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Engenharia Ambiental:

Conceitos, Tecnologia e Gestão

FALSO ROSTO
PROVISÓRIO
APRESENTAÇÃO

Neste momento, em que o primeiro curso de graduação em Engenharia Ambiental no Brasil completa 21
anos, apresentamos a obra Engenharia Ambiental: Conceitos, Tecnologia e Gestão. Este livro segue a linha
natural de raciocínio e aprendizado de um engenheiro formado pela Escola de Engenharia de São Carlos,
da Universidade de São Paulo, na qual o curso de graduação em Engenharia Ambiental formou sua pri-
meira turma no ano de 2007.
Esta publicação compreende 30 capítulos, divididos em cinco eixos temáticos, quais sejam: Funda-
mentos, Ecossistemas Aquáticos e Terrestres, Impactos Ambientais, Ações Mitigadoras de Impactos Am-
bientais e Gestão Ambiental. O leitor encontrará aproximadamente 300 ilustrações, além de sugestões de
leitura complementar e uma série de exemplos que abordam situações reais que o profissional do ambiente
vivenciará.
Esta proposta se justifica pelo fato de que a formação de um Engenheiro Ambiental deve ter como
base a consolidação de fundamentos de engenharia, biologia, geologia, ecologia, química, física e saúde
pública. Este é o alicerce para que o profissional tenha uma visão integrada do ambiente e seja capaz de
identificar, caracterizar, dimensionar, prevenir e mitigar os impactos a que os sistemas ambientais estão
continuamente submetidos.
Para enfrentar esses desafios, reconhece-se a necessidade da integração de equipes multidisciplinares
que contribuam para a identificação do problema a ser resolvido, tarefa precípua de qualquer engenheiro,
e para a busca permanente de alternativas tecnológicas otimizadas e adequadas dos pontos de vista am-
biental, social e econômico. Para garantir a multidisciplinaridade, este livro contou com a participação de
52 autores oriundos das seguintes áreas: Engenharia (Ambiental, Civil, Mecânica, Agronômica, Produção,
Química, Recursos Hídricos, Sanitária e Florestal), Ciências Biológicas, Oceanografia, Ecologia, Admi-
nistração, Matemática, Arquitetura e Urbanismo, Física, Geologia, Meteorologia, Geografia e Medicina.
O objetivo principal desta obra não foi esgotar o conhecimento sobre Engenharia Ambiental, o que
seria impossível. Ao contrário, seu objetivo foi introduzir o assunto de forma holística, em uma sequência
de capítulos que propicie a compreensão de alguns aspectos da vasta área de atuação do Engenheiro Am-
biental, e estimule o conhecimento para garantir a implementação de soluções para problemas decorrentes
da intervenção do homem sobre o meio ambiente, com vistas à sustentabilidade.
Maria do Carmo Calijuri
Davi Gasparini Fernandes Cunha
PREFÁCIO

A Engenharia Ambiental, como uma modalidade da engenharia, veio sanar a falha das engenharias tra-
dicionais que não incluíram em seus procedimentos, oportunamente, os conceitos de respeito ao meio
ambiente, à sua capacidade de suporte em termos de exploração dos seus recursos e de devolução de resí-
duos a ele. Tardou-se o reconhecimento dos danos causados ao meio pela corrida desenvolvimentista em
busca de crescente produção industrial para corresponder à demanda de mercadorias e conforto. Desde a
Revolução Industrial até algumas décadas atrás, não se cogitava o conceito de sustentabilidade, apesar de
alguns terríveis episódios de desastres ambientais: poluição dos cursos de água, poluição atmosférica em
regiões urbanas, poluição do subsolo e perda da biodiversidade.
A revolta popular nos anos 1960 nos Estados Unidos e na Europa foi o estopim para que as organi-
zações mundiais convocassem a sociedade humana para tomar conta da situação do meio ambiente, já
bastante deteriorado. Após presenciar um derramamento massivo de óleo em Santa Barbara (Califórnia)
e inspirado pelo movimento estudantil contra a guerra do Vietnã, o senador norte-americano Gaylord
Nelson convocou fóruns educacionais ambientais gerais (os Teach-ins) no primeiro “Earth Day”, no dia
22 de abril de 1970, dos quais participaram 20 milhões de norte-americanos. Era tão forte o sentimento
antiempresarial naquela ocasião, que os organizadores recusaram ajuda das corporações para tal iniciati-
va porque pretendiam desafiar os próprios líderes governamentais e corporativos. Posteriormente, o Dia
Mundial do Meio Ambiente foi criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas de 15 de dezembro de
1972, para ser celebrado anualmente em 5 de junho. Esta data comemora a primeira atitude mundial em
tentar organizar as relações entre homem e meio ambiente durante a Conferência de Estocolmo, de 6 a 16
de junho de 1972. A consciência ambiental tem obtido impulso com realização de diversos fóruns mundiais,
principalmente a Rio 92 e a Rio+20, realizada em 2012.
Tem havido sensível progresso no terreno da consciência ambiental, não obstante a persistência de oca-
sionais desastres ecológicos na atualidade, como o da British Petroleum no Golfo do México, que transfor-
mou grandes áreas em um oceano morto em 2010; a continuada dificuldade na implementação das metas,
acordadas após a Rio 92, de redução dos gases responsáveis pelo efeito estufa e a ameaça do aquecimento
global; a matança e a pesca de espécies ameaçadas de extinção para consumo humano; o desmatamento de
florestas para agricultura e ocupação urbana e tantos outros flagrantes ataques à natureza. Tais ocorrências
hoje recebem ampla cobertura na mídia e são encaradas com grande indignação pelas populações afetadas
ou não e pelos governos com pesadas multas e sanções aos perpetrantes. As indústrias e o comércio têm
buscado reconhecimento do consumidor por seus esforços “verdes” no sentido de oferecer produtos e ser-
viços sem ferir a natureza. Organizações como Greenpeace estão cooperando com gigantes como o Google
para promover tecnologias favoráveis ao meio ambiente. Para alguns veteranos do movimento ambiental,
no entanto, tal ecoconsumismo é frustrante, por desviar a atenção dos problemas ambientais reais.
Engenharia ambiental: conceitos, tecnologia e gestão

A elevação da consciência ambiental continuará sendo tarefa primordial da sociedade humana, de-
vendo a educação ambiental ser praticada em todos os níveis, a fim de formar cidadãos conscientes de sua
responsabilidade socioambiental. A introdução de cursos de Engenharia Ambiental permite difundir, na
prática, os conceitos e as tecnologias na gestão de recursos ambientais, e os novos engenheiros que se for-
marem nessa modalidade acrescentarão ao movimento já existente pela constante discussão das questões
ambientais no meio geral. Com a mentalidade sadia, deverão atuar em todas as instâncias: governamental,
setor privado e instituições de pesquisa. É preciso aplicar abordagens multidisciplinares para despoluir o
meio ambiente e desenvolver soluções sustentáveis para o futuro.
Este livro reúne material didático proveniente de diversos campos de conhecimento para oferecer uma
boa base aos alunos de cursos de graduação em Engenharia Ambiental. O livro busca uma transição das
engenharias “hard” para uma engenharia que leva explicitamente em conta a vida no planeta e representa
um acordar para a Engenharia Ambiental de maneira fluida, reforçando a responsabilidade da engenharia
para com o meio ambiente. Os autores merecem elogio por aceitarem o desafio de organizar um livro-
-texto para os cursos de engenharia ambiental, que considero pioneiro neste campo. Eles alcançaram
admiravelmente bem seus objetivos.
O livro é dividido em cinco eixos temáticos, desde fundamentos até gestão ambiental, varrendo os
ecossistemas, os impactos ambientais e as ações mitigadoras. Conceitos modernos, como os da microbio-
logia e suas técnicas, são apresentados de forma didática. São ressaltados os serviços proporcionados por
diversos ecossistemas e as estratégias sustentáveis para usos humanos. Os autores de cada capítulo estabe-
leceram ampla conexão de seus assuntos com os demais capítulos do livro e cada capítulo se encerra com
uma breve revisão dos conceitos nele tratados, os quais são ilustrados com exemplos. O material, embasado
em referências bibliográficas amplas, traz sugestões para leitura aprofundada.

Fazal Hussain Chaudhry


Engenheiro civil – Punjab University, Paquistão
Mestre em engenharia hidráulica – Asian Institute of Technology, Tailândia
Doutor em engenharia civil – Colorado State University, Estados Unidos
Pós-doutor em engenharia sanitária – Iowa State University, Estados Unidos
Livre-docente – Universidade de São Paulo, Brasil
Professor titular aposentado – Universidade de São Paulo, Brasil

vi
SOBRE OS COORDENADORES

Maria do Carmo Calijuri


É licenciada e bacharel em Ciências Biológicas (1982) e Mestre em Ecologia e Recursos Naturais
(1985) pela Universidade Federal de São Carlos. Doutora em Engenharia Hidráulica e Saneamen-
to (1988) pela Universidade de São Paulo. Desde 1989, é docente da Escola de Engenharia de São
Carlos. Tornou-se Professora Associada em 1999; é Professora Titular, desde 2004, no Departa-
mento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São
Paulo (EESC-USP). Milita, desde 1982, nas áreas de Ecologia Aquática e Saneamento Ambiental;
desenvolve pesquisas em rios, áreas alagadas, lagos e reservatórios com vistas à sustentabilidade
dos Recursos Hídricos e participou de convênios internacionais, por meio do desenvolvimento de
pesquisas conjuntas, com grupos de pesquisadores de vários países. Até o momento, formou 33
mestres e 26 doutores. Publicou seis livros e mais de cem artigos científicos em periódicos, capítulos
de livros e publicações em eventos científicos nacionais e internacionais. Na carreira administrati-
va, foi diretora do Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada da EESC-USP (1995 a 1998);
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental (1995 a
1999), Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Hidráulica e Saneamento e
Presidente da Comissão de Pós-Graduação da EESC-USP (2002 a 2006); e diretora da EESC-USP
(2007 a 2011).

Davi Gasparini Fernandes Cunha


Nasceu em 29 de dezembro de 1986 e é natural de São Paulo (SP). Ingressou no curso de Engenha-
ria Ambiental da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo (EESC-USP),
após aprovação em 1o lugar no vestibular da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular).
Foi bolsista de iniciação científica do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico), entre 2004 e 2006, e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo), entre 2006 e 2008. Em 2005, recebeu Menção Honrosa por trabalho apresentado no Sim-
pósio Internacional de Iniciação Científica da USP. Obteve o título de Engenheiro Ambiental em
2008 pela EESC-USP e, nesse mesmo ano, recebeu o Prêmio de Formação Profissional do CREA
(Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia). Em 2009, foi aprovado em 1o lugar
no processo seletivo do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Hidráulica e Saneamento
(EESC-USP) como aluno de doutorado direto, com previsão de término do doutoramento em ou-
tubro de 2012. Entre agosto de 2008 e maio de 2010, foi assessor técnico do Ministério Público do
Estado de São Paulo (MP-SP). Entre setembro de 2010 e março de 2011, foi pesquisador visitante nos
Estados Unidos (Kansas State University). Em junho de 2011, foi convidado a participar de evento
Engenharia ambiental: conceitos, tecnologia e gestão

promovido na França, pela Université Paris-Est, na condição de Young Environmental Scientist. Até
julho de 2012, publicou mais de 40 artigos científicos em periódicos, capítulos de livros e eventos
científicos nacionais e internacionais. Atua na área de Engenharia Ambiental, Recursos Hídricos
e Saneamento Ambiental, com especial interesse nos temas: rios, reservatórios, qualidade da água,
fitoplâncton, ecologia aplicada, remediação de sistemas aquáticos, sistemas naturais e artificiais
redutores de cargas poluidoras e sustentabilidade dos recursos hídricos.

x
CAPÍTULO 1

ENGENHARIA, NATUREZA E
RECURSOS NATURAIS
CARLOS ROBERTO MONTEIRO DE ANDRADE
MARCELO ZAIAT

Os principais conceitos apresentados neste capítulo são os de natureza, cultura, energia e


recursos naturais. São vistos, também, os conceitos de sociedades nômades e sociedades
sedentárias. É discutida a noção de engenharia, em especial de engenharia ambiental.

1.1 INTRODUÇÃO
Falar em engenharia – atividade cuja característica principal é a transformação da natureza, ou, conforme
definição do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (Houaiss, 2001), a “aplicação de métodos científicos ou
empíricos à utilização dos recursos da natureza em benefício do ser humano” – exige falar, também, em natureza.
Principalmente quando se fala de engenharia ambiental, habilitação relativamente recente – ao menos na de-
nominação – da engenharia, que tem como objeto principal o meio ambiente. Entretanto, também a ideia de
cultura tem de ser abordada quando se analisam as relações dos homens com a natureza ao longo da história.

1.2 NATUREZA E CULTURA


Na história das sociedades humanas, as relações que os homens estabelecem com a natureza – entendida
esta como o mundo material, em especial aquele em que vivemos e que independe de nós, mas também,
ainda conforme o Dicionário Houaiss (Houaiss, 2001), é “o conjunto de elementos do mundo natural”, ou
“o universo, com todos seus fenômenos” – sempre foram distintas para cada sociedade e também para cada
período histórico.
A diversidade das culturas entre os homens – organizados em sociedades – expressa, de modo parti-
cular, suas relações com a natureza. O próprio termo cultura significa, originalmente, “ação, processo ou
efeito de cultivar a terra” (Houaiss, 2001), referindo-se à lavoura, ao “cuidado com o crescimento natural”
(Williams, 2007), indicando que é no modo como trabalhamos a natureza que construímos nossa cultura.
EIXO 1: FUNDAMENTOS

Mais ainda, a palavra “cultura” vem do latim colere, que significa, além de cultivar, habitar (daí o termo
colônia e o verbo colonizar), proteger e “honrar com veneração” (cultus, que dá origem a “culto” e “cultuar”).
Poderíamos mesmo afirmar que já no modo como representamos a natureza, ou como cada sociedade
representa o mundo natural, constituímos uma dada relação com a natureza, seja nos percebendo como
parte constitutiva e inseparável dela ou, então, pretendendo dominá-la para nossos fins, a partir de uma
relação de exterioridade com ela. Portanto, a engenharia ambiental pressupõe e implica certa ideia de
natureza e também de cultura, que deve ser considerada e discutida principalmente por aqueles que vão
atuar nesse campo técnico-profissional.
A palavra em grego para “Natureza” é φύσις (physis). Corresponde ao vocábulo latino natura, “a par-
tir da raiz do particípio passado do latim nasci (nascer) – do qual também derivam nação [nation], nativo
[native], inato [innate]” (Williams, 2007). Natureza pode ser vista, filosoficamente, em pelo menos dois
sentidos: como “a natureza de um ser” (Mora, 1971), que é seu sentido mais antigo, ou como “a Nature-
za”, ou seja, “o próprio mundo material, incluídos ou excluídos os seres humanos” (Williams, 2007), que é
o sentido que nos interessa aqui, ainda que Mora (1971) nos lembre que nem sempre esses sentidos são
independentes. A filosofia no ocidente, dos filósofos pré-socráticos aos contemporâneos, sempre pensou
e problematizou a natureza conforme significados diversos, correspondentes a cada sociedade, ao espírito
da época, às ideologias vigentes.
Em seu curso sobre o conceito de Natureza, ministrado no Collège de France nos anos de 1957 a 1960,
o filósofo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) estudou as variações do conceito de Natureza desde
a antiguidade até o século XX, e afirmou que “a Natureza é diferente do homem; não é instituída por ele,
opõe-se ao costume, ao discurso” (Merleau-Ponty, 2000). Aristóteles, ao conferir à Natureza um caráter fi-
nalista – para ele a Natureza não teria feito nada em vão, tendo sempre algum fim –, o que também aparece
nos relatos da Bíblia,1 ao mesmo tempo em que a divide em regiões com qualidades próprias, “lugares de
certos fenômenos naturais”, vê nela “a realização, mais ou menos bem-sucedida, desse destino qualitativo dos
corpos” (Merleau-Ponty, 2000).
Tal concepção, com pequenas alterações, sobreviveu até a Inglaterra da virada dos séculos XVII para
XVIII, quando, como observa o historiador inglês Keith Thomas (Thomas, 1983), “a visão tradicional era
que o mundo fora criado para o bem do homem e as outras espécies deveriam se subordinar a seus desejos e
necessidades”. Tal ponto de vista antropocêntrico ainda é vigente, e mesmo dominante, na maioria das socie-
dades contemporâneas e constitui um ponto-chave na discussão sobre a questão ambiental nos dias atuais.
Mas, mais ainda, Thomas nos diz que, a partir do Renascimento, “não foram as descobertas científicas
que provocaram a mudança da ideia de Natureza. Foi a mudança da ideia de natureza que permitiu essas
descobertas”. Destaca, assim, a importância de certa ideia-chave, como, no caso, a de Natureza, para en-
tendermos como o homem interage com ela, transformando-a a partir de seu trabalho. Não se trata aqui
de realizarmos uma abordagem filosófica da ideia de Natureza, como fez Merleau-Ponty em suas aulas,2
mas de apenas apontarmos suas profundas implicações filosóficas. Desse modo, no mesmo período his-
tórico em que a figura do engenheiro surgia na sociedade europeia, por volta dos séculos XIV e XV, nas
repúblicas que deram origem à Itália, uma nova ideia de natureza foi se constituindo, marcada cada vez
mais pela exterioridade do homem em relação a ela e, segundo uma perspectiva que buscaria dominá-la,
pelo controle de suas forças e exploração de suas potencialidades para atender aos fins utilitários dos ho-

1
Trecho do livro do Gênesis, no Velho Testamento: “Temam e tremam em vossa presença todos os animais da terra, todas as aves do céu, e tudo o que tem
vida e movimento na terra. Em vossas mãos pus todos os peixes do mar. Sustentai-vos de tudo o que tem vida e movimento” (Gênesis, IX, 2-3).
2
“A Natureza é um objeto enigmático, um objeto que não é inteiramente objeto; ela não está inteiramente diante de nós. É o nosso solo, não aquilo que está
adiante, mas o que nos sustenta.” (Maurice Merleau-Ponty)

4
Capítulo 1 — Engenharia, natureza e recursos naturais

mens. A ciência moderna, assim como a teoria e a prática da engenharia, vão se desenvolver a partir dessa
concepção de natureza.
Em relação à ideia de cultura, uma concepção dominante é a de que o homem é o único animal ca-
paz de criar cultura, entendendo-se por esta o conjunto integrado de características de comportamento
de um determinado grupo social ou sociedade, mas também os resultados – materiais e imateriais – de
sua produção socioeconômica. Podemos também dizer que o homem se diferencia dos animais pela sua
capacidade de adaptação ao meio. Se no caso dos animais, a adaptação às condições do meio ambiente é
principalmente – embora não apenas – fisiológica, no caso do homem a adaptação é muito pouco fisioló-
gica e, sobretudo, cultural, o que envolve mudança de hábitos e de procedimentos. Isso não significa que
a cultura de certa sociedade seja determinada principalmente pelo meio, como pensa a teoria mesológica,
mas, sem dúvida, este irá interferir em padrões culturais e soluções tecnológicas.
Para o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009), “a cultura não se justapõe simplesmente à
vida, nem se superpõe a ela; mas, por um lado, serve de substituto à vida e, por outro, serve-se dela e a trans-
forma para efetuar a síntese de uma nova ordem” (Lévi-Strauss, 2009, publicado originalmente em 1949).
Ao falarmos em Natureza e Cultura, porém, já não carregamos implícita uma separação entre elas?
Em quase todos os mitos de origem, a cultura se opõe à natureza, e também podemos verificar tal trans-
cendência do homem em relação à Natureza em inúmeras religiões, como no judaísmo, no cristianismo
e no islamismo. As leis naturais não alcançariam, então, a cultura, e tampouco o espírito (no pensamento
judaico-cristão), que seriam autônomos em relação à Natureza e característicos exclusivamente do homem.
Mas a antropologia ecológica nos indica outra resposta ao afirmar que a cultura também está sujeita às leis
que governam os seres vivos. É assim que há limites para se impor culturas aos sistemas ecológicos. Ou seja:
“em resposta às alterações ambientais, as culturas devem se transformar (...), senão os organismos produtores
delas perecerão ou as abandonarão” (Rappaport, 1982, publicado originalmente em 1971).
Desse modo, é fundamental, na relação que se estabelece entre o Homem e a Natureza (aqui as duas
palavras com maiúscula), o fato de que “a natureza é vista pelos homens através de uma tela composta de
crenças, conhecimentos e intenções, e os homens agem a partir de suas imagens culturais da natureza, e não a
partir da estrutura real da natureza” (Rappaport, 1982, publicado originalmente em 1971), o que é decisivo
para entendermos as relações dos homens com o meio ambiente.

1.3 NÔMADES E SEDENTÁRIOS: FORMAS DISTINTAS DE SE RELACIONAR


COM A NATUREZA
Dentre as diversas formas das sociedades se relacionarem com a natureza, aquela que distingue os nômades dos
sedentários é fundamental no que diz respeito à construção dos territórios e suas territorialidades. A imagem
que nós – homens urbanos por excelência, sedentários – fazemos dos nômades é a de hordas de miseráveis
vagando sem rumo, atravessando fronteiras. Multidões famintas saqueando cidades, vilas, povoados e fazendas;
guerreiros que tudo destroem em sua contínua travessia. Eis a saga de povos nômades vista por sedentários.
A cidade, em sua origem, constituiu-se como aparelho militar, arma de defesa com seus muros, fos-
sos e portas, controlando fluxos e passagens, criando alfândegas e barreiras. Polis versus Nomos, eis como
a história da humanidade, por milhares de anos, marcou as diferenças entre formas de territorialidades
radicalmente distintas, a dos nômades em oposição à dos sedentários ou, se quisermos, urbanos, uma vez
que a cidade é a forma acabada do sedentarismo como modo de construção do território.
Nômades, deslocando-se pela mata, as sociedades que se encontravam no território que hoje chamamos
Brasil desenvolveram uma arquitetura totalmente adaptada à floresta. Utilizando-se fundamentalmente de

5
EIXO 1: FUNDAMENTOS

madeira e fibras vegetais para construir seus abrigos e outras construções, sua arquitetura era leve e des-
cartável. Permeando e articulando as formas de sociabilidade no âmbito do grupo familiar, bem como do
grupo social como um todo, eram fundamentais a forma e localização das casas, dos caminhos e trilhas,
dos pátios e das roças, dos lugares específicos e da aldeia como um todo.
A arquitetura dos nômades da floresta é totalmente integrada a uma forma de territorialidade antis-
sedentária, marcada pela mobilidade. Embora inúmeros, se não quase todos, grupos indígenas existentes
no Brasil em 1500 praticassem a guerra – ainda que sob formas e fins muito distintos da guerra moderna,
como nos mostrou o antropólogo francês Pierre Clastres (1934-1977) em seu livro Arqueologia da violência:
ensaio de antropologia política (Clastres, 1982) –, sua arquitetura não se caracteriza como militar, apesar
da adoção do círculo ou da elipse como traçado do assentamento que demarca um espaço circunscrito. Se
pode haver uma razão defensiva nessas formas, ao mesmo tempo elas expressam – mais que isso, tecem –
os profundos liames de modos de sociabilidade que aglutinam suas comunidades.
Civilização da palha, as sociedades florestais dominaram essa tecnologia de modo bastante aperfeiçoa-
do, sem comprometer as condições ecológicas de seu hábitat, mas interagindo com elas de modo harmônico
e sustentável, para usarmos um termo atual. Sociedades contra o Estado (Clastres, 1978), os nômades da
floresta, que habitavam o que veio a ser o Brasil, faziam de sua territorialidade nômade um dos modos de
impedir o surgimento de um poder que se exercesse, de fora, sobre o conjunto da sociedade. Com a che-
gada dos europeus, inicia-se o processo de sedentarização, e a noção de poder que chega com eles é a de
que quem tem poder manda, ao contrário daquela das sociedades florestais, nas quais o chefe não manda.
Construtores de cidades por excelência, os europeus adotaram, desde o início, a estratégia de fixação
dos grupos nômades, atingindo suas culturas pela destruição de sua forma de territorialidade. Cidades,
reduções e reservas foram as formas urbanas impostas aos indígenas brasileiros, visando a transformá-los
em dóceis trabalhadores. Submeter-se a essa política dita de integração, ou à morte, foram as únicas opções
oferecidas pelos colonizadores aos povos que já habitavam o Brasil, o que resultou no massacre de dezenas
de culturas com suas arquiteturas peculiares e uma rica diversidade de formas e soluções construtivas. Em
seu lugar, passaram a ser erguidos edifícios de barro ou pedra, fortalezas e muralhas resistentes, introdu-
zindo uma arquitetura rude e pesada, que apenas pouco a pouco se adaptaria às condições tropicais.
Mas, às diferenças de territorialidades, concepções espaciais e arquitetura que marcam as culturas
nômades e as sedentárias opõem-se, também, distintas concepções de natureza e de como se relacionar
com ela. Ao longo da história, os registros de desastres ambientais antrópicos encontram-se sempre asso-
ciados a sociedades urbanas, em especial aquelas que instauram um poder estatal, centralizado e calcado
no controle dos recursos hídricos, e que implantam monoculturas em larga escala. Às grandes obras de
engenharia hidráulica realizadas na antiguidade oriental correspondem, também, os primeiros processos
de desertificação provocados pelo homem.
As considerações dadas buscam apenas suscitar questões, de natureza antropológica e filosófica, mas
também histórica, sobre as quais o estudante e o profissional de engenharia ambiental devem refletir,
levando em conta não apenas as implicações epistemológicas dos conceitos que utiliza, mas também os
compromissos éticos e políticos de suas práticas, portanto, de seus projetos.

1.4 A ENGENHARIA E O AMBIENTE


De acordo com Levenspiel (2002), a primeira frase do estatuto do Institute of Civil Engineers (ICE), esta-
belecido na Inglaterra em 1811, define o objetivo do profissional de engenharia preconizado por aquela
instituição: “(...) dominar o poder e as forças da natureza em benefício da humanidade (...)”. Nesse mesmo

6
Capítulo 1 — Engenharia, natureza e recursos naturais

sentido, o Professor Theodoreto de Arruda Souto, primeiro diretor da Escola de Engenharia de São Carlos
(EESC), da Universidade de São Paulo (USP), adotou, em 1952, o seguinte lema para a instituição de ensino
de engenharia: “Nesta casa se procura a verdade científica e a técnica de adaptação das energias da natureza
a serviço da humanidade”. Ainda que o termo “adaptar” amenize o “dominar” e que tenha se usado o termo
“energia” (somente estabelecido em 1805) em lugar de “poder e força”, os dois conceitos indicam que a
função do profissional de engenharia é a manipulação da matéria e da energia de forma a transformá-las
em algo útil para a humanidade.
O notável desenvolvimento tecnológico que o mundo experimentou desde a Revolução Industrial
demonstra que a humanidade tem conseguido, de forma muito eficiente, “dominar o poder e as forças da
natureza”. No entanto, o que se entende por “benefício da humanidade” vem sofrendo complexas e amplas
modificações desde que o ICE estabeleceu o principal objetivo desse instituto. Tais modificações estão,
além de relacionadas com avanços no uso de materiais e energia, intimamente atreladas aos avanços do
conhecimento científico sobre o ambiente e os recursos naturais. Assim, essa relação ser humano/ambiente
tem dado novos contornos ao objetivo estabelecido pelo ICE em 1811 e pelo lema adotado pelo Professor
Theodoreto de Arruda Souto, em 1952, para uma instituição de ensino de engenharia.
Dessa forma, todo profissional de engenharia, de qualquer habilitação, deverá ter claros e bem defini-
dos os conceitos de matéria e energia e das leis físicas que regem suas transformações, pois é assim que a
engenharia tem se desenvolvido mesmo antes do objetivo maior ter sido explicitado no estatuto do ICE,
sempre com base em transformações energéticas e materiais.
Matéria é tudo aquilo que ocupa lugar no espaço e tem massa. A matéria pode ser líquida, sólida ou
gasosa e se conserva na natureza, não sendo criada ou destruída em qualquer sistema físico ou químico.
Há apenas a transformação de uma forma em outra. Essa é a lei da conservação das massas, enunciada
inicialmente em 1760, pelo cientista russo Mikhail Vasilyevich Lomonossov e comprovada experimental-
mente e popularizada, anos mais tarde, em 1774, pelo químico Francês Antoine Laurent de Lavoisier como
“Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Assim, em um sistema reacional fechado, a
massa permanece constante, ainda que tenha havido transformações.
A energia é definida, de forma geral, como a capacidade para realizar trabalho e pode ser de vários
tipos, como cinética, potencial, química, térmica, magnética, entre outras. As formas de energia podem
ser transformadas umas nas outras, mas nunca energia poderá ser criada ou destruída. Esse é o enunciado
da primeira lei da termodinâmica ou lei da conservação da energia. De acordo com Castellan (1986), a
primeira lei da termodinâmica é a expressão mais geral do princípio da conservação da energia, não sendo
conhecida nenhuma exceção a essa lei.
Embora a primeira lei da termodinâmica estabeleça a conservação da energia, cabe à segunda lei estabe-
lecer a direção natural da transformação de uma forma de energia em outra ou outras. Enquanto a primeira
lei informa sobre a transformação de uma forma em outra, a segunda lei informa se essa transformação
é possível na prática. O físico Marcelo Gleiser considera a segunda lei da termodinâmica como, talvez,
a mais fascinante lei natural em seu artigo “Tempo, vida e entropia” (A Folha de São Paulo, 2002). Nesse
texto, o físico brasileiro discute a influência da segunda lei em nosso dia a dia, principalmente porque ela
mostra a direção do tempo, pois o sentido dos processos naturais vai de um estado organizado e termina
em um estado menos organizado (aumento da entropia). Ou seja, em sistemas isolados, a desordem sempre
aumenta, como no caso de um ovo que é quebrado para fazer uma omelete, a qual jamais será transformada
novamente em um ovo. As leis da termodinâmica serão exploradas também no Capítulo 7.
Em resumo, de acordo com primeira lei da termodinâmica, a energia se conserva nos processos de
transformação e, de acordo com a segunda lei, tais processos possuem uma direção natural. A combinação
das duas leis, dessa forma, permite prever a situação de equilíbrio e qual fração da energia total do sistema

7
EIXO 1: FUNDAMENTOS

pode ser extraída como trabalho útil, levando ao conceito de exergia (Levenspiel, 2002). Tal conceito se refere
ao máximo de trabalho que se pode extrair, ou o menor dispêndio necessário para uma dada transformação.
Um exemplo bastante interessante para o entendimento prático das duas leis da termodinâmica é
apresentado por Castellan (1986) e será aqui adaptado. Considerando um sistema composto de uma bola
acima de um copo com água, energia potencial será convertida em energia cinética se a bola for solta. No
processo final, a bola repousará no fundo do copo. Durante a queda, a bola ganha energia cinética enquan-
to perde energia potencial. E, ao final do processo, a bola em repouso no fundo do copo indica a posição
de equilíbrio, o que pode levantar o questionamento sobre o “desaparecimento” da energia, contrariando
a primeira lei da termodinâmica. Na verdade, se a temperatura da água for medida antes e depois de se
soltar a bola, ficará evidente que a temperatura será superior depois que a bola atingir o fundo do copo,
indicando a transformação de energia potencial em energia térmica. Assim, de acordo com a primeira lei
da termodinâmica, a energia do sistema (bola + copo com água) será a mesma na situação um (bola acima
do copo) e na situação dois (bola em repouso no fundo do copo). Já a segunda lei estabelece que há um
sentido natural nesse processo (queda da bola e repouso no fundo do copo). Não seria natural que a bola
emergisse do copo, voltando à posição acima dele.
Finalmente, entendendo de forma geral e combinando a lei de conservação das massas com as duas
leis da termodinâmica, fica claro que todo processo ocorre com conservação da massa e da energia e que
há um sentido natural para tal transformação, sendo que a energia é sempre transformada de uma forma
mais útil para uma menos útil. Assim, se forem analisados os processos de transformação, haverá sempre
a obtenção do produto ou dos produtos desejados ou de um tipo de energia desejada conjugada com a
obtenção de vários produtos não desejados ou de baixo valor (subprodutos) e de formas de energia não
úteis. Tais matérias e energias não aproveitadas em um processo de transformação podem ser despejadas
no ambiente. Esse lançamento pode resultar em alterações deletérias, configurando a poluição do meio.
Assim, dessa análise simplista de fenômenos complexos, mas conclusiva, fica claro e estabelecido o conceito
de poluição ambiental.
O conceito de poluição da água, do ar e do solo, que permeará diversos capítulos deste livro, não é
simples e está associado a vários fatores, como desbalanceamento dos ciclos biogeoquímicos (Capítulo 7),
alterações no meio que levam a danos à saúde dos seres humanos (Capítulo 5), alterações no meio que
impedem ou restringem seu uso, e mesmo alterações na paisagem. No entanto, o entendimento das rela-
ções de causa e efeito passa, obrigatoriamente, pela compreensão dos fundamentos, iniciando pelas leis de
conservação de massa e energia e pela segunda lei da termodinâmica, “provavelmente a mais fascinante em
toda a ciência”, conforme declarado por Levenspiel (2002).
Nesse ponto é que se torna importante uma discussão acerca da relação entre engenharia e ambiente,
principalmente por serem os profissionais de engenharia os maiores responsáveis pelos processos de trans-
formação e pelo projeto e pela operação de aparatos tecnológicos que, desde a Revolução Industrial, vêm
transformando a vida da humanidade no planeta. Desde a criação da máquina a vapor, engenheiros vêm
aplicando os fundamentos das ciências básicas e os transformando em tecnologias que geralmente visam
ao benefício da humanidade. Diversos processos industriais foram concebidos e máquinas e equipamentos
foram criados, sempre com base nos princípios científicos e nas leis básicas de funcionamento de nosso
universo e tendo, como ponto comum, o uso dos recursos naturais e os processos de transformação da
matéria e de conversão de energia.
No entanto, ainda que a base de toda a engenharia seja a mesma em qualquer das habilitações, e que os
princípios básicos utilizados para desenvolvimento de aparatos tecnológicos sejam os mesmos que regem
a relação entre engenharia e ambiente, a atenção sempre esteve mais voltada a satisfazer as necessidades
mais prementes dos seres humanos. Assim, o “benefício da humanidade” estaria relacionado à satisfação

8
Capítulo 1 — Engenharia, natureza e recursos naturais

das necessidades mais imediatas e, em uma sociedade capitalista, aos interesses do mercado. Recentemente,
no entanto, dentro do contexto histórico apresentado neste capítulo, com a tomada de consciência global
acerca das relações de causa e efeito no que concerne ao ambiente, a engenharia vem se modificando dia
a dia a partir do entendimento que os conceitos básicos que regem o funcionamento das máquinas e dos
processos de transformação são os mesmos que definem os impactos ambientais decorrentes do desenvol-
vimento desses aparatos ou da aplicação dos processos transformadores.
Nesse sentido, a busca por processos e máquinas mais eficientes, com menores perdas energéticas e
com menores desperdícios materiais, tem sido constante e já é realidade na engenharia mundial. As buscas
por substituição dos recursos naturais não renováveis pelos renováveis, por recuperação e valorização de
subprodutos de processos de transformação, por práticas de aproveitamento energético com maximização
do trabalho obtido são realidade na engenharia e vão em direção à adequação ambiental dos processos,
ainda que a motivação seja, principalmente, econômica.
É certo que, com toda a tecnologia empregada, as leis da conservação, e principalmente a segunda lei
da termodinâmica, são “implacáveis”, e a geração de resíduos será inevitável, ainda que mínima. No entanto,
os princípios científicos utilizados para o desenvolvimento tecnológico em geral são os mesmos que serão
empregados para o desenvolvimento de tecnologias para o controle da poluição, ou seja, para converter
materiais e energia que serão lançados no ambiente, minimizando os impactos desses lançamentos.
Portanto, chega-se aqui a uma clara relação entre engenharia e ambiente, a qual tem um pouco de
relação de “amor e ódio”, mas que parece caminhar para um bom termo e para o que se chama de susten-
tabilidade, termo complexo e amplo que será objeto específico do Capítulo 6. Assim, o papel da engenharia
vem se modificando e se ampliando dentro do mesmo objetivo traçado pelo ICE e do lema estabelecido
pelo Professor Theodoreto Souto, principalmente pelo fato de o entendimento sobre o “benefício da huma-
nidade” estar em constante evolução e, também, pelo fato de o avanço do conhecimento científico jogar
luzes em pontos que ainda estavam obscuros, tanto nas ciências básicas quanto nas aplicadas.
Assim, todo engenheiro, de qualquer habilitação, com conceitos básicos sólidos em ciências básicas e
com conhecimentos, ainda que básicos, das leis da conservação e da segunda lei da termodinâmica, está
municiado com valiosas ferramentas para cumprir o objetivo de manipular matéria e energia realmente
em benefício da humanidade, com respeito ao ambiente que nos acolhe.
Bem, se é verdade que todo engenheiro deve ter conhecimentos básicos e atuar com responsabilida-
de em relação ao ambiente, há a necessidade de uma engenharia com habilitação na área ambiental, ou
seja, é necessário formar Engenheiros Ambientais? Não bastaria que todos os engenheiros tivessem as bases
fundamentais que permitissem uma atuação mais responsável em relação ao meio ambiente? Qual o sentido
de formar um profissional especificamente para a área ambiental? Não é contraditório que a profissão que
mais causa impacto no meio tenha uma habilitação na área ambiental?
Todas essas perguntas têm sido feitas não só por estudantes, mas por universidades e associações de
classe. Antes, porém, de entrar no próximo item, no qual esses questionamentos serão respondidos de for-
ma ampla, uma resposta simples pode ser dada, a qual sumariza tudo que será apresentado a seguir: Sim,
a Engenharia Ambiental é necessária e, mais que isso, tende a se consolidar como uma grande área da
engenharia.

1.5 UMA ENGENHARIA CHAMADA AMBIENTAL


Antes de qualquer coisa, é importante salientar que a Engenharia Ambiental é um curso de Engenharia, ou
seja, uma Engenharia com habilitação Ambiental. Embora óbvia, essa explicação deve ser dada, pois muita

9
EIXO 1: FUNDAMENTOS

confusão tem sido feita com essa nova carreira, desde a escolha errada por alunos do Ensino Médio, que
ingressam no curso atraídos pela “questão ambiental”, até a elaboração de grades curriculares e projetos
pedagógicos equivocados.
No caso da escolha dos alunos, o maior problema está no fato de muitos buscarem uma carreira que
trate de questões ambientais. Nessa busca, muitos “caem” na Engenharia Ambiental sem se dar conta de
que escolheram um curso de Engenharia. A base de todas as engenharias é a mesma: forte fundamentação
nas ciências básicas e aplicação dos conceitos fundamentais para a geração, o aprimoramento, a análise, a
simulação e a aplicação de tecnologias. Em suma, o engenheiro, por meio de linguagem matemática, usa
os conceitos científicos, consolidando-os em equipamentos, processos e produtos. Cada modalidade da
engenharia usa esses conceitos para aplicações específicas e é natural que algumas das modalidades usem
mais uma ciência básica que outra.
Como primeiro exercício, avalie um motor a combustão e seu princípio de funcionamento e tente
associar, a esse equipamento, todos os conceitos que foram necessários para produzi-lo e para o seu fun-
cionamento. Outro exercício é avaliar um processo de produção de cerveja, com todos os equipamentos
necessários para, de forma sequenciada, partir de matérias-primas até se chegar ao produto final. A análise
da construção de uma ponte pode ser outro exercício interessante. Quais conceitos das ciências básicas
foram envolvidos? Essa consolidação dos conceitos básicos de física, química e biologia por meio da lin-
guagem matemática em aparatos tecnológicos como o motor a combustão, uma ponte ou o processo de
produção da cerveja são os objetos da engenharia e são alguns exemplos de “obras da engenharia”.
O Engenheiro Ambiental, da mesma forma que as outras habilitações da engenharia, como, por exem-
plo, Mecânica, Química e Civil, representadas nos exemplos anteriores, usa conceitos básicos de química,
física e biologia, por meio de linguagem matemática, para a avaliação, a prevenção, a mitigação e, muitas
vezes, a remediação de impactos ambientais.
É possível trabalhar com a questão ambiental em qualquer carreira, de Ciências Sociais a Geologia, de
Direito a Astronomia, de Pedagogia a Engenharia Elétrica, incluindo todos os cursos de ciências básicas
(química, física, biologia e matemática). A Engenharia Ambiental é uma dessas carreiras, obviamente com
temática mais direcionada para a área. No entanto, o “tema ambiental” não deve ser o único fator decisivo
para a escolha dessa carreira.
No caso de grades curriculares e projetos pedagógicos equivocados, naturais até certo ponto para
novas carreiras, o maior problema está no entendimento geral sobre as bases de sustentação do curso.
Para ser mais claro, ainda que repetitivo, as bases de sustentação devem estar nas ciências básicas, pilares
de qualquer curso de engenharia. Disciplinas de formação básica específica devem fazer a ponte entre os
conceitos fundamentais e a aplicação tecnológica, sempre por meio de linguagem matemática. No final,
devem estar as disciplinas mais tecnológicas, com aplicação mais direta dos conceitos já consolidados.
O curso deve ser equilibrado nesses três grupos (conceitos fundamentais, formação básica específica e
aplicação tecnológica), sendo os dois primeiros os mais importantes e que fornecem uma formação mais
sólida. As falhas aparecem principalmente quando se negligencia a formação básica ou quando importância
não é dada à ponte que liga as ciências básicas ao desenvolvimento tecnológico. Nesse caso, os cursos ficam
desbalanceados e podem levar a problemas graves de formação dos profissionais.
Problemas mais graves ainda podem ser detectados quando os cursos de Engenharia Ambiental são
“confundidos” com outras habilitações da engenharia, como a de Produção. Seria interessante um curso
de Engenharia de Produção Ambiental como há os de Produção Mecânica ou Química, por exemplo?
Essa questão não será discutida e a resposta não será dada aqui por não ser esse o objeto deste livro, mas
certamente muitos cursos estão conformados mais como uma modalidade da Engenharia de Produção, e

10
Capítulo 1 — Engenharia, natureza e recursos naturais

não como Engenharia Ambiental. Em outros casos mais graves, os cursos de Engenharia Ambiental são
formatados como cursos de Gestão Ambiental, uma carreira da área das Ciências Humanas.
A Engenharia Ambiental é única. Essa afirmação tem muitas consequências, desde a concepção de
grades curriculares que não devem atrelar essa habilitação a nenhuma outra, até a questão das atribuições
profissionais (apresentadas no Capítulo 6). O fato de todas as habilitações da Engenharia terem conteúdos
na área ambiental e de todos os engenheiros terem conhecimento de questões ambientais, principalmen-
te as de causa e efeito, não transforma todos os engenheiros, de qualquer modalidade, em Engenheiros
Ambientais. Do mesmo modo, engenheiros de qualquer modalidade com alguma especialização na área
ambiental não se convertem em Engenheiros Ambientais. Essa discussão não está baseada em nenhuma
regulamentação profissional de qualquer Conselho, mas na questão didático-pedagógica e na filosofia
educacional do curso.
A Engenharia Ambiental é única porque leva a uma formação básica com conceituação, além da física
e de matemática comuns a todas as engenharias, em química de forma mais aprofundada e de certa forma
diferenciada das habilitações Química, Metalúrgica, Alimentos e Materiais, que também possuem forte
fundamentação química. Além disso, é a única das engenharias com maior fundamentação em biologia,
ecologia e ecossistemas, de forma a levar o Engenheiro Ambiental a uma visão mais ampla do ambiente e
dos processos naturais. Todas essas ferramentas conceituais adquiridas dão ao Engenheiro Ambiental uma
visão privilegiada acerca dos fenômenos físicos, químicos e biológicos. Essa formação leva a uma aplicação
também diferenciada das disciplinas que fazem a ponte das ciências básicas com a aplicação tecnológica, o
que certamente resulta em visão própria e particular na caracterização ambiental, na avaliação de impactos
ambientais e na aplicação de tecnologias, seja para a prevenção ou o controle da poluição ambiental.
Essa formação da Engenharia Ambiental, com conceitos próprios e visão particular, certamente a levará
a se consolidar como uma grande área da Engenharia, como é o caso das Engenharias Civil, Química, Elé-
trica e Mecânica. Ainda que isso não ocorra nas esferas burocráticas, essa consolidação se dará certamente
na atuação profissional e no reconhecimento do Engenheiro Ambiental como aquele com visão própria e
única aplicada à transformação dos recursos naturais, ponto de partida de todo processo de engenharia.
Para exemplificar quais os campos de atuação do profissional formado em Engenharia Ambiental,
é apresentada a Tabela 1.1, que constava da versão final do projeto de resolução que dispõe sobre as
atividades, a atribuição de títulos e as competências nos campos profissionais abrangidos pelas diferentes
modalidades das categorias profissionais de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo, Agronomia e demais
profissões inseridas no Sistema do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura e Conselho Regional
de Engenharia e Arquitetura (Confea/Crea), o qual foi apreciado em sessão plenária do Confea no ano de
2004. Esse projeto de resolução propunha considerar os campos profissionais interdisciplinares (Produção,
Ambiental, Automação e Controle, Têxtil, Alimentos, e Materiais) como modalidades individualizadas.
Essa proposta foi baseada em sugestão oficial enviada pela Escola de Engenharia de São Carlos da
USP ao Confea em 19 de agosto de 2004. Na proposta, a Comissão Coordenadora do Curso de Engenha-
ria Ambiental da EESC-USP sugeriu a criação do Campo Profissional da Modalidade Ambiental, dentro
da Categoria Profissional da Engenharia. Foi sugerido, também, que fossem revistos os setores de “Meio
Ambiente” apresentados por todas as modalidades, principalmente as apresentadas pelas modalidades Civil
e Química, a fim de serem adequadas às realidades dos projetos pedagógicos desses cursos.
O projeto de resolução, apresentado pelo Professor Ruy Carlos de Camargo Vieira, um dos primeiros,
senão o primeiro, a propor a criação da Engenharia Ambiental no Brasil (como Engenharia Ecológica, ainda
no início dos anos 1970), não foi aprovado dessa forma e tomou os contornos apresentados na Resolução
1.010 do Confea, publicada em 22 de agosto de 2005, na qual as atribuições da Engenharia Ambiental
ficaram dentro da Modalidade Civil.

11
EIXO 1: FUNDAMENTOS

Tabela 1.1 Proposta de atribuições para Engenharia Ambiental apresentada na versão final do
projeto de resolução que dispõe sobre as atividades, atribuição de títulos e competências nos campos
profissionais abrangidos pelas diferentes modalidades das categorias profissionais de Engenharia,
Arquitetura e Urbanismo, Agronomia e demais profissões inseridas no Sistema Confea/Crea

Setores Subsetores

Tecnologia Ambiental Ações Mitigadoras de Impactos Ambientais. Controle da Poluição das Águas. Tratamento
de Águas Residuárias Industriais. Tratamento de Esgoto Doméstico. Tratamento de Águas
de Abastecimento Público e Industrial. Técnicas de Reúso de Água. Controle da Poluição
do Ar. Controle da Poluição do Solo. Coleta e Destino de Resíduos Sólidos. Reaproveita-
mento e Reciclagem de Resíduos Sólidos. Remediação e Biorremediação de Solos e Águas
Contaminadas. Projeto, Construção e Operação de Equipamentos para Controle Am-
biental (Água, Ar e Solo)

Gestão Ambiental Avaliação de Impactos Ambientais. Monitoramento Ambiental. Adequação Ambiental de


Empresas. Planejamento Ambiental em Áreas Urbanas e Rurais. Licenciamento Ambiental

Geotecnia Ambiental Recuperação de Áreas Degradadas. Remediação de Solos Degradados. Prevenção e Recu-
peração de Processos Erosivos. Aplicação de Tecnologias de Investigação Geoambiental.
Avaliação de Impactos Geoambientais. Prevenção de Desastres Geoambientais. Aquisição,
Pré-processamento, Gerenciamento e Análise de Dados obtidos por SIG e Sensoriamento
Remoto

Recursos Energéticos Conservação de Energia. Fontes Alternativas e Renováveis de Energia. Adequação Ener-
Renováveis gética de Empresas

Hidrologia e Recursos Aproveitamento de Recursos Hídricos. Captação de Mananciais Superficiais e Subterrâ-


Hídricos neos e Abastecimento de Água. Controle de Enchentes. Análise Estatística de Eventos Hi-
drológicos. Regularização de Vazão. Aproveitamentos Hidrelétricos. Sistemas de Irrigação

Engenharia Legal Avaliações, Perícias e Arbitragens no âmbito da Modalidade

No entanto, independentemente da Resolução Confea no 1.010/2005 não ter avançado como se espe-
rava em relação às atribuições da Engenharia Ambiental, tal resolução é aberta e abrangente e explicita,
no seu Anexo II, que diz:

“A atribuição de competências, para egressos de cursos que venham a registrar-se no Crea, em cada
Campo de Atuação Profissional caberá à respectiva Câmara Especializada do Crea, e em confor-
midade com as disposições estabelecidas na Resolução no 1.010, de 2005, e na Resolução no 1.016,
de 25 de agosto de 2006, dependerá rigorosamente da profundidade e da abrangência da capa-
citação de cada profissional, no seu respectivo nível de formação, no âmbito de cada campo de
atuação das profissões inseridas no Sistema Confea/Crea, com a possibilidade de interdisciplina-
ridade dentro de cada Categoria, em decorrência da flexibilidade que caracteriza as Diretrizes
Curriculares, conforme explicitado na própria estrutura da Resolução no 1.010, de 2005.

12
Capítulo 1 — Engenharia, natureza e recursos naturais

Isso significa que, ao contrário do procedimento, que em muitos casos estava se cristalizando no âm-
bito do Sistema Confea/Crea, de se conceder atribuições idênticas indistintamente a todos os egressos de
determinado curso com base apenas no critério da denominação do curso, e não do currículo escolar efe-
tivamente cursado, passa-se agora a um exame rigoroso da profundidade e da abrangência da capacitação
obtida no curso, para, então, serem concedidas as atribuições de competência pelas Câmaras Especializadas
respectivas do Crea.”
Atrelar a Engenharia Ambiental à Civil poderia ter constituído erro histórico não fosse a forma de
atribuição estabelecida pela Resolução Confea no 1.010/2005 anteriormente explicitada, mais flexível, com
base na capacitação obtida no curso.
A história da Engenharia Ambiental está apenas começando se comparada a habilitações tradicionais
e seculares. A evolução dessa carreira se dará pelo claro entendimento de que os profissionais, antes de
serem treinados para a aplicação de tecnologias de controle de poluição ou o uso de instrumentos de gestão
ambiental, necessitam de sólidos conceitos fundamentais e de uma concepção peculiar da relação entre
o ser humano e o ambiente.

1.6 CONCLUSÃO
A relação entre engenharia e ambiente passa pelo entendimento da relação entre ser humano e natureza
e, principalmente, pelas distintas concepções de natureza. Além disso, tal relação passa pela compreensão
das leis de conservação da matéria e da energia e de transformação energética. A relação do engenheiro,
principalmente do Engenheiro Ambiental, com o ambiente pressupõe, além do conhecimento profundo
das ciências básicas e da tecnologia, um entendimento amplo da relação do homem com a natureza e de
como essa relação varia em diferentes culturas.

REVISÃO DOS CONCEITOS APRESENTADOS


ZAs relações que os homens estabelecem com a natureza sempre foram distintas para cada sociedade
e também para cada período histórico.
ZA ciência moderna e a engenharia se desenvolveram a partir de uma concepção de natureza mar-
cada, cada vez mais, pela exterioridade do homem em relação a ela e segundo uma perspectiva
que buscaria dominá-la, controlar suas forças e explorar suas potencialidades para atender aos fins
utilitários dos homens.
ZA diversidade das culturas entre os homens expressa, de modo particular, suas relações com a
natureza.
ZÀs diferenças de territorialidades, concepções espaciais e arquitetura que marcam as culturas nôma-
des e as sedentárias, opõem-se, também, distintas concepções de natureza e de como se relacionar
com ela.
ZTodo profissional de engenharia, de qualquer habilitação, deverá ter claros e bem definidos os
conceitos de matéria e energia e das leis físicas que regem suas transformações.
ZSe forem analisados os processos de transformação, haverá sempre a obtenção do produto ou dos
produtos desejados ou de um tipo de energia desejada conjugada com a obtenção de vários produtos
não desejados ou de baixo valor (subprodutos) e de formas de energia não úteis.

13
EIXO 1: FUNDAMENTOS

ZO Engenheiro Ambiental utiliza conceitos básicos de química, física e biologia, por meio de lin-
guagem matemática, para a avaliação, a prevenção, a mitigação e, muitas vezes, a remediação de
impactos ambientais.

SUGESTÕES DE LEITURA COMPLEMENTAR


ZArtigo de Washington Novaes, intitulado “Os estranhos caminhos de um pedaço do Brasil”, publi-
cado em O Estado de São Paulo em 27 de janeiro de 2012, na página 2. No texto, Novaes comenta
o livro recém-publicado pelo também jornalista Marco Antônio Tavares Coelho, “Rio Doce – a
espantosa evolução de um vale”. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
ZCapítulo I, “Natureza e Cultura”, do livro de Claude Lévi-Strauss, As Estruturas Elementares do
Parentesco. Petrópolis: Vozes, 2009.
ZVerbetes “cidade”, “ciência”, “civilização”, “cultura”, “ecologia” e “natureza” do livro de Raymond
Williams, Palavras-Chave [um vocabulário de cultura e sociedade]. São Paulo: Boitempo, 2007.
ZLivro de Enzo Tiezi, Tempos Históricos, Tempos Biológicos. A Terra ou a morte: os problemas da nova
ecologia. São Paulo: Nobel, 1988.
ZLivro de Cornelius Castoriadis e Daniel Cohn-Bendit, Da Ecologia à Autonomia. São Paulo: Bra-
siliense, 1981.

REFERÊNCIAS
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S.A., 1986. 527 p.
CLASTRES, P. Arqueologia da violência: ensaio de antropologia política. São Paulo: Brasiliense, 1982. 243 p.
CLASTRES, P. Sociedade contra o Estado. Pesquisas de antropologia política. Rio de Janeiro: Livraria Fran-
cisco Alves. 152 p.
HOUAISS, A. (2001). Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 1978. 3.008 p.
LEVENSPIEL, O. Termodinâmica Amistosa para Engenheiros. São Paulo: Edgard Blücher Ltda., 2002. 323 p.
LÉVI-STRAUSS, C. As estruturas elementares do parentesco. Petrópolis: Vozes, 2009. 542 páginas (publicado
originalmente em 1949).
MERLEAU-PONTY, M. A natureza. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 448 p.
MORA, J. F. Dicionário de filosofía. Buenos Aires, Argentina: Editorial Sudamericana, 1971. 2 tomos.
RAPPAPORT, R. A. Natureza, cultura e antropologia ecológica. In: SHAPIRO, H. (organizador). Homem,
cultura e sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 1982. 470 páginas (publicado originalmente em 1971).
THOMAS, K. O homem e o mundo natural. São Paulo: Companhia das Letras, 1983. 454 p.
WILLIAMS, R. Palavras-chave [um vocabulário de cultura e sociedade]. São Paulo: Boitempo, 2007. 464 p.

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1. Engenharia ambiental. I. Calijuri, Maria do Carmo, 1956-. II. Cunha, Davi


Gasparini Fernandes.

12-2632. CDD: 628


CDU: 628

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