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Variação Linguística

Sumário
Variação Linguística
Objetivos....................................................................... 03
Introdução..................................................................... 04
1. Língua Portuguesa: Unidade e Variedade ........... 05
2. Níveis de Linguagem........................................... 07
3. Variações Geográficas, Socioculturais e o
Jargão . ............................................................... 08
Referências Bibliográficas............................................... 10
Objetivos
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você será capaz de:

• Compreender a singularidade da língua portuguesa, apesar


de suas variedades;
• Identificar os diferentes níveis de linguagem;
• Distinguir os fatores envolvidos na variação linguística.

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Introdução
Quando estudamos uma língua, verificamos que uma de
suas características é a capacidade de evoluir, de mudar. Enquanto
produto social, a língua é como seus falantes: nascem, relacionam-
se, modificam-se e morrem.

Não devemos ver a língua como algo imutável, perene, mas


como algo dinâmico, em constante movimento e desenvolvimento, o
que implica mudanças e variações.

Nosso objetivo é mostrar que a língua portuguesa é única,


embora, dentro dessa unidade, encontremos variações diversas,
todas elas condicionadas pelo espaço geográfico, pelas camadas
socioculturais e pelas situações cotidianas; para cada situação, uma
linguagem diferente.

Conhecer as variações linguísticas é importante para


compreendermos que diferentes linguajares permeiam a convivência
dos falantes. Isso acontece em razão da faixa etária, da classe social, de
aspectos regionais entre outros.

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1. Língua Portuguesa: Unidade e Variedade
Nenhuma língua é usada de modo homogêneo por todos os
seus falantes, independentemente das dimensões geográficas do país.
Isto ocorre porque:

• As línguas variam no tempo e no espaço, de época para época,


de região para região, de classe social para classe social, de
momento para momento;
• As variedades (dialetos e falares) correspondem, geralmente, a
grupos sociais definidos: os que moram numa ou noutra região,
os que pertencem a uma determinada classe social, os mais
jovens ou mais velhos, os que gostam de um tipo ou outro de
música, os que têm uma ou outra profissão entre outros;
• As diferenças de linguagem servem para distinguir e caracterizar
os grupos sociais, colaborando para construir sua identidade.

Observando falantes de diversas regiões do Brasil, em


nenhum momento diremos que eles falam línguas diferentes. O
gaúcho, o carioca, o baiano e o cearense falam a mesma língua;
embora haja diferenças, elas não nos permitem afirmar que se trate
de quatro línguas diferentes.

Observando cada falante, não podemos afirmar que o uso


da língua seja uniforme. Dependendo da situação, uma mesma
pessoa pode usar diferentes variedades de uma só forma da língua.

Sobre unidade e variedade linguística, Celso Cunha (1975,


p. 38), nos diz:

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Nenhuma língua permanece a mesma em todo o seu
domínio e, ainda num só local, apresenta um sem-
número de diferenciações. (...) Mas essas variedades
de ordem geográfica, de ordem social e até individual,
pois cada um procura utilizar o sistema idiomático da
forma que melhor lhe exprime o gosto e o pensamento,
não prejudicam a unidade superior da língua, nem a
consciência que têm os que a falam diversamente de se
servirem de um mesmo instrumento de comunicação, de
manifestação e de emoção.

As línguas não são totalmente homogêneas, especialmente


em um território tão vasto quanto o nosso e com uma população
tão numerosa. Essas variações não chegam a descaracterizar a
língua, nem a negar sua unidade.

Essas diferenciações regionais são chamadas de dialetos,


a modalidade de uma língua caracterizada por determinadas
peculiaridades fonéticas, gramaticais ou regionais.

Dialeto

De acordo com a definição do Houaiss (2001), dialeto


é qualquer variação regional de um idioma que não chegue a
comprometer a inteligibilidade mútua entre o falante da língua
principal com o falante do dialeto. As marcas linguísticas dos
dialetos podem ser de natureza semântico-lexical, morfossintática
ou fonético-morfológica.

Segundo Bechara (2002), dialeto são as várias línguas


dentro de uma língua-padrão, mais ou menos próximas entre si,
mais ou menos diferenciadas, mas que não chegam a perder a
configuração da língua de origem.

Já conforme Câmara Jr. (1986), dialetos são falares


regionais que apresentam, entre si, coincidência de traços
linguísticos fundamentais.

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2. Níveis de Linguagem
Os níveis de linguagem dizem respeito às diferentes formas de
se usar a escrita ou a fala em uma determinada situação comunicativa.
Tendo em vista o caráter bastante individual da língua, é necessário
destacar os níveis de linguagem:

Nível culto

A linguagem é elaborada de acordo com as normas


gramaticais; é burocrática, artificial e conservadora, precisa, impessoal
e destituída de espontaneidade. O vocabulário deve adaptar-se à
situação, bem como às normas sintáticas e morfológicas. A linguagem
formal de nível culto corresponde à variante padrão, sendo aquela que
se aprende nas escolas. É usada pelas pessoas instruídas das diferentes
classes sociais e caracteriza-se pela obediência às normas gramaticais.
Mais comumente usada na linguagem escrita e literária, reflete
prestígio social e cultural, embora seja mais artificial, mais estável,
menos sujeita a variações. Está presente nas aulas, conferências,
sermões, discursos políticos, comunicações científicas, noticiários de
TV, programas culturais etc.

Exemplo: Maria está na cozinha preparando o famoso bolo de


fubá cremoso, o qual aprendera com sua avó Ana.

Nível familiar ou coloquial

É um nível que foge às formalidades e aos requintes


gramaticais, usado em conversas informais e despretensiosas,
principalmente por pessoas conhecedoras da norma gramatical, mas que
utilizam um registro menos formal. Caracteriza-se por um vocabulário
limitado, pouco variado e por sua sintaxe simples. Nele, há menos
policiamento, sendo comum certas transgressões às normas de regência,
colocação e concordância.

Exemplo: Maria tá na cozinha preparando o famoso bolo de


fubá cremoso que ela aprendeu com sua avó Ana.

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Linguagem popular

É uma variante informal de pouco prestígio, quando


comparada aos dois níveis anteriores, caracterizando-se pela
espontaneidade e descontração. Seu objetivo é a comunicação clara,
rápida e eficaz. Esse tipo de linguagem é extremamente funcional
e conta com a entonação como importante reforço. É utilizada,
sobretudo, por pessoas que têm baixo grau de escolaridade ou não
são alfabetizadas, visto que têm como principais características
deste registro: vocabulário pobre ou restrito; construções frasais
que se afastam do padrão gramatical; mistura de pronomes;
solecismos de concordância e de regência; uso de gírias e
redundâncias.

Exemplo: Comprei um sanduba pra mim comer.

3. Variações Geográficas, Socioculturais e o


Jargão
Estudar uma língua é reconhecer que ela tem capacidade de
evoluir, mudar e enriquecer-se. Evanildo Bechara (2002) descreve três
tipos essenciais de variação linguística. São eles:

Variação diastrática

Designa a variação da linguagem que ocorre entre os


diferentes níveis socioculturais de uma comunidade linguística.
Podemos citar, como exemplo, as diferenças entre a língua culta e
a língua popular.

Variação diatópica

É um termo que nomeia as variantes regionais, em que se fala


uma língua histórica. Como exemplo, citamos as variantes regionais
do nordestino, do sulista, do carioca, do mineiro etc. Nestes casos, as
variações são marcantes em termos de pronúncia e vocabulário.

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Variação diafásica

Designa as variações que o usuário da língua pode fazer de acordo


com o contexto em que está inserido, ou seja, é quando um falante varia
o seu registro de língua, adaptando-o às circunstâncias. Podemos apontar
como exemplos as diferenças entre a língua falada e a escrita, entre o falar
solene e o familiar, e entre a linguagem corrente e a burocrática.

Jargão

Você viu que, na linguagem popular, é comum o uso de gíria


ou jargão. Você também utiliza esta variante linguística no dia a dia?

A gíria, ou jargão, é uma forma de linguagem baseada em um


vocabulário especialmente criado por um determinado grupo ou categoria
social, com o objetivo de servir de emblema para os membros desse
grupo, estabelecendo distinção entre os demais falantes da língua. O jargão
funciona não só para identificar os grupos que o utilizam, como também
para excluir os indivíduos externos para os quais, às vezes, soa ininteligível.

Veja o que nos diz Preti (1984) sobre a gíria:

Caracterizada como um vocabulário especial, a gíria surge como


um signo de grupo, a princípio secreto, domínio exclusivo de
uma comunidade social restrita (seja a gíria dos marginais ou da
polícia, dos estudantes, ou de outros grupos ou profissões). (...)
Ao vulgarizar-se, porém, para a grande comunidade, assumindo a
forma de uma gíria comum, de uso geral e não diferenciado, (...)
torna-se difícil precisar o que é de fato vocábulo gírio ou vocábulo
popular (...) É expressa frequentemente sob forma humorística
(e não raro obscena, ou ambas as coisas juntas), como ocorre, por
exemplo, em certos signos que revelam evidente agressividade,
como “bicho”, forma de chamamento que, na década de 1970,
substituía amigo, colega, cara; “coroa”, para pessoa mais idosa,
madura; “quadrado”, em lugar de conservador tradicional,
reacionário; “mina”, para namorada, forma trazida da linguagem
marginal da prostituição, onde originalmente significa mulher
rendosa para o malandro, que vive à custa dela etc.

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Referências Bibliográficas
ABAURRE, Maria Luzia. Português. São Paulo: Moderna, 2000.

ANDRADE, Margarida Maria de; MEDEIROS, João Bosco.


Comunicação em língua portuguesa. São Paulo: Atlas, 2004.

BAUTISTA VIDAL, J. W. Brasil, civilização suicida. Brasília: Nação


do Sol, 2000.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro:


Lucerna, 2002.

C MARA JÚNIOR, Joaquim Matoso. Manual de Expressão oral e escrita.


Petrópolis: Vozes, 1986.

CUNHA, Celso. A política do idioma. São Paulo: Tempo Brasileiro, 1975.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de


Janeiro, Ed. Objetiva, 2001.

PRETI, Dino. A gíria e outros temas. São Paulo: T.A.Queiroz/EDUSP, 1984.

RIBEIRO, Manoel Pinto. Gramática aplicada da língua portuguesa. Rio


de Janeiro: M. P. Ribeiro, 2009.

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ZILBERKNOP, Lúbia. Português instrumental. Porto Alegre: Sagra
Fuzzatto, 2000.

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