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O documentário inicia com a fala de uma mulher que, em sua apresentação, faz
questão de ressaltar sua posição social enquanto mulher cis, branca, com recursos e
acesso à bom nível de escolaridade. Este detalhe torna a discussão mais democrática, pois
dá espaço e voz a mulheres que carregam outras particularidades, muito presentes em
nossa sociedade, e para as quais a violência de gênero é direcionada de formas diferentes.
E apesar de parecerem óbvios no círculo acadêmico e nas lutas socias, alguns conceitos
muito importantes, como a desigualdade de gênero e o feminismo, são largamente
explicados no documentário, mostrando diferentes mulheres e suas experiências de vida
nesse sistema.
Discute-se em como o mundo é feitor por e para homens, um sistema complexo que
sustenta e perpetua a desigualdade de gênero. Tal estrutura está arraigada em nossa
cultura de uma tal maneira que nos condiciona a reproduzir comportamentos, proferir ideias
e conceitos distorcidos ou que menosprezem o feminino e suas particularidades, sem que
nos demos conta. Algo amplamente discutido é a sororidade entre mulheres, que é o
sentimento de empatia e irmandade entre mulheres, sem necessariamente possuir um
vínculo afetivo prévio, pois denota a ideia de união das mulheres contra o patriarcado
machista. Em nosso dia-a-dia é comum ouvir comentários de mulheres contra outras
mulheres, muitas vezes carregado de pré-conceitos machistas e de uma moral cristã que
distorce o real julgando o certo e o errado através de estruturas sociais que valorizem a
cultura branca, cis, heterossexual, em detrimento de todos os valores da diversidade da
nossa cultura múltipla.
Nossas mulheres trans e travestis também sofrem de maneira diferente com essa
sociedade patriarcal machista. As violências dirigidas a elas levam uma carga a mais de
ódio embasadas numa moral cristã do que é certo e errado, apontando-as como verdadeiras
aberrações. Por trás dessa moralidade que mata, as mulheres trans são usadas de fetiches
sexuais para entreter homens. Devemos lembrar que o nosso país é líder no ranking de
consumo de pornografia com mulheres trans e travestis, tendo seus acessos feitos em sua
grande maioria através de contas online de homens. O preconceito mata, a hipocrisia
também.
Para tanto, devemos nós, mulheres, acessar, rever, repetir, internalizar, simplificar e
socializar os conceitos feministas que se levantam contra a distorção que o machismo faz
do que é ser mulher, para aí, então, desenvolver o sentimento de empatia e levar também
essas informações e possibilidades a outras mulheres e homens, visando a construção de
uma sociedade mais igualitária para todos os gêneros.