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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6

Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE


NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
AVALIAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO ESPECIAL: CAMINHOS E
DESAFIOS

TOMADON, Maria Regina1


TURECK, Lucia Terezinha Zanato Tureck2

Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar aspectos relacionados à avaliação pedagógica
dos alunos com deficiência intelectual, de Escola de Educação Básica na Modalidade de Educação
Especial, considerando as dificuldades encontradas pelos professores, refletindo que avaliar deve ser
visto pela escola como um suporte, uma ferramenta para auxiliar o processo ensino/aprendizagem.
Os professores precisam ter clareza e objetivos bem definidos, pois ao avaliar o processo de
aprendizagem, frequentemente o professor pode diagnosticar aspectos que precisam ser melhorados
podendo assim intervir em seu plano de trabalho docente, refazendo suas práticas pedagógicas, com
um novo olhar para a avaliação e a proposta de trabalho pedagógico para aquele que ensina e
aquele que aprende.

Palavras – chaves: Deficiência intelectual; avaliação pedagógica; processo ensino aprendizagem;


escola na modalidade de educação especial.

Introdução

Ao iniciar os estudos no Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE3,


há cerca de um ano, defini para delimitação do tema de estudo um problema que
venho observando na escola, problema este que vem gerando bastante discussão,
pois se percebe que a forma de pensar em avaliação precisa mudar, há uma
necessidade de mudança no olhar do professor.
O objetivo desse estudo é fomentar a discussão na escola para utilizar a
avaliação como uma ferramenta para desenvolver práticas pedagógicas inclusivas,
que possibilitem a compreensão das condições de aprendizagem dos alunos, a
identificação das barreiras para essa aprendizagem e para sua participação na vida
escolar, cujo objetivo principal é atender às suas necessidades educacionais básicas
no processo de apropriação do conhecimento científico.

1
Professora de Educação Especial da rede Pública do Estado do Paraná e integrante do PDE –
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2013. E-mail:retomadon@gmail.com
2
Professora Doutora do Curso de Pedagogia da UNIOESTE, membro do Programa de Educação
Especial e dos Grupos de Pesquisa: Educação Especial GEPEE e HISTEDOPR. e-mail:
lucia.tureck@unioeste.br
3
O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do
Paraná, processo de formação continuada com foco na prática docente.
A intervenção na escola e as discussões do Grupo de Trabalho em Rede -
GTR4 foram incorporadas como conteúdos deste artigo, as quais se referem à
realidade da Escola de Educação Básica na Modalidade de Educação Especial
Novo Horizonte, localizada no município de Corbélia, Paraná, que atende a alunos
da Educação Infantil à Educação de Jovens e Adultos, oriundos da zona urbana e
rural. São 85 alunos distribuídos no período matutino e vespertino. A escola a
atende alunos que representam uma diversidade étnica, cultural e social.
A Educação Especial encontra-se num momento em que mudanças ocorrem
de maneira muito rápida, decorrentes dos movimentos pela inclusão escolar. Assim
sendo, faz-se necessária uma reflexão sobre o papel da escola, do professor para o
atendimento ao educando que nela ingressa, considerando suas características
peculiares para que a aprendizagem se concretize, permitindo sua inserção ao
mundo escolar.
Nessa perspectiva, acreditamos na necessidade da formação do professor no
âmbito da Educação Especial para o enfrentamento de novas demandas surgidas,
particularmente em relação ao currículo escolar e às práticas pedagógicas, onde a
avaliação tem um espaço de atuação determinante.
No decorrer de observações e experiências educacionais publicadas em
pesquisas verifica-se que a prática tradicional da avaliação em sala de aula tem
seguido paradigmas teóricos relacionados a técnicas estáticas para verificação do
aprendizado escolar e desempenho dos alunos em determinado conteúdo. Embora
tenha-se avançado no conhecimento sobre a avaliação pedagógica, na prática ainda
se tem valorizado mais o produto do aprendizado escolar do que o processo pelo
qual a aprendizagem se efetiva (OLIVEIRA e CAMPOS, 2005).
Percebe-se, no decorrer do atual processo de reformulação que as Escolas
de Educação Básica na Modalidade de Educação Especial vêm passando 5, a partir
da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(BRASIL, 2008), que o habitual processo avaliativo não tem sido suficiente para
estabelecer qual a forma de ensino mais adequado para atender a esses educandos
e como avaliar o seu potencial de aprendizagem. A fragilidade nos procedimentos
4
O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) integra o PDE, realizado na modalidade de EaD, em que os
professores não participantes do PDE do respectivo ano de sua edição, participam por opção.
5
O DEEIN encaminhou ao Conselho de Estadual de Educação, quanto a autorização e alteração de
denominação das escolas de educação especial como Escolas de Educação Básica, na Modalidade de Educação
Especial na Área de Deficiência Intelectual, com ofertas nas etapas de Educação Infantil, Séries iniciais do
Ensino Fundamental, Educação Profissional e E.J.A – fase I.
diagnósticos, a inexistência de avaliação de aprendizagem e acompanhamentos
adequados, vem perpetuando uma série de equívocos quanto ao processo de
ensino e aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual.
Dessa forma, entende-se que na educação especial os professores precisam
utilizar diferentes critérios e instrumentos avaliativos para que alunos não sofram
prejuízos. E será através da avaliação que os professores poderão rever sua prática
pedagógica, diversas estratégias deverão ser utilizadas para alcançar avanços
significativos com os alunos, sendo assim necessária uma reflexão sobre as formas
organizativas do trabalho pedagógico propostas para a educação especial na atual
política educacional brasileira.
Para esta reflexão dos estudos vê-se necessário uma avaliação da
organização curricular, das condições do trabalho docente, das possibilidades da
relação pedagógica na interação professor / aluno e aluno/aluno, dos processos
avaliativos, entre outros elementos fundamentais na escola, como também, as
políticas para a educação especial e sua relação com a organização do trabalho
docente.
A educação especial está passando por mudanças decorrentes dos
movimentos pela inclusão escolar. Faz-se necessário uma reflexão sobre o papel da
escola, do professor para o atendimento do aluno.

Alguns desafios para o processo avaliativo

Em tempos passados, a avaliação era feita para verificar simplesmente se o


aluno aprendeu, com caráter classificatório para testar e medir seus acertos e erros.
O instrumento mais usado para avaliar era a prova, pelo qual ficavam os objetivos
distorcidos e muitas vezes serviam para castigar os alunos e retê-los na série,
causando assim medo entre os educandos, impedindo uma relação interativa entre
docente e discente.
Com os estudos da Pedagogia e da Psicologia, as mudanças ocorridas na
avaliação vêm comprovar a interação do aluno no processo de ensino/
aprendizagem, sendo esta um elo entre a sociedade, escolas e os estudantes. Isso
porque todos esses segmentos precisam conscientizar-se de que a avaliação deve
ser repensada para que a qualidade do ensino não fique comprometida, e o
educador não sofra as influências históricas e seja levado pelo autoritarismo e
arbitrariedade.
Perante as observações e conversas realizadas com os professores na
escola onde realizou-se o estudo e os participantes do GTR, percebeu-se que o
maior desafio no processo de avaliação ainda é centralizado na classificação,
apesar dos professores estudarem, e dizerem que adotam uma tendência inovadora,
verificou-se uma grande resistência da comunidade escolar em torno de formas
diversificadas de avaliação para a promoção do aluno.
O maior entrave foi verificado no plano de trabalho docente, onde são
estabelecidos tarefas iguais para todos os alunos, explicações gerais, atividades
comuns e não diversificadas. No discurso dos professores, frequentemente se
percebe angústia, desânimo, e vários empecilhos para a execução das tarefas e
atividades que favoreçam um aprendizado diversificado, usando melhor os espaços
que a escola fornece: pátio, horta escolar, piscina, biblioteca, laboratório de
informática, sendo este na visão da maioria um ato trabalhoso. Todavia, é um ato
que requer objetividade, estudo e compromisso do professor com o plano de
trabalho docente.
Hoffmann (1995) apresenta a avaliação como uma necessária interlocução
entre o professor, o aluno e o conhecimento.

Entendo que a avaliação, enquanto relação dialógica vai conceber o


conhecimento como apropriação do saber pelo aluno e pelo professor,
como ação-reflexão-ação que se passa na sala de aula em direção a um
saber aprimorado, enriquecido, carregados de significados, de
compreensão. Dessa forma a avaliação passa a exigir do professor uma
relação epistemológica com o aluno. Uma conexão entendida como reflexão
aprofundada sobre as formas como se dá compreensão sobre o objeto do
conhecimento (HOFFMANN,1995, p.148).

A educação se faz com a flexibilidade, criatividade, com os conflitos e solução


dos mesmos, para que assim a avalição parta da realidade e a escola seja
considerada o espaço para a transformação e conhecimento.
É fundamental que o professor desafie, repense o pedagógico, saia do
cotidiano rotineiro, realize um aprender com prazer, para que assim os alunos
adquiram mais segurança, percam o medo de errar e com isso lancem-se mais,
façam tentativas. Por isso, Solé (2004) reitera que:
Não se trata de compartimentos estanques, à medida que meninos e
meninas se mostram mais competentes na área cognitiva, suas
possibilidades de inserir-se socialmente aumentam, bem como as relações
interpessoais que podem estabelecer, e tudo isso muda a maneira como
veem a sim mesmos (SOLÉ, 2004, p. 53).

O professor que se mantém atento ao processo de ensino aprendizagem não


irá analisar se o aluno domina ou não um determinado assunto ou capacidade, irá
refletir e analisar sobre o que sabem, sobre o que se está ensinando, como estão
pensando, o que já aprenderam, e o que falta aprenderem. Com essa postura, os
professores deixam de olhar apenas o produto final da aprendizagem, e analisam os
processos, a forma como tudo ocorre, tendo a humildade de enxergar os seus
acertos e erros na ação pedagógica, como bem aponta Gadotti (1999),

O educador não pode colocar-se na posição ingênua de quem se predente


detentor de todo o saber; deve, antes, colocar-se na posição humilde de
quem sabe que não sabe tudo, reconhecendo que o analfabeto não é um
homem “perdido”, fora da realidade, mas alguém que tem toda a
experiência de vida e por isso também e um portador do saber (GADOTTI,
1999, p. 2).

Deve-se considerar que perante toda a aula haverá uma reação diferente,
sendo o aproveitamento ocasionado pela maneira como se lida com as reações dos
alunos. Observa-se, perante os novos padrões e estudos realizados, que a
avaliação não deve ser vista como uma caça aos erros, mas uma busca de
excelência. Assim, faz-se necessário analisar como o aluno é capaz de aprender,
estimulá-lo sobre o que realizou e encontrar os caminhos do seu desenvolvimento.
Neste enfoque não seria possível considerar apenas os produtos da
aprendizagem demonstrados nas habilidades e inabilidades expostas pelos alunos,
mas a compreensão de novas formas de ensinar que fazem parte de um
crescimento contínuo e sistematizado reconhecendo as diferentes trajetórias de vida
dos mesmos.

O papel do professor e da escola

A avaliação precisa tornar-se um processo permanente, onde alunos


aprendem com alunos, professores estimulando a todo momento sua turma, fazendo
com que eles se sintam capazes de aprender, o professor deve assumir o papel de
gestor do conhecimento, deixar de ser selecionador, sendo necessário três ações
fundamentais na sala de aula: presença, versatilidade e competência, assumindo
assim um compromisso com uma educação emancipatória e cidadã.
Nesse sentido, Luckesi (1997) admite a função da avaliação enquanto
inferência no próprio aluno ao afirmar que:

A avaliação, aqui, apresenta-se como meio constante de fornecer suporte


ao educando no seu processo de assimilação dos conteúdos e no seu
processo de constituição de si mesmo como sujeito existencial e como
cidadão (LUCKESI, 1997, p. 174).

É esse suporte que não deixa o aluno desistir diante de suas dificuldades, que
tenha nos professores e escolas o amparo que necessita para superar e romper com
o círculo vicioso de fracasso e repetência. O professor precisa saber o que seus
alunos realmente aprenderam, a cada semana, a cada mês, ter claro quanto
avançaram, o que eles realmente aprenderam, analisar se seus objetivos estão
sendo alcançados, essa evolução tem que ser muito clara e transparente para dar
continuidade no trabalho.
O educando não chega a escola sem nenhum conhecimento, o professor
necessita conhecer o histórico de conhecimentos que os alunos possuem, e não
conhecer somente suas dificuldades. O importante não é avaliar as dificuldades,
mas sim suas diferenças, pois as diferenças podem ser ricas em suas contribuições
para o aprendizado. Essas diferenças podem ser analisadas através dos resultados
de habilidades e conhecimentos já adquiridos pelos alunos, analisar o que o
educando realiza sozinho, a denominada Zona de Desenvolvimento Real. Esses
conhecimentos dão início ao ensino/aprendizagem, posteriormente abrem-se janelas
de oportunidades para o desenvolvimento, neste processo o professor assume-se
como mediador, orientador do educando para os processos mentais em construção.
Esse é um processo em constante transformação que acontecem no dia a dia do
educando, hoje o educando necessita da ajuda de alguém, amanhã conseguirá fazer
sozinho, a chamada Zona de Desenvolvimento Proximal. A escola, o professor
enquanto mediador, tornam-se insubstituíveis para o desenvolvimento das pessoas
com deficiência intelectual, constituindo-se como processos de mediação para a
apropriação de novas formas de conhecimento (SÃO PAULO, 2008).
Para fortificar a importância da escola e do professor neste processo Oliveira
(2008) afirma que:
E este processo a criança não desenvolve sozinha, de modo que a escola
tem um importante desafio a enfrentar: encontrar caminhos que possam
superar os limites impostos pela deficiência, através de compensação, e
localizar sua atenção nas condições em que a aprendizagem ocorre (SÃO
PAULO, 2008, p. 26).

Nesta perspectiva, um professor mediador e uma escola inclusiva trabalham


de forma que, a partir dos conhecimentos apropriados pelos alunos, darão um
caráter significativo para suas ações pedagógicas. O professor, em vez de procurar
no aluno a origem de um problema, deve procurar recursos e apoios para
proporcionar sucesso escolar, não focalizando a deficiência, mas enfatizando o
processo pedagógico, as formas, condições e situações de aprendizagem.
Ao abordar a avaliação como prática didática na responsabilidade do trabalho
do professor, Libaneo (1994) afirma:

A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho


docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e
aprendizagem. Através dela os resultados que vão sendo obtidos no
decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados
com os objetivos propostos a fim de constatar progressos, dificuldades, e
reorientar o trabalho para as correções necessárias (LIBANEO, 1994, p.
195).

Assim, a avaliação não é um ato isolado, mas um aspecto que influencia a


ação educativa, desencadeando a construção do conhecimento e fazendo o
professor redimensionar sua prática pedagógica, fornecendo subsídios que
permitam observar como ocorre o processo de ensino aprendizagem.
A cada trabalho realizado, o professor precisa rever e analisar se está no
caminho certo, o importante é usar os resultados para refletir sobre a prática,
realizando as mudanças necessárias.
Essas reflexões e mudanças são pontuadas através das avaliações
realizadas durante as reuniões de estudo de caso, onde participam professores e
especialistas dentro do próprio ambiente escolar. Essa avaliação apresenta
características de um processo continuo, os quais acontecem conforme a
necessidade do professor, tendo como objetivo verificação dos avanços, cognitivos,
motores e sociais, como também orientações de estratégias pedagógicas no
processo ensino/aprendizagem. No decorrer das reuniões serão realizados todos os
encaminhamentos necessários como: médicos, atendimento familiar, com a meta de
buscar alternativas para o melhor desenvolvimento dos educandos, conforme expõe
Oliveira (2008). A autora ressalta essa forma de avaliar:

A avaliação deverá ser realizada, inicialmente, pela escola através do


estudo de caso para verificação das condições e das adequações
necessárias para o atendimento às necessidades educacionais especiais do
aluno com deficiência intelectual, seja no contexto geral da escola ou no
contexto especifico de aprendizagem. Neste primeiro momento, o registro é
descritivo, embora estejam apresentados alguns indicadores para reflexão
escolar (SÃO PAULO, 2008, p.51)

O trabalho quando realizado por uma equipe torna-se mais eficaz, pois
todas as áreas contribuem para o desenvolvimento do educando. No estudo de
caso ressalta-se a importância da equipe para que o aluno com deficiência
intelectual consiga ser trabalhado em todas as áreas necessárias.
Dotar uma postura positiva e incentivar o desenvolvimento exaltando as
capacidades de cada aluno, em vez de colocar em primeiro plano as limitações,
contribuem para que ele se sinta desafiado, deixando assim de se sentir incapaz.
A escola e o professor precisam fortalecer as crianças e adolescentes com
necessidades educacionais especiais. No ambiente escolar, a avaliação só faz
sentido quando serve para auxiliar o estudante a superar as dificuldades. Pois, de
nada adianta selecionar novos conteúdos ou métodos diferentes de verificar a
aprendizagem se não houver intencionalidade. É necessário lembrar que a avaliação
está a serviço da aprendizagem, aprendizagem esta que está aberta para mudanças
quando necessário, sem medo de ousar.
A avaliação com comprometimento se fortifica enquanto aspecto qualitativo e
se desenvolve durante todo o processo de ensino/aprendizagem, exigindo um
trabalho conjunto na dimensão escolar para a construção e compreensão do
conhecimento proposto, como Luckesi (1997) considera:

A avaliação da aprendizagem nesse contexto é um ato moroso, na medida


em que inclui o educando no seu curso de aprendizagem, cada vez com
qualidade mais satisfatória, assim como na medida em que o inclui entre os
bem sucedidos, devido ao fato de que esse sucesso foi construído ao longo
do processo de ensino aprendizagem (o sucesso não vem de graça). A
construção, para efetivamente ser construção, necessita incluir, seja do
ponto de vista individual, integrando a aprendizagem e o desenvolvimento
do educando, seja do ponto de vista coletivo, integrando o educando num
grupo de iguais, o todo da sociedade (LUCKESI, 1997, p. 175).
Com essa postura o profissional possibilitará ao educando a compreensão e a
construção necessárias para a formação humana, ocorrendo assim compromisso do
educador com a aprendizagem. Percebe-se a necessidade de alguns cuidados
específicos para a realização da avaliação dos alunos da escola de Educação
Básica na Modalidade de Educação Especial. Necessita-se de um conjunto de
condições de acesso ao currículo escolar, no qual precisa constar o levantamento
das necessidades e potencialidades dos alunos sendo fundamental avaliar de
maneira contínua, através das observações diárias e registro dos desempenhos dos
alunos, para que se possa intervir na prática docente, melhorando a aprendizagem.
Portanto, é sobre a aprendizagem que gira o trabalho escolar e a avaliação é
etapa significativa. Inovar no planejamento, fazer os ajustes necessários para
atender à diversidade de necessidades geradas em aula faz com que se deem
respostas aos interesses e dificuldades de cada aluno, enriquecendo o trabalho
pedagógico, sendo necessário identificar exatamente o que se quer com a
avaliação.
Geralmente o aluno com deficiência intelectual tem dificuldades para operar
as ideias de forma abstrata. Como não há um perfil único, é necessário um
acompanhamento individual e contínuo. As deficiências não podem ser medidas e
definidas genericamente, sendo necessário levar em conta a situação atual da
pessoa, ou seja, a condição que resulta da interação entre as características do
indivíduo e as do ambiente.
Esta interação na avaliação torna-se fundamental quando se pensa em
avaliação como dinâmica, onde a relação entre professor e aluno resulta na
valorização do processo, sendo os objetivos o conhecimento das estratégias de
aprendizagem utilizadas pelos alunos (OLIVEIRA e CAMPOS, 2005).
O aprendizado exige estratégias diferenciadas, relacionado os conteúdos com
as situações do cotidiano, exemplos concretos para ilustrar ideias mais complexas.
Pressupõe-se que a escola e equipe pedagógica realizem um trabalho unificado em
prol do aluno, do aprendizado, da avaliação e da família, tendo como suporte o
Projeto Político Pedagógico, o qual é um apoio para o trabalho estabelecendo as
prioridades na área pedagógica, de assistência social, transporte, família, enfim, é
um mapeamento das necessidades especificas da escola, fornecendo subsídios e
formas que que a avaliação deve ocorrer.
Os instrumentos de avaliação devem informar o desenvolvimento atual da
criança, a forma como ela enfrenta determinadas situações de
aprendizagem, os recursos e o processo que faz uso em determinada
atividade. Conhecer o que ela é capaz de fazer, mesmo que com a
mediação de outros, permite a elaboração de estratégias de ensino próprias
e adequadas a cada aluno em particular (OLIVEIRA E CAMPOS, 2005, p.
54).

Os instrumentos utilizados na avaliação farão com que ocorra uma educação


voltada pra o diferente, fazendo com que ocorra a construção e reconstrução do
conhecimento, sendo essa uma prática complexa, caracterizando-se como um dos
momentos mais difíceis do trabalho do professor.
A escola possui função de proporcionar um ambiente acolhedor, sem
discriminação e capaz de proporcionar um aprendizado efetivo, tanto do ponto de
vista educativo, quanto social, partindo do princípio de que nós e o mundo real
estamos em permanente transformação. Isso nos leva à constatação de que se
existem os problemas, existem também as possibilidades; sendo assim, os
problemas tornam-se uma fonte de crescimento, não podendo a escola classificar o
aluno pela sua deficiência. Pode-se reforçar esta ideia através de Padilha (2001):

Move-me a busca dos sujeitos que são todos os deficientes mentais-


sujeitos simbólicos, que mesmo com o mundo aos pedaços,
continuam capazes de sonhar, de imaginar, desejar, aprender e
também amar. Eles esperam dos seus educadores maior
compreensão de suas possibilidades e uma crença relativa nos
diagnósticos médicos. Esperam poder participar do mundo cultural
das pessoas consideradas normais (PADILHA, 2001, p. 43).

A questão da deficiência como toda diferença causa sentimentos


contraditórios, tudo que é desconhecido representa uma ameaça de
desestabilização do que já está estruturado. As imagens causam repudio, provocam
desconforto, pois não pertencem ao padrão esperado da normalidade, passam a
visão de que não capazes, são pouco produtivos, não se encaixam nos valores da
sociedade, a sociedade precisa se adaptar para incluir, para que assim a pessoa
com deficiência encontre na sociedade, na escola, na família seu caminho para o
desenvolvimento, e é da escola a maior parcela de responsabilidade para que
aconteça a mediação entre o mundo, a educação e a pessoa com deficiência
intelectual.
A equipe escolar envolvida com a educação precisa acreditar que é possível
ensinar para promover a aprendizagem, mesmo nas situações em que aparenta ser
impossível. É de suma importância estabelecer momentos em conjunto, momentos
de estudos, reflexão, análise do aluno em diferentes situações dentro e fora da
escola. Essa ação se torna imprescindível pois dará parâmetros para identificar e
orientar sobre a melhor forma de atender aos alunos, requerendo preparo técnico e
grande capacidade de observação dos profissionais envolvidos.
O ambiente da escola, a comunidade escolar, busca constantemente redefinir
e resignificar o seu papel. Atualmente, deve-se olhar para a pedagogia preocupada
com a transformação, repensando o processo da sala de aula, pois a sala de aula
existe em prol dos alunos. E os professores, será que realmente respeitam os
alunos em relação ao acesso ao conhecimento, consideram quem são eles, em que
contexto vivem? É importante que o trabalho do professor seja pautado numa
dinâmica interativa, pois assim terá noção da participação e dos avanços de cada
aluno.
A escola precisa ver o papel da avaliação na aprendizagem como um
processo de ensino a um caminho a seguir entre um ponto de partida e um ponto de
chegada com metas e objetivos educacionais. Na educação especial os professores
precisam ser preparados para compreender as necessidades e as possibilidades de
cada aluno, fazendo as adaptações necessárias durante o processo avaliativo. A
avaliação não deve priorizar apenas o resultado ou o processo, mas deve como
prática de investigação, interrogar a relação ensino aprendizagem e buscar
identificar os conhecimentos construídos e as dificuldades de uma forma dialógica.
O erro passa a ser considerado como pista que indica como o educando está
relacionando os conhecimentos que já possui com os novos conhecimentos que vão
sendo adquiridos, admitindo-se uma melhor compreensão dos conhecimentos
solidificados, interação necessária em um processo de construção e de
reconstrução. O erro, neste caso deixa de representar a ausência de conhecimento
adequado. Toda resposta ao processo de aprendizagem, seja certa ou errada, é um
ponto de chegada, por mostrar os conhecimentos que já foram construídos e
absorvidos, e um novo ponto de partida, para um recomeço possibilitando novas
tomadas de decisões
Um professor compromissado e coerente busca as adaptações que forem
necessárias para o aluno, refletindo sobre seu plano de trabalho docente.
Considerações finais

Ao refletir sobre a avaliação nas escolas de Educação Básica na Modalidade


de Educação Especial, constata-se ser necessário ter clareza a respeito para que
um desenvolvimento pedagógico aconteça. É preciso uma educação que inove, que
atenda à diversidade de necessidades geradas em aula, fazendo com que se dê
respostas aos interesses e dificuldades de cada aluno. Para que o trabalho
pedagógico seja rico é necessário identificar exatamente o que se quer com a
avaliação.
É importante lembrar ainda que o conhecimento é o mesmo para todos os
alunos, o que difere na educação especial é que a escola e a sociedade devem se
adaptar ao aluno, promovendo condições de acessibilidade em todas as áreas, e o
professor assume o papel de motivador, pesquisador e mediador no processo de
aprendizagem, vendo a avaliação como processo contínuo e flexível, fazendo da
sala de aula um ambiente propício para a aprendizagem, respeitando os diferentes
estilos de aprendizagem, lembrando que o nível de apropriação se difere de aluno
para aluno.
O processo de ensino aprendizagem é uma construção tanto pessoal do
sujeito que aprende, influenciado pelas suas características, quanto pelo contexto
social que se cria na sala de aula. Assim, através da avaliação pode-se conhecer a
prática educativa, com a finalidade de transformá-la, abrindo caminhos para a
construção de novas possibilidades e de novas estratégias de ensino. É uma
proposta que deve quebrar os paradigmas individuais e constituir paradigmas
coletivos.
Com tal abrangência, a avaliação possibilita a identificação das dificuldades,
dos sucessos e fracassos, apoiando, encaminhando, tomando decisões sobre ações
necessárias, sejam elas de natureza pedagógica ou administrativa.
A avaliação escolar do ponto de vista pedagógico precisa ser inclusiva,
convidativa a reinvestir no processo de ensino para se chegar aos resultados
esperados. Valorizar e reconhecer as diferentes formas de aprender faz com que o
professor vá se adequando às individualidades, pois a aprendizagem se dá nas
relações, no convívio, na experimentação. Portanto, a avaliação produz indicativos,
a solução decorre da forma pedagógica do professor, a forma que se investe no
educando.
A avaliação não pode ser apenas da aprendizagem do aluno, mas sim do
sistema da sala de aula; o ato de avaliar é um ato de buscar conhecimentos,
desvendar qual a qualidade dos métodos e recursos pedagógicos utilizados. O
professor precisa trabalhar com a pergunta: O que preciso fazer para que o meu
aluno aprenda? uma vez que lhe compete a direção do processo.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na


Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008.

GADOTTI, M. Convite à Leitura de Paulo Freire. São Paulo, 1999.

HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação mediadora: uma prática em


construção da pré-escola a universidade. Porto Alegre: Educação & Realidade,
1995.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

LUCKESI, Cipriano C. A avaliação da aprendizagem escolar. 6 ed. São Paulo:


Cortez, 1997.

OLIVEIRA, Anna Augusta Sampaio e CAMPOS, Thaís Emilia. A avaliação em


educação especial: o ponto de vista do professor de alunos com deficiência.
Estudos em Avaliação Educacional, v.16, nº 31, jan/ jun, 2005.

PADILHA, Ana Maria Lunardeli. Práticas pedagógicas na educação especial: a


capacidade de significar o mundo e a inserção cultural do deficiente mental.
Campinas, SP: Autores Associados, 2001.

SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação


Técnica. Referencial sobre Avaliação da Aprendizagem na área da Deficiência
Intelectual. São Paulo: SME / DOT, 2008.

SOLÉ, Isabel. Das capacidades à pratica educativa, Porto Alegre: Art Med, 2004.

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