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64-2-001/2018/2928488 - 001/2.17.0097490-2 (CNJ:.0191745-
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e trasportava arma de fogo (fato 1), munições
e acessório (fato 2) de uso restrito, em
desacordo com determinação legal ou
regulamentar, consistente em 01 (uma)
pistola, marca Glock, calibre 9mm, n° de série
ACPY469, municiada com 18 (dezoito)
cartuchos do mesmo calibre (fato 1), e 01
(um) carregador sobressalente, contendo 31
(trinta e um) cartuchos calibre 9mm (fato 02),
tudo apreendido conforme auto de apreensão
da fl. 27.
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pistola municiada e a quantia de R$ 1.005,00
(mil e cinco reais) em dinheiro.
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Em memoriais escritos, o Ministério Público requereu a
condenação, nos termos da denúncia, porém em concurso formal de crimes,
dizendo comprovadas a autoria e materialidade delitivas (fls. 177/179).
Relatei. Decido.
(…)
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Quanto ao que se considera arma de uso restrito, assim prevê o
art. 16 do Decreto n.º 3.665/2000.
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A tipicidade do porte ilegal de arma de fogo é como delito de
mera conduta, de forma a prescindir do uso da arma, ou seja, do perigo concreto para
a caracterização do tipo, como concebida a tipicidade pelo legislador. A tese da
inconstitucionalidade suscitada pela defesa, por conta da ausência de lesividade
concreta ou da punição de forma objetiva foi apreciada no Supremo Tribunal
Federal, restando assentado no julgamento do HC nº 104410, do qual foi relator o
Min. Gilmar Mendes, que a previsão de tipos penais abstratos, em si, não torna
inconstitucional a norma penal incriminadora, que, tal como concebida pelo
legislador, é eficaz para a tutela do bem jurídico-penal protegido, que é a
incolumidade física da coletividade, ainda que se trate de proteção difusa. Transcrevo
a ementa do julgado:
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Constituição de 1988 contém um significativo elenco de
normas que, em princípio, não outorgam direitos, mas que,
antes, determinam a criminalização de condutas (CF, art. 5º,
XLI, XLII, XLIII, XLIV; art. 7º, X; art. 227, § 4º). Em todas
essas normas é possível identificar um mandato de
criminalização expresso, tendo em vista os bens e valores
envolvidos. Os direitos fundamentais não podem ser
considerados apenas como proibições de intervenção
(Eingriffsverbote), expressando também um postulado de
proteção (Schutzgebote). Pode-se dizer que os direitos
fundamentais expressam não apenas uma proibição do
excesso (Übermassverbote), como também podem ser
traduzidos como proibições de proteção insuficiente ou
imperativos de tutela (Untermassverbote). Os mandatos
constitucionais de criminalização, portanto, impõem ao
legislador, para o seu devido cumprimento, o dever de
observância do princípio da proporcionalidade como
proibição de excesso e como proibição de proteção
insuficiente. 1.2. Modelo exigente de controle de
constitucionalidade das leis em matéria penal, baseado em
níveis de intensidade: Podem ser distinguidos 3 (três) níveis
ou graus de intensidade do controle de constitucionalidade
de leis penais, consoante as diretrizes elaboradas pela
doutrina e jurisprudência constitucional alemã: a) controle
de evidência (Evidenzkontrolle); b) controle de
sustentabilidade ou justificabilidade
(Vertretbarkeitskontrolle); c) controle material de
intensidade (intensivierten inhaltlichen Kontrolle). O
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Tribunal deve sempre levar em conta que a Constituição
confere ao legislador amplas margens de ação para eleger os
bens jurídicos penais e avaliar as medidas adequadas e
necessárias para a efetiva proteção desses bens. Porém,
uma vez que se ateste que as medidas legislativas adotadas
transbordam os limites impostos pela Constituição – o que
poderá ser verificado com base no princípio da
proporcionalidade como proibição de excesso
(Übermassverbot) e como proibição de proteção deficiente
(Untermassverbot) –, deverá o Tribunal exercer um rígido
controle sobre a atividade legislativa, declarando a
inconstitucionalidade de leis penais transgressoras de
princípios constitucionais. 2. CRIMES DE PERIGO
ABSTRATO. PORTE DE ARMA. PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALDIADE. A Lei 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento) tipifica o porte de arma como crime de
perigo abstrato. De acordo com a lei, constituem crimes as
meras condutas de possuir, deter, portar, adquirir, fornecer,
receber, ter em depósito, transportar, ceder, emprestar,
remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma
de fogo. Nessa espécie de delito, o legislador penal não
toma como pressuposto da criminalização a lesão ou o
perigo de lesão concreta a determinado bem jurídico.
Baseado em dados empíricos, o legislador seleciona grupos
ou classes de ações que geralmente levam consigo o
indesejado perigo ao bem jurídico. A criação de crimes de
perigo abstrato não representa, por si só, comportamento
inconstitucional por parte do legislador penal. A tipificação
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de condutas que geram perigo em abstrato, muitas vezes,
acaba sendo a melhor alternativa ou a medida mais eficaz
para a proteção de bens jurídicopenais supraindividuais ou
de caráter coletivo, como, por exemplo, o meio ambiente, a
saúde etc. Portanto, pode o legislador, dentro de suas amplas
margens de avaliação e de decisão, definir quais as medidas
mais adequadas e necessárias para a efetiva proteção de
determinado bem jurídico, o que lhe permite escolher
espécies de tipificação próprias de um direito penal
preventivo. Apenas a atividade legislativa que, nessa
hipótese, transborde os limites da proporcionalidade, poderá
ser tachada de inconstitucional. 3. LEGITIMIDADE DA
CRIMINALIZAÇÃO DO PORTE DE ARMA. Há, no
contexto empírico legitimador da veiculação da norma,
aparente lesividade da conduta, porquanto se tutela a
segurança pública (art. 6º e 144, CF) e indiretamente a vida,
a liberdade, a integridade física e psíquica do indivíduo etc.
Há inequívoco interesse público e social na proscrição da
conduta. É que a arma de fogo, diferentemente de outros
objetos e artefatos (faca, vidro etc.) tem, inerente à sua
natureza, a característica da lesividade. A danosidade é
intrínseca ao objeto. A questão, portanto, de possíveis
injustiças pontuais, de absoluta ausência de significado
lesivo deve ser aferida concretamente e não em linha
diretiva de ilegitimidade normativa. 4. ORDEM
DENEGADA. (HC 104410, Relator(a): Min. GILMAR
MENDES, Segunda Turma, julgado em 06/03/2012,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-062 DIVULG 26-03-2012
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PUBLIC 27-03-2012)
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capitulação for a do art. 16 da Lei 10.826/2003 e houver a apreensão
também de arma e/ou munições de uso permitido. O caso é de afastamento
do concurso material (denúncia) ou formal (memoriais) de crimes.
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suprimida configura a conduta prevista no artigo 16,
parágrafo único, inciso IV, da Lei 10.826/2003, por se tratar
de delito de mera conduta e de perigo abstrato, cujo objeto
imediato é a segurança coletiva. A circunstância de possuir
o réu uma arma e portar outra não enseja o
reconhecimento do concurso formal ou material de crimes,
constituindo uma só ação, com lesão a um único bem
jurídico, a segurança coletiva. APELOS PROVIDOS EM
PARTE. (Apelação Crime Nº 70076159540, Primeira
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Honório Gonçalves da Silva Neto, Julgado em 08/08/2018)
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Nº 70071447619, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: José Ricardo Coutinho Silva,
Julgado em 27/03/2018)
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maior porte e lesividade social, além da dedicação a essa
atividade criminosa, tornam incabíveis a aplicação da causa
de diminuição de pena do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06.
Preliminares rejeitadas. Apelos defensivos improvidos e
ministerial parcialmente provido. (Apelação Crime Nº
70062737648, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: José Ricardo Coutinho Silva,
Julgado em 05/10/2017)
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não for arrazoada, proporcional ou contrariar disposição
legal ou preceito constitucional. Caso concreto em que a
pena-base mostrou-se desproporcional, motivo pelo qual
vai reduzida. APELAÇÃO DA DEFESA PARCIALMENTE
PROVIDA. (Apelação Crime Nº 70076765916, Quarta
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Julio
Cesar Finger, Julgado em 21/06/2018)
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30/06/2016)
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suas narrativas devem ser interpretadas no contexto dos fatos e no conjunto de
elementos apurados nos autos, como é inerente à atividade jurisdicional, que se dá de
forma apartada da atividade policial.
(...)
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LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal;
(...)
(...)
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a ação imediata aos fatos (art. 144), determina a inafastabilidade da prestação
jurisdicional por órgão distanciado das atividades do Poder Executivo, ao qual está
vinculada a atividade policial.
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É com essa posição das funções do Poder Judiciário e no
exercício da necessária independência da análise judicial dos depoimentos
dos policiais que examino a prova produzida nos autos.
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conhecer Luiz Eduardo Coutinho Dias, o “Chocolate”, de ocorrências de
tráfico de drogas das bocas do Alemão e do Beco do Adelar. Acredita que,
no momento da prisão, o acusado era segurança de “Chocolate”, pois o
Beco do Adelar estava, à época, em guerra com “Os Manos” que são contra
“Os Balas”.
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imputação conforme os verbos nucleares descritos na denúncia.
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ilegal de arma de fogo de uso restrito, de modo a não se afastar a incidência.
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Deverá ser computado, no cálculo da pena a ser cumprida, e
para fins de progressão, o período da prisão preventiva cumprido pelo réu
(artigo 387 do CPP), matéria a ser apreciada pelo Juízo da Execução em
observância do artigo 66, inciso III, alínea “c” da Lei nº 7.210/84, observados
não somente os requisitos previstos no art. 112 do mesmo texto legal.
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Em consulta junto ao Sistema Themis, verifica-se que não há
arma, carregador ou munições apreendidos. Ocorre que, quando do
flagrante, foram apreendidos um carregador sobressalente, munições e a
pistola .9mm portada pelo Réu, sendo todos remetidos ao IGP para
confecção do Laudo Pericial juntado às fls. 146/147. Diante disso, oficie-se
ao IGP e à autoridade policial, para que informem se ainda permanecem em
poder do artefato, após, voltem os autos conclusos para destinação.
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do evento, substituída a pena privativa de liberdade por: (a) prestação de
serviços à comunidade, observado o disposto nos artigos 46 e 55 do CP; (b)
prestação pecuniária de 02 (dois) salários-mínimos nacionais vigentes à
época do pagamento, facultado o parcelamento. Fixo, para cumprimento da
pena privativa de liberdade, em caso de reversão, o regime aberto.
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Desde já restitua-se o telefone celular.
Jocelaine Teixeira
Juíza de Direito
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