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Comarca de Porto Alegre

Vara Criminal do Foro Regional Restinga


Avenida Otto Niemeyer, 2000

Processo nº: 001/2.17.0097490-2 (CNJ:.0191745-17.2017.8.21.0001)


Natureza: Porte de Arma
Autor: Justiça Pública
Réu: Douglas dos Santos Farinha
Juiz Prolator: Juíza de Direito - Dra. Jocelaine Teixeira
Data: 21/12/2018

Trata-se de ação penal em que o Ministério Público


ofereceu denúncia contra DOUGLAS DOS SANTOS FARINHA,
brasileiro, solteiro, natural de Porto Alegre/RS, nascido em
21.07.1997, filho de Leandro de Lima Farinha e de Denise Becco
dos Santos, residente na Estrada Barro Vermelho, n° 207 ou 210,
Bloco B, Bairro Restinga, nesta Capital (fl. 02x e CD audiovisual de
fl. 165), atualmente preso por processo diverso na Cadeia Pública
de Porto Alegre, dando-o como incurso, duas vezes, nas sanções do
art. 16, caput, da Lei n.º 10.826/2003, combinado com o art. 2º da
Lei nº 8.072/90, na forma do art. 69 do Código Penal, pela prática
dos fatos assim narrados:

No dia 07 de novembro de 2017, por volta das


00h50min, na Avenida Edgar Pires de Castro,
próximo ao n.° 4100 e ao “Posto Ipiranga”,
Restinga, nesta Capital, o denunciado portava

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e trasportava arma de fogo (fato 1), munições
e acessório (fato 2) de uso restrito, em
desacordo com determinação legal ou
regulamentar, consistente em 01 (uma)
pistola, marca Glock, calibre 9mm, n° de série
ACPY469, municiada com 18 (dezoito)
cartuchos do mesmo calibre (fato 1), e 01
(um) carregador sobressalente, contendo 31
(trinta e um) cartuchos calibre 9mm (fato 02),
tudo apreendido conforme auto de apreensão
da fl. 27.

Na ocasião, o denunciado portava e


trasportava a arma de fogo, as munições e o
carregador acima descritos, a bordo do
veículo Fiat/Palio EDX, cor laranja, placas
CEW-8222, quando foi abordado por policiais
militares, que investigavam a prática de roubo
a pedestre na região.

Ato contínuo, o condutor do veículo, Juliano


Mendes Chaves, o carona, Gislaine Rodrigues
da Rosa, e os dois passageiros do banco de
trás, Luiz Eduardo Coutinho Dias e o
denunciado, foram submetidos a revista
pessoal, assim como o automóvel, tendo sido
apreendido, na parte de trás, um carregador
sobressalente e, embaixo de um banco, a

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pistola municiada e a quantia de R$ 1.005,00
(mil e cinco reais) em dinheiro.

O denunciado confessou informalmente aos


policiais que a arma de fogo e o acessório lhe
pertenciam, tendo sido efetuada a sua prisão
em flagrante e posterior condução ao plantão
policial.

O auto de prisão em flagrante foi homologado, com


decretação da prisão preventiva (fl. 51).

Realizou-se audiência de custódia (fls. 55/56).

Indeferiu-se a destinação da arma à polícia civil (fl. 137).

A denúncia foi recebida em 11.12.2017 (fl. 139).

Vieram exame de lesões corporais do acusado e laudo


pericial da arma e das munições (fls. 142/147).

O réu foi pessoalmente citado (fl. 148) e apresentou resposta


à acusação pela defesa pública (fl. 149).

Ratificou-se o recebimento da denúncia (fl. 150).

Durante a instrução, foram inquiridas testemunhas; o


acusado foi interrogado; a acusação desistiu da oitiva de três testemunhas, o
que restou homologado; e concedeu-se a liberdade provisória (fls. 162/165).

Foram atualizados os antecedentes (fls. 173/176).

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Em memoriais escritos, o Ministério Público requereu a
condenação, nos termos da denúncia, porém em concurso formal de crimes,
dizendo comprovadas a autoria e materialidade delitivas (fls. 177/179).

Veio guia de depósito do valor apreendido na fl. 30 (fl. 180).

A defesa postulou a absolvição, por insuficiência probatória,


dizendo limitar-se ao depoimento de um dos agentes que fez a prisão em flagrante, e
a atipicidade da conduta imputada ante a ausência de perigo de dano.
Subsidiariamente, disse tratar-se de crime único (fls. 177/186).

Relatei. Decido.

Transcrevo os tipos penais da imputação:

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter


em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou
ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido
ou restrito, sem autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:

(…)

IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma


de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de
identificação raspado, suprimido ou adulterado;

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Quanto ao que se considera arma de uso restrito, assim prevê o
art. 16 do Decreto n.º 3.665/2000.

Art. 16. São de uso restrito:

I - armas, munições, acessórios e equipamentos iguais ou


que possuam alguma característica no que diz respeito aos
empregos tático, estratégico e técnico do material bélico
usado pelas Forças Armadas nacionais;

II - armas, munições, acessórios e equipamentos que, não


sendo iguais ou similares ao material bélico usado pelas
Forças Armadas nacionais, possuam características que só
as tornem aptas para emprego militar ou policial;

III - armas de fogo curtas, cuja munição comum tenha,


na saída do cano, energia superior a (trezentas libras-pé
ou quatrocentos e sete Joules e suas munições, como
por exemplo, os calibres .357 Magnum, 9 Luger, .38
Super Auto, .40 S&W, .44 SPL, .44 Magnum, .45 Colt
e .45 Auto;

Os elementos objetivos do tipo penal denunciado inferem-se do


auto de apreensão da fl. 28 (uma pistola Glock 9mm, número de série ACPY469,
um carregador sobressalente e quarenta e nove cartuchos de igual calibre) e
pelo Laudo Pericial (fls. 146/147). A potencial lesividade da pistola e eficácia
das munições apreendidas estão configuradas no Laudo Pericial, que aponta
a adequação típica ao art. 16, caput, da Lei nº 10.826/03.

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17.2017.8.21.0001)
A tipicidade do porte ilegal de arma de fogo é como delito de
mera conduta, de forma a prescindir do uso da arma, ou seja, do perigo concreto para
a caracterização do tipo, como concebida a tipicidade pelo legislador. A tese da
inconstitucionalidade suscitada pela defesa, por conta da ausência de lesividade
concreta ou da punição de forma objetiva foi apreciada no Supremo Tribunal
Federal, restando assentado no julgamento do HC nº 104410, do qual foi relator o
Min. Gilmar Mendes, que a previsão de tipos penais abstratos, em si, não torna
inconstitucional a norma penal incriminadora, que, tal como concebida pelo
legislador, é eficaz para a tutela do bem jurídico-penal protegido, que é a
incolumidade física da coletividade, ainda que se trate de proteção difusa. Transcrevo
a ementa do julgado:

HABEAS CORPUS. PORTE ILEGAL DE ARMA DE


FOGO DESMUNICIADA. (A)TIPICIDADE DA
C O N D U T A . C O N T R O L E D E
CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS PENAIS.
MANDATOS CONSTITUCIONAIS DE
CRIMINALIZAÇÃO E MODELO EXIGENTE DE
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS
EM MATÉRIA PENAL. CRIMES DE PERIGO
ABSTRATO EM FACE DO PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE. LEGITIMIDADE DA
CRIMINALIZAÇÃO DO PORTE DE ARMA
DESMUNICIADA. ORDEM DENEGADA. 1.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS
PENAIS.

1.1. Mandatos Constitucionais de Criminalização: A

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Constituição de 1988 contém um significativo elenco de
normas que, em princípio, não outorgam direitos, mas que,
antes, determinam a criminalização de condutas (CF, art. 5º,
XLI, XLII, XLIII, XLIV; art. 7º, X; art. 227, § 4º). Em todas
essas normas é possível identificar um mandato de
criminalização expresso, tendo em vista os bens e valores
envolvidos. Os direitos fundamentais não podem ser
considerados apenas como proibições de intervenção
(Eingriffsverbote), expressando também um postulado de
proteção (Schutzgebote). Pode-se dizer que os direitos
fundamentais expressam não apenas uma proibição do
excesso (Übermassverbote), como também podem ser
traduzidos como proibições de proteção insuficiente ou
imperativos de tutela (Untermassverbote). Os mandatos
constitucionais de criminalização, portanto, impõem ao
legislador, para o seu devido cumprimento, o dever de
observância do princípio da proporcionalidade como
proibição de excesso e como proibição de proteção
insuficiente. 1.2. Modelo exigente de controle de
constitucionalidade das leis em matéria penal, baseado em
níveis de intensidade: Podem ser distinguidos 3 (três) níveis
ou graus de intensidade do controle de constitucionalidade
de leis penais, consoante as diretrizes elaboradas pela
doutrina e jurisprudência constitucional alemã: a) controle
de evidência (Evidenzkontrolle); b) controle de
sustentabilidade ou justificabilidade
(Vertretbarkeitskontrolle); c) controle material de
intensidade (intensivierten inhaltlichen Kontrolle). O

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Tribunal deve sempre levar em conta que a Constituição
confere ao legislador amplas margens de ação para eleger os
bens jurídicos penais e avaliar as medidas adequadas e
necessárias para a efetiva proteção desses bens. Porém,
uma vez que se ateste que as medidas legislativas adotadas
transbordam os limites impostos pela Constituição – o que
poderá ser verificado com base no princípio da
proporcionalidade como proibição de excesso
(Übermassverbot) e como proibição de proteção deficiente
(Untermassverbot) –, deverá o Tribunal exercer um rígido
controle sobre a atividade legislativa, declarando a
inconstitucionalidade de leis penais transgressoras de
princípios constitucionais. 2. CRIMES DE PERIGO
ABSTRATO. PORTE DE ARMA. PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALDIADE. A Lei 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento) tipifica o porte de arma como crime de
perigo abstrato. De acordo com a lei, constituem crimes as
meras condutas de possuir, deter, portar, adquirir, fornecer,
receber, ter em depósito, transportar, ceder, emprestar,
remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma
de fogo. Nessa espécie de delito, o legislador penal não
toma como pressuposto da criminalização a lesão ou o
perigo de lesão concreta a determinado bem jurídico.
Baseado em dados empíricos, o legislador seleciona grupos
ou classes de ações que geralmente levam consigo o
indesejado perigo ao bem jurídico. A criação de crimes de
perigo abstrato não representa, por si só, comportamento
inconstitucional por parte do legislador penal. A tipificação

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de condutas que geram perigo em abstrato, muitas vezes,
acaba sendo a melhor alternativa ou a medida mais eficaz
para a proteção de bens jurídicopenais supraindividuais ou
de caráter coletivo, como, por exemplo, o meio ambiente, a
saúde etc. Portanto, pode o legislador, dentro de suas amplas
margens de avaliação e de decisão, definir quais as medidas
mais adequadas e necessárias para a efetiva proteção de
determinado bem jurídico, o que lhe permite escolher
espécies de tipificação próprias de um direito penal
preventivo. Apenas a atividade legislativa que, nessa
hipótese, transborde os limites da proporcionalidade, poderá
ser tachada de inconstitucional. 3. LEGITIMIDADE DA
CRIMINALIZAÇÃO DO PORTE DE ARMA. Há, no
contexto empírico legitimador da veiculação da norma,
aparente lesividade da conduta, porquanto se tutela a
segurança pública (art. 6º e 144, CF) e indiretamente a vida,
a liberdade, a integridade física e psíquica do indivíduo etc.
Há inequívoco interesse público e social na proscrição da
conduta. É que a arma de fogo, diferentemente de outros
objetos e artefatos (faca, vidro etc.) tem, inerente à sua
natureza, a característica da lesividade. A danosidade é
intrínseca ao objeto. A questão, portanto, de possíveis
injustiças pontuais, de absoluta ausência de significado
lesivo deve ser aferida concretamente e não em linha
diretiva de ilegitimidade normativa. 4. ORDEM
DENEGADA. (HC 104410, Relator(a): Min. GILMAR
MENDES, Segunda Turma, julgado em 06/03/2012,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-062 DIVULG 26-03-2012

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PUBLIC 27-03-2012)

Acrescento aos fundamentos da ementa transcrita que a política


pública de desarmamento ou de regulação do uso de armas no Brasil foi concebida
como forma de redução da letalidade ou da concretização dos danos à pessoa,
estando em consonância com os preceitos constitucionais de proteção da vida e da
incolumidade pública. Nessa linha, a criminalização do porte de arma de fogo em
desacordo com a regulamentação é eficaz para reduzir o número de armas em
circulação, especialmente sem registro e sem regular habilitação para o porte, na
forma regulada e certificada pelo Estado, do que decorre a prevenção geral de crimes
mais graves com lesão à pessoa, sem afronta a direito ou garantia fundamental e sem
ofensa a preceitos constitucionais específicos. Ao contrário, a legislação que
criminaliza o porte irregular de arma de fogo decorre do dever do Estado de proteger
a vida e prestar segurança, este dever previsto no artigo 144 da Constituição Federal.

Como foram denunciados dois crimes, antes do exame da


autoria, analiso a tese subsidiária da defesa, de caracterização de crime
único.

Foram denunciados dois crimes previstos na Lei


10.826/2003, um relativo à arma e outro às munições, vindo o Ministério
Público, em memoriais, dizer que se trata de concurso formal de crimes.

Sobre o tema, adoto posição doutrinária e na jurisprudência


de que se caracteriza apenas um delito, independentemente da quantidade
de armas, munições ou acessórios apreendidos, embora não desconheça
decisões do Superior Tribunal de Justiça em sentido diverso, quando a

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capitulação for a do art. 16 da Lei 10.826/2003 e houver a apreensão
também de arma e/ou munições de uso permitido. O caso é de afastamento
do concurso material (denúncia) ou formal (memoriais) de crimes.

No presente caso, ademais, as duas imputações têm


tipicidade no art. 16 do Estatuto do Desarmamento, o que impede, inclusive,
a aplicação da tese de lesão a bens jurídicos distintos. Com efeito, a
apreensão da pistola, carregadores e munições de calibre de uso restrito
ocorreram nas mesmas circunstâncias de tempo e local, sendo o modo de
execução dos delitos – portar e transportar – idêntico, além da lesão ao bem
jurídico tutelado – incolumidade pública – também ser una, o que configura o
crime único. Portanto, é de serem subsumidas as condutas de portar e
transportar munições e acessório (fato 02) de calibre de uso restrito ao tipo
penal do artigo 16, caput, da Lei n° 10.826/2003 (portar e transportar a
pistola – fato 01), uma única vez, ante o reconhecimento do crime único.

Nesse sentido, cito julgados da Primeira, Segunda,


Terceira e Quarta Câmaras Criminais do Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul:

TRÁFICO DE DROGAS. VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO.


PROVA. DECLARAÇÕES POLICIAIS. PROPÓSITO DE
MERCANCIA CONFIGURADO. APENAMENTO.
MAJORANTE. MINORANTE. MULTA. PRISÃO
PREVENTIVA. (…) PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO
DE USO PERMITIDO E POSSE ILEGAL DE ARMA DE
FOGO COM NUMERAÇÃO SUPRIMIDA. CRIME ÚNICO.
O simples fato de possuir arma de fogo com numeração

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suprimida configura a conduta prevista no artigo 16,
parágrafo único, inciso IV, da Lei 10.826/2003, por se tratar
de delito de mera conduta e de perigo abstrato, cujo objeto
imediato é a segurança coletiva. A circunstância de possuir
o réu uma arma e portar outra não enseja o
reconhecimento do concurso formal ou material de crimes,
constituindo uma só ação, com lesão a um único bem
jurídico, a segurança coletiva. APELOS PROVIDOS EM
PARTE. (Apelação Crime Nº 70076159540, Primeira
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Honório Gonçalves da Silva Neto, Julgado em 08/08/2018)

APELAÇÃO CRIME. TRÁFICO DE DROGAS. PORTE


ILEGAL DE ARMA DE FOGO COM NUMERAÇÃO
SUPRIMIDA E PORTE ILEGAL DE MUNIÇÃO DE USO
PERMITIDO. CONDENAÇÃO. IRRESIGNAÇÕES
DEFENSIVAS. (...) Artigos 14, caput, e 16, parágrafo único,
IV, da Lei nº 10.826/03. Comprovada a apreensão da arma
com numeração suprimida e das munições de uso
permitido sendo mantidas pelo réu, sem autorização e em
desacordo com determinação legal. O porte ilegal de arma
de fogo com numeração suprimida juntamente com
munições de uso permitido configura crime único,
prevalecendo o delito mais grave (art. 16, parágrafo único,
IV, da Lei nº 10.826/03). A pluralidade de armas ou
munições deve ser valorada como circunstância negativa
quando da aplicação da pena. Não preenchidos os
requisitos do art. 89 da Lei nº 9.099/95, inviável a
suspensão condicional do processo. Substituída a pena
privativa de liberdade por restritivas de direitos. Apelo da ré
improvido e do réu parcialmente provido. (Apelação Crime

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Nº 70071447619, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: José Ricardo Coutinho Silva,
Julgado em 27/03/2018)

APELAÇÃO CRIME. TRÁFICO DE DROGAS. MANTER


ILEGALMENTE MUNIÇÔES DE USO RESTRITO E
EMPRESTAR OU MANTER ILEGALMENTE ARMA DE
FOGO DE USO PERMITIDO. CONDENAÇÃO.
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. ABSOLVIÇÃO.
IRRESIGNAÇÕES MINISTERIAL E DEFENSIVAS. (...)
Munições de uso restrito e arma de uso permitido. Crimes
comprovados pela apreensão da arma e das munições de
uso restrito sendo mantidas, sem autorização e em
desacordo com determinação legal. O empréstimo da arma
de fogo de uso permitido, apreendida com terceiro,
caracteriza o delito do art. 14 da Lei nº 10.826/03. A posse
ilegal de arma de uso permitido juntamente com munições
de uso restrito configura crime único, prevalecendo o delito
mais grave (art. 16, caput, da Lei nº 10.826/03). A
pluralidade de armas ou munições deve ser valorada como
circunstância negativa quando da aplicação da pena. Tendo
o fato ocorrido em 14.08.2013, não incide a abolitio criminis
temporária (arts. 30 e 32 da Lei nº 10.826/2003), eis que,
após 31.12.2009, a prorrogação do prazo só passou a
isentar do crime quando da efetivação da entrega. Penas.
Penas-base já fixadas de forma benéfica, não se cogitando
redução. Cabível aumento maior da pena pela agravante da
reincidência quando essa é específica ou em delito grave.
Tanto a reincidência, quanto a expressiva quantidade de
drogas apreendidas, como se verifica do fracionamento que
poderiam gerar, que evidencia o envolvimento em tráfico de

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maior porte e lesividade social, além da dedicação a essa
atividade criminosa, tornam incabíveis a aplicação da causa
de diminuição de pena do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06.
Preliminares rejeitadas. Apelos defensivos improvidos e
ministerial parcialmente provido. (Apelação Crime Nº
70062737648, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: José Ricardo Coutinho Silva,
Julgado em 05/10/2017)

APELAÇÃO CRIMINAL. RECEPTAÇÃO. ART. 180 DO CP.


POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. ART. 16, CAPUT, E
PARÁGRAFO ÚNICO, INCISO IV, DA LEI 10.826/2003.
CONDENAÇÃO MANTIDA. PENA REDUZIDA. 1. As
circunstâncias evidenciadas na oportunidade em que
envolveu a prisão não deixam dúvida a respeito da autoria
do crime de receptação imputada ao acusado. Ele foi visto
na posse de veículo automotor que havia sido objeto de
anterior roubo. 2. Não houve dúvida que a arma de fogo e
artefatos correlatos aprendidos com o acusado estavam em
sua posse, levando-se em conta o relato fidedigno
apresentado pelos policiais que participaram da prisão.
Responde apenas pelo crime previsto no art. 16, parágrafo
único, IV, da Lei nº 10.826/03, o réu que possui mais de
uma arma de fogo, munições ou acessórios de uso restrito,
ainda que alguns destes artefatos sejam de uso restrito e o
outros de uso permitido, quando evidenciado que as
condutas se deram em um mesmo contexto fático, com
lesão de um único bem jurídico. Reconhecimento de crime
único reconhecida. 3. Compete ao Juízo da origem definir a
pena adequada ao caso, comportando alteração, em grau
de recurso, apenas em situações em que a modificação

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não for arrazoada, proporcional ou contrariar disposição
legal ou preceito constitucional. Caso concreto em que a
pena-base mostrou-se desproporcional, motivo pelo qual
vai reduzida. APELAÇÃO DA DEFESA PARCIALMENTE
PROVIDA. (Apelação Crime Nº 70076765916, Quarta
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Julio
Cesar Finger, Julgado em 21/06/2018)

APELAÇÃO CRIME. POSSE ILEGAL DE MUNIÇÃO


DE USO PERMITIDO E DE USO RESTRITO. CRIME
ÚNICO. Em que pese o número de munições
apreendidas, bem como o fato de serem de uso
permitido e uso restrito a ação delitiva se subsume em
possuir munição de uso restrito em desacordo com
determinação legal ou regulamentar. Assim, havendo
apenas uma conduta, com lesão de um único bem
jurídico, configura-se o crime único, podendo o juiz
considerar a pluralidade de munições como
circunstância desfavorável, quando da fixação da
pena. Apelo ministerial improvido. A posse ilegal de
munição é considerada crime de perigo abstrato, não
sendo necessária a ocorrência de resultado
naturalístico. Basta a mera conduta de possuir
munição em desacordo com determinação legal para
violar bem jurídico tutelado. Condenação mantida.
Pena alterada. Apelo defensivo parcialmente provido.
Unânime. (Apelação Crime Nº 70068801604, Quarta
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Aristides Pedroso de Albuquerque Neto, Julgado em

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17.2017.8.21.0001)
30/06/2016)

APELAÇÃO CRIMINAL. LESÕES CORPORAIS


VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. AMEAÇA. POSSE
IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO
PERMITIDO. POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO
DE USO RESTRITO. CONCURSO FORMAL. CRIME
ÚNICO. PENA REDIMENSIONADA. 1. Prova
suficiente da materialidade e autoria dos crimes de
lesões corporais decorrentes de violência doméstica e
dos delitos envolvendo armas de fogo. Absolvição
pelo delito de ameaça por ausência de prova
suficiente a embasar juízo condenatório. 2. A
apreensão de duas ou mais armas de fogo nas
mesmas circunstâncias de tempo e local, ainda que
uma de uso permitido e outra de uso restrito enseja a
ocorrência de crime único. Entendimento pacificado
desta Câmara Criminal. Decisão reformada neste
ponto com redimensionamento da pena. RECURSO
DEFENSIVO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação
Crime Nº 70068869163, Terceira Câmara Criminal,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ingo Wolfgang
Sarlet, Julgado em 29/06/2016)

Portanto, caracterizado o crime único, afasta-se o concurso


de crimes pretendido pela acusação na denúncia e em memoriais.

Quanto à autoria, a prova é suficiente, a despeito de não disporem


os depoimentos dos policiais de efeitos absolutos como meio de prova, posto que

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suas narrativas devem ser interpretadas no contexto dos fatos e no conjunto de
elementos apurados nos autos, como é inerente à atividade jurisdicional, que se dá de
forma apartada da atividade policial.

Observo, neste ponto, que a imputação da denúncia é de portar e


transportar arma de fogo, o que restou provado, embora diversa na prova as
circunstâncias da apreensão, se no veículo ou na cintura do acusado.

A respeito da interpretação da prova em Processo Penal, dispõe


art. 155 do CPP, que cito:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação


da prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Aplicam-se ao processo penal e impõem o exame criterioso dos


depoimentos dos policiais, a inafastabilidade do Poder Judiciário, a presunção de não
culpabilidade, o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório em processo
judicial, como condições imprescindíveis à apuração, debate e validação de
elementos de prova, para alguém ser considerado culpado, como dispõe o art. 5º,
incisos XXXV e LIV a LLVII e LXV a LXVIII, da Constituição Federal. Seguem as
referências constitucionais:

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder


Judiciário lesão ou ameaça a direito;

(...)

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LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal;

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,


e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por


meios ilícitos;

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em


julgado de sentença penal condenatória;

(...)

LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela


autoridade judiciária;

LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido,


quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem
fiança;

LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém


sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de
poder;

(...)

Portanto, a mesma Constituição Federal que impõe o dever ao


Estado de prestar segurança pública e legitima a atuação do policiamento ostensivo e

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a ação imediata aos fatos (art. 144), determina a inafastabilidade da prestação
jurisdicional por órgão distanciado das atividades do Poder Executivo, ao qual está
vinculada a atividade policial.

O estado moderno, concebido com separação e


independência entre os poderes, determina que as ações do Estado, na
persecução penal e na formação da culpa se dê em duas etapas
independentes. É próprio do sistema jurídico o julgamento judicial, com
exame da prova, caso a caso, e a ponderação da força probatória de todos
os depoimentos colhidos, inclusive dos prestados por policiais que atuaram
na investigação ou na prisão em flagrante, fase que é inquisitorial. Não fosse
assim, seria dispensada a jurisdição criminal, como fase judicial reservada à
colheita da prova sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, sendo
suficientes as peças informativas do inquérito para a formação da culpa.

Por fim, no âmbito do processo penal, cabe considerar


inclusive as circunstâncias do policiamento, das abordagens e das
apreensões na valoração da prova. Entre os fatores a serem considerados
está o fato óbvio de que os policiais que atuaram nas abordagens e nas prisões em
flagrante tendem a confirmar, em juízo, a visão inicial dos fatos e as aparências que
determinam a pronta ação, o que não é ilegítimo, mas pode levar a percepção parcial
da realidade e do conjunto de elementos que circundavam o palco dos
acontecimentos. Por isso, cabe identificar, no conjunto da prova, pontos de
convergência e contradições dos depoimentos, de forma criteriosa, para se aproximar
da verdade possível, sem desconsiderar o princípio básico da presunção de não
culpabilidade.

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É com essa posição das funções do Poder Judiciário e no
exercício da necessária independência da análise judicial dos depoimentos
dos policiais que examino a prova produzida nos autos.

Passo, pois, à análise da prova oral, que, embora se


restrinja ao depoimento de dois policiais, é segura para a condenação.

O acusado (fl. 165) negou a imputação. Relatou que estava


na casa de Juliano, com este e a família, quando chegou no local Luiz
Eduardo Coutinho Dias, vulgo “Chocolate”, pedindo para Juliano levá-lo para
casa, no Bairro Restinga, ao que o acusado foi convidado a acompanhá-los.
No veículo estavam Juliano, como condutor, a mulher dele no banco do
caroneiro, com o filho no colo; o acusado estava sentado atrás, com Luiz
Eduardo, a quem aduziu que pudesse pertencer a arma. Afirmou que a arma
de fogo foi apreendida no interior do veículo, atrás do branco traseiro, e que
o carregador sobressalente foi retirado do interior do veículo pelos policiais,
não sabendo precisar onde estava, negando portar a arma na cintura.

O policial militar Rodrigo Bica Freitas (fl. 165) informou que


receberam informações de um veículo vermelho envolvido em roubo a
pedestre deslocando-se para o Bairro Restinga. Em diligências, localizaram
um Pálio laranja e resolveram abordar. A abordagem foi muito tranquila. Em
revista pessoal, com o acusado Douglas, foi encontrada, na sua cintura, uma
pistola Glock, municiada, e um carregador sobressalente com 31munições
no chão. Assegurou que o réu admitiu que a arma era dele e pediu para não
envolverem os outros tripulantes do veículo. Contatada, a vítima do roubo
afastou a autoria desse fato pelos tripulantes do automóvel abordado. Disse

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conhecer Luiz Eduardo Coutinho Dias, o “Chocolate”, de ocorrências de
tráfico de drogas das bocas do Alemão e do Beco do Adelar. Acredita que,
no momento da prisão, o acusado era segurança de “Chocolate”, pois o
Beco do Adelar estava, à época, em guerra com “Os Manos” que são contra
“Os Balas”.

Tiago Moura Rosa (fl. 165), também policial militar, prestou


depoimento no mesmo sentido, confirmando que, em revista pessoal, na
cintura do acusado, foi apreendida uma pistola Glock e um carregador
sobressalente com 31 munições, este no interior do veículo. Negou conhecer
os tripulantes do automóvel. Não soube dizer se o colega Freitas conhecia
algum dos abordados antes da abordagem. Confirmou que o réu admitiu ser
dele a arma apreendida, não justificando o motivo, apenas referiu que estava
pegando carona, o que foi confirmado pelos demais.

Do cotejo dos depoimentos, tenho que a prova evidencia que


o acusado praticou o delito conforme os verbos nucleares narrados na
exordial acusatória, quais sejam, portar e transportar arma de fogo,
munições e acessório, a bordo do veículo Fiat/Pálio EDX, cor laranja, placas
CEW-8222.

Reitero que o detalhe circunstancial narrado na denúncia,


quanto ao local de apreensão da arma de fogo, que estaria sob um banco do
veículo, enquanto os policiais declaram que a pistola estava na cintura do
denunciado, não macular a imputação da qual o denunciado se defendeu,
diante da indicação da prova no sentido de que esta foi apreendida na
cintura do acusado, porque houve acesso pleno ao direito de defesa da

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imputação conforme os verbos nucleares descritos na denúncia.

De fato, as narrativas dos policiais responsáveis pela prisão


em flagrante foram seguras desde a fase policial, tendo sido integralmente
reproduzidas em juízo, demonstrando a apreensão da pistola municiada em
poder do acusado, mais especificamente em sua cintura, e do carregador
sobressalente, de mesmo calibre da arma, no interior do veículo.

Não bastasse isso, Luiz Eduardo, Juliano e Gislaine, quando


ouvidos na ocasião do flagrante, confirmaram que a arma apreendida estava
com o acusado, revelando Gislaine que, se tivesse conhecimento de que
Douglas estava armado, não teria deixado ele entrar no veículo. Essas
testemunhas foram arroladas na denúncia, mas a prova não foi produzida,
com a concordância da defesa, de forma que deixou o acusado de produzir
prova em sentido de sua versão pessoal para os fatos, porquanto se tratava
de testemunhas presenciais da apreensão da arma.

Diante desses elementos, está evidenciada a autoria do


crime, imputado na denúncia, não havendo margem para reconhecimento da
tese de defesa pessoal de que a arma tenha sido apreendida, quando da
abordagem, solta no interior do veículo e que pertencesse a outro tripulante.

Do exposto, impõe-se a condenação nas penas do art.


16, caput, da Lei nº 10.826/2003, uma única vez.

Ao contrário do sustentado pela Defensoria Pública, o


parágrafo único do artigo 1º da Lei nº 8.072/1990, com a nova redação da
Lei nº 13.497/2017, expressamente prevê como hediondo a posse ou porte

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ilegal de arma de fogo de uso restrito, de modo a não se afastar a incidência.

Passo à aplicação da pena:

A culpabilidade do réu é normal à espécie. O acusado é primário,


não possui antecedentes. Sua personalidade e conduta social não restaram
apuradas de modo suficiente. Os motivos do crime são inerentes à espécie
delitiva. As circunstâncias do crime são graves, considerando que
apreendidos um carregador e 49 munições, quantidade considerável a ser
portada por apenas um indivíduo. As consequências não merecem
exasperação na pena. A vítima não concorreu para o cometimento do delito.

À vista dos critérios do art. 59 do Código Penal, fixo a pena-


base em 03 (quatro) anos e 04 (quatro) meses de reclusão.

Caracterizada a atenuante da menoridade, prevista no artigo


65, inciso I, do Código Penal, por ser o acusado menor de 21 anos de idade
ao tempo do fato, conforme informado na denúncia, diminuo a pena ao
mínimo legal, tornando-a provisória em 03 (três) anos de reclusão.

Ausentes outras causas modificativas da pena, torno


definitiva a pena privativa de liberdade em 03 (três) anos de reclusão.

Em consonância com os vetores dos artigos 59 e 60 do


Código Penal, fixo a pena de multa em 10 (dez) dias-multa, à razão de 1/30
do salário-mínimo nacional vigente à época do fato o dia-multa, corrigida.

A pena privativa de liberdade deverá ser cumprida no regime


aberto, com base no que dispõe o artigo 33, § 2°, “c” do Código Penal.

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Deverá ser computado, no cálculo da pena a ser cumprida, e
para fins de progressão, o período da prisão preventiva cumprido pelo réu
(artigo 387 do CPP), matéria a ser apreciada pelo Juízo da Execução em
observância do artigo 66, inciso III, alínea “c” da Lei nº 7.210/84, observados
não somente os requisitos previstos no art. 112 do mesmo texto legal.

Não sendo o condenado reincidente e não se tratando de


delito cometido com emprego direto de violência ou ameaça, e considerando
ainda o quantitativo de pena aplicada, substituo a pena privativa de liberdade
por duas restritivas de direito, consistentes em; (a) prestação de serviços à
comunidade, pelo mesmo prazo da pena fixada, nos termos do artigo 46, do
Código Penal; (b) prestação pecuniária de 02 (dois) salários-mínimos
nacionais vigentes à época do pagamento, a ser recolhida em Conta Judicial
Remunerada, sob responsabilidade do juízo competente para a execução,
em observância ao artigo 944-A da Consolidação Normativa Judicial,
autorizado o parcelamento em critérios a serem definidos pelo juízo da
execução da pena. A fixação de prestação pecuniária em valor a menor não
seria suficiente para a prevenção e reprovação do delito, mormente
considerando o valor de mercado da arma apreendida, ainda que adquirida
de forma irregular.

Concedo ao condenado o direito de apelar em liberdade,


visto que assim respondeu a presente ação penal, inexistindo causas
supervenientes que autorizem a sua segregação cautelar, segundo os
requisitos previstos nos artigos 312 e 313 do CPP e especialmente diante da
substituição da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos.

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Em consulta junto ao Sistema Themis, verifica-se que não há
arma, carregador ou munições apreendidos. Ocorre que, quando do
flagrante, foram apreendidos um carregador sobressalente, munições e a
pistola .9mm portada pelo Réu, sendo todos remetidos ao IGP para
confecção do Laudo Pericial juntado às fls. 146/147. Diante disso, oficie-se
ao IGP e à autoridade policial, para que informem se ainda permanecem em
poder do artefato, após, voltem os autos conclusos para destinação.

O celular marca Samsung (fl. 27) deve ser restituído a


L.E.C.D., haja vista que apreendido em seu poder e não demonstrada
nenhuma vinculação com o presente fato, no endereço constante à fl. 191 .
Não requerida a restituição do bem, determino a
destinação/doação/destruição em local próprio pela Direção do Foro.

Por fim, o dinheiro apreendido (fl. 180), conforme fl. 16 e


testemunha G.R.S. não pertence a ela ou ao marido e o acusado não alegou
pertencer-lhe. Assim, determino o perdimento ao fundo de penas
alternativas da Comarca da Capital (artigo 499-A da Consolidação
Normativa Judicial).

Isso posto, julgo parcialmente procedente a denúncia, para


o fim de condenar o réu DOUGLAS DOS SANTOS FARINHA, nas sanções
do artigo 16, caput, da Lei 10.823/06 (crime único – uma vez), combinado
com o artigo 65, inciso I, do Código Penal e com o artigo 1º, parágrafo único,
da Lei nº 8.072/1990, à pena privativa de liberdade de 03 (três) anos de
reclusão e 10 (vinte) dias-multa, à razão de 1/30 do salário-mínimo nacional
vigente à época do fato o dia-multa, corrigida monetariamente desde a data

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do evento, substituída a pena privativa de liberdade por: (a) prestação de
serviços à comunidade, observado o disposto nos artigos 46 e 55 do CP; (b)
prestação pecuniária de 02 (dois) salários-mínimos nacionais vigentes à
época do pagamento, facultado o parcelamento. Fixo, para cumprimento da
pena privativa de liberdade, em caso de reversão, o regime aberto.

Condeno o acusado ao pagamento das custas processuais,


embora dispensada a exigibilidade, presumindo a condição de pobreza.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Oficie-se, com urgência à autoridade policial responsável


pelo inquérito e ao IGP, requisitando a entrega da arma apreendida.

Se necessário, intime-se o sentenciado por edital.

Com o trânsito em julgado:

- preencha-se e remeta-se o BIE;

- comunique-se ao Tribunal Regional Eleitoral (art. 15, inciso


III, da CF);

- lance-se o nome do apenado no rol dos culpados;

- dê-se a destinação aos objetos apreendidos;

- com o cálculo, forme-se e remeta-se o PEC;

- por fim, arquive-se com baixa.

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Desde já restitua-se o telefone celular.

Oportunamente, conclusão para destinação da arma.

Porto Alegre, 21 de dezembro de 2018.

Jocelaine Teixeira
Juíza de Direito

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