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Esquiva experiencial e processos de tomada de decisão: um relato de caso

baseada na ACT

Anelisia Nobre
Universidade Jorge Amado
Resumo

A maneira tradicional utilizada pela Terapia Analítico-Comportamental (TAC) de


abordar clientes que procuram atendimento visando aprender a lidar com
situações em que devem tomar uma decisão, amiúde, desconsidera variáveis
relevantes, tais como repertórios de esquiva experiencial, os valores do cliente,
dentre outras, as quais são conceitos norteadores da Terapia de Aceitação e
Compromisso (ACT). Deste modo, não obstante na primeira parte deste artigo
seja descrita a perspectiva tradicional da TAC sobre o processo de tomada de
decisão, na segunda demonstra-se a visão da ACT sobre tal abordagem e sua
proposta de intervenção, a qual é seguida pela apresentação de um caso de
uma cliente que relatava problemas em tomar decisões, segundo a própria, por
ser muito medrosa; a intervenção, a qual foi baseada na ACT, bem como na
FAP e em outras abordagens, quando assim se fez necessário; e os
resultados.

Abstract

The traditional approach of the Analytic-Behavior Therapy (ABT) toward the


clients that search for a treatment to learn how to deal with situations which they
have to make a decision, frequently, does not take under consideration relevant
variables, as such the experiential avoidance repertoire, the client’s values, and
so forth, which are guide-concepts of the Acceptance and Committed Therapy
(ACT). Given that, nonetheless in the first part of this work the ABT’s traditional
concept of the decision-making process was described, in the second, ACT’s
point of view of that approach is demonstrated as also ACT’s propose of
intervention, which is followed by the presentation of a case of a client who had
problems making decisions, according to her, because she was a coward,
followed by its intervention based on ACT, as well as on FAP and other
approaches that were used when they were necessary, and its results.

1
Ao longo de minha vida acadêmica como estudante de graduação em
Psicologia, uma professora informou, não sei se baseado na experiência dela
enquanto clínica ou se em algum lugar lido, que os dois maiores motivos que
levavam pessoas às clínicas psicoterapêuticas eram problemas no repertório
de habilidades sociais ou momentos de tomadas de decisão.
Destarte, para cada dessas situações clínicas, foram indicados dois textos
diferentes. O livro sugerido para se lidar com problemas referentes às
Habilidades Sociais, que é de fácil compreensão e que geralmente tem um
índice muito bom de adesão é o de Alberti e Emmons (1978). Em relação a
questões sobre tomadas de decisão, o texto que foi indicado na época foi o de
Starling (2007): “E agora, José? Compra um carro ou anda a pé? (Tomando
decisões)”, cuja intenção é disseminar de maneira eminentemente acessível a
visão e o direcionamento adotados na intervenção analítico-comportamental
em relação a clientes que estão enfrentando momentos difíceis de tomada de
decisão, a fim de que os leitores possam entender e colocar em prática aquilo
que no livro é explicado.
Hayes et al (1996), entretanto, defendem que e esclarecem como a forma
tradicional dos terapeutas analítico-comportamentais de lidar com o processo
de tomada de decisão na clínica, bem como com os transtornos
psicopatológicos em geral, pode aumentar e tornar mais eficientes os
repertórios de esquiva experiencial, repertórios estes que são os grandes
responsáveis por essas mesmas psicopatologias ou outras dificuldades
vivenciadas pelas pessoas de modo geral.
Esse artigo se propõe a explicitar, em uma perspectiva analítico-
comportamental, o conceito de tomada de decisão e os procedimentos
adotados na clínica para auxiliar clientes que estão passando por esse
processo, relacionando-os com o conceito de esquiva experiencial baseada na
ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso). Além disso, no final do trabalho,
será descrito um caso em que o processo de tomada de decisão foi tanto
abordado da maneira tradicional analítico-comportamental, quanto baseado na
aceitação (ACT).

Processo de Tomada de Decisão

Os artigos encontrados acerca de processos de tomada de decisão na clínica


em uma abordagem analítico-comportamental, cujo objetivo é auxiliar o cliente
nesse processo, foram poucos (Otero e Rosa (2006), Starling (2007), Del
Prette et al (2007)). Alguns artigos tratam do processo de tomada de decisão
enfocando as decisões do terapeuta, sendo que um deles almeja esclarecer a
relação entre “os dados obtidos e as decisões terapêuticas tomadas”
(Colombini e Pergher, p 149); o outro apóia o uso da análise funcional como
estratégia para a tomada de decisão em psicoterapia infantil (Moura, Grossi e
Hirata); um terceiro é um estudo em ecossocioeconomia nas organizações que
visa “explorar processos de tomada de decisão” (Signori, Feslki e Sampaio,
2008, p 2), dentre outros (Otero (1997) e Nico (2001)), mas apenas uma

2
pequena quantidade, como já foi dito, possui todas as características acima
citadas.
No texto de Starling (2007), assim como em Dittrich (2012), é ressaltado que
decidir “não é uma coisa ‘psicológica’, que acontece em algum lugar misterioso
dentro da gente... meio mágica... meio de nascença...” (p 37), e, sim, é um
comportamento como outro qualquer, conseqüentemente, possível de ser
ensinado, sendo que a proposta de Starling (2007) é justamente essa: ensinar
o leitor a “decidir melhor e mais facilmente” (p 34).
Não obstante, o comportamento possa ser considerado com um estado
disposicional, isto é, como uma tendência em determinada situação a se agir
de certa maneira, definição esta que abrangeria melhor o comportamento de
“decidir”, a maioria dos autores na análise do comportamento parecem
considerar comportamento como sinônimo de contingência. Ou seja, eles
defendem que o comportamento “deve ser entendido como relação entre
organismo e ambiente” (Pessôa e Velasco, 2012, p 25). É provável que seja
dentro dessa perspectiva de comportamento, que Starling (2007) ressalta no
seu texto que é sempre importante levar em consideração a situação que
antecede (o contexto) e o que vem depois da decisão ser tomada (as
conseqüências), a fim de se tomar uma boa decisão, sugestão que pode, de
fato, engendrar bons resultados. E, segundo o mesmo autor, para isso, seria
necessário saber mais sobre o assunto e sobre as possíveis conseqüências em
questão1. Esse mesmo autor faz, então, uma diferenciação entre o que ele
chama de tomada decisão e de resolução de problemas, sendo que esta última
ocorre quando já se sabe “o que seria melhor para você”, e a primeira, antes.
Acrescentando que, relativo à resolução de problemas, o segredo para se
aumentar as chances de se concretizar o que se é desejado estaria ligado à
variabilidade de repertório que se tem a disposição.
Nico (2001) também faz essa mesma diferenciação ao se debruçar sobre o
sentido de educação na perspectiva de Skinner. De acordo com Skinner
(1953/2003) educar é establecer “comportamentos que serão vantajosos para o
indivíduo e para outros em algum tempo futuro” (p 402). Baseando-se nessa
perspectiva skineriana, a autora supracitada demonstra a importância de três
comportamentos, principalmente quando o objetivo é ensinar ao aluno como
lidar com contingências que são “desconhecidas no momento do ensino” (p
63), a saber, autocontrole, tomada de decisão e solução de problemas:
1
Nico (2001) se refere a essas ações chamando-as de manipulações de “variáveis que aumentam a
probabilidade de ‘escolher’ este ou aquele curso de ação.” (p 67). Isso seria para a autora a definição de
tomada de decisão: “O que define a tomada de decisão é a emissão de certos comportamentos que
aumentam a probabilidade de ‘optar por’, decidir qual curso de ação será tomado.” p 67. As definições
de Nico (2001) e de Starling (2007) podem parecer diferentes, mas acredito que não são. Nico (2001)
defende que a situação-problema que antecede a resposta de tomada de decisão é produzida pelo
desconhecimento das conseqüências, enquanto Starling (2007) afirma que o problema decorre do fato
do individuo não saber o que quer. Contudo, se for considerado que para Skinner (2000 e 1953/2003)
querer nada mais é do que um comportamento com alta probabilidade de acontecer, dada às condições
necessárias para que ele ocorra, pode-se afirmar que o indivíduo nessa situação não sabe o que quer
(quer dizer, qual é o comportamento mais provável de ocorrer), pois não conhece as conseqüências que
serão produzidas pelas respostas que emitirem. Del Prette et al (2007) ratifica o ponto de vista aqui
defendido quando caracterizam uma situação de tomada de decisão assim: quando alguém “sabe os
caminhos, mas não sabe as conseqüências de cada um” (p 23).

3
No autocontrole, o individuo é capaz de identificar as respostas e conseqüências
antes de manipular as variáveis que alteram a probabilidade de um
comportamento específico. Na tomada de decisão, o individuo identifica as
respostas possíveis, mas não suas conseqüências... na solução de problemas, o
indivíduo não é capaz de identificar qual a resposta que produz um determinado
reforçador. (p 62)

Enquanto Nico (2001) e Starling (2007) enfatizam o controle exercido pelos


eventos posteriores a resposta, mesmo sendo o desconhecimento destes a
variável crítica deste controle, Dittrich (2012) faz outro tipo de análise, que,
além de não negar a primeira, muito pelo contrário, complementa-a. Ao invés
de ele enfatizar as conseqüências como as responsáveis pelo engajamento em
comportamentos de tomada de decisão, ele atribui à falta de familiaridade com
os antecedentes, já que estas situações não foram vivenciadas previamente
(por conseguinte, tornar-se menos provável se saber quais conseqüências
serão produzidas pelas respostas disponíveis no repertório da pessoa nesse
contexto específico), a razão pela qual as pessoas buscam “subsídios que nos
permitam tomar um certo curso de ação e não outros” (p 89).
Em outra parte no texto de Starling (2007), a mais prática e interessante para
esse artigo, o autor descreve algumas dificuldades para se tomar uma decisão.
Na realidade, ele divide em dois tipos, sendo que uma está relacionada com
tomada de decisão e a outra com resolução de problema. No primeiro caso ele
atribui ao medo de perder algo, a responsabilidade da pessoa ficar paralisada e
conseqüentemente impedida de tomar alguma decisão. No segundo, ele afirma
que a desaprovação social dificulta que ela coloque em prática o que já decidiu
que vai fazer. Contudo, parece, em último caso, que não é a desaprovação, per
se, mas o medo de ser desaprovado, que é realmente o problema,
considerando o que autor propõe como solução para esse problema: “uma boa
maneira de se livrar do medo2 da desaprovação do outro, da desaprovação
social, é sendo desaprovado pelo outro”.
Tudo indica que um dos grandes problemas enfrentados pelas pessoas em um
processo decisório é o medo. Starling sugere, então, lidar com esse sentimento
de uma maneira bastante tradicional e muito utilizada até hoje por muitos
terapeutas dentro da análise do comportamento e/ou até por terapeutas de
outros sistemas psicológicos: usando a técnica de exposição.

 Exposição
Antes de descrever como é essa técnica comportamental desenvolvida por
Meyer (Guimarães, 2001 e Cordiloli, 2004), em um trabalho realizado com
pessoas que apresentavam TOC, creio que seja interessante explicar, do ponto
de vista analítico-comportamental, o que seria uma emoção, muito embora
esse conceito, como muitos outros, ainda não esteja fechado e ainda fomente
muita discussão e pesquisa, como ficou evidente no curso de extensão
universitária realizada na PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo),
em psicologia experimental: Análise do Comportamento, em 2011.
Em Ciência e Comportamento Humano (1953), Skinner faz a seguinte
descrição emocional:

2
Grifo da autora.

4
“... críticas a seu trabalho ‘enfurecem o empregado’, podemos dizer, por exemplo:
(1) que ele fica vermelho, que as palmas de suas mãos transpiram, e , se os
dados forem observáveis, que pára de digerir o almoço; (2) que sua face assume
uma ‘expressão’ característica de raiva; e (3) que tende a bater portas, a maltratar
o gato, falar secamente com os companheiros de trabalho, a brigar, e a assistir a
brigas de rua ou lutas de boxe com interesse especial”. (p 182)

Isto é, usando as palavras de Guilhardi (2007), em um “episódio emocional”3


são produzidos: “1) Comportamentos operantes que são emitidos...” e “2)
Comportamentos respondentes que são eliciados...”, que podem ser privados
ou públicos.
A exposição, destarte, é uma técnica que visa eliminar esses dois produtos
engendrados por contingências amedrontadoras condicionadas que
comprometem as vidas de algumas pessoas, ou seja, objetiva enfraquecer as
relações de dependências, funcionais, entre eventos ambientais e reações
consideradas inadequadas daquelas (Craske e Barlow, 1999). Ela consiste na
exposição repetida e “direta do paciente aos estímulos ou ás situações temidas
ou evitadas por serem desencadeadora de ansiedade” (Guimarães, 2001, p
126). Há vários tipos de exposição: abrupta (intensiva) ou gradual, ao vivo (ou
situacional) ou imaginativa, protegida, interoceptiva, (Guimarães, 2001; Craske
e Barlow, 1999), dentre outras.
A quebra, pela exposição, das relações funcionais acima citadas, é explicada
por dois processos básicos do comportamento relativos tanto ao
comportamento respondente quanto ao operante, respectivamente, que estão
envolvidos em episódios de medo ou ansiedade:
1. Habituação: com a repetição da apresentação de alguns estímulos
eliciadores, a resposta eliciada “ocorre com magnitude menor e latência
mais longa, até eventualmente desaparecer completamente” (Catânia,
1999, p. 69).
2. Extinção: por causa das associações que o ambiente produz, alguns
estímulos se tornam sinais de ocasiões aversivas, os quais aumentam a
probabilidade de respostas de fuga/esquiva ocorrerem, o que pode
comprometer a vida de algumas pessoas e impedi-las de entrar em
contato com um ambiente que talvez não mais apresente perigos ou
eventos desagradáveis. A extinção é direcionada para esses
comportamentos de fuga/esquiva, expondo sub-repticiamente o cliente à
situação temida ou ansiogênica, “na qual a presença de um estímulo ou
conseqüência aversiva não ocorre de fato” (Guimarães, 2001, p 126).
Contudo, se o cliente conseguir durante a exposição, evitar a situação
ansiogênica ou retirar o estímulo aversivo, os comportamentos de fuga/esquiva
serão fortalecidos ainda mais. Portanto, geralmente a técnica de exposição
vem acompanhada com a prevenção de resposta, que soma aquela, o bloqueio
das respostas de fuga-esquiva, técnica conhecida como Exposição com
Prevenção de Resposta (EPR) e bastante utilizada para transtornos de
ansiedade em geral.

3
Episódio emocional é um termo utilizado por Thomaz (2012) como “sinônimo de emoção e refere-se à
alteração no repertório comportamental que envolve interações entre desempenho operante e
respondente” (p. 47)

5
Portanto, é justamente a técnica de exposição gradual que Starling (2007)
sugere em seu texto, todavia sem todo esse tecnicismo, visando que os leitores
possam no processo de tomada de decisão, em relação a seus medos,
“enfrentá-los e vencê-los” (p 41). Como essa publicação tem o intuito de ter um
alcance abrangente (“colegas, clientes e interessados”, Conte e Brandão, 2007,
p VIII), seu linguajar é eminentemente mais acessível, mas os processos são
os mesmos. Ele afirma que “uma boa maneira de se livrar do medo” (p 45) de
perder e ser desaprovado, é se expondo a situações em que a pessoa perca e
seja desaprovada, começando em “um ambiente social mais longínquo para o
mais próximo e do ambiente afetivamente mais fraco para o mais forte” (p 46).
Perspectiva da ACT (Acceptance and Commitment Therapy)
Segundo Hayes et al (1996), esse tipo de técnica (EPR), dependendo de como
é efetuada, bem como várias outras intervenções psicoterapêuticas, termina
por tornar mais eficiente uma classe de respostas patológicas, consideradas
por Zamignani e Banaco(2005) “classes de respostas de ordem superior” (p 85)
chamada de esquiva experiencial, a qual é responsável por uma grande
quantidade de sintomas e sinais psicopatológicos e é também evidenciada em
outros problemas relevantes (suicídio e os efeitos do abuso sexual na
infância),mas que não são abrangidos por um sistema de classificação de tipo
sindrômica como o DSM e o CID.
Nas palavras de Hayes et al (1996) :
“... terapia comportamental e cognitiva tem em geral focado na mudança (ao invés
de aceitação) das experiências privadas. A terapia comportamental tradicional
lutou contra a ansiedade com relaxamento, enquanto que a terapia cognitivo-
desafiado crenças irracionais com crenças mais racionais. Essencialmente,
melhores formas de esquiva experiencial foram sistematicamente treinados como
modos de intervenção.” (p 1154)

 Esquiva experiencial
Hayes et al (1996) asseveram que vários sistemas terapêuticos, embora dando
ênfase, nome e adotando uma forma de análise diferente da ACT, consideram
a esquiva experiencial como um “fenômeno que ocorre quando uma pessoa
não está disposta a permanecer em contato com experiências privadas
particulares (por exemplo, sensações corporais, emoções, pensamentos,
memórias, predisposições comportamentais) e toma medidas para alterar a
forma ou a freqüência desses eventos e os contextos que os ocasionam.” (p
1154), “até quando proceder dessa forma causa dificuldades comportamentais
a longo-prazo” (Hayes e Smith, 2005)

Há, portanto, duas características que são patentes à esquiva experiencial,


quando esta se torna um repertório prevalente e inflexível na vida de um
indivíduo. Primeiro é sua ubiqüidade, a qual está estreitamente vinculada à
cultura em que a pessoa está inserida4. Segundo, seu caráter prejudicial. A

4
Uma cultura que ensina as pessoas que estas sempre devem, e a qualquer custo, livrarem-se dos
eventos, privados ou públicos, que provocam dor, desconforto ou sofrimento, aumenta a probabilidade
de elas adotarem de maneira prevalente comportamentos de esquiva experiencial, enquanto outra que
assume a dor como um evento natural ou até enriquecedor, diminui tal probabilidade.

6
ubiqüidade da esquiva experiencial, deste modo, está correlacionada com a
universalidade inexorável do próprio sofrimento, sendo que esta se deve a
vários fatores, a saber, “a natureza bidirecional de linguagem humana, a
generalização inadequada de regras de controle, apoio cultural para as
emoções e cognições como causas do comportamento, o incentivo social, e
modelagem de esquiva de experiência, entre outros” (Hayes et al, 1996, p
1155).

Hayes et al (1996) descrevem os efeitos da capacidade humana de transformar


bidirecionalmente a função de um estímulo, a qual possibilitou as pessoas
desenvolverem comportamento verbal, afirmando que apenas “a natureza
unidirecional do operante normal e o condicionamento clássico” (p 1155) não
dão conta do sofrimento humano, já que com a aquisição do comportamento
verbal oral, e amplificado ainda mais com a criação da escrita, qualquer evento
pode arbitrariamente adquirir a função de um estímulo aversivo, id est,
sofrimento desta maneira é passível de ser evocado por qualquer coisa e em
qualquer lugar. Todavia, há aqui outra implicação, como é assegurado por
Hayes et al (1996), pois, além de o sofrimento poder ser praticamente
onipresente, as pessoas findam por não sofrerem apenas pelos eventos por si,
sendo que muitas vezes estes em um ambiente não-social não provocariam
sequer dor, mas o fazem, devido aos significados atribuídos-lhes:

“Ansiedade” não é apenas uma indistinta configuração de estados corporais e


predisposições emocionais (como em organismo não-verbais); ela é uma categoria
verbal descritiva e avaliativa que integra uma ampla variedade de experiências,
5
incluindo memórias, pensamentos, avaliações e comparações sociais , além de
outras (p 1155).

Além da bidirecionalidade, como socialmente eventos privados são legitimados


como razões que justificam ações, aqueles terminam por adquirir de fato tal
função, viabilizando que as pessoas utilizem tais justificativas para se
esquivarem experiencialmente de algo, sem ter que lidar com reprovações
sociais, e, quiçá, até obtendo algum tipo de atenção ou simpatia social como
conseqüências adicionais. Há, para fins de ilustração, uma frase de Hayes
(1987) que esclarece o que foi dito acima, muito embora muitos analistas do
comportamento desaprovem e considerem inexoravelmente a explicação de
um comportamento (aberto ou encoberto) como causa de outro comportamento
uma espécie de heresia. Não obstante, Hayes (1987) explica:
...os pensamentos não produzem necessariamente nenhum efeito em outros
comportamentos. É só devido ao contexto (as contingências) que uma forma de
comportamento se relaciona à outra. Tudo que tenho dito até aqui tem sido dito
simplesmente para justificar a sensibilidade comportamental deste ponto. Como
tentarei mostrar, pode fazer uma diferença enorme na maneira como enfocamos a
terapia. (Hayes, 1987)

Logo, Hayes, não afirma que a relação de dependência comportamento-


comportamento naturalmente existe. Pelo contrário. Ela é socialmente criada.
Ela é arbitrária. Apenas podendo ser produzida em contingências artificiais e
específicas. No entanto, o que pode ser inferido dessa observação é que talvez

5
Grifo da autora.

7
haja mais contingências arbitrárias do que naturais responsáveis pela seleção
do comportamento das pessoas na atualidade, considerando o lugar que ocupa
o comportamento verbal em nossa sociedade.

Para finalizar, com o intuito de complementar e dar uma configuração mais


clara a explicação concernente à universalidade da esquiva experiencial,
acredito que seja válido expor a forma como Hayes e Smith (2005) descrevem
os processos que engendram esta característica, visto que aqueles arrolam
alguns dos motivos já previamente citados, de maneira fascinante, devido a
sua acessibilidade e objetividade. A esquiva experiencial é universal porque:

1. Como esquivar-se funciona em algumas áreas de nossas vidas (para


eventos externos), essa mesma estratégia acaba por ser utilizada em
relação a eventos internos também (generalização inadequada de
regras de controle: “Se você não gosta de algo, livre-se dele”, Hayes e
Smith, 2005, p 36), embora sejam ineficazes e contraproducentes para
eventos internos.
2. Como culturalmente é difundida a idéia que alguns pensamentos e
sentimentos são sinônimos de doença e fracasso, e que sua ausência é
necessária para as pessoas serem saudáveis e felizes6, as pessoas
normalmente tentam se livrar daqueles.
3. Como as pessoas são ensinadas desde a mais tenra idade que devem
ser capazes de controlar seus pensamentos e sentimentos
(modelagem), elas tentam fazê-lo.
4. Como os adultos parecem que conseguem fazer o que foi descrito
acima, não obstante sejam apenas aparências (modelação), afigura-se
como algo possível.
5. Como algumas vezes se consegue, a curto-prazo, livrar-se dos eventos
internos, mesmo que longo-prazo eles retornem com freqüência e
intensidade maior, visto que, em situações naturais,as conseqüências
imediatas7 possuem um efeito (controle) mais forte sobre o
comportamento do que as atrasadas, tais comportamentos de esquiva,
por fim, são selecionados.

Uma vez que já foram descritas as razões que tornam a esquiva experiencial
um fenômeno ubíquo na vida de um sujeito, faz-se agora necessário justificar o
caráter danoso dela:

A) Primeiro, porque ela, como já foi supramencionado, ela pode ser


contraproducente. Em vez de diminuir ou evitar permanentemente os eventos
encobertos, ela pode os amplificar a longo-prazo (“tentar se livrar de sua dor
apenas a amplifica, emaranha-te ainda mais nela, e a transforma em algo
traumático”, Hayes e Smith, 2005, p 7). Em relação aos pensamentos, parte do
6
Em relação às influencias culturais no adoecer, recomendo a leitura do subtítulo: As influências
culturais, em Dougher e Hackbert (1994)
7
Skinner (2000): “Presume-se que o processo do condicionamento operante tenha evoluído quando
aqueles organismos que eram mais susceptíveis às conseqüências do seu comportamento se tornam
mais capazes de se adaptar ao ambiente e sobreviver. Apenas as conseqüências verdadeiramente
imediatas poderiam ser eficazes...”; Baum (1999), “o atraso enfraquece o efeito de qualquer
consequencia” p 196; Hayes et al (1996): “conseqüências a curto-prazo são muito mais importantes do
que as de longo-prazo” p 1156.

8
problema está no fato de que a instrução cuja finalidade é evitar a emissão
destes, contem-nos, evocando-os por fim8. De acordo com Hayes et al (1996),
de maneira geral, eventos privados, tanto emoções quanto pensamentos, são
não-responsivos ao controle verbal, já que essas respostas são associadas a
eventos “diretamente presentes ou indiretamente presentes através de
relações verbais” (p 1156), i. e., “porque o processo ou a história não é
prontamente governado verbalmente” (p 1156). Já em relação mais
especificamente aos sentimentos, ao tentar evitá-los, é possível que se entre
em um espiral que é simplificado por Hayes e Smith (2005) ao relatarem a
estória de uma pessoa que possui ofídiofobia e que utiliza alguma desculpa
para não ir ao zoológico com os amigos e com isso se sente aliviado. O alívio,
por sua vez, indicador de um reforço negativo, torna a resposta de evitar o
zoológico mais provável de ocorrer no futuro e a fobia (todo o repertório que
caracteriza esse transtorno) é destarte fortalecida. Finalizando, uma pessoa
que tenta sofregamente suprimir ansiedade, provavelmente por considerar esta
um sentimento ruim e por estar verbalmente associada a más conseqüências,
pode acabar ficando ansiosa acerca de estar ansiosa e quando mais for
importante para ela não ficar ansiosa, mas ela ansiosa ela ficará.

B) Segundo, porque a esquiva experiencial, quando é um repertório


prevalente e inflexível, absorve toda a vitalidade das pessoas em suas
tentativas de acomodarem-se aos “problemas, e, como resultado, sua vida se
torna mais e mais estreita, e menos e menos flexível” (Hayes e Smith, 2005, p
14). No mesmo exemplo do ofidiofóbico, os autores supracitados escrevem que
o rapaz gostaria de passar um tempo com os amigos, bem como ver os outros
animais, no entanto termina por não fazer nenhuma das duas coisas com o
intuito de evitar os eventos privados que caracterizam a fobia dele. Os
comportamentos de esquiva, cuja função é tentar evitar o inevitável, eventos
encobertos simbolicamente rotulados como “ruins” pela comunidade de modo
geral, terminam por afastaras pessoas dos eventos ou situações que podem
ser prazerosos ou importantes para aquelas, por que, devido a relações
arbitrariamente estabelecidas, também evocam dor. Além disso, em
consonância com Hayes et al (1996), evitação experiencial restringe a
possibilidade de mudanças saudáveis e necessárias, pois mudar pode ser
assustador, bem como, doloroso. Também, por vezes, evitam-se reações
emocionais naturais (por exemplo: evocadas quando se perde um ente
querido), de maneira amiúde não-saudável (substancias psicoativas,...), uma
vez que tais emoções são vistas como desagradáveis. Há ainda outros
problemas relevantes engendrados pela esquiva experiencial, os quais são
apontados por Roemer e Orsillo (2010), tais como a redução do “nosso
entendimento das nossas interações com os outros e das nossas necessidades
e desejos” (p 44), pois não são aproveitadas as oportunidades de se
compreender os efeitos tanto dos ambientes não-sociais quanto dos sociais
sobre o comportamento, bem como se “impossibilita os outros de responderem
empaticamente à nossa experiência ou compartilhar conosco lutas
semelhantes” (p 45)...

8
Por exemplo, se eu disser: não pense em banana, provavelmente você pensará em uma banana,
porque a palavra escrita evocará o pensamento que eu tentei evitar que você tivesse.

9
Todavia, apesar de todas essas evidências contra a esquiva experiencial, cabe
aqui uma ressalva, já que Hayes et al (1996) asseveram que nem toda esquiva
experiencial é danosa, pois há situações em que se esquivar é importante.
Roemere Orsillo (2010) ratificam tal assertiva ao sinalizar que “em certos
contextos, tentativas de modificar a experiência interna podem não ser
problemáticas ou prejudiciais” (p 43), quando, por exemplo, faz-se algum
exercício respiratório ou de relaxamento antes de se apresentar em público.
Entretanto os primeiro autores argumentam também que, “Ironicamente...
formas saudáveis de evitação experiencial se aplicam mais claramente quando
as experiências envolvidas não são intensas ou clinicamente relevantes” (p
1157).
Há ainda um conceito que não foi diretamente tratado, o qual é imprescindível
para se entender a esquiva experiencial, visto que, em consonância com Hayes
e Smith (2005), é uma de suas causas instaladoras principais: a fusão
cognitiva. Este fenômeno psicológico “... envolve tratar nossos pensamentos
como se eles fossem o que eles dizem ser” ou “verdades literais” (p. 57).
Em Hayes e Smith (2005) se argumenta que há situações em que lidar com o
problema de maneira simbólica, relacionando pensamentos como se
estivéssemos relacionando objetos, é vantajoso. Em consonância com estes
autores, Roemer e Orsillo (2010) ainda acrescentam que a possibilidade de
aprendizagem relacional “tem um componente adaptativo”, já que “ela nos
permite imaginar situações a fim de antecipar nossas possíveis reações a elas
e fazer escolhas sem ter de vivenciar de fato cada opção” (p 40). O problema é
quando esse procedimento é levado ao extremo e utilizado para todas as
situações, de maneira inflexível e rígida, e passa-se a tratar os pensamentos
como se fossem o que “eles dizem que são” (p 57), quando o pensamento “... e
o evento são tratados como se fossem os mesmo” (p 70), quando essas duas
coisas estão fusionadas, isto é, quando as pessoas se fundem aos seus
eventos internos.
Isso quer dizer que, e Roemer e Orsillo (2010) esclarecem muito bem, não
obstante “todo mundo se sente triste de vez em quando... uma cliente que está
fundida com suas experiências internas talvez se defina por essa tristeza” (p
34). Portanto, é bastante compreensivo que “uma das conseqüências mais
relevantes... de um relacionamento fundido, emaranhado, com as experiências
internas é que isso provavelmente leva a rígidos esforços para alterar ou evitar
as experiências internas” (p 40), ou seja, que a fusão cognitiva acarrete em
esquiva experiencial.

Proposta da ACT

A proposta da ACT para lidar com a o sofrimento gerado pela esquiva


experiencial está implícita no seu acrônimo: aceitação e compromisso. No
entanto, antes de discorrer acerca desses dois tópicos, é interessante

10
esclarecer o processo chamado de desfusão cognitiva9, visto que Hayes e
Smith (2005) vislumbram que o “primeiro hábito da mente” (p 56) que deve ser
desmantelado é o de considerar os pensamentos literalmente, como se fossem
a realidade, e isso é feito através deste processo acima mencionado, posto que
dessa maneira, se elimina uma das causas principais da esquiva experiencial:
a fusão cognitiva.
As técnicas de desfusão cognitiva, de acordo com Hayes e Smith (2005) “são o
componente central da ACT” (p 70), cujo objetivo é o de ajudar as pessoas a
compreenderem que há uma distinção entre o mundo delineado pelo que
pensamos e sentimos e a dinâmica realidade, ou simplificado em outras
palavras, visa ensinar as pessoas a “olhar para e não da perspectiva do
pensamento” (p 54). Quando se aprende a desfundir, a não se relacionar
literalmente com os eventos internos, tornar-se mais fácil adotar uma postura
em relação a eles, a qual é indispensável para se viver uma vida mais
presente, consciente e plena de valor e sentido, a saber, dispor-se (aceitar) a
experienciá-los, independentemente, do tipo que forem.
É defendido que desfusão facilita, portanto, a aceitação e, conseqüentemente,
o compromisso das pessoas com o que lhes é importante, pois se parte do
princípio “que quando se entende a idéia de que palavras são apenas palavras,
tornar-se mais fácil de entender e modificar a relação das palavras com sua dor
e com sua vida” (Hayes e Smith, 2005, p 73)
Cabe, então, ressaltar que as técnicas de desfusão não são métodos para
eliminar ou manejar a dor. Elas são, na verdade, métodos para se aprender a
estar presente no aqui e agora de maneira mais ampla e flexível, aceitando a
dor, mais sem julgamentos, avaliações, emaranhar-se ou acreditar em tudo o
que é pensado e sentido, pois assim as pessoas passam a ter consciência dos
eventos internos delas, do que está provocando-os e o que devem fazer, se for
possível e importante, para alterar a situação. Já em relação àquelas situações
que pouco ou nada se pode fazer, aceitar, uma vez que do contrário, apenas
se afundariam cada vez mais nessa areia movediça chamada esquiva
experiencial.
De maneira geral, Hayes e Smith (2005) defendem que a aceitação é uma
postura mais vantajosa do que a esquiva experiencial porque:
1. Abre as pessoas para a dor e conseqüentemente para coisas
importantes para elas;
2. Gera vitalidade
3. Não-aceitar não funciona
4. Sentir dor é um processo normal
5. Viver sobre controle das contingências é mais recompensador do que
por regras.

9
Em inglês: cognitive defusion. Não há um correlato no Português para essa expressão.

11
6. Elimina o sofrimento10
Deste modo, esclarece-se que aceitação, na ACT, não significa resignação.
Pelo contrário, ela é um processo ativo, “uma vez que aceitação é responder
ativamente pensando o pensamento e sentindo o sentimento” (p 45), bem
como adotar “uma postura gentil e amável com você, sua história..., para tornar
mais provável você ser consciente de suas experiências” (p 45), possibilitando
as pessoas perceberem as variáveis (socialmente aprováveis ou não,
dolorosas ou não) que controlam o comportamento delas, e, logo, a tomarem
decisões que estejam comprometidas com o que lhes é importante, que as
fariam viver uma vida plena e com sentido, isto é, mais próxima dos valores
que possuem. Porque, como esclareceu Roemer e Orsillo (2010):
Embora as emoções possam nos preparar fisiologicamente para a ação e
aumentar a probabilidade de escolhermos um determinado comportamento, as
nossas ações não são causadas por respostas emocionais (p 108)... por fim,
podemos agir de maneira oposta as nossas tendências de ação emocionais,
mas mais consistentemente com o que nos é importante (p 110).

No entanto, a única maneira das pessoas não permitirem que as


predisposições emocionais delas controlarem as ações é estando conscientes
daquelas, o que a esquiva experiencial impossibilita. Além disso, mudanças
saudáveis e necessárias são normalmente acompanhadas de dor, tornando,
nesses casos, a aceitação algo imprescindível, visto que sem ela,
provavelmente, ações saudáveis dificilmente seriam tomadas.
Os valores com os quais as pessoas devem se comprometer, geralmente não
apenas são desconhecidos pelas próprias pessoas que os possuem, como
também desconsiderados quando estas se comportam, visto que não é algo
tão fácil de entender-se e muitas vezes bastante doloroso de se agir de acordo
com. Hayes e Smith (2005) asseguram que valores não são algo que pode ser
cabalmente compreendido pela “nossa mente”11, uma vez que não são eventos
verbais, mas que, felizmente, podem ser conhecidos em parte verbalmente.
Valores não é um lugar, mas é onde se quer ir, uma orientação, onde o ir
(processo) é mais importante do que o chegar (produto). Valores são, por fim,
“ações e escolhas” (p 154).
Destarte, resumindo, a proposta da Terapia de Aceitação e Compromisso
(ACT) é incentivar ao invés de crenças e descrenças, desfusão cognitiva; e ao
invés da esquiva experiencial, primeiro, a aceitação, completa e sem defesa
das experiências privadas, como elas de fato são, não como são pensadas; e
segundo, o compromisso de fazer o que é necessário para se manter na
direção daquilo que se é realmente valorizado.

Implicações no tratamento

10
Hayes e Smith (2005) consideram dor e sofrimento como dois fenômenos distintos: ”Seres humanos
possuem um centro de dor porque a vida inerentemente contém dificuldades, tais como doença,
querer, e perda, mas a linguagem nos mantém amplificando essas dificuldades em maiores padrões de
sofrimento humano... através de nossos padrões cognitivos de emaranhamento e esquiva” (p 31).
11
Acredito que eles querem dizer “com a forma que nos foi ensinado a pensar”.

12
Enquanto a TAC (terapia analítico-comportamental) e, segundo Hayes et al
(1996) também a TCC (terapia cognitivo-comportamental)atuam em
consonância com o que os clientes buscam no tratamento, “reduzir suas
emoções negativas e aumentar as positivas” (Roemer e Orsillo, 2010, p 107), a
ACT se posiciona de maneira significantemente diversa.

Apesar, desses três modelos de terapia fazerem uso de técnicas que


freqüentemente são semelhantes, as funções que lhes são atribuídas amiúde
são diferentes, já que, como no caso da Exposição, a ACT não a utiliza com o
intuito de alterar o medo associado a determinados eventos (expondo ao
evento temido sem que nada ruim aconteça) ou rearranjando as relações
verbais, como é feito na TAC e/ou na TCC. Na ACT, “em vez de se expor para
diminuir os sentimentos” (Hayes e Smith, 2005, p 150), a exposição é vista
como uma oportunidade de se usar as habilidades aprendidas no decorrer do
tratamento, a saber, a desfusão (reduzindo o impacto do símbolo) e a
aceitação (da dor legítima; da que o evento provocaria mesmo se não se
tratasse de um animal verbal).
Desse modo, o enfoque dado em um modelo terapêutico baseado na aceitação
e compromisso, segundo Roemer e Orsillo (2010),é: 1) alterar o
relacionamento dos clientes com suas experiências internas, “enfatizando-se o
cultivo de um relacionamento não julgador, compassivo com as experiências
conforme elas surgem, para reduzir a reatividade, o medo e o julgamento,
que... aumenta... a esquiva experiencial” (p 47); 2) reduzir os esforços de
evitação experiencial e aumentar a escolha e a flexibilidade, portanto o cliente
é “incentivado a escolher, em vez de agir em uma situação potencialmente
evocativa,... e desenvolver um relacionamento novo e não emaranhado com as
experiências internas” (p 48); e 3) intensificar a ação valorizada, o que significa
“ter consciência dos momentos em que pode fazer escolhas, baseada nesses
valores, e agir na direção desejada”(p 48).
Estabelecendo uma conexão entre a perspectiva da ACT e o processo de
tomada de decisão, como já foi supramencionado, mudanças saudáveis e
necessárias são abastança acompanhadas de sentimentos considerados
“ruins” pela sociedade, tais como, medo, angústia, sentimentos, os quais se
ensinam as pessoas a evitarem, portanto não é difícil descobrir pessoas que
constantemente evitam situações em que devem fazer escolhas, e que por isso
não agem em consistência com o que lhes é importante.
Caberia, destarte,quando algum cliente estiver passando por um processo
semelhante, não apenas ser audiência não-punitiva, ensiná-lo a fazer análise
de contingências, procurar incentivar que este aumente o conhecimento que
possui a respeito das contingências envolvidas nas possíveis escolhas que
pode fazer e expô-lo a contingências amedrontadoras, a fim de que se “livre”
do medo que sente em tais situações. Deve-se também esclarecer a função
que as experiências internas possuem (de modo geral, proteção), o caráter de
“normalidade” de algumas delas, a importância de senti-las, de percebê-las, a
fim de identificar o papel que desempenham nas escolhas comportamentais
que faz, porque apenas desta forma é viável sentir algo (por exemplo, medo),
sem lutar contra (sem tentar eliminá-lo), e (mesmo assim) optar por algo
diferente (do que as predisposições emocionais o levariam a fazer). Porque

13
sem esses procedimentos, no mínimo, a análise de contingência, a qual é
imprescindível para gerar autoconhecimento e conseqüentemente repertório de
autocontrole, e por fim, autonomia, o objetivo último da terapia12, será feita de
maneira incompleta, desconsiderando-se variáveis importantes (provavelmente
por evocar eventos internos desagradáveis), diminuindo assim, sobremaneira,
eficiência e eficácia da análise e terapia. Por último, ressalta-se a necessidade
de auxiliar o cliente a desvendar o que é de fato importante para ele, buscando
o real significado e importância que determinados eventos possuem, para que
“seja capaz de andar através dos pântanos de sua história difícil e quando os
pântanos estiverem diretamente no caminho do que é importante” (Hayes e
Smith, 2005, p 45), a fim de que possa viver uma vida saudável, vital,
significativa e satisfatória.

Relato de caso

A cliente é uma mulher (denominada aqui de “Eliza”) de 28 anos, de 1,63 cm e


109 kg, recepcionista, casada, escolaridade Ensino Médio completo e é a
primeira vez que procura um psicólogo ou qualquer profissional na área. Mora
com dois filhos, um menino de 14 anos e uma menina de 4, o marido
(denominada aqui de “Pedro”) e uma irmã de 15 anos, em uma cidade na
região metropolitano de Salvador, Dias D’Ávila. Eliza autorizou a presente
publicação por meio de um Consentimento Livre Esclarecido assinado e
entregue ao terapeuta.
Foram várias as queixas apresentadas pela cliente, tanto relacionadas a
terceiros (o marido não se relaciona sexualmente com ela na quantidade de
vezes que ela deseja; o filho possui muitos comportamentos parecidos com o
do pai, o que a deixa muito preocupada e a faz reclamar com ele
constantemente e o marido pensar que Eliza é muito intransigente, “implica”,
com o filho, o que engendra discussões entre o casal), quanto em relação aos
próprios comportamentos (“nunca consegui decidir algo”, e ela apenas decide
“quando eu tenho certeza”; “nunca termino o que começo”; “eu tenho muito
medo... de tudo”...).
Eliza, na verdade, é paulista, mas aos 14 anos começou a namorar seu atual
marido, cuja família morava na época em São Paulo, apesar de ser baiana. Por
questões financeiras a família de Pedro voltou para Dias D’Ávila, e no período
que eles foram visitar a família dele, junto com uma das tias de Pedro, ela
resolveu contar que, apesar da proteção que havia tomado (injeção para evitar
gravidez), ela tinha engravidado. Eliza desejava que Pedro voltasse com ela
para São Paulo, para não ter que enfrentar a família, que sempre teve altas
expectativas relacionadas a ela, sozinha, mas não lhe disse nada e deixou que
ele tomasse a decisão. Ele decidiu permanecer em Dias D’Ávila e morar com
os pais.

12
Skinner (2003): “A terapia consiste, não em levar o paciente a descobrir a solução para seu problema,
mas em mudá-lo de tal modo que seja capaz de fazê-lo” (p 417)

14
Ela morou com os sogros por bastante tempo, sendo maltratado pela sogra,
verbalmente (chamava-a de vagabunda, questionava a paternidade do neto,...),
direta ou indiretamente (na frente dela ou com terceiros), e pelo marido, tanto
verbalmente quanto fisicamente. Em relação à sogra, nunca reagia ou dizia ao
marido (pois, acreditava que não devia prejudicar a relação de mãe e filho dos
dois), e já com relação a este, tentava resistir, contudo o marido era mais forte,
e sempre a submetia às vontades dele.
Ela saiu da casa dos sogros quando o marido, desempregado e o filho com 3
anos, presenciou a mãe tratando Eliza mal e hoje moram em casa própria,
muito embora seja bastante próximo da casa da sogra. Os dois trabalham,
sendo que Pedro ganha consideravelmente mais que Eliza, contudo aquele
está bastante endividado devido aos empréstimos que toma no trabalho para
custear compras diversas (a maioria relacionada a lazer) e que não consegue
trabalhar aos Domingos, como se compromete a fazer, para pagar as dívidas
que adquire.
Eliza demonstrou ser capaz de efetuar análises comportamentais acerca do
marido bastante apuradas (“ele não cresce porque ele pode sempre contar com
os pais... aí ele não precisa aprender a administrar o próprio dinheiro”), com
exceção quando ela estava envolvida, uma vez que ela não se dava conta,
nesse mesmo exemplo que ela também desempenhava a mesma função dos
pais dele, pois ela também lhe dava dinheiro quando “a situação apertava”,
alegando que ele era o pai dos filhos dela,que se sentiria muito culpada se não
o fizesse... Além disso, tinha dificuldade de perceber que muitas vezes o que
dizia não correspondia com o que fazia (“eu nunca contei que as coisas com
Pedro não estavam boa, porque minha mãe já tem um monte de problema... eu
não queria levar mais problemas para ela”, “eu conto tudo para minha mãe”),
não obstante as contradições aparecessem durante a sessão; e seu repertório
social era passivo em contextos não muito familiares e íntimos e agressivos
quando assim os eram.
Ela há muito tempo considerava a possibilidade de se separar, tendo de fato
assumido uma separação onde, no entanto, ambos permaneceram na mesma
casa, e mantiveram os mesmos hábitos, e que, por fim, não durou muito tempo.
Ela tinha medo de se divorciar, de voltar para São Paulo, ocupar a mãe, “que já
tem muito com que se preocupar”, e ser uma mãe ausente e ter seus filhos
retirados dela por Pedro, induzido pela sogra. Para finalizar, ela também
demonstrou um desejo grande de voltar a estudar e se formar em engenharia
ou algo ligado a construção civil.
Contudo, a questão central, a qual se articulava com outras questões
apresentadas por Eliza, relacionava-se com a dificuldade dela de tomar
decisões e se escolhesse alguma, comprometer-se com ela. O medo,
basicamente das conseqüências, era a explicação que ela apresentava para tal
dificuldade. Hayes et al (1999) e Hayes e Smith (2005) defendem que decisões
e mudanças saudáveis são muito importante, mas que normalmente envolvem
dor, sendo necessário, desse modo, descobrir-se os valores dos clientes, para
que, comprometidos com eles, consigam passar por dificuldades e situações
difíceis e dolorosas, as quais são inevitáveis, sem se desviar dos valores que
possuem.

15
Considerando tais dados, o modelo de terapia baseado na aceitação e
compromisso foi o, aparentemente, mais adequado para esta intervenção, não
obstante, intervenções baseadas na FAP, cujo foco era nos comportamentos
clinicamente relevantes apresentados na sessão, no THS (Treinamento de
Habilidades Sociais), bem como outras, foram utilizadas no decorrer do
tratamento, quando assim se fez necessário. Além disso, o assunto que mais a
mobilizava se relacionava ao seu casamento, portanto, os exemplos que serão
abaixo expostos estão direta ou indiretamente relacionados a esta temática.
1. Visão sobre casamento
T: ...antes de você casar, qual era sua visão sobre casamento?

C: eu não queria casar... Nem casar, nem ter filhos. Isso era uma coisa... eu queria assim
estudar, trabalhar, me formar, morar sozinha, porque eu sempre tive a visão do casamento de
minha família, né? Da minha mãe e do meu pai. Aquela confusão, minha mãe engravidava, ia
até os 9 meses, se matava de trabalhar. E só parava quando o neném já tava saindo. E eu
nunca gostei disso, assim. Então eu tinha em mente que eu ia estudar, que eu ia trabalhar, eu
ia ter minha vida particular, aí eu ia ter minha casa sozinha. Então eu sempre sonhei com isso.
Eu nunca achava, achava, achava que eu ia casar já tão cedo; ter filho tão cedo. Então pra
mim foi tudo o contrário. Em vez de eu seguir essa vida de trabalhar e estudar, eu fui ser mãe
cedo, porque com 15 anos eu já estava grávida. Eu casei com 15 anos. Então para mim, foi
totalmente diferente do que eu tinha, da visão que eu tinha.

2. Visão sobre Separação e alguns medos


T: Então, você acha que de alguma forma, o fato de sua mãe ter decidido continuar com seu
pai, em vez de talvez se separar, interferiu em você, assim, no seu desenvolvimento, na sua
visão de vida?

C: eu, eu, uma vez me questionei isso, porque meu pai, como eu já falei, não ajuda em nada, e
quando eu já morava aqui, depois de um tempo, eu parei para pensar, e disse “puxa vida, se
minha mãe tivesse se separado do meu pai quando ela se separou”... porque, como eu falei
para você, várias vezes ela se separou e eu fui atrás, então assim, eu acho que se minha mãe
tivesse se separado do meu pai, naquele período, eu acho assim, hoje, ou ela tinha arranjado
alguém que ajudasse ela, ou hoje ela tava sozinha.

T: com menos filhos?

C: é, com menos filhos, e sem ter que ter... sem ter que falar assim: “ah, eu tenho um marido,
mas meu marido não presta para nada”. Vamos dizer assim, eu acho que hoje... eu acho que...
eu tenho a impressão que hoje ela poderia ta bem melhor. Não sei se estaria sendo sincera,
mas se ela tivesse se separado naquele período, eu acho que seria mais fácil para ela chegar
e falar assim: ”eu não tenho ninguém mesmo, eu tenho que me virar”, entendeu? “Tô sozinha
mesmo, então eu vou me virar”. É, eu acho, não sei também, a gente nunca sabe das coisas

T: quando você fala assim, a gente nunca sabe das coisas, de alguma forma você também
pensa na sua relação?

C: eu tô sempre pensando nisso. Tô sempre me questionando, será que seria bom mesmo eu
largar de Pedro. Tem horas que eu já to com isso em mente. Eu digo “não, não dá certo e
ponto final”. Só que também eu fico pensando, será que é uma coisa só da minha cabeça? Ou
eu tô exigindo demais, ou eu tô... eu me auto-avalio, entendeu? Será que eu tô exigindo
demais? Será que Pedro é o certo e eu não to enxergando? Eu sempre to me perguntando...

T: qual conclusão você chega?

C: Assim, eu chego na conclusão que eu vou tentar mais um pouquinho. Para ver em quê que
vai dar, mas tem dia que eu digo “não, não dá mais”. Eu falo sempre assim: “eu tento... eu
tento... eu tento... eu tento, mas não dá mais. Eu não vou mais ficar quebrando minha cabeça”,

16
eu falo. Ao mesmo tempo quando você para pensar, você começa a ver, tudo o que pode
acontecer em sua vida, e que eu também acho que eu não tenho forças para segurar... aí eu
desisto e acabo recuando. Eu falo, não, vamos tentar mais uma vez.

T: Eu sei que um dos medos que você tem é que... se separar, ir para São Paulo, São Paulo é
um ambiente complicado, a mãe de Pedro convencer Pedro de reclamar as crianças e você
perder as crianças, né? Você vai ter que trabalhar e aí você vai ter que ficar pouco tempo lá;
vai ter que dar pouca assistência. É dessa estrutura que você fala que tem medo, ou tem medo
de alguma outra coisa?

C: não, é disso... não, é o medo também de eu me dedicar ao que eu quero, no sentido de eu


estudar e trabalhar e correr atrás e... e... é, tentar recuperar todo esse tempo perdido e... é...
deixar meus filhos de lado e eles acabarem ficar andando em favela, ficar andando com
pessoas erradas... e isso vinha acontecer alguma coisa. Sei lá, Jr. já ta aí pré-adolescente, vai
que se envolve com quem não presta, e depois até Pedro vir me julgar por causa disso.

3. A segunda e última separação que tiveram


C: E outra, quando a gente já morava nessa casa, e foi por causa de um ferro, que minha irmã
morava comigo – minha outra irmã morava comigo, e o ferro queimou, por causa das tomadas
lá em casa que estão muito ruins, elas não encaixa o negócio direito, então quando você fica
passando roupa fica soltando. Então, devido a isso o ferro queimou. Então, quando eu fui
passar a camisa dele para ele ir trabalhar, o ferro tinha queimado. Aí eu peguei e falei assim
“Pedro, o ferro queimou”. Ah! Pra quê que eu falei isso? Eu falei “Pedro, o ferro queimou”; “Ah,
eu não quero saber não, se vire”. Eu falei: “como se vire? Como se vire? Eu não tô entendendo
esse ‘se vire’. Você quer que eu faça o quê? O ferro queimou”. E aí foi na hora que começou a
briga, e começou a... a... dizer que eu não tinha cuidado com nada; que eu quebrava tudo,
porque não era eu que comprava, por isso que eu quebrava. Eu peguei e falei assim para ele:
“você acha que eu quebrei o ferro de propósito?”. Aí começou a discuti – e nesse dia, ele
começou a falar, falar, falar, falar e vinha com um tom de ameaça para querer me bater. E eu
“é o que? Você quer me bater? Então bata. Você vai querer me bater?”. E isso tudo mundo
olhando: minha irmã, meus filhos vendo. E ele vinha e falava; e ele naquele dia derrubou a
tábua de passar no chão e... e foi aquele briga e eu não falei nada... só falei isso “você acha
que eu quebrei o ferro de propósito?”. E não abri minha boca para falar nada, porque eu já tava
cansada de todas as outras coisas, então eu... e, nesse... nesse período, eu tinha pego ele
conversando com uma menina no MSN. Conversando, não. Ele via a foto da menina no Orkut
e eu tinha a senha dele a senha dele do MSN, então ele adicionou a menina... pediu para
adicionar a menina no MSN

T: tinha, não tem mais?

C: não, ainda tenho até hoje, acho que ele nem sabe... peguei ele, ele disse que tava doido
para conversar com a menina... então eu já tava injuriada com isso, então, eu fiquei quieta, não
falei nada. Quando foi no outro dia, eu disse para ele que para mim já não dava mais. Então a
gente ficou um mês separado... um mês separado mesmo. Eu pedi para ele pegar as coisas e
ir para casa da mãe dele... para que ele se virasse. Foi então que eu falei assim, oh: ”vamos ter
uma conversa”. E aí eu tive uma conversa com ele, que era o seguinte, que... aí eu perguntei
para ele se... como que seria se eu me separasse dele, como que seria eu e Jr.... e meus
filhos, né? aí ele disse que ia ser normal, que ele ia pagar pensão, mas ele não queria falar
comigo, que ele não queria contato nenhum comigo. Eu peguei falei assim: “e se a gente desse
um tempo, para ver realmente se é que você quer continuar realmente comigo; se é o que eu
quero continuar com você? E simplesmente a gente desse um tempo. Não sei quanto tempo
esse tempo vai durar. Mas que a gente desse um tempo para saber o quê que tá
acontecendo”. Aí eu tinha falo da menina... que tinha acontecido... que eu descobri. E ele
contou uma mentira lá, que eu falei que não era, que ele tava mentindo. Ele disse que não, ou
a gente terminava ou a gente não tinha esse tempo. Então como eu fui muito medrosa, eu
recuei. Para variar, eu recuei.

T: Mas ele falou que se vocês se separassem, ele não queria mais falar com você?

17
C: Ele não ia ter contato nenhum, ele não ia querer saber de nada, que ia dar a pensão dos
filhos dele, mas... e não é isso que eu quero, eu não queria isso.

4. Ensinando Análise de Contingência – ensinando-lhe a perceber o que o


comportamento produz.
T: Você ta dizendo assim... vamos lá, vamos analisar para você ver: Pedro com dinheiro só
dele (A), então, ele administra o dinheiro dele (B), então ficam as coisas mais ou menos
balanceadas, assim, equilibradas(C); só Pedro. Pedro e você, certo? (A); aí ele não administra,
administra pior o dinheiro dele, conta com seu dinheiro (B), que você dá (C), e aí as coisas
ficam desequilibradas. É isso? Já não tem mais equilíbrio. E você me fala assim: quando sua
sogra empresta dinheiro para ele, e ela fica enchendo seu saco para você cobrar dele, o que
que você diz para ela? Você diz duas coisas. Uma... é o que?

C: para ela?

T: é.

C: hoje.

T: hum, hum.

C: hum...

T: então eu te lembro, porque parece que você não está lembrada do que você me disse. É
assim, você fala assim: “por que você empresta?”

C: é

T: “pára de emprestar, assim ele não cresce”. Aqui quem tá fazendo o papel da mãe dele?

C: eu. Só que é ruim, T., não é fácil... no sentindo de que você sabe que a dívida não é só dele.
É minha também, porque é a dívida da casa, então eu me sinto na responsabilidade de ajudar.

T: Eu sei, mas, aí, o que que Pedro faz? Ele reclama. Quando reclama você dá. Qual é o
comportamento dele que toda vez que ele quiser dinheiro ele vai fazer?

C (em voz baixa): reclamar

5. Sentimento - função
Essa sessão, onde a função do medo foi esclarecida, não foi gravada.
Contundo Eliza foi induzida a perceber que o medo, principalmente quando
vivíamos na selva, tem um valor de sobrevivência grande, que é um amigo,
mas que, a despeito desse fato, muitas vezes, agora que vivemos em
sociedade, ele aparece quando não há um perigo real, e que é interessante
detectá-lo, para que quando não haja motivos reais, as ações adotadas não
estejam necessariamente sobre o controle desse sentimento.
6. Sentimento não como causa da ação
C: Vou enfrentando mesmo com medo. Hoje eu falo e fico observando para ver o que vai
acontecer. Quem nem o facebook. Eu tô colocando, eu tô escrevendo. Se alguém achar idiota,
eu tô tentando levar, tá entendendo? Se disserem que eu sou idiota: “Ah, tá, eu sou idiota.”

T: tá, mas como você se sentiria se alguém dissesse que é idiota?

C: eu tentaria não ligar.

T: entendo. Mas algo você sentiria, não? O que?

18
C: eu não ia gostar.

T: claro, é muito natural não gostar que considerem o que pensamos de “idiota”. E isso
interferiria no seu medo de escrever uma outra vez?

C: acho que sim

T: como?

C: aumentaria

T: perfeito. Você consegue perceber que aumentaria o medo. Mas dá para continuar fazendo,
mesmo sentindo ele

C: Um, hum.

T: porque se você deixar o medo controlar o que você faz você escreveria no face? Iria
malhar? Emitiria suas opiniões?

C: não.

T: pois é, você viver quando?

C: é isso que eu estou fazendo, né? Esses medos que eu tenho eu to tentando enfrentar cada
dia mais. Quer dizer... eu tô fazendo coisas mesmo com medo e tô gostando dos resultados.

7. Regras e Contingências: um pouco de reestruturação cognitiva


C: eu acho que como M. é chefe. Eu acho que ela poderia chamar atenção da gente algumas
vezes. Eu sinto essa necessidade.

T: como assim?

C: Porque M., ela é assim, ela leva em consideração a questão da amizade, e isso eu já
percebi nela, que ela é assim, por exemplo: se... é, é... ela olhou lá. Viu que a gente fez poucas
ligações, que tem muitos pais devendo, aí, eu acho legal da parte dela, em partes, porque ela
chega na gente e fala: “olha gente, tem que ligar para esse pessoal aqui... assim, assado...”.
Mas eu já percebi que se a gente não fizer ela também não reclama. Ela não reclama. Ela
tipo... faz um... como é que eu posso explicar? Eu vou dar um exemplo que no dia que teve um
ex-aluno que foi lá, ex-aluno que tava estudando em Candeias, que era ex-aluno de lá, mas
que foi transferido para Candeias, e ele foi lá dizendo que queria voltar, que estava em
Candeias, não-sei-que... então a gente tava com uma promoção de que para ex-aluno a gente
tava dando 30% de desconto, só que eu não me toquei que ex-aluno tinha que ser ex-aluno
mesmo, apenas de Dias D’Ávila. Então, eu fui e dei 30% de desconto a ele. Fiz o orçamento
com 30%. Aí, eu peguei e comentei com ela, mas eu já dei 30%, ela fez um... reclamou assim,
com..com.. alguma coisa, mas não chegou e falou para mim: “não, Eliza”. Mas eu achei que ex-
aluno... não chegou e falou assim “não dê desconto, só dê desconto quando eu tiver, ou então,
pedi para vir conversar comigo”. Ela não fala assim, mas você vê que ficou chateada, você
percebe que ela ficou chateada. Então, assim...

T: Mas, Eliza, vamos analisar. Nesse caso que você contou você analisou errado, mas talvez
não tenha ficado claro para você. Não falaram assim: “olhe, Eliza, quando a gente diz ex-aluno,
a gente não quer dizer que seja de outras filiais, apenas destas, né?”

C: Depois que eu fiz, é que ela me falou isso.

T: É, né? Então, assim, você não tinha como adivinhar. Concorda comigo? Você achou que era
um ex-aluno voltando. Você não aprendeu alguma coisa com a situação?

C: aprendi.

T: Teve um certo prejuízo, mas você aprendeu com um aluno só, o quê que M. podia mais
fazer?

19
C: é...

T: ia adiantar... ia adiantar brigar com você? Você já não tava mal, provavelmente, pelo o que
você fez?

C: é...

T: você vai fazer de novo?

C: não.

T: Então, pronto. Precisa? Veja bem, o quê que M. quer dessa história toda, provavelmente?
Que você não repita isso. Você vai repetir?

C: meneia a cabeça.

T: Pra que ela precisa brigar mais? Será que é necessário?

C: não, né? Não porque também eu vou estar mais esperta.

8. Desfusão Cognitiva na teoria e prática


Em uma sessão anterior, a qual também não foi gravada, no final dela, Eliza
apresentou mais uma justificativa para não ter começado a malhar (a primeira,
em outra sessão, foi cansaço. Depois porque não tinha dinheiro para comprar
uma roupa; outro dia por causa da preguiça e nesse dia, porque estava sem
disposição, já que segundo Eliza, ela só não tinha começado a malhar porque
não estava indisposta).
Nessa sessão eu disse a ela que o que eu iria dizer não a deixaria muito feliz,
mas eu gostaria de saber como as pessoas reagiam quando ela lhes dizia que
gostaria de fazer exercício, mas não fazia porque estava cansada ou
indisposta, ou qualquer uma dessas justificativas que ela já havia me dito. Ela
respondeu que elas demonstravam compreender. “Exatamente”, eu disse a ela.
E era por isso que ela continuava a apresentar essas justificativas e não agir de
acordo com o que ela julgava ser importante. Mas a verdade era, e eu a
perguntei mais ou menos assim: “sinceramente, me diga, realmente é
impossível malhar cansada? Ou sem a roupa apropriada de ginástica, ou com
preguiça?”. Ela disse que dava sim. Conclui lhe dizendo que a partir daquela
sessão eu não aceitaria mais esse tipo de justificativa, pois nós sabíamos que
apesar das pessoas mostrarem compreensão e até simpatia, as justificativas
que ela apresentava não eram explicações de fato.
Ela concordou comigo e disse que já vinha pensando nisso antes, e que já
tinha levantado a possibilidade dessas justificativas serem apenas desculpas
para não malhar, pois, embora fosse o que ela gostaria de fazer, era muito
difícil. Complementou esse raciocínio dizendo que ela acreditava que apenas
precisava se organizar melhor e aí sim ela conseguiria fazer as atividades, bem
como a dieta, a qual acompanha o programa dela cuja finalidade era perder
peso. Rebati perguntando-a se era possível ela fazer atividade física mesmo
não se organizando e se ela entendia qual era o objetivo dessa questão? E ela
disse que sim, que era possível malhar sem estar organizada, e que percebia
que havia dado mais uma de suas justificativas que não explicavam nada.
Na próxima sessão:

20
T: Eliza, você disse que deixou tudo que estava envolta e está indo malhar? Que coisas são
essas que você deixou para lé?

C: as coisas é: não ir malhar porque o pé está doendo; não ir malhar porque está com
preguiça; não ir malhar porque... desculpa que a gente inventa na hora, que nem outro dia eu
comentei com você, que eu acordei para ir andar, segundo ou terceiro dia que eu acordei... eu
falei assim: “Ai, eu tô com preguiça”. E eu não tava com preguiça. Eu não tava com sono. Na
minha cabeça parecia que estava com preguiça, mas quando eu fui ver, eu não tava com nada
disse. Aí, eu peguei, levantei, na maior cara de pau e fui andar. Mas eu não tava com nada
disso.

T: mas você falou para você mesma que estava

C: Isso. Para mim mesma. Porque... é... mas foi muito assim... e parecia tão real, que quando
você tá na cama assim, e eu acordei, eu tava na cama, aí eu falei assim: “ai, eu tô com uma
preguiça hoje”, aí eu falei: “rapaz,levanta e vai andar”. Aí eu fui... fui bem... foi muito bom
(rindo)... então, esses detalhes que eu deixei de lado. E eu me surpreendi também em relação
a academia, porque eu tava morrendo de vergonha, ainda ais sozinha. Você ir sozinha assim é
difícil. Mas eu não achei ninguém, aí eu falei “olha, eu vou”. Sozinha, mas eu vou.

...

T: Então o que você pensa não é necessariamente o que vai acontecer ou o que está
acontecendo. Essa pode ser uma lição que a gente pode aprender disso tudo que você falou.
Uma coisa que pode ajudar a fazer essa divisão é dizer “eu estou pensando em tal coisa”, para
justamente fazer a separação do pensamente e da realidade.

9. Aceitação X Análise de contingência e Compromisso com valores.


Eliza vinha apresentando ao longo de diversas sessões dificuldade,
provavelmente porque lhe causava bastante sofrimento, de se observar como
produtora de conseqüências ruins na vida dela, sempre responsabilizando
terceiros por eventos desagradáveis que lhe sucediam, bem como demonstrou
em vários momentos uma grande inconsistência e incompatibilidade entre
relatos verbais, os quais se relacionavam com a questão supracitada, ou com o
fato do relato verbal conceitual estar sobre controle da aprovação social e a
ação relatada possuir outros reforçadores, sendo que ambos eram descritos ao
longo das sessões. Dentre alguns exemplos de relatos em que foram
apresentadas tais características estão: 1º) quando ela disse a uma amiga que
não gostava mais de um rapaz, o qual ainda nutria sentimentos românticos. A
amiga perguntou se ela se incomodaria se ela se envolvesse romanticamente
com ele e ela disse não, sendo que a verdade seria sim. Os dois então se
envolveram e ela claramente ficou sofrendo muito, mas apenas admitiu depois
que afirmou várias vezes que ela não tinha o direito se intrometer na relação
deles e que já tinha “deixado para lá” ou que estava tentando esquecer ele; 2º)
quando ela afirmou que estava tratando o marido friamente, já que ele, desde
uma viagem que ela fez sem ele e com amigos, estava fazendo a mesma
coisa. Todavia, pelo próprio relato dela, constatou-se que ele mandou
mensagens carinhosas enquanto ela estava viajando, as quais ela respondia
de maneira polida, mas sem afetividade; 3º) quando relatou que não queria se
intrometer na vida do filho (de 14 anos). Mas também disse que entrava no
Facebook e Orkut dele, sem ele saber, e que queria saber de tudo sobre o
filho, que este não lhe escondesse nada e que não tivesse namoradas sérias,
apenas namoricos.

21
Em uma sessão, a qual também não foi gravada, conversamos sobre a
incoerência do que ela dizia e do que ela de fato fazia, sentia ou pensava. Para
ela foi muito difícil, pois ela considerou que eu a estava rotulando de “falsa”. Eu
lhe disse que era uma tendência muito forte das pessoas falarem o que
possivelmente evitaria coisas ruins e aumentariam a probabilidade de
conseguir coisas boas, mas que era muito importante percebermos as coisas
que controlam nosso comportamento, sendo essas coisas aceitas e/ou
aprovadas ou não pelas pessoas ao redor, visto que, dessa forma, poder-se-ia
sentir, pensar e querer agir de determinada maneira, e de fato agir de acordo
com propósitos mais significativos para a pessoa. E que o mais importante era
que, mesmo ela nem sempre falando e agindo de uma maneira que
correspondia com a realidade, eu gostava muito dela e citei inúmeras
qualidades que eu via nela. Quando eu lhe disse isso ela chorou muito. A
sessão terminou e antes de sair ela me disse que estava confusa e que ia
pensar sobre o assunto e na outra sessão (a qual foi gravada) retomamos o
mesmo assunto:
T: então, já chegamos à conclusão que a opinião dos outros têm um peso muito grande na sua
vida

C: Têm.

T: e isso é importante você saber, até para você agir diferente. “Eu to fazendo isso porque eu
to com medo da opinião dos outros ou porque eu quero?”; “eu to fazendo isso para que as
pessoas não falem mal de mim, ou eu to fazendo isso porque realmente é interessante para
mim”? Porque imagine que você tem duas possibilidades de vida. Uma vida aqui que você está
seguindo por medo de que as pessoas falem de você. E você tem essa outra possibilidade de
vida aqui que você está seguindo pensando no que importante para você. Qual das duas vidas
é a mais rica, a mais completa, com mais sentindo? Você entendeu?

Desenho 1: vida e as possibilidades de escolha


C: Eu entendi... É... assim, eu acho que desde que eu sou muito nova, eu acho, que eu sempre
vivo minha vida pensando no que os outros vão falar. Eu não sei se é porque... eu já pensei
nisso. Hoje eu to tentando viver de acordo com o que é importante para mim. Mesmo assim,
com medo.

T: Lindo, Eliza. É isso mesmo

C: Mesmo sabendo que muitas vezes a sociedade vai me julgar. É por isso que muitas vezes
eu não me separei de Pedro. É por isso que ainda eu não voltei para São Paulo. Eu sei que eu
vivo essa linha aqui (apontando para a linha número 1 do desenho), porque eu tenho medo
disso mesmo.

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T: Mas hoje em dia já está ficando assim, né?

Desenho 2: como Eliza está vivendo atualmente


C: é. Exatamente. É exatamente. Tá.. tá assim mesmo. Então, eu não sei se é porque que eu
desde pequena que eu tento fazer as coisas “certas”, que eu julgo “certas”, para sempre ter um
elogio.

T: (demonstrou aprovar a explicação)

C: (rindo) eu lembro que... eu lembro que... eu tentava estudar, que era para os meus parentes
dizerem que eu sou estudiosa. Eu tinha uma prima que era totalmente diferente de mim,
totalmente ao contrário. Então, assim, coisas que eu me lembro desse período, que eu também
acho que vale lembrar, é que minha avó tinha muito chamego pela minha prima que fazia tudo
errado. E eu percebia muito (começou a chorar) que minha avó me desprezava. E... e... eu
sempre tentava fazer as coisas certas, para ver que, meio que chamasse atenção, entendeu?

T: (Meneou)

C: (chorando) então eu sempre tentei fazer o certo. E tentei ser a mais correta possível, que
era para ver se alguém olhava para mim. Então eu acho que eu fui só aprendendo dessa
forma, que eu fui só aprendendo dessa forma. Então, eu tento sempre não errar, para eu não
ser julgada, porque toda vez que eu errasse uma coisa, eu ia ser julgada muito mais do que
minha prima que vivia no caminho errado, vamos dizer. Então assim, depois de tudo, depois
que eu tive, depois que eu comecei a sessão com você, eu começo a lembra de algumas
coisas que poderiam fazer o que eu sou hoje, entendeu? São conseqüências que a gente leva
na vida que... é... a gente começa a reparar porque é que a gente é assim... eu não sei se eu
consegui explicar o que você perguntou, mas é isso... é por causa dessas coisas, do que eu
vivi antes, eu lembro que eu gostava quando eu fazia as lições, que eu estudava, que minhas
tias ou minha avó me comparava com minha prima de falar assim, que eu era estudiosa,
porque eu era caseira, ou que era ISS tudo e eu não sei se na verdade eu não queria ser
aquilo que eles falavam, eu não sei assim, e eu acabei trazendo todas essas coisas para minha
vida e sempre tentado fazer coisas certas para que as pessoas falassem coisas boas de mim,
e não falassem coisas ruins. E eu achando que se eu fizesse coisa que no meu ponto de vista
achasse que fosse errado, as pessoas iam me julgar muito. Então assim, ta nesse sobe desce,
porque assim, às vezes eu mando todo mundo ir para porra e sigo minha vida, mas mesmo
assim eu continuo com medo, pensando no que pode vir. Do que eu vou encontrar lá pela
frente. De eu tomar uma decisão e alguém falar assim: “você não quis? Então se vire”. Não ter
apoio, não ter outra pessoa, eu acho que hoje eu ainda vejo que se eu seguir essa linha
(aponta a linha número 1 do desenho), eu posso não ser feliz, mas as pessoas vão me julgar
mais como certa, do que, vamos supor, se eu largar de Pedro e viver lá em São Paulo e der
tudo errado e eu ficar com aquela dor na consciência, de que às pessoas vão ficar me julgando
ou não. então eu tenho medo... eu tenho muito medo sobre isso

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T: eu fico muito feliz que você tenha falado isso tudo para mim. Se eu entendi bem, você disse
“T., eu faço as coisas por elogio, sim”, e eu acho que isso, para você dizer, não deve ter sido
fácil.

C: Meneando (baixinho). Um, hum.

T: Tá? Porque você disse “T., eu não faço coisas com medo de punição, eu tenho medo de ser
julgada”. Isso você sempre falou. Agora, você dizer que faz coisas para obter elogio, foi poucas
vezes, e eu acho que como socialmente fazer coisas para obter elogio nem sempre é
valorizado, eu te agradeço muito por você ter compartilhado isso comigo. Por que não deve ter
sido fácil. Eu só quero te dizer que, lembra o que eu sempre digo? Que as pessoas se
comportam, mais tem um antes e tem uma conseqüência, e as pessoas quando se comportam,
ou ganham ou não perdem algo. Pensando em você, foi mais ou menos isso que você me
disse, e eu gostei muito do que você disse. Basicamente você disse “ou eu não sou punida,
não sou machucada pelas pessoas, ou ganho elogios”... agora, em relação a essa vida que
você escolheu (T. apontando para linha um), que você optou para não ser julgada, você
realmente não foi julgada?

C: Não, não. Sempre me julgaram

T: Você evitou ser julgada?

C: Não.

T: quer dizer, você nem fez o que você quer e nem evitou o julgamento. Então parece que o
que você faca as pessoas vão te julgar. A questão, Eliza, é se para você vale a pena viver
assim deixando o medo te controlar ou uma vida em que você faz o que é importante para
você? Por que qual dos dois caminhos você não vai se machucar?

C: os dois eu vou me machucar... eu sei que se eu não tirar esse medo das conseqüências eu
não vou conseguir as coisas que são importantes para mim nunca.

T: Venha cá, mas olhe o que você me disse antes: ”eu tô vivendo mais no caminho dois do que
antes, porque mesmo eu sentindo medo, eu to fazendo diferente”

C: um, hum

T: Aí, olhe o que você me fala agora: “eu tenho que tirar o medo”. Mas lembra do que já
conversamos sobre os sentimentos? Se eu não quiser isso (caixa de papel), tem como eu jogar
fora?

C: Isso tem.

T: e medo?

C: não

T: o que que a gente tem que fazer?

C: mesmo sentindo medo, agir.

T: isso. E desde que a gente começou a terapia, quantas vezes você fez coisas sentindo
medo?

C: várias vezes...É... é muito difícil. Para mim tomar as decisões, eu tenho que encarar as
decisões e o medo. Então para mim, o pior de tudo é as decisões. Todas as minhas decisões
eu penso muito no meu medo e as conseqüências. É por isso que eu não consigo tomar as
decisões.

T: Pois é, mas o que que dificulta a tomada de decisões é o seu medo e o que foi que você
entendeu em relação ao medo e às decisões. Tem como você se livrar do medo?

C: não.

24
T: o que você vai ter que fazer?

C: encarar as conseqüências.

T: sem o medo ou com o medo?

C: com o medo

T: exatamente. É isso.

O tratamento não foi concluído ainda, mas Eliza tomou a decisão de se


separar, e cada dia ela cumpre pequenos objetivos que concretizam mais essa
decisão, apesar de que, por questões financeiras eles ainda moram na mesma
casa. Não obstante, eles já comunicaram a separação para várias pessoas da
convivência deles, dormem em quartos separados entre outras resoluções.
Além disso, Eliza está estabelecendo ocasiões e relações mais reforçadoras
com os filhos, também está se organizando financeiramente para poder fazer
um curso técnico relacionado com Engenharia Civil, que uma área profissional
que ela se identifica muito, vai nas férias para São Paulo, para se aproximar
mais da família, já que a separação é algo que a entristece muito, e procurou
um médico que realiza gastroplastia, ação que não tomou antes porque
pensava que não ficaria bonita caso fizesse a cirurgia, uma vez que é “toda
gordinha”, a fim de se informar melhor sobre a cirurgia e as prováveis
conseqüências corporais que poderá existir.

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