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BRASILEIRA
E-book 2
Neste E-Book:
INTRODUÇÃO����������������������������������������������������������� 3
HISTÓRIA DA HISTORIOGRAFIA – A
CONSTRUÇÃO DA IDEIA DE BRASIL NO
SÉCULO 19������������������������������������������������������������������ 4
A construção da nacionalidade e o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro (IHGB)����������������������������������������������������4
Von Martius e o manual da escrita da História���������������������11
Varnhagen e a “História Geral do Brasil” (1854-1857,
reeditada em 1877)�����������������������������������������������������������������16
Capistrano de Abreu e a nova forma de se escrever o
Brasil����������������������������������������������������������������������������������������22
Oliveira Vianna e uma interpretação do Brasil����������������������30
CONSIDERAÇÕES FINAIS����������������������������������� 35
SÍNTESE��������������������������������������������������������������������36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS &
CONSULTADAS������������������������������������������������������� 37
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INTRODUÇÃO
Neste e-book aprenderemos os conceitos de iden-
tidade e nação no Brasil do século 19, a criação do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e
sua importância para a prática historiográfica, fare-
mos uma análise sobre Karl Friederich Philip von
Martius (1794-1868) e Francisco Adolfo Varnhagen
(1816-1878), grandes intelectuais que contribuíram
para a construção de um olhar específico sobre a
História do país, e, para finalizar, conheceremos um
pouco outros dois intelectuais que trabalharam novas
concepções de História, Capistrano de Abreu (1853-
1927) e Oliveira Vianna (1883-1951).
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HISTÓRIA DA
HISTORIOGRAFIA – A
CONSTRUÇÃO DA IDEIA DE
BRASIL NO SÉCULO 19
O século 19 marcou transformações profundas
no Brasil, tanto no âmbito político, social e cultural
quanto em relação à produção historiográfica. Para a
História, a criação do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro (IHGB) em 1838 mudou a forma de se pen-
sar e escrever no país. O sentido de nação e iden-
tidade nacional, que são processos históricos, foi
trabalhado nesse período, mas também sofreu as
modificações do tempo, já que no início do século
20, com o advento da República, tivemos uma refor-
mulação dessas ideias.
A construção da nacionalidade
e o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro (IHGB)
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em cartas, documentos oficiais, músicas e imagens,
parte-se de uma perspectiva particular.
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1838, normalizou a escrita da História, criou padrões
para que as obras fossem consideradas nacionais.
Os temas, como os ciclos econômicos, a cultura e
a política, deveriam ser analisados a partir do crivo
científico. Isto é, nasceu o “cientista da História” –
o historiador – que tinha uma série de regras para
seguir – a metodologia. Neste ponto se observa a
diferença entre as crônicas de viajantes e os textos
que deveriam ser feitos no século 19 para serem con-
siderados como História. Apesar do aprumo científi-
co, as particularidades de cada autor permaneceram,
por isso que os ler, hoje em dia, traz esclarecimentos
sobre a época, sobre a importância do instituto e so-
bre como a historiografia brasileira mudou ao longo
do tempo.
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ponto de vista do presente pelo qual as fontes seriam
interpretadas? A nação e o processo civilizatório.
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Voltando ao conceito de nação.
REFLITA
Nenhum dos conceitos que aparecem aqui são es-
tanques, dessa forma, cabe a você procurar outras
bibliografias para aprofundar seu conhecimento.
No caso da ideia de nação, há inúmeros autores
que a trabalharam com diversos sentidos e finalida-
des. Um dos mais conhecidos e utilizados hoje em
dia é o de Benedict Anderson. Em Comunidades
imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão
do nacionalismo, ele afirma que a nação é uma
comunidade política imaginada. No caso do Brasil,
houve uma ruptura com o advento da República
e essa construção da imagem nacional brasileira,
permeada de mitos e símbolos, tentava “esquecer”
o passado recente.
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parte disso, pois, para a ideia se solidificar, precisa
do aval geral, criando uma identificação.
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correspondentes, até pela sua unicidade, já que não
existiam tantos exemplos no Brasil.
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chamado Como se deve escrever a história do Brasil,
de 1843.
Podcast 1
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das plantas na língua tupi e, em 1863, o Glossarium
Linguarium Brasiliensium.
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do Equador (1824), a Revolta dos Malês (1835), a
Cabanagem (1835-1840), a Sabinada (1837-1838) e a
Balaiada (1831-1841); no Sul, a Revolução Farroupilha
(1835-1845). O descontentamento com o governo era
grande, portanto, a necessidade de criar o sentimento
de identidade nacional para conectar todas as regi-
ões perante um denominador comum se tornou ur-
gente. O olhar estrangeiro, do outro, era fundamental
para que a imagem de Estado forte, consolidado e so-
berano se fixasse tanto externa quanto internamente.
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São, porém, estes elementos de natureza muito diversa,
tendo para a formação do homem convergido de um
modo particular três raças, a saber: a de cor de cobre
ou americana, a branca ou caucasiana, e enfim a preta
ou ethiopica. Do encontro, da mescla, das relações
mútuas e mudanças d’essas três raças, formou-se a
actual população, cuja história por isso mesmo tem
um cunho muito particular (GUIMARÃES, 2010, p. 64).
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Espécies, obra que revolucionou a ciência mundial. A
teoria da evolução das espécies é até hoje seminal,
mas foi problematicamente interpretada ainda no
século 19. Herbert Spencer (1820-1903), por exemplo,
aplicava o evolucionismo para o desenvolvimento
social, o chamado darwinismo social. Assim, alguns
povos estariam em um estágio de evolução maior
do que outros, estabelecendo diferenças sociais
profundas.
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Mesmo apontando as diferentes raças, a perspectiva
desigual permanecia, haja vista que o autor define
como classe alta e baixa a partir de um critério social.
Ele introduz uma ideia sistematizada de que o portu-
guês foi fundamental para o andamento civilizacional
brasileiro. Tanto os grandes nomes como o colono
comum deveriam ser abordados, mas com destaque
aos relacionamentos construídos no Brasil. Contudo,
estes estavam conectados diretamente aos pensa-
mentos e ideias europeus. Já em relação às outras
raças, entre os indígenas e os negros, os primeiros
tiveram uma ênfase um pouco maior. Ao discutir
as diferentes raças, Von Martius dá um sentido de
unidade ao país, escolhendo fronteiras e costumes
típicos.
Varnhagen e a “História
Geral do Brasil” (1854-1857,
reeditada em 1877)
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pluralidade de ofícios. Um fato interessante é que em
suas idas a arquivos, sobretudo a Torre do Tombo,
em Lisboa, descobriu diversos documentos sobre a
História colonial brasileira, inclusive a obra de Gabriel
Soares de Sousa.
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feito protagonista, enquanto outros são esquecidos
e cabe aos historiadores de agora ler esses hiatos e
preencher com informações. No século 19, a História,
a documentação e os arquivos ganharam destaque
no cenário político e intelectual, mas pouco se era
falado sobre as questões do presente, como a popu-
lação no geral. Os negros, por exemplo, eram descri-
tos como força de trabalho apenas, não estavam na
lista de prioridades desses intelectuais, mesmo que
a abolição fosse uma realidade em muitos países.
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Espanhola e as diversas guerras civis que aconte-
ceram por lá. Ou os Estados Unidos, que também
enfrentaram um conflito longo desde a declaração
da independência até a sua consolidação.
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SAIBA MAIS
Para se aprofundar na escrita da História feita
pelo IHGB, confira o livro de Manuel Luiz Salgado
Guimarães, Livro de fontes de Historiografia bra-
sileira, no qual foram selecionados nove docu-
mentos importantes, inclusive o de Von Martius.
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século 19, pois possuir esses materiais significaria
ter um pedaço do passado.
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O Brasil precisava se reconhecer e o autor sugeria
esse tipo de espelho, com marcações determinadas.
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Isso não significa que criou uma crítica social à de-
sigualdade racial. O determinismo e o ponto de vista
científico, como falamos anteriormente, estabeleciam
uma perspectiva evolucionista para a sociedade, o
que colocava um povo como melhor do que o outro.
Podcast 2
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quanto históricas: O descobrimento do Brasil (1883);
A língua dos Bacaeris (1897); Capítulos de História
Colonial (1907) e Dois documentos sobre Caxinauás
(1911-1912). Postumamente, foram publicados
Caminhos Antigos e o Povoamento do Brasil (1930);
Ensaios e Estudos (1931-1933); Correspondência
(1954) e Cartas de Capistrano de Abreu a Lino de
Assunção (1946).
I) Antecedentes indígenas;
II) Fatores exóticos;
III) Os descobridores;
IV) Primeiros conflitos;
V) Capitanias hereditárias;
VI) Capitanias da Coroa;
VII) Franceses e espanhóis;
VIII) Guerras flamengas;
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IX) O sertão;
X) Formação dos limites;
XI) Três séculos depois (ABREU, 1998)
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SAIBA MAIS
Uma dica de atividade para sala é apresentar aos
estudantes os mapas do Brasil no século 19 e
identificar os diferentes conflitos e acordos que
auxiliaram naquela configuração. Além disso, o
professor pode sugerir um trabalho valendo nota,
no geral ele pode dividir as regiões e províncias
do Brasil entre grupos de estudantes e exigir a
pesquisa de algumas informações. Essas depen-
derão do ano daquela turma, então podem ser mais
simples, como dados políticos e guerras/conflitos
que existiram ali, até um pouco mais complexos,
como descobrir que povo indígena vivia ali, qual a
principal atividade econômica e descrevê-la, entre
outros.
Outra dica: sempre peça ao estudante escrever
à mão os trabalhos, pois, com isso, ele aprende
o poder de síntese – já que não conseguirão co-
piar tudo da internet – e o ensinará sobre a pes-
quisa adequada quando há muita informação à
disposição.
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Voltando ao sumário, seu primeiro capítulo é dedi-
cado à natureza (flora e fauna), mesmo que no título
mencione os indígenas. São citados rapidamente
os tupis, os tremembés, os cariris e os tupiniquins.
Seu olhar sobre eles era o de observador, tendo um
distanciamento acerca do tema. Veja só:
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verdade, era o homem do século 19, mais evoluído
tanto social quanto em matéria de tecnologia. Esse
ponto de vista se relaciona com o viés positivista da
Física Social, na qual o homem passava por etapas
até alcançar o patamar do progresso. Mesmo que
muitos não considerassem o estágio em que esta-
vam o mais alto, eram claramente superiores a indí-
genas e negros, por exemplo. Aqui vale uma reflexão.
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os africanos perderam séculos de sua História, haja
vista que milhões foram sequestrados e transfor-
mados em escravos. Suas línguas e costumes, que
estavam ameaçados, sofreram um forte golpe no sé-
culo 19 com o Neocolonialismo. As fronteiras plurais
e complexas foram destruídas e países com novas
configurações de espaço surgiram. Os 54 países na
África foram criados a partir da interferência direta
dos europeus, feita com a justificativa científica de
que os nativos eram inferiores. Esse tipo de reflexão
deve ser levada para a sala de aula e a Historiografia
auxilia os professores a encontrarem mecanismos
de compreensão do texto que melhoram o ato de
ensinar.
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conflitos existentes entre colonos e a dominação
portuguesa.
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tros autores da sua época, pois eles faziam parte
de uma mesma tradição determinista e racista. As
explicações sobre a colonização, sejam para afirmá-
-la ou questioná-la, partem da mesma premissa: os
problemas enfrentados em Portugal, sua posição
ambígua na Europa e a chegada a um local inóspito
e desafiador como o Brasil.
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existe um ponto de partida para isso, o fio condutor
que costuraria a diversidade: o estado forte. Se a
colonização não conseguiu dar conta da vastidão
territorial e cultural da colônia, foi por causa da falta
de um estado soberano e unitário. Você consegue
entender por que esse tipo de discurso foi tão aplau-
dido por Vargas, não?
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Vianna discorre sobre a maneira como se utiliza a
documentação, que seria com as perguntas e os
problemas apresentados pelo historiador que a fonte
poderia ser passível de utilização. Percebe-se uma
transformação na percepção do fazer historiográfico,
pois, com a problematização do documento, o rompi-
mento com as certezas e os sistemas explicativos, a
narrativa teleológica da história realizada pela escola
tradicional não possuiria mais sentido. A questão é
que mesmo com a entrada de ciências auxiliares
para a construção da escrita da História e a defesa
de se produzir uma História de si, o autor defendia
estruturas sociais que fomentavam a desigualdade.
REFLITA
Arthur de Gobineau (1816-1882) esteve no Brasil
em 1869 e teorizou sobre o que chamou de deca-
dência da civilização, pois a ideia era explicar como
as raças humanas se influenciaram ao longo da
História. Aqui, a sua conclusão residiu no fato de
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termos uma população mestiça, portanto, o Brasil
se extinguiria em pouco mais de 200 anos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O século 19 foi permeado de diversas modificações
dentro do processo de construção da História brasi-
leira. Primeiro, houve a criação do IHGB, o Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, que formalizou a
escrita historiográfica. Junto disso, a ideia de nação
e identidade se solidificaram, mas sempre com um
ideal em mente. Logo na sua inauguração, o texto es-
colhido que simbolizava a forma de se fazer História
foi o do alemão Karl Friederich Philip von Martius,
o Como se deve escrever a história do Brasil, de
1843. Nele, foi dito pela primeira vez a importância
das raças para se entender o passado e o presente
brasileiro. O maior expoente da tradição “História
mestra da vida” foi Francisco Adolfo de Varnhagen,
com a sua Historia Geral do Brazil, que estabeleceu
os traços da história acontecimental no país.
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SÍNTESE
HISTORIOGRAFIA
BRASILEIRA
A CONSTRUÇÃO DA IDEIA
DE BRASIL NO SÉCULO XIX
Karl Friederich Philip von Martius (1794-1868) - Como se deve escrever a história do Brasil
(1843)