocausto de dois cordeiros, dia após dia, um de manhã e outro à tarde
(Núm.28 versos 2-6). Deve-se notar, porém, que hattmid designava dois sacrifícios juntos, e
não cada u separadamente. São vistos como formando um só sacrifício composto de duas
cordeiro, de manhã e à tarde, juntos designados pelo singular 'olat hattamid, nunca devia ser
omitido.
imaginam que o tamid de Daniel 8 significava apenas um dos dois holocaustos oferecidos
regularmente cada dia. Dai era fácil saltar à conclusão que 2300 tamid significavam 1150
dias. Além disto deve-se notar que o termo tamid não se encontra no v.14, mas é nele
poderia ser derivada da linguagem do culto, pois nesta a ordem "manhãs e tardes" é observada
sem exceção.5 Neste caso não podia se referir aos holocaustos, e menos ainda ao hattamid.
Uma vez que não pode ser derivada da linguagem do culto, a expressão "tardes e manhãs" só
pode ecoar a linguagem de Gênesis l, onde a expressão "tarde e manhã" designava cada dia da
semana da criação.6
Não há, pois, razão para ler "1150 dias" no v.14. A expressão de tempo só pode
significar 2300 dias. E como estamos lidando com linguagem simbólica, os 2300 dias devem
ser interpretados como 2300 anos, em harmonia com outros períodos proféticos no livro de
Daniel. Como estas profecias se estendem dos dias de Nabucodonosor até ao estabelecimento
do reino eterno de Deus, um período de 2300 dias literais parece incongruentes neste
contexto.
com o imenso panorama que se abre nestas profecias. Assim compreendido os 2300 anos
constituem o mais longo período referido nas profecias de Daniel e do Apocalipse. Como não
é indicado neste capítulo o acontecimento que marca o início deste longo período profético, é
razoável supor que ele seria o objeto de outra revelação num capítulo subseqüente.
DANIEL 8 - Erro! Indicador não definido.
Versos 15 e 16. O tempo hebraico para "visão" no v.13 é hazon, o mesmo termo
que aparece nos vv.2 e 2. É evidente que a "visão" que Daniel procura compreender abarca o
conteúdo dos vv.2-14, e não se limitava de forma nenhuma à porção relacionada com as
Segue-se a pergunta feita no v.13: "Até quando durará a visão...?" abarca toda a visão, e não
O anjo encarregado de dar a Daniel compreender a visão foi Gabriel. Aqui pela
primeira vez nas Escrituras é o nome de um anjo dado. Mas somente aqui e em 9:21 é o
nome de Gabriel pronunciado. Esta sobriedade no uso de nomes de anjos contrasta com a
pléotora de nomes dados aos anjos pelos apocaliptistas do segundo século A.C. em diante.
Verso 17. A aparição angélica enche a Daniel de pavor. Como Ezequiel seu
contemporâneo, Daniel é também adereçado pelo título "filho do homem", que sublinha tanto
a nulidade do homem como um ser mortal, como sua dignidade como agente moral livre. Para
começar Daniel é convidado a entender que a visão "se refere ao tempo do fim". Bastava
Versos 18 e 19. O profundo sono que caiu sobre Daniel foi sem dúvida o efeito de
profunda tristeza, como aconteceu com os discípulos no jardim do Getsemane, dos quais
Lucas diz que jesus "os achou dormindo de tristeza" (Luc.22:45). Abatido pela visão que
sugeria ainda muito sofrimento para o povo de Deus, Daniel podia encontrar no sono um
escape da dura realidade. Não era tempo para dormir, porém, mas de pôr-se de pé para ouvir o
fim". De que "indignação" se fala aqui? Citando Isa. 61:1 e 2a em Seu sermão na sinagoga de
Capernaum, Jesus declarou que a humanidade vivia então no tempo "do ano aceitável do
Senhor"(Luc.4:18-19). O dia "da vingança do nosso Deus" ainda não chegara (Isa.61:2b). A
indignação ou ira, então, deve ser a de Satanás, de que João no Apocalipse afirma que "desceu
até vós, cheio de grande cólera"(Apoc.12:12). Enquanto durar a controvérsia entre a luz e as
trevas, a humanidade vive no tempo da ira de Satanás, e não de Deus. Esta ira, porém, é
limitada por Deus "ao tempo determinado". O Altíssimo terá a última palavra neste conflito
milenar.
8.
Verso 23. "Mas o fim do seu reinado". Isto evidentemente se refere ao tempo
quando os "quatro reinos", nos quais o império de Alexandre foi dividido, perderam
sucessivamente seu poderio, e foram absorvidos no império romano. Este fato exclui a
interpretação que faz do "rei de feroz catadura" Antíoco Epifânio. Antíoco veio ao poder no
os transgressores tiverem atingido sua plena medida". Este é o único uso do termo
profética: em Isaías uma só vez no singual (48:8), e seis vezes no plural (1:28, 46:8: 53:12(
duas vezes); Dan.8:23 e Oséias 14:9). Nunca é aplicado aos gentios. Somente membros da
Deus, o texto de Isa. 53:12 é particularmente útil para esclarecer o termo. É dito do Messias
que "foi contado com os transgressores", e que Ele intercede "pelos transgressores". A nação
judaica atingiu a plena medida como "transgressores", quando rejeitou a Cristo como seu rei.
DANIEL 8 - Erro! Indicador não definido.
Ao rejeitar o Messias a quem todos os tipos e profecias apontavam, a nação encheu a medida
de sua transgressão, foi rejeitada como o povo particular de Deus e os herdeiros da promessa
(Mat.21:43).7 Quando este acontecimento fatal ocorreu, abriu-se o caminho para Roma
assumir seu papel de cúmplice na crucifixão de Cristo, e mais tarde de perseguidora da Igreja
cristã nascente.
enigmática e o é a propósito. Parece ecoar a descrição que se encontra em Deut.28:49 e 50: "O
Senhor levantará contra ti uma nação cuja língua não entenderás; nação feroz de rosto..." O
sofrimento enorme que esta nação infligiria ao povo judeu lembra-nos as condições horríveis
em Jerusalém durante a Guerra Judeo-Romana de 66-70 A.D. Uma linguagem muito parecida
foi usada por nosso Senhor ao descrever a invasão da Judéia pelos exércitos romanos em
Mat.24:15-21. Foi em relação com esta calamidade iminente que Ele se referiu "ao
que a "abominação desoladora" designa os exércitos romanos que dentro de pouco tempo
paralelas que nos habilita a ver no "chifre pequeno" de Dan. 8:9-12, e no "rei de feroz
catadura" de nosso verso, símbolo do quarto império mundial. Compreende-se melhor quão
apropriada é esta descrição quando se contempla o quarto império em sua dupla fase: secular e
religiosa. Que Roma papal em muitos aspectos foi a herdeira de Roma imperial tem sido
décimo-primeiro chifre: "e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem," descrição
esta interpretada como uma referência à acuidade política de Roma papal demonstrada em
suas relações com as nações da Europa. Na gíria moderna dir-se-ia que Roma entende a
Verso 24. este verso resume muito do que foi dito do quarto império mundial em
Dan.7:7-8. Roma usou seu incomparável poderio militar para esmagar as nações a seu
belprazer, bem como para destruir "o povo santo". Para este aspecto da história nada lisonjeira
Verso 25. "Por sua astúcia nos seu empreendimentos fará prosperar o engano".
Este é o retrato fiel da duplicidade de Roma em seu trato com seus adversários e mesmo
aliados, bem como do papado em prestar seu apoio a uma teologia que adulterou a verdade do
evangelho.
chamada "pequena"(v.9). Mas em sua fantasia se consideraria um deus na terra. Paulo sem
DANIEL 8 - Erro! Indicador não definido.
dúvida tinha esta passagem em mente quando descreveu a vinda do anticristo como "o
homem da iniqüidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se
"Levantar-se-á contra o Príncipe dos príncipes". Esta frase bem como a anterior,
descrito nos vv.9-12 se refere á Roma em suas duas frases, imperial e papal, reconhece-se
facilmente como Roma imperial se levantou contra Jesus Cristo crucificando-O e mais tarde
perseguindo Seus discípulos, e como Roma Papal por sua teologia diminuiu o papel de Cristo
aos olhos dos crentes, exaltando a mediação de Maria e dos santos, e excomungou aqueles
sacerdotal de Maria.
"Mas será quebrado sem esforço de mão humana". Do mesmo modo que os
reinos deste mundo simbolizados pela estátua de Dan.2 foram esmiuçados por uma pedra
"cortada sem auxílio de mãos" (vv.34 e 35), assim aqui o anticristo, que em sua guerra contra
DEUS faz uso de toda potência terrestre disponível, é quebrado "sem esforço de mãos
humanas". DEUS intervém ao final para desbaratar as forças das trevas e inaugurar Seu reino
Verso 26 A visão deste capítulo é referida na linguagem angélica como "a visão
da tarde e da manhã", porque o período de 2300 dias proféticos do v.14 constituem um dos
seus aspectos primordiais. A presença do artigo antes de ereb e boqer não modificam de modo
A ordem de selar a visão é justificada pela declaração que ela se "refere a doias
ainda muito distantes". Para os que tomam o livro de Daniel como um livro profético
DANIEL 8 - Erro! Indicador não definido.
autêntico, e não como uma ficção escrita no segundo século antes da nossa era, estas palavras
indicam que o pleno significado da profecia não se tornaria evidente antes do cumprimento
histórico de suas várias partes. Seu desfecho jazia ainda muitos séculos no futuro, mas sua
Verso 27 O efeito físico sobre Daniel desta visão de um longo conflito foi
deprimente. Ele "esteve enfermo durante alguns dias". O pleno significado da visão se lhe
escapava, mas a parte que ele entendeu deste conflito milenar que punha em risco a própria
Um olhar sobre a interpretação da visão pelo anjo deixa claro que um ponto que
não foi explicado foi o longo período do v.14. Parece provável, então, que Daniel confessa
sua falta de entendimento, ele tem em mente esta parte da visão mais que qualquer outra.
ainda no futuro com o cumprimento iminente dos 70 anos preditos pelo profeta Jeremias,
estava além de seu alcance. O cap. 9 responderá às perguntas que agitavam sua mente.
símbolo de Roma alegando que o v.9 afirma que o chifre pequeno saiu "de um deles" (assim
no hebraico). O argumento gira então sobre se "deles" refere-se aos "4 chifres notáveis", ou
dos "4 ventos dos céus", do v.8. Razões gramaticais e estruturais favorecem a opinião que o
pronome "deles" refere-se aos "4 ventos".10 O significado então seria que Roma surgiu de uma
das direções do compasso. Como o verso diz que sua expansão territorial foi na ordem, "para
o sul, para o oriente, e para a terra gloriosa", segue-se que Roma iniciou sua carreira de
conquista do noroeste. Isto corresponde aos fatos geográficos, visto que Roma ficava a
DANIEL 8 - Erro! Indicador não definido.
Mas mesmo se se insiste que o "chifre pequeno" saiu de um dos "4 chifres" em
que o império de Alexandre se desmembrou, isto não constitui objeção séria à interpretação
adotada neste comentário. Roma deveu muito de sua cultura aos gregos que estavam
colonizando o sul da Itália desde o sétimo século a.C. Com efeito aquela parte da Itália foi
conhecida durante muito tempo como Magna Graecia. Interferência dos gregos com ambição
gregas, foi a causa da Primeira Guerra Macedônica. Este fato marcou o início de uma série de
guerras que levaram Roma a conquistar uma após outra as diferentes divisões do império
Alguns acham difícil reconciliar a idéia de Roma como o maior dos impérios da
antiguidade com sua descrição como um chifre pequeno no v.9. Theodotion aparentemente
sentiu a dificuldade de traduzir o hebraico por um "chifre poderoso". Talvez tivesse diante dos
olhos um texto hebraico diferente. O hebraico reza literalmente, "um chifre de pequenez". A
New International Version retém a força da expressão traduzindo, "que começou pequeno".
Roma começou de fato pequena, e ninguém poderia ter predito sua eventual grandeza
julgando seu começo humilde. De outro lado é possível que o adjetivo "pequeno" tenha uma
conotação moral e não física. A conduta arrogante em relação ao Altíssimo e a Seu povo fê-la
NOTAS
2. The Sanctuary and the Antonement, (Review and Herald, 1981), p. 188.
4. Segundo N. Porteous, Daniel, p. 186, "A verdade que é lançada por terra é a vontade de
DANIEL 9
A MISSÃO DO MESSIAS
Daniel chegou a conclusão de que a profecia de Jeremias referente aos 70 anos da desolação
Santuário registrada nos vv. 4-19. É digno de nota como nesta prece o pecado de Israel pesava
sobre o coração so profeta. Juntamente com o profeta Ezequiel, seu contemporâneo, Daniel
judaica (conferir Ez.37:26-28). Em vista disto esta prece pode ser descrita como uma prece de
confissão de pecado tanto como uma prece de intercessão por uma nação culpada.
Notar como a preocupação com o pecado caracteriza esta oração: "Temos pecado
cobre todo o gama no aspecto do pecado. Israel sofreu no exílio por causa de sua infidelidade
contra DEUS (v.8), e rebelião contra Ele (v.9). Israel tinha transgredido a Lei de DEUS e
pecado contra Ele (v.11). No v.15 Daniel identifica-se com o povo pelo qual intercede:
"Temos pecado e procedido perversamente". A cólera divina foi derramada sobre Jerusalém
por causa dos pecados do povo e suas iniquidades (v.16). O profeta mesmo resume sua prece
quando a seguir escreve: "Falava eu ainda e orava, e confessava o meu pecado e o pecado de
A mensagem trazida a Daniel pelo anjo Gabriel deve ser vista tanto como uma
resposta à sua prece de intercessão como uma resposta à sua preocupação como o elemento de
tempo na visão do cap. 8 que fora deixado sem explicação. Daniel encerrou o cap. 8 com a
admissão de que não havia entendido a visão (v.27), ou ao menos aquela parte da mesma
profecias de Jeremias relacionadas com o tempo que as desolações de Jerusalém deviam durar
(9:2).
Em comum com outros profetas, Daniel deve ter imaginado que a era messiânica
iria raiar ao término do cativeiro em Babilônia. Isaías e outros profetas tinham descrito o
retorno do exílio em termos tão exaltados que devia parecer a muitos que o fim do cativeiro
introduziria um novo Céu e uma nova Terra, uma ordem de cousas totalmente novas
(Isa.65:17). Seria quase impossível ler uma profecia como esta: "Nunca mais se ouvirá de
violência na tua terra, de desolação ou ruína nos teus termos; mas aos teus muros chamarás
DANIEL 9 - Erro! Indicador não definido.
salvação, e as tuas portas louvor. Nunca mais te servirá o sol para a luz do dia nem com seu
resplendor a lua te alumiará; mas o Senhor será a tua luz perpétua e os dias do teu luto
findarão" (Isa.60:19 e 20),e não supor que o fim do exílio inauguraria a era messiânica.
corrigida. Numa visão profética os atos sucessivos no trama da redenção parecem ocorrer
visões. Permitam-me uma ilustração. Dirigir o seu carro sobre uma planície rumo à cadeia de
montanhas no horizonte distante, o motorista não tem idéia de quantas serras se escondem
uma atrás da outra. Tudo o que vê é uma montanha maciça à distância. Somente quando ele
começa de fato a atravessar a montanha é que se apercebe de quantos vales e cadeias precisa
futuro: O fim do exílio e o raiar da era Messiânica. A possibilidade não lhes ocorria de que
séculos poderiam intervir entre os picos sucessivos na história da redenção. Através de Daniel
DEUS deliberou corrigir este mal entendido, e assim poupar aos crentes futuros desapon-
tamentos. É aqui que se faz ver o valor prático de profecias com o tempo marcado. Seu
mesmo anjo Gabriel que é encarregado de fazer Daniel entender a visão (Dan. 8:16 e 9:21).
Como não há visão na primeira parte de Dan. 9 a visão à qual Gabriel se refere em 9:23 deve
ser a do cap. 8, a qual Daniel confessa não ter compreendido (8:27). Podemos ser mais
específicos: a Parte da visão do cap. 8 não explicada por Gabriel foi a referente às 2.300 tardes
e manhãs de Dan. 8:14. Em vista disto torna-se claro porque Gabriel começa sua explicação
DANIEL 9 - Erro! Indicador não definido.
aos 70 anos do exílio como alguns estudiosos. O v.2 declara expressamente que os 70 anos
estavam chegando ao seu término. O verbo binoti "compreendi" vem da mesma raiz de bin
que é usada no v.23. Por conseguinte quando o anjo lhe diz que compreenda a visão, só pode
ser a visão do capítulo anterior a qual Daniel afirma taxativamente que não tinha
seu término. Mas outras "70 semanas" (de anos) deviam passar antes do ponto culminante na
estrada da redenção - o Calvário - ser atingido. Outro meio milênio de graça seria concedido a
Israel, durante o qual poderia crescer em compreensão espiritual e preparar o mundo para a
recepção do Messias, mas mesmo assim a primeira vinda de Cristo não seria o fim da
História. Este meio milênio deveria ser "cortado" - este é o sentido primário do verbo hatak -
de um período mais longo, do mesmo modo que um pedaço de pano é corta do de uma peça.
Esta período mais longo só pode ser o tempo mencionado em Dan.8:14, do qual Daniel não
resposta de Gabriel à prece de Daniel, como relatada nos vv. 24-27. Sendo esta uma profecia
messiânica, seria natural esperar que refletiria em certa medida a linguagem do canto do
"Servo Sofredor" de Isa.52:13 a 53:12. Do mesmo modo que Daniel estava familiarizado com
a profecia de Jeremias referente à duração do exílio ele devia estar a par do texto de Isaías que
melhor descreve o sofrimento e morte do servo do Senhor. Um homem que encarava o pecado
tão a sério como é evidente de sua oração intercessória, devia certamente conhecer a profecia
que descreve de modo tão comovente como o problema do pecado seria atacado.
DANIEL 9 - Erro! Indicador não definido.
Daniel 9:24 contém seis declarações, das quais as primeiras quatro focalizam o
canto do "Servo sofredor". Assim a primeira frase "para fazer cessar a transgressão" encontra
seu paralelo em Isa.53:5, "foi transpassado pelas nossas transgressões". A frase "para dar fim
aos pecado", ecoa Isa. 53:10 e 12, "quando der Ele Sua alma como oferta pelo pecado", e
"levou sobre Si o pecado de muitos". A terceira expressão, "para expiar a iniqüidade", tem seu
paralelo em Isa.56:5-6: "o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras
fomos sarados... mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos". A quarta frase de
Dan. 9:24, "para trazer a justiça eterna", tem sua correspondente em Isa. 53:11, "o Meu Servo,
o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos". A importância desta última declaração
é sublinhada por Paulo em Rom. 3:26: "Tendo em vista a manifestação da Sua justiça no
tempo presente para Ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus". A
"justiça" de Dan. 9:24 refere-se, então, tanto à justiça de DEUS demonstrada no Calvário
diante de todo o universo, como à justiça que DEUS comunica aquele que tem fé em Cristo.
Paralelos tão evidentes não parecem ser fortuitos, mas sugerem o pensamento de
significa "para selar a visão e a profecia", não no sentido de dar-lhe fim, mas no sentido de
A última frase do v.24, "e para ungir o Santo dos Santos", é neutra no hebraico,
uma vez que poderia designar um lugar, ou cousa, ou uma pessoa. Mas neste contexto deve
designar o Messias. Com efeito o v.25 fala da vinda do Messias, do Príncipe. Uma vez que o
v.24 fala da obra redentora a ser realizada no fim das 70 semanas, ou 490 anos, seria mais
natural esperar que o verso terminasse por uma referência ao Messias, o "ungido".
O v.25 provê um ponto de partida para o período profético das 70 semanas, e ipso
facto, para o período das 2300 tardes e manhãs, do qual o período mais curto foi cortado.
Deve-se ter em mente que a última parte do cap. 9, vv.24-27, é uma visão suplementar da
visão do cap.8. O propósito da vinda de Gabriel foi de fazer Daniel entender a visão, que não
pode ser outra que a do cap.8. O ponto de partida das 70 semanas é o decreto para a
restauração de Jerusalém. Segundo Esdras 6:14 houve 3 decretos visando a mesma finalidade,
e que culminaram com o decreto de Artaxerxes I em 457 a.C. Sendo o último, de algum modo
Esdras. Ele permitia que qualquer dos exilados que quisesse subir a Jerusalém o fizesse, e
conferia certos poderes a Esdras para reorganizar a comunidade judaica segundo a lei do seu
centenas de exilados, a entrega das ofertas de ouro e prata aos sacerdotes e levitas em
Jerusalém, e conclui com a declaração de que os governadores persas, em vista das instruções
Artaxerxes I é esclarecido por Esdras 9:9. Incluia a restauração do templo, reparo de ruínas, e
a ereção de um muro de proteção para Judá e Jerusalém. A carta dada por Artaxerxes a
Neemias no 20º ano de seu reinado, 444 a.C., não é de natureza de um decreto. Neemias não
de seu trabalho é demonstrado pelo fato que foi completado em 52 dias (Nee.6:15). Não resta
DANIEL 9 - Erro! Indicador não definido.
dúvida de que é o decreto de Artaxerxes de 457 a.C. que deve ser tomado como ponto de
partida das 70 semanas, que deviam levar até "ao Ungido, o Príncipe".
o texto hebraico, no qual erradamente uma marca de pontuação, o ethnach, a qual indica o
meio do verso, onde o leitor devia fazer uma pausa, foi inserida entre "sete semanas" e
"sessenta e duas semanas". Deve-se observar que o texto hebraico original não tinha
pontuaram o texto hebraico no começo da Idade Média, erros foram cometidos, como
qualquer estudioso do texto hebraico sabe. Na maior parte dos casos, os erros foram
acidentais, um deslize da pena, mas neste caso a hipótese de um erro deliberado devido a
preconceitos dogmáticos não deve ser excluída. Como Dan. 9:25 era um verso caro à
comunidade cristã, porque era o único que permitia mostrar aos de fora que Cristo veio no
tempo designado pela profecia, é fácil ver porque os massoretas tenham pintado o texto de
modo a torná-lo confuso. Corrigindo este verso, o verso reza: "Desde a saída da ordem para
restaurar e para edificar Jerusalém, até o Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas
semanas". O texto assim corrigido mostra que Cristo deveria ser ungido no final de 69
refere ao Messias, e a segunda a Jerusalém. Assim a primeira parte do v.25 refere à vinda do
a.C., isto leva ao batismo de Jesus em 27 a.C., quando foi ungido pelo Espírito Santo (Mat.3:
16 e 17; Luc. 3:22), e tornou-se o Cristo, que significa exatamente "ungido". A divisão do
período em duas partes, uma de sete semanas seguida de outra de sessenta e duas semanas
pode indicar que a reconstrução de Jerusalém sob Esdras e Neemias duraria 49 anos, embora
DANIEL 9 - Erro! Indicador não definido.
se deva admitir que as fontes históricas não lançam luz sobre o assunto.
A primeira parte do v.26 refere ao fato de que o Messias, "o Ungido", seria morto.
A ausência do artigo antes de "Ungido" no hebraico concorda com o fato de que Daniel os
tempos que referem á divindade são como regra anartros, isto é, sem artigo.(Ver Daniel
7:9,13; 8:16; 9:24,25 e 26; 10:5). Podia ser sua maneira de expressar transcendência divina.
hebraico, "foi cortado". Esta expressão encontra seu paralelo em Isa.53:8, "foi cortado da terra
dos viventes". Acima expressamos a opinião que a linguagem do cap. 9 deve muito ao canto
do "Servo Sofredor", que deve ter ocupado os pensamentos de Daniel nesta ocasião.
A expressão, "e já não estará", corresponde ao hebraico, "e não havia nada para
ele". Expressa o total abandono de Cristo quando suportou os pecados do mundo, e encontra
seu paralelo em Isa.53:4, "era desprezado, e dele não fizemos caso". Seu sentido mais
destruição seria levada a efeito pelo "povo de um príncipe que há de vir". Trata-se do mesmo
poder pelo qual se refere Dan.8:25. Jerusalém e o Templo foram destruídos pelos exércitos
romanos em 70 A.C. comando por Tito que assumiu a chefia quando seu pai Vespasiano foi
eleito imperador. Diga-se de passagem que Antíoco Epifânio não destruiu o Templo. A última
parte do v.26 sugere que a Igreja passaria por tempos de tribulação até ao fim. Cristo fez
referência a esta tribulação prolongada em Mat.24:21. Mas aqueles dias seriam abreviados por
harmonia com a estrutura dos versos precedentes, onde em cada caso a primeira parte do
verso faz uma declaração concernente ao Messias, e a segunda uma declaração concernente à
DANIEL 9 - Erro! Indicador não definido.
cidade e ao santuário. Cristo firmaria aliança com muitos durante Seu ministério terrestre.
Esta aliança foi ratificada, "feita firme" pelo sangue de Cristo(Mat.26:27,28). O sentido
primário do verbo hebraico higbir é "fazer prevalecer". O sentido seria que Cristo fez
prevalecer, em face de todos os obstáculos, Seu concerto de graça com a humanidade. Havia
muita razão para desânimo e derrota. Mas Cristo prevaleceu sendo obediente até a morte. A
expressão "com muitos" devia ser compreendida à luz de Isa.53:12, "levou sobre si o pecado
de muitos", e encontra eco nas próprias palavras de Cristo, "porque isto é o meu sangue, o
Foi demonstrado por J. Doukhan que "quando o termo hetsi está em status
contructus com um período de tempo (aqui semanas), significa sempre "meio" e não "metade"
(Ex.12:29; Jos.10:13; Juízes 16:3; Jer.17:11; Sal.102 v.25; Rute 3:8)".1 O verso 27b devia
então ser traduzido do seguinte modo, "é no meio da semana fará cessar o sacrifício e a oferta
oferecendo-SE como um sacrifício perfeito sobre a cruz "fez cessar o sacrifício". Quando o
véu do Templo rasgou-se de alto a baixo tornou-se patente que o sacrifício de animais tinha
encontrado seu antítipo e devia cessar. Sua repetição até à destruição do Templo alguns anos
mais tarde tornou-se uma cerimônia sem sentido, porque de jure os sacrifícios deviam ter
parte do v.27 dá-nos a entender que a história continuaria a se desenrolar. As potências do mal
embora vencidas por Cristo continuariam sua obra nefanda de encher a terra de abominações
de desolações. Mas tão certo como a manhã segue à noite, à vitória de Cristo sobre o pecado e
Cristo.
DANIEL 9 - Erro! Indicador não definido.
dada no cap.8, então é razoável esperar que não somente os dois períodos de tempo são
relacionados, mas que as atividades do anticristo num tem seu paralelo no culto. Neste caso a
segunda parte dos versos 26 e 27 devia ser interpretada à luz de Dan.8:23-25, onde as
atividades nefárias de Roma imperial e papal são descritas. Assim compreendido Dan.9:26b
santuário celestial.
santo como um sinal para os crentes fugiram da Judéia para as montanhas para escapar aos
horrores da guerra. Lucas se refere ao mesmo sinal nas palavras, "Quando, porém, virdes
Jerusalém sitiada de exércitos,... então os que estiverem na Judéia fujam para os montes".(Lu-
cas 24:20,21). Em vista destes dois textos seria razoável interpretar "a asa das abominações"
de Daniel 9:27b como uma referência aos exércitos romanos vindo para assolar a Judéia e
Jerusalém. O fato das legiões romanas levaram em seus estandartes uma águia de bronze
como emblema de seu poder torna esta interpretação ainda mais convincente.
exército que marcha sob estandartes pagãos vem um que causa tanto a desolação física como
espiritual; suas atividades se estenderão sobre os séculos, até que o assolador mesmo seja
Notas
DANIEL 10
propriamente dita começa com 11:2 e termina com 12:4, o resto do cap.12 sendo uma espécie
DANIEL 10 - Erro! Indicador não definido.
de espírito. Nestes capítulos nos é dada uma visão única do conflito que se desenrola nos
bastidores da história. Vêm-se ai o jogo e o contra jogo de influência que operam nos centros
de poder político para impedir ou promover a execução dos planos divinos. Embora a
liberdade do homem como agente moral seja resguardada, influências diabólicas e celestes se
fazem sentir sobre os líderes deste mundo, na esperança de levá-los a se opôr ou a favorecer a
A visão é datada do terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia, ou seja 536/535 A.C. Em
contraste com as visões precedentes, nesta o profeta não vê, mas ouve o conteúdo da
revelação que lhe é feita. A visão ou "palavra" envolvia um grande conflito, a matéria do qual
não é comunicada ao profeta até 11:2. Como esta visão não envolvia imagens simbólicas o
Versos 2 e 3 Esta visão foi dada a Daniel depois de três semana de penitência e
preparação espiritual. O pranto e o jejum coincidiram com o tempo da Páscoa, mas nenhuma
associação é feita entre uma cousa e outra. Embora tivesse mais de oitenta anos por esta
época, Daniel buscava a comunhão com Deus com o mesmo fervor que em sua juventude.
Milhares de judeus, podemos imaginar, estavam voltando para sua terra como resultado do
decreto favorável de Ciro, mas o fruto do propósito de Deus para Seu povo parecia ainda
incerto.
Verso 4 A borda do rio Tigre é designada como o local da visão. Por comparação
de perto à de Cristo quando apareceu a João na ilha de Patmos; "um semelhante a filho de
homem, com vestes talares, e cingido à altura do peito com uma cinta de ouro, como chama
de fogo; os pés semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha; a voz de
DANIEL 10 - Erro! Indicador não definido.
muitas águas"(Apoc.1:13-15). É razoável supor que como recompensa à sua vida de devoção
companheiros de Daniel não viram, mas foram aterrorizados pela atmosfera misteriosa da
Versos 8 e 9 Daniel mesmo ficou assoberbado por "esta grande visão". Deve-se
distinguir entre esta visão de um ser celeste que chocou Daniel até o mais profundo de sua
alma da visão também chamada "palavra", que é descrita nos versos 11:2 a 12:4. E de novo a
visão de Paulo no caminho a Damasco, esta também incluia não só a aparição deslumbrante,
mas uma voz "como o estrondo de muita gente". Ouvindo-a Daniel cai por terra "em profundo
sono".
Isaías, no meio de uma visão, sentiu-se a forte mão de Deus sobre ele (Isa.8:11). Ezequiel e
Verso 11 Como objeto do amor terno de Deus Daniel nada tinha a temer. Suas
preocupações também são as preocupações de Deus. É lhe dito que se levantasse e ouvisse as
palavras que lhe iam ser comunicadas. A expressão, "eis que te sou enviado", parecem mais
apropriadas nos lábios de um anjo do que nos de Cristo. Tudo indica que a visão de Cristo
Verso 12 O anjo continua assegurando a Daniel que suas preces foram ouvidas.
Seu desejo de melhor compreender o propósito de Deus era motivado por um genuíno amor
para com seu povo, e a Deus aprazia responder-lhe. Não foi uma curiosidade vã que o levara a
se humilhar diante de deus em profunda contrição durante três semanas. A oração e o jejum o
tinham predisposto a ouvir a voz do Espírito e a se tornar o recipiente de uma nova revelação.
DANIEL 10 - Erro! Indicador não definido.
raramente a um rei. O rei em hebraico jamais é designado por "príncipe do reino". Daniel usa
várias vezes esta palavra com referência a seres sobrenaturais (8:11,25; 10:21 e 12:1). É
provável que o termo sar aqui denote ser sobrenatural que no momento estava resistindo aos
anjos de Deus na corte do rei da Pérsia. Joyce Baldwin num comentário recente adota esta
interpretação: "Visa-se aqui um representante da Pérsia nos lugares celestes; a Grécia também
teu seu anjo (v.20), e Miguel, 'um dos primeiros príncipes', pertence a Israel"1.
conflito espiritual a liberdade humana não é violada. É feito uso da persuasão para obter a
identificam Miguel com Cristo (ver Judas 9; João 5:28, 29 e I tes. 4:16). O Comentário
Bíblico Adventista favorece esta opinião: "O nome Miguel aparece na Bíblia apenas em
passagens apocalíptica (Dan. 10:13 e 21; 12:1; Judas 9; Ap. 12:7). Além disto é em ocasiões
em que Cristo está em confronto direto com Satanás. O nome que em hebraico significa,
"Quem É como DEUS?" é ao mesmo tempo uma pergunta e um desafio. Em vista do fato que
"como o Altíssimo" (Isa. 14:14), o nome Miguel é muito apropriado para Aquele que
Somente quando Miguel veio para ajudar Gabriel é que este ficou livre para vir a
Daniel a fim de fazê-lo entender o que havia de suceder a seu povo nos últimos dias (v.14). O
cuidado de DEUS para com Seu povo em todas as épocas é o fio duradouro que deve guiar o
estudante através da massa de pormenores históricos dados com cap. 11. Acontecimentos
da história é assim expressa pelo Comentário Bíblico Adventista: "Neste capítulo, como
talvez em nenhum outro lugar na Escritura, o véu que separa o céu e terra é removido, e a luta
entre poderes da luz e das trevas (pelo controle das mentes humanas) é revelada".3
Versos 15 a 17 Perplexo diante desta visão celeste, Daniel ficou mudo. Somente
quando um anjo em forma humana tocou seus lábios é que ele recuperou a fala. Mesmo assim
certeza do amor de DEUS, o qual devia banir todo temor de seu coração. Fortalecido, Daniel
Verso 20 O anjo fá-lo saber que o conflito na corte da Pérsia sobre a sorte do
povo de DEUS ainda perdurava. O inimigo não dorme e aproveita toda oportunidade para
neutralizar os planos do inimigo e a salvaguardar os desígnios divinos para com Seu povo. Da
intensidade desta luta o texto de Esd. 4:2-24 dá-nos um pequeno vislumbre. Israel sofreu
intensa oposição em seu esforço para restaurar sua nação, e teria sido esmagado por seus
adversários não fosse a intervenção divina na corte da Pérsia. Esta guerra de natureza
espiritual se estenderia além dos dias do domínio persa e seria não menos intensa durante o
Reino da Grécia. Na realidade, a controvérsia tanto em seu aspecto celeste como terrestre
continuaria até que "reino do mundo" se torne "de nosso Senhor e de Seu Cristo" (Ap. 11:15).
O seguinte comentário lança luz adicional sobre este verso: "A verdade declarada
pelo anjo neste verso ilumina a revelação que segue. A profecia seguinte, um relato de guerra
DANIEL 10 - Erro! Indicador não definido.
e mais guerra, assume maior significado quando compreendida à luz do que o anjo tinha
observado. Enquanto os homens lutam pelo poder terrestre, nos bastidores, e longe dos olhos
humanos, uma luta ainda maior se processa, da qual os altos e baixos da condição mundial são
um reflexo".4
Verso 21 O povo dos santos não tem razão para temer, pois tem a seu lado
Miguel, que sendo como DEUS e Seu campeão lhe assegura a vitória final. Para Aquele que é
o Senhor da História o fluxo e refluxo dos acontecimentos no mundo não encerram surpresa.
São-Lhe tão claros como se estivessem escritos na "Escritura da Verdade". As cenas sucessi-
vas da visão a ser narrada são como páginas tiradas do livro e mostradas ao profeta.
11:1 Este verso é claramente parte do prólogo, pois contém uma palavra final das
atividades de Gabriel na esfera terrestre. A visão propriamente dita foi dada a Daniel no
terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia (10:1). Mas já nos dias de Dario o Medo (5:31; 6:28; 9:1)
NOTAS
3. Ibid.
4. Ibid., p. 861.
DANIEL 10 - Erro! Indicador não definido.
DANIEL 10 - Erro! Indicador não definido.
A visão propriamente dita começa no v.2, e depois de uma breve revista dos reis
da Pérsia e a subida ao poder de Alexandre o Grande, trata em maior detalhe do conflito entre
Ptolomeus do Egito e os Selêucidas da Síria, da opressão dos santos pelos poderes seculares
sucessivos, até a intervenção de Miguel a seu favor. Poucos símbolos são usados nesta visão,
Como a visão é datada do terceiro ano de Ciro (10:1), segue-se que os três reis
que ainda se levantariam na Pérsia seriam Cambises II, o Falso Smerdis (conhecido nas fontes
gregas como Bardiya), e Dario I (522-486 a.C.). O quarto seria Xerxes (486-464), geralmente
identificado com o Assuero do livro de Ester (1:1), onde se destaca sua imensa riqueza (Ester
1:4-7).
"Suscitará a todos contra o reino da Grécia" (texto corrigido). Xerxes fez grandes
preparativos para vingar a derrota sofrida pelos exércitos persas face aos gregos em Maratona
(490 a.C.). Heródoto (VII, 61-80) conta mais de 40 nações que forneceram tropas ao exército
DANIEL 11 - Erro! Indicador não definido.
de Xerxes. A despeito de sua superioridade numérica as forças persas foram vencidas tanto na
batalha naval de Salamina (480 a.C.), como na batalha terrestre de Platéia (479 a.C.). Como
resultado destas vitórias a Grécia não mais seria invadida pelo exército Persa.
Porque mencionar quatro reis da Pérsia que sucederam a Ciro II, quando na
realidade houve 9 ? Parece ser um princípio observado nas profecias de Daniel que logo que a
potência dominante é vencida por outra, a atenção converge imediatamente para a nova
"rei poderoso" como Alexandre o Grande, cujo exército conquistou em tempo relâmpago o
vasto território do império persa. A descrição nos lembra Dan. 8:7, onde é dito que o carneiro
no auge do seu poder o reino de Alexandre foi quebrado, e dividido entre seus generais. Ver o
particular, o Reino do Sul e o Reino do Norte, e pela simples razão que primeiro um e depois
acontecimentos políticos adquirem significado no momento em que têm relação com o povo
de DEUS. Em vista do v.8 não há dúvida de que "o reino do Sul" é o Egito governado pelos
A história complicada da relação entre os dois reinos começa com o rei do sul,
Ptolomeu I Soter (306-283 a.C.), firme no trono. Foi adversário principal foi Seleuco I Nicator
(305-280), aqui chamado de "um de seus príncipes". Esta maneira de designar Seleuco é
apropriada, porque quando foi vencido por seu rival Antígono em 316 a.C., ele se colocou sob
DANIEL 11 - Erro! Indicador não definido.
a.C.), na qual Demétrio, filho de Antígono, foi vencido. No mesmo ano Seleuco recuperou o
Índia. O ano de 312 a.C. marca o começo da era Selêucida usada para datar os acontecimentos
em I e II Macabeus. O historiador grego Arriano chama Seleuco, "o maior dos reis que
sucederam a Alexandre, a mentalidade mais real, e dominador do mais vasto território depois
de Alexandre".1
acontecimentos que transcorreram 35 anos mais tarde, quando Antíoco II (261-246) desposou
Berenice, a filha de Ptolomeu II, por razões de Estado. Antíoco ao mesmo tempo divorciou
sua mulher e irmã, Laodice. Esta tentativa de cimentar as relações entre o Egito e a Síria não
teve êxito. Laodice conseguiu fazer envenenar Berenice e seu filho, garantindo deste modo
Verso 7 "Um renovo da linhagem dela" parece referir a Ptolomeu III, irmão de
Berenice, que quando sucedeu a seu pai em 246 a.C.invadiu a Síria para vingar o assassinato
de sua irmã. É claro que o país que está sendo invadido é o do rei do norte. Ptolomeu III
chefiou uma campanha vitoriosa através do território dos Selêucidas, levando seu exército até
à Mesopotâmia.
Verso 8 "Levará como despojo para o Egito". esta frase torna claro que o reino
do Sul é o Egito. Como resultado de suas vitórias Ptolomeu III pode levar para casa um botim
imenso. O Decreto de Canopo (239-238 a.C.) elogia Ptolomeu nos seguintes termos: "As
imagens sagradas levadas do país pelos persas, o rei tendo feito uma campanha no estrangeiro,
recuperou para o Egito".2 Embora liderando forças superiores Ptolomeu III deixou de tirar
Egito, mas foi derrotado e obrigado a voltar para a Síria de mãos vazias (c.240 a.C.).
Verso 10 "Os seus filhos farão guerra". A referência aqui deve ser aos filhos de
Seleuco II, Seleuco III (226-223), que foi assassinado depois de um breve reinado, e Antíoco
III o Grande (223-187). A grande ambição dos seleucidas era de anexar a Coele Síria e a
Palestina que tinha estado sob o domínio dos Ptolomeus desde a divisão do Império de
Alexandre. Com este objetivo em vista Antíoco III iniciou a guerra contra os interesses
contra Antíoco III, "O Rei do Norte". Antíoco por sua vez recrutou um exército de 62.000
infantes, 6.000 soldados de cavalaria e 102 elefantes.3 Tendo calculado mal a determinação
de seu adversário, Antíoco foi derrotado na batalha de Ráfia (217 a.C.), na fronteira do Egito.
caiu em sua mão, Ptolomeu IV não tirou partido de sua superioridade militar. Entrementes
Antíoco reparou suas perdas e durante vários anos combateu vitoriosamente até a fronteira da
Índia. Ptolomeu IV morreu em 203 a.C. e foi sucedido por seu filho, Ptolomeu V (203-181),
Verso 13 Antíoco III incansável preparou-se para uma segunda campanha para
A segunda parte deste verso lê no texto hebraico: "e ao cabo de tempos anos virá
à pressa, com grande exército..." Na sequência "tempos anos", o segundo termo parece ser
uma glosa que explica o enigmático "tempos". Se a glosa for parte do texto original,
forneceria uma chave valiosa para a compreensão de "tempos" em linguagem profética. Neste
verso a indicação de tempo parece referir aos dezesseis anos transcorridos entre as batalhas de
DANIEL 11 - Erro! Indicador não definido.
alcança uma importante vitória sobre as forças egípcias na batalha de Gaza (201 a.C.). Três
anos depois o exército de Ptolomeu V comandado pelo general grego Scopas sofre fragorosa
derrota às mãos de Antíoco em Paneon (198 a.C.), junto das cabeceiras da Jordão. Como
condições de impedir que Antíoco ocupe a Coele Síria e a Palestina, aqui chamada "terra
gloriosa"(ver Dan.8:9).
termos de paz ao Egito. Esta deve ser selada por um casamento político entre Cleópatra, filha
partes da Grécia, irritando assim Roma que tinha ambições semelhantes. Derrotado pelas
legiões romanas na Europa, Antíoco procurou deter o avanço de Roma na Ásia menor. Sofreu
uma segunda derrota na batalha de Magnésia (190 a.C.), quando foi obrigado a evacuar toda a
Ásia Menor e pagar uma idenização esmagadora. O comandante romano (Heb. gatsin) foi L.
Cornelius Scipius, que fez Antíoco pagar caro por sua invasão da Europa.
Verso 19 Para encher seu tesouro vazio Antíoco III empreende uma campanha
de pilhagem nas províncias orientais de seu império, mas encontra uma morte ignominiosa ao
sitiar uma cidade no Elão. Assim pereceu o mais aguerrido dos reis Selêucidas.
DANIEL 11 - Erro! Indicador não definido.
Verso 20 Antíoco foi sucedido por seu filho Seleuco IV. Sobrecarregado com a
dívida pesada herdada de seu pai, enviou um "exator de tributo", Heliodoro, à Judéia com o
plano de pilhar o Templo. Um pouco mais tarde Heliodoro encabeçou uma conspiração na
no resto deste capítulo um retrato velado das atividades Antíoco IV Epifânio (175-163), na
sua determinação de desarraigar a cultura e a religião dos judeus, as quais na sua opinião
enfraqueciam a unidade do reino. Não há dúvida que esta confrontação foi a mais séria que a
nação judaica encontrou desde o exílio em Babilônia. Em jogo estava a própria sobrevivência
dos judeus como uma comunidade distinta encarregada de testemunhar da soberania universal
de Jeová. Como o povo eleito tinha sido advertido por profetas como Jeremias e Ezequiel de
calamidades vindouras, seria natural esperar uma "palavra do Senhor" concernente à ameaça
representada por Antíoco Epifânio à vida e à fé da nação judaica. É nossa crença que uma tal
palavra se encontra neste capítulo que tanto tem a dizer dos acontecimentos da época
helenística.
De outro lado é nossa opinião que esta crise provocada por Antíoco Epifânio foi
típica de outras crises enfrentadas pelo povo de DEUS em outras épocas, e que esta profecia
foi deliberadamente expressa em termos tais que podia ser uma fonte de conforto aos fiéis em
situações semelhantes. Os atores do drama são diferentes, mas os tramas feitos contra a Igreja
têm muito em comum. A história não se repete em termos idênticos, mas pogroms e
De modo que não é surpreendente que se uma geração pudesse ler na profecia do
cap.11 uma descrição plausível da crise macabeana, outra podia ser impressionada com as
alusões a acontecimentos que levaram à crucifixão de Cristo, e ainda outra poderia reconhecer
DANIEL 11 - Erro! Indicador não definido.
neste esboço traços da crise final, que precede o estabelecimento do reino de DEUS. Não
enfocando nenhuma destas crises com muita nitidez, esta profecia permite a cada geração
achar aquilo que melhor serve a suas necessidades espirituais. Outrossim ficaríamos
século e meio não tivesse nada a dizer da crise que mais diretamente afetou a nação judaica.
De outro lado, se a intenção divina foi esboçar as crises principais na história da redenção, não
Visto que a partir do v.21 tratando com uma descrição polivalente das potências
sucessivas que puseram em risco a sobrevivência do povo eleito, qualquer tentativa de uma
de Jerusalém estão combinadas com predições relacionadas com a segunda Vinda de Cristo.
Ao passo que alguns traços da profecia se aplicam a ambos os eventos, outros pertencem mais
Daniel nada sabia de um futuro Império Romano é despropositado. Qualquer leigo com um
conhecimento elementar da política mundial poderia saber em 165 a.C., a data atribuída ao
livro de Daniel, que a potência que projetava sua sombra cada vez mais ameaçadora sobre
toda a bacia do Mediterrâneo era Roma. Já em 190 a.C. Antíoco III tinha sentido o impacto do
tinham colocado sob a proteção romana em 273 a.C. Rodes e Pérgamo estavam fazendo o
mesmo. A batalha de Pidna em 168 a.C. soou o dobre de finado para o reino da Macedônia
DANIEL 11 - Erro! Indicador não definido.
que os Antigônidas tinham extraído das ruínas do império de Alexandre. Naquele mesmo ano
Antíoco Epifânio foi obrigado a retirar seu exército do Egito sob ameaça de represália militar
romana. Mesmo Judas Macabeu firmou um tratado de amizade com Roma em 161, a fim de
melhor poder enfrentar o inimigo Sírio. No prefácio a este tratado (I Macabeus 8:1-13) há
uma longa descrição das proezas das armas romanas tanto no oeste como no oriente. Qualquer
autor do segundo século antes da nossa era podia adivinhar que Roma retinha em suas mãos
os azes do futuro. Somente o preconceito pode afirmar que Daniel nada podia saber de roma,
quer escrevesse no sexto século a.C. sob inspiração divina, ou como simples observador da
do v.21, o qual não estivesse na linha direta de sucessão obteve o trono por astúcia. Na
Onias III, perdeu o posto para Menelao e foi assassinado algum tempo depois. Menelao por
sua vez teve seu lanço coberto pelo de Jasão e foi expulso do sumo-sacerdócio (verso 22). A
política tortuosa de Antíoco IV é descrita nos vv.23-27. Em sua luta com Ptolomeu VI do
Egito, Antíoco não hesitou em usar força militar e diplomacia ambígua. Em sua campanha de
169 a.C. contra o Egito ele obtém algum êxito, mas os judeus recalcitrantes - a santa aliança -
Em sua segunda campanha contra o Egito (168 a.C.), o resultado não foi o que
esperava. "Virão contra ele navios de Quitim" (v.30). Quitim era um termo geralmente
Assur e Heber designam respectivamente a Síria (Assíria) e a nação hebraica. Heber foi um
dos antepassados de Abraão (Gen.11:16). I Macabeus 1:1 e 8:5 aplicam o termo Quitim à
DANIEL 11 - Erro! Indicador não definido.
usam o termo Quitim, e F.F. Bruce vê nele uma referência à Roma.4 Com efeito foi o legado
romano que obrigou Antíoco a retirar-se do Egito em 168 A.C. Frustrado em suas ambições
Antíoco dirigiu sua fúria contra "a santa aliança", claramente uma referência à religião
judaica. A Antíoco lhe parecia que a única maneira de resistir ao avanço romano no futuro era
unificando seu reino mais rigorosamente impondo a seus súditos uma só cultura e uma só
religião.
religioso, e mesmo profanar o altar de sacrifícios colocando sobre ele "a abominação
renunciar a sua religião, mas outros preferiram resistir e sofrer por sua fé (vv.32-33). Os fieis
são chamados "entendidos", mas o preço que pagaram por sua lealdade a Deus foi terrível. A
duplicidade de outro. O sofrimento é declarado não ser em vão porque contribuiria para
purificar e embranquecer.
em seus dias, é também uma descrição apta dos ultrajes perpetrados por Roma pagã contra o
povo judeu e sua religião na guerra que levou à destruição de Jerusalém e do Templo em 66-
70 A.D. Em Mat.24:15 temos nada menos do que uma aplicação desta profecia dos lábios de
O sentido pleno do v.31 não é esgotado pela explicação acima. Percebe-se nele
um eco das palavras de Dan.8:11-13, e lá a remoção do contínuo, o tamid, pela ponta pequena
foi vista significar o aquecimento em que o santuário celeste e a obra mediatória de Cristo
caíram como resultado da apostasia da igreja medieval. Dan.8:14 torna igualmente claro que a
DANIEL 11 - Erro! Indicador não definido.
Cristo não seria alcançada até 1844. Como cada crise na história da igreja assume um caráter
mais espiritual, e as questões em jogo são cada vez maiores, segue-se que a "abominação
espúrias em oposição ao cristianismo autêntico. Sua manifestação extrema seria uma teologia
inteiramente secularizada, uma forma de cristianismo sem Cristo, que ganharia ampla
deificação própria de Antíoco, que então se torna o tipo de toda tentativa subseqüente de auto-
deificação do estado ou da igreja em que desafio ao único Deus verdadeiro. Os paralelos entre
11:36 e 7:25 são evidentes. De igual modo vem-nos à mente a descrição do "homem de
iniqüidade" de II Tess. 2:1-12. Assumindo títulos divinos e fazendo pose de deus, Antíoco
do tirano: "Antíoco, de sobriquete Epifânio, ganhou o nome de Epimanes (louco) por sua
conduta".5
Não somente feriu a sensibilidade religiosa dos judeus mas também a dos pagãos, por sua
falta de respeito aos deuses da devoção popular, como, por exemplo, Tamuz-Adonis, aqui
chamado "o que é amado pelas mulheres", bem como aos deuses olímpicos honrados por seus
pais. Se honrava a qualquer deus este era o da guerra, aqui designado "o deus das fortalezas"
esboço profético são apropriados para Antíoco. Mas se este esboço é visto como uma
desvanecem. O v.39, por exemplo seria muito mais apto como descrição de Roma com sua
DANIEL 11 - Erro! Indicador não definido.
política de estabelecer reis vassalos ao longo das fronteiras como estados-tampãos contra os
bárbaros de além. Seria também uma descrição apropriada do papado da Idade Média, o qual
coroava reis e depunha reis, vendia cargos eclesiásticos, e até dividiu o globo entre os
Antíoco IV no campo da política levantina, então o autor errou o alvo de longe. Intérpretes
liberais, com efeito, declaram que estes versos contém a única profecia genuína do livro, e que
ela falhou completamente. Alguns imaginam poder precisar a data exata desta profecia, que
em sua opinião teria sido depois de 165, mas antes de 163 A.C., o ano em que Antíoco morreu
no Elão.
Mas aqueles que como o presente autor vêm neste capítulo a descrição de
episódios paralelos, mas bastante separados no tempo, marcando crises sucessivas na grande
controvérsia entre Cristo e o anticristo , não tem dificuldade de ver neste versos uma profecia
ainda não cumprida, mas que terá seu cumprimento "no tempo do fim" (v.40). Os vários
atores neste drama, embora chamados pelos mesmos nomes, tais como "rei do Sul" e "rei do
Norte", representam poderes político-religiosos que atuam na última fase da história mundial.
Estas potências têm suas ambições políticas, mas nenhuma delas é favorável ao povo de Deus.
De fato para os santos "haverá tempo de angústia, qual nunca houve" (121). Mas tentar definir
estas potências com maior precisão seria uma forma de presunção, pois se trata de profecia
estudante prever o futuro, mas confirmar sua fé no momento que a profecia encontra cumpri-
mento. Esta opinião concorda com o dizer de Jesus a Seus discípulos: "Disse-vos agora, antes
que aconteça, para que, quando acontecer, vós creiais" (João 14:29).
O esboço profético que nos dá Daniel é bastante claro no que toca à tendência
DANIEL 11 - Erro! Indicador não definido.
geral do conflito político-religioso dos séculos, mas insuficiente para a identificação de cada
pormenor histórico. Basta saber que quando a última personificação do anticristo sair "com
grande furor para destruir e exterminar a muitos", Deus intervirá para dar-lhe "fim e não
continuação da profecia precedente, e que logicamente estes versos deviam ter sido ligados ao
cap.11. A frase, "nesse tempo", é sem dúvida uma referência à crise descrita em 11:40-45, a
qual o v.40 associa com o "tempo do fim". Embora esta expressão seja associada com
O "tempo de angústia" que precede o fim constituirá uma ameaça tão grande à
Dan.10:11 argumentou-se que Miguel é outro nome de Cristo.6 Cristo parece referir-se
mesma crise quando disse: "porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o
Justo antes do fim muitos professarão ser discípulos de Cristo, mas somente
aqueles cujo nome "for achado inscrito no livro" da vida serão salvos. Esta afirmação nos
julgamento que precede a segunda vinda é enfocado aqui, julgamento que determina que
nomes permanecem no "livro da vida", e que nomes serão apagados (Apoc.3:5). Assegura-se
neste verso livramento para todos os santos que estiverem vivos por ocasião do segundo
advento. Não serão isentos de tribulações, como ensinam os dispensacionalistas com sua
doutrina do "rapto secreto", mas serão livrados das tribulações quando Deus houver por bem
intervir.
DANIEL 11 - Erro! Indicador não definido.
Verso 2 Alguns comentadores tomam este verso como uma referência a uma
morreram com mártires na causa da verdade (11:33). Mas o fato é que o termo hebraico
"todos" são praticamente sinônimos como o paralelismo entre Isa.2:2 e 2:3 o mostra. Como
não há no vocabulário hebraico um termo para "todos", rabbim supre em muitos casos a falta,
e pode ser traduzido por "todos", "multidão". Assim uma versão moderna da Bíblia traduz
este verso do seguinte modo: "Multidões que dormem no pó da terra..."7 É bem provável que
Daniel não tivesse idéia alguma de uma dupla ressurreição, como se afirma em João 5:28,29,
(versos 5,6) e outra que ocorre no final do milênio (v.13). A verdade da ressurreição não foi
revelada em sua plenitude aos profetas do V.T. Mas raiou sobre eles gradualmente como "a
luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito" (Prov.4:18). Com efeito este
texto de Daniel é o mais claro de todo o Velho Testamento no tema da ressurreição, mas fica
Verso 3 Este verso que fala da recompensa dos santos é escrito em linguagem
poética. A segunda parte do verso corresponde à primeira, como é típico da poesia hebraica.
Assim, "os que forem sábios" da primeira parte corresponde a "os que a muitos conduzirem à
justiça" da segunda. Pode-se dizer que a segunda expressão define e explica a primeira. O
acento, então, não é sobre sabedoria intelectual, mas sobre serviço inspirado pelo amor para a
salvação de nossos semelhantes. Falando da recompensa dos santos Cristo usou uma
linguagem muito semelhante:"Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai"
(Mat.13:43).
Verso 4 Uma compreensão plena do livro não poderia ser alcançada "até ao
DANIEL 11 - Erro! Indicador não definido.
tempo do fim". O entendimento aumentaria pari passu com o desenrolar dos acontecimentos
preditos no livro. Cada geração compreenderia aquela porção da profecia que lhe fosse
Nem todos as compreenderiam, diz o v.10. A promessa, porém, fica de pé: "Mas
os sábios entenderão". O termo "sábio" não deve ser interpretado como se referisse a uma
sabedoria esotérica reservada para uma elite como no gnosticismo. Os "sábios" são todos
aqueles cujas mentes estão sintonizadas com o Espírito de Deus, receptivos à luz divina. Eles
qual fala nosso verso é certamente o conhecimento relativo ao significado destas profecias.
NOTAS
2. J.P. Mahaffy, A History of Egypt under yhe Ptolemaic Dynasty (New York, 1899),
p.113.
6. Assim C.F. Keil, Book of Daniel, p. 475, que também crê que os acontecimentos
aos quais se refere neste verso "se completarão mais plenamente na segunda vinda do
Senhor".
DANIEL 12:5-13
O TEMPO DO FIM
das cousas que lhe foram mostradas. Nem sempre o profeta é cônscio do sentido mais
profundo da revelação que lhe é confiada. Eles também só conheciam "em parte" (I Cor.
Versos 5 e 6 Estes versos mostram que seres celestes estão interessados nos
assuntos desta terra, e que mesmo para eles o futuro não é um livro aberto. A questão suprema
em suas mentes é: "Quando se cumprirão estas maravilhas?" O termo "maravilhas" deve ser
Verso 7 O ser majestosos que pairava sobre as águas do rio é sem dúvida a
mesma figura descrita em Dan.10:4-6. O cenário é o mesmo que no começo da visão, à borda
de uma corrente. A solenidade do juramento que pronuncia é realçada pelo fato de levantar "a
mão direita e a esquerda ao céu". S.R. Driver interpreta o gesto como "a mais completa
garantia da verdade que será declarada".1 O que vai ser afirmado é de importância capital.
Segue-se que o período profético de "um tempo, dois tempos e metade de um tempo",
séculos. Lá se fala, entre outras cousas, da opressão "dos santos do Altíssimo", pelo décimo
DANIEL 12 -
primeiro chifre que se levantaria das ruínas do Império Romano (7:7,8). Aqui se fala da
"destruição do poder do povo santo". Aos santos se promete escape da tribulação sofrida por
amor de Cristo, mas se lhes assegura livramento no tempo escolhido por Deus. Implícita na
declaração solene deste ser celeste é a promessa de que a história deste mundo com todo seu
horror não se arrastaria para sempre, mas seria consumada afinal pela intervenção divina. O
começo do período do fim seria marcado pelo fato que o papado sofreria um grande revez no
Verso 8 As palavras enigmáticas que ele acabava de ouvir não foram suficientes
para dissipar a ansiedade de Daniel. O fim deste conflito prolongado ainda se lhe escapava.
precisava aguardar "o tempo do fim". Pouco adiantaria revelar a Daniel o nome das super-
potências que desempenharão o papel final nos negócios deste mundo. Estes nomes não se
lhes significariam mais do que se o anjo lhe dissesse que no século XX haveria computadores
e foguetes teleguiados.
fornalha da tribulação seu caráter seria purificado e refinado do mesmo modo que a escória é
terra até o fim, e constituiria um impedimento à compreensão das cousas de DEUS. Como o
apóstolo declarou: "A palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que
somos salvos, poder de DEUS" (I Cor. 1:18). A promessa de que os verdadeiramente sábios
entenderão deveria encorajar a todo crente a devotar toda sua energia para alcançar uma
Versos 11, 12 Intérpretes liberais obcecados com a idéia que o livro de Daniel
foi composto no segundo século antes da nossa era, e que tem como tema principal a crise
DANIEL 12 -
precipitada por Antíoco Epifânio quando profanou o templo em Jerusalém e proibiu a prática
da religião judaica, propõem que os 1290 e os 1335 dias aqui mencionados são correções
posteriores dos períodos proféticos de Daniel 7:25 e 8:14, quando os acontecimentos preditos
não se materializaram. A sugestão original foi feita por Gunkel e foi adotada por
possibilidade prática de introduzir correções num livrete que já estava em circulação. O que é
pior as correções não são melhores do que as predições originais, pois também não se
enquadram no intervalo que separa a profanação do santuário em 168 a.C. e sua restauração
em dezembro de 164 a.C. Além disto, já foi demonstrado no comentário a Dan.8:14 que as
2.300 tardes e manhãs não podem de modo algum ser interpretadas como 1.150 dias.
mas ao tempo todo coberto pela visão descrita em 8:2-14, que abrange a duração de vários
impérios. O panorama profético revelado a Daniel certamente incluia a crise que ameaçou a
comunidade judaica sob Antíoco Epifânio, mas abrangia muito mais. A julgar pelo
paralelismo dos capítulos 2, 7 e 8, abrangia os dois e meio milênios que se estendem dos dias
provável que tanto uma como a outra se referem ao mesmo acontecimento, a saber, a
obscuridade até "ao tempo do fim", quando de novo luz seria lançada sobre o aspecto celeste
suas implicações são plenamente avaliadas à luz da epístola aos Hebreus, caps. 7-10. O
preconceito humanístico que coloriu a Teologia Protestante centrada como era sobre o homem
DANIEL 12 -
nesta terra e sua necessidade de salvação, devia ser corrigida por uma compreensão melhor do
Se este epílogo enfoca "o tempo do fim", como evidentemente o faz (vv.4, 9 e
13), parece-nos apropriado considerar os 1290 e os 1335 dias como tempos literais
abrangendo este número de dias. A favor desta hipótese milita o fato que estes sãos os únicos
períodos proféticos no livro de Daniel que são expressos em "dias". Em todos os outros casos
tempo profético é expresso sob vários símbolos: "tempo" (7:25), ou "tardes e manhãs" (8:14),
ou "semanas" (9:24). Tudo se passa como se na crise final todo o drama dos séculos é
recapitulado numa escala abreviada. Pode-se, então, imaginar um tempo de angústia "qual
nunca houve" durante 1.290 dias literais, ou sejam, pouco mais de 3 anos e meio, seguido por
Uma bênção é pronunciada sobre os que perseveram até o final dos 1335 dias,
porque então Cristo depõe Suas vestes sacerdotais, e aparece nas nuvens do céu como "Rei
dos reis, e Senhor dos senhores", para livrar os santos que estão vivos (v.1). Como o ponto de
partida destas duas profecias não é dado, não podem ser usadas para calcular o dia e a hora da
Segunda vinda de Cristo, o conhecimento dos quais DEUS tem reservado para Si Próprio
Verso 13 Quanto a Daniel, ele também precisa perseverar até o fim, ele também
deve descansar na sepultura porque o tempo do livramento estava ainda no futuro. Mas no
"fim dos dias", ele também seria levantado dentre os mortos com o "povo dos santos do
Altíssimo" (7:27).
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NOTAS