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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Uma crítica à
globalizaçã o perversa
Ana Brisa Cosmo de Castro

Industria e Poluição Industrial (Terra e Homem no Brasil)


Ruy Moreira
Primórdios da Globalização

“Essa tem sido a dialética de trocas, intercâmbios,


encontros,conquistas,dominações,colonialismo,imperialismos,interdependência
s,alianças ou associações, envolvendo grupos ,classes,coletividades,
povos,culturas e civilizações.Desde a invenção do Novo Mundo à invenção do
Oriente,desde a conquista da África ás incursões européias e norte-americanas
na Ásia,sob todos os colonialismos e imperialismos,em todos os casos a
dialética da história produz e reproduz conquistas e destruições,convergências
e diversidades,integrações e antagonismos”

Há quem diga que o inicio da globalização é com a Expansão Marítima, mas


prefiro partir do ponto que ela já tenha havido várias vezes na história, tendo
cada uma delas suas especificidades. A primeira delas seria no Império
Romano, com a busca da formação de um grande império, a segunda com a
Expansão Marítima, a descoberta de novas terras e criação de rotas
comerciais, onde ela toma um caráter econômico, a do século XIX que se deu
com o neocolonialismo na África e na Ásia ; a que se deu com o fim da
segunda Guerra Mundial e por último essa que ainda está em curso.

Com a primeira Guerra Mundial os EUA começam a ter uma grande


prosperidade econômica, principalmente a relacionada as exportações para a
Europa que,pela guerra ,não estava produzindo.Na verdade,ele só entra na
guerra militarmente (de forma decisiva inclusive) no final.Já em solo ianque era
grande a euforia com o consumo de bens supérfluos e com a compra de
ações,o modelo fordista de produção fazia os burgueses enriquecerem ,o que
vem a acabar em 1929.

Um fato importante para explicar a configuração atual do mundo entre


“globalizante e globalizados” é a Conferência de Bretton Woods, que foi uma
reunião com representantes de diversos países para decidir os rumos do
mundo no pós-guerra. Entre muitas propostas, foi criado o FMI (Fundo
Monetário Internacional) ,o Banco Mundial e o dólar foi estabelecido como
lastro ouro, como uma moeda base para as transações e reservas comerciais.

Outro fato importante foi a segunda Guerra Mundial, que devido a destruição
da Europa deu oportunidade dos Estados Unidos da América se tornar uma
grande potência. Com a Europa destruída pela guerra, a falta de alimentos, o
desemprego e ainda as dívidas assumidas durante a guerra causavam uma
agitação social que poderia ameaçar a estabilidade do sistema capitalista.
Assim em 1948 o presidente americano Truman lançou o Plano Marshall,que
previa uma ajuda econômica aos países destruídos pela guerra.Entretanto os
EUA também lucrava com essa ajuda dada aos europeus,pois os fluxos de
capitais norte americanos na Europa saltaram e suas exportações também.
"Laissez faire, laissez aller, laissez passer, le monde va de lui-même"

O liberalismo é uma doutrina econômica, política e social que tem como


essência a não intervenção governamental sobre a economia.Segundo Adam
Smith ,seu principal teórico considerado a “pai da economia política”, "Assim, o
mercador ou comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse egoísta, é
levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez parte do interesse
dele: o bem-estar da sociedade.". Assim além de abaixar o preço das
mercadorias, por causa da livre concorrência, haveria um aumento dos
salários.

Na política o governo tem o papel de garantir os direitos do cidadão como a


propriedade privada,a livre concorrência,proteger o grupo contra a violência
externa; proteger internamente os membros da sociedade de injustiças e
opressão dos demais; e erigir e manter as instituições públicas e as obras
públicas as quais são de tal natureza que não seriam lucrativas
individualmente, porém representam grande vantagem social. No entanto, a
sociedade tem hoje necessidades e problemas muito mais complexos que à
época em que nasce o pensamento liberal. Os países contam com populações
milhares de vezes maiores que as de então. E cresceu o número de atividades
em que a iniciativa individual ou de grupo não pode atuar sem o apoio de
organismos coordenadores permanentes. A função do governo no sistema
liberal deve crescer conforme se fizer necessário, porém este não pode nunca
perder seu caráter de servidor da sociedade, e assumir o papel de seu senhor.

No que se entende como assistência social,é onde o liberalismo clássico se


torna diferente do neoliberalismo,até pela época em que cada um foi
pensado.Teoricamente o neoliberalismo não tem nada de novo,a não ser o seu
sistema antagônico: o liberalismo tinha como rival o mercantilismo,já o
neoliberalismo tem o estado de bem estar social.O liberalismo não tem os
cidadãos como “filhos”,portanto não é a sociedade nem o Estado que têm
responsabilidade ou qualquer obrigação natural com os indivíduos.Ai está a
importância primordial da família no estado liberal.

O neoliberalismo prevê a economia de mercado como sistema


vigente,contrariando,não só o estado de bem-estar social,como a “economia
moral de Thompsom” que de certa forma,assim como o keynisianismo,revela
uma certa “responsabilidade” com os pobres.

Nova Ordem Mundial

Com a falência do estado de bem estar social, o neoliberalismo tentava explicar


e solucionar a crise do mundo nos anos 70 (crise do petróleo), a inviabilidade
dos planos de desenvolvimento econômico a dificuldade de controlar os ciclos
de crescimento e recessão, as políticas de renda e de bem-estar social (os
custos crescentes das políticas sociais e seu impacto sobre os fundos
públicos.Assim o keynisianismo se tornava insustentável.

“De maneira lenta e imperceptível,ou de repente as fronteiras entre os três


mundos, modifica-se os significados das nações de países centreis e
periféricos, do norte e sul, industrializados e agrários, modernos e arcaicos,
ocidentais e orientais. Literalmente, embaralha-se o mapa do mundo, umas
vezes parecendo reestruturar-se sob o signo do neoliberalismo, outras
oferecendo desfazer-se no caos,mas também prenunciando outros
horizontes.Tudo se move.A história entra em movimento, em escala
monumental, pondo em causa cartografias geopolíticas, blocos e alianças,
polarizações ideológicas e interpretações científicas.”

Uma ruptura.O fim da história.Uma nova era de aperfeiçoamento das formas


capitalistas.O pós-guerra foi tempo de repensar as soluções para a
humanidade, para a economia, para a expansão do capitalismo liberal e
principalmente para conseguir integrar as nações que estão aquém na
dinâmica global do capitalismo,da exigência de produtividade,agilidade e
capacidade de inovação aberta pela ampliação dos mercados, em âmbito
nacional,regional e mundial.

É importante ressaltar a reorganização e flexibilização do trabalho e


produção,recriação da divisão internacional do trabalho, o aperfeiçoamento das
técnicas produtivas, pois nessa nova dinâmica com a livre concorrência é
essencial a competitividade do mercado ,a diminuição dos custos,a
produtividade alta. E ai que acontece essa redistribuição das
empresas,corporações,conglomerados pelo planeta,atrás de mão-de-obra
barata e numerosa,leis ambientais e tributos mais flexíveis.

Esse rearranjo global do capital acaba por obrigar os países mais pobres a
entrar na dinâmica,quando começam a acontecer os “milagres econômicos”,ou
seja,com a abertura da economia há uma grande prosperidade e uma euforia
em torno do sistema.Porém com o tempo as conseqüências foram
aparecendo.A desigualdade-tanto norte e sul,já existente,quanto as internas-
crescem,o desemprego (principalmente em relação as empresas que migraram
e deixam uma lacuna na massa operária dos seus países de origem).

Outra característica marcante da Nova Ordem Mundial é a criação de blocos


econômicos, que dão certa praticidade nas relações econômicas e força pra os
países integrante do contexto mundial,exemplos disso é a União Européia,o
Mercosul, o Nafta.Ai está um problema dessas organizações supranacionais,o
Nafta por exemplo,acaba beneficiando quase que totalmente os Estado Unidos
e embora no inicio tenha trazido relativa esperança ao México,esse acabou
perdendo muito,como o Nafta acaba com as barreiras alfandegárias
integralmente,ele perde esse capital,já que importa muito mais que exporta.
Uma das críticas mais ferrenhas a Nova Ordem Mundial é a relativa perda da
soberania dos Estados-Nação ,já que as decisões que antes eram
internas,agora são tomadas multilateralmente e ser unilateral na nova lógica
pode render sanções duríssimas por partes dos parceiros econômicos.Porém
essa perda da soberania é relativa,porque se uns ficam mais
subordinados,outros aumentam suas áreas de influência.O estado-nação norte
americano, por exemplo, a cada dia se firma mais como grande potência e
influência de forma sem igual nas decisões alheias.

Os Globalizados

Na América Latina a Nova Ordem “chegou” através de um plano


desenvolvimento dos Estado Unidos,chamado Consenso de Washington,em
1989,onde pretendia atrair investimentos estrangeiros para esses
países.Porém é necessário torna tais países territórios atrativos aos
investidores,assim houve aumento dos impostos e dos juros.As conseqüências
foram devastadoras:programas de privatizações,dolarização de
economias,movimentos populares de contestação,queda de governos e as
falências.Na Bolívia por exemplo chega a haver privatização da água e o gás
passa a ser mais caro que no mercado externo,mercados são saqueados;na
Argentina a abertura da economia causou o caos ,aumento da inflação,o
fechamento de fábricas e quebra de empresas (tanto que em 2003 há uma
desdolarização ).Já no Brasil a ilusão de moeda forte cria uma atmosfera de
euforia,o consumo fácil,as novidades do mercado consumidor que anestesia a
população só havendo protestos isolados.

Para os “globalizados” ainda sobrou uma divisão de tarefas na Nova Divisão


Internacional do Trabalho que acaba por desvalorizar sua mão-de-obra.Nessa
nova DIT,o mundo desenvolvido se ocupa de produzir matérias prima,bens de
consumo não duráveis ou que não precise que a técnica empregada seja de
muita especialização(commodities,por exemplo),enquanto os centrais
produzem tecnologias e produtos de alto valor agregado.Ou seja,enquanto os
pobres compram as tecnologias (caras),os ricos compram muito,mas barato.

Outra coisa importante é o fenômeno da “fábrica global” que acontece por


essa nova divisão transnacional do trabalho.Um mesmo produto pode ter
diferentes peças confecionadas em diferentes partes do mundo e é montado
em um determinado local, tudo obedecendo essa lógica de baixo custo e alta
produtividade,que barateia os produtos.Tudo isso foi possível pelo
desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação.

Além disso a internacionalização da economia despatrializa os capitais


produtivos (e também especulativos) ,que entram nesses promissores
mercados consumidores,concorrem com os produtores internos e ainda por
cima utilizam a mão-de-obra deles próprios(que é mais barata e numerosa que
nos países de origem).Essa mão-de-obra,além de mais barata é regida por leis
trabalhistas mais brandas e esse território igualmente em relação a legislação
ambiental.

Vale lembrar também que os países centrais também foram “globalizados”,isso


admitindo a existência de dois “mundos”:um urbano e outro rural.A cidade
urbaniza o campo,que incorpora o urbanismo como modo de vida,padrões e
valores socioculturais,a secularização do comportamento, individuação,a
migração campo-cidade,a mecanização da produção.Assim”a globalização
capitalista está provocando a dissolução do mundo agrário” e “o mundo agrário
deixou de ser o motor decisivo da história”.

“Globalitarismo” – A sociedade e a globalização

“Devemos admitir a existência de pelo menos três mundos:o primeiro o mundo


tal como nos fazem ver,a globalização como fábula;o segundo o mundo tal
como ele é, a globalização como perversidade ;e a terceira,o mundo tal com
ele pode ser “uma outra globalização”

O Globalitarismo consiste num processo de colonização universal,


aprofundando o abismo entre ricos e pobres, “globalizantes” e “globalizados”.
Os meios de massa são instrumentos de manipulação nas mãos das
“globalizantes”. As redes cibernéticas, embora mais democráticas, não
contribuem muito para a promoção da igualdade, devido à exclusão econômica
das populações “globalizadas”.

A globalização se comporta não só como forma econômica geradora de


desigualdades,com o desemprego por exemplo; ela atua de forma desigual na
distribuição de informações,de técnicas,de oportunidades.Assim quem
consome muito obtém uma fluxo maior de “globalização”.Segundo Milton
Santos: “A informação é o instrumento da produção de globalitarismos,de
produção de formas totalitárias de vida, mas que manejadas de forma
inteligente por certos grupos tem o efeito justamente contrário”.A nova ordem
mundial é baseada em uma competitividade sem limites morais,onde as
noticias não passam de interpretações (muitas vezes, tresloucadas) dos
fatos,obedecendo interesses pré-determinados.

Porém lentamente esse quadro de desigualdade e dominação vem mudando.A


disseminação dos eletrônicos, das comunicação e informação,aos poucos vem
tornando mais acessível aos pobres e a periferia começa a mostrar que
também faz cultura,é a revanche da cultura popular sobre a cultura de massa.

Com isso acredita-se na “entrada no período demográfico da história(popular)


da histôria” onde os agentes que vão mundar o mundo vem de baixo,são os
pobres.E já hoje,os movimentos populares buscam uma alternativa a essa
globalização voraz,desigual,que sedimentou a ética,e as “explosões” já
acontecem,não são sincronizadas,mais serão ainda muitas até o dia em que a
“outra globalização” triunfar.

Bibliografia

Santos, Milton “Por uma outra globalização:do pensamento único à


consciência universal”

Ianni, Octavio- “A era do globalismo” - Rio de Janeiro,1999

Moraes, Reginaldo C.-“Reformas neoliberais e políticas públicas: hegemonia


ideológica e redefinição das relações estado-sociedade” Edu. Soc. v.23 n.8
Campinas set.2002

Documentário: “Encontro com Milton Santos: O mundo global visto de cá” Silvio
Tendle

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