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LUMINOTECNICA

APLICADA

Camila Dias de Souza


Efeitos de iluminação
no ambiente
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Conceituar iluminação e ambiente.


 Identificar as fontes de iluminação em um ambiente.
 Reconhecer os efeitos causados por diferentes formas de uso da luz.

Introdução
O uso da iluminação nos ambientes influencia diretamente na nossa
percepção sobre eles e, por consequência, na nossa forma de vivenciá-
-los. A maneira como os percebemos está relacionada com a concepção
da iluminação, sua relação com os demais aspectos espaciais, com
nossa bagagem cultural e nossas experiências anteriores. O processo de
percepção do ambiente iluminado pode ser compreendido de forma
objetiva ou subjetiva, mesmo que sejam aspectos de um conjunto
indissociável.
Neste capítulo, você vai compreender as relações entre a iluminação e
a criação do ambiente por meio da iluminação, conhecendo as diferentes
fontes de iluminação e os diferentes efeitos possíveis a partir de técnicas
de iluminação.
2 Efeitos de iluminação no ambiente

Iluminação e ambiente
A iluminação é o recurso que nos permite ver e perceber o espaço cons-
truído. Sem ela, nossa experiência espacial seria bastante diferente e muito
mais limitada. Assim como a iluminação viabiliza a visão, também sua
forma de interação com o espaço é determinante na nossa percepção
visual. A distribuição da iluminação permite trabalhar a hierarquização
de elementos da composição, o destaque de objetos em relação ao seu
entorno ou o estabelecimento da homogeneidade dos níveis de iluminação
(INNES, 2014).
Historicamente, a iluminação artificial se desenvolveu com maior força
em ambientes industriais ou de escritórios, que tinham por característica a
uniformidade dos níveis de iluminação, uma vez que se destinavam a atender
funções laborativas, que requerem boas condições visuais. A qualidade da
iluminação nesses espaços visava maior produtividade por meio da melhoria
das condições de trabalho (GONÇALVES; VIANNA, 2001).
Assim, os primórdios da iluminação artificial consolidaram um ideário de
iluminação de qualidade relacionado à quantidade de iluminação existente no
ambiente. Entretanto, desde a década de 1970, o projeto de iluminação com
base em aspectos quantitativos já é dado como ineficiente para contemplar
as necessidades humanas e suas capacidades perceptivas (GANSLANDT;
HOFMANN, 1992).
Atualmente, o conceito de iluminação de qualidade estabelecido pela
IESNA (REA, 2000) (Figura 1) contempla necessidades humanas, como
visibilidade, desempenho de tarefas, conforto visual, comunicação social,
atmosfera, saúde, segurança, bem-estar e estética; aspectos de arquitetura,
como forma, composição, estilo, além das legislações; e, por fim, aspectos
econômicos e ambientais, como instalação, manutenção, operação, energia
e meio ambiente. Esses critérios são aplicados aos projetos de iluminação
conforme as funções desempenhadas pelos espaços iluminados.
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Figura 1. Aspectos relacionados à qualidade da iluminação.


Fonte: Adaptada de Rea (2000, p. 10–11).

Em design de interiores, a criação da atmosfera do ambiente é definida pelas


sensações causadas no observador e provocadas pelas características do espaço.
A percepção do espaço é um processo de apreensão da realidade fundamentada
nas relações traçadas entre o mundo percebido e experiências anteriores. Esse
processo se dá permanentemente ao longo do tempo e é fundamentalmente
subjetivo, distinto em cada cultura e em cada indivíduo e formador da signifi-
cação das experiências, dos espaços e objetos. Muitas dessas associações são
feitas com relações a padrões de luz e sombra presentes na natureza, que foram
experienciados inúmeras vezes, constituindo significações que auxiliam no
processo de percepção de novos espaços (TREGENZA; LOE, 2015).
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A construção de padrões de luz e sombra também foi desenvolvida por


diferentes artistas na pintura e no teatro como forma de criação de ambiên-
cias e significação. A maneira com que cada um ilumina suas cenas confere
identidade à tela ou peça dramática, além de carregar conteúdo simbólico
(ARNHEIM, 2000).
Em arquitetura, a luz é um elemento fundamental na concepção dos
espaços e, por outro lado, a conformação dos espaços e suas aberturas
definem as possibilidades de entrada de luz ao interior da edificação —
assim, é uma via de mão dupla. A função do ambiente tem influência direta
sobre as relações entre luz e espaço, uma vez que apresenta as limitações
e potencialidades possíveis de serem exploradas na criação dos mesmos
(GONÇALVES; VIANNA, 2001).
As definições espaciais estão intrinsecamente relacionadas à manipulação
da luz natural, uma vez que a geometria dos espaços internos e suas aberturas
são determinantes para a passagem de luz. Do mesmo modo, as relações da
luz com a materialidade das formas permitem inúmeras explorações estéticas.
Os materiais apresentam diferentes comportamentos físicos à luz, assim como
a luz pode assumir diferentes características, interferindo na visualização
dos materiais. Essa gama de combinações possíveis entre material e luz pode
gerar efeitos visuais surpreendentes, contribuindo para a criação da atmosfera
do ambiente.
A cor do material pode ter sua percepção alterada conforme o espectro ele-
tromagnético da fonte de luz, que interfere na reprodução de cores do material.
Texturas são mais valorizadas sob luz direta do que sob difusa, uma vez que
o contraste entre um ponto e seu entorno fica mais acentuado. A geometria da
luz em relação ao objeto também pode contribuir para a relação de contrastes,
dramatizando as sombras. Materiais translúcidos têm a capacidade de alterar
as qualidades de cor e direção da luz, podendo ser utilizados como elementos
de controle de luz.
A iluminação de espaços interiores tem o poder de definir o grau de co-
nexão ou separação entre interior e exterior. Fachadas translúcidas conectam
exteriores e interiores, ao passo que espaços mais opacos criam relação de
contraste com o meio externo, gerando situações de iluminação bem distintas.
Além disso, outro fator relevante na conformação dos espaços é a distribuição
da luz integrando ou separando-os. A luz uniforme, por exemplo, tem o poder
de unificar ambientes, uma vez que não diferencia os níveis de iluminação
(INNES, 2014).
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Alguns limites espaciais podem ser definidos pela luz, seja iluminando ele-
mentos periféricos, seja criando zonas de luz em um entorno mais escurecido.
As definições de claro-escuro dos espaços podem conferir-lhes hierarquias,
ritmo e movimento, e o olhar pode ser direcionado pela luz, focalizando objetos
ou destacando elementos arquitetônicos, gerando um ponto de interesse visual
por meio do contraste entre objeto e entorno.

Há duas formas básicas de iluminação natural: componentes de condução, espaços


por onde a luz passa para atingir o interior da edificação, como átrios, pátios, dutos
de luz, e componentes de passagem, elementos pelos quais a luz passa do ambiente
externo para o interno, como aberturas laterais, zenitais ou globais.

Fontes de iluminação de um ambiente


A iluminação dos ambientes pode ser realizada basicamente de dois modos:
pela luz natural e pela luz artificial. A luz natural é indispensável para a
arquitetura, uma vez que suas variações qualitativas e quantitativas ao longo
do dia (e do ano) são responsáveis pela regulação hormonal, influenciando
o ciclo circadiano (relógio biológico), interferindo diretamente na saúde, no
bem-estar e no estado de alerta humano — entre outras funções metabólicas
—, sendo, assim, essencial à vida humana. Além das reações fisiológicas, a
luz traz consequências psicológicas sobre nós, já que variações na intensidade
e qualidade da luz provocam diferentes sensações (REA, 2000).
A incidência de luz solar direta nos espaços interiores pode atingir de
60.000 a 100.000 lux, o que é considerado excessivo para o desempenho
de funções laborativas no ambiente, enquanto a entrada de luz difusa nos
ambientes é consideravelmente menor, variando entre 5.000 e 20.000 lux.
A definição da entrada de luz direta ou difusa é dada pela orientação solar,
pelo tipo de céu e por estratégias de controle de entrada de luz natural.
Além disso, é importante considerar que a entrada de radiação solar direta
está associada à entrada de calor no interior da edificação (LAMBERTS;
DUTRA; PEREIRA, 2013).
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Mesmo dentro das categorias de luz direta e indireta, pode haver uma
grande variação nas quantidades de iluminância para cada tipo de incidência,
na ordem de 1:1000, dentro de um mesmo ambiente interno. Como forma
de simplificação, foram estabelecidos três tipos de céus: céu claro, parcial-
mente coberto (anisotrópico) e encoberto (isotrópico). Em dias de céu claro,
a radiação direta é predominante e há radiação difusa nas proximidades
do sol e do horizonte. Em dias de céu encoberto, o sol não é visível e há
um turvamento da abóboda celeste, gerando distribuição de luz uniforme
(LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2013).
As variações de intensidade e direção da luz natural, além das variações
do tipo de céu, são consequências da posição da Terra em relação ao Sol,
tanto no que se refere às estações do ano quanto às variações ao longo do
dia. Temos como direção predominante da luz natural a vertical — é assim
que ela se apresenta com maior frequência e, por isso, é registrada em
nossas memórias como a luz esperada. A luz é mais forte quando vem de
cima, ainda que a luz refletida possa contribuir significativamente para a
iluminação geral (INNES, 2014).
Há outros fatores que influenciam a quantidade de luz natural presente no
ambiente. Além das aberturas — suas quantidades, dimensões, seus formatos
e orientações —, é importante considerarmos a geometria do ambiente e
os coeficientes de reflexão dos materiais. As dimensões e proporções dos
ambientes podem gerar zonas mais escurecidas pelo distanciamento de
aberturas, assim como a reflexão dos materiais altera a quantidade de luz
refletida no ambiente, além de interferir diretamente na percepção do espaço
(LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2013).
Um parâmetro utilizado para a verificação da quantidade de luz natural
disponível no espaço interno é o coeficiente de luz diurna, também chamado
de contribuição da iluminação natural (CIN), que confere a proporção de
iluminância interna e externa, indicando a aparência do ambiente. Coeficien-
tes na ordem de 5% ou mais apresentam grande área de envidraçamento, na
ordem de ¼ da área de paredes, ou seja, bastante iluminado. Coeficientes na
ordem de 2% ou menos, por outro lado, demandam a utilização de iluminação
artificial (TREGENZA; LOE, 2015). Você pode conferir algumas dessas
relações a seguir, na Figura 2.
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Figura 2. Coeficiente de luz diurna.


Fonte: Tregenza e Loe (2015, p. 94).

Quando a iluminação natural se torna insuficiente, por pouca captação ou


durante o período noturno, temos a possibilidade de sua complementação ou
substituição com a iluminação artificial. A luz artificial permite que diferentes
sistemas de iluminação atuem em conjunto, definindo espaços, atendendo a
aspectos funcionais e criando ambiências.
Do ponto de vista funcional, tanto a iluminação natural quanto a artifi-
cial devem atender a alguns quesitos, como evitar ofuscamentos, contrastes
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excessivos e reflexos indesejados para ambientes nos quais seja necessário


conforto visual, proporcionando, assim, a iluminação adequada às funções
a serem exercidas no ambiente. Isso significa dizer que se deve buscar boa
distribuição de luz, em níveis adequados às tarefas relacionadas aos espaços,
contando com os mecanismos de controle da luz natural.
A maioria dos espaços conta com iluminação natural e artificial, o que
nos leva a elaborar formas de integração entre os dois sistemas buscando
satisfazer as necessidades objetivas e subjetivas da criação dos espaços. Para
o sistema de iluminação de qualidade, com desenho integrado, recomenda-se
que sejam seguidos alguns princípios básicos, tais como (GONÇALVES;
VIANNA, 2001):

 observação do nível de iluminação necessário e exigido das atividades


em questão;
 observação das relações de contraste entre a iluminação natural e arti-
ficial, de forma a evitar ofuscamentos e oferecer boa sensação subjetiva
dos contrastes;
 recomendação de obtenção de contrastes de 3:1 entre a tarefa visual e a
superfície de trabalho, 10:1 entre a tarefa visual e o espaço circundante,
20:1 entre a fonte de luz e seu fundo, mantendo a máxima diferença no
campo visual de 40:1, evitando fadiga visual dos usuários;
 manutenção da aparência e reprodução de cor, evitando que o sistema
suplementar se destaque em relação à iluminação natural;
 graduação da iluminação suplementar das áreas mais ou menos próximas
às janelas, mantendo a variação da iluminação sobre a área desejada
na proporção de 3:1;
 sistema de iluminação artificial utilizado a partir de um CIN (coeficiente
de luz natural) de 1% a 1,5% no máximo;
 seleção dos equipamentos de iluminação considerando, além dos crité-
rios expostos, as questões de eficiência energética dos sistemas.

Partindo das premissas de integração, é possível estabelecer estratégias


de projeto que definem a distribuição da luz no ambiente. Os sistemas de
iluminação podem ser classificados segundo seus objetivos de atuação nos
ambientes (GONÇALVES; VIANNA, 2001; INNES, 2014; TORRES, 2009;
BIGONI, 2009). Ainda que haja variações conforme os diferentes autores,
podemos classificá-los da seguinte forma:
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 Iluminação geral: é a iluminação que fornece a iluminância mínima


para os ambientes segundo estabelecido pela norma. A distribuição
das luminárias tende a ser homogênea e visa uniformidade de ilumi-
nâncias no ambiente e no plano de trabalho, o que, por consequência,
conforma ambientes com flexibilidade de leiaute, como os laborati-
vos, como grandes escritórios, oficinas, salas de aula, fábricas, etc.
Em outros tipos de ambientes, além de fornecer os níveis mínimos,
funciona para atenuar contrates excessivos da iluminação direta
ou indireta.
 Iluminação de destaque/direcional: é a iluminação que objetiva en-
fatizar elementos, seja pelo contraste entre as intensidades luminosas
entre o ponto de interesse e seu entorno imediato, seja pela tonalidade
de luz e de cor. São comumente utilizadas lâmpadas de facho dirigido
e projetores.
 Iluminação suplementar de tarefa: tem por objetivo complementar
a iluminação geral fornecendo níveis de iluminação adequados à
execução das tarefas no plano de trabalho. Pode ser uma luminária de
mesa, pedestal ou embutida em um móvel que execute essa função.
Diferencia-se da iluminação de destaque por seu objetivo mais fun-
cional de complementação e por evitar contrastes excessivos com o
entorno imediato que possam causar problemas de adaptação visual.
Busca-se contraste na proporção de 1:5 com a iluminação geral do
ambiente.
 Iluminação decorativa: utilizada para caracterizar o ambiente, dar-lhe
identidade, atribuir ambiências ao espaço ou gerar novos padrões de luz
e sombra no ambiente. Não tem por objetivo contribuir quantitativamente
com a iluminação geral.
 Iluminação de orientação: indica sentido ou caminho pelo alinhamento
das luminárias de sinalização ou balizamento. Existem diferentes téc-
nicas que podem ser aplicadas para indicar percurso.

Técnicas de iluminação artificial


Em ambientes nos quais se desenvolvem funções não laborativas, a ilu-
minação pode assumir formas mais cênicas, valendo-se de princípios de
percepção para gerar efeitos visuais que contribuam na criação de ambi-
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ências e identidade dos espaços. A interação entre a luz e os materiais que


compõem os ambientes pode criar efeitos bem distintos entre si. Superfícies
opacas foscas dependem apenas da iluminância sobre elas incidente; já as
superfícies lustrosas ganham maior realce quando iluminadas por fontes
de luz puntiformes brilhantes e perdem o destaque sob iluminação difusa
(TREGENZA; LOE, 2015).
A iluminação artificial pode criar diversos efeitos visuais quando apli-
cada aos ambientes. O direcionamento, foco ou difusão, a abertura de
fachos, a temperatura de cor são variáveis que o projetista deve manipular
no projeto de iluminação. Algumas formas usuais foram classificadas de
forma genérica, como (BIGONI, 2009; TORRES, 2009; TREGENZA;
LOE, 2015) (Figura 3):

 Downlight: luz direcionada de cima para baixo. É a técnica mais recor-


rente, podendo ser mais focada ou difusa.
 Uplight: luz direcionada de baixo para cima; frequentemente utilizada
para valorização de elementos verticais, como pilares, ou criação de
ritmo em elementos verticais contínuos mais extensos; tem grande
efeito cênico e pode ser trabalhada com diferentes aberturas de facho.
 Wallwash ou lavagem de parede: é o direcionamento da luz uniforme
para uma superfície vertical. Cria a sensação de amplitude do espaço
e pode ser simétrica ou assimétrica, conforme a distribuição de luz da
luminária.
 Grazing: é também uma lavagem de luz da superfície vertical, mas
com a intenção de salientar texturas dos materiais, portanto, não
uniforme. Em geral, a luminária ou o sistema de iluminação é lo-
calizado bem próximo à superfície vertical para gerar as sombras
necessárias.
 Backlight: é o efeito causado pela luz quando instalada em cavidade
com difusores translúcidos (acrílicos, policarbonatos, vidros, tecidos,
etc). Cria um plano de luz de fundo e os objetos sobrepostos a ele têm
sua silhueta valorizada pelo efeito contraluz.
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Figura 3. Efeito da iluminação — a) downlight, b) uplight, c) wallwash, d) backlight, e) grazing.


Fonte: PlusONE/Shutterstock.com, Yarygin/ Shutterstock.com, Vitaliy Kyrychuk/Shutterstock.com,
DiLouie (2012, documento on-line) e Adisa/Shutterstock.com.

É importante avaliar as formas de integração da luz natural e artificial


ponderando aspectos funcionais, construtivos e tecnológicos visando uma
solução projetual. A busca pela integração dos projetos objetiva que as caracte-
rísticas da luz natural possam ser complementadas pela artificial nos interiores,
mantendo a qualidade visual. Tanto as diferentes formas de iluminação natural
quanto as técnicas de iluminação artificial podem ser associadas no projeto
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de iluminação, e diferentes sistemas de iluminação natural podem funcionar


conjuntamente para atender a requisitos de uniformidade.
Nesse sentido, a inovação tecnológica dos materiais e sistemas de ilumi-
nação representa a ampliação da gama de alternativas de projeto que podem,
e devem, contribuir para qualificar a arquitetura.

Percepção visual dos efeitos da iluminação


O processo perceptivo envolve os estímulos sensoriais, sejam esses visuais
ou não, e as experiências vividas por cada indivíduo que interpreta o espaço.
A interpretação dos estímulos é feita a partir das associações entre as experi-
ências significadas e as novas experiências. Os padrões de claro e escuro e os
materiais nos remetem a memórias que nos auxiliam a formar uma imagem
do lugar a partir dos nossos filtros culturais e individuais. Esse processo é
inconsciente e subjetivo e é fundamental para a percepção de ambiência dos
espaços (TREGENZA; LOE, 2015).

Ambiência ou atmosfera pode ser compreendida como a percepção afetiva do am-


biente, está relacionada ao modo como as pessoas sentem o espaço e, portanto, tem
caráter subjetivo.

Diferentes formas de iluminar, somadas aos diversos materiais que com-


põem o espaço, criam ambientes com caráter completamente diferentes entre
si, conforme podemos ver na Figura 4. As configurações de luz e cor dos
ambientes atribuem identidade aos lugares, ainda que possam variar de cultura
para cultura ou de pessoa para pessoa. Em geral, cores escuras dão sensação
de fechamento, redução do espaço, enquanto cores claras remetem à ideia de
amplitude (TREGENZA; LOE, 2015).
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Figura 4. Os padrões de luz e cor do espaço e as alterações de percepção.


Fonte: Tregenza e Loe (2015, p. 88).

As relações de contraste são peças-chave para a percepção do espaço e


dos objetos nele inseridos. Para oferecer boas condições de visibilidade de
uma determinada tarefa visual sobre o plano de trabalho, a proporção de 3:1 é
suficiente, mas, se o objetivo for gerar destaque sobre o entorno, a proporção
deve aumentar (TREGENZA; LOE, 2015).
É interessante observar que o contraste entre figura e fundo se dá pela
proporcionalidade. O destaque e a criação de camadas de luz devem trabalhar
no sentido de realçar aspectos significativos da composição espacial. Assim
como o contraste, outros aspectos da iluminação, como a direção da luz, de
combinações de cores, padrões de sombras e dinâmica da luz, são fundamentais
para a criação de efeitos de iluminação.
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1. A iluminação pode ser considerada indica a técnica utilizada para gerar


um material de projeto apesar de tal efeito.
sua imaterialidade. Ela atua no a) Wallwash.
ambiente tanto na ordem subjetiva b) Uplight.
quanto na objetiva. Nesse sentido, c) Backlight.
aponte a alternativa que melhor d) Downlight.
descreve suas funções. e) Orientação.
a) A iluminação atende aos 3. A iluminação artificial é
espaços internos de forma a utilizada não somente como
possibilitar apenas a execução complementação da iluminação
de funções laborativas. natural, mas também para a
b) A iluminação tem a função de criação de atmosferas espaciais.
criação de cenários e definições Das técnicas de iluminação
espaciais exclusivamente pela apresentadas, qual delas é utilizada
integração de iluminação para a valorização de texturas?
natural e artificial. a) Uplight.
c) Atender aos requisitos de b) Downlight.
qualidade com relação aos c) Wallwash.
aspectos de arquitetura, d) Grazing.
econômicos e ambientais, bem e) Backlight.
como as necessidades humanas, 4. Um dos atributos que interfere
é atributo esperado da boa diretamente na percepção dos
iluminação. espaços é o contraste, que é
d) A utilização de iluminação definido pela diferença entre
zenital é fundamental para o a luminância do objeto e do
atendimento das funções da fundo. Para a sua boa utilização,
iluminação espacial. recomenda-se:
e) A associação da iluminação a) contrastes entre tarefa visual e o
artificial à iluminação natural plano de trabalho na proporção
é dispensável para tornar o de 2:1.
projeto de iluminação eficiente b) contraste entre a tarefa visual e o
energeticamente. entorno imediato na proporção
2. Após a definição do conceito do de 10:1.
projeto de iluminação, já é possível c) contrastes entre a fonte de luz e
eleger os sistemas que irão compor seu fundo na proporção de 10:1.
a iluminação como um todo, bem d) contrastes entre a tarefa visual e
como algumas técnicas. Dentre seu fundo de no máximo 20:1.
os efeitos criados pelas técnicas, e) contrastes entre a fonte e seu
um deles valoriza o contorno dos fundo na proporção de 20:1.
objetos. Assinale a alternativa que
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5. A integração de iluminação natural e c) Deve-se adotar o sistema de


artificial é uma forma de qualificação iluminação artificial a partir
do projeto de iluminação. Com de 2% de CIN (coeficiente de
relação à integração de iluminação iluminação natural).
natural e artificial, assinale a d) O sistema de iluminação
alternativa correta. suplementar (iluminação
a) A iluminação natural é desejável artificial) deve observar a
para a complementação aparência de cor e a reprodução
da iluminação artificial dos de cor das fontes de iluminação.
ambientes. e) É fundamental a utilização de
b) Deve-se adotar parâmetros de automação para a integração
contrastes sempre na proporção dos sistemas.
de 3:1.

ARNHEIM, R. Arte e Percepção Visual. São Paulo: Pioneira, 2000.


BIGONI, S. Iluminação de interiores residencial: apostila do curso de especialização em
iluminação e design de interiores. Goiânia: IPOG, 2009.
DILOUIE, C. Lighting Design 101: Wall Grazing and Washing. 2012. Disponível em: <http://
ieslightlogic.org/lighting-design-101-wall-grazing-and-washing/>. Acesso em: 11 jan.
2019.
GANSLANDT, R.; HOFMANN, R. Handbook of Lighting Design. Braunschweig: Viewe-
gVerlag, 1992.
GONÇALVES, J. C.; VIANNA, N. S. Iluminação e arquitetura. São Paulo: Uniabc, 2001.
INNES, M. Iluminação no design de interiores. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.
LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F. O. R. Eficiência energética na arquitetura. 3. ed. Rio
de Janeiro: Eletrobras, 2013 Disponível em: <http://www.labeee.ufsc.br/sites/default/
files/apostilas/eficiencia_energetica_na_arquitetura.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2019.
REA, M. S. (Ed.). The IESNA Lighting Handbook: Reference & Appplication. 9. ed. New
York: Illuminating Engineering Society of North America, 2000.
TORRES, C. Iluminação comercial e corporativa: apostila do curso de especialização em
iluminação e design de interiores. Goiânia: IPOG, 2009.
TREGENZA, P.; LOE, D. Projeto de iluminação. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.
16 Efeitos de iluminação no ambiente

Leituras recomendadas
CHING, F.; BINGGELI, C. Arquitetura de interiores ilustrada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman,
2014.
KELLER, M. Fantastic Light: The Art and Design of Stage Lighting. 3. ed. Munique: Prestel,
2010.
OSRAM. Iluminação: conceitos e projetos. 2008. Disponível em: <http://www.fau.
usp.br/arquivos/disciplinas/au/aut0274/ilumART.%20Manual%20Osram%20V2.pdf>.
Acesso em: 11 jan. 2019.
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