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LIÇÃO 9
Sugere-se que Über Sinn und Bedeutung seja lido na íntegra e analisado de
acordo com o esquema que se segue.
ESQUEMA Nº10
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Sofia Miguens
Filosofia da Linguagem – uma introdução
(Tarefa adicional: Procurar identificar e analisar os exemplos-chave de cada uma das partes)
(2) o exemplo da lua: consideremos uma pessoa que observa a lua através de
um telescópio. Temos aí três coisas diferentes a considerar. A lua é o objecto
observado ele próprio. Frege chama em seguida a atenção para a diferença
que existe entre a imagem formada na lente do telescópio (é uma perspectiva,
mas uma perspectiva ‘objectiva’, que pode ser usada por diversos
observadores) e a imagem retiniana, que é variável de indivíduo para indivíduo.
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Sofia Miguens
Filosofia da Linguagem – uma introdução
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Cf. exemplos de Perez-Otero & Garcia-Carpintero 2000, 2. Frege, sentido e referência.
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Garcia-Carpintero 1996:37.
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Sofia Miguens
Filosofia da Linguagem – uma introdução
LIÇÃO 10
No último parágrafo de Über Sinn und Bedeutung Frege retoma a questão com
que iniciara o artigo, a questão da identidade (a pergunta era, recorde-se,
‘como é que possível que ‘a=a’ e ‘a=b’ tenham valores cognitivos diferentes
quando os nomes ‘a’ e ‘b’ designam a mesma coisa).
Uma vez tendo na mão a distinção entre sentido e referência, Frege defende
que para o propósito de adquirir conhecimento, o sentido de uma frase (o
pensamento) não é menos relevante do que o seu valor de verdade, e neste
caso o sentido de ‘a’ difere do sentido de ‘b’, logo o sentido de ‘a=a’ difere do
sentido de ‘a=b’. As duas frases não têm por isso o mesmo valor cognitivo, é
possível aprender algo mais com ‘a=b’57. É agora clara a forma como a
distinção entre sentido (Sinn) e referência (Bedeutung) permite responder à
questão inicial de Über Sinn und Bedeutung.
São muitos os problemas deixados em aberto pela teoria fregeana do
pensamento e da linguagem, e precisamente por isso o seu estudo continua a
ser tão rico para a filosofia contemporânea. As análises que M. Dummett e T.
Burge fazem da obra de Frege (cf. referências bibliográficas em Bibliografia
Geral) podem aqui servir de guia. Na sequência das posições específicas
apresentadas, menciono em seguida apenas algumas das questões que a obra
de Frege deixa em aberto e nos faz ainda discutir: (i) o que são ‘sentidos’ e
‘Bedeutung’ (i) em que consiste o ‘grasping’ (capturar) dos sentidos (onde ficam
as mentes em Frege? Aparentemente em lado nenhum…), (ii) será que a teoria
fregeana não nos obriga a postular a existência de sucessivos modos de
apresentação encaixados ad infinitum? (iii) será que Frege sustentou de facto
até ao fim o seu Princípio do Contexto? (Será que há apenas um princípio do
contexto? De acordo com T. Burge, seis formulações devem ser
consideradas58), (iv) que forma tem afinal a ontologia fregeana? (v) será que o
‘platonismo pragmatista’ de Frege (a expressão é de Tyler Burge) é de facto
capaz de salvar o racionalismo? Será que o torna de facto uma opção
pertinente em teoria do pensamento e do conhecimento ao deixar de lado
qualquer apelo a uma suposta intuição intelectual? (vi) qual é exactamente a
concepção fregeana da lógica?
Estas são questões filosóficas gerais que podem hoje ser tratadas a partir da
obra de Frege, e portanto da história da filosofia. De qualquer modo, as teorias
da linguagem e do pensamento e da forma como estes se relacionam com a
realidade que Frege erige diferem em muito, como se verá em seguida e de
uma forma que torna o contraste produtivo, das propostas de alguém que
tratou temas semelhantes, quase simultaneamente, e que é outro dos grandes
nomes iniciais da filosofia da linguagem: o filósofo inglês Bertrand Russell.
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Frege termina dizendo que se entendemos por ‘juízo’ o avançar do pensamento para o valor de verdade
deste, podemos dizer que os juízos são também diferentes.
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BURGE 2005: 15. O Princípio do Contexto aplica-se ao significado ou conteúdo, e o significado ou
conteúdo vem a ser tratado por Frege em termos de Sinn E Bedeutung. De acordo com Burge, cada um
dos três Princípios do Contexto (formulado em (i) termos metodológicos, (ii) em termos de condições
necessárias e (iii) em termos de condições suficientes) ramifica-se assim em dois.
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