Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
9338-Texto Do Artigo-29677-1-10-20090321
9338-Texto Do Artigo-29677-1-10-20090321
Paulo Knauss
Departamento de História
Universidade Federal Fluminense
Resumo
O trabalho tem como objeto as relações entre arte estrangeira e arte nacional no
Brasil. O foco são as exposições de arte organizadas por diversos países no
contexto político da Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido, o ponto de partida
é da caracterização da arte e das exposições como instrumento da diplomacia,
promovendo tendências artísticas no Brasil. A concorrência política informa va-
riantes das artes plásticas. Ao final, a análise destaca como a recepção da arte
européia no Brasil conduziu a uma apropriação nacionalizadora das formas artís-
ticas estrangeiras. Assim, a proposta consiste numa investigação sobre os senti-
dos da arte estrangeira no Brasil.
The foreign art in Brazil: expositions of art in the context of World War II
Abstract
The issue of this paper is the relationship between foreign art and national art in
Brazil. The focus is on the art exhibitions organized by different countries in the
political context of the Second World War. In this sense, the starting point is the
characterization of art and exhibitions as a diplomacy instrument, promoting
different art tendencies in Brazil. The political concurrence informed plastic arts
variations. At the end, the analysis highlights how the reception of European art
in Brazil has driven to a nationalizing appropriation of the foreign artistic forms.
Thus, the proposal consists in a research about the senses of foreign art in Brazil.
ARTE E DIPLOMACIA
POLÍTICA DA ARTE
do museu até 1966. Mas, ainda no início de sua carreira, tornou-se adjunto de
Louis Hautecoeur, conservador do Museu de Luxemburgo e ex-professor de toda
a geração de conservadores que incluía René Huyghe e Jean Cassou. Depois de
ser preso e afastado de seu posto no governo de Vichy, Jean Cassou entrou para
o movimento da Resistência, o que fez com que depois da Libertação fosse con-
sagrado como herói nacional, assim como René Huyghe. 15 Ambos representam
uma geração de críticos de arte franceses marcados pela experiência da resis-
tência e que são caracterizados pela ruptura com o regime autoritário de Vichy.
As duas biografias, no entanto, se cruzam com a história de Louis Hautecoeur,
conservador do Museu do Louvre de destaque no seu tempo, e que assumiu a
direção da Secretaria-Geral de Belas Artes durante o regime de Vichy, entre
1940 e 1944. 16 Depois da guerra, René Huyghe e Jean Cassou contribuíram com
seu depoimento para a absolvição de Hautecouer diante do tribunal de guerra.
Mesmo que nunca tenha conseguido se desligar inteiramente desta passagem de
sua vida, Hautecoeur continuou como um crítico de arte ativo e valorizado na
França do pós-Guerra. A menção a estas trajetórias aponta para o dilema da
política das artes na França durante o período da Guerra. De um lado, há uma
memória da resistência que se identifica com o afastamento de várias personali-
dades em relação ao regime do marechal Pétain. Essa memória é corroborada
ainda pela repressão ou restrição às atividades de vários artistas conhecidos na
França daquele tempo. 17 Por outro lado, há uma evidente permanência de alguns
nomes em vários postos da administração pública no campo das artes, que suge-
re uma espécie de acomodação ao novo regime. A memória e os fatos da resis-
tência eclipsam os espaços efetivos de colaboração.
Outro personagem desse período é Philippe Erlanger, que permaneceu de
1938 a 1968 na direção da Association Française d´Action Artistique – AFAA,
atravessando, assim, na mesma posição diferentes fases da política francesa,
inclusive o período do autoritarismo. No seu caso, a condição de judeu e o paren-
tesco com a família de banqueiros Camondo, que encontrou seu fim no quadro do
holocausto, não o impediu de se adaptar ao regime de Vichy e guardar sua posi-
ção no aparelho de Estado, como dirigente da AFAA. 18 Há, assim, uma ordem
de fatores que indica que Vichy não interrompeu a administração das artes na
França e impõe à crítica histórica desse contexto limites hagiográficos da história
institucional, para repetir o argumento de Denis Rolland. 19
RIVALIDADES
em afirmar os EUA como referência para a arte daqueles tempos, por oposição
aos modelos europeus. Isso vai fica mais claro, no segundo pós-Guerra, com a
promoção da action painting e a obra de artistas como Jackson Pollock, tal
como demonstrou Serge Guilbaut num livro de referência para essa discussão.25
O contexto histórico, portanto, apresentou uma situação de disputa de modelos
da arte, que vai ganhar expressão no pós-Guerra, mas tem sua origem marcada
pela Segunda Guerra Mundial. É possível sugerir que a arte se constituiu nesse
contexto político numa arena das rivalidades diplomáticas, que colocou a noção
de arte em debate. A crítica de arte, assim, acompanhou e colaborou com a
diplomacia.
APROPRIAÇÃO BRASILEIRA
NOTAS
1
Cf., KNAUSS, Paulo. O cavalete a paleta: arte e prática de colecionar no Brasil. Anais do Museu
Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v.33, p.23-44, 2001.
2
Cf., ROLLAND, Denis (coord.). Histoire culturelle des rélations internationales : carrefour méthodolo-
giques. Paris, L´Harmattan, 2004.
3
Cf., KNAUSS, Paulo. O desafio de representar o futuro: a estátua eqüestre de d. Pedro II e os
sentidos da escultura monumental no Brasil. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v. 37,
p. 235-252, 2005.
4
CF., LIMA, Lucia de Meira. O Palace Hotel: um espaço de vanguarda no Rio de Janeiro. IN: CAVAL-
CANTI, Lauro (org.). Quando o Brasil era moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro, 1905-1960. Rio de
Janeiro, Aeroplano, 2001. p. 60-119.
5
Cf., Idem.
6
Cf. ROLLAND, Denis. Entre mepris et desinteret: les oeilleres de la propagande d´État française en
direction de l´Amérique latine (1914-1940). IN : ROLLAND, Denis et alii (dir.). Les Républiques en
propagande. Paris, L´Harmattan, 2006. p. 269-278.
7
Agradeço essa informação à gentileza de Raquel Paz dos Santos.
8
Cf., De Manet a nossos dias; exposição.... Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Saúde, outubro,
1949.
9
Cf., Idem.
10
Cf., Peintres français d´aujourd´hui – art décoratifs - Rio de Janeiro, 1945. [tradução nossa]
11
Cf., Idem.
12
Cf., Idem.
13
Cf., Idem.
14
Cf., HUYGHE, René. Une vie pour l´art : de Léonard à Picasso . Paris, Ed. de Fallois, 1994.
15
Cf., CASSOU, Jean. Une vie pour la liberté . Paris, Robert Laffont, 1981.
16
Cf., POULAIN, Caroline. La permanence des Beaux-Arts dans la fracture de Vichy: l´action e Louis
Hautecouer au sécretariat génèral des Beaux-Arts, 1940-1944. Écoles des Chartes, 2001.
17
Cf., CONE, Michèle C. Artist under Vichy: a case of prejudice and persecution. Princeton, NJ, Princeton
University Press, 1992. Um panorama das questões da arte na França sob o regime de Vichy se
encontra em: BERTRAND DORLÉAC, Laurence. Histoire de l´art -, Paris – 1940-1944: ordre natio-
nal, traditons et modernités. Paris, Publications de la Sorbonne, 1986.
18
Cf., ERLANGER, Philippe. La France sans étoile ; souvenirs d´avant-guerre e du temps de l´Occupation.
Paris, Plon, 1974.
19
Cf. ROLLAND, Denis. Les limites hagiographiques de l´histoire institutionelle : les Affaires étragè-
res, l´action culturelle de la France à l´étranger et le syndrome de Vichy. Le Temp des Savoirs ; revue
interdisciplinaire de L´Institut Universitaires de France. Paris, n. 3, p.155-177. 2001.
20
Uma consideração dessa exposição aparece no trabalho: GIUNTA, Andréa. Misión imposible:
Nelson Rockefeller y la cruzada del internacionalismo artístico. IN: SALVATORE, Ricardo (comp.).
Culturas imperiales: experiencia y representación en América, Asia y Africa. Buenos Aires, Beatriz Viterbo,
2005. p. 185-211.
21
Cf., Pintura contemporânea norteamericana; catálogo . Rio de Janeiro, 1941.
22
Cf., Idem. p. 5.
23
Cf., Idem. p. 9
24
Cf., Idem.
25
Cf., GUILBAUT, Serge. Comment New York vola l´idée d´art moderne: expressionisme abstrait, liberté
et guerre froide. Paris, Hachette, 2006.
26
Cf., BENTO, Antônio. Manet no Brasil. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Saúde, 1949. p. 9.
27
Cf., Idem. p. 8.
28
Cf., Idem.
29
Cf., Idem. p. 9.