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AO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE JOÃO

PESSOA-PB

DAISY LIMA MACHADO, brasileira, inscrita no CPF sob o nº


602.782.774-20, residente e domiciliada na Rua Izidro Gomes, nº 432, apto
1002, Tambaú, CEP 58039-160, João Pessoa-PB, vem, respeitosamente, à
presença desse juízo, por intermédio de seu advogado devidamente
constituído, com endereço profissional na Av. Almirante Barroso, nº 438,
empresarial Newton Almeida, sala 108, centro, CEP 58013-120, endereço
eletrônico lucaslinharesgomes@gmail.com, onde devem ser encaminhadas as
intimações e notificações processuais, propor
AÇÃO DE COBRANÇA DA DIFERENÇA DE CORREÇÃO MONETÁRIA DO FGTS

em face da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, pessoa jurídica de direito público,


inscrita no CNPJ sob o nº 00.360.305/0001-04, com agência localizada na
Av. Senador Ruy Carneiro, nº 241, Tambaú, CEP 58039-181, João Pessoa –
PB, pelas razões de fato e direito a seguir aduzidas.

SÍNTESE FÁTICA

Por muitos anos, a parte autora laborou na iniciativa privada. Nesse


período, por tratar-se de regime de trabalho regido pela CLT, as empresas
contratantes efetuaram os depósitos de FGTS em conta vinculada ao seu
nome, na Caixa Econômica Federal, conforme pode ser observado nos
extratos completos ora anexados aos autos.
A Lei 8.036/90, que dispões sobre o Fundo de Garantia, apresenta, em
seu art. 20, um rol taxativo de hipóteses nas quais o trabalhador pode
movimentar o saldo depositado em sua conta. Portanto, trata-se de poupança
compulsória sob a custódia de um banco público.
Para que o saldo depositado não perdesse seu valor no tempo, o
legislador estabeleceu, no art. 13 da referida Lei, que os valores deveriam ser
monetariamente corrigidos, fixando como parâmetro de atualização os saldos
de depósito de poupança.
O art. 7º da Lei 8.660/93, por sua vez, consigna que a poupança será
remunerada pela Taxa Referencial (TR), o que implica na utilização do mesmo
índice para o cálculo de atualização do FGTS.
Contudo, a metodologia de cálculo da TR, atualmente definida pela
resolução 4.624/18 do BACEN, utiliza como parâmetro as taxas de juros
negociadas no mercado secundário com Letras do Tesouro Nacional (LTN).
Logo, percebe-se que não se trata de índice inflacionário, visto que estes são

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compostos por uma cesta de produtos e serviços para fixação de seu cálculo,
não servindo, portanto, para preservação do poder de compra da moeda.
Nesse esteio, dado que o Brasil sempre teve histórico de inflação alta,
com exceção dos últimos dois anos, fica nítido que o saldo financeiro dos
trabalhadores sob custódia do Estado sofreu relevante perda, no exato valor
da diferença entre o percentual da TR e do INPC, por exemplo, já que existem
diversos índices inflacionários.
Isso posto, pugna-se, nessa oportunidade, pela condenação da parte ré
na obrigação de pagar a diferença entre o percentual da TR e do INPC, visto
que este último é o índice que a Lei definiu como base para preservação do
poder aquisitivo do salário mínimo, calculado sobre o saldo de FGTS existente
na conta da parte autora em cada mês de apuração, acrescido dos juros legais
de 3% a.a., pelas razões de direito expostas abaixo.

FUNDAMENTOS JURÍDICOS

I. DA LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM

Uma vez que a Caixa Econômica foi nomeada pela Lei como gestora do
Fundo de Garantia por Tempo Serviço, sendo ela responsável pela atualização
e remuneração das contas vinculadas, fica estabelecida sua legitimidade para
figurar no polo passivo de demanda que pleiteia correção pretérita do saldo
de FGTS.
Nesse sentido, precedentes da E. Corte Superior de Justiça sumulado
no texto de seguinte teor.
SÚMULA 249/STJ: A Caixa Econômica Federal tem legitimidade
passiva para integrar um processo em que se discute a correção
monetária do FGTS.

Desse modo, tem-se que o presente feito deve direcionado


exclusivamente a parte ré.

II. DA INEFICIÊNCIA DA TR PARA RECOMPOSIÇÃO MONETÁRIA


Conforme destacado na síntese dos fatos, a Taxa Referencial não é
índice inflacionário, já que sua metodologia de cálculo não abarca como
parâmetro o preço de nenhum produto ou serviço.
A simples leitura do art. 1º da Resolução 4.624/18 revela que a TR tem
como base as taxas de juros negociadas no mercado de títulos públicos, o que
demonstra sua natureza remuneratória e não compensatória.

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É importante ressaltar a distinção entre indexadores de inflação, que
tem como objetivo recompor o valor da moeda frente a passagem do tempo, e
taxas de juros, que remuneram o capital ocioso do poupador.
Há muito tempo o STF já ratificou o entendimento ora exposto, quando
do julgamento da ADI 493/DF, assinalando que:
“A taxa referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois,
refletindo as variações do custo primário da captação dos depósitos a
prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder
aquisitivo da moeda.”
(STF - ADI: 493 DF, Relator: Min. MOREIRA ALVES, Data de
Julgamento: 25/06/1992, TRIBUNAL PLENO, Data de Publicação: DJ
04-09-1992 PP-14089 EMENT VOL-01674-02 PP-00260 RTJ VOL-
00143-03 PP-00724)

Assim, quando se conjuga um fundo formado com dinheiro do


trabalhador, mas que possui depósito compulsório, movimentação com
hipóteses restritas pela Lei e atualização monetária que não recompõe a
inflação do período, se está diante de uma situação de confisco da diferença
entre o indexador inflacionário e a TR, visto que os valores depositados no
FGTS são utilizados pelo réu para financiar políticas públicas, em afronta ao
princípio basilar de direito à propriedade, estampado no art. 5º, XXII, da
Constituição Federal.

Quando o trabalhador tem a chance de sacar o seu FGTS, por qualquer


hipótese prevista no art. 20 da Lei 8.660/93, já não mais recebe o verdadeiro
valor que tinha à época de cada depósito, pois o poder de compra da moeda
foi apenas parcialmente recomposto.

Pelo exposto, fica claro que não se pode considerar a TR como uma taxa
apta para fins de correção monetária, razão pela qual deve ser declarada pelo
juízo a inconstitucionalidade da expressão “com base nos parâmetros fixados
para atualização dos saldos dos depósitos de poupança” do caput do art. 13
da Lei Federal nº 8.036/1990 e do caput do art. 17 da Lei Federal nº
8.177/1991 – dispositivos que impõem a correção dos depósitos nas contas
vinculadas do FGTS pela Taxa Referencial (TR).

O índice ao qual o ordenamento jurídico faz referência para


recomposição do salário mínimo é o INPC, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei
13.152/2015, justificando sua aplicação por analogia à correção monetária
do FGTS.

Registra-se, por fim, que sobre a diferença apurada entre a taxa e o


índice deve incidir os juros remuneratórios legais do FGTS, no percentual de
3% a.a., já que sua aplicação ocorre sobre todo o saldo do fundo.

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Sendo assim, a parte autora pugna pela substituição da Taxa
Referencial como parâmetro de atualização do seu saldo de FGTS,
determinando que o cálculo seja realizado com base no INPC, por tratar-se de
indexador eficiente para recompor o poder de compra da moeda.

Caso o juízo não entenda ser o caso de aplicação do INPC,


alternativamente, requer-se que seja fixado outro índice inflacionário.

DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto a parte autora requer:

1. os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, uma vez que não possui


condições financeiras de arcar com as custas processuais sem prejuízo
ao sustento próprio e de sua família;

2. a citação do réu para, querendo, contestar a presente ação no prazo


legal, sob pena de revelia;

3. a não designação de audiência de conciliação;

4. a procedência da ação, afim de:

 declarar a inconstitucionalidade da expressão “com base nos


parâmetros fixados para atualização dos saldos dos depósitos de
poupança” do caput do art. 13 da Lei Federal nº 8.036/1990 e do
caput do art. 17 da Lei Federal nº 8.177/1991 – dispositivos que
impõem a correção dos depósitos nas contas vinculadas do FGTS
pela Taxa Referencial (TR);
 Declarar o INPC como índice inflacionário apto a promover uma real
correção monetária do saldo de FGTS;

 Alternativamente, caso o juízo entenda, não se o caso de aplicação


do INPC, que seja declarado outro índice inflacionário para
recomposição monetária;

 condenar a parte ré ao pagamento das diferenças percentuais entre


a TR e o índice indicado pelo juízo, calculado sobre o saldo de FGTS
existente na sua conta em cada mês de apuração, com aplicação dos
juros remuneratórios legais de 3% ao final de cada ano.

A parte autora declara, desde já, que renuncia expressamente os


valores que excederem o limite de 60 salários mínimos, utilizados como
parâmetro de fixação de competência dos JEFs, nos termos do art. 3º da Lei
10.259/2001, bem como pretende provar o alegado por todos os meios de
prova admitidos.

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Dá-se a causa o valor de R$ 10.000,00, para fins de fixação de alçada.

Nesses termos, pede deferimento.


João Pessoa, 06 de maio de 2021.

LUCAS DE MEDEIROS LINHARES GOMES


OAB/PB 28.542

THIAGO HENRIQUE CORREIA LIMA MARTINS


OAB/PB 27.161

Processo: 0804496-66.2021.4.05.8200
Assinado eletronicamente por:
LUCAS DE MEDEIROS LINHARES GOMES - Advogado 21050613020642800000007601704
Data e hora da assinatura: 06/05/2021 13:04:07
Identificador: 4058200.7579731
Para conferência da autenticidade do documento: https://pje.jfpb.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam 5/5

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