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Capacitação para o Enfrentamento da Violência de Gênero

Atividade Assíncrona do Módulo II: Resenha Crítica do Documentário


“Marias”
Aluna: Julianna de Souza

O documentário inicia com a fala de uma mulher que, em sua apresentação, faz
questão de ressaltar sua posição social enquanto mulher cis, branca, com recursos e
acesso à bom nível de escolaridade. Este detalhe torna a discussão mais democrática, pois
dá espaço e voz a mulheres que carregam outras particularidades, muito presentes em
nossa sociedade, e para as quais a violência de gênero é direcionada de formas diferentes.
E apesar de parecerem óbvios no círculo acadêmico e nas lutas socias, alguns conceitos
muito importantes, como a desigualdade de gênero e o feminismo, são largamente
explicados no documentário, mostrando diferentes mulheres e suas experiências de vida
nesse sistema.

Discute-se em como o mundo é feitor por e para homens, um sistema complexo que
sustenta e perpetua a desigualdade de gênero. Tal estrutura está arraigada em nossa
cultura de uma tal maneira que nos condiciona a reproduzir comportamentos, proferir ideias
e conceitos distorcidos ou que menosprezem o feminino e suas particularidades, sem que
nos demos conta. Algo amplamente discutido é a sororidade entre mulheres, que é o
sentimento de empatia e irmandade entre mulheres, sem necessariamente possuir um
vínculo afetivo prévio, pois denota a ideia de união das mulheres contra o patriarcado
machista. Em nosso dia-a-dia é comum ouvir comentários de mulheres contra outras
mulheres, muitas vezes carregado de pré-conceitos machistas e de uma moral cristã que
distorce o real julgando o certo e o errado através de estruturas sociais que valorizem a
cultura branca, cis, heterossexual, em detrimento de todos os valores da diversidade da
nossa cultura múltipla.

Vale ressaltar que o Brasil conquistou o 5º lugar no ranking mundial de crime de


feminicídio e violência contra a mulher. E quando se pensar que violência quer dizer apenas
atos físicos ou psicológicos contra a vítima, consideremos que excluir a mulher de uma vida
com oportunidade de trabalho digno e condições de sustentar a sua família é um ato de
violência também, e dos mais comuns que podemos encontrar. A taxa de desemprego é
maior para mulheres em detrimento de as suas chances de promoção na carreira em
relação a um homem são menores. Mulheres sem oportunidades de trabalho digno, para
sustentarem suas famílias, muitas vezes mantidas sem a presença de um marido, acabam
se sujeitando a situações em que é preciso se submeter a fazer coisas fora da lei e/ou que
firam diretamente a sua ética e o seu caráter, prejudicando-a socialmente e
psicologicamente.

Deve-se tratar largamente também do fato de que a violência cotidiana contra as


mulheres acontece de formas distintas, dependendo de sua classe social, raça, etnia e
orientação sexual. As mulheres pretas carregam o estigma histórico-social de objeto sexual,
uma infâmia herança do período escravagista e que ainda se perpetua com força nos dias
atuais. A solidão da mulher negra vem falar de estigma que se cola à imagem dessas
mulheres, reduzindo-as a objetos cuja função é satisfazer o homem, negando-a como
indivíduo e negando a ela tudo o que é inerente ao indivíduo, como o desejo e a liberdade.

Nossas mulheres trans e travestis também sofrem de maneira diferente com essa
sociedade patriarcal machista. As violências dirigidas a elas levam uma carga a mais de
ódio embasadas numa moral cristã do que é certo e errado, apontando-as como verdadeiras
aberrações. Por trás dessa moralidade que mata, as mulheres trans são usadas de fetiches
sexuais para entreter homens. Devemos lembrar que o nosso país é líder no ranking de
consumo de pornografia com mulheres trans e travestis, tendo seus acessos feitos em sua
grande maioria através de contas online de homens. O preconceito mata, a hipocrisia
também.

Para tanto, devemos nós, mulheres, acessar, rever, repetir, internalizar, simplificar e
socializar os conceitos feministas que se levantam contra a distorção que o machismo faz
do que é ser mulher, para aí, então, desenvolver o sentimento de empatia e levar também
essas informações e possibilidades a outras mulheres e homens, visando a construção de
uma sociedade mais igualitária para todos os gêneros.

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