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| SILVIA GISELLE IBARRA OZCARIZ |

| GABRIELE ROCKENBACH |
| CAROLINE BANDEIRA |

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO

SOBREPESO E OBESIDADE EM
CRIANÇAS E ADOLESCENTES

UFSC 2020
| SILVIA GISELLE IBARRA OZCARIZ |
| GABRIELE ROCKENBACH |
| CAROLINE BANDEIRA |

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO

SOBREPESO E OBESIDADE EM
CRIANÇAS E ADOLESCENTES

UFSC 2020
FLO R I A N ÓP O LIS
GOVERNO FEDERAL

MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS)
Departamento de Promoção da Saúde (DEPROS)
Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


Reitor: Ubaldo Cesar Balthazar
Vice-Reitora: Alacoque Lorenzini Erdmann
Pró-Reitor de Pós-Graduação: Cristiane Derani
Pró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto Soares
Pró-Reitor de Extensão: Rogério Cid Bastos
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Diretor: Celso Spada
Vice-Diretor: Fabrício de Souza Neves
DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA
Chefe do Departamento: Fabrício Augusto Menegon
Subchefe do Departamento: Lúcio José Botelho

EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE


Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição

Gestora Geral do Projeto Sheila Rubia Lindner


Coordenação de Produção de Material Elza Berger Salema Coelho

3
Autores Silvia Giselle Ibarra Ozcariz
Gabriele Rockenbach
Caroline Bandeira

Equipe Editorial Carolina Carvalho Bolsoni


Thays Berger Conceição
Deise Warmling
Dalvan Antonio de Campos

Assessoria Pedagógica Márcia Regina Luz

Assessoria de Mídias Marcelo Nogueira Capillé

Equipe Executiva Patricia Dias de Castro


Gabriel Donadio Costa
Eurizon de Oliveira Neto

Design Instrucional/ Soraya Falqueiro


Revisão de Português e ABNT/
Elaboração das Questões Avaliativas

Identidade Visual/Projeto Gráfico Pedro Paulo Delpino Bernardes

4
Diagramação/Esquemáticos/ Laura Martins Rodrigues
Infográficos/Finalização

Desenvolvedor Web Jean Marcos da Silva


Paulo Alexsander Godoi Lefol
Tcharlies Dejandir Schmitz

Esquemáticos/Infográficos Web Naiane Cristina Salvi

Fonte para Imagem e Esquemáticos Adobe Stock, Rawpixel, Iconfinder

O99s Ozcariz, Silvia Giselle Ibarra

Sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes [recurso eletrônico] / Silvia Giselle


Ibarra Ozcariz, Gabriele Rockenbach, Caroline Bandeira -- Florianópolis: Universidade Federal de
Santa Catarina, 2020.

8,00Mb ; PDF (Curso de Especialização)

Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br

ISBN 978-65-87206-64-6

1. Nutrição. 2. Obesidade infantil. 3. Saúde da criança e do adolescente. I. UFSC. II. Curso


de Atenção à Saúde da pessoa com sobrepeso e obesidade. III. Ozcariz, Silvia Giselle Ibarra. IV.
Rockenbach, Gabriele. V. Bandeira, Caroline. VI. Título.

CDU: 612-3

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APRESENTAÇÃO 8
2.1.7 Ações de Vigilância Alimentar e Nutricional
1 ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE (VAN) na Atenção Primária à Saúde (APS) 35
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES 10 2.1.8 Promoção da Alimentação Adequada e
1.1 FATORES EPIDEMIOLÓGICOS 11 Saudável por meio de Guias Alimentares 35
1.1.1 Prevalências de sobrepeso e obesidade 2.2 ESPECIFICIDADES DE ALIMENTAÇÃO
em crianças e adolescentes 12 E NUTRIÇÃO EM CRIANÇAS 36
1.1.2 Dados da América Latina e do Brasil 13 2.2.1 Dificuldades alimentares 36
1.1.3 Fatores sociais e acesso a ambientes 2.2.2 Publicidade dos alimentos 37
obesogênicos 14 2.2.3 A mídia sobre alimentos para crianças 38
1.2 DETERMINANTES DO EXCESSO DE PESO 17 2.2.4 Saúde bucal e hábitos alimentares 38
1.2.1 Formação de hábitos alimentares 18 2.2.5 Deficiências de micronutrientes
1.2.2 Padrões e comportamentos alimentares 24 e excesso de peso 39
1.2.3 Fatores genéticos 25 2.3 ESPECIFICIDADES DE ALIMENTAÇÃO
1.2.4 Atividade física e comportamento sedentário 27 E NUTRIÇÃO EM ADOLESCENTES 40
2.3.1 Transtornos alimentares 40
2 PROCESSO DE TRABALHO NA ATENÇÃO NUTRICIONAL 29 2.3.2 Dietas da moda 42
2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS DE 2.3.3 Uso de suplementos 43
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO PARA CONTROLE E 2.3.4 Mídia e redes sociais 44
PREVENÇÃO DO SOBREPESO E DA OBESIDADE 30 2.4 IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA E DAS PRÁTICAS
2.1.1 Programa Nacional de Alimentação CORPORAIS NA PREVENÇÃO E NO CONTROLE DO
Escolar (PNAE) 31 EXCESSO DE PESO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES 44
2.1.2 Programa Saúde na Escola (PSE) 32
2.1.3 Programa Crescer Saudável 32 3 AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL 47
2.1.4 Portaria Interministerial nº 1.010 33 3.1 AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO DO ESTADO
2.1.5 Política Nacional de Atenção Integral ALIMENTAR E NUTRICIONAL 48
à Saúde da Criança (PNAISC) 33 3.1.1 Avaliação e diagnóstico do estado
2.1.6 Programa academia da saúde 34 nutricional da criança 49

6
3.1.2 Avaliação e diagnóstico do estado
nutricional do adolescente 58

4 RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES E COMPORTAMENTAIS


PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES 67
4.1 PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
SEGUNDO O GUIA ALIMENTAR PARA A
POPULAÇÃO BRASILEIRA 68
4.2 OUTROS ASPECTOS IMPORTANTES DA
ALIMENTAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES 70

ENCERRAMENTO DO MÓDULO 80
REFERÊNCIAS 81
MINICURRÍCULO DOS AUTORES 90

7
APRESENTAÇÃO

Olá!

Desejamos boas-vindas ao módulo e adolescente, comportamento sedentário,


“Sobrepeso e obesidade em crianças e transtornos alimentares e dietas da moda na
adolescentes”. adolescência, dentre outras especificidades
Este módulo foi elaborado, pensando importantes associadas ao tema. Aqui
nas dificuldades encontradas no seu você aprenderá também sobre os critérios
cotidiano de trabalho, no que diz respeito à de avaliação e diagnóstico nutricional para
abordagem do sobrepeso e da obesidade em crianças e adolescentes, assim como as
crianças e adolescentes, aspectos sociais e principais recomendações alimentares e
epidemiológicos, assim como dos fatores comportamentais para controle e prevenção
determinantes da alimentação e nutrição do sobrepeso e da obesidade na APS.
envolvidos no sobrepeso e na obesidade. Esperamos que você tenha um bom
Nesta etapa de estudo, você conhecerá estudo!
os principais programas e ações de
alimentação e nutrição voltados à
prevenção e ao controle do excesso de
peso em crianças e adolescentes, no
âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS).
Apresentaremos as especificidades para
essas fases do ciclo de vida, relacionadas a
dificuldades alimentares, influência da mídia
e publicidades voltadas ao público infantil

8
APRESENTAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM as recomendações alimentares perti-


nentes, com base nos Guias Alimenta-
Ao final deste módulo, você deverá ser res do Ministério da Saúde e da Socie-
capaz de: dade Brasileira de Pediatria.
• Compreender a importância dos as- • Utilizar o conhecimento adquirido na
pectos sociais e epidemiológicos que promoção de ações setoriais e inter-
determinam o sobrepeso e a obesi- setoriais para prevenção do excesso
dade entre crianças e adolescentes, de peso, assim como de promoção da
assim como entender o impacto do alimentação adequada e saudável de
aumento das taxas de excesso de crianças e adolescentes no território.
peso de crianças e adolescentes em
morbidades associadas, em curto e CARGA HORÁRIA DE ESTUDO
longo prazo. RECOMENDADA
• Reconhecer a estrutura das princi-
pais ferramentas para avaliação e Para estudar e apreender todas as
diagnóstico nutricional de crianças e informações e definições abordadas, bem
adolescentes preconizadas na APS, como trilhar todo o processo ativo de
assim como compreender e realizar a aprendizagem, estabelecemos uma carga
avaliação e o diagnóstico nutricional, horária de 30 horas para este módulo.
de acordo com os indicadores antro-
pométricos e alimentares, para as res-
pectivas faixas etárias.
• Compreender as especificidades rela-
cionadas a determinantes e condicio-
nantes do comportamento alimentar
de crianças e adolescentes e realizar

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UN1
ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Nesta unidade, abordaremos a distribui- considerando o sobrepeso e a obesidade


ção do sobrepeso e da obesidade em crianças como agravos prioritários da ação gover-
e adolescentes brasileiros, reconhecendo, namental, desde a publicação da Política
assim, a problemática, fatores associados, Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN)
determinantes sociais e comportamentais (BRASIL, 1999), tendo em vista o crescente
da doença. Ao final da leitura desta unidade, aumento nas suas prevalências.
você será capaz de entender o panorama
do sobrepeso e da obesidade, assim como
reconhecerá a importância da sua prevenção No ano de 2016, a Organização Mundial da
em crianças e adolescentes, no contexto da Saúde (OMS) publicou um relatório voltado
ao enfrentamento da obesidade infantil,
Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil.
reforçando que essa é uma Doença Crônica
Não Transmissível (DCNT) capaz de:
1.1 FATORES EPIDEMIOLÓGICOS
Afetar a saúde imediata da criança.
O sobrepeso e a obesidade são um
Reduzir o seu desempenho
problema crescente, no Brasil e ao redor do
escolar e, consequentemente,
mundo, seja entre crianças, adolescentes,
o nível de escolaridade.
adultos ou idosos (ABARCA-GOMEZ et al.,
2017). A obesidade infantil tem assumido Piorar a sua qualidade de vida.
importante relevância por sua crescente Contribuir para dificuldades
magnitude no contexto nacional e interna- comportamentais e emocionais,
cional (WHO, 2016). A obesidade em si é uma como a depressão.
causa direta de morbidades na infância, Levar à estigmatização e à
incluindo complicações gastrointestinais, socialização deficiente.
musculoesqueléticas e ortopédicas, apneia Ter efeitos na saúde em longo prazo,
do sono e início acelerado de doenças car- podendo reduzir a expectativa de vida.
diovasculares e diabetes tipo 2 (WHO, 2016).
Nesse contexto, o governo brasileiro vem Fonte: WHO (2016), NG et al. (2014).

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Como profissional da APS, é importante em países de baixa e média renda como o publicado importantes artigos que avaliam
considerar que o ganho de peso excessivo Brasil (ABARCA-GOMEZ et al., 2017). a evolução das prevalências de sobrepeso e
na infância e na adolescência aumenta O papel dos profissionais da APS é de de obesidade em nível mundial (NG et al., 2014;
consideravelmente a chance de crianças e extrema importância nesse sentido, visto que ABARCA-GOMEZ et al., 2017; RIVERA et al., 2014),
adolescentes com sobrepeso e obesidade as ações em saúde e de prevenção precisam visando monitorar as taxas do sobrepeso e
permanecerem obesas quando adultas, ser abordadas por várias perspectivas, da obesidade em crianças e adolescentes.
contribuindo para o maior risco de adquiri- considerando a atuação multidisciplinar das Uma das publicações avaliou o estado
rem outras doenças crônicas ao longo da diversas áreas da saúde. Segundo a OMS, nutricional de crianças e adolescentes de
vida, tanto em curto quanto em longo prazo, ainda há trabalho a ser feito para entender 2 a 19 anos. Foram considerados dados
aumentando de forma importante os gastos as múltiplas manifestações da má nutrição de peso e estatura, tanto aferidos quanto
em saúde (WHO, 2016). para podermos prevenir e combater a autorreferidos, e descritas a evolução das
doença de forma mais assertiva (WHO, 2016). taxas de sobrepeso e obesidade entre os
Esta unidade auxiliará você a compreender anos de 1980 e 2013. Os dados indicaram
Você sabia? Em uma pesquisa inter-
nacional, realizada com mais de mil
melhor a distribuição do excesso de peso um aumento substancial nas prevalências
crianças e adolescentes, entre crian- na infância e na adolescência e os diversos de sobrepeso e obesidade de crianças e
ças que aos 4 anos de idade eram fatores envolvidos na sua etiologia. adolescentes de países em desenvolvimento
obesas, em torno de 20% tornaram-
-se adultos com obesidade, e que
como o Brasil, veja a seguir (NG et al., 2014).
entre os adolescentes obesos esse 1.1.1 Prevalências de sobrepeso
percentual foi de 80% (ABARCA-GO- e obesidade em crianças 12,9%
13,5%
MEZ et al., 2017; WHO, 2016).
e adolescentes

Cada vez mais, torna-se necessária uma Considerando a relevância dos riscos 8,1% 8,4%
nova abordagem para ajudar a prevenir, associados ao aumento nas taxas de
reduzir e combater, ao mesmo tempo, a sobrepeso e obesidade, que vem ocorrendo
desnutrição e a obesidade, já que ambos de forma quase universal, a OMS adotou
os problemas estão associados às rápidas uma meta voluntária de interromper o
mudanças nos sistemas alimentares, e isso aumento da obesidade até 2025 (WHO, 2013). 1980 2013 1980 2013
tem se mostrado especialmente importante Pensando nessa necessidade, a OMS tem

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Outro estudo importante, em nível mundial, meninos (74 milhões), em 2016. Combinado, sejam afetados por sobrepeso e obesidade,
foi realizado pelo Imperial College of London o número de obesos com idade entre 5 e 19 e que aproximadamente 7% das crianças
em conjunto com a OMS. Por tratar-se de anos cresceu de 11 milhões em 1975 para menores de 5 anos de idade (3,8 milhões)
uma revisão da literatura, trouxe dados mais 124 milhões em 2016. Isso sem considerar estejam na mesma condição. Entre as crian-
fidedignos ao avaliar as taxas de sobrepeso os outros 213 milhões de crianças e ado- ças em idade escolar (6 a 11 anos), as taxas
e obesidade realizadas somente por meio de lescentes que estavam com sobrepeso no podem variar entre 15% a 35%, a depender
medidas aferidas (não foram considerados mesmo ano (ABARCA-GOMEZ et al., 2017). do país latino-americano (RIVERA et al., 2014).
dados autorreferidos). Os dados abrangeram O relatório Ending Childhood Obesity da
o período entre 1975 e 2016, abarcando um 1.1.2 Dados da América Latina e do Brasil OMS indica que no Brasil, no ano de 2014,
maior período para descrição das taxas de a prevalência de sobrepeso e obesidade em
sobrepeso e obesidade. Os autores indicaram Na América Latina e no Caribe, estima-se crianças menores de 5 anos encontrava-se
que o número de crianças e adolescentes (de que, em geral, 20% a 25% das crianças e ado- na faixa de 5% a 9,9% (WHO, 2016), conforme
5 a 19 anos) obesos em todo o mundo aumen- lescentes com menos de 19 anos de idade pode ser visto na figura a seguir.
tou dez vezes nas últimas quatro décadas, e
que se as tendências atuais de sobrepeso e
obesidade continuarem até 2022 haverá mais
crianças e adolescentes com obesidade do
que com desnutrição moderada e grave, in-
vertendo a realidade encontrada atualmente
Prevalência
no nosso país e em outros países em desen- de sobrepeso
volvimento (ABARCA-GOMEZ et al., 2017). e obesidade em
Segundo o Imperial College of London crianças menores
de 5 anos
e a OMS, de 1975 até 2016, as taxas de
obesidade em crianças e adolescentes em Sem informação
< 5.0%
todo o mundo aumentaram de menos de 1% 5.0 – 9.9%
(equivalente a cinco milhões de meninas e 10.0 – 14.9%
15.0 – 19.9%
seis milhões de meninos) para quase 6% ≥ 20%
em meninas (50 milhões) e quase 8% em

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia 23,7%, mostrando pequena variação entre os


e Estatística (IBGE) coletados em nível dois sexos (23,7% para o sexo masculino e
nacional indicam que, no Brasil, o excesso de 23,8% para o feminino) (PESQUISA NACIONAL
peso atinge 33,5% das crianças de 5 a 9 anos. DE SAÚDE DO ESCOLAR/IBGE, 2016).
A Pesquisa de Orçamentos Familiares de Ainda, os dados de 2019 do Sistema de
2008-2009 revelou, também, um acréscimo Vigilância Alimentar e Nutricional, levan-
importante no número de crianças de 5 a 9 tados em adolescentes atendidos na APS
anos com excesso de peso, considerando o indicam que 18,2% deles está com sobrepe-
período de 1974/1975 até 2008/2009: em so e aproximadamente 9% com obesidade
2008-09, 34,8% dos meninos estavam com (BRASIL, 2020a).
o peso acima da faixa considerada saudável
pela OMS. Em 1989, este índice era de 15% 1.1.3 Fatores sociais e acesso a
e em 1974-1975 era de 10,9%. Observou- ambientes obesogênicos à rápida aculturação e à falta de acesso a
se padrão semelhante nas prevalências de informações de saúde pública (ABARCA-GO-
excesso de peso nas meninas, que de 8,6% Existem estudos que indicam uma impor- MEZ et al., 2017).
na década de 1970 foram para 11,9% no final tante relação entre a obesidade e o nível de À medida que os países passam por
dos anos 1980, e chegaram aos 32% em renda familiar. Esta relação também depende rápidas transições socioeconômicas e/ou
2008-2009 (IBGE, 2010). do nível de desenvolvimento econômico do nutricionais, enfrentam uma carga dupla na
Segundo o Estudo de Riscos Cardiovas- país (WHO, 2016). Nos países de renda alta, qual coexistem a desnutrição e o ganho de
culares em Adolescentes (ERICA), multi- por exemplo, o risco de obesidade infantil peso excessivo (sobrepeso e obesidade),
cêntrico, brasileiro, 17,1% dos adolescentes tem se mostrado maior nos grupos de menor fato observado também no Brasil (WHO,
também se encontram com excesso de renda e, embora atualmente o inverso seja 2016). Nas últimas décadas, ocorreu no Brasil
peso, e mais de 8% já apresenta quadro de verdadeiro, na maioria dos países de renda a transição nutricional, esta é caracterizada
obesidade (BLOCH et al., 2016). Já, a Pesquisa baixa e média, um padrão de mudança está por mudanças nos comportamentos rela-
Nacional de Saúde do Escolar realizada no surgindo. Dentro dos países, certos subgru- cionados à alimentação e atividade física.
ano de 2015 com adolescentes de 13 a 17 pos populacionais, como crianças migrantes Acompanhe na figura a seguir.
anos, apontou uma prevalência de excesso e indígenas, correm um risco particular- Nessa transição, prevemos um padrão
de peso um pouco mais elevada, cerca de mente alto de se tornarem obesos, devido social de sobrepeso e obesidade, de forma

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CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Coexistência entre a nutrição inadequada (desnutrição) Saiba mais sobre esta entrevista
Mudanças
e o ganho de peso excessivo (sobrepeso e obesidade). acessando o link:
na dieta <https://www.paho.org/bra/index.
Mudanças das dietas tradicionais para uma alimenta- php?option=com_content&view=
article&id=6082:mais-de-um-em-
Transição ção ultraprocessada e mais densa em energia
cada-tres-paises-de-baixa-e-media-
nutricional renda-enfrentam-extremos-da-ma-
nutricao&Itemid=839>.
Desviam-se de altos níveis de ocupação e de
Mudanças na
atividade física como meio de locomoção para
atividade física Tenha em mente que, enquanto os níveis
estilos de vida mais sedentários.
de obesidade na infância e na adolescência
Fonte: WHO, 2016. continuam a aumentar, é importante levar em
consideração os fatores socioeconômicos no
que, quando o desenvolvimento de um país OMS, o diretor do departamento de nutrição contexto do nosso país. Finalmente, fica evi-
aumenta, a escassez de alimentos, a fome para saúde e desenvolvimento, Francesco dente que, à medida que o desenvolvimento
e a desnutrição se tornam menos comuns. Branca, referiu: global aumenta, projeta-se que os segmentos
Assim, os grupos (incluindo crianças e mais pobres da sociedade apresentem maio-
adolescentes) de baixa renda experimentam Todas as formas de má nutrição têm res aumentos nas taxas de sobrepeso e de
menos desnutrição, aumentando sua relativa um denominador comum – sistemas obesidade (BROYLES et al., 2015).
alimentares que não fornecem a to-
adiposidade e as taxas de sobrepeso e obe- das as pessoas dietas saudáveis, Pesquisa realizada em nível escolar na po-
sidade. No Brasil, o sobrepeso e a obesidade seguras, acessíveis e sustentáveis. pulação adolescente brasileira, em conjunto
convivem com quadros de desnutrição, assim Mudar isso exigirá ação em todos com o Ministério da Saúde, aponta que existe
os sistemas alimentares – da pro-
como em outros países de renda baixa ou dução e processamento, passando um risco de sobrepeso e obesidade mais ele-
média (BROYLES, 2015; CONDE et al., 2018; WELLS pelo comércio e distribuição, pre- vado entre os adolescentes das famílias mais
et al., 2020; UZÊDA et al., 2019; POPKIN et al., 2020). ços, marketing e rotulagem, até o pobres, sugerindo mudanças da distribuição
consumo e o desperdício. Todas as
Em entrevista, um dos principais autores políticas e investimentos relevantes do excesso de peso e da obesidade na socie-
do relatório sobre o atual estado nutricional devem ser radicalmente reexamina- dade brasileira (CONDE et al., 2018). Esse perfil
e de segurança alimentar realizado pela dos (JAACKS et al., 2019). é característico das sociedades marcadas

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

pela desigualdade social ou de renda, e está também estão associados ao nível de de- energia e pobres em nutrientes, que são ba-
associado a piores indicadores de saúde para senvolvimento econômico e humano e ao ratos e prontamente disponíveis. Ao mesmo
toda a sociedade, com menor acesso a servi- investimento realizado pelo país. Esses tempo, as oportunidades de prática de ativida-
ços sociais e de saúde para os mais pobres. fatores afetam de forma mais pontual as de física, tanto em casa quanto no ambiente
ações e escolhas individuais realizadas pela escolar, foram reduzidas e as atividades de
Acesso a espaços de promoção população. Com a globalização e a urbaniza- lazer sedentárias, baseadas em telas, como
da atividade física e alimentação ção, a exposição ao ambiente obesogênico uso de celulares, videogames, tablets e note-
adequada e saudável está aumentando, tanto nos países de alta books, são cada vez mais frequentes.
Adicionalmente aos fatores associados renda quanto nos de baixa e média renda, e Os países da América Latina começaram
ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em todos os estratos socioeconômicos. a sofrer profundas mudanças no ambiente
existem outros aspectos importantes relacio- Nas últimas décadas, têm ocorrido inten- alimentar na década de 1990, quando super-
nados ao acesso a espaços adequados para sas alterações na disponibilidade e no tipo de mercados, lojas de conveniência, restauran-
a prática de atividade física e para uma ali- alimentos ofertados, aliados a um declínio na tes de fast food e máquinas de venda auto-
mentação adequada e saudável (WHO, 2016). atividade física para transporte ou lazer, que mática começaram a ganhar um espaço de
O excesso de peso surge de uma resultaram em desequilíbrio energético, em destaque no cenário alimentar (POPKIN, 2014;
combinação da exposição da criança e do que há cada vez menos gasto de energia e MONTEIRO et al., 2013). A expansão destes es-
adolescente a um ambiente obesogênico maior ingestão de calorias, gorduras e açúca- tabelecimentos contribuiu para o aumento
e a respostas comportamentais e biológi- res. As crianças e adolescentes são expostos da oferta e venda de ultraprocessados. Na
cas inadequadas a esse ambiente. Essas a alimentos ultraprocessados, densos em América Latina, entre 2000 e 2013, a venda
respostas variam entre os indivíduos e são
fortemente influenciadas por fatores rela-
cionados ao seu ciclo vital (WHO, 2016).
Hoje, muitas crianças e adolescentes es-
tão crescendo neste contexto, que contribui
para o ganho de peso e a obesidade (WHO,
2016). O acesso a espaços que propiciem
uma alimentação adequada e saudável,
assim como a prática de atividade física,

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

de alimentos ultraprocessados e de fast Da mesma forma, o uso de aparelhos ele- desordenados, é entender e influenciar po-
food aumentou em 27,5% e 38,9%, respec- trônicos também irá variar conforme nível de sitivamente os determinantes modificáveis
tivamente, contribuindo para o aumento da renda familiar, em que, provavelmente, aque- dos comportamentos alimentares saudáveis
exposição da população a quantidades ex- les com mais vantagens socioeconômicas na infância e na adolescência.
cessivas de açúcar, sódio e gordura (OPAS, reduzirão a prática de atividade física e, conse-
2018). Esses estabelecimentos fornecem quentemente, elevarão o risco de aumentar as
predominantemente alimentos ricos em taxas de sobrepeso e obesidade em crianças e
calorias, processados, com alto teor de açú- adolescentes. O mesmo acontece em relação
car, alto teor de gordura e alto teor de sódio, ao acesso a uma alimentação adequada e
além de bebidas adoçadas com açúcar. saudável. Agora, uma pergunta a você.
Em relação aos níveis de atividade física,
imagine a diferença entre uma criança e um
Será que crianças e adolescentes de
adolescente que reside na periferia com quem diferentes classes sociais, situação
mora na região central de um município. de residência ou expostas a diferen-
Perceba que existirão diferenças nos padrões tes condições de infraestrutura urba- O sobrepeso e a obesidade são determi-
nas têm o mesmo acesso a espaços
de deslocamento utilizados, em que, provavel- iluminados e seguros de lazer, onde nados por diversos fatores, interconectados
mente, uma criança ou um adolescente de bai- possam brincar, correr, jogar bola? de maneira complexa, dentre os quais,
xa renda utilizará como meio de transporte as Você consegue pensar em algum em nível mais macro e distal, temos os
exemplo relacionado com a alimen-
caminhadas, bicicleta ou o transporte público, tação? Tente dialogar com os seus fatores contextuais seguidos por fatores
enquanto aqueles com maior renda costumam colegas a respeito. sociais e econômicos (por exemplo, nível
se deslocar de carro até o local de interesse, de desenvolvimento humano do país, crime,
aumentando os comportamentos sedentários. trânsito, renda individual, sexo, níveis de
Por outro lado, as crianças e adolescentes que 1.2 DETERMINANTES DO escolaridade, etc.), seguidos por variáveis
residem em locais de maior renda terão mais EXCESSO DE PESO psicossociais (por exemplo, suporte social,
oportunidades de realizar atividades físicas barreiras percebidas, depressão, ansiedade,
diversificadas em suas escolas, bem como de Uma abordagem importante para comba- autopercepção corporal), variáveis compor-
participarem de atividades com supervisão de ter a obesidade, e reduzir o risco do desen- tamentais (alimentação, prática de atividade
técnicos e professores. volvimento de comportamentos alimentares física, dentre outros) e variáveis biológicas

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

(por exemplo, obesidade, genética), fatores 1.2.1 Formação de hábitos alimentares


que são importantes para entender de forma Conheça mais sobre os primeiros
mil dias de vida e seu impacto na
independente e em conjunto, pois há intera- A formação das preferências e hábitos formação de hábitos alimentares e
ções prováveis nesses níveis de influência alimentares começa nos primeiros mil dias prevenção de sobrepeso e obesidade
(KLINE et al., 2017; WHO, 2016). de vida, que abrangem a fase da gestação neste link: <https://revistapesquisa.
fapesp.br/2011/01/28/mil-dias-que-
Dessa forma, fica claro que não existem (270 dias) e mais os dois primeiros anos de valem-uma-vida/>.
intervenções isoladas que possam evitar vida do bebê (730 dias). A alimentação na
o aumento da epidemia da obesidade na gestação, a amamentação, a introdução ali-
infância e na adolescência, por isso, todos mentar e a manutenção de uma alimentação Consumo de açúcar e modificação de
esses fatores precisam ser observados e saudável, ao longo dos primeiros dois anos hábitos alimentares na fase pré-escolar
trabalhados em conjunto, tanto de modo de vida, apresentam um forte impacto no Incentivar uma alimentação variada e
individual, grupal (em nível escolar, por exem- metabolismo e na saúde da criança, assim saudável na fase pré-escolar, que vai dos 2
plo), como populacional (por meio de ações como na formação dos hábitos alimentares, aos 6 anos de idade, é essencial. Dados in-
governamentais). tanto a curto quanto a longo prazo. Esses dicam que os hábitos alimentares formados
fatores poderão impactar no risco de nessa fase provavelmente persistirão na vida
sobrepeso e obesidade na infância, adoles- adulta, de modo que os padrões alimentares
Tenha sempre em mente que o risco cência e na perpetuação desse quadro ao pouco saudáveis possam ter implicações
de excesso de peso pode ser passado longo da vida (BRASIL, 2019a). para a saúde ao longo do curso da vida (WHO,
de uma geração para outra como re-
Pensando nisso, é importante entender 2016; HARRISON et al., 2015).
sultado de fatores comportamentais
e/ou biológicos. Segundo a OMS, as que as respostas comportamentais e biológi- Os hábitos nessa fase são influenciados
influências comportamentais conti- cas de uma criança ao ambiente obesogênico por fatores internos e externos, como podem
nuam por gerações, à medida que as
podem ser modeladas por processos mesmo ser vistos na figura a seguir. Por isso, a ali-
crianças herdam o status socioeconô-
mico, as normas e os comportamen- antes do nascimento e ao longo de toda a in- mentação saudável entre as crianças pode
tos culturais, assim como compor- fância, colocando um número ainda maior de representar uma estratégia eficaz de preven-
tamentos alimentares e de atividade
crianças no caminho de se tornarem obesas ção primária para reduzir o risco de doenças
física da família (WHO, 2016).
quando expostas a uma dieta não saudável e não transmissíveis, como o sobrepeso e
baixa atividade física (WHO, 2016). obesidade (KLINE, 2017; PATEL et al., 2018).

18
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Hábitos alimentares na infância formação das escolhas alimentares e na de-


Hábitos de alimentação na infância associados ao sobrepeso e à finição das preferências alimentares de seus
obesidade na adolescência filhos, já que as crianças tendem a colocar
A densidade de energia (grande em prática comportamentos alimentares
Fatores internos
quantidade de calorias em pequenas semelhantes aos de seus pais. Da mesma
• O próprio gosto e as porções de alimentos) apresenta uma forma, o estilo de vida, atitudes relacionadas
preferências alimentares forte associação com o aumento da à alimentação e satisfação ou insatisfação
da criança gordura corporal entre os grupos etários da com a imagem corporal também tendem a
infância e a adolescência. O consumo de ser próximos aos de seus pais ou cuidado-
alimentos com maior densidade energética res (SCAGLIONI et al., 2018). Essa influência
Fatores externos na infância parece estar associada com parece ser mais forte na primeira infância,
maior concentração de gordura corporal na quando as crianças observam e imitam os
• Interação com outras crianças
adolescência. Isso ocorre já que é adquirido comportamentos dos seus cuidadores em
• Interferência da mídia
• Fatores associados aos pais um padrão de alimentação pouco saudável e relação à comida.
de alta densidade energética, que se estende A ausência de monitoramento e acompa-
ao longo dos anos. Dessa forma, o excesso nhamento na alimentação de crianças e ado-
de calorias acaba sendo transformado em lescentes pelos pais se associa a um consu-
A alimentação infantil tem mudado gordura, que se deposita no próprio corpo mo consideravelmente maior de alimentos
decisivamente nos anos pré-escolares em (EMMETT; JONES, 2015). ultraprocessados (WARKETIN et al., 2018).
direção a uma maior ingestão de de calorias Monitorar as crianças na sua alimentação
e de açúcares. A maior mudança no consu- O papel dos pais na formação de hábitos consiste em guiá-las nas escolhas, dando o
mo alimentar ocorre durante o período pré- alimentares e sobrepeso/obesidade exemplo em relação à alimentação saudável,
-escolar. Após isso, os hábitos alimentares Os pais desempenham um papel impor- ofertando diariamente uma boa variedade
tendem a se manter mais estáveis (EMMETT; tante na primeira infância porque atuam de alimentos minimamente processados e
JONES, 2015). como provedores, executores e exemplo preparações culinárias (tais como frutas e
para as crianças, que ainda são altamente vegetais, cereais, leguminosas e proteínas
dependentes deles (WARKETIN et al., 2018; animais), respeitando os sinais de fome e de
GEORGE et al., 2019). Esse papel auxilia na saciedade dos seus filhos.

19
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

tendem a apresentar maior consumo desses


Fatores positiva e negativamente associados com a atuação dos pais na formação de
alimentos (SCAGLIONI et al., 2018).
hábitos alimentares saudáveis e prevenção de sobrepeso/obesidade
Certos comportamentos não intencionais,
praticados pelos pais frente à alimentação
Comprar apenas alimentos saudáveis para a Utilizar a comida como
das crianças e dos adolescentes, também
rotina alimentar, mas sem praticar proibições. recompensa ou castigo.
podem ter consequências negativas nas
Evitar realizar compras em lojas de Permitir que a TV seja ligada escolhas alimentares e, consequentemente,
conveniência e de fast foods. na hora das refeições.
no estado nutricional. Práticas coercitivas
Servir porções moderadas no prato. Criança comer sozinha, sem a de alimentação, como a restrição, podem
companhia dos pais. promover excessos alimentares em crian-
Ensinar a perceber sinais de fome e de saciedade.
Ofertar apenas os alimentos ças, aumentando o risco de problemas
Pais que dão o exemplo, mantendo uma
que a criança "aceita". subsequentes com a alimentação e o
alimentação saudável.
Disponibilidade de alimentos balanço energético (SCAGLIONE et al., 2018).
Encorajar as crianças a provarem novos A restrição do consumo alimentar das
ultraprocessados no armário
alimentos.
ao alcance das crianças. crianças e dos adolescentes parece estar
Expor as crianças a uma grande variedade de correlacionada com o nível de conhecimento
Obrigar a comer tudo o que foi
alimentos. dos pais e a supervalorização do peso e da
servido.
Exposição repetida a alimentos saudáveis. forma corporal, e tem sido associada a vá-
Proibir o consumo de certos
rias características demográficas dos pais,
Compartilhamento das refeições – comer em alimentos.
companhia dos pais. incluindo menor idade e escolaridade.
Pressionar a criança a comer, geralmente
Fonte: SCAGLIONI et al., 2018. durante as refeições, também é uma prá-
tica comum, que pode substituir as pistas
O monitoramento da alimentação dos cessados) e negativamente associado a internas de fome e saciedade e associar-se
filhos pelos pais tem sido repetidamente uma alimentação não saudável. Crianças e a comer além das necessidades. Isso pode
associado positivamente a resultados adolescentes cujos pais consomem mais levar consequentemente ao aumento da adi-
mais saudáveis (como menor consumo de frutas e vegetais, e apresentam orientações posidade (SCAGLIONE et al., 2018; WARKETING
bebidas doces e outros alimentos ultrapro- sobre o consumo diário de frutas e vegetais, et al., 2018).

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

O uso de controle excessivo sobre a e de alta densidade energética, o que aumenta Crianças e adolescentes que participam
alimentação de uma criança desconsidera a probabilidade de ganho de peso excessivo de menos refeições em família consomem
a sua independência. Pelo contrário, ser (SCAGLIONI et al., 2018; PATEL et al., 2018). mais alimentos não saudáveis. Existe uma
indulgente com os pedidos de comida de Além disso, a oferta de alimentos pelos relação positiva entre refeições familiares
uma criança também é inadequado, pois pais para controlar emoções negativas é frequentes e maior consumo de alimentos
pode anular a capacidade de uma criança de outra prática coercitiva que associada ao au- saudáveis (ou seja, frutas, vegetais e
comer de acordo com sinais internos de fome mento do IMC da criança e a comer na ausên- alimentos ricos em cálcio). Estudos indicam
e saciedade. Esses dois comportamentos, cia de fome. Os adultos que recordam o uso que comer a mesma comida que os pais
quando realizados pelos pais, podem levar de alimentos pelos pais para controlar seus parece ser o melhor preditor do consumo de
ao excesso de ganho de peso (SCAGLIONI et comportamentos quando crianças, por meio vegetais em idade pré-escolar (SCAGLIONI et
al., 2018; PATEL et al., 2018). de recompensa ou punição, também relatam al., 2018; HARRISON et al., 2015).
O uso de ameaças/premiações baseadas níveis mais altos de compulsão alimentar e São vários os benefícios de compartilhar
em alimentos se associa com o aumento de restrição alimentar (PATEL et al., 2018). três ou mais refeições familiares por sema-
peso na infância e com maior probabilidade na. Confira!
de apresentar comportamentos alimentares Comer na companhia dos pais
obesogênicos, como comer emocionalmen- e qualidade na alimentação Benefícios de compartilhar refeições
te, tanto na infância como na adolescência As refeições em família e as interações
(PATEL et al., 2018). Esses fatores parecem sociais durante as refeições são eventos Redução do excesso de peso
afetar também o IMC (peso dividido pela es- importantes na vida de uma criança e um
tatura elevada ao quadrado) na idade adulta. adolescente, e estão ligadas ao estado nu-
Isso ocorre porque o status de recompensa tricional, assim como ao desenvolvimento Redução do consumo de
alimentos não saudáveis
colocado nos alimentos restritos aumenta o de seus padrões alimentares. Existem re-
valor afetivo do alimento e a conveniência, lações entre a frequência das refeições em
Redução das taxas de
aumentando assim a probabilidade de serem família e ingestão de nutrientes, consumo
desordem alimentar
consumidos em quantidades excessivas. de alimentos, obesidade, práticas alimen-
Normalmente, os alimentos utilizados como tares perturbadas/desordenadas e efeitos
Aumento do consumo de
forma de punição ou premiação tendem a ser psicossociais em todas as faixas etárias alimentos saudáveis
alimentos ultraprocessados, hiperpalatáveis (SCAGLIONI et al., 2018; DALLACKER et al., 2018).

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Alimentos ultraprocessados e excesso extremamente hiperpalatáveis, os alimentos de saciedade, aumentando a ingestão


de peso em crianças e adolescentes ultraprocessados tendem a modificar as de calorias.
O consumo de alimentos ultraproces- preferências alimentares de crianças e ado- • Comer rapidamente e sem companhia.
sados tem sido apontado como fator de lescentes, reduzindo consideravelmente a
risco para o aumento da obesidade, medido aceitação de alimentos in natura ou minima- Bebidas açucaradas e açúcares
pelo IMC, entre adolescentes e adultos, mente processados como frutas, vegetais de adição como determinantes
visto que as vendas e ofertas de alimentos e preparações caseiras (COSTA et al., 2018; de sobrepeso e obesidade em
ultraprocessados têm aumentado paralela- RAUBER et al., 2015; LEFFA et al., 2020). crianças e adolescentes
mente às taxas de sobrepeso e obesidade O consumo de alimentos ultraprocessa- Dentre os alimentos ultraprocessados,
ao redor do mundo, principalmente entre os dos relaciona-se a comportamentos não sau- as bebidas açucaradas (como sucos em pó,
mais jovens. dáveis, que aumentam o consumo calórico sucos de caixinha e refrigerantes) ganham
Adicionalmente, há um corpo crescente e, consequentemente, o risco de obesidade destaque por serem altamente consumidas
de evidências acerca do impacto do con- em crianças e adolescentes. Dentre os entre crianças e adolescentes. As bases
sumo de alimentos ultraprocessados em principais comportamentos, podemos citar: fisiológicas para a interpretação desses
diversas condições de saúde em crianças • Comer sem atenção plena, assistindo achados incluem a saciedade, já que o açú-
e adolescentes. Estudos realizados nesses à televisão, utilizando celulares, car parece causar menos saciedade quando
grupos mostraram que o consumo de ali- tablets ou até mesmo comer dentro fornecido em forma líquida se comparado
mentos ultraprocessados foi associado ao do carro em locomoção. Nessas situa- com a forma sólida, contribuindo, então, para
aumento das concentrações de colesterol ções, perdem-se os sinais de fome e uma incompleta compensação de energia.
total e LDL-colesterol, triglicerídeos, adiposi-
dade abdominal e corporal e cáries.
O consumo de alimentos ultraprocessa-
dos está associado ao aumento dos níveis O papel das bebidas açucaradas na promoção da obesidade
de gordura corporal em função da sua ele- tem sido debatido extensivamente em anos recentes e a
vada concentração de açúcares de adição, redução do seu consumo tem sido considerada uma estratégia
importante no controle de peso de crianças e adolescentes
gorduras e densidade energética, além do
(WHO, 2016).
seu baixo conteúdo em fibras alimentares e
proteínas de alto valor biológico. Por serem

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

O açúcar é considerado um dos itens Influência do ambiente escolar na da América Latina. No Brasil, as cantinas e
mais importantes de um amplo mercado de formação de hábitos alimentares e os estabelecimentos que oferecem princi-
alimentos não saudáveis que frequentemente prevenção de sobrepeso e obesidade palmente alimentos ultraprocessados (ricos
minam as estratégias educacionais e de Há fortes evidências de que o ambiente em energia e pobres em nutrientes) estão
modificação comportamental entre jovens escolar influencia nas escolhas alimentares frequentemente situados perto das escolas
(SICHIERI; SOUZA, 2008). e, portanto, no estado nutricional das crian- públicas e, consequentemente, crianças e
ças e adolescentes (COMINATO et al., 2018). adolescentes compram fast food de baixa
Incentivo e incorporação de habilidades qualidade nutricional. Ações que visem
culinárias entre pais e filhos transformar esse ambiente obesogênico em
Uma das recomendações do novo guia ambiente saudável e favorável a escolhas
alimentar para a população brasileira é a mais saudáveis contribuem para o combate
divisão de tarefas na cozinha, no momento a obesidade infantil (COMINATO et al., 2018).
de organizar e preparar as refeições. A Apesar desses fatores, que estão nega-
incorporação de habilidades culinárias tivamente associados com a formação de
parece estar relacionada a uma maior hábitos alimentares saudáveis, a escola
consciência alimentar na infância, assim pode ser considerada como um espaço de
como a uma maior aceitabilidade de promoção da saúde pelo papel destacado na
alimentos minimamente processados e formação cidadã, estimulando a autonomia,
a preparações culinárias. Famílias que o exercício dos direitos e deveres, o controle
incorporam hábitos de preparo de alimentos e A disponibilidade de alimentos de baixa das condições de saúde e qualidade de vida,
divisão de tarefas, tendem a consumir menor qualidade nutricional oferecidos nas esco- bem como na obtenção de comportamentos
quantidade de alimentos ultraprocessados las, como bebidas açucaradas e alimentos e atitudes considerados como saudáveis.
na rotina alimentar, o que pode impactar ultraprocessados, está associada a um maior No Brasil e no mundo, há indícios que
positivamente na redução das prevalências consumo desses produtos por crianças e o IMC médio de adolescentes escolares é
de sobrepeso e obesidade na infância e na adolescentes ao longo do dia, fora do horário maior em escolas cujas cantinas vendem
adolescência (MARTINS et al., 2020). escolar. Uma série de fatores pode influenciar alimentos ultraprocessados como refrige-
a compra de ultraprocessados nas escolas rantes e guloseimas em relação às que não

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

vendem (CLINTON-MCHARG et al., 2018; MENE- dificação do comportamento alimentar e na Consumo habitual do café da manhã
GOTTO, 2018; ROSSI et al., 2019). prevenção do excesso de peso, que devem, O hábito de consumir o café da manhã
Considerando estes resultados, no Brasil, portanto, ser consideradas no planejamento diariamente parece ser um padrão de ali-
algumas regiões já estabeleceram a Lei das de estratégias para prevenção do sobrepeso mentação capaz de prevenir o sobrepeso e a
Cantinas Saudáveis, em que diversos tipos e da obesidade em crianças e adolescentes. obesidade. Crianças e adolescentes que cos-
de alimentos ultraprocessados não podem tumam pular o café da manhã apresentam
ser comercializados, melhorando a quali- 1.2.2 Padrões e comportamentos maior risco de ter sobrepeso e/ou obesidade,
dade nutricional dos alimentos adquiridos alimentares sendo esta relação ainda mais consistente
pelos escolares. As escolas públicas, por em adolescentes (BLONDIN et al., 2016; ARDE-
meio do Programa Nacional de Alimentação Existem alguns fatores que são SHIRLARIJIANI et al., 2018). Adicionalmente, a
Escolar, garantem, além de uma alimentação observados em nível individual, dentre os qualidade nutricional do café da manhã im-
equilibrada, ações de educação nutricional quais os padrões alimentares diários, que pacta nas escolhas alimentares e qualidade
para profissionais e alunos das diversas abrangem: nutricional das refeições subsequentes. Ao
instituições de ensino ao redor do país. • A frequência em que a criança ou que parece, as escolhas realizadas no café
As atividades educativas promotoras de adolescente se alimenta. da manhã podem ser capazes de influenciar
saúde na escola, em particular a Promoção • Os momentos do dia em que a criança o apetite e o nível de saciedade ao longo do
da Alimentação Saudável (PAS), se mostram ou adolescente se alimenta. dia (BLONDIN et al., 2016).
como fatores propulsores da saúde, autoesti- • O intervalo de horários em que as
ma, comportamentos saudáveis e desenvol- refeições acontecem.
vimento de habilidades para a vida de todos • A qualidade nutricional da alimentação.
os membros da comunidade escolar. Tais Os padrões e comportamentos alimen-
atividades devem ser implementadas por tares têm recebido considerável atenção
meio de ações intersetoriais e transversais, pelo seu potencial papel na prevenção da
com inclusão do tema no projeto pedagógico obesidade (GARAULET; GOMEZ-ABELLÁN, 2014).
das escolas (CAMOZZI et al., 2015). Esses podem influenciar, por exemplo, na
Pensando nisso, destacamos a eficácia forma em que as calorias são consumidas,
potencial das intervenções escolares na mo- assimiladas e/ou gastas.

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Finalmente, a presença e companhia dos açúcares e gorduras, também conhecidos 1.2.3 Fatores genéticos
pais no momento de tomar o café da manhã como “comfort foods”, é frequentemente
se destacam como um fator importante na observado como forma de evitar estresse O papel dos genes na obesidade é de
formação de hábitos alimentares saudáveis. (BRAET et al., 2014). grande importância, especialmente na infân-
Quando os pais têm o hábito de tomar o Confira algumas informações importantes cia. Uma criança cujo pai e mãe são obesos
café da manhã com os filhos, o consumo sobre o tema ! tem de dez a doze vezes mais chances de ter
de bebidas açucaradas tende a diminuir
(SCAGLIONI et al., 2018).
Sentimentos de estresse podem afetar o comportamento alimentar
Tamanho das porções durante as refeições ou por meio de lanches.
Outra estratégia de marketing que tem Especificamente sob estresse leve, já é observado um consumo maior
sido difícil de combater diz respeito ao de alimentos em aproximadamente 30% a 43% de crianças e
maior tamanho das porções de alimentos ul- adolescentes, levando-os a escolhas alimentares não saudáveis, alto
traprocessados. O aumento do tamanho das consumo de alimentos ricos em gordura e açúcar, alimentação na
porções de alimentos com alta densidade ausência de fome e um padrão alimentar mais desequilibrado.
energética, comercializados em supermer-
Para crianças e adolescentes com risco genético de excesso de peso,
cados e lojas de conveniência, pode ser um isso deve ser visto ainda com maior precaução.
fator importante na manutenção/aquisição
de um alto consumo energético, levando ao O ato de comer emocional é bastante observado e relatado por
consumo excessivo e consequente aumento adolescentes que, quando crianças, eram ensinadas a lidar com
das taxas de excesso de peso na população atitudes de premiação ou punição relacionadas a comidas com alta
densidade energética (SCAGLIONE et al., 2018).
(SCAGLIONI et al., 2018).
Como esses episódios de comer, em função de situações de estresse
Comer emocional ou de sensação de perda de controle, levam a escolha de alimentos
O ato do comer emocional, que leva ultraprocessados e densamente calóricos, há maior chance de
ao consumo aumentado de alimentos de ultrapassar as necessidades energéticas, levando a um ganho de peso
alta densidade de calorias provenientes de e, consequentemente, ao sobrepeso ou à obesidade.

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

obesidade se comparada àquelas crianças Estado de desnutrição metabólicas e obesidade. Essa via também
que têm ambos os pais com peso saudável Um deles é resultado do estado de des- pode envolver processos epigenéticos. Pes-
(WHITAKER, 2010). A base genética dessa as- nutrição, que pode ter acontecido durante quisas recentes indicam que a obesidade pa-
sociação sugere uma relação com um genóti- o desenvolvimento fetal e/ou na primeira terna também pode contribuir para um maior
po chamado gene FTO. Sugere-se que, devido infância que, juntamente com os efeitos am- risco de obesidade na criança (MCPHERSON et
à sua atuação no hipotálamo, por meio da bientais (ausência/presença de aleitamento al., 2014), provavelmente por meio de meca-
ligação direta com o controle do apetite e o materno, qualidade da alimentação, exposi- nismos epigenéticos. A alimentação infantil
acúmulo de gordura, ocorre uma estimulação ção a alimentos açucarados, etc.), alteram a inadequada também é capaz de afetar o
nessa região, que faz com que haja limite no função do gene (o que chamamos de efeitos desenvolvimento da biologia da criança.
uso da gordura e ela seja poupada. epigenéticos) e que muitas vezes podem
Adicionalmente, os fatores biológicos/ ser observados apenas alguns anos depois
genéticos podem levar a um aumento no ou até somente na vida adulta. As crianças
risco de obesidade em crianças, por meio que sofreram desnutrição e nasceram com
de duas vias gerais de desenvolvimento que baixo peso ou têm baixa estatura têm um
envolvem o que chamamos de Epigenética. risco muito maior de desenvolver sobrepeso
e obesidade em algum momento da vida,
quando expostas a dietas densas em ener-
Epigenética pode ser definida como
o estudo de alterações regulatórias gia, ricas em alimentos ultraprocessados e
herdáveis na expressão genética do com um estilo de vida sedentário (WHO, 2016;
ser humano, sem ocorrer alterações HANSON; GLUCKMAN, 2014).
na sequência de nucleotídeos. As
modificações epigenéticas podem
ser acionadas por fatores ambientais Fator biológico na gravidez Segundo a OMS, embora estudos
e alimentares ou associados à saúde Um segundo fator biológico se caracteriza longitudinais sugiram que a melhoria do
intestinal (microbiota intestinal).
por uma gravidez que inicia com um quadro IMC na idade adulta pode reduzir o risco
de obesidade ou diabetes pré-existente ou de morbimortalidade, a obesidade infantil
Veja, agora, mais informações sobre no desenvolvimento de diabetes gestacio- deixará uma marca permanente na saúde do
esses fatores que aumentam o risco de nal. Isso predispõe a criança a aumentar os adulto, em função das marcas epigenéticas
obesidade em crianças. depósitos de gordura associados a doenças previamente citadas (WHO, 2016).

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

1.2.4 Atividade física e


comportamento sedentário

Considerando os fatores ambientais,


tais como falta de acesso ou redução de
espaços de lazer e de prática de atividades
físicas, seja por questões de insegurança
ou devido às transformações tecnológicas
vinculadas a cliques de botões e uso de
telas, observa-se que a baixa prevalência de
prática de atividade física está rapidamente
se tornando a norma social na maioria dos
países, um fator importante na epidemia de
obesidade. Atualmente, em torno de 80% das O tempo que as crianças passam diante • Aumento do consumo de alimentos
crianças e adolescentes não alcançam os 60 de telas, que é uma oportunidade para ultraprocessados.
minutos de atividade física recomendados o consumo de alimentos e exposição à • Marketing agressivo nas propagandas
por dia para esta faixa etária (WHO, 2016; publicidade de alimentos, vem aumentando veiculadas na televisão e que exercem
NARCISO et al., 2019). consideravelmente com o passar dos anos. uma influência negativa nas escolhas
A prática regular de atividade física Maior tempo gasto em frente à televisão e ao e atitudes alimentares.
é capaz de reduzir o risco de diabetes, computador são condutas sedentárias que Uma prática bastante frequente, que é
doenças cardiovasculares e cânceres, assim têm sido relacionadas ao ganho de peso e à assistir à televisão durante as refeições
como é capaz de melhorar a capacidade obesidade na infância. Alguns mecanismos da família, parece negar os benefícios
das crianças de aprender, melhorar sua têm sido propostos na tentativa de explicar associados às refeições compartilhadas. Os
saúde mental e bem-estar. A obesidade, por essa relação (NARCISO et al., 2019; SCAGLIONI indivíduos que assistem à televisão enquanto
sua vez, reduz a atividade física, criando et al., 2018), dentre eles: comem podem ter mais chances de comer
um ciclo vicioso de aumento dos níveis de • Diminuição do tempo gasto com em excesso, além de aprenderem hábitos
gordura corporal e declínio dessa prática atividade física. alimentares não saudáveis vinculados a
(COMINATO et al., 2018). • Maior consumo calórico. anúncios e programas (SCAGLIONI et al., 2018).

27
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 1
CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASPECTOS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Você sabia que crianças que assis-


tem à televisão, durante duas ou
mais refeições por dia, consomem
menos porções de alimentos saudá-
veis e mais carne vermelha/proces-
sada e alimentos ultraprocessados,
do que crianças de famílias nas
quais a televisão nunca está ligada
durante as refeições (SCAGLIONI et
al., 2018)?

Nesta unidade, vimos questões impor-


tantes sobre os aspectos do sobrepeso e
da obesidade em crianças e adolescentes,
possibilitando compreender a importância
de sua prevenção e o impacto desses males
no desenvolvimento de comorbidades e,
consequentemente, nos gastos em saúde
pelos governos.
Além disso, conhecemos as prevalências
de sobrepeso e obesidade em nível mundial
e nacional e o impacto do ambiente e de fato-
res sociais no desenvolvimento de contextos
obesogênicos. Também, aprofundamos co-
nhecimentos sobre os diversos determinan-
tes comportamentais, ambientais, genéticos
e biológicos associados ao sobrepeso e à
obesidade em crianças e adolescentes.

28
UN2
PROCESSO DE TRABALHO
NA ATENÇÃO NUTRICIONAL
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Nesta unidade, abordaremos os


principais programas e ações públicas –
setoriais e intersetoriais – que podem apoiar
o comportamento alimentar, além das
especificidades em crianças e adolescentes,
com vistas à prevenção e ao controle do
excesso de peso no contexto da APS.

2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS


DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO
PARA CONTROLE E PREVENÇÃO O público infanto-juvenil é considerado
DO SOBREPESO E DA OBESIDADE prioridade em ações de prevenção e controle
da obesidade no Brasil. Dessa forma, a
Diante das taxas de ocorrência relevantes prevenção e o controle da obesidade infantil
de excesso de peso entre crianças e devem ser pautados em políticas públicas,
adolescentes brasileiros, existem políticas dentre as quais aquelas voltadas ao ambiente
públicas e ações que contribuem para escolar (BATISTA et al., 2017). A escola, de fato,
instrumentalizar os profissionais para é reconhecida como local privilegiado para a
trabalhar a temática junto à população promoção da saúde e execução de ações vi-
vinculada aos territórios de saúde. Nesse sando o combate ao excesso de peso (FREITAS
contexto, é necessário reconhecer a et al., 2014). Para a execução de intervenções
importância de programas de promoção da efetivas no ambiente escolar, é fundamental
saúde, visando estimular hábitos alimentares que haja integração e planejamento conjunto
saudáveis e práticas de atividades físicas entre os profissionais das equipes das uni-
regulares como estratégias de enfrentamento dades educativas e das equipes da saúde,
do excesso de peso corporal (REIS et al., 2011; com vistas a otimizar o desenvolvimento das
FREITAS et al., 2014), especialmente entre ações previstas nas políticas públicas e a
crianças e adolescentes. qualificação dessas ações.

30
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

No que se refere às políticas públicas O público-alvo desse programa inclui veis e colaboram com a aprendizagem, a
direcionadas à promoção da saúde dos estudantes de todas as etapas da educação boa saúde do escolar e a qualidade de vida
escolares no Brasil, destacam-se o Programa básica pública (educação infantil, ensino (BRASIL, 2009; CECANE/SC, 2018).
Saúde na Escola (PSE), o Programa Nacional fundamental, ensino médio e educação de Outro ponto que merece destaque, o PNAE
de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa jovens e adultos) matriculados em escolas propõe amplo enfoque à relação do escolar e
Crescer Saudável. PNAE e PSE são, inclusive, públicas, filantrópicas e em entidades do alimento a ele oferecido com as cadeias
elencados no eixo de promoção à saúde do comunitárias (conveniadas com o poder produtivas de alimentos. No contexto do
Plano de Ações Estratégicas para o Enfrenta- público) (BRASIL, 2009; BRASIL, 2013a). programa, é enfatizada a importância da
mento das Doenças Crônicas Não Transmis- Você conhece o propósito do PNAE? aquisição de alimentos saudáveis e com vín-
síveis no Brasil, o qual tem como uma de suas O programa tem como objetivo principal culo local, produzidos por meio da agricultura
metas a redução da prevalência de obesidade contribuir para o crescimento e o desenvol- familiar e empreendedores familiares rurais.
em crianças e adolescentes no período vimento biopsicossocial, a aprendizagem, o Ainda no âmbito do PNAE, vale mencionar
entre 2011 e 2022. Vamos, então, conhecer rendimento escolar e a formação de hábitos a Resolução n° 6, de 8 de maio de 2020, que
brevemente esses programas relacionados alimentares saudáveis em escolares (BRASIL, destaca a importância de se valorizar, na
à saúde da criança e do adolescente e que 2009). Destaca-se a importância das estra- alimentação escolar, as recomendações do
envolvem o ambiente escolar, acompanhe! tégias propostas pelo PNAE relacionadas à Guia Alimentar para a População Brasileira e
educação alimentar e nutricional, além da do Guia Alimentar para crianças menores de
2.1.1 Programa Nacional de oferta de refeições que cubram as necessi- dois anos (BRASIL, 2014a; BRASIL, 2019a), visto
Alimentação Escolar (PNAE) dades nutricionais dos estudantes durante o que a ampliação da oferta de alimentos in na-
período letivo, as quais estimulam a adoção tura ou minimamente processados e a restri-
O Programa Nacional de Alimentação de práticas e escolhas alimentares saudá- ção da oferta de alimentos ultraprocessados
Escolar (PNAE) corresponde ao programa
mais antigo na área de alimentação escolar e
de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN)
no Brasil. Com mais de 60 anos de história, o
programa é gerenciado pelo Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e
possui caráter de atendimento universal.

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

pode contribuir com promoção da saúde, do rede pública de educação básica, por meio
crescimento e do desenvolvimento infantil de ações de prevenção, promoção e atenção Avaliação nutricional
(BRASIL, 2020b). O PNAE corresponde, portan- à saúde. O PSE objetiva, ainda, contribuir
to, a um programa com ações voltadas ao com enfrentamento das vulnerabilidades
ambiente escolar que podem contribuir com que comprometem o pleno desenvolvimento Promoção da
o enfrentamento e a prevenção de obesidade de crianças e jovens da rede pública de ensi- alimentação saudável
e sobrepeso de crianças e adolescentes. no (BRASIL, 2007a). O PSE é considerado um
espaço privilegiado para execução de práti- Educação permanente
cas de promoção e de prevenção de agravos em saúde
Para conhecer mais sobre o PNAE, e doenças como, por exemplo, o excesso de
assista ao vídeo disponível em:
<https://www.youtube.com/ peso. Além disso, o programa possibilita a Atividade física
watch?v=OGNvyi2CWoI>. integração e a articulação permanente entre
as políticas e ações de educação e de saú-
de, com a participação da comunidade es- Inclusão das temáticas de
2.1.2 Programa Saúde na Escola (PSE) educação em saúde no projeto
colar, envolvendo ainda as equipes de saúde
político pedagógico das escolas
da família e da educação básica.
Agora vamos conhecer o Programa Saú-
O PSE está organizado em diferentes
de na Escola (PSE), uma política intersetorial
componentes e suas respectivas ações.
da saúde e da educação que visa contribuir
Dentre as principais ações que podem 2.1.3 Programa Crescer Saudável
para a formação integral dos estudantes da
contribuir com a prevenção e o controle do
sobrepeso e da obesidade destacam-se, O Programa Crescer Saudável é uma agen-
entre outros, os itens ao lado (BRASIL, 2007a). da coordenada pelo SUS na qual prevalece
a articulação intersetorial, primordialmente
com a educação, em função da complexida-
Conheça um pouco mais sobre o
PSE, acessando o link: de dos determinantes da obesidade infantil
<https://www.youtube.com/ e da influência dos ambientes no seu desen-
watch?v=Al65bpmCsBcs>. volvimento.

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

a obesidade infantil. Dessa forma, essas monitoramento da situação nutricional dos


ações abrangem os seguintes cuidados: escolares, como também restrição ao co-
• Cuidados relativos à alimentação e mércio e à promoção comercial no ambiente
nutrição voltados à vigilância nutricional, escolar de alimentos e preparações com
à promoção da alimentação adequada e altos teores de gordura saturada, gordura
saudável. trans, açúcar livre e sal, além de incentivo ao
• Incentivo à prática corporal e de atividade consumo de frutas, legumes e verduras.
física e mudança de comportamento. A seguir, você conhecerá a Política
O programa se propõe a contribuir com o • Ações relacionadas à oferta de cuidados Nacional de Atenção Integral à Saúde da
enfrentamento da obesidade infantil no país para as crianças que apresentam obesi- Criança, uma importante política que engloba
e engloba ações realizadas no âmbito do dade. ações desde o período da primeira infância.
Programa Saúde na Escola. O público-alvo
do Programa Crescer Saudável são crianças 2.1.4 Portaria Interministerial nº 1.010 2.1.5 Política Nacional de Atenção Integral
matriculadas na Educação Infantil e Ensino à Saúde da Criança (PNAISC)
Fundamental I do país, e são considerados Ainda em relação às estratégias que
como prioritários, para recebimento de podem contribuir com o enfrentamento A Política Nacional de Atenção Integral
recursos desse programa, os municípios do excesso de peso em escolares, vale à Saúde da Criança (PNAISC), instituída no
com maior prevalência de excesso de peso lembrar a Portaria Interministerial nº 1.010, âmbito do SUS, tem como objetivo principal
nesta faixa etária (BRASIL, 2019b). de maio de 2006, que institui diretrizes para promover e proteger a saúde da criança e o
Nesse contexto, você pode estar se a promoção da alimentação saudável nas aleitamento materno. Para tanto, a política
perguntando, o que envolve então o Programa escolas de educação infantil, fundamental enfatiza a importância da atenção e de
Crescer Saudável? e nível médio das redes públicas e privadas, cuidados integrais e integrados da gestação
Primeiramente, é fundamental que você em âmbito nacional (BRASIL, 2006a). aos nove anos de vida, com especial atenção
saiba que o programa consiste em um As diretrizes dessa portaria se baseiam à primeira infância e às populações de maior
conjunto de ações articuladas que visam em ações de educação alimentar e nutri- vulnerabilidade.
garantir o adequado acompanhamento do cional, estímulo à produção de hortas no A política leva em consideração os
crescimento e desenvolvimento na infância, ambiente escolar, estímulo à implantação de determinantes sociais e condicionantes
com vistas a prevenir, controlar e tratar boas práticas de manipulação de alimentos, para garantir o direito à vida e à saúde.

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

• aleitamento materno e alimentação


complementar saudável;
• promoção e acompanhamento do cres-
cimento e do desenvolvimento integral;
• atenção integral a crianças com
agravos prevalentes na infância e com
doenças crônicas.
Dessa forma, você pode perceber que Na atualidade, praticamente todos os
corresponde a uma importante política, que polos do Programa Academia da Saúde
engloba estratégias que podem auxiliar na estão desenvolvendo atividades com
prevenção do excesso de peso em crianças. adultos e idosos, e aproximadamente
três em cada quatro polos (73%) também
desenvolvem atividades com adolescentes.
No vídeo indicado no link a seguir, Por outro lado, atividades desenvolvidas
você poderá obter mais detalhes so-
com crianças (35%) ainda são menos
bre a Política Nacional de Atenção
Propõe-se a contribuir com a efetivação de Integral à Saúde da Criança e seus frequentes (BRASIL, 2018).
medidas que permitam o nascimento e o eixos estratégicos: O Programa Academia da Saúde
<https://www.youtube.com/
pleno desenvolvimento na infância, de ma- preconiza uma perspectiva positiva da
watch?v=rzide7nnUp0>.
neira saudável e harmoniosa, bem como a saúde, tendo a intergeracionalidade como
redução de vulnerabilidades e riscos para o princípio, o que inclui a oferta de atividades
adoecimento e outros agravos, a prevenção para pessoas nos diferentes ciclos de vida
2.1.6 Programa academia da saúde
das doenças crônicas na vida adulta e da – crianças, adolescentes, jovens, adultos
morte prematura de crianças (BRASIL, 2015a). e idosos –, independentemente de sua
Outro importante programa que tem o
A PNAISC se estrutura em sete eixos condição de saúde.
potencial de contribuir com a prevenção e o
estratégicos, com a finalidade de orientar As práticas corporais e atividades físicas
controle do excesso de peso na população
e qualificar as ações e serviços de saúde são as principais atividades desenvolvidas
é o Programa Academia da Saúde (BRASIL,
voltados à criança. Como exemplos, citam- nos polos do Programa Academia da Saúde.
2011a; BRASIL, 2013b).
se os eixos: Algumas dessas atividades, que podem ser

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

praticadas pelo público infanto-juvenil, são alimentar de crianças, adolescentes, adul- 2.1.8 Promoção da Alimentação
danças, jogos e brincadeiras, indicando que tos, idosos e gestantes. O Sisvan reúne as Adequada e Saudável por
o programa pode incorporar a dimensão informações registradas tanto no próprio meio de Guias Alimentares
lúdica e cultural em suas atividades, aspecto Sisvan Web, quanto no Sistema de Gestão do
fundamental na promoção da saúde, na Programa Bolsa Família na Saúde e no Siste- As recomendações para uma alimentação
prevenção e no manejo do excesso de peso ma de Informação em Saúde para Atenção adequada e saudável estão dispostas
em crianças e adolescentes. Básica (Sisab). nos Guias Alimentares para a População
O Sisvan ressalta a importância do Brasileira e para Crianças Brasileiras
2.1.7 Ações de Vigilância Alimentar monitoramento sistemático de peso e Menores de Dois anos (BRASIL, 2014a;
e Nutricional (VAN) na Atenção altura para delineamento e implementação BRASIL, 2019a). Tais orientações apoiam a
Primária à Saúde (APS) de ações voltadas à organização da adoção de escolhas alimentares saudáveis
Atenção Nutricional no SUS - promoção da e problematizam os principais desafios
A VAN realizada na APS compreende alimentação adequada e saudável, vigilância encontrados pela população para adoção
a descrição contínua e a predição de alimentar e nutricional e atenção precoce de hábitos alimentares. Neste sentido,
tendências da alimentação e nutrição da e oportuna dos casos de desnutrição e as recomendações contidas nos Guias
população e seus fatores determinantes e é obesidade. Em 2019, mais de 30,4 milhões Alimentares também podem servir como
uma ação imprescindível para a gestão dos de pessoas tiveram peso e altura aferidos e ferramentas para a prevenção de sobrepeso
cuidados em saúde na APS. O Sistema de registrados durante os acompanhamentos e obesidade na população infanto-juvenil.
Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) realizados pelas equipes de APS em todo o Agora que você conheceu um pouco mais
é a principal ferramenta utilizada para a país. Destes, pouco mais de 900 mil crianças sobre essas políticas e esses programas
gestão das informações de VAN na APS. A apresentavam obesidade. que podem contribuir com a prevenção e o
partir do diagnóstico alimentar e nutricional controle da obesidade na infância e adoles-
individual ou coletivo de um território, as cência, faça uma reflexão, considerando a
equipes de APS podem organizar ações Acesse o link descrito a seguir para sua prática profissional: quais são as ações
conhecer os relatórios públicos do
adequadas à realidade local. Sisvan: <http://sisaps.saude.gov.br/ relacionadas às políticas públicas de alimen-
Os dados disponíveis incluem as infor- sisvan/relatoriopublico/index>. tação e nutrição realizadas no território de
mações de estado nutricional e de consumo saúde em que você trabalha?

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

2.2 ESPECIFICIDADES DE ALIMENTAÇÃO crônicas não transmissíveis na infância,


E NUTRIÇÃO EM CRIANÇAS já que inadequações na ingestão de
nutrientes podem comprometer o estado
O cenário atual, no que se refere a sobre- nutricional e, consequentemente, levar ao
peso e obesidade, é de grande preocupação desenvolvimento de carências ou excessos
entre as crianças, por representarem um nutricionais (SCAGLIONI et al., 2018; WHO, 2016).
grupo de grande vulnerabilidade, devido ao Por outro lado, crianças submetidas a
crescimento rápido, imaturidade fisiológica práticas alimentares adequadas alcançam
e imunológica. Desse modo, os profissionais seu desenvolvimento normal e se tornam
da saúde devem unir forças de modo a adultos mais saudáveis, com estado
garantir uma nutrição adequada desde os nutricional adequado, maior capacidade
primeiros anos de vida, por ser uma fase intelectual e produtiva. mais tarde. As crianças apresentam o que
fundamental para o crescimento e o desen- costuma ser chamado de neofobia ou seleti-
volvimento saudáveis, que irão refletir até a 2.2.1 Dificuldades alimentares vidade alimentar, isto é, a relutância, o medo,
vida adulta (CARVALHO et al., 2015). a recusa em consumir novos alimentos na
Na faixa etária entre 2 e 7 anos, a criança Antes de ser essencial para a sobrevivên- primeira oferta, porém elas possuem algu-
sofre grandes influências dos hábitos cia, a alimentação é, também, um meio de mas características diferentes, conforme
alimentares. A formação da preferência interação da criança com o mundo, ou seja, o pode ser visto a seguir (SCAGLIONI, 2018;
da criança pode decorrer da observação relacionamento que a criança tem desde os WEFFORT, 2009).
e imitação dos alimentos escolhidos por primeiros dias com a comida e com a mãe
familiares, outras pessoas e inclusive é que estabelecem sua conduta alimentar. Neofobia alimentar
crianças que convivem em seu ambiente. A relação emocional, que tem início no A neofobia alimentar quer dizer medo
Com isso, esse é um momento em que aleitamento materno e, depois, ao receber o de consumir alimentos novos, que de início
precisam ser trabalhados vários pontos alimento dos adultos, em uma perpetuação são considerados estranhos. Muitas vezes,
importantes, como dificuldades alimentares, da relação de bem-estar, advinda do ato de as crianças rejeitam os alimentos sem nem
influência da mídia, incentivo da prática de ser alimentado e cuidado, é que define o mesmo prová-los. O que os pais precisam
atividade física e o surgimento de doenças relacionamento da criança com o alimento saber é que isso não quer dizer que a criança

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

sempre vai recusá-los. Eles poderão ser acei- comportamental alimentar (SCAGLIONI, 2018; mentação dos consumidores são: gênero,
tos em uma outra ocasião, desde que sejam WEFFORT, 2009). estrutura familiar, classe social e renda, raça
oferecidos novamente (em preparações e e etnicidade.
dias diferentes) (SAMPAIO et al., 2013). 2.2.2 Publicidade dos alimentos O estilo de vida e a situação geográfica
também contam (KOTLER, 2007). A indústria
Seletividade alimentar A Portaria nº 1.010, de 8 de maio de usa fortemente esses critérios, com o
A seletividade alimentar é caracterizada 2006, esclarece bem sobre as diretrizes objetivo de atrair a atenção das crianças,
por recusa alimentar, pouco apetite e desin- para a promoção da alimentação saudável por meio de desenhos e imagens ligadas a
teresse pelo alimento. É um comportamento nas escolas públicas e privadas, e possui energia, superpoderes e diversão.
típico da fase pré-escolar, mas, quando como um dos seus eixos prioritários a O novo Guia Alimentar para a População
presente em ambientes familiares desfavo- restrição ao comércio e à promoção co- Brasileira, publicado pelo Ministério da Saú-
ráveis, pode acentuar-se e permanecer até a mercial no ambiente escolar, de alimentos de em 2014, cita a influência da publicidade
adolescência (SAMPAIO et al., 2013). e preparações considerados não saudáveis de alimentos e a coloca como um dos obs-
(BRASIL, 2006a). táculos para a alimentação saudável. O guia
Devemos ainda considerar normal É importante que você saiba que, desde reforça que a regulação é necessária, pois a
que a criança diminua seu consumo de sempre, a administração de empresas tem publicidade estimula o consumo de alimen-
alimentos no período de 1 a 5 anos de se dividido e especializado com o intuito de
idade, época em que a redução do apetite melhorar o desempenho das instituições.
é consequência de uma desaceleração no Dessa forma, o século XXI observou o
crescimento, e quando as atenções estão maior desenvolvimento de todas as ciências
mais voltadas ao ambiente e não à comida. administrativas, dentre as quais o marketing.
Por volta dos 3 anos de idade, a criança vai Este se define como o desempenho das
demonstrando maior preferência por aquilo atividades comerciais que dirigem o fluxo de
que conhece e fazendo prevalecer a sua bens e serviços do produtor ao consumidor
vontade, no intuito de “confrontar” o adulto. ou usuário.
São manifestações temporárias que, se Um dos primeiros critérios observados
bem compreendidas e toleradas pelos pais, ao se planejar uma publicidade é a idade
não trazem consequências ao seu futuro do público-alvo, e outros pontos de seg-

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

tos ultraprocessados e induz a população a marketing para captar as crianças e 2.2.4 Saúde bucal e hábitos alimentares
considerá-los mais saudáveis, com qualida- adolescentes, já que eles são importantes
de superior aos demais, além de associá-los partes influenciadoras nas compras dos A promoção da saúde deve ser iniciada
a uma falsa imagem de bem-estar, felicidade pais. Nesse contexto, os pais possuem uma ainda na infância, e um fator muito importante
e sucesso. contribuição essencial para a influência e a é a saúde bucal após a introdução alimentar.
formação de hábitos alimentares saudáveis É nessa fase que se inicia a formação dos
2.2.3 A mídia sobre alimentos dos seus filhos. hábitos alimentares que, consequentemente,
para crianças É fundamental que, como profissional influenciará a saúde ao longo da vida. A
da saúde, você incentive os pais no alimentação adequada também desempenha
Existe um alto investimento das acompanhamento e na escolha de programas papel essencial na contribuição da formação
indústrias na divulgação e comercialização e redes sociais que seus filhos assistem na e manutenção da dentição.
de alimentos ultraprocessados, ricos em televisão ou na internet ao longo da infância.
gorduras, açúcar e sal, bem como pobres em Esta fase é fundamental para a formação
nutrientes. Com isso, estamos cada vez mais dos hábitos alimentares, sendo essencial
com crescentes taxas globais de obesidade que os pais sirvam de exemplo aos bons
e doenças crônicas não transmissíveis, hábitos (BRASIL, 2014a).
porque o uso das mídias na propaganda e
a publicidade de tais alimentos contribuem
para um ambiente obesogênico, o que Conheça o documentário Muito
torna as escolhas saudáveis mais difíceis, Além do Peso, que apresenta o caso
da obesidade infantil, principalmen-
especialmente para crianças e adolescentes. te no território nacional, mas tam-
A principal doença bucal que acomete
Sabemos que o público infantil é o bém nos outros países no mundo, crianças é a cárie dentária, comumente
mais vulnerável aos apelos promocionais entrevistando pais, representantes associada a uma má alimentação. A
das escolas, membros do governo
veiculados nas mídias, que envolvem a e responsáveis pela publicidade de
introdução de bebidas açucaradas de forma
promoção de diversos alimentos, como alimentos no link: precoce, associada a não higienização bucal
biscoitos, refrigerantes, fast foods e <https://www.youtube.com/ adequada, favorecem o surgimento da cárie,
watch?v=8UGe5GiHCT4>.
alimentos ultraprocessados. Além disso, além de perdas dentárias precoces (DOS
a indústria utiliza-se de estratégias de SANTOS et al., 2016).

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

2.2.5 Deficiências de micronutrientes mundo é afetada pela deficiência de vitamina Nesse sentido, ações do Ministério da
e excesso de peso A, ferro ou iodo. A carência de vitamina Saúde têm por objetivo reduzir as deficiências
A é considerada uma das deficiências de de micronutrientes na população brasileira e
O consumo insuficiente de micronutrien- micronutrientes mais prevalentes no mundo, estão apoiadas também na suplementação
tes está entre os dez principais fatores de afetando principalmente crianças nos países com megadoses de vitamina A e suplemen-
risco para a carga total global de doenças em desenvolvimento. Manifestações clínicas tos de sulfato ferroso, na fortificação de
em todo o mundo, considerado o terceiro dessas carências, como morte materna e alimentos, como farinhas de trigo e milho
fator de risco de doenças crônicas não infantil, resposta imunológica diminuída, com ferro e ácido fólico e na adição de iodo
transmissíveis, podendo trazer sérias cegueira, retardo mental e anemia, afetam no sal para consumo humano (BRASIL, 2007b).
consequências à saúde da criança (LEÃO; mais de meio bilhão da população mundial O pré-escolar é o grupo infantil mais
SANTOS, 2012). (WISEMAN et al., 2017). atingido pela hipovitaminose A, devido ao
O Ministério da Saúde conta com Outros dois bilhões de pessoas residen- seu rápido crescimento e desenvolvimento,
programas de suplementação dos principais tes em áreas de baixo nível socioeconômico, necessitando de maior aporte de vitaminas e
micronutrientes em carência na população tanto na área urbana quanto na rural, são micronutrientes. Geralmente está associada
materno-infantil, que devem ser vistos de deficientes marginais em micronutrientes, à desnutrição energético proteica.
maneira ampliada, de modo a garantir a sua impossibilitados de alcançar seu potencial Em relação ao ferro, aproximadamente
efetividade. Uma em cada três pessoas no de desenvolvimento físico e mental. 10% das crianças em países desenvolvidos e
30% a 80% nos países em desenvolvimento
têm anemia por volta de um ano de idade,
Algumas consequências do consumo podendo sofrer de retardo psicomotor. Ao
insuficiente de micronutrientes:
entrarem na escola, suas habilidades de
linguagem e coordenação motora fina (mo-
• Cansaço
vimentos delicados, tal como escrever, fazer
• Fraqueza
• Alterações comportamentais e cognitivas desenhos, pinturas, colagens, recortar papel,
• Prejuízo do crescimento e do desenvolvimento fazer traçados em folhas) poderão estar re-
• Aumento da morbimortalidade infantil duzidas significativamente. Alguns trabalhos
demonstram que crianças com deficiência de
ferro e anemia têm menor desempenho em

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

testes de desenvolvimento mental e psico- 2.3 ESPECIFICIDADES DE ALIMENTAÇÃO dade psiquiátrica, que independe do peso do
motor do que crianças não anêmicas. E NUTRIÇÃO EM ADOLESCENTES indivíduo. Um adolescente com transtorno
Dessa forma, evitar a anemia por alimentar apresentará comportamentos ou
deficiência de ferro na infância é muito A adolescência pode ser considerada como pensamentos frequentes e persistentes so-
importante (BRASIL, 2007b). As políticas de um período crítico, quando grandes mudanças bre alimentação ou ao ato de comer que lhe
saúde pública e as intervenções pediátricas, físicas e psicológicas ocorrem durante um causam prejuízo ou sofrimento (AMERICAN
principalmente na parte nutricional que período muito curto de tempo. Mudanças nos PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
objetivam a prevenção, são as estratégias hábitos alimentares podem induzir diferentes Quando o começo do transtorno alimentar
mais seguras, uma vez que a maior tipos de distúrbios nutricionais e provavel- ocorre durante a adolescência, isso pode
prevalência ocorre entre crianças de seis a mente vão continuar durante a idade adulta, prejudicar as relações sociais e familiares, e
24 meses de idade. se não houver estratégias de prevenção e/ a idealização suicida torna-se mais comum
ou intervenção adequada nessa fase da vida (NARCISO et al., 2019).
(CONDE et al., 2016; NARCISO et al., 2019). Os transtornos alimentares podem apre-
Você pode acessar um resumo do
relatório da UNICEF, de 2019, sobre Na adolescência, os problemas nutricio- sentar diversas causas na fase da adolescên-
a situação mundial da infância em nais mais prevalentes não são apenas a obe- cia, tais como influências ambientais, sociais
relação à alimentação e nutrição,
clicando aqui:
sidade e suas comorbidades, mas também e biológicas. As influências ambientais
<https://www.unicef.org/brazil/ algumas deficiências de micronutrientes, incluem idealizações sociais em relação ao
comunicados-de-imprensa/ma- como deficiências de vitamina D e de ferro, peso e ao corpo, além do ambiente familiar
alimentacao-prejudica-saude-das-
criancas-em-todo-o-mundo-alerta-o-
além da presença de alguns transtornos estressante. O incentivo familiar ao emagre-
unicef>. alimentares relacionadas ao sobrepeso e à cimento, assim como a individualização das
Acesse, também, o Caderno de Aten-
obesidade nessa fase do ciclo vital (NARCISO refeições pelos membros da família, com
ção Básica voltado às carências de et al., 2019). consumo de alimentos diferentes, em locais
micronutrientes em: e horários distintos, podem contribuir com o
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/cadernos_atencao_
2.3.1 Transtornos alimentares maior uso de métodos purgativos, compulsão
basica_carencias_micronutrientes. alimentar e realização de dietas restritivas.
pdf>. O Transtorno Alimentar (TA) pode ser defi- A participação em atividades competi-
nido como uma desordem mental grave, com tivas desde cedo, como ginástica olímpica,
elevado risco de morte, morbidade e mortali- natação, etc., também parecem ser caracte-

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

oferece, também leva à sensação de privação A anorexia nervosa pode ser do tipo
emocional. A restrição gera, portanto, uma restritivo, quando o adolescente não se
sensação de privação não apenas biológica, envolve em episódios recorrentes de
mas também psicológica (SILVA et al., 2014). compulsão alimentar, ou comportamento
A seguir, abordaremos brevemente dois purgativo como vômitos autoinduzidos
transtornos alimentares mais comuns e pre- ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou
valentes na adolescência, que são a anorexia enemas durante os últimos três meses.
nervosa (AN) e a bulimia nervosa (BN). Isso ocorre quando a perda de peso foi
obtida essencialmente por meio de dieta,
Anorexia nervosa jejum e/ou exercício excessivo. Mas,
rísticas de risco, em função da alimentação A anorexia nervosa (AN) normalmente ini- também, a anorexia nervosa pode ser do
restritiva que crianças e adolescentes cia durante a adolescência ou na idade jovem tipo compulsão alimentar purgativa, quando
esportistas acabam adquirindo ao longo do adulta, e pode ser definida como uma “busca ocorrem episódios recorrentes de compulsão
processo. Exigência de padrões de desem- incansável pela magreza”, que pode levar a alimentar seguidos por comportamentos
penho, medo de engordar, perfeccionismo graus extremos de desnutrição e caquexia. O compensatórios inapropriados (AMERICAN
e forte presença de críticas também podem curso e o desfecho da anorexia variam mui- PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
influenciar no desenvolvimento de algum TA to, pois pode haver recuperação total após A distorção da imagem corporal incentiva
(DE ABREU GONÇALVES et al., 2013). primeiro episódio ou curso crônico ao longo frequentes consultas ao espelho, acom-
Dentre as influências sociais, podemos da vida, podendo levar à morte. Ela é alcan- panhadas da autopercepção de estar com
citar as dificuldades que os adolescentes çada por meio de restrição alimentar rígida excesso de peso ou de ter algumas partes
podem ter para interagir com grupos, como e intensa, em geral associada à atividade do corpo com formas aumentadas, recorren-
o uso exacerbado da internet, bullying e/ou física exagerada. Na anorexia nervosa há um do, por vezes, a roupas largas (AMERICAN
cyberbullying, dificuldades sociais na escola medo intenso de engordar e uma autoavalia- PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
e problemas culturais também podem ser ção excessivamente baseada no peso e no Em adolescentes, a perda de peso signifi-
fatores de risco (AMERICAN PSYCHIATRIC aspecto do corpo. Esse sentimento e atitude cante torna-se especificamente preocupante,
ASSOCIATION, 2014). relacionados à imagem corporal são comuns pois a baixa ingestão calórica irá se refletir
A privação do prazer de comer em um também na bulimia nervosa (AMERICAN em atraso no desenvolvimento (DE ABREU
contexto social, ou do conforto que a comida PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). GONÇALVES et al., 2013).

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Bulimia nervosa após, induzirem o vômito para não engordar do grupo de alimentos com um todo, a forma
Na bulimia nervosa (BN), os adolescentes e aliviar o sentimento de culpa (AMERICAN em que combinamos os alimentos, o modo
praticam episódios recorrentes de compulsão PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). em que comemos, assim como o nível de
alimentar e adoção de comportamento processamento industrial da alimentação
compensatório para evitar o ganho de peso 2.3.2 Dietas da moda e as emoções ligadas ao ato de comer
e aliviar o sofrimento gerado, como vômitos (BRASIL, 2014a). É importante lembrar que a
autoinduzidos, uso de medicamentos e Principalmente na adolescência, inicia- realização de dietas da moda, que costumam
exercícios físicos em excesso. A bulimia se uma fase de idealização e cobrança do ser restritivas e normalmente associadas
nervosa é rara antes dos 12 anos, sendo corpo magro ou com curvas, como referência ao efeito sanfona, em que o adolescente
mais característico das mulheres jovens estética, de beleza e sucesso. Juntamente volta a recuperar o peso perdido em pouco
e adolescentes. A preocupação excessiva com essa cobrança vem ocorrendo um tempo, pode levar a constantes frustrações,
com a forma e o peso corporal é intensa, número sem fim de dietas prometendo aumentando as chances de adquirir um
assim como na anorexia nervosa. Entretanto, efeitos rápidos e milagrosos, que chamam a transtorno alimentar e/ou aumentar as taxas
diferente dela, os indivíduos com bulimia atenção desse grupo etário. de sobrepeso e obesidade nos adolescentes.
nervosa mantêm um peso corporal igual Como profissionais da saúde, é importan- Por isso, apesar da grande quantidade de
ou apresentam sobrepeso e obesidade. Na te ter a noção dos reais efeitos de cada uma propagandas e notícias divulgando benefí-
bulimia nervosa não há restrição da ingestão dessas dietas sobre a saúde da população. As cios milagrosos de certas dietas e alimentos,
calórica. Diferente do usuário com anorexia, dietas da moda constituem-se normalmente
o usuário com bulimia não tem o desejo de padrões de comportamento alimentar
de emagrecer cada vez mais (AMERICAN pouco saudáveis e nada reais se realizados
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). a longo prazo. Geralmente as dietas são
Geralmente, o adolescente com bulimia focadas na restrição de nutrientes e/ou gru-
nervosa demonstra uma preocupação pos alimentares específicos (BRASIL, 2014a).
excessiva em relação ao corpo e inicia uma Além disso, não levam em consideração as
dieta com restrições alimentares, mas sem individualidades de cada pessoa, tampouco
a obstinação comum à anorexia. Depois as questões sociais, ambientais e culturais.
disso, passam a ingerir grandes quantidades Uma alimentação saudável não se resume
de alimentos em curtos períodos para, logo a ingestão de nutrientes, mas sim à qualidade

42
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

questione e pesquise sempre a respeito da Veja, a seguir, a necessidade de suplementação de cada um desses itens.
veracidade da informação e procure evidên-
cias científicas que comprovem a relevância Proteínas Manutenção do crescimento
clínica desses benefícios. Para garantir uma
alimentação saudável, recomenda-se que as Devido ao aumento da retenção de cálcio
Cálcio
refeições principais sejam coloridas, diversi- para formação da massa óssea
ficadas, com aspectos sensoriais e visuais
Vitamina A Devido à estreita correlação com o crescimento
agradáveis, à base de alimentos in natura
e minimamente processados, respeitando
sempre as características de consumo Vitamina C Devido à atuação na função normal dos osteoclastos
alimentar local e evitando o consumo de
alimentos ultraprocessados (BRASIL, 2014a). Devido ao rápido crescimento e aumento da massa
Ferro muscular, do volume sanguíneo, das enzimas respiratórias
e pela menarca nas meninas
2.3.3 Uso de suplementos

Na adolescência, os requerimentos de Com o consumo de todos os grupos de Atualmente, observamos o uso


proteínas (para a manutenção do crescimen- alimentos, consegue-se atingir as recomen- indiscriminado de suplementos vitamínicos
to), ferro (pelo rápido crescimento e aumento dações nutricionais propostas pelas Dietary por grande parte da população, inclusive
da massa muscular, do volume sanguíneo, Reference Intakes (DRIs), que definem reco- por parte dos adolescentes. Suplementos
das enzimas respiratórias e pela menarca mendações e requerimentos de vitaminas, proteicos como o famoso whey protein,
nas meninas), cálcio (devido ao aumento da minerais e macronutrientes para populações aminoácidos e vitaminas sintéticas são
retenção de cálcio para formação da massa em todas as faixas etárias. Estas recomenda- utilizadas de forma indiscriminada e sem
óssea) e vitamina A (pela estreita correlação ções são um conjunto de valores de referên- conhecimento adequado, trazendo um
com o crescimento) e vitamina C (pela cia para ingestão de nutrientes a ser utilizado gasto desnecessário de tempo e dinheiro,
atuação na função normal dos osteoclastos) no planejamento e na avaliação de dietas de além de poder trazer prejuízos a saúde do
estão aumentados em função do intenso indivíduos e de populações saudáveis, visan- adolescente, se consumidos em valores que
crescimento característico desta fase. do substituir as recomendações publicadas excedem a sua necessidade.
anteriormente (MARCHIONI et al., 2004).

43
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A suplementação só deve ser prescrita


em situações em que há comprovadamente
uma deficiência nutricional, a qual deve
ser bem avaliada e acompanhada por uma
alimentação variada, colorida e saudável,
conforme recomendações do Guia Alimentar
para a População Brasileira (BRASIL, 2014a).

2.3.4 Mídia e redes sociais

O marketing de alimentos influencia


as preferências e escolhas alimentares,
principalmente entre os adolescentes, alimentos na mídia, tanto tradicional quanto mas, ao mesmo tempo, seus processos de
contribuindo para o aumento do sobrepeso, em redes sociais, influencia cognições, tomada de decisão podem estar limitados
da obesidade e de outros distúrbios crônicos atitudes e comportamentos alimentares dos por um controle inibitório inadequado e
da saúde. adolescentes (QUTTEINA et al., 2019). Essa é impulsividade elevada.
Os recentes avanços nas mídias sociais uma das formas pelas quais a divulgação
forneceram, aos profissionais de marketing crescente de alimentos ultraprocessados 2.4 IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA
de alimentos, plataformas para alcançar tem atingido o público adolescente. E DAS PRÁTICAS CORPORAIS
muitos de maneiras mais pessoais e au- A mídia favorece o consumo de frituras, NA PREVENÇÃO E NO CONTROLE
tênticas, em comparação à publicidade na doces e outros alimentos com alta densidade DO EXCESSO DE PESO EM
mídia clássica. Essas plataformas de mídias de calorias e com baixo teor de nutrientes CRIANÇAS E ADOLESCENTES
sociais, personalizadas e sem fronteiras, (QUTTEINA et al., 2019).
permitem que os profissionais usem facil- Os adolescentes estão em uma fase A prática de atividade física é fundamental
mente estratégias de marketing próprias, única da vida que os torna altamente para todas as etapas do desenvolvimento
pagas e válidas, incluindo influenciadores sensíveis às influências sociais (VAN DAM; infantil na prevenção e no tratamento da
digitais pagos e não pagos, para atingir REIJMERSDAL, 2019). Eles estão se tornando obesidade, bem como a todas as doenças
públicos-alvo mais jovens. A publicidade de tomadores de decisão mais independentes, relacionadas a ela na infância. Além de evitar

44
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

doenças crônicas, as atividades físicas Outros benefícios da atividade física, para óssea, melhora da cognição, autoestima,
auxiliam na melhora do rendimento escolar. a promoção da saúde de crianças e adoles- sentimento de bem-estar e socialização
Evidências indicam que a atividade centes, estão comprovados na literatura, tais (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2017).
física durante a infância e a adolescência como, aumento do volume de ejeção cardía- Há evidências de que jovens com suporte
é capaz de contribuir no enfrentamento ca, dos parâmetros ventilatórios funcionais dos pais para a prática de atividades físicas
da obesidade por meio de pelo menos por e do consumo de oxigênio, redução da são mais ativos, assim como pais mais
três caminhos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE pressão arterial, aumento da sensibilidade ativos têm filhos mais ativos (SOCIEDADE
PEDIATRIA, 2017), conforme pode ser visto a à insulina e da tolerância à glicose, melhora BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2017). Dessa forma,
seguir, acompanhe. do perfil lipídico, aumento da mineralização é importante considerar o perfil de prática
de atividade física, tanto da criança e do
adolescente como de seus pais, para traçar
uma estratégia conjunta e promissora para a
A prática de atividade física na infância e adolescência adesão a essa prática, garantindo a mudança
auxilia no equilíbrio do balanço energético e, dos hábitos em toda a família.
consequentemente, na prevenção e no tratamento da Nesse sentido, os profissionais da
obesidade e de doenças relacionadas à obesidade
atenção primária à saúde têm papel
nesta fase da vida.
fundamental na promoção da prática de
atividade física em crianças e adolescentes
Jovens ativos tendem a se tornar adultos ativos, usuários do sistema de saúde, na prevenção
aumentando o gasto energético durante todo e no controle do excesso de peso.
o ciclo de vida.

Conheça formas de diversificar e es-


timular a prática de atividade física:
Jovens ativos possuem menos chance de <http://saudebrasil.saude.gov.br/
desenvolver sobrepeso ou obesidade e doenças eu-quero-me-exercitar-mais/diversi-
relacionadas à obesidade na fase adulta. ficar-as-atividades-fisicas-pode-esti-
mular-ainda-mais-as-criancas-a-se-
-movimentarem>.

45
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 2
CRIANÇAS E ADOLESCENTES POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPECIFICIDADES
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Nesta unidade, abordamos a importância


das políticas públicas na prevenção e no
controle do sobrepeso e obesidade em
crianças e adolescentes, compreendendo
seus diversos níveis de atuação.
Adicionalmente, reconhecemos as princi-
pais especificidades nutricionais e compor-
tamentais em crianças e adolescentes que
precisam ser observadas no atendimento
realizado na APS, com vistas a melhorar
a realização das nossas recomendações
aos usuários, de acordo com as situações
citadas.

46
UN3
AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO
ALIMENTAR E NUTRICIONAL
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Nesta unidade, abordaremos as princi- Para realiar a avaliação e o diagnóstico


pais ferramentas e critérios para avaliação nutricional, os profissionais da saúde têm à
e diagnóstico nutricional de crianças e sua disposição diferentes opções de técni-
adolescentes recomendados pelo Sistema cas e instrumentos (VITOLO; LOUZADA, 2015).
de Vigilância Alimentar e Nutricional (SIS- Na APS, é fundamental realizar o
VAN). Ao final da leitura, você será capaz de acompanhamento do estado nutricional e
compreender sobre a importância de realizar das práticas alimentares de forma constante
a avaliação e o diagnóstico alimentar e nutri- e sistemática. Pensando nisso, tenha sempre
cional de crianças e adolescentes, visando em mente a importância da sua atuação no
a prevenção e o controle do sobrepeso e da reconhecimento e na implementação da
obesidade no âmbito da APS. vigilância alimentar e nutricional, como parte
da organização na atenção integral à saúde
3.1 AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO DO (BRASIL, 2015b).
ESTADO ALIMENTAR E NUTRICIONAL A Política Nacional de Alimentação e
Nutrição (PNAN) tem a vigilância alimentar
A avaliação e o diagnóstico do estado e nutricional como uma de suas diretrizes,
nutricional compreendem diferentes etapas apontando-a como essencial para a atenção
que se complementam, e incluem os itens nutricional no SUS (BRASIL, 2015b). Ainda,
definidos a seguir. de acordo com a PNAN, é fundamental a

Avaliação e diagnóstico do estado nutricional

Avaliação antropométrica Avaliação de consumo alimentar

Sinais clínicos Medidas bioquímicas

48
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

utilização do SISVAN e de outros sistemas primária à saúde, na qual são obtidas explicadas. Assim sendo, é relevante o uso
de informação em saúde para identificar informações relacionadas ao estado de de habilidades que facilitem a comunicação
indivíduos ou grupos que apresentem saúde e nutricional da criança. nessa etapa do atendimento, de modo a
agravos e riscos para saúde, relacionados ao Para a execução da anamnese, é encorajar o responsável pela criança a
estado nutricional e ao consumo alimentar fundamental que você, como profissional prover o máximo de informações acerca
(BRASIL, 2013c). da saúde, a família e a criança estabeleçam da realidade pessoal e do meio em que a
uma relação de confiança. O momento da criança vive (BRASIL, 2012).
3.1.1 Avaliação e diagnóstico do anamnese tem carácter especialmente A seguir, são apresentadas algumas
estado nutricional da criança exploratório, portanto, sugere-se que ao sugestões de pontos que você pode explorar
abordar a criança e sua família você utilize na execução da anamnese de crianças
A avaliação e o diagnóstico do estado algumas perguntas abertas, como forma (LACERDA; ACCIOLY, 2009; BRASIL, 2012;
nutricional objetivam verificar o crescimento de facilitar a compreensão dos motivos SCAGLIONI et al., 2018):
e as proporções corporais de um indivíduo para a consulta, pois isso permitirá que • Dados relacionados à história dietéti-
ou de coletividades para, assim, estabelecer você explore condições que necessitam ser ca, como ocorrência de intolerâncias
atitudes de intervenção. A avaliação do e aversões alimentares, inapetência,
crescimento é a medida que melhor define seletividade alimentar, qualidade e
a saúde e o estado nutricional de crianças, quantidade alimentar geralmente con-
já que distúrbios na saúde e nutrição, sumida, horários das refeições, local
independentemente de suas etiologias, de realização das refeições, quem é
invariavelmente afetam o crescimento o responsável pela preparação das
infantil. Além disso, o monitoramento do refeições oferecidas à criança, grau de
crescimento infantil é também uma medida autonomia da criança ao se alimentar.
indireta da qualidade de vida da população. • Hábito de se alimentar em frente a
televisão ou telas.
Anamnese • História de aleitamento materno (dura-
A anamnese é considerada uma etapa ção), introdução alimentar e evolução
importante nos atendimentos realizados na aceitação de novos alimentos.
pela equipe de profissionais da atenção • Ingestão hídrica.

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

• Função intestinal da criança (frequên- de transferência de renda e outros pazes de estabelecer isoladamente (BRASIL,
cia de evacuações e consistência das tipos de auxílio. 2012).
fezes). • Condições socioeconômicas da famí-
• Alterações recentes de peso. lia, de moradia e saneamento básico.
• Dados pregressos relacionados ao
nascimento, como peso ao nascer, Além disso, durante a consulta é
nascimento prematuro ou a termo. importante que você observe alguns
• Tempo de atividade física diária no sinais físicos que possam contribuir de
lazer (extraclasse) ou na unidade maneira complementar com a avaliação
educativa (curricular). e o diagnóstico do estado nutricional da
• Tempo da criança em frente às telas criança. Por exemplo, crianças com algum
(TV, computador, videogame). agravo relacionado ao estado nutricional
• Período de permanência da criança e/ou história alimentar inadequada podem
na unidade educativa. ser investigadas quanto a sinais clínicos de
• Dados relacionados ao sono da criança deficiências nutricionais em cabelos, olhos,
(quantas horas a criança dorme, dorme pele e unhas (LACERDA; ACCIOLY, 2009).
com quem e se tem sono tranquilo). Por fim, vale mencionar que, durante a
• História familiar de doenças crônicas avaliação e o acompanhamento de saúde Antropometria
não transmissíveis (diabetes, obesida- das crianças, podem surgir intercorrências A antropometria tem sido muito utilizada
de, doenças cardiovasculares, etc.). que demandem a solicitação de exames para o diagnóstico nutricional, inclusive
• História de internações hospitalares complementares, como, por exemplo, na infância, pela facilidade de execução,
prévias e diagnósticos clínicos ante- hemograma e perfil lipídico (colesterol, pelo baixo custo e pela inocuidade (VITOLO;
riores. HDL, triglicerídeos e LDL). Atente-se para o LOUZADA, 2015). As medidas das dimensões
• Uso medicamentos de uso contínuo ou fato de que exames complementares são, corporais associadas a idade, sexo ou outras
suplementos alimentares. como o próprio nome diz, complementares à variáveis antropométricas permitem conhe-
• Disponibilidade e variedade de ali- consulta, sendo preferencialmente aplicáveis cer o estado de saúde e de risco nutricional
mentos na família e recebimento de no estabelecimento de diagnósticos em que de indivíduos em geral, mas especialmente
benefícios provenientes de programas a anamnese e o exame físico não forem ca- de crianças. Nesse sentido, a triagem nutri-

50
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

cional e a monitorização do crescimento e do Considerando a importância da pela criança em relação aos dados
estado nutricional são consideradas as duas padronização da aferição das medidas coletados.
principais formas de uso da antropometria, o antropométricas nos serviços de saúde, o • Para a avaliação antropométrica
que nos permite identificar precocemente e Ministério da Saúde publicou um material você deverá atentar para a aplicação
monitorar possíveis problemas nutricionais contendo orientações relacionadas a técni- correta do método, a disponibilidade
(ARAUJO, 2007). cas e equipamentos para coleta de dados de equipamentos em boas condições
Recomenda-se que você obtenha dados antropométricos (BRASIL, 2011b). Importante de uso e um ambiente apropriado
antropométricos e demográficos indicados que você lembre, ainda, que para a execução (BRASIL, 2015b).
pelo SISVAN para avaliação de crianças, que das técnicas é fundamental a utilização de Em resumo, os passos para a etapa
são os descritos a seguir. equipamentos calibrados e adequados para de avaliação antropométrica de crianças
cada tipo de aferição corporal. envolvem:
Dados antropométricos e demográficos 1. Cálculo da idade em anos completos
e meses.
Para conhecer melhor as técnicas e 2. Aferição de peso e estatura da criança
instrumentos para coleta dos dados
Peso antropométricos de crianças, consul- e cálculo do IMC.
te a parte III do material intitulado: 3. Registro dos dados no formulário do
“Orientações para a Coleta e Análise SISVAN, nos sistemas de informação
de Dados Antropométricos em Servi-
ços de Saúde”, disponível no link: em saúde (exemplo: SISVAN-Web) e
Estatura
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ no prontuário do usuário.
publicacoes/orientacoes_coleta_
analise_dados_antropometricos.pdf>.
Importante destacar também que, sempre
Sexo que forem coletados dados antropométricos,
Lembre-se: estes devem ser registrados nas curvas
• É importante que você realize as de avaliação de crescimento existentes na
Data de nascimento avaliações em locais reservados, Caderneta de Saúde da Criança, de modo
evite revelar as informações obtidas a permitir o acompanhamento do estado
a terceiros e esteja preparado para nutricional da criança ao longo do tempo,
Fonte: BRASIL (2008); BRASIL (2011b). oferecer orientações aos responsáveis bem como servir de subsídio na definição

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

de condutas e/ou propostas de intervenções Consumo alimentar da equipe de APS realize a avaliação dos
que auxiliem na manutenção ou recuperação A avaliação do consumo alimentar de marcadores de consumo (BRASIL, 2015c).
do estado nutricional e de saúde. indivíduos e populações é considerada um A avaliação do consumo alimentar é
Lembre, inclusive, que os dados antropo- passo fundamental na avaliação em saúde essencial para se direcionar o diagnóstico
métricos obtidos e registrados na Caderneta e deve ser realizada de forma rotineira nutricional da criança (VITOLO; LOUZADA,
de Saúde da Criança e nos formulários vin- (BRASIL, 2015c). 2015). Para essa avaliação existem três
culados ao sistema de vigilância alimentar Como instrumento para obtenção de opções de blocos de questões no formulário
e nutricional são ferramentas, portanto, informações sobre o consumo alimentar, de marcadores recomendado pelo SISVAN:
utilizadas para diagnóstico, vigilância e na rotina dos serviços de atenção primária, • Crianças menores de seis meses
monitoramento do crescimento e estado recomenda-se a utilização dos formulários • Crianças de seis a 23 meses e
nutricional infantil. Por isso, siga sempre para avaliação de marcadores de consumo 29 dias de idade
as recomendações de coleta de dados alimentar (BRASIL, 2015b; BRASIL, 2015c). Esses • Indivíduos com 2 anos ou mais
antropométricos com a maior acurácia e formulários propõem a obtenção de dados (BRASIL, 2015c)
responsabilidade possíveis. relacionados aos alimentos consumidos Importante ressaltar que em crianças com
no dia anterior e contemplam questões até 7 anos de idade, os dados relacionados
que possibilitam que qualquer profissional ao consumo alimentar são fornecidos predo-
Acesse as versões atuais da Cader-
neta de Saúde da Criança para me-
ninos e meninas, respectivamente,
nos links:
<https://portalarquivos2.saude.
gov.br/images/pdf/2019/abril/10/
caderneta-2019-menino.pdf>
<https://portalarquivos2.saude.
gov.br/images/pdf/2019/abril/10/
caderneta-2019-menina.pdf>

CONSUMO
ALIMENTAR

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

minantemente pelas mães ou responsáveis Diagnóstico do estado estado nutricional: para crianças menores
(VITOLO; LOUZADA, 2015). nutricional de crianças de 5 anos, utiliza-se como referência as
Com base nos dados obtidos na etapa de curvas de crescimento infantil publicadas
avaliação das crianças (peso, estatura, sexo em 2006 e para as crianças de 5 a 10 anos
Conheça o formulário de marcado-
e idade) e posterior plotagem desses dados incompletos, utiliza-se a referência lançada
res de consumo alimentar proposto
pelo SISVAN no link a seguir: nas curvas disponíveis na Caderneta de no ano de 2007 (BRASIL, 2008).
<http://sisaps.saude.gov.br/sisvan/ Saúde da Criança, você conseguirá classificar Para avaliação do estado nutricional de
public/file/ficha_marcadores_
e diagnosticar o estado nutricional, por meio uma criança ou um grupo delas, é funda-
alimentar.pdf>.
da avaliação e interpretação dos índices mental a definição de alguns elementos que,
antropométricos mais utilizados para essa reunidos e devidamente interpretados, pos-
Neste módulo, daremos enfoque às faixa etária (BRASIL, 2011b). Importante sibilitarão diagnosticar o estado nutricional.
crianças maiores de 2 anos de idade. Como esclarecer que o Ministério da Saúde adota Esses subsídios são índices e indicadores
você pode perceber, o formulário destinado as recomendações da OMS no que se refere antropométricos, critério de classificação e
à avaliação da alimentação de indivíduos às curvas de referência para avaliação do tabelas de referência de crescimento (ARAU-
com mais de 2 anos de idade inclui questões JO, 2007). No caso de avaliação de crianças,
relacionadas a alguns marcadores saudáveis é importante você considerar que essa fase
e não saudáveis de consumo de alimentos e do curso da vida possui referências e pontos
bebidas, além de práticas relacionadas ao de corte específicos.
ato de comer (BRASIL, 2015b).
Em relação à periodicidade de registro de
marcadores de consumo alimentar, assim Para conhecer mais sobre índices,
como de dados antropométricos, reco- indicadores, pontos de corte, popu-
lação de referência, percentil e es-
menda-se que os profissionais da atenção core-z, acesse as páginas 9 a 11 do
primária sigam o mesmo calendário mínimo documento a seguir:
de consultas para a assistência à saúde <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/orientacoes_coleta_
(BRASIL, 2015b). Para crianças com mais de analise_dados_antropometricos.pdf>.
2 anos de idade, recomenda-se, no mínimo,
um registro por ano.

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Para avaliação de crianças, os índices/ Esses índices, utilizados no diagnóstico do estado nutricional de crianças, permitem
parâmetros recomendados são (BRASIL, acompanhar sistematicamente o crescimento e desenvolvimento infantil, sendo importantes
2015b) os seguintes: para o monitoramento das condições de saúde e nutrição da criança. Veja no quadro abaixo
(BRASIL, 2015b).

Parâmetros Descrição dos índices recomendados para avaliação de crianças na APS.

Índice Detalhamento
Crianças menores de 5 anos
Índice que expressa a relação existente entre a massa corporal e a ida-
de. Amplamente utilizado para avaliar a desnutrição, porém o déficit de
Peso para Idade
peso para a idade observado pontualmente não determina se o quadro
• IMC para idade é recente ou de longo prazo.
• Estatura para idade
• Peso para estatura Índice que indica o crescimento linear e reflete os efeitos cumulativos
• Peso para idade Estatura para Idade da situação de saúde e nutrição em longo prazo, ou seja, o déficit neste
índice deve ser interpretado como uma condição crônica.

Índice que expressa a harmonia entre as dimensões de massa corporal


Crianças de 5 a 9 anos e altura/comprimento. Mostra tanto o excesso quanto o déficit de peso
Peso para Estatura para determinada estatura, sendo sensível às alterações nas variáveis
que o compõem. É um índice muito útil quando não se sabe a idade da
• IMC para idade criança.
• Estatura para idade
Índice de massa Índice que expressa a relação entre a massa corporal (em quilos) e o
• Peso para idade
corporal (IMC) para comprimento/altura (em metros), sendo utilizado, principalmente, para
Idade identificar o excesso de peso.

Nota: Os índices IMC para a Idade e Peso para a Estatura tendem a mostrar
resultados muito semelhantes.

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

De acordo com os protocolos do SISVAN, para a classificação do estado nutricional de


crianças são adotados os seguintes critérios, levando-se em consideração os diferentes
índices antropométricos (BRASIL, 2008), veja a seguir.

Critérios de classificação do estado nutricional de crianças com base nos diferentes índices antropométricos

Índices antropométricos
Valores críticos
Crianças de 0 a 5 anos incompletos Crianças de 5 a 10 anos incompletos

Peso para Peso para IMC para Estatura Peso para IMC para Estatura
Percentil Escore-z
idade estatura idade para idade idade idade para idade

Muito baixo Muito baixa Muito baixo Muito baixa


Magreza
< 0,1 < –3 peso para a Magreza acentuada estatura peso para a estatura
acentuada
idade para a idade idade para a idade

Baixa esta- Baixa esta-


Baixo peso Baixo peso
≥ 0,1 e < 3 ≥ –3 e < –2 Magreza tura para a Magreza tura para a
para a idade para a idade
idade idade

≥ 3 e < 15 ≥ –2 e < –1
Peso ade- Eutrofia Peso ade- Eutrofia
≥ 15 e ≤ 85 ≥ –1 e ≤ +1 quado para a quado para a
idade Estatura ade- idade Estatura ade-
> 85 e ≤ 97 > +1 e ≤ +2 Risco de sobrepeso Sobrepeso
quada para a quada para a
> 97 e ≤ 99,9 > +2 e ≤ +3 Sobrepeso idade Obesidade idade
Peso eleva- Peso eleva-
do para a do para a
Obesidade
> 99,9 > +3 idade Obesidade idade
grave

Importante: atente-se para os pontos de corte/valores críticos de classificação de sobrepeso e obesidade, segundo os índices Peso para Idade e IMC para Idade.
Fonte: BRASIL, 2008.

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Especificamente em relação aos pontos Após avaliar esses índices antropomé- diagnóstico encontrado à mãe, ao pai ou ao
de corte de IMC para classificação de tricos e observar a orientação dos registros responsável pela criança, no momento do
sobrepeso e obesidade por idade e sexo, nas curvas de referência de crescimento atendimento, explicando o que representa
veja ainda a orientação na tabela a seguir (curva ascendente, horizontal ou descen- com as devidas orientações para cada caso
(BRASIL, 2014b). dente), é importante que você apresente o (BRASIL, 2008).

Pontos de corte de IMC, de acordo com a idade, para diagnóstico de excesso de peso e obesidade

Meninos Meninas Meninos Meninas


Idade em Idade em
anos anos
Sobrepeso Obesidade Sobrepeso Obesidade Sobrepeso Obesidade Sobrepeso Obesidade

2 17,33 18,84 17,09 18,72 6 16,76 18,52 17,01 19,22

2,5 17,09 18,56 16,92 18,53 6,5 16,89 18,75 17,13 19,48

3 16,89 18,34 16,80 18,42 7 17,05 19,02 17,29 19,79

3,5 16,75 18,21 16,76 18,44 7,5 17,23 19,33 17,49 20,15

4 16,67 18,17 16,77 18,53 8 17,44 19,67 17,73 20,56

4,5 16,63 18,21 16,83 18,67 8,5 17,66 20,06 18,01 21,02

5 16,62 18,29 16,90 18,81 9 17,91 20,47 18,33 21,51

5,5 16,68 18,35 16,92 19,01 9,5 18,18 20,92 18,67 22,03

Observação: A idade completa é considerada até 5 meses e 29 dias. Por exemplo, uma criança com 3 anos 5 meses e 29 dias deverá entrar na faixa de
3 anos, e uma criança com 3 anos e 6 meses deverá entrar na faixa 3,5 anos

Fonte: BRASIL, 2014b.

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Para auxiliar no diagnóstico alimentar, Observe que alguns indicadores relacio-


com base nos dados obtidos por meio Você pode ter acesso a mais deta- nados ao lado correspondem à exemplos
lhes em relação aos indicadores de
dos marcadores de consumo alimentar de de marcadores de alimentos in natura ou
consumo alimentar consultando o
crianças, sugere-se a utilização dos seguintes material sugerido a seguir: minimamente processados (consumo de
indicadores propostos para vigilância na <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/ feijão, frutas, verduras e legumes), ou seja,
publicacoes/marcadores_consumo_
atenção primária (BRASIL, 2015c): marcadores de alimentação saudável. Por
alimentar_atencao_basica.pdf>.
outro lado, os indicadores relacionados ao
consumo de bebidas adoçadas, hambúrguer
e embutidos, macarrão instantâneo, salgadi-
Indicadores para crianças de 2 a 9 anos nhos de pacote, biscoitos salgados, biscoito
recheado, doces e guloseimas representam
Consumo de verduras e legumes. marcadores que avaliam consumo de
alimentos não saudáveis, como exemplo,
Hábito de realizar no mínimo as ultraprocessados.
três refeições principais do dia. Consumo de hambúrguer Como profissional da saúde, você deve se
e/ou embutidos. atentar às situações de alerta relacionadas
Hábito de realizar as refeições ao diagnóstico alimentar e nutricional de
assistindo à televisão ou a crianças, como, por exemplo:
outras telas. Consumo de bebidas adoçadas.
a. peso elevado para idade, com curva de
crescimento ascendente;
b. curvas de crescimento horizontal ou
Consumo de feijão. Consumo de macarrão
instantâneo, salgadinhos de descendente entre crianças eutróficas;
pacote ou biscoitos salgados. c. muito baixo peso;
d. déficit de altura (BRASIL, 2008).
Consumo de fruta. Também preste atenção nas situações
Consumo de biscoito recheado,
em que são constatados padrões e/ou
doces ou guloseimas.
comportamentos de alimentação não
saudáveis, que possam contribuir com a

57
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

ocorrência de situações de risco nutricional Anamnese


(como excesso de peso), e outras doenças A anamnese corresponde a uma etapa Profissional da Profissional
crônicas (por exemplo, crianças com hábito exploratória importante no atendimento do saúde com o da saúde
adolescente e somente com
de consumo de alimentos ultraprocessados, adolescente, na qual o profissional da saúde
os seus pais/ o adolescente
bebidas adoçadas, embutidos, doces e não deve ficar restrito a obter informações responsáveis
guloseimas, entre outros). sobre o motivo focal que levou o adolescente
ao serviço de saúde, e sim conhecer o
3.1.2 Avaliação e diagnóstico do estado adolescente como um todo (BRASIL, 2017).
Profissional da saúde
nutricional do adolescente Para a execução da anamnese, é impor- somente com os pais/
tante que você esteja ciente da necessidade responsáveis
A adolescência é considerada uma do estabelecimento do vínculo de confiança
etapa evolutiva peculiar ao ser humano, entre os profissionais da atenção primária, o
que encerra todo o processo maturativo psi- adolescente e sua família. Durante a anam- Talvez você esteja questionando: e o que
cossocial do indivíduo e que se caracteriza nese, a abordagem deve considerar a partici- anamnese precisa contemplar? A anamnese
por profundas transformações somáticas, pação do adolescente no atendimento. A sua implica, principalmente, em coletar informa-
psicológicas e sociais (VITOLO, 2015). Carac- participação ativa no atendimento em saúde ções sobre o adolescente, seus familiares
teriza-se, ainda, por intenso crescimento e possibilita, por exemplo, que o profissional e o ambiente onde vive. A seguir, citamos
desenvolvimento e por alterações morfoló- compreenda como ele está se sentindo em alguns exemplos de tópicos que você pode
gicas e fisiológicas complexas, nas quais a relação às mudanças corporais e emocionais abordar durante a realização da anamnese
nutrição desempenha um importante papel pelas quais está passando, como ele entende em atendimentos com adolescentes:
(VEIGA; SICHIERI, 2007). Por isso, o processo que está o relacionamento com a família e • hábitos relacionados à alimentação,
de avaliação e diagnóstico do estado com seus pares, o que este adolescente faz tais como número e horário das
nutricional de adolescentes é fundamental nas suas horas de lazer, como foram suas refeições ao longo do dia, qualidade
por ser uma fase de transição do estado in- vivências anteriores no serviço de saúde e e quantidade consumida, local de
fantil para o estado adulto, quando ocorrem quais são as suas expectativas em relação realização das refeições (em casa,
modificações importantes relacionadas ao aos atendimentos (BRASIL, 2017). Sendo fora de casa, se consome alimentação
processo de maturação sexual. assim, a realização do atendimento aos ado- oferecida na escola), quem prepara
lescentes pode incluir três etapas, confira. e/ou compra as refeições, disponibi-

58
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

lidade e variedade de alimentos na cabelo e unhas; avaliação do estado de de cronológica torna-se uma variável pouco
família, ingestão hídrica, aversões ou hidratação da pele e características rela- adequada para caracterizar o crescimento,
intolerâncias alimentares e alergias; cionadas ao estágio puberal (BRASIL, 2017). sendo necessário associar os indicadores
• hábitos intestinais; E, quando necessário, os profissionais da de maturidade sexual às variáveis de peso,
• consumo de álcool e tabagismo; saúde podem solicitar exames bioquímicos estatura, idade e sexo para classificar o
• dados relacionados à atividade física complementares para uma melhor investi- estado nutricional de adolescentes (VITOLO;
no lazer e no ambiente escolar; gação sobre o diagnóstico nutricional e de CAMPAGNOLO, 2015).
• tempo de exposição às telas digitais saúde (exemplos: hemograma, glicemia de Compreenda que, na puberdade, o grande
(tablets, televisão, videogame, celular); jejum, lipidograma). incremento físico é conhecido como estirão
• percepção da imagem corporal; puberal. Estima-se que o ganho de estatura
• história clínica: doenças prévias e Antropometria no período da adolescência corresponda a
internações; Em primeiro lugar, para a aferição das aproximadamente 20% a 25% da estatura
• uso de medicamentos e suplementos; medidas antropométricas dos adolescentes, final do adulto e, quanto ao ganho de peso
• história familiar de doenças crônicas; destaca-se que, além do conhecimento ade- corporal, corresponda a cerca de 50%
• presença de sintomas depressivos ou quado a respeito das técnicas e da neces- (BRASIL, 2006b).
relacionados a transtornos alimentares; sidade de avaliação das medidas corporais A identificação do estágio de maturação
• dados relacionados ao sono; em locais reservados, é fundamental que o sexual permite avaliar em que fase do
• condições socioeconômicas da família; profissional da atenção primária demonstre desenvolvimento puberal o adolescente
• recebimento de recursos provenientes respeito, cordialidade e ética no trato com as se encontra. Esta etapa é realizada por
de programas de transferência de pessoas (BRASIL, 2015b). meio da avaliação do desenvolvimento dos
renda ou outros tipos de auxílio, dentre A avaliação e o diagnóstico nutricional caracteres sexuais secundários (desenvolvi-
outros (BRASIL, 2017; SOCIEDADE BRASI- neste grupo etário apresenta uma comple- mento da genitália e pilosidade pubiana em
LEIRA DE PEDIATRIA, 2019). xidade adicional, uma vez que a maturação meninos; mamas e pilosidade pubiana em
Destaca-se que a anamnese do adoles- sexual influencia a interpretação dos resulta- meninas), incluindo desde o seu início até
cente pode ser, ainda, complementada com dos (BRASIL, 2006b). Isso quer dizer que ado- o completo desenvolvimento físico, parada
informações obtidas por meio de exame lescentes da mesma idade e do mesmo sexo de crescimento e aquisição da capacidade
físico, por exemplo, avaliação de sinais de podem se encontrar em estágios distintos reprodutiva. Para identificação do estágio de
carências nutricionais em pele e mucosas, de maturação sexual e, nesse período, a ida- maturação sexual, utilizam-se critérios siste-

59
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

matizados por Tanner, em 1989 (BRASIL, 2006b; BRASIL, 2008). Confira os critérios de Tanner nas
figuras ilustradas a seguir.

Mamas Pelos pubianos


Critérios de Tanner

Fase pré-adolescência Fase pré-adolescência


Desenvolvimento Elevação das papilas Não há pelugem.
puberal feminino

8 a 13 anos 9 a 14 anos
Mamas em fase de botão Presença de pelos longos, macios,
11 anos e (elevação da mama e auréola ligeiramente pigmentados, ao longo
5 meses como pequeno montículo dos grandes lábios

10 a 14 anos
10 a 14 ½ anos
Maior aumentos das
Pelos mais escuros, ásperos,
mamas, sem separação
sobre o púbis
dos contornos

Fonte: Adaptado de BRASIL (2006b).


11 a 15 anos 11 a 15 anos
Projeção das auréolas e das papilas Pelugem do tipo adulto, mas a área
15 anos e para formar montículo secundário coberta é consideravelmente menor
6 meses por cima da mama que no adulto

Menarca 13 a 18 anos 12 a 16 ½ anos


Fase adulta, com saliência Pelugem tipo adulta, cobrindo
somente das papilas todo o púbis e a virilha

60
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Genitália Pelos pubianos


Critérios de Tanner

Pré-adolescência Fase pré-adolescência


Desenvolvimento Infantil Não há pelugem
puberal masculino

9 ½ a 13 ½ anos 11 a 15 ½ anos
Aumento do escroto, dos Presença de pelos longos,
testículos, sem aumento macios, ligeiramente
do pênis pigmentados, na base do pênis.

10 ½ a 15 anos
11 ¾ a 16 anos
Ocorre também o aumento do
Pelos mais escuros, ásperos,
pênis, inicialmente em toda a
sobre o púbis.
sua extensão

Fonte: Adaptado de BRASIL (2006b).


11 ½ a 16 anos 12 a 16 ½ anos
Aumento do diâmetro do pênis e da Pelugem do tipo adulto, mas a
glande, crescimento dos testítulos área coberta é consideravelmente
e escroto, cuja peleescurece menor que no adulto.

13 a 17 anos
12 ½ a 17 anos
Tipo adulto, estendendo-se até
Tipo adulto
a face interna das coxas.

61
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Além da identificação do estágio do Adolescente. Tenha sempre em mente


tado nutricional adequado pelo IMC para
puberal, para a avaliação antropométrica de a importância da coleta acurada desses
idade e estágio inicial de maturação se-
adolescentes, você precisa obter dados de dados, já que serão utilizados para acompa- xual. Conduta nutricional: O profissional
peso, estatura, data de nascimento e sexo, os nhar o adolescente e para monitoramento da de saúde deve orientar para uma alimen-
quais serão utilizados posteriormente para população por meio do SISVAN. tação saudável e demais ações básicas
determinação do diagnóstico nutricional por Esclarece-se, ainda, que outras medidas de saúde se houver necessidade.
meio de índices antropométricos, pontos de antropométricas, tais como as dobras
Caso 2
corte e curvas de referência (BRASIL, 2008; cutâneas tricipital e subescapular, também
Adolescente com idade de 12 anos e 4
BRASIL, 2011b). Lembre-se de que o peso e a são recomendadas, pela OMS, em casos
meses, sexo masculino, apresentando
estatura de adolescentes devem ser obtidos de necessidade de uma avaliação mais estado nutricional pelo IMC para idade
com instrumentos adequados e por meio detalhada da composição corporal de compatível a sobrepeso e estágio final
das técnicas preconizadas pelo SISVAN. adolescentes; entretanto, essas medidas de maturação sexual. Conduta nutricio-
são menos factíveis para uso na rotina dos nal: O profissional de saúde deve orientar
serviços de saúde e exigem treinamento para uma alimentação saudável e demais
Para compreender melhor sobre o ações básicas de saúde além de referen-
adicional para a sua aferição (BRASIL, 2006b).
método antropométrico para avalia- ciar para o serviço de nutrição para res-
ção de adolescentes, consulte a par- Confira a seguir dois casos hipotéticos
tabelecer o padrão saudável do estado
te III do material “Orientações para de avaliação nutricional de adolescentes nutricional e acompanhar o crescimento
a Coleta e Análise de Dados Antro- e conduta nutricional: num ambulatório de
pométricos em Serviços de Saúde”,
e desenvolvimento do adolescente (LOU-
disponível no link: uma Unidade de Saúde, dois adolescentes RENÇO et al., 2011).
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ aguardavam atendimento clínico. A equipe de
publicacoes/orientacoes_coleta_ enfermagem fez as medidas antropométricas Consumo alimentar
analise_dados_antropometricos.pdf>.
de peso e estatura, anotando no prontuário. Para obtenção de informações sobre con-
Durante o atendimento clínico foi verificado sumo alimentar na adolescência, o SISVAN
Lembre, também, que os dados obtidos o estágio de maturação sexual. recomenda a aplicação do formulário de mar-
por meio da avaliação antropométrica cadores do consumo alimentar. Ao avaliar o
devem ser registrados posteriormente nos Caso 1 consumo alimentar de adolescentes, você
formulários do SISVAN, prontuário do usuá- Adolescente com idade de 14 anos e 9 deverá aplicar o bloco destinado a todos os
meses, sexo masculino, apresentando es-
rio, além do registro na Caderneta de Saúde indivíduos maiores de 2 anos de idade.

62
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Dentre os marcadores contemplados nas substituir uma anamnese alimentar Vale mencionar que o IMC para a idade
questões do formulário de avaliação ali- mais detalhada. é recomendado internacionalmente para
mentar para o grupo etário de adolescentes, • Qualquer profissional da APS pode diagnóstico individual e coletivo dos
são considerados como sendo saudáveis: aplicar o formulário de marcadores de distúrbios nutricionais na adolescência,
consumo de frutas, verduras/legumes e consumo em adolescentes. como, por exemplo, identificação dos casos
feijão; e como não saudáveis o consumo • A avaliação de consumo se refere ao com excesso de peso (BRASIL, 2011b), pois
de hambúrguer e embutidos, bebidas ado- dia anterior. parece refletir melhor do que outros índices
çadas, macarrão instantâneo, salgadinhos • A periodicidade recomendada de re- as mudanças da forma corporal (VITOLO;
de pacote e biscoitos salgados, bem como gistro de dados de consumo alimentar CAMPAGNOLO, 2015).
o consumo de biscoitos recheados, doces e antropométricos no sistema de infor- O SISVAN indica o uso desse índice no
e guloseimas (BRASIL, 2015c). O formulário mação em saúde é de, no mínimo, uma diagnóstico nutricional do adolescente
contempla, ainda, coleta de informações vez ao ano em caso de adolescentes. devido ao fato de que o IMC foi validado
sobre quais/quantas refeições são realiza- como indicador de gordura corporal total
das ao longo do dia e práticas relacionadas Diagnóstico do estado nutricional nos percentis superiores e proporciona
ao ato de comer, como o hábito de realizar Para a etapa de diagnóstico do estado uma continuidade com o indicador utilizado
refeições assistindo à televisão, mexendo no nutricional do adolescente, você utilizará entre adultos (BRASIL, 2011b). Além do IMC,
computador ou celular. alguns índices idênticos aos relacionados à o SISVAN recomenda a utilização do índice
Veja algumas vantagens de se utilizar o criança, já detalhados em capítulo anterior estatura por idade na avaliação e diagnósti-
formulário do SISVAN (BRASIL, 2015c) para da unidade, que são: índice de massa co nutricional de adolescentes, uma vez que
avaliação do consumo alimentar: corporal (IMC) e estatura por idade (BRASIL, esse índice contribui para a avaliação do
• É uma ferramenta útil e prática para 2011b; BRASIL, 2015b). crescimento linear (BRASIL, 2011b).
apoiar as equipes de saúde na iden-
tificação de inadequações na alimen-
tação e no fornecimento de subsídios
para orientação acerca da promoção
da alimentação adequada e saudável,
entretanto, não tem como propósito

63
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

De acordo com os protocolos do SISVAN, para a classificação do estado nutricional de de forma frequente, o que possibilita avaliar
adolescentes, são adotados os critérios (BRASIL, 2008) conforme você pode observar a seguir. a evolução e realizar o acompanhamento
do crescimento e desenvolvimento do ado-
Critérios de classificação do estado nutricional de adolescentes de acordo com a proposta do SISVAN lescente.
Para auxiliar no diagnóstico relacionado
Valores críticos Índices antropométricos para adolescentes
ao consumo alimentar dos adolescentes, é
Percentil Escore-z IMC para idade Estatura para idade importante que os profissionais da saúde
prestem atenção no relato de hábitos de
< 0,1 < –3 Magreza acentuada Muito baixa estatura para a idade consumo saudáveis e não saudáveis (BRASIL,
≥ 0,1 e < 3 ≥ –3 e < –2 Magreza Baixa estatura para a idade 2015c).
Lembre-se, ainda, de considerar situações
≥ 3 e < 15 ≥ –2 e < –1
Eutrofia de alerta que estejam relacionadas às
≥ 15 e ≤ 85 ≥ –1 e ≤ +1 práticas alimentares inadequadas, já que
> 85 e ≤ 97 > +1 e ≤ +2 Sobrepeso esses padrões podem representar fator de
Estatura adequada para a idade
risco para a ocorrência de excesso de peso e
> 97 e ≤ 99,9 > +2 e ≤ +3 Obesidade outras doenças crônicas.
> 99,9 > +3 Obesidade grave Vale lembrar que a utilização desses
indicadores de consumo alimentar em diag-
Importante: percentis superiores a 85 (IMC/idade) = excesso de peso corporal (sobrepeso/obesidade). nóstico coletivo, se observados de forma
regular, constitui ferramenta de cuidado e
gestão das ações de alimentação e nutrição
Quanto aos pontos de corte de IMC para dados antropométricos sejam registrados em diversos níveis. Além disso, o acompa-
a classificação de sobrepeso e obesidade, nas curvas disponíveis na Caderneta de nhamento dos dados relacionados ao padrão
você também pode utilizar como apoio Saúde do Adolescente, sendo que para a alimentar pode nortear ações relacionadas à
a tabela apresentada na página a seguir classificação do estado nutricional adota-se oferta do cuidado necessário conforme a si-
(BRASIL, 2014b). a referência da OMS (BRASIL, 2008). tuação alimentar e nutricional do sujeito que
Para o diagnóstico do estado nutricional Destaca-se a importância de que o regis- está em atendimento, bem como posterior
dos adolescentes, é importante que os tro nas curvas de crescimento seja realizado avaliação dos resultados (BRASIL, 2015c).

64
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Pontos de corte de IMC, de acordo com a idade, para diagnóstico de excesso de peso

Meninos Meninas Meninos Meninas


Idade em Idade em
anos anos
Sobrepeso Obesidade Sobrepeso Obesidade Sobrepeso Obesidade Sobrepeso Obesidade

10 18,48 21,40 19,03 22,57 15,5 23,12 27,44 23,83 28,58

10,5 18,81 21,91 19,43 23,13 16 23,53 27,87 24,10 28,87

11 19,16 22,45 19,86 23,72 16,5 23,91 28,27 24,32 29,11

11,5 19,54 23,01 20,32 24,34 17 24,27 28,63 24,50 29,28

12 19,95 23,58 20,81 24,97 17,5 24,60 28,95 24,65 29,42

12,5 20,38 24,16 21,31 25,60 18 24,91 29,24 24,77 29,52

13 20,83 24,76 21,81 26,21 18,5 25,19 29,50 24,87 29,60

13,5 20,30 25,35 22,28 26,79 19 25,45 29,72 24,97 29,67

14 21,77 25,92 22,73 27,32 19,5 25,45 29,72 24,97 29,67

14,5 22,23 26,46 23,15 27,80 20 25,45 29,72 24,97 29,67

15 22,68 26,97 23,51 28,22

Observação: A idade completa é considerada até 5 meses e 29 dias. Por exemplo, um adolescente com 15 anos 5 meses e 29 dias deverá entrar na faixa
de 15 anos, e um adolescente com 15 anos e 7 meses deverá entrar na faixa 15,5 anos

Fonte: BRASIL, 2014b.

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 3
CRIANÇAS E ADOLESCENTES AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Ao final das etapas de avaliação e diag- e indicadores antropométricos e alimentares


nóstico alimentar e nutricional, lembre-se de necessários para avaliação e diagnóstico
apresentar os resultados ao adolescente e/ nutricional de crianças e adolescentes. Con-
ou responsável, explicando o que esses acha- forme enfatizado no decorrer da unidade, é
dos representam e informando as devidas importante que você, profissional da saúde,
orientações para cada caso, especialmente realize o acompanhamento do estado nutri-
em situações de alerta, como excesso de cional de forma rotineira em sua atuação na
peso e baixo peso (BRASIL, 2008). atenção primária, como forma de contribuir
Nesta unidade, conhecemos as diferen- com a identificação dos indivíduos ou co-
tes ferramentas e critérios recomendados letividades que necessitem maior atenção,
pelo SISVAN para avaliação e diagnóstico do cuidado e orientação nutricional, como, por
estado nutricional. Esperamos que, após a exemplo, casos de crianças e adolescentes
leitura deste material, você se sinta mais es- com sobrepeso e obesidade.
clarecido acerca dos instrumentos, técnicas

66
UN4
RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES E COMPORTAMENTAIS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 4
CRIANÇAS E ADOLESCENTES RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES E COMPORTAMENTAIS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

É fundamental trabalharmos para incluam a família como um todo, reforçando


contribuir na melhoria das escolhas o impacto do ambiente familiar na modifica-
alimentares de crianças e adolescentes. ção e aquisição de hábitos.
Atualmente sabemos que os seus hábitos
alimentares têm sido marcados pelo alto 4.1 PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO
consumo de alimentos ultraprocessados, SAUDÁVEL SEGUNDO O
ricos em gorduras saturadas, sódio e GUIA ALIMENTAR PARA A
açúcares, somados ao sedentarismo, e ao POPULAÇÃO BRASILEIRA
longo período destinado a TV, computador,
videogames, tablets e celulares, fatores A alimentação saudável é muito importan-
diretamente relacionados com a incidência te para prevenção e controle da obesidade
de obesidade e outras doenças crônicas infanto-juvenil. As crianças e os adolescen-
não transmissíveis, tanto em curto quanto tes necessitam, principalmente, suprir as
em longo prazo. Na infância e adolescência, suas necessidades de energia para garantir
podem ocorrer várias deficiências e o seu desenvolvimento adequado, visto que
distúrbios nutricionais. As mais comuns se encontram em fase de crescimento.
são: anemia, desnutrição, anorexia, bulimia Pensando nisso, e visando suprir
e obesidade (BRASIL, 2014a; WHO, 2016). as necessidades energéticas que são
Além disso, você deve ter em mente que aumentadas, você deve orientar quanto à
as escolhas alimentares e comportamentais importância da realização de uma ou mais
sofrem forte influência dos hábitos da pequenas refeições (lanches) ao longo do
família, já que as crianças acabam apren- dia, além das principais refeições (café
dendo a se alimentar e agir por imitação dos da manhã, almoço e jantar). Recomende
costumes e dos alimentos escolhidos por que seja dada preferência aos alimentos
familiares ou outras pessoas que convivem in natura ou minimamente processados e
em seu ambiente. preparações culinárias feitas em casa ou
Pensando nisso, ao realizar as recomen- compradas em restaurantes de confiança a
dações, foque principalmente em ações que quilo. Desestimule o consumo de alimentos

68
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 4
CRIANÇAS E ADOLESCENTES RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES E COMPORTAMENTAIS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

ultraprocessados na rotina alimentar (BRASIL, to aleatoriamente para quem estiver com


2014a). a venda nos olhos perguntando: “O que Nesse link você consegue ter acesso
a mais atividades de educação nutri-
Agora, que tal montar estratégias de é, o que é?”. O participante poderá tocar cional que vão ser muito úteis para
educação nutricional para crianças e e cheirar o alimento para acertar o nome você! Acesse e confira:
adolescentes de uma escola perto da sua do alimento. Se acertar, o grupo ao qual <http://www.sgc.goias.gov.br/
upload/arquivos/2015-09/cartilha-
unidade de saúde? pertence ganha um ponto. Em seguida de-atividades-de-ean.pdf>.
Pensando nisso trouxemos para você é escolhido outro grupo para participar.
Para conferir interessantes informa-
uma atividade que pode ser utilizada para O jogo continua até que todos tenham
ções sobre o que recomenda o novo
crianças e adolescentes: participado pelo menos uma vez. Ganha guia alimentar para a população bra-
o grupo que acertar o maior número de sileira, acesse o link:
<https://www.youtube.com/
• NOME DA ATIVIDADE: O que é, o que é? alimentos. Essa atividade examinará a
watch?v=Ltt6si2U39I&list=PLx-
• PÚBLICO-ALVO: Crianças e adolescentes. capacidade de reconhecer e dizer o nome RfqJiTFaqc8_ei1-eHVBNB32hyP9aQ>.
• OBJETIVOS DA ATIVIDADE: Avaliar o co- de cada alimento. Após essa atividade, o
Você pode acessar o jogo " Hora do
nhecimento na identificação de alimentos educador poderá avaliar o nível de conhe- lanche" no link:
saudáveis por meio dos sentidos tato e cimento da turma em relação ao tema e, <http://www4.planalto.gov.br/
consea/itens-para-capa-consea/
olfato. se for necessário, poderá aplicar outras
jogo-eletronico-do-consea-
• MATERIAIS DE APOIO NECESSÁRIOS: Um atividades que permitirão conhecer me- mostra-escolhas-saudaveis-em-
tapa olhos de dormir para vendar os olhos, lhor os alimentos. alimentacao-para-criancas>.
alimentos saudáveis (exemplo: banana,
pepino, maçã, berinjela, mamão, quiabo, O Conselho Nacional de Segurança Ali-
laranja, cenoura, uva, chuchu, beterraba, mentar e Nutricional (CONSEA) desenvolveu Lembre-se de que, como profissional
limão, etc.). um jogo online para que crianças a partir de da saúde, você tem a responsabilidade de
• DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE: Dividir as 4 anos possam aprender a fazer escolhas incentivar as crianças e os adolescentes
crianças e adolescentes em dois grupos, saudáveis no dia a dia. Desenvolvido para desde cedo a se acostumarem com uma
em seguida, são vendados os olhos de smartphones e tablets, o jogo “Hora do lan- alimentação equilibrada para evitar, no futuro,
uma criança ou adolescente do grupo que che” possibilita que as crianças tenham um doenças relacionadas com a obesidade.
irá iniciar. O educador entrega um alimen- primeiro contato com segurança alimentar.

69
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 4
CRIANÇAS E ADOLESCENTES RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES E COMPORTAMENTAIS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

4.2 OUTROS ASPECTOS IMPORTANTES ção, nos últimos cinquenta anos, têm sido sando a reposição de perdas energéticas do
DA ALIMENTAÇÃO DE CRIANÇAS estimuladas devido ao crescente processa- organismo; a qualidade, pela variabilidade
E ADOLESCENTES mento industrial dos alimentos, bem como de alimentos e o seu teor de nutrientes, o
às transformações sociais, econômicas e que permite operar com esquemas de subs-
Existem diversas especificidades na culturais ocorridas na sociedade. Nesse tituição e equivalência na hora de realizar
alimentação de crianças e adolescentes que sentido, precisamos facilitar a mudança escolhas alimentares (LIMA, 2009).
precisam ser abordadas nos atendimentos das escolhas alimentares realizadas pelas De uma forma um pouco mais clara expli-
individuais e coletivos. Usualmente, surgem famílias, focando na importância da tomada camos a você em subtópicos, acompanhe.
diversas dúvidas relacionadas ao tipo e de decisão com base na qualidade alimentar,
quantidade de alimentos consumidos no dia na variedade dos alimentos ofertados e na Qualidade
a dia, como por exemplo: se pode ou não priorização de alimentos frescos e minima- A qualidade do alimento refere-se à
utilizar adoçantes, café, alimentos diet/light, mente processados (MENEGASSE et al., 2018). composição de determinado alimento, que
dentre outros aspectos. inclui todos os nutrientes que devem ser
Ao realizar o acolhimento dessas dúvidas E, afinal, o que é quantidade e qualidade? ingeridos diariamente.
e/ou ao realizar as recomendações, procure A quantidade pode ser definida pela No momento de orientar as famílias, você
agir com empatia e escuta ativa para, suficiência de calorias na alimentação, vi- deve sempre focar na qualidade da alimenta-
posteriormente, informar adequadamente
sobre cada ponto. Para isso, você pode
utilizar de recursos como diálogo, jogos,
brincadeiras, atividades lúdicas, em grupo
ou de forma individualizada.

Qualidade versus quantidade


Cada fase da nossa vida precisa ser
acompanhada de uma alimentação equi-
librada e individual, afinal, somos reflexo
daquilo que comemos. Porém, as alterações
na qualidade e na quantidade da alimenta-

70
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 4
CRIANÇAS E ADOLESCENTES RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES E COMPORTAMENTAIS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

ção. O novo guia alimentar para a população Nas orientações, foque em auxiliar a nutricional, explicando as suas diferenças,
brasileira orienta principalmente em relação criança e o adolescente a ouvir e entender o conforme descrito na figura abaixo.
à qualidade das escolhas alimentares, visto seu corpo e os sinais de saciedade. Oriente Explique dando exemplos:
que é muito mais complicado para a popula- a família a se alimentar apenas até se sentir • Um café da manhã com 4 bolachas
ção em geral realizar as suas escolhas com satisfeito e a não forçar a criança ou o recheadas e 1 copo de achocolatado
base na quantidade de calorias contidas na adolescente a comer tudo o que foi servido tem em torno de 300 calorias, muito
alimentação (BRASIL, 2014a). no prato. açúcar adicionado e praticamente
É importante orientar as famílias, com Um alimento pode ter a mesma quantidade nenhum micronutriente.
base na premissa da qualidade nutricional de calorias de outro, porém não fornecer • Já um café da manhã composto por 1
dos alimentos, entendendo que tudo o que nutrientes necessários para o corpo. Você fatia de pão integral, 1 ovo mexido, 1
vir da natureza e trouxer variedade de cores pode dar como exemplo para a família, laranja e 1 copo de leite contém o mes-
trará nutrientes e energia necessários para durante o seu atendimento, as diferenças mo teor calórico, mas uma qualidade
o crescimento adequado, tanto da criança e entre densidade energética e densidade nutricional infinitamente superior (vita-
do adolescente, quanto da sua família. Já,
uma alimentação baseada em alimentos
Densidade energética Densidade nutricional
“empacotados” será “rica” em calorias, mas
deficiente em nutrientes essenciais para o
desenvolvimento saudável, favorecendo o de- Alimentos com alta densidade energéti- A densidade nutricional significa que quanto
senvolvimento do sobrepeso e da obesidade. ca são aqueles que em uma pequena maior for a densidade nutricional do alimento,
quantidade de alimento têm uma elevada maior será a variedade de nutrientes benéficos
concentração de calorias, aumentando o para a saúde. Frutas e vegetais têm uma alta
Quantidade risco de obesidade. Normalmente os densidade nutricional e uma baixa densidade
A quantidade de alimento deve ser alimentos ultraprocessados apresentam energética, o que os torna alimentos adequados
suficiente para cobrir as exigências, princi- alta densidade energética e, por isso, o para a nossa saúde e devem ser indicados na
palmente energéticas e proteicas do orga- seu consumo deve ser desencorajado. alimentação diariamente.
nismo, e manter em equilíbrio o seu balanço.
No entanto, não deve ser o foco principal no
momento de realizar as orientações para
crianças e adolescentes.

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 4
CRIANÇAS E ADOLESCENTES RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES E COMPORTAMENTAIS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

mina A, fibras, aminoácidos essenciais, alimentação saudável, equilibrada ou corpo, prevenir o surgimento de doenças
vitamina C, carboidratos complexos, adequada, deve ser baseada em práticas crônicas não transmissíveis e suprir a energia
cálcio, dentre outros nutrientes). alimentares que assumam o papel social e que se gasta nas atividades diárias, como
cultural dos alimentos como fundamento bá- andar, brincar, estudar, trabalhar, dançar, etc.
Escolhas alimentares (alimentação sico conceitual (BRASIL, 2005; BRASIL, 2014a). A alimentação de crianças e adolescen-
equilibrada, níveis de Neste sentido, é fundamental resgatar essas tes deve seguir as premissas de variedade,
processamento, dietas da moda) práticas bem como estimular a produção e o moderação e equilíbrio, respeitando as dife-
De uma forma geral, as escolhas alimen- consumo de alimentos saudáveis regionais rentes necessidades para cada grupo etário.
tares são influenciadas por diversos fatores (como legumes, verduras e frutas), sempre A criança por sua vez está em fase de
e dentre os quais estão os biológicos, levando em consideração os aspectos com- crescimento. Por meio da alimentação,
sensoriais, socioeconômicos, culturais e portamentais e afetivos relacionados às prá- que é guiada e oferecida pelos pais ou
psicológicos. Assim, pode-se dizer que de- ticas alimentares. Lembre-se de incentivar a responsáveis, irá formar seus hábitos
pendem, primeiramente, de acesso e dispo- aquisição de alimentos da produção local, alimentares e o seu paladar.
nibilidade do alimento, mas, também do que pois tendem a ter menor concentração de Utilize um diálogo mais lúdico para expli-
se conhece, aprende, acredita e sente sobre agrotóxicos e melhor qualidade nutricional. car como é importante praticar uma alimen-
determinado tipo de alimento (SPANIOL, 2014; A alimentação equilibrada, ou adequada tação variada. Você pode usar brinquedos
SCWARZENBERG et al., 2018). para idade, é fundamental para ajudar no ou desenhos, como forma de se aproximar
De acordo com o Ministério da Saúde, crescimento, desenvolver e fortalecer o da criança, e utilizar a pirâmide alimentar
para explicar todos os grupos alimentares.
Diga a ela que necessitamos incluir, no dia
a dia, todos os grupos e cores para garantir
uma alimentação saudável e equilibrada.
Já, os adolescentes passam por grandes
transformações corporais e hormonais
(corpo de uma criança vai se transformar no
corpo de um adulto). Portanto, é necessário
alimentar-se bem, de forma nutritiva e equi-
librada, garantindo bom desenvolvimento

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 4
CRIANÇAS E ADOLESCENTES RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES E COMPORTAMENTAIS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

físico e intelectual. É na adolescência que o Níveis de processamento e desencoraje o consumo de alimentos


crescimento da pessoa se completa, e nessa industrial dos alimentos ultraprocessados.
fase a alimentação é fundamental não só Ao realizar as recomendações para Nesse sentido, o ideal é utilizar
para suprir as necessidades dos nutrientes, crianças e adolescentes, oriente os pais e explicações mais lúdicas para ensinar as
mas também para ajudar a manter o peso cuidadores a priorizar alimentos in natura ou famílias a reconhecer esses alimentos e
adequado e o desenvolvimento normal das minimamente processados, diversificando fazer essas substituições de forma mais
massas óssea e muscular. Nesse momento, as cores e formas de preparo dos alimentos, saudável, utilizando os exemplos a seguir.
as proteínas e o cálcio desempenham papéis
muito importantes na garantia de uma reser-
Alimentos processados Opções de substituição com base
va óssea adequada e na prevenção do surgi- e ultraprocessados em alimentos saudáveis
mento de osteoporose, na terceira idade.
Bolacha recheada Doce caseiro, iogurte batido com fruta e mel,
bolacha caseira, pão integral.
Suco de caixinha ou em pó, refrigerantes Fruta, suco de fruta natural, água.
Neste link, você terá acesso a diver-
sas atividades de educação nutricio- Embutidos Carne bovina, frango, peixes, queijo e ovo.
nal voltadas a famílias, crianças e Salgadinho de pacote Frutas secas, oleaginosas, pão caseiro, tapioca,
adolescentes, relacionadas à adoção pão francês.
de hábitos alimentares saudáveis:
<http://www.mds.gov.br/ Macarrão instantâneo Macarrão feito de farinha e água, macarrão com
webarquivos/publicacao/ temperos naturais e molho de tomate caseiro.
seguranca_alimentar/
cadenodeatividades_ean.pdf>. Caldos e temperos Temperos naturais como orégano, sálvia, alecrim,
alho, cebola, páprica, salsinha, cebolinha,
A UNICEF elaborou um “cardápio de cúrcuma, manjericão, etc.
ferramentas para promover a alimen-
tação saudável entre adolescentes, Maionese Iogurte natural, queijo cottage, maionese de
junto às suas famílias e comunida- banana verde, maionese de abacate.
des” e que pode ser de muita utilida-
Cereal matinal Aveia em flocos ou granola caseira.
de em ações individuais e grupais na
sua unidade: <https://www.unicef. Margarina Manteiga.
org/brazil/media/4901/file/comer_
bem_e_melhor_juntos_pb.pdf>.
Sopa instantânea Sopa de vegetais, sopa de feijão, sopa de lentilha.

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 4
CRIANÇAS E ADOLESCENTES RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES E COMPORTAMENTAIS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Você pode, por exemplo, propor uma atividade como a descrita a seguir, confira!
Dietas da moda
No que se refere a dietas da moda,
“Faça o mercado” devemos ter muito cuidado, com as crianças
e os adolescentes, pois dietas restritivas,
que visam o controle ou a perda de peso,
Materiais necessários: • Aplicativo gratuito “desrotulando”, acessível
no link: <https://desrotulando.com/> podem ser perigosas nessas faixas etárias.
• Embalagens de produtos
Desencoraje a realização de dietas restri-
alimentares diversos (solicitar que • Cestinha, carrinho de brinquedo ou sacola
tivas focadas em ingredientes específicos,
as crianças tragam de suas casas) ecológica
como, por exemplo, eliminação total de açú-
cares, glúten, lactose, gordura, entre outros.
Faça uma atividade prática em grupo, de forma intersetorial, no ambiente Explique que esse tipo de alimentação, além
escolar. Sugerimos que seja realizada com crianças de idade superior a de ser uma solução superficial, pode preju-
4 anos. Peça para as crianças e/ou os adolescentes levarem para
dicar o desenvolvimento e o crescimento, se
escola embalagens de alimentos consumidos pela família.
praticadas sem uma justificativa clínica. As
No dia da atividade, juntamente com o professor, distribua as embala- crianças e adolescentes precisam de uma
gens na mesa, como se estivessem nas prateleiras de um mercado.
alimentação variada e balanceada, desenvol-
Separe os alunos em grupos de quatro crianças, e peça para vendo assim hábitos alimentares saudáveis.
entrarem ao “mercado”, carregando na cestinha, carrinho de No caso de crianças e adolescentes
brinquedo ou sacola, as embalagens de produtos conside-
com sobrepeso ou obesidade, também é
rados saudáveis.
recomendado ter muita cautela ao enfatizar
Finalmente, com ajuda de um aplicativo de celular ou a restrição de certos alimentos. Na maioria
tablet de uso gratuito, chamado “desrotulando”, faça a
das vezes, não é aconselhável “cortar” ingre-
consulta dos alimentos e leitura dos rótulos e ingredien-
tes, avaliando junto dos alunos a sua composição nutri- dientes ou alimentos específicos. Por isso, é
cional. Essa atividade permite dialogar de forma muito importante trabalhar a educação nutri-
lúdica sobre as escolhas alimentares realizadas no cional, adequando a alimentação de acordo
dia a dia pelas crianças e adolescentes. com as recomendações dietéticas do guia
alimentar, estimulando a prática de atividade

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 4
CRIANÇAS E ADOLESCENTES RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES E COMPORTAMENTAIS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

física e focando na qualidade alimentar, sem Para um alimento ser considerado light, principal e única fonte de hidratação deve
determinar tamanhos de porções. deve apresentar redução mínima de 25% de ser a água. A seguir, explicamos as reco-
Lembre-se de que cortar os alimentos do um determinado ingrediente ou nutriente mendações relacionadas ao consumo de
cardápio das crianças e dos adolescentes quando comparado ao alimento conven- líquidos para crianças e adolescentes, com
não é a solução para lidar com o sobrepeso cional, podendo envolver valor energético, mais detalhes, acompanhe.
e a obesidade infanto-juvenil. açúcar, sódio, gorduras, totais ou satura-
das, e colesterol, não sendo um alimento Água
Alimentos não recomendados recomendado para crianças e adolescentes De acordo com a Sociedade Brasileira de
(adoçantes, desnatados, light, diet) (SANTOS et al., 2015). Pediatria (2018), a recomendação de água é
O consumo de adoçantes, alimentos Alimentos diet são aqueles que a seguinte, confira.
desnatados, cafés e produtos light ou diet não possuem ou têm ausência de um
não são recomendados para o público determinado ingrediente, como sacarose,
infanto-juvenil, com exceção de situações proteína, gordura ou sódio, de maneira que Crianças de 1 a 3 anos de idade:
específicas e que devem ser individualmente sua composição atenda às necessidades 1,3 litros por dia
avaliadas. de pessoas em condições metabólicas,
De acordo com a Sociedade Brasileira de fisiológicas ou patológicas específicas.
Crianças 4 a 8 anos de idade:
Pediatria (2018), os adoçantes podem ser Esses alimentos não são indicados para
usados apenas por crianças e adolescentes crianças e adolescentes, somente em casos 1,7 litros/dia
com presença de diabetes mellitus, que de doenças específicas como, por exemplo,
necessitem controlar os níveis de glicose no diabetes (SANTOS et al., 2015). Pré-adolescentes entre
sangue. 9 a 13 anos de idade:
Crianças devem utilizar alimentos inte- Consumo de líquidos: água,
2,4 litros/dia
grais, a exemplo do leite, pois além da gor- sucos naturais, sucos, bebidas
dura, possui vitaminas que são essenciais adoçadas e refrigerantes
para as crianças. Já os adolescentes podem A oferta de líquidos, principalmente bebi- Adolescentes entre
utilizar alimentos desnatados ou semidesna- das açucaradas, como sucos industrializa- 14 e 18 anos:
tados (VITOLO, 2015; SOCIEDADE BRASILEIRA DE dos e refrigerantes, é elevada entre crianças 3,3 litros/dia
PEDIATRIA, 2018). e adolescentes. É importante reforçar que a

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 4
CRIANÇAS E ADOLESCENTES RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES E COMPORTAMENTAIS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Precisamos incentivar o consumo de Comportamento alimentar do como base o novo Guia Alimentar para a
água independente dos outros líquidos, já Podemos trabalhar para a melhoria do População Brasileira (BRASIL, 2014a). Confira
que ela desempenha papel fundamental comportamento alimentar e das escolhas algumas orientações!
na regulação de muitas funções vitais do alimentares por meio de ações de educação 1. Incentive a família a comer em
organismo. nutricional, que podem ser realizadas na Uni- companhia, criando laços afetivos para
dade Básica de Saúde (UBS), tanto de forma vida toda. Explique para os pais que as
Sucos de frutas naturais individual como em grupos e no ambiente crianças aprendem por imitação, e que
O consumo de suco 100% natural não escolar. A educação nutricional desempe- por isso é tão importante que todos
deve ser abolido da alimentação de crian- nha um papel muito importante em relação façam a refeição, sempre que possível,
ças e adolescentes, por ser grande fonte ao processo de transformação, recuperação no mesmo horário e local.
de vitamina, mas deve, sim, ser limitado a e promoção de hábitos alimentares saudá- 2. Explique a importância de comer sem
120 a 150 ml por dia para crianças de 1 a veis, pois pode proporcionar conhecimentos distrações, reforçando que o uso de te-
6 anos de idade, e a 240 a 350 ml por dia necessários em relação à tomada de deci- lefone, tablets, celulares e televisão na
para crianças e adolescentes de 7 a 18 anos são, atitudes, hábitos e práticas saudáveis hora das refeições tende a mascarar os
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2018). ao longo da vida. sinais de fome e de saciedade, fazen-
A especulação de que o excesso de peso do com que se coma mais do que o ne-
poderia ser considerado uma consequência cessário, e aumentando, consequente-
do consumo excessivo de suco de frutas Você conhece a iniciativa “Ideias mente, as chances de ganho de peso.
naturais não é consenso na comunidade na mesa”? Nesta plataforma, você 3. Estimule a divisão das tarefas culiná-
encontrará diversas ideias e ativida-
científica. Entretanto, é importante conside- des de educação nutricional que po- rias, como arrumar a mesa, lavar louça,
rar o conteúdo energético da fruta utilizada dem ser colocadas em prática com respeitando a faixa etária e a capacida-
e a quantidade oferecida por dia à criança crianças e adolescentes, visando in- de de cada membro da família na hora
troduzir novos hábitos alimentares:
com excesso de peso. <https://issuu.com/ideiasnamesa>. de delegar as funções de cada um.
Lembre-se de desencorajar o uso de 4. Sugira a preparação de receitas fáceis
açúcar de adição e de adoçantes nos sucos, e saudáveis em família. Essa prática
visto que esses adicionam calorias vazias, Nesse sentido, é muito importante aproxima as crianças e adolescentes
aditivos químicos, e tendem a modificar o trabalhar aspectos motivacionais, para a de novos alimentos, auxiliando na
paladar e a aceitação de frutas in natura. mudança do comportamento alimentar, ten- redução da neofobia alimentar.

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SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 4
CRIANÇAS E ADOLESCENTES RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES E COMPORTAMENTAIS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

5. Diga para os pais o quão importante é 7. Incentive os pais a elogiarem a criança rentes preparações com um mesmo
convidar as crianças e os adolescentes e o adolescente em situações em alimento e introduzindo o alimento em
a irem juntos para a feira. Dessa que eles aceitam experimentar novos pequenas porções, de forma a não as-
forma, eles aprendem e reconhecem alimentos, sem importar a quantidade sustar a criança.
variedade, tipos, texturas e sabores de consumida. 9. Recomende a apresentação dos ali-
alimentos in natura ou minimamente 8. Oriente os pais e cuidadores sobre a mentos de forma lúdica. Essa é uma
processados. importância de aproximar a criança e o ótima estratégia para mudança de
6. Reforce a importância de não obrigar adolescente dos alimentos recusados comportamento alimentar. Podem ser
a criança ou o adolescente a comer, no prato: isso deve ser realizado aos utilizados cortadores com formatos
e estimule os pais a serem o exemplo poucos e sem pressão, fazendo dife- divertidos, por exemplo.
para os seus filhos. As atitudes e os comportamentos
alimentares são resultado de um longo
processo de socialização e desenvolvimento,
aprendidos no seio da família e sujeitos às
influências no meio em que vive.

Entenda os comportamentos ali-


mentares associados a crianças
com obesidade:
<https://www.sciencedirect.
com/science/article/pii/
S1646343914000388>

Acesse a revista Ideias na Mesa e


obtenha diversas ideias simples de
atividades de educação nutricional:
<https://issuu.com/ideiasnamesa/
docs/revistaideiasnamesa6_
simples>.

77
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 4
CRIANÇAS E ADOLESCENTES RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES E COMPORTAMENTAIS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Percepção da imagem corporal parte das vezes, mostram imagens


A imagem corporal é compreendida como irreais e inalcançáveis relacionadas à
a “figuração de nosso corpo formada em imagem corporal.
nossa mente” (NEVES et al., 2017). É construída • Estimular a prática do autoconheci-
de maneira complexa e multifacetada, e se mento e da autoaceitação: conhe-
subdivide em duas dimensões: perceptiva e cer-se é o primeiro passo para tomar
atitudinal. consciência das atitudes destrutivas
A primeira, define a exatidão no julgamen- para, então, mudá-las, estabelecendo
to do tamanho, da forma e do peso corporal, uma autoestima saudável.
e, a segunda, envolve pensamentos, senti-
mentos e comportamentos relacionados ao Sabendo que os pais são grandes influen-
corpo levando a uma avaliação negativa do ciadores no processo de autoaceitação da
próprio corpo. imagem corporal, de crianças e adolescen-
Ao longo da vida, a imagem corporal está tes, incentive-os a evitar falas voltadas à
em permanente (des)construção, e é durante supervalorização da magreza ou de uma
a infância e adolescência que preocupações imagem corporal específica. Reforce a
com o peso, crenças relacionadas ao corpo e alguns pontos importantes, visando a importância de estimular uma alimentação,
comportamentos para melhora da aparência autoaceitação e autopercepção positiva assim como hábitos de vida saudáveis, mas
física se iniciam. Com isso, desde muito do corpo, de maneira simples e amorosa, não voltados a padrões estéticos valoriza-
cedo e em função de uma busca pelo corpo utilizando as seguintes orientações: dos pela mídia.
“ideal”, a criança ou o adolescente pode ter • Mostrar a importância de não se
sua imagem corporal afetada. Assim, uma comparar a outras pessoas, e sim a
imagem corporal negativa durante a infância comparar o próprio desenvolvimento, Podemos concluir que imagem cor-
poral é o conceito (definição) que
e a adolescência pode ser fator de risco para buscando sempre a melhoria da
cada pessoa tem de seu corpo e
o desenvolvimento de psicopatologias em qualidade de vida. suas partes, bem como a forma que
idades mais avançadas (NEVES et al., 2017). • Reforçar que não se deve dar ouvidos ele se comporta ou deve se compor-
tar em diferentes situações.
Nesse sentido, você, como profissional à opinião dos outros, explicando que
da atenção primária à saúde, pode trabalhar a mídia e as redes sociais, na grande

78
SOBREPESO E OBESIDADE EM UN 4
CRIANÇAS E ADOLESCENTES RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES E COMPORTAMENTAIS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Nesta unidade, conhecemos as


diversas recomendações alimentares e
comportamentais voltadas a crianças e
adolescentes para prevenção e controle do
sobrepeso e da obesidade. Esperamos que,
após a leitura deste material, você se sinta
instrumentalizado para realizar orientações
acerca dos grupos e comportamentos
alimentares que devem ser encorajados e
desencorajados na rotina alimentar familiar,
e que os conteúdos abordados no decorrer
da unidade contribuam para a implantação
de atividades de educação nutricional para
crianças e adolescentes.

79
SOBREPESO E OBESIDADE EM ENCERRAMENTO DO MÓDULO
CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Chegamos ao final do módulo! as recomendações alimentares e comporta-


Esperamos que o conteúdo tenha sido mentais, visando aprimorar o conhecimento
proveitoso e que você tenha sucesso na e apresentar ferramentas apropriadas para
aplicação das orientações no território onde a sua atuação na prevenção e no controle do
você atua. Ao longo do conteúdo estudado, excesso de peso, no âmbito da APS.
apresentamos informações e orientações Recomendamos, também, a leitura dos
atualizadas e relevantes para a sua prática materiais sugeridos nos itens “Saiba mais”
na prevenção e no controle do sobrepeso e distribuídos ao longo das unidades, assim
da obesidade em crianças e adolescentes, como a apreciação dos materiais utilizados
visando uma atuação com acolhimento, como referência bibliográfica na montagem
empatia pelo usuário da rede de atenção deste curso.
primária em saúde e embasamento científi- Como estratégia para prevenção e cuida-
co, respeitando sempre a cultura alimentar do do sobrepeso e da obesidade, em todo o
da sua região. Lembre-se de que a infância ciclo da vida, o Ministério da Saúde elabo-
e a adolescência são etapas de grande rou materiais ricos em conteúdo atualizado
desenvolvimento físico, hormonal, mental e para a realidade brasileira, e que serão fun-
emocional e, por isso, devemos olhar para damentais para a sua atuação profissional
essa fase com muito respeito e dedicação. e embasamento nos atendimentos dentro
Ao longo do módulo, abordamos aspec- da UBS. Agradecemos a sua participação e
tos epidemiológicos, sociais e causais do dedicação na leitura desse módulo.
sobrepeso e da obesidade em crianças e
adolescentes. Na sequência, foram des-
tacadas as principais políticas públicas
e especificidades voltadas a esta fase da
vida, assim como também as estratégias
de diagnóstico e avaliação do estado
nutricional. Finalmente, foram levantadas

80
SOBREPESO E OBESIDADE EM REFERÊNCIAS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES

ABARCA-GOMEZ, L. et al. Worldwide BATISTA, M. et al. Ações do Programa


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a pooled analysis of 2416 population-based experiência no município de Itapevi, São
measurement studies in 128·9 million Paulo, Brasil, 2014. Epidemiol. Serv.
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81
SOBREPESO E OBESIDADE EM REFERÊNCIAS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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<http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/ carencias_micronutrientes.pdf>. Acesso
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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Básica Orientações para a coleta e análise
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Básica. Obesidade. (Cadernos de Atenção básica; altera as Leis nos 10.880, de 9 de
Básica, nº 12). Brasília: Ministério da Saúde, junho de 2004, 11.273, de 6 de fevereiro BRASIL. Ministério da Educação. Fundo
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revoga dispositivos da Medida Provisória no Resolução Nº 26, de 17 de junho de 2013.
BRASIL. Presidência da República. Casa 2.178-36, de 24 de agosto de 2001, e a Lei Dispõe sobre o atendimento da alimentação
Civil. Decreto nº 6286, de 5 de dezembro de no 8.913, de 12 de julho de 1994; e dá outras escolar aos alunos da educação básica
2007. Institui o Programa Saúde na Escola providências. Brasília, 2009. no âmbito do Programa Nacional de
- PSE, e dá outras providências. Brasília, Alimentação Escolar – PNAE. Brasília,
2007a. 2013a.

82
SOBREPESO E OBESIDADE EM REFERÊNCIAS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº a Política Nacional de Atenção Integral à Panorama nacional de implementação
2.681, de 7 de novembro de 2013. Redefine Saúde da Criança (PNAISC) no âmbito do do Programa Academia da Saúde:
o Programa Academia da Saúde no âmbito Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, monitoramento do Programa Academia da
do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, 2015a. Saúde: ciclo 2017. Brasília: Ministério da
2013b. Saúde, 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Marco de referência da vigilância Atenção Primária a Saúde. Guia alimentar
Básica. Política Nacional de Alimentação alimentar e nutricional na atenção básica. para crianças brasileiras menores de 2
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Ministério da Saúde, 2013c.
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Silvia Giselle Ibarra Ozcariz Gabriele Rockenbach Caroline Bandeira


Nutricionista materno-infantil, formada pela Possui graduação em Nutrição pela Univer- Nutricionista materno-infantil. Docente, Es-
Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), sidade de Santa Cruz do Sul; Especialização pecialista em Nutrição Materno Infantil pela
mestre em Epidemiologia pela Universidade em Nutrição Clínica pela Universidade de FATEC - PR, Pós – graduada em Nutracêutica
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Santa Cruz do Sul; Especialização em Saúde pela Universidade Lusófona de Lisboa –
doutora em Saúde Coletiva da Universi- da Família pela Universidade Federal de San- Portugal, Mestre e Doutoranda em Saúde
dade Federal de Santa Catarina (UFSC) e ta Catarina; Especialização em Ciência dos Coletiva pela UFSC e Membro do CORAMAS
Pós-doutora em Nutrição pelo Programa de Alimentos pela Universidade Federal de Pelo- – Comitê Regional de Aleitamento Materno e
Pós-graduação em Nutrição da Universidade tas; Mestrado em Nutrição pela Universidade Alimentação Saudável da Grande Florianópo-
Federal de Santa Catarina. Trabalha como Federal de Santa Catarina e Doutorado em lis. Autora do livro Nutrindo com amor – Ed
pesquisadora do Projeto de Prevenção da Epidemiologia pela Universidade Federal do Tribo e Co-autora do Manual de Prescrição
Obesidade do Ministério da Saúde, do Estudo Rio Grande do Sul. Atualmente é professora de Fitoterápicos para o Nutricionista - Ed
EpiFloripa – Condições de Saúde de Adultos do Departamento de Nutrição da Universida- Atheneu. Founder da empresa PApáDUbeBÊ
de Florianópolis, do Estudo EpiFloripa Idoso de Federal de Santa Catarina, vinculada ao e Sócia do espaço Em Família Nutrição Afeti-
e da pesquisa MOV+, atuando em todas as Curso de Graduação em Nutrição e Pós-gra- va. Tem experiência na área de Alimentação
fases da pesquisa. Participou nos estudos duação em Residência Multiprofissional em e Nutrição, atuando principalmente nos
ECCAGe, estudo multicêntrico ELSA Brasil. Saúde da Família. seguintes temas: Nutrição Clínica, Nutrição
Tem experiência na área de Epidemiologia Materno-Infantil, Comportamento Alimentar,
Endereço do currículo na plataforma lattes:
Nutricional, atuando principalmente nos Educação Nutricional, Consumo alimentar e
http://lattes.cnpq.br/3299667761032805
seguintes temas: Epidemiologia Nutricional, Nutracêuticos.
Avaliação do Consumo Alimentar, Produtos
Endereço do currículo na plataforma lattes:
Ultraprocessados, Educação Nutricional,
http://lattes.cnpq.br/3227046558041924
Nutrição Materno-Infantil e Saúde do Adulto.

Endereço do currículo na plataforma lattes:


http://lattes.cnpq.br/2266424295747552

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