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Governo lança
para o desemprego
dezenas de milhares
de professores
ler Em Foco nas páginas 26 a 29
páginas 21 a 23
05 07 12 20 35
Marketing Avaliação Precisa-se de Uma missão Em defesa
devora “portáteis” a fazer de conta cérebros talentosos quase impossível do trabalho de casa
Jaime Carvalho e Silva, do Departamento de
Há um ditado americano que diz “a um O recente concurso para professor titular O que pede a sociedade aos animadores Matemática da Universidade de Coimbra, faz
homem com um martelo, tudo parece um terá sido a pior forma de iniciar a execução sócio-culturais? “Lo que se les pide a es- o elogio do trabalho de casa, seja no secun-
prego”. Filipe Reis cita esta máxima para do Estatuto da Carreira Docente (ECD), em tos profesionales de lo social es que sean dário seja noutros níveis de ensino, como
comparar o que se passa, entre nós, com a primeiro lugar porque o regime transitório Na corrida para se tornarem globalmente agentes socializadores. Es decir, que encar- uma condição essencial da aprendizagem.
presente febre da tecnofília. É que a um go- de recrutamento de professores titulares competitivas, as economias fundadas no nen, transmitan y ayuden a las personas y O trabalho de casa tem ainda a importância
vernante com um computador portátil para recusou a possibilidade de uma avaliação conhecimento, os governos, as empresas e a las comunidades a integrar valores, prin- fulcral de permitir, mais fácil e focadamente,
oferecer, tudo parecem sondagens e uma séria e credível dos candidatos. Foi um as organizações em todo o mundo deram cipios y conductas que les permitan desar- que professores e alunos identifiquem as
radiante caminhada em direcção à moder- simulacro de avaliação, diz Licínio Lima, prioridade a políticas e a programas visan- rollar su vida social y cultural dentro de los dificuldades reais no tema que está a ser
nidade. Um computador é, seguramente, lembrando que o currículo profissional dos do a produção, recrutamento e retenção de márgenes que – jurídica y normativamente trabalhado. Além de não haver verdadeira-
uma ferramenta importante para os alunos, candidatos, todos de nomeação definitiva, futuros inovadores, de ‘talentosos’, e ‘alta- – establecen las sociedades actuales, sin mente avaliação contínua sem se valorizar
mas estes, em muitas escolas, têm outras foi amputado, por vezes em mais de duas mente qualificados profissionais’. Assim que eso tenga porque significar, necesaria- os trabalhos de casa, ou melhor dito, como
carências prioritárias. Quem está a precisar dezenas de anos, por conveniência técni- começa o artigo de Susan L. Robertson so- mente, simple reproducción social.” Quem diz Silva, os trabalhos feitos fora da sala de
dos computadores é o marketing político. co-administrativa e decisão discricionária. bre as novas diásporas do saber. assim escreve é Xavier Úcar Martínez. aula no ensino secundário e no superior.
0 / COMUNICAÇÃO e escola
Q q vc ker?
(O outro lado da história, meses depois)
IE/FN
Aquela professora mencionada no tex- cuidado de guardá-lo como a uma for- teste sobre o filme, mas que alternativa zar na escrita é válida para quem sabe
to anterior saiu apressada para o pon- taleza a ser mantida inexpugnável. Lia teria para prender-lhes a atenção? Será o que está sendo modificado. O que
to do ônibus. Enquanto pensava que para “viajar” e para se entender me- tão difícil assim entender que o tempo será que provoca na cabeça de quem
era engraçada uma professora de Por- lhor. Escrevia para falar das coisas e na/da escola não pode ser igual ao da (ainda) não domina a escrita? Como
tuguês correndo para o “ponto final”, dos seus desejos, para exorcizar seus TV e da Internet, que tem que haver um estabelecer limites para estes usos? E
passou pela porta da lan house e viu demônios e fantasmas. Também inven- espaço para elaborar coletivamente o se os alunos escreverem assim na pro-
seus alunos se acotovelando para pa- tava personagens e se sentia mais po- bombardeio de tantas coisas imediatas va? O que fazer exatamente com seus
gar e entrar no salão, que nem é gran- tente, dona daquelas ações e destinos. e fugazes? Que outro espaço seria es- alunos tão jovens? E se ela abrisse es-
de. A distância da sua casa é que é. Parece que foi ali que ela começou a se, senão a escola? te novo espaço aos alunos? Será que
Muito! Pensou na sua fantasia infantil lidar com a contradição, conceito que Estranha a sensação de estar como iriam invadi-lo a qualquer hora? Será
com o tele-transporte: desintegra aqui, aprenderia muito depois. que condenada a habitar um “tempo que ela acabaria tendo que trabalhar
integra de novo no destino. Será que o que está em jogo agora é só dos dinossauros”! Se os seus alunos muitas horas mais? Será que escre-
Todos eles morando no Rio, na Cidade mais um conflito de gerações? Lembra soubessem que ela também navega veriam todo dia? Será que mandariam
Maravilhosa, nenhum podendo ver o da cara que os alunos fizeram quan- na Internet horas a fio nos finais de se- uma avalanche de mensagens até en-
Pão de Açúcar ou o Cristo Redentor... do ela anunciou o filme para o dia se- mana... Se soubessem que de vez em tupir a sua caixa de entrada? Manda-
O entorno deles não inclui cartões pos- guinte. Eles nem perguntaram qual era quando ela passa pelo You Tube... Se riam vírus, será? Se ela conversasse
tais visíveis no cotidiano, mas nem por o título ou algo parecido. Foram logo soubessem que alguns professores tudo isso com eles...
isso ela vai baixar aquele “jogo” cha- implicando com a duração. “No tempo usam o Google até para ver se os alu- Vai saltar no próximo ponto. O tempo
mado Second Life. Não tem dinheiro dela”, quando tinha filme na escola, era nos copiaram os trabalhos de algum passou rápido. Ela também corre mui-
real para jogar fora em transações com uma festa! Claro que, vez por outra, ela site... Se soubessem que ela só co- to, embora não goste nem um pouco.
esta coisa faz-de-conta do mundo vir- também pensava na escola como uma meçou mandando e-mails em lingua- O fato é que tem mil coisas a fazer ago-
tual. Ela não só faz as contas, como chatice, mas era especialmente um lu- gem formal e agora até usa um pouco ra. Vai ter que pensar nisto depois.
não quer desistir de estabelecer cone- gar para aprender milhões de coisas. de “internetês”, abreviando palavras,
xões vitais. Também não quer ver sua Ela se pergunta onde, neste tempo tão quando mais de duas pessoas falam
vida exposta em sites como o Orkut, comprimido, os alunos vão aprender a com ela no MSN ao mesmo tempo... Raquel Goulart Barreto
este diário público. Lembra do “meu ver mais do que vídeo clipes e discutir Pensa que essa coisa de ir “comendo Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
querido diário” da adolescência e do o que viram. Chato ter que incluir um vogais” e achando jeitos de economi- Laboratório Educação e Imagem, ProPEd-UERJ
Inesquecível foi a Volta a Portugal em Bicicleta de 1985 que cumpri integrado na equipa de reportagem do “Jornal Júlio Roldão tinha grande dificuldade em chegar à fala com os ciclistas pelo facto de os tratar
de Notícias”. Assegurava dois espaços diários dessa cobertura jornalística - um de puro fait divers, “No Coração jornalista por senhor fulano ou senhor beltrano em vez de os tutear pelo número do dorsal a
da Volta, a Volta no Coração”, e outro de entrevistas aos ciclistas amadores, subordinadas ao mote “A minha roldeck@gmail.com pretexto de lhes perguntar o nome - “ó 27, como é que tu te chamas?”.
profissão é...” -, mas o que se tornou inesquecível foi o microcosmo que sempre se gera num serviço destes. Ensaiei o método e a comunicação resultou. “É triste, mas, como não estão habitu-
Atravessar o país a 35 km/h, sob um calor de rachar, num carro sem ar condicionado e com os cinco lugares da ados a ser tratados de senhor, quando os chamas assim ficam desconfiados e não
lotação sempre ocupados é dose. Mesmo dispensados de ditar para a sede do jornal, pelo telefone, as classi- te respondem”, disse-me Carlos Pinhão com a indisfarçável doçura que sempre
ficações da etapa, dos prémios especiais (montanha, juventude, pontos) e a geral, nome a nome, com o tempo transmitia. Foi uma das minhas grandes lições de uma Volta corrida numa equipa
de cada ciclista ao segundo, como era prática em anos anteriores. que o Fernando Cardoso, da Secção Desportiva, coordenou e que incluiu ainda o
Acresce que o JN dedicava muito mais páginas à Volta do que os restantes jornais - a Volta a Portugal em colaborador desportivo Ramos Tavares, o Fernando Timóteo, que assegurava os
Bicicleta era então organizada pela própria Empresa do Jornal de Notícias, o que justificava a generosidade do “bonecos” *, e o Jaime Baptista, o Jaiminho, que conduzia o “gaiolo” *.
espaço concedido à corrida e ao “circo” que a envolve.
Nessa Volta, a 47ª, cruzei-me com um amigo mais velho, profissional que sempre admirei, nome grande des-
sa escola de jornalismo que foi “A Bola”, o (lis)poeta Carlos Pinhão, que numa única e generosa observação * “bonecos”, gíria jornalística para fotografias.
deu-me uma inesquecível lição de relações públicas. Atento à minha ingenuidade jornalística, reparou que eu “gaiolo”, calão do Norte para “carro”
IE/FN
FORMIGAS
A história individual determina a vida em sociedade
A experiência acumulada pelas formigas da espécie “Cerapachys biroi”, durante a sua juventude, determina o veio provar que “a história individual desempenha um papel importante na organização das sociedades de in-
seu comportamento durante a fase adulta, de acordo com um estudo publicado na revista “Current Biology”. sectos, a experiência vivida aparece como uma variável fundamental no desenvolvimento do comportamento”.
Uma equipa de biólogos da Universidade de Paris 13 separou em dois um grupo de formigas em idade de procu- Originárias do Japão e da Tailândia, as formigas “Cerapachys biroi” foram eleitas para esta experiência porque
rar alimento para as larvas. Metade foi colocada numa zona onde havia alimento, a outra, numa área sem alimen- se reproduzem sem fecundação, pelo que todos os indivíduos desta espécie são clones.
tos. Um mês depois o primeiro grupo tinha-se especializado na procura de alimentos, enquanto o segundo se
mostrava mais orientado para cuidar das jovens crias no interior do ninho. Segundo os cientistas, a descoberta AL/ Fonte: AFP
Revista de imprensa
Professores sujeitos
a nota mínima
O Estatuto da Carreira Docente exige que os futuros professo-
res façam uma prova de ingresso na profissão. Na proposta
de portaria que regulamenta o estatuto, o Governo é claro: os
erros gramaticais, as más construções frásicas e uma maior
dificuldade em falar em público ou expor ideias vão fechar as
portas do ensino aos jovens licenciados. O documento esti-
pula que, mesmo depois de cinco anos de universidade e o
grau de mestre conferido em instituições cujos cursos são
reconhecidos pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior,
os professores sejam avaliados com três exames distintos.
Correio da Manhã
03.09
Dislexia
Volto ao questionável acto de rotular e tratar alunos que a professora regular não era entendida em dis- Tito fez o trabalho que o grupo o ajudou a fazer (a
como “deficientes”. Trago-vos dois episódios, que po- lexias. pressão social justa e fraterna resulta sempre…), ape-
dem ilustrar uma realidade oculta: há fenómenos de in- Uma semana de ociosidade depois, o professor apro- sar de “trocar umas letrinhas”, como depois comen-
comunicabilidade nas nossas escolas, cuja responsa- ximou-se do moço: tou, pedindo desculpa pelo que não devia. Perante a
bilidade não deve ser imputada somente às escolas. Então?... Desde que chegaste, ainda não fizeste nada. afável autoridade do professor e a persuasão exerci-
A Bárbara é uma aluna com dislexia. A professora O aluno não estava diagnosticado de autista, mas da pelos colegas do grupo, restava ao Tito escolher
“especial” passa pela sala, duas vezes por semana. não deu troco. O mestre insistiu: entre duas atitudes: ou fazia o trabalho, ou fazia o
Mas já confessou que (afinal) “não é especialista em E posso saber porquê? trabalho… Optou por fazer o trabalho. Qualquer outro
dislexias (sic) e que, portanto, pouco pode ajudar”… O moço fez ouvidos de mercador. “disléxico” inteligente optaria por essa hipótese.
A professora dita “regular” diz que “faz o que pode, Não me ouviste? Posso saber porquê, Tito? Imaginava o professor Luís o que se estaria a passar
mas que não se espere milagres, porque com deza- Aquele mocetão quase a fazer doze anos de idade, naquela cabecinha: “então este professor não saberá
nove alunos mais uma “disléxica” na sala, o tempo enfim, reagiu: o que é um disléxico?” É claro que o professor sabia.
não chega para tudo”… Eu sou Titinho! Não sou Tito! Você não sabe? Tanto sabia, que o Titinho – entretanto promovido a
A meio da manhã, diz a professora para a “disléxica”: Está bem, Tito. Mas diz-me por que não te vejo traba- Tito pelo grupo – foi fazendo exercícios que o ajuda-
“Vais ficar sem recreio, porque eu não consigo ler o lhar como os outros meninos. ram a ultrapassar algumas dificuldades. Porém, não
texto que escreveste!”. Resposta pronta da Bárbara: Você não sabe? todas…
“Tu não consegues ler, mas eu consigo!” A Bárbara é Não, não sei. O Tito pendurou o seu casaco, atirando ao chão ca-
disléxica, mas não é parva. Eu, na outra escola, também não fazia nada. sacos de colegas. O professor chamou-lhe a aten-
A dislexia existe! Há necessidade de identificar a dis- Ai não?... ção. O “disléxico” respondeu: Não são meus!... Pois
lexia a tempo, de modo que não se converta, defini- Não. Só quando a setora do especial lá ia é que eu não eram, mas o Tito apanhou os casacos do chão e
tivamente, num obstáculo ao sucesso e à realização fazia uns joguinhos. pendurou-os nos respectivos cabides.
pessoal. E, muito mais que identificar, é imperioso Ai sim? A mãe do Tito chegou, ao final do dia. Retirou do ca-
que um especialista, no seio de uma equipa, dê res- É. Está a ver? Eu não fazia nada. E você não me pode bide o casaco do filho, provocando a queda de ou-
posta às Bárbaras. Porém, há casos e casos, e bem obrigar porque… tro casaco, que estava pendurado num cabide adja-
diferente é o caso do Tito. Esgotada a paciência, o professor interrompeu-o: cente. O professor fitou a senhora, insistentemente.
O Titinho (como a extremosa mamã lhe chamava) Porque é que não fazias nada, na outra escola? Apercebendo-se da recriminação no olhar do profes-
chegou à escola acompanhado de um processo com Você não sabe? sor, a senhora exclamou: Não fui eu!....
cinco centímetros de altura. Eram relatórios de psi- Já te disse que não. O professor Luís afastou-se, sem dizer palavra, re-
cólogos, mais os dos pedopsiquiatras, mais os rela- É que eu sou disléxico. flectindo sobre as dislexias familiares, que fazem a
tórios das professoras de educação especial, mais Ai, tu és disléxico? Eu sou Luís! E, agora, vais pegar infelicidade de muitos Titinhos.
os dos médicos… Veredicto: “disléxico”. Tratamento: nesta folhinha e vais fazer o que o teu grupo tem no
dois anos sob orientação de uma professora “espe- plano para tu fazeres. José Pacheco
cial” mais três anos a pastar fichas, no fundo da sala, Ficou de boca aberta e sem tempo para retorquir. O Escola da Ponte, Vila das Aves
FRANCÊS E ALEMÃO
Alunos britânicos sem interesse em aprender línguas estrangeiras
O número de alunos britânicos que aprendem línguas estrangeiras é cada o número de alunos que aprendiam o francês e o alemão, disciplinas Num editorial, o diário “The Times” apelou ao governo para que valorize
vez menor. Os idiomas mais afectados são o francês e o alemão, reportam consideradas difíceis, caiu 14,4 por cento. a aprendizagem de línguas estrangeiras, defendendo o regresso à obriga-
estatísticas do ministério da Educação publicadas este mês. A mensagem que se passa aos jovens não é particularmente forte sobre o toriedade após os 14 anos: “Se para o governo não faz diferença, porque
O alemão é a língua estrangeira que registou a maior baixa com menos valor futuro do conhecimento de uma língua estrangeira, por conseguinte é que os jovens se vão interessar?”
10,2 por cento de alunos sujeitos a exame no final do ano lectivo de têm tendência a tomar outras opções”, aponta Greg Watson, director execu- Entretanto, o governo anunciou em Março que os alunos britânicos de-
2007 comparativamente ao anterior. O francês registou uma queda de tivo do comité de exames de línguas estrangeiras, indo mais longe nas suas vem iniciar a aprendizagem de uma língua estrangeira aos 7 anos.
8,2 por cento. observações: “São os empregadores que sentem a falta de competências
Em 2004, o governo britânico pôs fim ao ensino obrigatório de línguas linguísticas, no entanto, nada fazem de positivo em termos salariais para
estrangeiras para alunos maiores de 14 anos. No início escolar de 2005, valorizar quem as tem!” AL/ Fonte: AFP
Revista de imprensa
Um simulacro de avaliação
ANA ALVIM
COISAS da AMÉRICA
Cinco por cento das famílias americanas não sabem falar inglês
Quase cinco por cento das famílias americanas - 14 milhões de pessoas - não falam inglês, de acordo com os Na Califórnia, estado mais povoado dos EUA, a percentagem de lares que não falam inglês é de um em cada
mais recentes dados dos Serviços do Censo dos Estados Unidos. dez, e para 42,5 por cento dos californianos o inglês não é o idioma falado em casa. O mesmo acontece com
Dos 111,6 milhões de lares nos Estados Unidos (4,8 por cento) estão “isolados linguisticamente”, o que signi- 36,5 por cento dos habitantes do Novo México e 33,8 por cento da população do Texas (sudoeste). Em Los
fica que todos os membros destas famílias com mais de 14 anos, têm dificuldades em falar inglês. Angeles, mais de um em cada dois habitantes (53,4 por cento) fala outra língua em casa, enquanto em Miami
O idioma mais falado por essas famílias é o espanhol (27,6 por cento), seguido pelas línguas asiáticas (27,4 por essa proporção chega a 48,6 por cento.
cento). Em 2006, um em cada cinco habitantes (19,7 por cento, contra 17,9 por cento em 2000) com mais de cin-
co anos falava uma língua que não o inglês em sua casa, mas 60 por cento também falam inglês correctamente. AL/ Fonte: AFP
Revista de imprensa
As “novas oportunidades”
só o México (21%). A média sobe se estreitarmos a fai-
xa etária. Quarenta e três por cento dos portugueses entre
os 25 e 34 anos concluíram o secundário. Mesmo assim,
Portugal continua muito longe da média da OCDE (77%)
e a “anos-luz” de países como a República Checa, onde
94% dos jovens concluem o secundário. Espanha e Itália
e a “democratização segregativa”
são os países mais próximos, com taxas de 64 e 66%,
respectivamente.
IE/FN
Jornal de Notícias
19.09
Pierre Merle, na sua análise do processo de democra- (igualdade de acesso das diferentes categorias sociais a um
tização do ensino em França1, desenvolve uma tipolo- determinado nível de ensino). E, contudo, apenas a última será
Investimento abaixo da média gia que contempla três modalidades de democratiza- capaz de desafinar a correia de transmissão que transmuta
Portugal gasta anualmente 5030 euros em despesas de ção: uniforme, igualizadora e segregativa. No primeiro desigualdades sociais em desigualdades escolares que vão le-
educação por aluno, desde o ensino básico até ao supe- tipo, a democratização do ensino traduz-se num in- gitimar novas desigualdades sociais, refundando a educação
rior, estando no 23.° lugar entre os 34 países analisados vestimento generalizado de todos os grupos sociais como campo de emancipação e de maior justiça social.
pela OCDE. Com menor investimento do que Portugal na escolarização da respectiva prole, proporcionan- Estas considerações surgem como necessárias à problema-
ficam apenas seis países europeus: Grécia, a República do-lhe mais anos de estudos, mantendo-se, contu- tização e questionamento da bondade da muito propalada
Checa, Hungria, Estónia, a Polónia e a Eslováquia. No fim do, a décalage entre os vários grupos. No segundo “Iniciativa Novas Oportunidades”, nomeadamente no eixo de
da tabela constam ainda México, Turquia, Chile, Rússia caso (democratização igualizadora), o alongamento intervenção jovens. Se “fazer do nível secundário o patamar
e Brasil. Nos diferentes níveis de ensino, Portugal surge do nº médio de anos de estudos surge acompanha- mínimo de qualificação para jovens e adultos” se nos afi-
sempre abaixo da média dos países da OCDE. Assim, nos do de uma diminuição do hiato entre os diversos gru- gura como um objectivo socialmente louvável, concretizá-lo
gastos com o primeiro e segundo ciclos do ensino bási- pos, desde logo porque os mais favorecidos, primeiro pela expansão da oferta das fileiras menos prestigiadas do
co, Portugal despendeu 4054 euros, menos 997 do que a nos níveis iniciais, foram progressivamente atingindo secundário, segmento com clara sobre-representação das
média da OCDE. Já no terceiro ciclo do básico e ensino a “saturação” com taxas de escolarização de 100%. categorias sociais mais desfavorecidas (cursos profissio-
secundário foram gastos por ano e por estudante 5342 eu- Contudo, como salienta Duru-Bellat (2006: 20), “mais nalizantes), e que proporcionam acesso às ocupações com
ros, enquanto a média da organização se situa nos 6301. estudos para todos não quer dizer os mesmos es- remunerações mais modestas, pode criar a ilusão de uma
No ensino superior, o investimento do Estado português é tudos para todos.”2 É aqui que entra o conceito de certa democratização (desde logo quantitativa), e até melho-
de 6703 euros contra uma média de 9613 euros. democratização segregativa. Este tipo de democra- rar a posição do país no ranking europeu da escolarização
Global Notícias tização do ensino, em expansão em geografias só- (sempre importante para fins de “cosmética política”), mas
19.09 cio-políticas bastante diversas, incluindo Portugal, muito provavelmente não corrigirá as assimetrias e as desi-
pretende dar conta da coexistência de fenómenos de gualdades, antes as recomporá e diferirá no tempo.
crescimento generalizado das taxas de acesso dos Esta medida de política educativa enquanto “tecnologia so-
Superior está a aumentar vários grupos sociais a um determinado nível de es- cial” (Grácio, 1986)3 parece cumprir aqui a importante função
propinas até ao máximo colarização (por exemplo, o secundário), com reforço de reorientar certos grupos de jovens no sentido da escolha de
O valor da propina anual no 1.° ciclo do Ensino Supe- das desigualdades nas oportunidades de acesso às certas fileiras (por exemplo através de condições de frequência
rior (licenciatura), também aplicado em muitos casos nos várias fileiras desse nível de escolaridade. Neste caso, aparentemente mais vantajosas para os que fizerem essa op-
mestrados integrados, sofreu uma subida generalizada no parafraseando Duru-Bellat, não será tanto o concluir ção), preservando outras (as que conferem acesso às posições
sector do Estado. Há 18 instituições, entre universidades e (ou não) o secundário que faz a diferença, mas o tipo sócio-profissionais mais gratificantes) como “reservas sociais”
faculdades, que se colaram à propina máxima legal, isto é, de secundário concluído. de acesso limitado aos herdeiros no sentido bourdieusiano do
949,14 euros. Os aumentos chegam a atingir os 22,81%. O que diversos estudos demonstram é que, apesar termo. Neste caso, a “democratização quantitativa” convive (e
Contrariando a lei 49/2005, de 30 de Agosto, muitas uni- de a percentagem de crianças e jovens oriundos de encobre) a “democratização segregativa” pois, apesar de gerar
versidades aplicam a mesma propina para todos os cur- meios populares terem globalmente aumentado nos “excluídos do interior” (Bourdieu), confere uma aparente face
sos, não distinguindo, por exemplo, Medicina de Letras. vários níveis e fileiras de ensino, essa evolução foi de legitimidade ao sistema deslocando, sub-repticiamente, o
(…) Universidades com cursos de áreas tão distintas bastante diferente nos distintos percursos escolares. ónus da exclusão para os ombros dos excluídos.
quanto Engenharias, Ciências Sociais, Letras e Medicina Por isso, observa Duru-Bellat, “a democratização, real Virgínio Sá
- curso com o índice de custo mais elevado nas regras a certos níveis, não é antinómica com uma hierarquiza- Instituto de Educação e Psicologia (IEP) da Universidade do Minho
oficiais de financiamento do Estado - optaram por fazer ção social crescente dos diferentes itinerários” (idem.
tábua rasa da lei, aplicando a mesma propina em todos Ibidem). Na verdade, como sustenta Antoine Prost, a
os casos. É assim nas universidades de Coimbra, Porto, democratização “quantitativa” (crescimento do acesso 1 Merle, P.(2002). La Démocratisation de l’enseignement. Paris : La Découverte.
Beira Interior e Minho. aos diferentes níveis do sistema educativo das crian- 2 Duru-Bellat, M. (2006). L’inflation scolaire. Paris: Seuil.
Jornal de Notícias ças de categorias sociais desfavorecidas), não asse- 3 Grácio, S. (1986). Politica educativa como tecnologia social. As reformas de ensino técnico de 1948 e
21.09 gura necessariamente a democratização “qualitativa” 1983. Lisboa: Livros Horizonte
A turma de desporto
to (poetas, pintores, escritores, desig-
ners, jornalistas não desportivos, enfim
gente com “responsabilidade” e que se
Milhares de crianças correm o risco de morrer à fome devido à desnutrição severa que assola as regiões do Desde Janeiro, o número de somalianos que têm necessidade de ajuda humanitária passou de um para um
centro e do sul da Somália, anteriormente consideradas o “sótão de trigo” de um país devastado por 16 anos milhão e meio, de acordo com a mesma fonte. O país conta com cerca de 10 milhões de habitantes.
de guerra civil. O alerta vem da UNICEF: “Um total de 83 mil crianças sofrem de desnutrição e 13.500 destas As forças governamentais somalianas, apoiadas pelos seus aliados etíopes e pela força de paz da União africana,
crianças são atingidas por uma desnutrição severa correndo o risco de morrer.” “A desnutrição não é uma novi- não chegam a fazer cessar a guerrilha que actua em Mogadíscio há oito meses. O governo de transição, instau-
dade na Somália. Contudo os níveis também críticos atingidos na região conhecida como o ‘sótão de trigo’ do rado há três anos, não pode exercer o seu controlo sobre este país dirigido por clãs desde a queda, em 1991, do
país são alarmantes”, sublinha a UNICEF acrescentando que “a continuação da violência em Mogadíscio pode presidente Mohamed Siad Barra, que marcou o início da guerra civil em que a Somália está mergulhada.
provocar novas deslocações de populações.” AL/ Fonte: AFP
Sublinhado
Territórios
de acesso
reservado IE/FN
IE/FN
Erva Moira
Tribalismo parece
atravessar o tempo
Senado americano
aprova divisão do Iraque
em estados étnicos
O Senado dos Estados Unidos aprovou em Setembro um pla-
no para dividir o Iraque em três estados, de acordo com as
suas etnias, apresentado como a única solução para encerrar
a guerra e retirar as tropas americanas, que ocupam o país
desde a invasão em 2003.
O Senado aprovou a proposta por 75 votos a favor e 23 con-
tra. O plano foi apresentado pelo senador democrata Joseph
Biden. Traçado com a assessoria de Leslie Gelb, especialista
em política externa da administração do ex-presidente Jimmy
Cárter, a ideia é estabelecer um sistema federal, sustentado na
Constituição iraquiana, que dividiria o país em três entidades
- curda, chiita e sunita - com um governo federal sediado em
Bagdad encarregado da administração dos lucros do petróleo
e da segurança nas fronteiras.
A divisão do Iraque em função das diferentes comunidades
maioritárias (curda, chiita e sunita) é recusada pelo governo de Profissões que se aprendem e
George W. Bush. O líder do partido Democrata no Senado, Harry
Reid, disse que “a adopção da emenda Biden reflecte o impor-
tante reconhecimento por parte do Senado de que a reconcilia-
que dificilmente se ensinam...
ção política deve ser o objectivo essencial dos iraquianos”.
Esta reflexão surge no seguimento da apresentada no jornal A escola “cria” e licencia profissionais espe-
Tribo que vive isolada A PÁGINA, nº 168, de Junho 2007, em que o enfoque princi- cializados nas mais diferentes áreas, inclusi-
é descoberta na fronteira pal radicava nas questões do ensino e da aprendizagem do ve para a área social, mas continua a haver
entre Brasil e Peru voluntariado. espaços sociais para os quais a escola não
Indígenas que vivem isolados foram vistos na região ama- Como refere Ricardo Vieira (2006), relativamente ao volunta- licencia nem prepara.
zónica peruana perto da fronteira com o Brasil, informaram riado e ao modo de ser assistente social, seja de uma forma Nesta área, a educação não formal, a apren-
nesta quarta-feira o Instituto de Recursos Naturais do Peru profissional, seja de modo informal, provavelmente estaremos dizagem ao longo da vida e o voluntariado
(Inrena) e a Sociedade Zoológica de Frankfurt. De um peque- mais perante um processo de aprendizagem do que de ensi- são vitais para a formação de futuros profis-
no avião que sobrevoava o Parque Nacional do Alto Purus fo- no, como, de resto, parece acontecer com outras profissões sionais. Os Assistentes Sociais são um exem-
ram localizados cinco abrigos construídos recentemente com que tocam o âmbito social, entre as quais a de professor co- plo concreto deste processo, como tenciono
folhas de palmeira e 21 indígenas, entre mulheres, crianças e mo tem sido abundantemente estudado (Nóvoa, 1987; Vieira, vir a reflectir aqui mais vezes.
jovens, que saíram para observar a aeronave, dispersando-se 1999b). Mas outras profissões haverá em que esse processo
em seguida, segundo as instituições. Num segundo sobrevoo se encontra igualmente presente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
uma mulher foi vista segurando flechas com uma expressão Na minha pesquisa de doutoramento sobre as Trajectórias · ABRAHAM, A. (1984). L´Enseignant est une Personne, Paris: Les Édit. ESF.
de enfrentamento. O resto do grupo, que se refugiava sob a Pessoais, (re) construção identitária, representações e práti- · BOURDIEU, Pierre (1980). Le Sens Pratique, Paris: Minuit.
vegetação amazónica, foi avistado logo depois, segundo o In- cas profissionais dos Assistente Sociais, estudo a maneira de · NÓVOA, A. (1987). Les Temps des Professeurs, 2 vols, Lisboa: INIC.
rena. Os indígenas estavam numa praia, numa das margens ser dos profissionais do Serviço Social, seus modelos de ac- · JOSSO, Marie Christine (2002). “As dimensões formadoras da escrita da narrativa
do rio Las Piedras, que fica dentro do parque do Alto Purus, ção e convicções de intervenção social, com base no estudo da história de vida: da estranheza do outro à estranheza de si” in JOSSO, Marie
na região de Madre de Dios, 1.100 km ao sul de Lima. Os téc- da designada escola paralela, ou escola de vida, para além da Christine (2002). Experiências de vida e formação, Lisboa: Educa, (pp. 130-146).
nicos do Inrena e da sociedade alemã encontraram também educação formal que confere o diploma. · HALL, Stuart (1997). [1992]. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade, Brasil:
cinco acampamentos abandonados noutras áreas do mesmo Nesta pesquisa o conceito de habitus (Bourdieu, 1980) assu- DP&A Editora.
rio. Estes grupos nómadas deslocam-se voluntariamente num me particular importância. Com este conceito, Pierre Bour- · LAPLANTINE, F. e NOUSS, A. (2002). A Mestiçagem. Lisboa: Instituto Piaget.
âmbito territorial protegido pelas leis peruanas, chegando a dieu procura articular as posições objectivas das estruturas · MAALOUF, Amin (2000). As Identidades Assassinas, Difel Difusão Editoria, S.A.
cruzar a fronteira com o Brasil. sociais, a subjectividade da criatividade individual e as situa- · VIEIRA, Ricardo (2006). “Da Construção da Identidade Profissional do Professor”,
“Este avistamento afasta qualquer dúvida sobre a existência ções concretas da acção social. in MUNHOZ, A. FELDENS, D. SCHCK, R. (2006). Aproximações sobre o
desses grupos, desconhecidos pela grande maioria da so- Também para Christine Josso (2002), o profissional que age Sujeito Moderno: Traçando Algumas Linhas, Lajeado, RS: UNIVATES.
ciedade peruana, que não pedem nada a ninguém e que só não o faz só considerando os ensinamentos formais da hete- · VIEIRA, R. (1999a). Ser Igual, Ser Diferente: Encruzilhadas da Identidade.
desejam viver sem ser incomodados”, afirmou o Inrena. roformação e da ecoformação; fá-lo também com a autofor- Porto: Profedições.
Estes grupos indígenas costumam habitar as margens dos mação e reflexividade sobre a experiência de vida. · VIEIRA, R. (1999b). Histórias de Vida e Identidades, Professores e Intercultu-
rios amazónicos, onde aproveitam os ovos das tartarugas É nesse sentido que consideramos que o Assistente Social é ralidade. Porto: Biblioteca das Ciências do Homem, Edições Afrontamento.
aquáticas que fazem a desova nas praias. Eles também pro- também uma pessoa (Abraham, 1984) e é essa pessoa tor-
curam as cabeceiras dos rios, ao pé das montanhas, quando nada profissional que interage com os seus públicos-alvo de Cristóvão Margarido
começa a temporada de chuvas, em busca de outros recursos intervenção. Claro que o profissional e a pessoa são vistos Investigador do CIID
que caçam, pescam e colectam para se alimentar. aqui como processos dinâmicos, compósitos, mestiços e ina- Centro de Investigação Identidades e Diversidades
cabados: (Nóvoa, 1992; Vieira 1999a , 1999b, 2006; Maalouf, ESE – IPLeiria
JPS/ Fonte: AFP 2002; Laplantine e Nouss, 2002; Hall, 1997). cmargarido@esel.ipleiria.pt
A política tem, para muitas pessoas, um certo travo a pa- do envolvimento cívico e político, nas suas diversas formas (mais ou me-
lavrão. A política é o lugar da discussão, das dissensões, nos participadas, mais ou menos episódicas, …) e em diferentes contextos
da política…
sidade e do pluralismo. É por isso que a desvalorização da mas sim como o produto de um processo de inquirição, sempre inacaba-
política comporta um risco intenso em termos da educação do e tentativo, do que se discursar sobre a importância das eleições. Isto,
das novas gerações, educação essa que deveria ser uma porque “a ciência” é, hoje em dia, frequentemente usada como “argumento
responsabilidade assumida por todos os adultos e institui- final e decisivo” de decisões que são, na sua essência, políticas – como foi
ções sociais – desde os partidos políticos, passando pelos óbvio nos ainda recentes debates a propósito da interrupção voluntária da
média até, naturalmente, às escolas – e não uma preocupa- gravidez. Finalmente, porque a vivência da escola, tanto dentro quanto fora
ção “arrumada” numa qualquer área curricular. dos seus muros, na sua relação com a comunidade envolvente, propicia um
No entanto, não quer isto dizer que as escolas não sejam con- conjunto de oportunidades para aprender sobre o poder, a negociação, a
textos nucleares de aprendizagem (da) política, quer este pro- discussão e a participação – competências essenciais para o exercício de
jecto seja (ou não) explícita e intencionalmente assumido como múltiplos papéis na comunidade, incluindo o papel de cidadã/o.
tal. Desde logo, porque são espaços onde inevitavelmente in- Mas não quero aqui desvalorizar o papel dos dispositivos curriculares
teragem pessoas diferentes – e a política, lembra Arendt, ten- que estão actualmente em vigor com o objectivo explícito de promover a
de a emergir no espaço entre pessoas que se envolvem na cidadania dos alunos, como é o caso da Formação Cívica e da Área de
resolução de problemas comuns. Depois, porque a qualidade Projecto. Efectivamente, aqueles de nós que acompanham o processo de
decisão e implementação de dispositivos curriculares nesta área desde a
Reforma Curricular de 1989, reconhecem as vantagens destas áreas cur-
riculares não disciplinares, por duas razões principais. Em primeiro lugar,
pela universalidade, na medida em que abrangem todos os alunos
do ensino básico. Em segundo lugar, porque a decisão de não
exigir uma formação específica aos professores envolvidos
permitiu uma disseminação que não fora possível com os
dispositivos anteriores. No entanto, esta opção também
tem riscos que é essencial reconhecer. Desde logo, definir
uma área para abordar as questões da educação para
a cidadania pode corresponder a delimitar e acantonar
essas questões; na medida em que há professores
responsáveis por essa área pode gerar-se a ideia de
que são os responsáveis exclusivos ou principais por
essa tarefa. Depois, porque a ausência de uma forma-
ção específica e intensiva pode dificultar a operacionali-
zação de objectivos, conteúdos e competências a promover nes-
sas áreas; aqui, há claramente um deficit de informação, pela ausên-
cia de estudos sistemáticos acerca da implementação da Formação
Cívica e da Área de Projecto e porque são relativamente escassas as
descrições de experiências do terreno. Mas os poucos estudos que já
vão aparecendo indiciam uma ênfase em questões mais interpessoais e
alguma ausência de política nestas áreas curriculares.
Corro certamente o risco de estar a injustiçar as muitas professoras e pro-
fessores que fazem da promoção de uma consciência cívica e política, da
discussão de visões alternativas do mundo, do envolvimento dos alunos
e das alunas em decisões colectivas e do estímulo à sua participação na
vida das suas comunidades uma componente importante do seu quoti-
diano na escola. Mas estou seguramente à espera do dia em que estes
profissionais da educação assumam o protagonismo na descrição das
suas experiências que revele como as escolas portuguesas são ainda
locais onde a nobreza da política se vive todos os dias.
Isabel Menezes
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto
POLÉMICA
Abertura da primeira escola pública bilingue árabe em Nova Iorque
A abertura de uma escola pública bilingue onde se ensinará o árabe, em Brooklyn (Nova Iorque), está a suscitar Por outro lado, vários grupos anti-racismo e a favor da imigração, insistiram, em comunicado, na necessidade
reacções contraditórias, temendo-se que este projecto sirva para a propagação do Islão radical. de uma escola com estas características em Nova Iorque. “A cidade conta com mais de 60 programas de educa-
A academia internacional Khalil Gibran (poeta cristão de origem estadounidense-libanés), cuja abertura foi ção bilingues, que unem o inglês com a aprendizagem de idiomas como o espanhol, o chinês e o russo. Estas
aprovada pelo “Mayer” da cidade, Michael Bloomberg, será financiada através do departamento de educação escolas, longe de serem enclaves separatistas, são o mais eficaz na aproximação entre os imigrantes e o resto
de Nova Iorque. O representante democrata Dov Hikind, pelo Estado de Nova Iorque, considerou numa carta que dos estudantes”. Quarenta e cinco alunos já se encontram inscritos para o curso de 2007-2008.
“a abertura de uma escola árabe é uma ideia perigosa”, justificando a sua posição com o argumento de que as
crianças poderiam ser “doutrinadas”. AL/ Fonte: AFP
Maximum 10kg
(ou bom Londres é o Porto)
Fernão Lopes, jornalista Maximum 10kg é o título deste colectivo londrino, exposição Abstract
(mesmo que não reconhecido organizada por Ana Efe, “uma iniciativa de curadoria que se
pretende revelar uma materialização de múltiplos gestos e
como tal), escreveu, no capítu-
ideias sem fronteiras espacio/temporais” The title for this news story about an exhibition, in the portuguese city of
lo XXII da Crónica de D. João I, São ao todo 14 artistas: Oswaldo Ruiz, Szu Han Chen, An- Porto, of 14 artists with various nationalities, living and studying arts in
que foi um tal Rui Pereira, que toaneta Galabova, Paula Naughton, Siobhán McAuiley, Ana London, is the same as the title for the exhibition itself, and evokes the
não o actual ministro da Admi- Efe, Bethany Murray, Lisa Flynn, Sérgio Cruz, Samantha Mo- low cost airlines, referring their maximum baggage allowance.
gelonsky, Francisca Aninat, Tânia Bandeira, Helena Hans e The journalist, on the other hand, evokes a known episode of portugal’s
nistração Interna, entenda-se,
Manuela Barczewski. history, occurring during the succession crisis of 1383/85, in which D.
quem, virando-se para o Me- Artistas que aparentemente exibem o seu trabalho de uma for- Joao, Master of Avis, soon to be king D. Joao I of Portugal, was talked
estre, futuro D. João I, disse: ma autónoma, mas que, na realidade, possuem em comum a into giving up a trip to London to take part in the Revolution that would
“Querees que vos diga, vivência de uma cidade, Londres, uma cidade que se apre- turn him king.
senta como um veículo de diversidade e de multiculturalidade. The initial text includes still a witticism, of a politic nature, as it is noted
Senhor? Vos, dizem que vos Uma cidade também mais aberta por acção das companhias that Rui Pereira, actual portuguese Internal Affairs Minister, has the same
hiis pera Imgraterra; mas a áreas de baixo custo. name as the Master of Avis’s counsellor, the one who convinced him to
mim pareçe que boom Londres Não será por acaso que no Turbine Hall West Entrance da renounce such trip to London. The return trip for our 14 artists.
he este” (1) . Estas palavras de Tate Modern se lia, este Verão, que “em 2007, pela primeira There is even reference in the text to an expression stated in the Turbine Hall
vez na História, metade da Humanidade vive em cidades”. West Entrance of the Tate Modern saying that “in 2007, for the first time in
Rui Pereira terão sido secun- Não será também por acaso que há quem diga que as cores history, half the world’s population lives in cities”, and also reference to the
dadas pelas de um escudeiro de Londres “são o preto // e são o branco // a ausência total colours of the exhibition, as well as to some sentences using the expression
fidalgo a quem chamavam Al- e a soma de todas as cores”. “maximum 10 kg”.
Cores e outros “sentidos” visíveis no Porto, durante 6 dias,
voro Vaasquez de Gooes, no
na programação da casaviva 167, paredes meias com o ate-
último quartel do século XIV, lier portuense da escultora Ana Efe que organiza este acon- Ficha técnica da exposição
mais de 600 anos antes de ser tecimento da rentrée cultural “não oficial” do Porto.
criada a Ryanair, uma das mais Pretexto para outros textos, “Maximum 10 kg” vai fazer-nos Maximum 10kg
lembrar, a partir deste mês de Outubro, que a expressão não casaviva167
famosas companhias aéreas
se refere apenas, e em exclusivo, ao peso máximo dos ani- Praça Marquês do Pombal, 167 · 4000-390 Porto
de baixo custo (low cost), com mais de estimação aceitáveis em certos hotéis ou ao peso das
base em Dublin, na Irlanda, e bagagens de mão das companhias aéres de baixo custo. (2) Inauguração
com voo directo de Londres A não perder. Quinta-Feira 4 de Outubro às 19h
Stomper Party (DJ Greg Poole) 20 h
(Stansted) para o Porto, muito
texto de Júlio Roldão que agradece as fotos cedidas por Ana Efe
provavelmente a carreira que e a tradução, para inglês, de um resumo deste artigo, tradução Horário
trará os 14 artistas que aceita- “cravada” ao Tiago Roldão. Sexta-Feira, 5 de Outubro, das 15h às 20h
ram o desafio da escultora Ana Sábado, 6 de Outubro, das 15h às 20h
(1) na grafia original da Crónica de D. João I de Fernão Lopes Domingo, 7 de Outubro, das 15h às 20h
Efe, também ela entre os 14,
(2) “Small pets (maximum 10 kg) are accepted at an additional cost of EUR 14 per pet per day”. Segunda-Feira, 8 de Outubro, das 15h às 18h
para exporem, colectivamente, “Last time I flew (with Ryanair), the restrictions on hand baggage were 50x35x23 cm (20x14x9 inch) Terça-Feira, 9 de Outubro, das15h às 18h
no Porto, de 4 a 9 de Outubro. and maximum 10 kg “
A prova
de Bruxelas
IE/FN
À primeira vista, é um caso de esquizofrenia. A mesma União Europeia que, “heroi- A situação não foi sempre tão límpida. Quando em 1998 Bruxelas deu novamente
camente” há menos de dois anos, foi a vanguarda do combate pela Convenção da o seu aval ao sistema de apoios, estes foram julgados compatíveis com o mercado
Unesco sobre a diversidade cultural, tenta no presente um reenquadramento dos comum porque o cinema é uma indústria cultural. Três anos depois, a reflexão “afi-
sistemas nacionais de ajudas ao cinema que as enfraquece consideravelmente. na-se”. Numa “Comunicação sobre o Cinema” publicada em 2001, e confirmada
O objectivo da Comissão Europeia é simplesmente tornar compatíveis os progra- em 2004, Bruxelas fixa quatro critérios à autorização de apoios: a ajuda deve ser
mas de ajuda dos estados membros às suas produções cinematográficas com as destinada a um “produto cultural” (a apreciação do que é um “produto cultural”
regras de concorrência pura em vigor no mercado único europeu. Coisa complica- é deixada aos Estados); o apoio financeiro não deve exceder 50% do orçamento
da, pois existem mais de 600 mecanismos de apoio ao cinema nos 27 países da total do filme, exceptuando-se os orçamentos muito pequenos; os suplementos
União...Bruxelas realça sobretudo o “território nacional” de algumas medidas, que para certas prestações técnicas são formalmente proibidos; por fim, o critério mais
obriga o produtor do filme a gastar parte do seu orçamento no país que o apoiou. discutido , ligado às “clausulas de territorialização”, segundo o qual os Estados
Na procura de uma maior eficácia , a Comissão não esconde o seu desejo de uma não estão autorizados a impor a um produtor que gaste no seu território, em troca
“territorilização nacional” dos apoios. Porque isso, assegura, tornará mais fácil as dos apoios, mais de 80% do orçamento da obra. “Em 1998, a decisão da autoriza-
co-produções num mercado menos fragmentado. ção dos apoios franceses ocupava uma quinzena de páginas. Em 2006, a decisão
Nestes tempos de incerteza, é dizer pouco que a “Comunicação sobre a Cultura”, sobre o conjunto do sistema ocupa 160. Isto prova que nestes anos a Comissão
documento assinado pela Comissão Europeia de 2007, foi acolhido com frieza. desenvolveu muito mais detalhadamente o mecanismo dos apoios, numa base
A Comissão reafirma dois princípios-chave. Primeiro, a política cultural incumbe mais sofisticada. Provocando um efeito de bala: onde poderia mostrar-se mais to-
aos estados membros. Segundo, existe, em relação aos apoios à indústria, uma lerante, torna-se mais exigente”, inquieta-se Xavier Merlin, director dos Negócios
especificidade do campo cultural que lhe permite não cumprir as estritas regras Europeus e Internacionais do CNC francês.
da concorrência. Formulada pela primeira vez no tratado de Maastricht (1992), a E tudo indica que as coisas vão piorar. Novo exemplo do voluntarismo de Bruxelas
precisão é vital: “Podem ser consideradas compatíveis com o mercado comum (...) são os “testes culturais”, aplicados em vários países desde o fim de 2006.
os apoios destinados a promover a cultura e a conservação do património, quan- Em Cannes, este ano, as agências nacionais de cinema europeias denunciaram
do não alterem as condições das trocas e da concorrência na Comunidade em o risco da generalização destes testes, que “levará à adopção de uma definição
medidas contrárias ao bem comum.” O artigo 87 permitiu salvaguardar as ajudas muito restritiva de cultura e cinema”, defendendo ainda, a uma só voz (coisa im-
públicas ao cinema em todo o espaço europeu durante anos. pensável há anos atrás!), “a actual configuração dos apoios”. Estas reuniões, que
Mas não nos deixemos enganar. Esta declaração de intenções foi adoptada por desde 2003 se tornaram trianuais (Berlim + Cannes + San Sebastian ou Veneza),
proposta da direcção geral da Cultura, representada pelo comissário eslovaco Jan podem, e devem, tornar-se foco de reflexão ambicioso. Actualmente contra a po-
Figel. Isso não quer dizer que os comissários da concorrência ( Neelie Kroes) e dos lítica da Comissão Europeia.
Media (Viviane Reding), que também tinham uma palavra a dizer sobre o dossier, Só por curiosidade... já tinham ouvido, ou lido, alguma coisa sobre isto, por cá?
partilhassem a mesma opinião. A Comissão Europeia não é , de facto, um governo.
Cada comissário tem uma autonomia proporcional ao seu peso político e... como Paulo Teixeira de Sousa
é de calcular, o comissário da Cultura não é seguramente dos maiores. Escola Secundária Fontes Pereira de Melo, Porto
A Austrália figura entre a maioria dos países desenvolvidos, mas um estudo tornado púbico vem alertar para o Estes números colocam a Austrália no 14º lugar do ranking onde se estabelece o nível de pobreza das popula-
facto de cerca de 10 por cento da sua população estar a viver na pobreza apesar do florescimento económico do ções, dos 18 países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
país. Realizado pelo Conselho Australiano dos Serviços Sociais, este estudo reforça a ideia de que “o governo O primeiro-ministro conservador John Howard mostrou-se céptico quanto a estes resultados, pondo em causa
deve agir de maneira mais eficaz para que a prosperidade económica seja aproveitada por todos”. os métodos utilizados pela OCDE e argumentando que a fraca taxa de desemprego na Austrália seria uma prova
Este organismo, comparou a situação da Austrália à de outros países desenvolvidos em sectores chave como a que a pobreza não está a progredir no país.
educação, saúde e habitação. As conclusões do estudo referem que a incidência de população a viver na pobreza
aumentou de 7,6 por cento (em 1994) para 9,9 por cento em 2004. Cerca de 2 milhões de australianos. AL / Fonte: AFP
Cartas na mesa
DESIGUALDADE
Mulheres ganham
30 por cento menos
que os do homens Tecnologias digitais
na América Latina
para a inclusão social (II parte)
IE/FN
A mulher latino-americana recebe um salário entre 20
por cento e 30 por cento menor do que o homem para
desempenhar as mesmas actividades, a jornada labo- A expansão do acesso e a utilização das tecnologias e) a organização, concepção, implementação e avaliação
ral é redobrada pelas tarefas domésticas, declarou à digitais para promover a inclusão social não depen- dos projectos tecnológicos para a inclusão social deve-
AFP a directora regional do Fundo da População das de apenas da quantidade ou da qualidade dos equi- rão ser abertos e flexíveis e partir de pequenas iniciativas.
Nações Unidas (UNFPA), Marcela Suazo. “A mulher pamentos instalados e das linhas de acesso à Inter- Os projectos centralizados, e implementados a grande
está cada vez mais inserida ao mercado de trabalho, net, nem mesmo de programas exteriores ao local escala sem espaço para experimentação e inovação local
mas em muitos casos o nível salarial é 20 a 30 por que se instalam como “coisa” (ver o filme The Thing não satisfazem o desenvolvimento local e acabam por ter
cento menor do que do homem com igual formação e John Carpenter) para a qual dificilmente se encon- apenas um efeito transitório e superficial.
responsabilidade. Uma diferença que pode chegar a tra sentido. Se assim for a “coisa” ocupará uma tal f) os mecanismos de mercado são eficazes na expressão
46 por cento, disse Suazo, que participou da X Confe- centralidade que passará à margem dos indivíduos e expansão do acesso às tecnologias mas não são sufi-
rência sobre a Mulher realizada este mês em Quito. e dos processos sociais – torna-se objecto de culto, cientes para os processos tecnológicos de inclusão so-
“As mulheres tendem a encontrar uma maior abertura de crença, de medo (ou de proibição) mas permane- cial. É necessário o apoio institucional à aquisição dos
em trabalhos de menor remuneração e em condições ce fora da vida das pessoas e terminará fechado em computadores e artefactos digitais (isenção de impostos,
mais deploráveis”, acrescentou a directora do UNFPA lugar seguro ou na embalagem, ou no lugar de culto, benefícios fiscais, aquisição/distribuição de equipamen-
para América Latina e o Caribe. Suazo, apresentou o isolado da vida quotidiana e do processo social para tos e de acesso à rede a baixo custo), à pesquisa sobre
documento “Para um novo pacto social e de género” que se não deteriore e necessariamente se desactu- o desenvolvimento tecnológicos - hardware, software, ar-
na X Conferência. Nele se lê que de 1990 a 2004 cerca alize e torne objecto inútil. tefactos, linguagens, etc., aos estudo das causas e con-
de 33 milhões de mulheres ingressaram no mercado Warschauer preconiza que um programa para a ex- sequências do acesso restrito, às questões do acesso a
de trabalho na América Latina, aumentando a taxa de pansão do acesso e a utilização das tecnologias di- software livre (open source).
participação de 39 para 45 por cento, enquanto que a gitais para promover a inclusão social necessita: Estas talvez as razões para reflectir sobre os projectos que
do homem se manteve em 74 por cento. a) do estudo prévio das estruturas sociais, dos pro- encontramos nas escolas, nos bairros, nas periferias urba-
No entanto, 16 por cento da força de trabalho femi- blemas sociais, da organização social, das rela- nas, nas zonas afastadas dos grandes centros, nas comuni-
nina na região dedica-se ao serviço doméstico, uma ções sociais, das práticas sociais locais – apren- dades isoladas ou para ler a obra de Mark Warschauer (Pro-
ocupação que em vários países recebe remunerações der, colaborar, partilhar, progredir e de como estas fessor nos Departamentos de Educação e de Informática na
inferiores ao salário mínimo e exige mais de oito ho- se podem ampliar com o acesso e a utilização das Universidade da Califórnia) Technology and Social Inclusion:
ras de trabalho. tecnologias; Rethinking the Digital Divide (2003) em que nos baseamos
As mulheres pobres enfrentam a necessidade de b) a identificação da centralidade do social e a ca- para organizar estas notas. Para mim a elaboração destas
ingressar num trabalho mesmo que em condições pacidade dos indivíduos e das organizações para notas reponde à necessidade de construir referências e ins-
precárias. E apesar do aumento da participação da a inovação e a mudança. Não se trata de impingir trumentos teóricos antes da partida para trabalho de cam-
mulher no mercado de trabalho, o seu ingresso ainda as tecnologias às pessoas mas de criar a longo po em Jequitibá, Estado de Minas Gerais no Brasil. A re-
está condicionado a tarefas como o cuidado de crian- prazo comportamentos intrinsecamente motiva- gião, antigamente rica porque atravessada pela estrada real
ças, doentes e idosos, alertou Suazo. dos para o envolvimento nas tecnologias, para e objecto de múltiplos projectos de desenvolvimento, ficou
Na América Latina 60 por cento das razões pelas o aperfeiçoamento e adequação das tecnologias à margem das mudanças sociais. Rica em capital social, em
quais uma mulher demora ou deixa de ingressar no aos indivíduos e ao processo social. Isto exige memória local e em património imaterial não conseguiu en-
mercado de trabalho tem a ver com esses trabalhos, mudanças sociais que facilitem a aprendizagem contrar formas de superar a pobreza endémica que parece
acrescentou. Até 2025 a população com mais de 60 de novos comportamentos e melhorias nas con- ter-se definitivamente instalado na região. Inicia-se porém
anos será de mais de 100 milhões, dos quais 32 por dições de vida local; um processo de criação de telecentros e de relação com
cento correspondem ao México, o que significa que c) a exploração dos efeitos catalíticos das tecnolo- as universidades através dos investigadores que ali realizam
mais mulheres se vão dedicar aos trabalhos domés- gias tendo no entanto em atenção que algumas trabalho de campo. Esta também a razão destas notas e de
ticos, seja de forma remunerada ou não. mudanças não se devem propriamente às tecno- pressupostos a ter em conta na investigação. A parte terceira
Segundo Suazo, os indicadores assinalam que ainda logias mas podem simplesmente advir da inte- destas notas decorrerá depois da passagem ao terreno.
há desigualdades na região, por isso são necessárias racção humana decorrente do próprio processo
políticas públicas que permitam ensinar o homem a tecnológico;
dividir o trabalho doméstico. d) dificilmente um projecto de desenvolvimento tec- José da Silva Ribeiro
“É o momento para um novo pacto que tenha em con- nológico depende só ou principalmente dos es- Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais.
ta estas novas realidades para que sejam desenvolvi- pecialistas. Os líderes locais, as lideranças locais Laboratório de Antropologia Visual, Universidade Aberta
das políticas que respondam e ampliem as oportuni- e as dinâmicas locais são decisivos para o su-
dades de participação das mulheres e o exercício de cesso dos projectos tecnológicos orientados pa-
seus direitos”, concluiu. ra a inclusão social. Habituadas a gerir projectos
sociais poderão os líderes ou animadores locais NOTA:
AL/ Fonte: AFP aprender a integrar nestes as tecnologias. A 1ª parte deste artigo pode ser lida na Página de Agosto-Setembro ou em www.apagina.pt
IE/FN
BUSH E OS IMIGRANTES
Futuros imigrantes ilegais terão acesso negado nos EUA por toda a vida
George W. Bush, anunciou uma proibição permanente de entrada nos Estados Unidos aos futuros imigrantes que contribuam para interceptar os imigrantes ilegais. “Só depois destas ferramentas de segurança estarem em
ilegais, renovando assim a pressão por uma reforma migratória, tema central da sua agenda de política interna. funcionamento é que outras partes da lei entrarão em vigor”, destacou.
Um pacote de reformas revisto foi apresentado ao Senado nos últimos dias. O anterior fora chumbado pelo Esta lei acontece numa altura em que o secretário americano do Comércio, Carlos Gutiérrez, de origem cubana,
senado a 7 de Junho. enfatizou durante um discurso perante a Federação Nacional das Minorias em Washington que os EUA precisam
Numa das suas aparições semanais na rádio, Bush revelou que na proposta revista, quem atravessar a fronteira dos imigrantes para sustentar o crescimento económico e acompanhar as necessidades crescentes de mão-de-
dos Estados Unidos ilegalmente não só será deportado, como nunca mais terá permissão para voltar ao país, se- obra. “A imigração não é algo que deva ser tolerado, mas incentivado, porque é a nossa grande oportunidade
ja com visto de trabalho ou de turista. Bush acrescentou que a nova lei dará prioridade à segurança fronteiriça. de levar vantagem sobre o resto do mundo”, sustentou. “Os imigrantes complementam a nossa necessidade de
A medida inclui 4,4 mil milhões de dólares de assistência à Patrulha Fronteiriça dos Estados Unidos para força de trabalho, trazem criatividade, vitalidade e iniciativa”, resumiu Carlos Gutiérrez.
contratar mais agentes, construir defesas adicionais, adquirir câmaras de infravermelhos e outras tecnologias AL / Fonte: AFP
Trigo limpo
A cada 30 segundos um
suicídio – ao mesmo
tempo que se discute
a legalidade da execução
dos condenados à morte
A atividade lúdica
panhas de informação sobre a depressão, melhor identificada
e tratada agora. O apoio social e psicológico aos doentes foi
reforçado”, assegura.
Em 1991, os finlandeses registavam, juntamente com neozelan-
deses e islandeses, o recorde mundial de mortes voluntárias. As
campanhas de sensibilização em escolas e quartéis também pa-
como processo educativo
recem ter dado frutos: o índice de suicídios entre adolescentes e
jovens caiu 30 por cento durante o mesmo período. No final dos anos 1970 no Brasil, a importância do uso de ciar a importância que tem para o sujeito, sua
Sem distinção de sexo, a mortalidade por suicídio atinge núme- jogos no processo ensino-aprendizagem nas escolas, sobre- formação e desenvolvimento integrais a rea-
ros assustadores nas regiões mais isoladas e pobres do leste e tudo de educação infantil (crianças de 2 a 6 anos, na época), lização de atividades lúdicas, não importa a
do norte do país. Além dos tradicionais problemas mentais (de- era considerada, debatida e entendida como a mais “progres- sua idade, meio social ou outras variáveis.
pressão), pessoais (divórcio) ou sociais (desemprego), os cien- sista” das posturas educativas. Inspiradas no trabalho de Je- Podemos juntar a isso aquilo que já sabemos
tistas consideram o alcoolismo como principal factor de risco. an Piaget a respeito dos processos de desenvolvimento da a respeito da função socializadora da prática
Os finlandeses consomem por ano o equivalente a 10 litros de inteligência, inúmeras publicações tratavam do assunto. Foi de jogos coletivos, do bem-estar produzido
álcool por pessoa, segundo dados da OMS correspondentes a época da proliferação desenfreada dos brinquedos e jogos nos diferentes sujeitos quando são bem-su-
a 2004. Menos que os franceses (14 litros) e mais que os com finalidade pedagógica e de escolas que desenvolviam cedidos no enfrentamento de desafios. Po-
seus vizinhos suecos (7 litros) e noruegueses (6 litros). suas ações pedagógicas com essa inspiração. demos, ainda, referir o argumento pedagógi-
Os médicos descartaram o estereótipo de que os ambien- Passados quase trinta anos, e com o advento e valorização co de que muitos jogos, ao exigir dos alunos
tes muito frios favorecem o suicídio. “A relação existe, mas de outras tendências pedagógicas, o assunto perdeu sua cen- que tragam para a prática concreta alguns
não é determinante”, assegura Lonnqvist. Exemplo disso, a tralidade no debate pedagógico. Atualmente, poucos são os dos conhecimentos escolares, cumprem fun-
Noruega, que situada na mesma latitude regista metade dos autores que se dedicam ao tema, mas a grande questão que ção de reforço e fixação dos referidos conte-
suicídios. subjazia a discussão da época permanece em aberto e me- údos, para afirmar que as atividades lúdicas
Enquanto nestes países se trabalha para poupar vidas nos rece permanecer no debate educacional, creio. De que modo na educação de jovens e adultos são, não só
EUA discute-se se é ou não constitucional o Estado matar podemos perceber a importância das atividades lúdicas para desejáveis, como necessárias ao bom de-
utilizando determinados métodos. o processo educativo, dentro e fora da escola? Para além dos senvolvimento do trabalho.
O Supremo Tribunal dos EUA vai examinar o recurso de dois modismos pedagógicos de antes e de agora, como podemos, Mas, ao final da discussão, o que se destaca
condenados à morte no Kentucky, que alegam que o método hoje, compreender a relação entre essas atividades e os pro- como mais importante é o reconhecimento da
de execução por injecção letal é contrário à Constituição. cessos de formação e de aprendizagem dos sujeitos sociais? indissociabilidade entre as diferentes formas
O Tribunal aceitou considerar os dois casos de condenados à Acreditamos que as atividades lúdicas possuem um grande de inserção no mundo e o enredamento per-
morte no seio de uma crescente controvérsia devido aos efei- potencial como fator de aprendizagem, na medida em que, ao manente das atividades cotidianas, lúdicas
tos das injecções ministradas. Em causa está o argumento de desenvolvê-las, estamos exercitando nossa plenitude, confor- ou não, com os processos escolares de ensi-
que a injecção tem um efeito lento e doloroso sendo, por isso, me afirma Luckesi em texto recente . Segundo o autor, o que no-aprendizagem: aprendemos dentrofora da
a morte nestas circunstâncias contrária à proibição constitu- mais caracteriza a ludicidade é a experiência de plenitude que escola, de modo permanente e articulado.
cional de exercer “castigos cruéis e degradantes”. ela possibilita a quem a vivencia em seus atos (1998). E argu-
Esta é a primeira vez em mais de cem anos, que o Supremo menta: Com isso, queremos dizer que, na vivência de uma ati- Inês Barbosa de Oliveira
Tribunal vai analisar se um método de execução é válido ou vidade lúdica, cada um de nós estamos plenos, inteiros nesse Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de
se viola a Constituição. momento; nos utilizamos da atenção plena, como definem as Janeiro, UERJ. Coordenadora do grupo de pesquisa “Redes de
Todos os estados norte-americanos, onde vigora a pena de tradições sagradas orientais. Enquanto estamos participando conhecimentos e práticas emancipatórias no cotidiano escolar”,
morte utilizam injecções letais, à excepção do Nebrasca que verdadeiramente de uma atividade lúdica, não há lugar, na nos- vinculado ao Laboratório Educação e Imagem.
utiliza a electrocussão. sa experiência, para qualquer outra coisa além dessa própria
atividade. Não há divisão. Estamos inteiros, plenos, flexíveis,
AL/ Fonte: AFP alegres, saudáveis (2000). A preocupação do autor é eviden- 1 http://www.luckesi.com.br/textos/ludicidade_e_atividades_ludicas.doc
IE/FN
ANA ALVIM
Diplomado pela Escola Normal de Gent, na Bélgica, em 1977, Conte-nos um pouco acerca do seu percurso pessoal: porquê a opção pelo
onde se formou como professor do ensino primário, faz uma primeiro ciclo e de que forma um professor belga acaba por vir dar aulas para
curta passagem pelo ensino público laico belga e é convida- Portugal…
do a integrar uma equipa cujo objectivo era criar, na cidade Eu sou professor do ensino primário de formação – ou “instituteur”, como se de-
de Leuven, uma escola assente na pedagogia institucional. signa em francês, que considero uma palavra mais adequada por corresponder
No início dos anos 80 trabalha na alfabetização de adultos e melhor à especificidade do trabalho de monodocência, permitindo um trabalho
participa em projectos de desenvolvimento local e trabalho pedagógico continuado com crianças e jovens e a criação de um espaço cultural
com jovens sob contrato de aprendizagem. de referência.
Vem para Portugal no final da década de 80, onde trabalha O contacto com a pedagogia institucional, concretizada através do meu pai, pro-
como coordenador pedagógico numa escola privada. A equi- fessor de jovens em contexto de trabalho que haviam sido afastados do sistema
valência parcial do diploma permite-lhe começar a trabalhar educativo regular, foi determinante na minha opção. Para a minha decisão contri-
no primeiro ciclo do ensino básico público e, paralelamente, buiu igualmente o estágio que realizei numa turma organizada por um professor
como formador de formação contínua de professores do 1º que fazia parte de um grupo ligado à pedagogia institucional e
ciclo nas áreas da matemática e do desenvolvimento curri- que trabalhava com Fernand Oury, “instituteur” francês ligado ao Movimento da
cular, função que exerceu ao longo de 18 anos. Integrou tam- Escola Moderna francesa.
bém a equipa do Laboratório de Aprendizagens, da Câmara Esta experiência constituiu para mim um encantamento: ver como é possível pôr
de Cascais, um espaço de reflexão e de experimentação para os miúdos a organizarem-se por eles próprios, através da mediação do professor,
técnicos ligados ao ensino uma conceptualização de turma que Fernand Oury designava por “turma coo-
É, desde 2005, professor efectivo da escola básica do pri- perativa organizada pela pedagogia institucional”, onde o conselho de turma é o
meiro ciclo Amélia Vieira Luís e sócio do Movimento da Es- instituinte de toda a organização da turma.
cola Moderna e da cooperativa Sociedade de Estudos e In-
tervenção em Engenharia Social, na qual tem participado em De que forma veio parar a Portugal?
projectos de desenvolvimento local, baseado na intervenção Depois de alguns anos a trabalhar na Bélgica ligado a vários projectos fundados
com mulheres, em zonas urbanas. na pedagogia institucional, conheci um grupo português num congresso interna-
Autor dos livros “Histórias de matemática – uma abordagem cional do Movimentos da Escola Moderna, realizado em Lovaine, na Bélgica. Esse
da didáctica experimental da matemática” (publicado em co- encontro marcou-me decisivamente, não só pelo teor do debate que proporcionou
autoria com Miguel Narciso) e “A escola faz-se com pessoas como pelo facto de me ter apercebido que havia pessoas neste país a implementar
– Undi N ta Bai?” e de dezenas de artigos em diversas publica- aquilo que eu procurava fazer na Flandres.
ções periódicas, Pascal Paulus é também colaborador regu- À paixão pedagógica junta-se uma paixão pessoal, já que conheci a minha mu-
lar de A Página da Educação na rubrica “Coisas do tempo”. lher, também ela professora, através do Movimento da Escola Moderna. A ideia
IE/FN
David Rodrigues, professor e colaborador de A Página, acaba de lançar o seu segundo livro de poesia
IE/FN
Desemprego cresce
assustadoramente
entre os professores
ANA ALVIM
A taxa de desemprego entre os professores atinge níveis preocupantes. A ministra Maria de Lurdes Rodrigues rejeita respon-
sabilidades e fala de um “desajustamento entre a oferta de formação e as necessidades do sistema educativo”. Os sindicatos
recusam este argumento e consideram que o problema se deve sobretudo à política de dispensas na função pública e à má
gestão da oferta de formação no ensino superior. Neste Em Foco, procuramos lançar algumas pistas para o debate ouvindo
opiniões e apontando algumas soluções preconizadas por parte de quem reflecte sobre esta questão.
De acordo com dados do Ministério da Educação, nos últimos dois anos a rede pela actual situação. Para a mais representativa organização sindical do sector, a
de ensino público perdeu mais de dez mil professores, cerca de 7500 dos quais Federação Nacional dos Professores (FENPROF), não há desajustes entre oferta
só ao longo do último ano lectivo. Segundo a Federação Nacional dos Professores e procura que justifiquem o aumento do desemprego entre os professores, nome-
(FENPROF), a estes poderão juntar-se outros dez a doze mil até ao final de 2008 adamente pelo facto de a grande maioria dos candidatos que não obtiveram co-
e entre 16 e 23 mil nos próximos três anos. Apesar desta perda progressiva, este locação já ter dado aulas no ano passado. Mário Nogueira, secretário-geral desta
ano existem mais 14 mil alunos matriculados no sistema de ensino relativamente estrutura, afirmou que a actual situação se deve exclusivamente às políticas de
ao ano anterior. “redução de trabalhadores na função pública”, referindo como exemplo os cerca
No concurso de colocação de professores, cujos resultados foram divulgados no de 4400 professores que se aposentaram no passado ano lectivo e que não foram
final de Agosto, apenas 3252 dos quase 48 mil professores candidatos obtiveram substituídos, acusando o actual Governo de promover “um dos maiores despe-
um horário completo na primeira fase. Neste universo contavam-se mais de 20 dimentos colectivos de que há memória” no país. Neste sentido, recordou que o
mil que, em 2006/07, tinham dado aulas. Na segunda-feira seguinte à divulgação trabalho dos professores não se resume à sala de aulas, havendo necessidade de
destes resultados, milhares de docentes acorreram aos centros de emprego, ser- mais docentes para trabalhar com crianças com necessidades educativas, ou no
viços da Segurança Social e lojas do cidadão para se candidatarem ao subsídio desenvolvimento de outros projectos em contexto escolar, como o papel de me-
de desemprego. diadores na gestão de conflitos.
A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, considerou que o aumento O presidente da Federação Nacional de Educação (FNE), João Dias da Silva, la-
do desemprego se deve ao “desajustamento entre a oferta de formação e as ne- mentou a actual situação e apontou medidas como a criação de mecanismos de
cessidades do sistema educativo”, argumentando ainda que mais de metade dos apoio à promoção do sucesso nas escolas ou o estabelecimento de um enquadra-
candidatos são provenientes de ciclos de ensino que não estão em crescimento. mento legal que permita dar prioridade a estes professores no desenvolvimento
“Temos cada vez menos alunos no ensino básico e, portanto, não há condições de actividades de enriquecimento curricular no 1° ciclo. O coordenador da FNE
para responder às expectativas destes diplomados no ensino”, sublinhou a minis- defendeu ainda que a tutela deveria promover “formações curtas a nível superior”,
tra, rejeitando quaisquer responsabilidades por esta situação. em articulação com o Ministério da Ciência e do Ensino Superior, que permitam a
Os casos mais dramáticos observam-se no ensino pré-escolar, no 1º ciclo e nas reconversão profissional dos professores, seja os que se encontram em exercício
áreas disciplinares de Português e História do 2º ciclo. As necessidades do sistema seja os candidatos ao ensino que continuam a sair das faculdades e “cujo destino
centram-se agora em professores do 3º ciclo e do ensino secundário, sobretudo de- mais óbvio é o desemprego”.
vido ao aumento da oferta nos cursos de educação e formação profissionalizantes. Carlos Chagas, presidente do Sindicato Nacional e Democrático dos Professores
(SINDEP), acusou também o Governo de ser o único responsável pela situação. “Es-
te Governo determina o número de vagas da formação inicial de professores no ensi-
Sindicatos responsabilizam ministra no superior e por razões que se prendem com uma política de má gestão vem agora
dizer que há excesso e que nada tem a ver com isso”, afirmou Chagas, garantindo
As duas principais federações de sindicatos de professores reagiram em unís- que caso existisse uma boa gestão por parte da tutela haveria lugar no sistema de
sono às declarações de Maria de Lurdes Rodrigues, responsabilizando a tutela ensino para os cerca de 45 mil docentes que agora se encontram no desemprego.
ANA ALVIM
Reconverter e alargar o perfil dos profissionais de educação luz verde do Governo para esta nova denominação, a instituição decidiu avançar, em
1993, para a abertura de novos cursos de banda larga: Relações Humanas e Comu-
Apesar de mostrar preocupação com a crescente falta de empregabilidade que nicação do Trabalho, Turismo Cultural, Comunicação Social e Educação Multimédia,
afecta os recém-formados, Luís Rothes, professor da Escola Superior de Educa- Serviço Social e Animação Cultural. “Se esta reconversão não tivesse ocorrido, a
ção do Instituto Politécnico do Porto, recusa o “alarmismo” das organizações sin- ESE de Leiria já teria provavelmente fechado as suas portas”, garante Vieira.
dicais e afirma que “o sistema educativo não pode ser pensado para dar emprego Questionado sobre este tema, o presidente do Conselho Coordenador dos Insti-
aos professores”. Questionado sobre o futuro das instituições de formação de tutos Superiores Politécnicos (CCISP), Luciano Rodrigues de Almeida, considera
professores face à actual conjuntura, Rothes garante que não receia pela sobre- que a definição de um quadro orientador da formação de professores em Portu-
vivência das mesmas. gal depende, antes de mais, dos “objectivos do país no domínio da sua política
“Num país com um significativo atraso educativo como o nosso, existe uma mani- educativa”. Na sua opinião, “esta é uma das matérias em que a ausência de um
festa necessidade de técnicos superiores de educação que possam actuar em áre- pacto de regime que afaste as tentações que cada ministro sente de fazer a ‘sua’
as como a formação de adultos, o ensino das artes ou o serviço de carácter social, reforma, destruindo o trabalho do anterior sem o avaliar, compromete qualquer
entre outras. A formação não pode é continuar direccionada para áreas onde o sis- esforço sério de regulação”. Em matéria de educação, aliás, Luciano de Almeida
tema já atingiu a saturação”. Para isso, explica, “é preciso apostar em formações de considera que “os partidos políticos têm sido completamente irresponsáveis, ha-
banda larga que permitam ampliar o perfil de actuação dos futuros profissionais de vendo muitos actores do sector educativo em Portugal que ainda não entenderam
educação, paralelamente com ofertas formativas que garantam uma rápida recon- que a educação é um bem público”.
versão e actualização dos saberes científicos”. É precisamente em contextos como
este, diz ainda, que “o processo de Bolonha pode constituir uma oportunidade”.
Ricardo Vieira, professor da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Formação para a docência tem vindo a diminuir
Leiria (IPL), partilha das mesmas opiniões e vai mais longe ao afirmar que no nosso
país “existe a ideia enraizada de que a obtenção de um curso garante necessaria- De acordo com o Observatório da Ciência e Ensino Superior, o número de recém-
mente um emprego”. No caso dos professores, adianta, “o Ministério da Educação formados nas áreas vocacionadas para a docência tem vindo a diminuir desde
foi durante muitos anos a entidade formadora e empregadora, não tendo havido 2003. Ainda assim, as universidades e politécnicos portugueses formaram 88161
preocupação em regular o mercado”, circunstância que acabou por se traduzir no mil professores entre 1998 e 2005. Analisando os dados mais detalhadamente,
actual desequilíbrio. Perante o facto consumado, e embora admitindo que a sua pode verificar-se que o número de alunos que obtiveram um diploma em cursos
proposta não seja propriamente inovadora, uma das soluções para o desemprego da área de Educação passou de 6667 no ano lectivo de 1997/98 para 15012 em
docente poderá passar, a curto prazo, por acções pontuais de reconversão profis- 2002/03, ano em que esta tendência se começou a inverter. De facto, em 2003/04
sional que lhes permita assumirem funções de apoio técnico – nomeadamente em o número caiu para 12166 diplomados e para 10246 no ano seguinte, evolução à
áreas emergentes como as novas tecnologias – cultural e pedagógico às escolas. qual não terá sido alheia a diminuição do número de vagas disponibilizadas pelas
Face à previsível diminuição do número de candidatos aos cursos orientados para a instituições de ensino superior com oferta nesta área. Relativamente ao número
via de ensino, as instituições de formação deverão, também elas, saber “adaptar-se total de diplomados, o sector educativo representava 14 por cento em 1997/98,
e reconverter a sua oferta”. Tanto mais, explica Vieira, quanto “à escola de hoje se tendo subido para 22 por cento em 2002/03. No ano seguinte representava ape-
colocam desafios e problemas que exigem um novo perfil de educador”, vocaciona- nas 18 por cento, tendo regressado para valores próximos do início do período em
do para o trabalho social, como a ligação à família, a mediação de conflitos ou o de- análise (15 por cento) em 2004/05.
senvolvimento e animação de projectos locais. Para que isto aconteça, porém, “o ME Apesar de a análise destes dados permitir verificar que existe uma diminuição do
terá de abrir espaços de intervenção nas escolas e legitimar estes novos papéis”. número de candidatos a professor lançados para o mercado de (des)emprego, o
Antecipando a actual conjuntura, a ESE de Leiria apontava, já no início dos anos 90, número daqueles que não consegue colocação nas escolas tem conhecido uma
para a necessidade de reequacionar a sua oferta formativa e alterar a designação progressão inversamente proporcional. Tendo em conta este problema crescente,
para Escola Superior de Educação e Ciências Sociais. Apesar de nunca ter obtido que tipo de resposta oferece o Instituto do Emprego e Formação Profissional?
ANA ALVIM
A PÁGINA colocou esta questão ao delegado regional do norte do IEFP, Avelino Lei- como o número de professores existente por grupos etários e por grupos disci-
te, que considera o trabalho com os candidatos a professor “muito difícil”. Isto, ex- plinares, o número previsto de aposentações, a variação de cargas horárias e as
plica, porque “a maioria interiorizou um projecto de vida que não contempla outras horas destinadas a cargos pedagógicos, bem como o número de professores pre-
alternativas para além do ensino, sendo habitualmente pouco provável convencer vistos nos cursos de formação de professores. Como forma de avaliar o impacto
pessoas nesta situação a aceitar ofertas de emprego noutras áreas de actividade”. de medidas alternativas de política educativa, são considerados três parâmetros
Como exemplo, refere o facto de o IEFP ter mantido ao longo dos últimos anos um variáveis (dimensão da turma, idade de reforma e formação de professores) que,
conjunto de acções de formação destinadas a reencaminhar a saída profissional combinados entre si, ajudam à definição de diferentes cenários.
de activos qualificados – designado Programa Fordesq –, nas quais se encontra- Apesar de garantir que houve interesse por parte do Ministério da Ciência e do
vam inscritos um significativo número de professores, “descontinuadas em função Ensino Superior – na altura tutelado pelo ministro Pedro Lynce – em conceber um
dos seus resultados praticamente nulos”. Muitos dos candidatos, diz, “desistiam modelo prospectivo similar para o sistema educativo português, o facto é que o
mal lhes aparecia uma oportunidade para preencher um horário, ainda que incom- pedido acabou por ficar na gaveta. Na mesma ocasião, Anselmo de Castro lamen-
pleto, em escolas localizadas a centenas de quilómetros de distância, em regiões tava a falta de interesse dos decisores políticos numa planificação mais rigorosa do
como o Alentejo ou o Algarve”. sistema, afirmando ser muito difícil introduzir este tipo de cultura no nosso país.
A esta circunstância, acresce o facto de o IEFP receber uma escassa oferta de A questão que se coloca é, então, porque razão nem o Governo nem as institui-
emprego na área da docência – exceptuando casos pontuais provenientes de ga- ções de ensino superior se socorrem de instrumentos desta natureza no sentido
binetes de estudo ou similares –, dada a natureza muito específica do processo de de regular o mercado de emprego e salvaguardar situações como a que actual-
recrutamento inerente ao sistema de ensino, reduzindo consideravelmente a capa- mente se vive. Colocamos esta questão aos presidentes do Conselho de Rei-
cidade deste organismo em proporcionar uma resposta específica a este sector. tores das Universidades Portuguesas (CRUP) e do Conselho Coordenador dos
“Estamos num regime de mercado livre onde cada um pode obter as qualificações Institutos Superiores Politécnicos. Ao longo de uma semana tentamos contactar o
que entender, mas não podemos esperar que toda a gente encontre emprego na presidente do CRUP, mas Fernando Seabra Santos mostrou-se indisponível para
respectiva área de formação. Os professores que estão no desemprego, à seme- responder ao nosso convite.
lhança de outros profissionais, têm de perceber que muitas vezes têm de optar por Na opinião de Luciano Rodrigues de Almeida, presidente do CCISP, o “evidente de-
uma área que não corresponde necessariamente à sua formação. O grande drama sajustamento entre a oferta de formação superior e as necessidades da rede esco-
dos professores nesta situação é que na maioria dos casos demoram muito tempo lar” resulta de “responsabilidades partilhadas” entre o Governo e as instituições de
a aperceber-se dessa inevitabilidade”. ensino superior. “O Governo porque tinha a obrigação de ter promovido os estudos
prospectivos que permitissem com rigor fazer o levantamento das necessidades de
professores a médio prazo, o que pressupunha a definição de uma política educati-
Partilha de responsabilidades entre Governo e instituições va capaz de sobreviver a um ministro e a um governo e de aproximação aos níveis
de ensino superior de desempenho da média da União Europeia. As instituições porque, enquanto
centros de saber e na omissão do Governo, tinham a obrigação de ter elas próprias
Em Março do ano passado, a Página publicava uma entrevista com Eduardo An- promovido esses estudos e adequado a sua oferta de formação”.
selmo de Castro, professor da Universidade Aveiro (UA), que, em colaboração com Neste domínio, sublinha, “o conservadorismo das nossas instituições de ensino
uma equipa de investigadores, desenvolveu um modelo de análise prospectiva superior e de grupos de interesses instalados tem conseguido dificultar qualquer
que permite determinar com precisão o número de professores necessários ao iniciativa de auto-regulação”. Regulação, admite este responsável, que “acabou
sistema educativo português, nas diferentes áreas disciplinares, até 2020. Para por ser feita à custa da diminuição de candidatos”, à qual se seguiu uma redução
além de permitir determinar a procura, Anselmo de Castro garantia que ele pode drástica do número de vagas por parte das instituições, sem qualquer estudo
ser aplicado, sem demasiada rigidez, às possibilidades de saída profissional. O prospectivo que a sustentasse.
modelo foi testado com sucesso pela própria UA num estudo de viabilidade pa- Concluindo num tom crítico, Luciano de Almeida afirma que “em geral, as nossas
ra a instalação de um pólo na cidade de Viseu, e o Instituto Politécnico de Leiria instituições de ensino superior são incapazes de tomar decisões e incapazes de
encomendou um modelo semelhante de procura e de colocação da formação de promover mudanças, porque estão prisioneiras de jogos de interesses corporati-
professores para o ensino básico e secundário. vos que as paralisam”. Além disso, diz, “têm uma deficiente concepção de ‘auto-
Nessa entrevista, Anselmo de Castro explicava que o modelo assenta no cruza- nomia’ e não a usam em matérias em que supostamente estão obrigadas a fazê-lo,
mento de parâmetros como as previsões demográficas da população, o número como o da regulação da sua oferta pedagógica”.
de alunos, as taxas de escolarização e a dimensão média das turmas existentes
por nível de ensino, prevendo a possibilidade da extensão do ensino obrigatório
para doze anos a partir de 2010. Partindo desses resultados, cruzam-se dados Ricardo Jorge Costa
Algumas notas
de reflexão
Rui Vieira de Castro
Universidade do Minho
Instituto de Educação e Psicologia
Professores e sindicatos
“Já fui sindicalizado mas deixei de ser porque quando precisei de ajuda não fui
bem orientado!”, resume Paulo Dias enquanto tenta encontrar as razões de tal A criação de uma Ordem de Professores
atendimento: “Provavelmente por ser um sindicato pequeno, a quota paga era a
mais barata na altura, rondava os cinco euros...” Outros aspectos mais pragmáti- Na sequência da sua preocupação, Miguel Sousa admite que gostaria de ver as orga-
cos originaram a desistência: a dificuldade no acesso, a falta de estacionamento nizações sindicais “a ajudar o Governo a definir o que é o sucesso escolar, uma vez
e a incapacidade de resolução de problemas via telefone. “Entretanto, casei com que o argumento do executivo para mudar o Estatuto de Carreira Docente foi a pro-
uma professora que é sindicalizada e apoio-me no sindicato dela... assim fica dois moção do sucesso escolar”. Miguel Sousa adianta-se na definição com um exemplo
em um”, graceja. de uma realidade que está presente no seu quotidiano. “A ministra devia perceber que
Questionado sobre a actuação dos sindicatos, Paulo Dias comenta: “Penso que um filho de agricultores que tem de se levantar às 4 horas da manhã para ordenhar
os sindicatos são importantes em qualquer actividade profissional!” Mas adianta: a vaca, apanhar o carro para ir para a escola, voltar às 19 horas da noite para nova-
“O problema é existirem vários sindicatos, o que reflecte também a disparidade mente ir ordenhar vacas, começar a estudar às 21h e ao outro dia estar a pé às 4h, já
de categorias dentro do corpo docente.” O ideal para este professor seria a con- tem sucesso escolar!” No entender deste professor “não se pode fazer uma avaliação
centração. “Um só sindicato que englobasse todas as sensibilidades para ter mais quantitativa do sucesso escolar sob o risco de reduzir a escola a números”.
força.” Mas também, acrescenta, “mais neutro em termos de cores partidárias”. Outra das suas preocupações em relação à actuação dos sindicatos é “a sua sede
A esta diversidade típica da profissão, Paulo Dias recorda ainda outra divisão que de poder”, que diz ser “ tão grande quanto a dos políticos”. A sua posição quanto
diz estar a contribuir ainda mais para a perda de força da classe: a divisão entre a este aspecto passaria pela criação de uma Ordem dos Professores. “Para mim
professores titulares e não titulares. “Uns vão avaliar o trabalho dos outros, uns es- o sindicato devia admitir que as questões laborais dos professores são demasia-
tão num patamar superior aos outros...”, comenta. Uma actuação que Paulo Dias damente graves e, por isso, justificavam o delegar das questões deontológicas
diz ser a de “dividir para reinar” e que prevê contribuir para agravar o “mal-estar numa eventual Ordem.” Mas esclarece: “Isto não significa que Ordem e sindicatos
entre a classe docente”. estivessem de costas voltadas!”
ANA ALVIM
Sindicato em avaliação vas algumas declarações dos sindicalistas que ouve na televisão, sobretudo no
que toca à legislação ministerial. “Um decreto-lei pode ser interpretado de várias
Questionado sobre a nota a atribuir à actuação sindical, o professor é peremptório: maneiras, mas acho que muitas vezes os sindicatos só destacam os pontos ne-
“Dava nota negativa, claramente! Era necessário bater o pé, não tanto em relação gativos…”
às carreiras, mas contra a tentativa de tornar o professor num burocrata ao invés Apesar de, como insiste em dizer, “ter uma relação aberta com a direcção da es-
de um pedagogo. Temos mais papéis para preencher que alunos para ensinar!” cola”, Bianca Almeida recorre várias vezes ao seu sindicato. Interessam-lhe as
A nota justifica-se ainda por outra crítica. Miguel Sousa diz que na discussão em acções de formação que são promovidas pela organização. E é essa parte “forma-
torno das formas como os professores vão ser avaliados, está a ser esquecida a tiva” que se reflecte na nota que a professora atribui à actuação sindical: 10.
falta de instrumentos para que estes se possam defender de uma avaliação in-
justa. “Os alunos têm o direito de protestar a nota e os professores não têm esse Pedro Graça, 40 anos
direito, por isso gostava de ver isso clarificado no Estatuto”, contesta. Professor – associado e membro do conselho pedagógico da Faculdade
de Ciências da Nutrição e Alimentação
12 anos de serviço
Bianca Almeida, 24 anos
Professora do 1º ciclo | Ensino Particular e Cooperativo Uma preocupação de quem participa em órgãos de gestão – como é o seu caso
3 anos de serviço | Efectiva – é a “qualificação pedagógica dos docentes”, diz Pedro Graça, que critica o fac-
to de a progressão na carreira ser feita apenas a partir de indicadores de produ-
Nas formações que tem feito, Bianca Almeida, professora do 1º ciclo tem visto de tu- ção científica. “São um factor de qualidade pedagógica, mas não só”, observa o
do. “Professores muito empenhados e professores muito revoltados!” A revolta é atri- docente. “Um professor pode escrever vários ‘papers’ por ano mas estar pouco
buída à actuação do ministério. Uma situação que, apesar de estar no ensino particu- apetrechado para divulgar ciência numa sala de aula”, diz. “No ensino superior faz
lar e cooperativo, não a deixa indiferente. “Vejo os professores do ensino público com falta uma forma de valorizar os docentes que investem na investigação e ao mes-
condições de trabalho difíceis que dificultam a prática de um ensino diferente.” mo tempo têm boas capacidades pedagógicas”, acrescenta Pedro Graça.
Mas será que as questões laborais dos professores não estarão a sobrepor-se aos Entre outras preocupações sobre o estado do Ensino Superior, Pedro Graça des-
interesses educativos dos alunos? “Não!”, afirma a professora. O facto, esclarece taca a “fuga de cérebros”, ou seja, “a procura dos bons profissionais para outros
Bianca Almeida, é que “as alterações nas carreiras foram muito significativas e têm campos que não a docência”, algo que diz acontecer “sobretudo na área das ciên-
tornado muito difícil ao professor saber o que esperar da escola em termos de fu- cias”. O problema, aponta Pedro Graça, é económico. “Muitas vezes um professor
turo.” A “insegurança” é para a professora a causa de todos os problemas. do ensino público consegue ter um rendimento superior trabalhando apenas meia
dúzia de horas fora da instituição de ensino.”
Os alunos estão
demasiado quietos…
IE/FN
A actividade física é um dos determinantes da saúde que deve ser desenvolvido em que se estima que o sedentarismo é responsável por 1 milhão e 900 mil mor-
em meio escolar. O exercício físico regular, além de ser um importante componente tes a nível mundial, e que dois terços da população mundial não realiza exercício
no crescimento e desenvolvimento do sistema músculo-esquelético, contribui pa- físico regular, é importante definir que quantidade de exercício é necessário para
ra a diminuição do risco de obesidade infantil. Os estudos nacionais apontam para ser benéfico à saúde.
uma prevalência do excesso ponderal em cerca de um terço na população escolar, Se nos adultos se deve realizar 30 minutos diários de actividade física cumulativa
esteja-se a mesma a referir ao jardim-de-infância, ensino básico ou secundário. moderada (por exemplo, caminhar, andar de bicicleta, dançar ou praticar jogos
Por outro lado, estudos científicos têm apontado uma relação entre o exercício recreativos), as crianças e adolescentes necessitam de complementar esta activi-
físico regular e um melhor desempenho escolar nas crianças. A nível dos adoles- dade com a prática efectiva de 20 minutos adicionais de actividade física vigorosa,
centes, os estudos associam-no a uma menor probabilidade destes se tornarem três vezes por semana. Já para controlar o peso, se recomenda, pelo menos, 60
fumadores, bem como adoptarem outro tipo de consumos nocivos, e, no que diz minutos diários de actividade física vigorosa ou moderada.
respeito aos jogos em equipa, a um desenvolvimento de competências na área Nas escolas, a prática da actividade física encontra-se prevista nos programas do
das capacidades sociais, ao promover a integração social. 1º ciclo básico, na área curricular disciplinar da expressão e educação físico-mo-
As vantagens não se ficam por aqui. Sabe-se que os comportamentos praticados tora, de frequência obrigatória, estando a educação física prevista também nos
pelos jovens serão mais facilmente replicados na vida adulta, pelo que a conti- restantes ciclos de ensino, sendo este um espaço privilegiado para que os jovens
nuidade da prática de exercício físico nesse ciclo de vida está associada a uma possam realizar o exercício físico adequado. Além de programas desportivos es-
redução do risco de morte prematura, dado diminuir o riscos de algumas doenças, colares, outras iniciativas desportivas e actividades físicas providenciadas fora do
sejam elas do foro cardio ou cerebrovascular, músculo-esquelético, metabólico, horário escolar são algumas das estratégias que a escola pode utilizar para a pro-
cancerígeno e psiquiátrico. Por outro lado, as próprias crianças portuguesas obe- moção da actividade física regular. A escola tem, deste modo, a responsabilidade
sas já começam a manifestar patologia cardiovascular e metabólica, além desta acrescida de ser o local privilegiado de luta contra um mundo promotor do seden-
doença crónica estar associada a uma baixa auto-estima, mau rendimento e ab- tarismo. É importante pôr as crianças e os jovens a mexerem-se todos os dias!
sentismo escolares.
No ambiente obesogénico que actualmente se vivencia – isto é, um ambiente que Nuno Sousa
encoraja comportamentos que aumentam o risco de obesidade – e numa altura Médico de saúde pública, Porto
PINTURA e CIDADANIA
Crianças de rua inspiram artista queniano
Num hospital psiquiátrico para crianças Jesse, um jovem pintor queniano aperta mãos, troca e encontra a ins- “Certas pessoas dizem que as minhas pinturas são deprimentes, mas há sofrimento por toda a parte”, diz o ar-
piração para as suas obras que descrevem um universo perturbado. tista. Jesse luta também: expôs nos Estados Unidos e no Quénia, vende telas, essencialmente a Ocidentais, mas
“Não encontro ideias observando o céu. Exploro os meios que são estigmatizados e de que as pessoas têm continuou sempre a trabalhar como cabeleireiro para ganhar a sua vida neste país pobre da África do Leste.
medo”, explica Jesse Seng Ang, de 25 anos. Num mundo à margem que é o motor da sua obra, Jesse sente-se Jesse, nunca estudou arte mas lançou-se na pintura em 2003, depois de ter trabalhado como cartoonista para
em casa: alguns dos seus parentes sofrem de doenças mentais. Em 2006, recebeu uma bolsa para ir pintar nos um jornal local queniano. “Não era feliz, não ganhava muito dinheiro e não tinha liberdade, parei”, recorda-se.
Estados Unidos. “Ali, não me autorizavam a entrar nos hospitais psiquiátricos.” Ficava louco, não tinha inspira- “Queria ajudar, e encontrei a inspiração para as pinturas no voluntariado”, conta. Porque além de pintar, Jesse
ção. Terminei as minhas telas e voltei ao Quénia”. compartilha o seu saber: tenta aconselhar as famílias dos doentes que sofrem de perturbações psiquiátricas,
Para “atelier”, Jesse utiliza o centro de reabilitação Daraja [“ponte” em swahili], que acolhe crianças das ruas geralmente abandonadas no Quénia e dá cursos de pintura às crianças errantes. “A pintura, é extraordinária para
de Nairobi. Pinta na sala onde as crianças, sentadas na terra, sonham com uma vida melhor enquanto assistem as crianças de rua ajuda-as a crescer.”
a um filme. AL/ Fonte: AFP
Conservação da biodiversidade
a ciência e os valores
A história do conflito entre os promo- no conhecimento científico que detém humano também depende e beneficia
tores de um empreendimento imobi- mas, sobretudo, nos princípios filosófi- dele. O desaparecimento de certas es-
liário americano e os advogados da cos e éticos em que se alicerça. pécies ser-lhe-á, assim, prejudicial. O
protecção de um pequeno rato salta- Afinal, por quê valorizar a biodiversida- prejuízo pode ser imediato - temos de
dor, referida na crónica anterior, tem o de? Em termos gerais, podem apon- nos habituar a viver sem bacalhau?; ou
seu quê de burlesco mas constitui um tar-se três razões: porque podemos vir potencial - será que aquela planta rara
paradigma das questões que hoje se a precisar dela – valores associados à da amazónia contém uma nova subs-
levantam repetidamente em relação à utilidade; porque gostamos dela – va- tância terapêutica?
conservação da biodiversidade. São lores associados ao prazer e à estéti- Por outro lado, sabemos que os seres
assuntos que causam frequentemente ca; ou porque achamos que devemos vivos integram redes complexas de in-
discussões acesas e tomadas de po- – valores associados à ética ou moral. teracções e fluxo de matéria e energia,
sição vincadas em torno de “o que é A obtenção de um consenso universal os ecossistemas. O desaparecimento
que vale realmente a pena preservar” e torna-se, evidentemente, muito difícil. de uma espécie chave pode pôr em
“o que é importante para o bem estar e Mas numa era em que as acções hu- causa o equilíbrio de toda esta estrutu-
desenvolvimento humano”. O papel da manas sobre o ambiente estão a de- ra, repercutindo-se também nas condi-
Ciência e dos cientistas neste contexto sencadear alterações tão rápidas, esta ções de vida da humanidade. A aplica-
é também paradigmático do seu papel é uma discussão essencial. ção deste critério assume hoje um lugar
IE/FN
na sociedade em geral, sendo por is- A Ciência diz que ritmo de desapareci- importante na política de conservação.
so um exemplo muito interessante de mento de espécies vivas na actualida- Mas como ter a certeza se uma espécie
discutir. A Ciência procura obter uma de é muito superior à taxa de extinções é realmente fundamental para o funcio- res jovens). Mas mesmo que se conclua
descrição e explicação útil do modo observada noutras eras. Mas isso é namento do ecossistema? Não é raro que determinada espécie não “oferece”
de funcionamento do universo que nos bom ou mau? Afinal, a extinção de es- sermos surpreendidos pela nossa fal- nenhum “serviço” essencial, implicará
rodeia. Poderá chegar à conclusão de pécies é um processo natural. Poder- ta de conhecimento. Quando as gran- isso que não merece ser protegida?
que determinado elemento de um sis- se-á argumentar que o problema é que des árvores começaram a desaparecer Estes exemplos sublinham como a te-
tema é necessário para o seu funcio- as extinções actuais são consequência do parque natural do Yellowstone, nos mática da biodiversidade proporciona
namento, ou que a sobrevivência de A da actividade humana e que, por isso, EUA (e com elas os castores, o que por uma oportunidade extraordinária de
depende de B. Mas não lhe compete se trata de um processo artificial, lo- sua vez provocou modificações no cur- discussão actual e interdisciplinar para
atribuir valores, classificações de bom go, mau. Mas se considerarmos que o so dos rios e efeitos nas condições bio- explorar nas escolas, pelo que vale a
ou mau. E a resposta a estas perguntas ser humano é parte do mundo natural, físicas da região), não foi de imediato pena voltar a abordar.
é uma resposta sobre valores. A defini- então as consequências da sua acti- evidente que se tratava apenas de uma
ção de valores e a tomada de decisões vidade também o serão. Onde reside, consequência do desaparecimento do Margarida Gama Carvalho
subsequentes tem de ser feita pela afinal, o problema? lobo (e do resultante aumento da popu- Instituto de Medicina Molecular e Faculdade
sociedade como um todo, com base Como parte do mundo natural, o ser lação de veados que destruíam as árvo- de Medicina de Lisboa
Nebulosa Tarântula
Situada na grande nuvem de Magalhães, a Tarântula,
também chamada de 30 Doradus é a maior nebulosa
difusa que se conhece. A sua massa representa cerca
de 500 000 vezes a do Sol e estende-se por uma área
de mais de 6000 anos-luz, embora a sua parte mais
visível tenha um diâmetro de apenas 700 anos-luz.
No centro desta vasta nuvem de hidrogénio ioniza-
do é possível observar um aglomerado de estrelas
jovens muito quentes que formam um núcleo muito
brilhante com 80 anos-luz de diâmetro, o R136. É
neste enxame compacto de estrelas que é produzi-
da a maior parte da energia. Esta mesma energia é
depois emanada por acção do vento resultante das
explosões estelares, o que lhe confere uma forma se-
melhante a uma aranha, daí o seu nome.
Oitocentos anos de História, dizem, espalhados por outros tantos quilómetros de ou o Parque Mayer, mas gozam ainda que se fartam na Feira da Ladra e do Re-
costa peninsular e marítima, paisagem dividida em duas partes pelas águas do lógio, passeiam pelo Parque das Nações, vão ao Casino de Lisboa perder alguns
Tejo, que corre de Albarracim e atravessa calmo as terras de Aranjuez e Toledo, maravedis que lhe fazem falta para outras coisas na triste ilusão de enriquecer do
desaguando as suas mágoas no coração da capital lisboeta já sem fragatas, faluas pé para a mão, coitados, visitam o Centro Cultural de Belém e a colecção Berardo
ou bergantins de outros tempos. Olha-se e percorre-se esta faixa continental em para excursionista ver - enfim, as gentes lisboetas passam o tempo enquanto o
dois tempos, é um modo de dizer, não há muito mais para nos causar espanto. tempo deixa, nas vinte e quatro horas do dia, sofrem muito quando o Benfica ou
O que sobra da paisagem é ainda esse sal de um colectivo desespero na procla- o Sporting perdem ou passam os dias de Verão na Trafaria e na Caparica, mas di-
mada brandura dos nossos costumes. Tretas! Somos diferentes de outros povos zem aos vizinhos que foram lavar o corpo nas areias de Punta Cana ou Maldivas.
por sabermos silenciar o desencanto que ciranda num e noutro sentido. E pouco Vivem numa agitação constante e o barulho ensurdecedor do trânsito e, por mais
mais. Antes de Abril, o flagelo fascizante vigiava todos os actos e palavras; depois viadutos, túneis, crel’s e cril’s que se construam as dores de cabeça não desapa-
de Abril, outras desvairadas águas passaram por debaixo da ponte que foi Salazar recem e juntam-se às do orçamento familiar tão desequilibrado.
de má memória. Mas não aprendemos muito. O que resta da nossa aventura pelos Em Lisboa vive-se como se pode, estendem-se as pernas, vê-se a Gina Llolobri-
longes dos anos já corridos, não basta para encher o saco da viagem que acabou gida que chega toda sorridente ao aeroporto da Portela para uma festa da Lili Ca-
em Novembro triste de 1975. Na cobardia escondida e encapotada dos bombistas neças ou qualquer programa televisivo demasiado pobre e goucha... Em Lisboa,
ou no cruzar das espadas para outras futuras revoluções. Talvez necessárias, mas no começo deste século e já depois de Abril ter chegado e colocado a capital em
ainda por haver. E na saudade que guardo de Alexandre O’Neill, na admiração pela polvorosa por pouco tempo, na memória de uma classe política na sua maioria
poesia que de si sempre posso ler e no silêncio em que repousa no cemitério de inculta mas ávida nas manigâncias do poder, que despontou e até hoje não se re-
Benfica, o Poeta de “Feira Cabisbaixa” ainda me diz ao ouvido: novou, neste século que não é de outras luzes e certamente de outras trevas, com
um governo socialista e socrático sem bússola que o oriente e trace outro rumo,
Ó Portugal, se fosses só três sílabas, mas afinal não passa de um barco à deriva que a todos nos aflige, vive-se como
linda vista para o mar, se pode e nos deixam, já que este pedaço de sol e de céu azul é pago a peso de
Minho verde, Algarve de cal, oiro, fica caro, e ninguém faz contas...
jerico rapando o espinhaço da terra, Por isso, ser cronista de Lisboa é talvez correr o risco ou o perigo de ser moiro nos
ó Portugal, se fosses só três sílabas domínios de el-rei ou judeu que “depois do sol-posto fosse achado pela cidade” e
de plástico, que era mais barato. “com pregão publicamente açoitado por isso”... Mas Lisboa tem muito de provin-
ciana, a par de um cosmopolitismo disfarçado ou encoberto de ser ou ainda querer
E a seu modo, num estilo bem pessoalíssimo, Fernão Lopes foi cronista implacável ser “capital da cultura” neste ano da graça de 2007. E todavia não é cosmopolita
do seu tempo, mesmo que nas andanças pelos paços reais focasse de preferên- quem quer, nem é civilizado quem mais o deseja. E assim o queirosiano homem
cia o quotidiano da época que caminhava lenta, sem as arrelias e perturbações de Tormes de “A Cidade e as Serras” continua vivo em qualquer cidadão pacato
do nosso tempo incómodo e fatigante. Mas ser cronista deste tempo e mundo, e burguês desta Lisboa moderna, segue ao volante de um Chevrolet emprestado,
estar bem atento ao que se passa intramuros numa cidade como Lisboa, capital- como era o de Álvaro de Campos pela estrada de Sintra ao luar e ao sonho, a loira
do-país-todo, não é tarefa que agrade, por ser preciso ter uma atenção lúcida e mulher espigadota e fartota num saia-e-casaco enfeitado de malmequeres verme-
intervencionista. E, mesmo com simpatia, Lisboa não se pode encarar de olhos lhos e azuis, os filhos guedelhudos no banco de trás, em passeio arrastado pelo
vesgos e sem um sorriso nos lábios: existe de tudo nesta grande-pequena cida- Estoril, Cascais, Guincho, Malveira da Serra, Praia Grande, Colares ou Sintra de
de europeia, nos anos iniciais do século vinte e um, acontece um pouco de tudo todos os devaneios. Mas ser contemporâneo desta nossa boa gente nestes anos
nesta urbe com mais de um milhão de habitantes à hora de ponta, no vaivém dos iniciais do novo milénio, já depois de todas as tormentas dobradas e passadas,
cacilheiros de uma para a outra banda. Não se conhecem bem os limites da cidade é na realidade ser talvez parente pobre de um futuro de que mal se vislumbram
e não se pode percorrê-la numa noite como el-rei fazia ledo ao som das trompas as raízes da própria árvore da vida. Não sei. E ainda evoco estes versos do irmão
de prata. Lisboa cresceu, estendeu-se, tem muita gente que não é daqui, e isso da Ophéliazinha a quem Pessoa escreveu cartas de amor que “nunca foram ridí-
pouco importa. Lisboa não passa de um corpo macrocéfalo e alguns quilómetros culas”, esse Carlos Queiroz que foi um poeta triste, esquecido e nascido há cem
de extensão, e é hoje, como dizem os cartazes espalhados em cada esquina, um anos e de quem quase ninguém se lembra, que proclamava com sincera ironia:
pólo de atracção turística ou esse “slogan” já gasto de ser o eixo fulcral de muitos
negócios, hoje contados em milhões de euros em tempo de comunidade europeia. Português e vivo
Cidade que cativa as gentes que chegam da província e se instalam, como podem É diminutivo.
e é possível, nos arredores que entram cada vez mais pela cidade adentro. Só fazemos bem
E assim, mesmo com alguma simpatia, Lisboa é uma cidade grande, largos milha- Torres de Belém.
res que trabalham, comem, dormem, passeiam, divertem-se, vão muito ao futebol
e menos ao cinema e ao teatro, lêem os jornais, sobretudo os desportivos, claro,
vão às docas de Alcântara, a Alfama, ao Bairro Alto, às Amoreiras ou ao Colombo, Serafim Ferreira
frequentam ainda às casas típicas, bares e discotecas, já não têm a Feira Popular Escritor e critico literário
DESENVOLVIMENTO
Dívidas revertem a favor do Fundo Mundial de luta contra o HIV
A conferência mundial de Berlim espera reunir 8 mil milhões de dólares destinados ao Fundo Mundial de luta “A luta contra a pobreza mundial e as doenças ligadas à pobreza são um dever para os países ricos”, afirmou
contra o HIV, a tuberculose e a malária. a ministra alemã do Desenvolvimento Heidemarie Wieczorek-Zeul, que considerou que a nova iniciativa re-
Representantes de cerca de 30 países participaram nesta conferência de dois dias para discutir a elaboração de presenta “um ganho para todas as partes envolvidas”.O presidente do Fundo Mundial, Michel Kazatchkine,
um projecto-piloto para o Fundo durante o período 2008-2010, com a esperança de reunir entre sete e oito mil destacou este acordo, considerando que “é a primeira vez que dívidas bilaterais são revertidas em benefício
milhões de dólares. de um fundo multinacional”. O HIV, a tuberculose e a malária são as principais doenças que afectam muitas
A conferência começou com a assinatura de uma nova iniciativa que pretende reverter parte das dívidas contra- regiões no mundo.
ídas por diferentes países para o Fundo Mundial.
A Alemanha renunciou assim a um total de 50 milhões de euros que a Indonésia lhe devia depois deste país se
comprometer a dedicar metade ao Fundo Mundial. AL/ Fonte: AFP
Inquéritos On-line
no Ensino Secundário
Na sua opinião a generalidade dos portugueses está:
Muito mais felizes que há 20 anos Apesar de todos os actores do sistema educativo, Entendo que um professor, seja qual for a disciplina, deve,
03% seja no ensino secundário seja noutros níveis de em cada semana, indicar aos alunos que tarefa estes devem
Mais felizes que há 20 anos ensino, incentivarem os alunos a estudar regular- desenvolver em casa; pode ser ler um excerto do manual
11% mente na sequência do que vão fazendo na sala escolar e escrever numa frase sobre qual é na sua opinião a
Menos felizes que há 20 anos de aula, a verdade é que não há notícia de a gene- ideia principal, pode ser resolver um problema, pode ser in-
23% ralidade dos alunos ler os manuais escolares (ou vestigar dados para um determinado trabalho, etc.
Muito menos felizes que há 20 anos outros livros) ou fazer (por si sós, sem explicado- Havendo verdadeiramente avaliação contínua, todo o trabalho
62% res) as tarefas/problemas/exercícios desses ma- deve ser valorizado; para poder ser valorizado, ou o professor
nuais. Algumas pessoas até acham que a partir toma notas sobre a prestação do aluno na sala de aula como
Total Respostas: 990 do ensino secundário o aluno deve ter autonomia consequência directa do trabalho de casa, ou o professor re-
para trabalhar por si só pelo que não se justifica colhe as produções escritas dos alunos e as anota ou corrige.
enviar trabalhos para casa. Contudo, é frequente O trabalho de casa tem uma outra importância fulcral que, na
os professores se lamentarem de os alunos só te- minha opinião, é frequentemente subestimada: é aquele que
A precariedade do emprego é uma: rem dúvidas na véspera dos testes! permite mais facil e focadamente que professores e alunos
Fatalidade Ora, o trabalho regular do aluno é uma condição identifiquem as dificuldades reais no tema que está a ser tra-
03% essencial da aprendizagem. E um aluno que não balhado; assim, os professores podem retomar alguma (e só
Escolha política favorável só ao capital consiga por si só resolver problemas significativos essa) ideia, sabendo que é aí que os alunos têm mais dificul-
64% ou descobrir quais são as dúvidas que tem, não es- dades, os alunos ficarão alerta de que afinal não dominam tal
Uma boa opção política tá na realidade a aprender. Só se o aluno trabalhar questão e prestam redobrada atenção ao que o professor diz
04% efectivamente, na sala de aula e fora dela, é que po- para a ultrapassar; se o aluno não receber retorno contínuo so-
Incógnita para mim demos dizer que o aluno está no centro da apren- bre o seu trabalho, nem consegue progredir devidamente, nem
06% dizagem. Mas a generalidade dos alunos do ensino podemos dizer que haja verdadeiramente avaliação contínua.
secundário só trabalha “na véspera dos testes”. Não menos importante: os “trabalhos de casa” não precisam
Total Respostas: 988 Por outro lado alguns alunos muitas vezes tam- de ser feitos “em casa”. Sabemos que muitos alunos, pelas
bém se lamentam não só de os professores não li- mais variadas razões, não têm condições em casa para tra-
garem aos trabalhos de casa que até fizeram, mas balhar; a escola deve fornecer salas de estudo, com acompa-
também de estes não serem devidamente valo- nhamento especializado, para ajudar os alunos a fazer esses
rizados (“só conta a média dos testes”) e assim trabalhos; é até de incentivar que os alunos recorram a aju-
frequentemente desistem de os fazer. da para fazer os trabalhos de casa desde que tenham uma
PROFEDIÇÕES, Lda Na minha opinião tudo isto é uma consequência participação real no resultado final. Depois, na sala de aula,
nefasta de, na realidade e ao contrário do que de- o professor tem muitas maneiras de saber se o trabalho foi
Descontos fensores e opositores julgam, não haver (em geral) essencialmente feito pelo aluno ou por uma terceira pessoa.
20%
avaliação contínua no ensino secundário. Acho Em suma, não há verdadeiramente avaliação contínua sem
que o que faz aqui falta são tanto orientações pre- se valorizarem os trabalhos de casa (ou melhor dito, os tra-
cisas sobre o que professor espera que o aluno balhos feitos fora da sala de aula) no ensino secundário (e
faça, como a valorização real do trabalho feito na devo acrescentar, também no ensino superior). Revalorize-
Livraria on-line sequência dessas orientações. Em particular, não mos pois o trabalho feito pelo aluno fora da sala de aula.
http://www.profedicoes.pt/livraria/ só deve haver trabalho de casa, como deve ser
claro para o aluno qual o peso do trabalho de casa Jaime Carvalho e Silva
Oferta: portes por envio à cobrança na avaliação final (um mínimo de 10% – 2 valores Departamento de Matemática
em 20 – parece-me essencial). Universidade de Coimbra
Dumazedier, Ivan Illich e Edgar Morin são exemplos defensores de democraticida- 7. Organização das Etapas
de e participação das populações no processo cultural.
É preciso cultivar um olhar macroscópico, articulando o global com o local e a Organizar um plano onde se refira a transição das várias etapas construtivas e do
singularidade com a universalidade, de modo a aprofundarmos a cidadania parti- funcionamento das futuras actividades. Mostrar nesse plano a metamorfose orgâ-
cipada e consciente na estratégia e gestão da futura eco-pólis. nica do território nas várias etapas temporais.
DEBATES NA ONU
Morales ataca biocombustíveis na Assembleia Geral da ONU
O presidente boliviano, Evo Morales, criticou a ideia dos biocombustíveis, fazendo um ataque indirecto ao dis- Morales denunciou ainda que parlamentares bolivianos e membros de seu governo têm enfrentado dificuldades
curso do presidente Luís Inácio Lula da Silva na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. para entrar nos Estados Unidos, como ocorre com as delegações de diversos países. “Alguns países vêm para
“Não consigo entender que possamos transformar alimentos agro-pecuários em combustível para carros”, disse cá para serem ameaçados pelo dono da casa (...) o presidente Bush”, disse Morales. Se esta situação persistir,
Morales no plenário da Assembleia Geral. “devemos mudar a sede das Nações Unidas”.
No dia anterior, o presidente do Brasil afirmou: “O mundo precisa desenvolver urgentemente uma nova matriz Morales, referia-se às palavras de Bush, que, referindo-se a Fidel Castro, disse na Assembleia Geral da ONU
energética”, na qual os biocombustíveis terão “um papel vital”. “A experiência do Brasil em três décadas mostrou que “o regime de um ditador cruel aproxima-se do fim”.
que a produção de biocombustíveis não afecta a segurança alimentar”, disse Lula. JPS/ Fonte: AFP
Erva daninha
CRIMINALIDADE INFANTIL
O cinema do instantâneo
em justiça pode ser instaurado, de acordo com um
inquérito realizado pela rádio BBC 5.
De acordo com as estatísticas de 32 das 43 forças
IE/FN
Dedicado à rapariga do 11 de Setembro de 1973 castigo, fez de mim um bom adulto para ela, mas rejeitado porque lhe lembrava a
vida perdida, a sua família, e a imensidão de amigos, amores ternos e o desapare-
Tinha visitado o Chile, pela curiosidade de observar o Governo do primeiro So- cimento do progenitor que, sente ela, não a soube cuidar nem tratar com histórias
cialista eleito em eleições livres. A pesar que o Dr. Salvador Allende nem ter tido e contos, danças e imaginários, como relato no meu livro “O imaginário das crian-
tempo para Governar, por ter sido morto devido aos interesses de um Governo ças”, de forma disfarçada para o leitor não saber da vida privada do escritor.
estrangeiro que sublevou o exército, mandou para a prisão todos os que podia, Um dia, encontrou o homem da sua vida, teve com ele crianças e de mim, seu pai,
matando chilenos de forma indiscriminada. Apesar do meu estatuto de visitante, quer saber o estritamente necessário. Procura, como mulher que é, alguma distân-
na noite das Festas Nacionais, 18 de Setembro, fui levado para um campo de cia dos seus antigos adultos, facto racional e emotivo, que opera entre gerações.
concentração, do qual fui salvo por Jack Goody, meu professor, director e colega Estes adultos que a adoram e cuidaram dela ao longo de vário anos de vida
da Universidade de Cambridge. Este amigo tinha estado 4 anos em Auswitchs… É isto que lembramos todo os meses de Setembro: Sua Excelência o Presidente
sabia bem o que se fazia nesses sítios. Fui denunciado como Socialista, o maior Allende, o ataque às Torres Gémeas de New York, a morte de Luciano Pavarotti e
pecado do mundo, pela minha própria família, expropriada das suas terras e in- estas pequenas, trágicas históricas dos filhos que crescem, que salvam os pais
dustrias, mandadas distribuir entre os que as trabalhavam. Melanie Klein descreve mas que procuram autonomia entre a sua casa doméstica e o lar dos seus anti-
este tipo de situações bem melhor ao estudar um sobrinho de Freud em 1937, no gos adultos. Sem ser católico, não posso deixar de exclamar: Ave Maria, e agora?
seu texto “Inveja e gratidão” . Resta as solidão das solidões? O temor de falar? O desejo de receber um telefo-
Faço aqui um aparte apenas para indicar aos leitores, pais de crianças hipotetica- nema? Ou, mais importante, o respeito entre adultos?
mente expostas ao sofrimento, como é o caso da rapariga da qual vou falar. Apar- Estes pequenos grandes dramas que passamos ao deixar a nossa vida abando-
te, porque o elo central é esta rapariga. Não tolerei que ninguém entrasse no seu nada entre o crescimento dos mais novos e o envelhecimento em terra estranha
quarto, aos 35 soldados que invadiram a nossa casa e queimaram a nossa biblio- dos adultos. É preciso habituarmo-nos, suponho… e aceitar a realidade do tempo
teca. Falei com autoridade de patrão, que até os soldados me fizeram continência, e as suas mudanças.
enquanto eu dava as ordens de como devia ser levado para a prisão. Ninguém to-
cou na rapariga nem aos livros dos Séculos XV, XVI e XVII, que eu pretendia salvar.
E salvei durante os 37 anos de exílio a que fui condenado. A rapariga – erro de pai Raúl Iturra
– viu-me regressar cansado, macilento e em pranto. Desde esse dia, ela pensou Etnopsicólogo da Infância
que eu estava morto e era a minha alma que falava com ela. Não se cansou de ISCTE/CEAS/Amnistia Internacional
repetir que eu era um morto, nos seus cinco anos de idade, a idade da impressão Docente, investigador, escritor
no inconsciente como dizem Freud em 1906 e Wilfred Bion em 1963. O exílio, foi 11 de Setembro de 2007
outro dos motivos de distância entre os dois. A depressão adquirida pelo imenso lautaro@netcabo.pt
Quotidiano
As utopias actualizadas
Vinha de uma lâmpada, não parecia ser um mago comum! Um Rousseau envelhecido e cínico (seria Jean-Jac- um custo insuportável, as aposentações são um vício dos maus, porque os bons trabalham do berço ao túmulo,
ques ou não?) encontrou o professor e disse que lhe queria contar uma história (ou estória). Começou: como faziam aqueles egípcios do tempo das pirâmides, naquela sociedade exemplar, entende? O desemprego é
- Dantes, antes da minha intervenção, só os nobres estudavam, ou até mesmo os plebeus, desde que tivessem dinhei- um bem, é como a palavra “crise”, que tanto quer dizer “problema” como “oportunidade”… A garantia de em-
ro… As pessoas do povo não precisavam de estudar, para que estudariam? O que quererão ler os analfabetos? prego é má, impede a autonomia e o desenvolvimento pessoal. Tudo tendo sempre em vista um posicionamento
- Sim, e? de esquerda, um humanismo subjacente, a intenção de sofrer para um dia, eventualmente, estar melhor.
- Sim, então eu apareci e todos começaram a estudar, os pobres também, imagine, eu convenci-os, “assim vão - E porquê isto, perguntou o professor.
aprender a trabalhar melhor” – bom negócio, não? Veja que agora até há gente que pratica exercício físico no - A culpa foi dos que estudaram! Os problemas surgiram quando eles começaram a indagar coisas como “para
intervalo do trabalho. quê” e para além do trabalho, o sentido da vida, da sociedade, das guerras e da paz. Então, nessa altura, foi
- E depois? necessário recomeçar a dizer que a educação pode ser perigosa, que é necessário “aprender a trabalhar”, hum,
- Foi necessário construir umas enormes teorias, cheias de palavras difíceis e ideias pouco acessíveis, a in- é necessário aprender aquilo que o «mercado» quer dizer, o patrão quer…
tenção era mesmo falar sem explicar, como se costuma dizer, “usar o discurso como arma”. Os textos foram
sendo feitos e baralhados, usaram-se “complicadores”, umas máquinas especiais que se ligam aos cérebros, Carlos Mota
multiplicaram-se as descrições de maneira a não se perceber o que se dizia. Explicou-se ao povo que a saúde é Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real
Golpe de vista
Relaciono isto, com alguma revolta interior, porque da à nova categoria. Organizei e acompanhei tan- que o sangue escorresse convulsivamente pelos de-
consegui uma pontuação elevada, mas pressenti, por tas Visitas de Estudo a museus da minha cidade, graus para a grande alegria dos chefes!
ter sido atribuída uma vaga no departamento disci- de Coimbra, de Leiria, de Alcobaça. Segui os alunos Hoje sou um arqueossítio agrilhoado como a Maravi-
plinar a que pertenço, que não ascenderia a titular. nas deslocações às casas do Gaiato, a Fátima e ou- lha que compreende as 9 Pirâmides de Gisé, ao lado
Fiquei, amarguradamente, embebido numa espécie tros lugares onde a escola me demandava. Foram de outras pirâmides que transpuseram os 90 pontos
de parémia com as novas 7 Maravilhas, pelo que me longos sete anos, tal a da Muralha da China na mi- suficientes para se ser titular e não conseguiram! Sin-
afecta! Digo isto, porque fui Director de Turma, mas nha vida, tal o sacrifício de um servo que ajudou a to-me também uma das esfinges ao lado dos que
esses anos não couberam no cabaz do lustro deter- erguer esse paredão! chegaram aos 110 pontos e foram reduzidos a pro-
minado para a contagem. Igual sorte caiu sobre Petra, Para Machu Picchu aduzo o Clube de Xadrez, atra- fessores de menores remunerações! Sinto-me um
quando as especiarias passaram ao lado, sem que vés do qual levei os alunos a participar em torneios dos obeliscos ao lado dos que ultrapassaram os 120
nada pudesse fazer”! e campeonatos realizados em Aveiro, na Benedita, pontos, mas não conquistaram a nomeação, tal co-
Sem pensar na titularidade, mas com o objectivo de em Armação de Pêra, em Braga, em Famalicão, no mo aconteceu à única Maravilha que resistiu até aos
estar mais preparado nos conteúdos que não foram âmbito do Desporto Escolar e Federado. Horas que nossos dias!
leccionados na universidade que me concedeu a li- me “tiraram” muitas sextas-feiras e sábados noite Hoje, com todas as fragilidades que afectam os pro-
cenciatura, realizei várias cadeiras na Universidade dentro! Na primeira versão do projecto, contava dois fessores, mesmo que me expliquem que nos próxi-
Aberta. Mas de nada valeram! Senti que cortaram as pontos, depois retiraram-nos! Desprezaram a car- mos anos ascenderia a titular, responderei que será
mãos como fizeram aos pedreiros do Taj Mahal, a reira única docente como fizeram à altiva urbe Inca! impossível! Acreditaria se me justificassem por que
mando do príncipe Khurram! Portanto só me resta lamentar à dimensão do vale não escolheram o Monte Saint-Michel para ser uma
Também nada ajudou ter desempenhado o cargo do Urubamba! das Sete Maravilhas?! Facilmente enumeraria mais
de Sub-coordenador! Senti-me outra vez a vítima Apresentei cincos anos à guilhotina da assiduidade, exemplares arrenegados… mas somente referirei o
que ficou exangue durante o solstício no hemiciclo registando a máxima pontuação. Cumpri até um ano Palácio Potala, apesar de ter sido erguido a 3700 me-
de Stonehenge, depois de lhe rasgarem o peito com sem uma falta! Mas tudo foi em vão e sofri na pele a tros acima do nível do mar, ninguém o nomeou?!
um punhal! angústia dos que padeceram no Coliseu! Ora vinham Quando os processos assentam, metodicamente, num
Como outrora, era necessário para a escola, fui eleito os gladiadores que me decepavam, ora o espectácu- diagrama calculado para determinados móbiles eco-
ainda Coordenador de Departamento, mas a pon- lo compreendia as quadrigas e brigas que me espezi- nomicistas, nada há fazer. Se não, digam-me quantos
tuação foi insuficiente. Com o não redondo deste nhavam para gáudio do público! Em outras festivida- milhares de professores, a nível do País, com mais de
concurso, senti-me crucificado no meu pedestal co- des saltavam as feras a deliciarem-me a carne! 95 pontos – a fasquia imposta aos professores do 10º
mo se fosse o Redentor! Perdoai-lhes, porque eles Há tempos, julguei importante fazer uma pós-gra- escalão – não acederam, como eu, à nova categoria.
(não) sabem o fizeram! duação, mas os míseros 5 pontos que atribuíam não
Recordo-me que nos 7 anos que contaram para ajudaram para a titularidade no professorado. E ao
atingir a titularidade, fiz diversas actividades a mais concorrer senti-me um dos malogrados guerreiros José Manuel Teixeira
do exercício lectivo! Mas não bastaram para a subi- que iria ser degolado no cimo de Chichen Itza, para Professor não titular
A escola cidadã
O conceito de cidadão com direitos e deveres esteve Quais são os grandes eixos que sustentam a escola reitos humanos e a solução dos problemas ou con-
– e ainda está – praticamente ausente na educação cidadã? flitos sociais, promove-se a consciência dos direitos
tradicional, que realçava exclusivamente os deveres A escola cidadã sabe que se nasce cidadão, mas um e deveres cívicos, potencia-se o raciocínio e a argu-
(Figueiredo:2001), fruto de uma pedagogia “marcada cidadão esclarecido, consciente, activo e solidário mentação sobre justiça, liberdade, responsabilidade,
pelo recurso a uma autoridade esmagadora onde o forma-se. Por isso, a escola cidadã tem um projecto solidariedade, respeito mútuo, tolerância, verdade,
educando tinha para com o educador não só obedi- educativo filantropo, que combate as desigualdades esforço, de modo a induzir o saber estar, ou seja,
ência e respeito, mas também, frequentemente, te- escolares e sociais, que promove a participação da condutas socialmente responsáveis (através dos mo-
mor” (Cabanas:2002). comunidade na construção do bem comum no inte- delos de clarificação de valores; comunidade justa;
Progressivamente, com a Revolução Francesa e o rior da escola, na reconstrução do seu conhecimento educação do carácter)
seu lema «Liberdade, Igualdade, Fraternidade», a es- e, acima de tudo, do seu projecto de vida. A escola cidadã é norteada por uma bússola que con-
cola foi sendo debilmente influenciada por pedago- A escola cidadã oferece um currículo aberto à diver- duz os professores e a comunidade numa mesma di-
gias mais progressistas que atribuíam mais direitos sidade ou à sensibilidade para as diferenças dos alu- recção – o bem comum (Sergiovanni: 2004).
à criança. Desejava-se, simplesmente, que ela fosse nos, para que todos aprendam quem são os outros. A A escola cidadã é acolhedora e encantadora, porque
criança! A defesa da sua participação em várias to- Escola Cidadã acredita que a “diversidade dos alunos tem salas amplas, espaços lúdicos, ginásios, campo
madas de decisão na escola – e “há política a partir é uma fonte de enriquecimento mútuo, de intercâmbio de jogos e zonas verdes que permitem dinamizar hor-
do momento em que são tomadas decisões” (Bar- de experiências, que permite conhecer outras manei- tas e cuidar de animais.
bier:1996) – foi sendo vista cada vez mais como uma ras de ser e de viver e que desenvolve atitudes de res- A escola cidadã é a minha – e deveria ser a nossa
necessidade, visando assim o desenvolvimento ético peito e de tolerância” (Marchesi in Rodrigues:2001). – utopia.
e moral do aluno, a educação para a participação nas Na Escola Cidadã transpira-se cidadania – ou cida-
instituições e serviços cívicos, enfim, a construção de danias –, pois os alunos têm liberdade de escolha Miguel Gameiro Silva
uma escola mais justa, mais pluralista e democrática e de decisão, discutindo colectivamente a forma de Professor
– a “Escola Cidadã” (Gadotti:2000). melhorar a vida escolar, fomenta-se a defesa dos di- Fajã de Baixo, Ponta Delgada, Açores
Projectos curriculares:
burocracia ou pedagogia?
Temos sido confrontados, em situações diversas, de a escola se organizar, de rentabilizar os recursos Partindo do Projecto Curricular de Agrupamento, o
com alguma confusão relativa às finalidades e lógi- internos e da comunidade, à forma de ultrapassar as professor titular de turma (1.º ciclo) ou o Conselho de
cas de alguns documentos essenciais na autonomia dificuldades e aumentar a sua eficácia. É, no fundo, a Turma (2.º e 3.º ciclos) elaboram o Projecto Curricular
das escolas: os Projectos Educativo de Agrupamento clarificação da filosofia educativa do agrupamento. de Turma, articulando o trabalho em torno de metas
(PEA), o Projecto Curricular de Agrupamento (PCA) e O Projecto Curricular encadeia-se no Educativo. A educativas comuns.
o Projecto Curricular de Turma (PCT). A pouca clareza partir do Currículo Nacional, os professores, enquan- O «síndroma do cumprimento dos programas» dá lu-
traz consigo, inevitavelmente, uma mera burocratiza- to gestores do currículo e não só meros executores, gar à acomodação do currículo aos alunos concretos.
ção de documentos que poderiam ser ferramentas têm a oportunidade de definir o conjunto de acções a O PCT deverá reflectir um processo gradual e contí-
pedagógicas, oportunidades de trabalho em equipa desenvolver pelo agrupamento, no sentido de «opor- nuo que envolve observação, reflexão e ajustamento
na perseguição de objectivos comuns. tunidade para a aprendizagem»: o conjunto de ex- das orientações e das práticas pedagógicas (DEB,
Com o DL n.º 6/2001, regulamentou-se a flexibiliza- periências educativas que os alunos vivenciarão no 2001). Os professores não são mais meros executo-
ção curricular, entrando em vigor o Currículo Nacional contexto escolar (Zabalza, 1997). res de programas, mas estrategas que sabem que a
com as Competências Essenciais que se espera a Es- Construir um PCA implica decidir a que aprendiza- realidade reage às iniciativas. “O estratega baseia-se
cola faça adquirir e desenvolver. gens se vai dar ênfase, que aspectos vão ser deixa- na observação do terreno” (Crozier, 1995).
Os “arquitectos da estrutura de Ensino” (Zabalza, dos em segundo plano, para valorizar outros conside- Nesta perspectiva, o PCT, em vez de mero documen-
1997), que trabalham ao nível central, estabelecem as rados a este nível mais importantes. Que competên- to burocrático, deverá ser um instrumento pedagógi-
aprendizagens consideradas fundamentais, explicita- cias se pretende desenvolver? Que sequências dar a co, uma vez que reflecte as opções curriculares para
das em termos de competências essenciais, trans- essas prioridades? a turma, para os alunos concretos. Turma e alunos
versais e específicas das diversas disciplinas. Dentro Deste modo, a Escola, deixando de ser uma entida- singulares que têm direito a um percurso próprio e
destas «balizas» nacionais é possível, ao nível local, de gerida administrativamente como uma organiza- adequado à sua realidade.
equacionar caminhos diferenciados que conduzam a ção que veicula um sistema uniforme, cujas decisões Esta forma de gerir o currículo em diversos níveis per-
um maior sucesso da Escola, através da adequação emanam da hierarquia, passa a ser gestora do currí- mite a diferenciação de percursos, a adaptação à he-
do Currículo Nacional aos diversos públicos. culo, na adaptação das linhas nacionais à realidade terogeneidade de alunos e realidades locais.
No uso da sua autonomia, cada agrupamento de es- local, de acordo com as suas necessidades, desejos
colas elabora o PEA e o PCA. O Projecto Educativo e características dos alunos.
reflecte a caracterização da comunidade em que o “A essência burocrática e formal (…) do Currículo Na-
agrupamento se insere, as dificuldades, os recursos cional deve dar lugar à riqueza de matizes, à proximi- Mário Henrique Gomes
e as potencialidades. Dessa caracterização, surgem dade (…) à gestão feita na escola e para os alunos da Professor
opções estratégicas a tomar, relativamente à forma escola” (Zabalza, 1997). Póvoa de Penafirme
Auto-avaliação de escola:
obrigação ou necessidade?
Perante uma sociedade em permanente mudança, a es- diversas motivações, sendo as duas principais: a ne- e Avaliação externa das escolas) para conseguir ha-
cola tem de sentir necessidade de aderir a uma cultura cessidade de estar em permanente aprendizagem e bilitar as escolas para desenvolverem o seu próprio
de avaliação que permita a prestação de contas, decor- a necessidade de dar resposta aos problemas mais dispositivo de auto-avaliação porque, na realidade,
rente da maior responsabilidade inerente à autonomia emergentes da sociedade envolvente. Nota-se que parece-nos que tem existido uma preocupação em
(ainda que decretada) e o desenvolvimento de apren- um número significativo de escolas recorre à auto- dizer às escolas o que devem fazer, em vez de as ha-
dizagens significativas que proporcionem as soluções avaliação para aquisição de conhecimento que pro- bilitar a fazer o que deve ser feito.
mais adequadas à resolução dos seus problemas. porcione a aprendizagem necessária para conseguir Para finalizar, gostaríamos de dizer que, embora exis-
Estarão, actualmente, as escolas públicas a aderir à responder à multiplicidade de problemas com que vai tam escolas que recorrem à sua auto-avaliação co-
auto-avaliação, conceptualizada como um processo sendo confrontada, sem que para isso tenha de espe- mo fonte de aprendizagem, o facto é que ainda exis-
desenvolvido pela comunidade educativa, com o in- rar por respostas fabricadas no exterior. tem algumas que não o fazem, levando-nos a pensar
tuito de se consciencializarem acerca das dinâmicas Mesmo sendo de carácter obrigatório, 62 escolas di- que desconhecem a sua realidade, o que dificultará a
produzidas no seu seio, para se conduzirem as acções zem não desenvolver auto-avaliação, essencialmen- melhoria das suas dinâmicas. Mais do que uma obri-
colectivas (aprendizagens) que sejam promotoras da te, por três razões: falta de meios humanos dispo- gação legal, a auto-avaliação deverá ser vista como
sua melhoria? Ou, pelo contrário, continuam a repetir níveis (44,8%); falta de meios humanos qualificados uma necessidade da escola, cujo intuito é, não só
os mesmos erros, a manter as mesmas limitações, (24,1%) e ausência de tempo para a administrar / ensinar, mas, sobretudo, aprender, para proporcionar
nunca se questionando sobre os resultados das suas concretizar (31,0%). Estes obstáculos podiam ter si- o sucesso educativo.
actividades ou em que consiste o seu sucesso? do já ultrapassados, visto que, após a publicação da
Num estudo exploratório, desenvolvido nas escolas Lei n.º 31/2002 , pouco ou nada foi feito pela admi-
públicas da alçada DREN (N=406) , apercebemo-nos nistração central para a sua efectiva aplicabilidade. Serafim Correia
de que, entre os anos 2003 e 2005, a maioria das São diversas as dúvidas quanto às potencialidades Doutorando em Educação: Desenvolvimento Curricular, no Instituto de
escolas (144 das 206) que participaram no estudo das actividades que estão a ser desenvolvidas neste Educação e Psicologia da Universidade do Minho
dizem promover a auto-avaliação. E, fazem-no, por âmbito (Efectividade da auto-avaliação das escolas serafcorreia@gmail.com
Ficha Técnica
Jornal A Página da Educação — Publicação Mensal — Publica-se na 1ª segunda-feira de cada mês | Proprietário: Editora Profedições, Lda. Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa. Isabel Menezes, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do
| Capital Social: 5.000 Euros | Director e Coordenador editorial: José Paulo Serralheiro | Editor Gráfico Adriano Rangel | Redacção: Porto. João Barroso, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. João Menelau Paraskeva, Universida-
Andreia Lobo e Ricardo Costa | Secretariado: Lúcia Manadelo | Paginação: Ricardo Eirado | Fotografia: Ana Alvim. de do Minho. Manuel Pereira dos Santos, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. | LUGARES da Educação
— Coordenação: Almerindo Janela Afonso, Universidade do Minho. Colaboram: Licínio C. Lima, Universidade do Minho. Manuel António
Rubricas e colaboradores Ferreira da Silva, Universidade do Minho e Virgínio Sá, Universidade do Minho. | O ESPÍRITO e a Letra — Serafim Ferreira, escritor e
A ESCOLA que (a)prende — Coordenação: David Rodrigues, Universidade Técnica de Lisboa e Coordenador do Fórum de Estudos de critico literário. | OLHARES de fora — Beatriz Gonçalves e Silva, Universidade Federal de São Carlos e Conselho Nacional de Educação,
Educação Inclusiva (www.fmh.utl.pt./feei). Jorge Humberto, Mestre em educação Especial. | AFINAL onde está a escola? — Coordena- Brasil. José Miguel Lopes, Universidade do Leste de Minas Gerais, Brasil. Maria Antónia Lopes, Universidade Mondlane, Moçambique. Ivonal-
ção: Regina Leite Garcia, Colaboração: Grupalfa—pesquisa em alfabetização das classes populares, Universidade Federal Fluminense, Rio de do Neres Leite, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Brasil | POLAROIDs.txt. Palavras Situadas — Coordenação: Rui Vieira
Janeiro, Brasil. | CINEMA — Paulo Teixeira de Sousa, Escola Secundária Fontes Pereira de Melo, Porto. | COISAS do tempo — Ana Bena- de Castro, Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho. Colaboram: António Branco, Universidade do Algarve e Maria de
vente, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Betina Astride, Escola EB1 de Foros de Vale de Figueira. Luísa Mesquita, profes- Lurdes Dionísio, Universidade do Minho. | QUOTIDIANOS — Carlos Mota e Gabriela Cruz, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro,
sora e deputada do Partido Comunista Português. Pascal Paulus, Escola Básica Amélia Vieira Luís, Outurela. | COMUNICAÇÃO e e escola Vila Real. | RECONFIGURAÇÕES — Roger Dale, (Universidade de Bristol), Susan Robertson, (Universidade de Bristol), Xa-
— Felisbela Lopes, Manuel Pinto e Sara Pereira, Universidade do Minho. Raquel Goulart Barreto, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, vier Bonal (Universidade Autónoma de Barcelona), Fátima Antunes (Universidade do Minho), Fernanda Rodrigues (Universida-
UERJ, Brasil |CULTURA e pedagogia — Coordenação: Marisa Vorraber Costa, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade de Católica Portuguesa), Mario Novelli (Universidade de Amesterdão) e António M. Magalhães (Universidade do Porto). | SAÚ-
Luterana do Brasil | DA CIÊNCIA e da vida — Francisco Silva, Portugal Telecom. Margarida Gama Carvalho, Faculdade de Medicina de DE escolar – Coordenação: Rui Tinoco, psicólogo clínico Unidade de Saúde da Batalha, Porto. Colaboram: Nuno Pereira de Sou-
Lisboa e Instituto de Medicina Molecular. Rui Namorado Rosa, Universidade de Évora. | DA CRIANÇA — Raúl Iturra, ISCTE Universidade sa, médico de saúde pública; Débora Cláudio, nutricionista da Direcção dos Serviços de Saúde Área de Nutrição da Sub Re-
de Lisboa. | DISCURSO Directo — Ariana Cosme e Rui Trindade, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do gião de Saúde do Porto | SOCIEDADE e território — Jacinto Rodrigues, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.
Porto. | DIZERES — Angelina Carvalho, Colaboradora do CIIE da Faculdade de Psicologioa e Ciências da Educação da UP. | DO PRIMÁRIO | TERRITÓRIOS & labirintos — António Mendes Lopes, Instituto Politécnico de Setúbal. | TEXTOS bissextos — Coordenação: Luís
— José Pacheco, Escola da Ponte, Vila das Aves. | DO SECUNDÁRIO — António Silva Pereira, Escola Secundária Fontes Pereira de Melo, Souta, Instituto Politécnico de Setúbal. Colaboram: Filipe Reis, ISCTE, Lisboa, José Catarino, Instituto Politécnico de Setúbal, José Guimarães,
Porto. Arsélio de Almeida Martins, Escola Secundária de José Estevão, Aveiro. Domingos Fernandes, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Universidade Aberta, Lisboa, Luís Vendeirinho, escritor, Lisboa, Paulo Raposo, ISCTE, Lisboa. VISIONARIUM: foto ciência com legenda
Educação da Universidade de Lisboa. Fernando Santos, Escola Secundária de Valongo, Porto. Jaime Carvalho da Silva, Faculdade de Ciências — Conteúdos Científicos Visionarium, Centro de Ciência do Europarque – Espargo – 4520 Santa Maria da Feira – info.visionarium@aepor-
da Universidade de Coimbra. | E AGORA professor? — Coordenação: Ricardo Vieira, Escola Superior de Educação de Leiria. Colaboram: tugal.com - tel 256 370 605
José Maria dos Santos Trindade, Pedro Silva, Susana Faria da Escola Superior de Educação de Leiria e Rui Santiago da Universidade de Aveiro.
| EDUCAÇÃO desportiva — Gustavo Pires e Manuel Sérgio, Universidade Técnica de Lisboa. André Escórcio, Escola B+S Gonçalves Zarco, A Página respeita as variantes do português, do galego e do castelhanoDe acordo com o seu Estatuto Editorial, a Página da
Funchal. | EDUCAÇÃO e Cidadania — Américo Nunes Peres, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Chaves. Miguel Ángel Santos Educação utiliza os idiomas como forma de promover a aproximação entre os povos de língua oficial portuguesa e destes com os povos que
Guerra, Universidade de Málaga, Espanha. Otília Monteiro Fernandes, Universidade de Trás-os Montes e Alto Douro, Chaves. Xesús R.Jares, usam as variantes do galego e do castelhano. Assim, os artigos de opinião são publicados na Página respeitando as várias variantes da língua
Universidade da Corunha, Galiza. Xurjo Torres Santomé, Universidade da Corunha, Galiza. | EM PORTUGUÊS — Leonel Cosme, investigador, portuguesa, do galego e do castelhano, usadas pelos nossos colaboradores e leitores. São traduzidos para português os textos dos colabora-
Porto. | ENTRELINHAS e rabiscos — José Rafael Tormenta, Escola Secundária de Oliveira do Douro | ERA digital — Coordenação: José dores que utilizam, na sua escrita, outros idiomas.
Silva Ribeiro. Colaboram: Adelina Silva, Casimiro Pinto, Fernando Faria Paulino, Maria Fátima Nunes, Maria Paula Justiça, Ricardo Campos,
do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI), Laboratório de Antropologia Visual, Universidade Aberta e Sérgio Conselho de gerência: José Paulo Serralheiro. João Baldaia. Abel Macedo. | Registo na Conservatória Comercial do Porto: 49561 |
Bairon (Brasil) e Francesco Marano (Itália) associados à rede de investigação do LabAV | MEMÓRIAS da minha morte e SUBLINHADOS NIF: 502675837 | Depósito legal: 51935/91 | ICS: 116075 | Preço: 2 Euros (IVA incluído) | Tiragem do mês anterior: 21.000 exempla-
— Júlio Roldão, Jornalista, Porto | PEDAGOGIA social e ÉTICA e educação social — Adalberto Dias de Carvalho, Faculdade de Letras res. Administração, redacção e publicidade: Rua D. Manuel II, 51 – C – 2º andar – sala 2.5b — 4050-345 PORTO | Tel. 226002790 |
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Autónoma de Barcelona. | FORA da escola também se aprende — Coordenação: Nilda Alves, Universidade do Estado do Rio de Janeiro pt/ | Impressão: Naveprinter-Indústria Gráfica do Norte,S.A., Maia | Embalagem e Distribuição: Notícias Direct, Maia | Serviços Agência
UERJ, Brasil. Colaboração: Laboratório Educação e Imagem: questão de cidadania | FORMAÇÃO e Desempenho — Carlos Cardoso, Escola France Press, AFP. | Membro da Associação Portuguesa de Imprensa – AIND
Superior de Educação de Lisboa. | FORMAÇÃO e Trabalho — Manuel Matos, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Uni-
versidade do Porto. | IMPASSES e desafios — Agostinho Santos Silva, Engenheiro mecânico, CTT, Lisboa. António Teodoro, Universidade O jornal a Página da Educação é propriedade da editora Profedições, Lda
IE/FN
A intervenção do homem sobre a natureza, consu- cação pode ser, sem dúvida, a “pedra de toque” na promover a construção bio-psico-social do homem.
mindo os recursos naturais e degradando o ambien- consecução da recuperação terrestre. O homem é constituído ontologicamente de cuida-
te, tem provocado consequências nefastas para o Admitindo que a conservação do ambiente depende do, de sentimentos e de contemplação, sem essas
planeta e para a vida. A produção e emissão de gases da capacidade das pessoas aprenderem a protegê- dimensões não é humano. Precisamos pois, lutar
têm destruído a camada de ozónio e promovido o lo; a escola, embora não seja a única, deve ser con- contra uma lógica destrutiva e desumanizadora, des-
aquecimento global, aumento do nível do mar, amea- siderara excelente, não só para ensinar conteúdos e provida de espiritualidade e beleza. Trata-se de nos
ça à biodiversidade, escassez hídrica, desertificação, competências, mas estimular o desejo e prazer de libertarmos através da capacidade, ela mesma huma-
regressão florestal, etc. cuidar da terra. na, de sentir e de se escandalizar com o mau trato da
Apesar disso, as políticas e medidas que contrariam Sabemos que é nas crianças e jovens que se pode terra, o que só poderá ser feito se obedecermos mais
sua emissão e os problemas decorrentes, tem sido transformar atitudes em hábitos, assim, cabe ensinar ao coração e menos a exploração dos recursos e se
pequena e protelada. a reciclar, reduzir e reutilizar, transformando esses ac- a escola se juntar à causa.
Certo de que avanços nessas áreas dependem de ac- tos numa rotina. O quadro é alarmante, mas não pode ser usado como
ções tecnológicas; é imprescindível que a sociedade Sem discutir a inclusão desses saberes no currículo, os desculpa para a inércia. Ainda é possível ter esperan-
adira a causa. As pessoas precisam aprender a adoptar professores de todas as disciplinas, podem contribuir, ça. De fato, os problemas ambientais têm solução,
atitudes simples, mas que provocam grandes efeitos. integrando as questões ambientais aos programas; con- e nós sabemos quais são. Resta ultrapassar o mo-
Algumas, tal como a redução do consumo de energia trariando as pequenas acções, realizadas de forma es- dismo, a inércia e a ganância económica; resta prin-
eléctrica e água, conseguida pelo consumo eficiente, porádica e desorganizadas, motivadas pelo modismo. cipalmente admitir que a salvação do planeta passa
utilização de fontes renováveis e reciclagem; têm si- Entretanto, para que a escola seja feliz na formação de indiscutivelmente pela escola.
do consideradas essenciais para o equilíbrio global, cidadãos comprometidos com o ambiente, ela mesma
além de estarem associadas a ganhos económicos. tem que se constituir numa comunidade ecológica, se Luiz Gustavo Lima Freire
A diminuição dos problemas depende de progressos revestindo de valores de preservação e comungando Psicólogo escolar, mestrando em Psicologia da Educação,
em outras áreas e está sujeita as políticas, mas a edu- com a terra. Não lhe basta ensinar conteúdos, mas Universidade de Lisboa
ANA ALVIM
Dizeres
A evidência
Tinham começado as aulas há pouco. No jardim-de-infância, as jovens educadoras (algumas — Hereditário?!
muito jovens mesmo) recebiam as primeiras estagiárias. Era o primeiro contacto destas com — Sim, ela tem, eu sempre tive, a minha mãe sempre teve e a minha avó também tinha. Isto
a realidade, a formação no terreno, como então dizíamos. é mas é uma doença de família. Vê-se logo que é hereditário…
Uma dessas minhas alunas procurou-me preocupada pois não sabia muito bem como agir. Não sei o que fazer, professora…
Professora, contava ela, uma das meninas que está na minha sala está coberta de…piolhos, Quando a minha aluna terminou a sua história fiquei um pouco sem saber o que dizer. A
pode iniciar-se um surto de pedicolose…Já lhe lavei a cabeça, dei o champô para ela levar à argumentação estava correcta: tínhamos as provas. As situações que se repetiam, as dife-
mãe, mas ela continuou a chegar cheia de…daquilo, com muitas lêndeas, e eu já não sei que rentes gerações com um mesmo problema, logo a conclusão, para aquela mãe, só podia ser
fazer. É que chamei a mãe. Ela lá apareceu; até que nem ia mal arranjada embora à moda do aquela. A evidência impunha-se por si mesma. Aquela era a argumentação da evidência.
campo. Ia assim, sei lá, assim de socos, avental e o cabelo apanhado. E até dava a ideia de A mesma argumentação que se usa para reafirmar que os da família dos Melros são sempre
estar limpa mas a cabeça estava cheia de lêndeas, eram tantas que parecia que tinha a cabeça assim: já fui professora do pai, dos irmãos mais velhos e agora deste. Nunca conseguiram
com farinha. Depois eu falei-lhe da filha, de como ela estava mal com aquele problema, que era aprender nada. Logo, ele também não conseguirá…
perigoso para a saúde dela e também das outras crianças e até evitava olhar-lhe para a cabeça Alguns pais dizem que se nasce com vocação para uma coisa: ou jogador de futebol, ou
enquanto falava, porque era como se estivesse mesmo a falar dela também. serralheiro ou médico. É tudo uma questão de vocação, basta ver o que faziam os pais e
Expliquei-lhe que tudo se podia tratar mesmo com o champô que eu mandara pela miúda os avós…
– e que pelos vistos ela não usara – e de como devia lavar a cabeça da filha com alguma Os alunos de famílias pobres são sempre mais fracos a matemática…e talvez isto seja tam-
regularidade e, se possível, (aqui senti-me corar) também a das outras pessoas da família. bém uma questão de vocação ou de hereditariedade. Daí que a meritocracia possa benefi-
Foi quando ela me interrompeu, nada aborrecida mas apenas preocupada com a minha ciar menos os ricos que os pobres. Mostra-se à evidência que estes serão duplamente be-
preocupação: neficiados: o mérito de terem sucedido e o mérito de se poderem comparar com os ricos…
— Não vale a pena, menina, deixe lá, não se esteja a afligir.., disse ela A minoria que conseguir, claro.
— Não vale a pena porquê? Perguntei admirada. Como refere António Nóvoa, o que é evidente mente, evidentemente.
— Porque nem a ela aquilo vai passar nem ela vai pegar às outras crianças…
— Porque diz isso? Insisti com ela. Angelina Carvalho
— Porque isto é a modos que uma doença que temos. É, como é que se diz? Hereditário? Colaboradora do CIIE da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto
Assinatura · Portugal 1 ano 20€/15€* · 2 anos 30€/25€* · Estrangeiro 1 ano: 25€ · 2 anos 35€ · Cada número 2€
*Preço especial para estudantes, escolas, bibliotecas e sócios dos sindicatos da FENPROF.
Os estudantes enviam com o pagamento fotocópia do cartão de estudante. Os associados indicam o número de sócio e a sigla do seu sindicato. Os sócios do spn têm a assinatura paga pelo seu sindicato.
As escolas, bibliotecas e outras colectividades, públicas ou privadas, beneficiam do desconto pela sua natureza de instituição.
Colabore, faça novos assinantes: tel 226002790 fax 226070531 correio electrónico: assinaturas@apagina.pt