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Textos de apoio de ANTROPOLOGIA CULTURAL DE MOÇAMBIQUE (Uso exclusivo para os estudantes de Ensino de QUIMICA- 2020/2021).

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TEMA 1

1.1. Constituição e desenvolvimento das ciências sociais.

    A Ciência desenvolveu-se, em parte, pela necessidade de um método de conhecimento e compreensão


mais seguro e digno de confiança do mundo que nos rodeia (Kerlinger,1984). Desta forma, tornou-se
necessário inventar uma abordagem do conhecimento, apto a permitir uma informação válida e fidedigna
sobre fenómenos complexos, incluindo o complexo fenómeno do próprio Homem e dos seus
comportamentos.

 O conceito de Ciências Sociais ou como refere Nunes (1987), Ciências do Homem, só existe numa
concepção fragmentária, englobando um conjunto de ciências diferentes. Neste contexto, Silva e Pinto
(1986) apresentam como algumas destas ciências, a Sociologia, a Economia, a Psicologia Social e a
Antropologia, às quais, Nunes (1987) adiciona a Geografia Humana, a Demografia, a Ciência Política, a
Linguística e a Etnologia Social. Estas diferentes disciplinas segundo Nunes (1987), apesar de terem em
comum o mesmo objectivo de estudo, distinguem-se nas suas metodologias utilizadas, em diversos níveis
e objectivos na qual orientam a investigação no âmbito do interesse em analisar, explicar e compreender o
que se pretende investigar.

1.1.2. Objectivo comum das ciências sociais

Silva e Pinto (1986) afirmam que o objectivo comum às ciências sociais é a procura do conhecimento da
realidade. Não aprofundando as questões filosóficas inerentes a esta delimitação, estes mesmos autores,
definem essa procura, pela construção de quadros categoriais, operadores lógicos de classificação e
ordenação, mediante processos complexos influenciados ainda pelas nossas necessidades, vivências e
interesses, construindo desta forma, instrumentos que nos proporcionem informações sobre essa realidade.

Gurvitch (1963; cit. por Nunes, 1987) realça o facto de que a realidade estudada pelas ciências, é uma só,
sendo esta a condição humana considerada sobre uma certa perspectiva e tornada objecto de um método
de investigação específico.

Numa perspectiva social, as acções humanas desdobram-se em práticas materiais e simbólicas, com
relações a natureza e com outros homens. Para Nunes (1987: 29), “a constituição das Ciências Sociais
esteve directamente relacionada com a possibilidade histórica de afirmação da autonomia do social; isto é,

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com os desenvolvimentos sócio-económicos, políticos e teóricos, que nos séculos XVII, XVIII e XIX,
impuseram a ideia da existência de uma ordem social laica e colectiva, não directamente determinada pela
vontade divina, irredutível à acção social e submetida a leis”.

1.1.3. Objecto de estudo das ciências sociais.

É importante perceber que o objecto de estudo das ciências sociais é portanto o ser humano em suas
interacções sociais, tendo como a investigação científica participante e a observação como método usado
por estas ciências.

Portanto, temos a referir que Augusto Conte (1798-1857) é tradicionalmente considerado o pai da
sociologia. Pois, foi ele que pela primeira vez usou esse termo em 1839, no seu curso de Filosofia
positiva, mas foi com Emile Durkhein (1858-1917) que a sociologia passou a ser considerada uma ciência
e se desenvolveu. Durkhein formulou as primeiras orientações para a sociologia e demostrou que os factos
sociais têm características próprias que os diferenciam das que são estudadas, pelas outras ciências. Neste
contexto, Durkhein conclui que a sociologia é o estudo dos fatos sociais.

1.1.4. Os Factos Sociais

As ciências sociais sendo um ramo do conhecimento científico que estuda os aspectos sociais do mundo
humano. Ela tem como factos sociais, a língua, o vestuário, a religião, as leis, etc.

Durkhein diz que os fatos sociais são os modos de pensar, sentir e agir de um grupo social. Estes factos
sociais embora sejam exteriores, eles são intrometidos pelo individuo e exercem sobre de um poder
coercivo.
1.1.4.1. Características dos Factos Sociais

Todas as ciências sociais se caracterizam por estudar, com rigor, a conduta humana dentro de um
determinado grupo social. Portanto, temos como algumas características dos factos sociais como:
 Generalidade: O fato social é um dos membros de um grupo;
 Exterioridade: O facto social é externo ao individuo, e este existe independentemente da
sua vontade;
 Coerciscidade: Os indivíduos sentem-se obrigados a seguir o comportamento estabelecido.

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1.2. A Antropologia e Outras Ciências Humanas e Sociais

De a cordo com o pensamento antropólogo Adolfo Yañez Casal (1996), podemos afirmar que as ciências
sociais aparecem, enquanto exercício profissional, no século XIX. Pois é nessa altura em que se consolida
a sociedade burguesa e a modernidade, trazendo deste modo novos problemas na relação entre o indivíduo
e o grupo.

É importante afirmar que as ciências sociais e humanas têm em comum a relação entre sujeito (humano) e
objecto (humanos) de estudo, o que implica falar de um estatuto epistemológico próprio, diferente do das
ciências naturais.

Durkheim (1995) considerava que as ciências humanas e sociais deveriam imitar as ciências naturais e
considerar os fenómenos sociais como naturais. Esta perspectiva resume-se na expressão de Émile
Durkheim (1995) que afirma: “os factos sociais como coisas”. Autores como Dilthey (1839-1911), Max
Weber (1864-1920) e Peter Winch defenderam, contrariamente, que as ciências sociais deveriam ter um
estatuto epistemológico próprio, segundo eles, a acção humana é radicalmente subjectiva. Para estes
autores, as ciências sociais devem compreender os fenómenos sociais, a partir das atitudes mentais e do
sentido que os agentes conferem às suas acções. Esta perspectiva defende a ideia de que é preciso utilizar
métodos diferentes das ciências naturais, principalmente os qualitativos e indutivos, que nos levem a
explicar e compreender a realidade sociocultural.

Portanto, é preciso perceber que o auto conhecimento e o conhecimento intersubjectivo caracterizariam as


ciências humanas e sociais, desde o ponto de vista epistemológico. Neste caso, Dilthey (1992) chegou a
afirmar que as ciências sociais devem centrar-se não só nas causas dos fenómenos sociais, mas também
nas representações, nos sentimentos assim como nas interpretações dos mesmos. Por seu turno, Popper
(1986) afirma que a verdadeira diferença entre as ciências naturais e as ciências humanas e sociais
consiste na oposição entre ciências empíricas e os sistemas metafísicos.

Thomas Kuhn (2000), em oposição a Popper, faz uma distinção entre as ciências naturais das sociais. Pois
para ele não existe um paradigma (caminho) sobre a natureza humana que seja aceite por toda a
comunidade científica. Isto significa segundo ele, uma clara diferença relativamente às ciências humanas e

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sociais. Para este autor a história da ciência não é um processo cumulativo de conhecimento, porém um
processo construído a saltos, revoluções e mudanças radicais no paradigma científico de explicação.

Um paradigma é um conjunto de ideias que uma comunidade científica partilha sobre metodologias e
teorias.

1.2. Conceitos de Etnologia, Etnografia na Construção de uma Antropologia.

A Antropologia constrói-se tendo em conta quatro etapas que vão desde a observação, passando por
descrição, síntese e generalização. Ao fim do dia, é interpretado tendo em conta, o homem como o cerne
da questão. Com base na Etnologia, a Antropologia estuda os povos, mas é a Etnografia que finalmente
fortalece o estudo a partir de recolha de dados e informação no terreno, análise, síntese e reconstrução dos
factos.

1.2.1. Conceito de Etnologia e Etnografia

A Etnologia, segundo o Dicionário Universal de Língua Portuguesa (2000), é "a ciência que estuda os
factos e documentos recolhidos pela etnografia, ou por outra, o estudo dos povos e das raças nos pontos de
vista dos seus caracteres psíquicos e culturais, das suas diferenças e afinidades, das suas origens e relações
de parentesco, etc".

Por outro lado e de acordo com a mesma fonte, a Etnografia é "a ciência que estuda os povos, suas
origens, suas línguas, religiões, costumes, etc". Este conceito foi criado pelo Italiano Balbi (1826), e
aplica-se a observação no terreno, descrição e análise dos povos que nele vivem, fazendo uma
reconstrução dos factos tão fiel quanto possível.

Se a Etnografia representa a primeira etapa, então a Etnologia é a etapa seguinte da pesquisa


correspondente. Sem no entanto excluir a observação directa, a Etnologia faz a síntese e produção de
monografia.

Assim, a Antropologia, apoiada na Etnologia e Etnografia, representa a última etapa da síntese e


comparação. Reconhecendo a diversidade das sociedades, dos grupos e das culturas, a Antropologia
Cultural tem por objectivo, conhecer o homem na sua globalidade.

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O objecto de estudo da Antropologia Cultural e Social é o homem na sua dimensão biológica, social,
histórica e geográfica tendo em vista, o conhecimento do desenvolvimento humano.

A propósito do objecto de estudo da Antropologia Cultural e Social, como ciência recente, existem outras
opiniões, das quais temos a citar algumas:
 É a ciência do homem como ser cultural, assumindo a cultura como o conjunto de tradições
(RIBEIRO, 1998, p. 8).
 Indaga o significado e as estruturas da vida do homem como expressão da sua actividade mental
(BERNARDINI, 1978, p. 19).

Em resumo, a Antropologia constrói-se tendo em conta quatro etapas que vão desde a observação,
passando por descrição, síntese e generalização. No fim do dia, tudo deve ser interpretado tendo em conta,
o Homem, como o cerne da questão.

Perguntas de Controlo
1. O que entende por Antropologia enquanto Ciência Social?
2.Qual é diferença que existe entre Etnologia e Etnografia?
3.Qual é objecto de estudo da Antropologia?
4.Mencione as etapas basilares da construção da Antropologia que estudaste?

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TEMA 2
2.1. Antropologia cultural no domínio das ciências sociais.

A curiosidade de conhecer outros homens e povos que habitam a face da terra foi o motor propulsor da
Antropologia. Estudar não apenas "os outros" (alteridade), mas todos os seres humanos, passou a ser o
desafio da Antropologia.

De acordo com Layton (1997) nascimento da antropologia como ciência ocorreu a partir dos grandes
descobrimentos realizados por navegadores e viajantes europeus. Portanto, a curiosidade de conhecer
povos estranhos a da Europa, de saber como viviam e pensavam os homens de culturas tão distantes da
europeia, de descobrir que aspecto físico e que costumes tinham, levou à classificação e ao estudo dos
dados recolhidos, por exploradores, comerciantes e missionários que chegavam daquelas terras
longínquas. Neste caso, pode-se afirmar que os primeiros antropólogos tinham como características
comuns que era a distância do objecto de seu estudo, o qual consistia sempre em homens pertencentes a
culturas distintas da europeia e dela geograficamente afastadas. Eram portanto chamados de Antropólogos
de Gabinete.

Os antropólogos do século XIX, frequentemente relacionavam as características biológicas dos povos


com suas formas culturais. Mais tarde, estabeleceu-se que os traços biológicos e os culturais tinham menos
ligação entre si do que se acreditava. Isso levou a uma primeira subdivisão das ciências antropológicas em
antropologia física e antropologia cultural, esta última conhecida com o conceito de etnologia.

Foi a partir da segunda metade do século XIX em que a antropologia cultural começou a ser considerada
uma ciência humana, com as limitações próprias dessa categoria científica.

2.2. Relações da Antropologia com outras ciências

A Antropologia enquanto ciência que estuda o Homem na perspectiva da sua origem, hábitos, costumes,
manifestações ou expressões culturais relaciona-se com as várias ciências que passamos a mencionar:

2.2.1. Relação da Antropologia com a Arqueologia.

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Para a Antropologia, a Arqueologia é importante para o conhecimento do passado das sociedades. Por seu
turno, a antropologia é útil para a arqueologia, na medida em que ela estuda as sociedades muitas vezes
semelhantes a outras já desaparecidas.

2.2.2. Relação da Antropologia com a Linguística.

A linguística é também muito importante para a antropologia, não só porque o conhecimento do idioma se
faz necessário ao antropólogo nas pesquisas de campo, mas também porque muitos conceitos elaborados
pelos linguistas são fundamentais para a análise de determinados aspectos das sociedades.

2.2.3. Relação da Antropologia com a Sociologia.

A sociologia, por sua vez, pode até certo ponto ser considerada uma "irmã gémea" da antropologia. Em
princípio, o que distingue as duas ciências é o objecto de seu interesse: enquanto o sociólogo se dedica ao
estudo das sociedades modernas, o antropólogo se dedica na pesquisa e no estudo das sociedades
primitivas, embora o estudo das sociedades coloniais e de seu rápido processo de aculturação e
modernização social tenha desenvolvido um campo intermediário no qual fica difícil estabelecer os limites
entre o trabalho sociológico e o trabalho antropológico. A Antropologia vai recolher da Sociologia os
conhecimentos referentes as relações que o Homem desenvolve dentro de um grupo social ou
comunidade, emprestando desta feita, alguns hábitos culturais e assumindo hábitos culturais dos seus
semelhantes.

2.2.4. Relação da Antropologia com a Psicologia

O desenvolvimento da Psicologia permitiu à antropologia cultural utilizar novas bases para o estudo das
relações entre o indivíduo e a sociedade em que vive, da formação da personalidade e de outros aspectos
que interessam igualmente às duas ciências. A Antropologia apropria-se dos conhecimentos da Psicologia
para poder explicar porque é que os homens agem de diferentes maneiras. O comportamento de um
homem é uma construção social e não uma herança biológica. A ciência já provou que um casal de
drogados pode ter um filho médico, da mesma maneira que um casal de médicos, advogados ou
economistas, pode ter um filho drogado. Os corruptos (aqueles que se saqueiam bens da comunidade para
fins pessoais) não herdaram dos seus progenitores. Eles aprenderam essas práticas imorais, na sociedade.
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2.2.5. Relação da Antropologia com a Biologia

A Antropologia busca os conhecimentos da Biologia para conhecer a existência das diferentes raças
humanas (negros, brancos, mestiços, amarelos, etc).

2.2.6. Relação da Antropologia com a História

A História disponibilizou aos antropólogos muitos dados impossíveis de obter pela observação directa.
Portanto antropologia colocou à disposição dos historiadores novos métodos de trabalho, por exemplo
aqueles que se aplicam à análise da tradição oral. A Antropologia ao estudar o passado do Homem para
entender o que está por detrás das manifestações actuais desse homem, recorre a História. Como é que a
antropologia seria capaz de conhecer as causas das manifestações dos actuais munícipes de cidades e vilas
de Moçambique caracterizadas por deposição do lixo em qualquer parte (fora dos tambores e contentores
de lixo), se a História não contribuísse para a origem desse Homem que veio do campo para a cidade por
causa da guerra, a procura de boas condições de vida (emprego, ensino de qualidade, água potável e
saneamento do meio, boa assistência medica e medicamentosa), entre outras facilidades.

2.2.7. Relação da Antropologia com a Geografia

No que diz respeito à geografia humana, ela coincide com a antropologia na medida em que ela atribui aos
diferentes usos do espaço por parte do homem, à transformação do habitat natural etc. Ambas as ciências
estão, além disso, relacionadas com a ecologia humana. Portanto, a Antropologia recorre aos
conhecimentos da Geografia para entender porque é que o Homem prefere localizar-se mais em
determinados lugares em detrimento dos outros. É a Geografia que subsidia a Antropologia, a localização
dos diferentes ecossistemas favoráveis a fixação, desenvolvimento e manutenção do Homem sem investir
grandes técnicas e tecnologias. O Homem vive mais próximo do litoral por causa da pesca como factor da
sua subsistência. Evita viver nos planaltos por causa do intenso frio é característica dessas regiões, prefere
viver próximo dos rios e lagos para aproveitar a água potável bem como terras húmidas, próprias pra a
prática da agro-pecuária, etc.

2.3. Definição, objecto e campo de abordagem da Antropologia


2.3.1. Definição e objecto de estudo da Antropologia
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Entre as muitas ciências que têm por objecto o ser humano, a antropologia, "ciência do homem" (segundo
a etimologia é o estudo do ponto de vista das características biológicas e culturais dos diversos grupos em
que se distribui o género humano).

A antropologia durante os séculos XVII e XVIII, teve como objecto de estudo as sociedades ditas
primitivas/estranhas ou atrasadas, que bem como sabemos que a partir da inclusão científica e exclusão
ideológica deviam ser estudadas por serem diferentes.

Este objecto de estudo, permitia distinguir a Antropologia da Sociologia que esta destinava somente ao
estudo das sociedades europeias. Um aspecto marcante deste período é o facto do investigador se
encontrar separado do seu objecto, daí que o saber antropológico neste período foi incrementado graças as
informações dos missionários, cronistas, viajantes, soldados, comerciantes, etc.

Portanto quando a Antropologia por volta do séc. XIX se transformou em disciplina científica, definiu de
forma clara e inequívoca como seu objecto material o homem, e como objecto formal o homem e o seu
comportamento. Neste contexto, é legítimo afirmar que o objecto de estudo da antropologia é o homem
sob ponto de vista sociocultural, visto que o homem é simultaneamente produto e produtor de cultura
dentro de um determinado habitat.

2.3.2. Métodos e técnica de investigação em Antropologia

 O Método de Trabalho em Antropologia

Cientificamente, o método significa o caminho estratégico que se usa para se atingir um determinado
objectivo. Todas as ciências, tanto as naturais como as sociais, têm um método peculiar que os
caracterizam e distinguem de outras ciências. Desta maneira, a Antropologia tem os seus métodos. Alguns
deles são, o Histórico, o Estatístico, o Etnográfico, o Etnológico, o Comparativo, o Monográfico, entre
outros.

 O método Histórico é aplicado na pesquisa de eventos que acontecem numa sociedade com o
passar do tempo, e por via disso, compreender as diferentes transformações que vão ocorrendo na
cultura do Homem.

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 Por sua vez, o método Estatístico, serve para apresentar a variabilidade das diferentes
perspectivas antropológicas (variação das dimensões do corpo, religião, etc).

 O método Etnográfico serve para descrever as sociedades humanas.


 Enquanto isso, o método Etnológico é usado na comparação das diferenças e semelhanças dos
diferentes meios ou tempos culturais.

 O método Monográfico é usado para estudar com profundidade as diferentes dimensões ou


perspectivas de um grupo humano.

 O método Genealógico aplica-se principalmente no estudo do parentesco bem como em todas as


suas consequências como sejam, sociais, culturais, políticas, etc. O estudo do parentesco contribui
no ordenamento territorial, espacial de um grupo social.

 A Observação participante é a principal técnica da Antropologia sem colocar de lado, a


Entrevista, o Questionário ou os Formulários. Ela estuda o Homem. Por meio da Observação
Participante, a Antropologia faz síntese de pequenos grupos sociais e daí extrapola para a realidade
de uma sociedade. Nas unidades sociais mais pequenas (comunidades), o observador descobre a
relação e a coerência interna do ponto de vista cultural, económico, social, religioso, etc. Esses
aspectos são facilmente observáveis pelo investigador, num grupo social pequeno ou comunidade.

Para estudar uma sociedade, o antropólogo, colhe uma amostra. O caro estudante pode imaginar quão é
difícil encontrar uma resposta numa multidão. No entanto, numa pessoa, o assunto é obviamente mais
fácil. Estudar superfícies de grandes dimensões é quase impraticável, por essa razão o Antropólogo centra
a sua atenção em espaços restritos para explorar o essencial e dai partir para a sociedade inteira.

Com base na Observação Participante, o Antropólogo explora as especificidades de grupos sociais


pequenos tanto por dentro como por fora e as relaciona com a sociedade, como um todo. É uma clara
extrapolação dos elementos locais de uma grandeza social para o global.

A Observação Participante enquanto técnica da Antropologia tem as seguintes características:


 Interdisciplinaridade, isto é, para explicar o seu objecto de estudo, a Antropologia recorre aos
préstimos de outras ciências sociais bem como das suas respectivas técnicas;
 Comparação, quer dizer, a Antropologia faz a comparação entre a realidade estudada e outras
realidades conhecidas;

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 Histórico, que compreende o cruzamento entre os acontecimentos transversais e os


acontecimentos longitudinais;
 Holístico, que é o estudo das variadas dimensões para poder compreender o facto social na sua
globalidade.
2.4. Os Ramos da antropologia

No que diz respeito aos Ramos da Antropologia temos a mencionar, a Antropologia Física, Cultural,
Social, Económica, Política, Aplicada, Psicanalítica.

Portanto, cada um destes ramos estuda com especificidade um assunto, no entanto todos têm o homem
como centro de atenção, a volta do qual, gravita qualquer um destes estudos. Ora vejamos:

2.4.1. Antropologia Física

Estuda as características biológicas do Homem, tais como, a diferenciação dos sexos, a raça, a
hereditariedade (aquilo que se transmite por reprodução de ascendentes para descendentes), nutrição, etc.
Entre outros sub-campos, a Antropologia Física engloba a Anatomia Comparada, a Fisiologia Comparada
e a Patologia Comparada.

2.4.2. Antropologia Cultural

Dedica-se ao estudo da origem das culturas e sua transmissão. Em outras palavras, a Antropologia
Cultural preocupa-se em conhecer metodicamente, as relações que se estabelecem entre os diferentes
níveis numa determinada sociedade.

2.4.3. Antropologia Social

É campo de estudo da Antropologia Social, o relacionamento das leis gerais de vida em sociedade que
sejam válidas, aceites e respeitadas tanto em sociedades tradicionais como em sociedades modernas
(industrializadas). Com maior rigor, a Antropologia Social procura entender a sociedade na perspectiva do
seu funcionamento e dos seus actos.

2.4.4. Antropologia Económica

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É o ramo da Antropologia que se interessa pelas condições de produção material, as trocas, os direitos
sobre os objectos, as formas de utilização dos produtos, incluído os aspectos ecológicos e tecnológicos.

2.4.5. Antropologia Política

Preocupa-se particularmente no estudo do poder da autoridade, da chefia do governo, etc. Alguns desses
aspectos especulam a origem do Estado, do Direito, etc.

2.4.6. Antropologia Aplicada

Ocupa-se na utilização prática das teorias e dos resultados dos inquéritos etnográficos com o objectivo de
manipular as sociedades durante a administração dessas sociedades (política colonial que forçava a
população indígena das colónias a assimilar a cultura colonial Portuguesa).

2.4.7. Antropologia Psicanalítica

Estuda essencialmente os sonhos, os mitos, os contos, as práticas mágicas, as cerimónias tradicionais,


alguns aspectos da vida quotidiana, as técnicas de educação, etc.

Perguntas de Controlo
1. Apresente alguns exemplos que mostram a relação entre a Antropologia e a Sociologia.
2. Porque é que a Antropologia precisa dos conhecimentos da História para estudar o Homem nas
suas diferentes perspectivas?
3. Em que dimensão a Antropologia se encontra com a Psicanálise?
4. Para que serve o método estatístico na Antropologia?

5. Explique com suas palavras a comparação como uma das caracteristica da obsevação participante
em antropologia.

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TEMA 3

HISTÓRIA DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO

3.1. História da Antropologia

A emergência da Antropologia coincide com as primeiras reflexões do Homem sobre si e sobre a natureza.
Uma parte dessas reflexões chegou aos nossos dias por via de lendas e mito. Este período segundo Paul
MERCIER, foi visto como período da antropologia espontânea ou período d a Pré-história da
Antropologia.

As contribuições deste período foram de diversas natureza e origem tais como: ícones e artes (pinturas
rupestres, esculturas), manuscritos dos primeiros povos como a escrita dos Babilónios, Egípcios, Hindus,
Fenícios etc).

Dentro dessas contribuições, Martinez (2004), diz que o Renascimento e com as viagens de exploração,
existiram grandes contactos que deram origem a vários tratados. Surgiram acerca das afinidades e
diferenças entre os homens e as respectivas culturas. O tempo moderno ou tempo das luzes ou culto a
razão segundo a mesma fonte, empresta um antropocentrismo base para o estudo dos factos tipicamente
humanos.

Segundo Layton (1997), a Antropologia é um facto histórico, isto é, uma actividade humana localizada no
tempo e no espaço, com um mínimo de sistematização. As orientações da Antropologia são várias tanto no
tempo como em diferentes lugares.

3.1. Critérios que sustentaram os diferentes rumos dos estudos antropológicos

 Critério Objectivo
Este critério avalia a consistência das orientações teóricas e a legitimidade dos métodos dessas orientações
teóricas.

 Critério Subjectivo
Critério que avalia os motivos que obrigaram os diferentes percursores a seguirem determinados métodos
de pesquisa bem como as razões de sucesso ou de fracasso verificados na aplicação desses métodos.

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 Critério de Utilidade
Verifica o alinhamento entre as orientações teóricas e o motivo da sua possível aplicação prática.
É importante saber que as variadas pesquisas antropológicas não são propriedade privada de um país
enquanto nação, tão pouco, pertença de um povo, razão pela qual, o desenvolvimento da Antropologia
nunca foi regular. Assim sendo, qualquer tentativa de divisão da história da Antropologia é puramente
arbitrária. Entretanto, para permitir uma sistematização e compreensão bem como, para facilitar a
localização das diferentes perspectivas teóricas e dos seus percursores, vale a pena citar os momentos da
história em que a Antropologia mais se expôs aos seus utentes ou destinatários:

3.2. Períodos de Desenvolvimento de Antropologia


3.2.1. O Período de Formação

Segundo Martinez (2009), Antropologia, tal como qualquer outra ciência, não tem uma data de
nascimento exacta. Ela passa por um processo lento de recolha, acumulação e sistematização dos
diferentes conhecimentos, em diferentes momentos históricos e em diferentes lugares.

A pré-história da Antropologia abrange o período em que Homem passa a fazer uma reflecção sobre a sua
origem e a do Universo, portanto, é o período da Antropologia espontânea, no dizer de Paul MERCIER.
Foi nessa época que as diferentes manifestações culturais do Homem, tais como, desenhos, gravuras,
esculturas, ferramentas, etc, trouxeram importantes contribuições na Antropologia.

Por outro lado, importa referir as contribuições dos povos assírios, egípcios, babilónicos, fenícios, hindus,
sumérios, greco-romana, etc. Alguns nomes que merecem ser citados são os de Heródoto (425-499 a.C),
que é considerado o verdadeiro pai da Antropologia, por ter viajado para vários países para observar e
conhecer a cultura dos povos na dimensão da sua origem, suas actividades bem como o seu destino. Os
seus estudos são apresentados na sua obra: A História. Outros estudiosos não menos importantes da
Antropologia são, Platão, Aristóteles, Hipócrates, etc.

No antigo Império Romano, podem ser recordados pela sua importância na Antropologia, estudiosos como
Lucrécio, César, Tácito, Galeno, Marco Aurélio, etc.

A IDADE MÉDIA é a época conhecida como a da formação e reformulação dos povos e de pensamentos.
Foi nessa época em que a Universidade nasceu debaixo da sobra das Catedrais e de Mosteiros. Estão

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intrinsecamente ligados a essa época, o Santo Agostinho (norte de África), Avicena, Averrois, Bacon, este
último que se notabilizou como um defensor acérrimo do método experimental.

Sem querer fazer um inventário aturado sobre os percursores da Antropologia, recordemo-nos de igual
modo, as contribuições do chinês Chuang Tse e do árabe Ibn Khaldum, este último, filósofo social do Séc.
XIV.

Por seu turno, a IDADE MODERNA na história do conhecimento, foi caracterizada pela mudança
sensível e pelo culto a razão, portanto, foi essa, a época do Iluminismo que começa a relegar para o
segundo plano, os estudos cosmográficos e passa a centra-se mais na realidade humana. De igual modo,
foi a época em que o método experimental, bem como a indução começam a ser cultivados. É também
nesta época que o conhecimento começa a ser especializado. Na Antropologia propriamente dita, foi
desenvolvida a Antropologia Cultural, devido à grandes descobertas marítimas feitas pelos missionários,
políticos e comerciantes; a sistematização da Antropologia Física e o surgimento da Arqueologia.

Ainda de acordo com Martinez (2001), no desenvolvimento do conhecimento, o Séc. XVIII foi
caracterizado pela realização de missões científicas levadas a cabo por naturalistas, geógrafos e
humanistas com a finalidade de observar e colher informações em forma de verdadeiras pesquisas
científicas. Alguns exemplos aconteceram no Nordeste de África; Na Oceânia, cujo principal mentor foi o
Capitão Cook e no interior da África, depois da organização da African Association (Grã-Bretanha, 1788).

O outro marco histórico não menos importante na história da Antropologia, diz Martinez (2001), é
conhecido pela recolha de dados etnográficos levada a cabo pela Sociedade Etnológica de Paris.

Finalmente importa referir que o período da formação da Antropologia é marcado pela especialização
deste ramo do saber em pré-história e Arqueologia.

3.2.1. O Período da Convergência

Para Martinez (2004), este é o período da construção do conceito de evolução. É caracterizado por
discussões discordantes sobre a evolução da humanidade.

De acordo com F. Barbachano, as várias formulações relacionadas com a sociedade e a cultura que
surgiram nessa época convergiram para três objectivos:
 Origens.

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 Idade.
 Mudança.

O outro facto histórico que merece destaque é o aparecimento de várias revistas e numerosas associações
científicas como são os casos de DARWIN, TYLOR, HERBET SPENCER, COMTE, PAUL BROCA,
RITTER, LE PALY, QUETELET, etc.

3.2.2. O Período da Construção

Apesar deste período segundo Martinez (2001) ter sido marcado pelo crescimento do número de
associações ou sociedades de antropologia como são os casos de Gottingen, Cracóvia, Madrid, Nova
Iorque, Berlim, Viena, Estocolmo, etc, o marco mais importante é assinalado por Charles Darwin com o
lançamento da sua obra clássica: A Origem das Espécies. Foi nessa época que a teoria do Evolucionismo
atinge o seu auge e como consequência, nasce a Antropologia Moderna de Edward TYLOR.

Edward TYLOR, autor da obra Cultura Primitiva, publicada em 1871, mostra a evolução da religião no
tempo, aplicando o método comparativo. TYLOR é considerado o mais importante estudioso deste tempo
ao definir a cultura e ao assumir a mesma, como objecto de estudo da Antropologia. Foi TYLOR que
também se empenhou no estudo do fenómeno religioso e sistematizou o objecto bem como o método de
estudo da Antropologia. Outros seguidores de TYLOR são BASTIAN, BACHOFEN, SUMNER MAINE,
MCLENNAN.

A outra obra científica que marca esta época é a publicação do livro: A Sociedade Primitiva, de Lewis
MORGAN em 1877, na qual o autor mostra o caminho seguido pela organização familiar nos vários
estádios ou momentos de desenvolvimento.

A falta de pesquisa de campo que viria a enfraquecer consideravelmente o vigor do método e do carácter
científico do mesmo mereceu crítica discordante por parte de outros estudiosos da época.

3.2.3. O Período da Crítica

Este período vai desde o início do actual século até aos dias de hoje. Devido ao progresso dos meios de
comunicação que contribui para a divulgação de ideias, o crescimento das ciências paralelas, novas
abordagens foram propostas e a Antropologia Cultural foi reformulada. Por outro lado, é neste período que
nascem outras orientações antropológicas como a psicologia, a linguística, etc.

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Com a realidade sócio-cultural a tomar novos e diferentes caminhos dos anteriores; Com os povos a
deixarem der ser meros objectos de estudo e passarem a ser também actores relevantes desses estudos, o
estudo da Antropologia ficou mais enriquecido.

Importa citar neste período, o nome do MALINOWSKI que introduz na Antropologia, o método do estudo
do campo. Foi o MALINOWSKI que na sua teoria de Funcionalismo, abre uma nova visão nos estudos da
Antropologia, pese embora, as criticas que ia recebendo de outros estudiosos, como é de esperar, em
qualquer pesquisa científica. Os outros seguidores de MALINOWSKI foram Émile Durkheim, Radcliffe-
Brown, Sèvis-strus, etc.

Perguntas de Controlo
1. Defina Antropologia com suas próprias palavras?
2. Qual é a diferença que existe entre o critério objectivo e o critério subjectivo enquanto
determinantes dos rumos das pesquisas antropológicas?
3. Para que servia o critério de utilidade num estudo antropológico?
4. Quais são as principais características do período da formação da Antropologia?
5. Que factos antropológicos convergiram no estudo da Antropologia?

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TEMA 4

AS CORRENTES TEÓRICAS DA ANTROPOLOGIA

TEMA: Evolucionismo, Difusionismo Funcionalismo e Estruturalismo

Introdução
Nesta unidade tematica, o estudante ira debrucar-se sobre as priniciais correntes do pensamento
antropologico e suas caracteristaicas.

Conteúdo
4.1. O Evolucionismo Cultural

Como é óbvio para qualquer um, o termo evolucionismo deriva da palavra "evolução".
De acordo com Martinez (2009), "o período da construção da antropologia foi dominado pela orientação
evolucionista".

Desde a antiguidade clássica que os pensadores daquela época começaram a preocupar-se em entender a
origem do Homem e do Universo, do movimento e da transformação. Alguns desses exemplos podem ser
encontrados no Génesis, nos textos das civilizações mesopotâmicas, nas teorias religiosas do Oriente, nos
poemas épicos da Índia, da Pérsia, da Suméria e em diversas narrações. Por outro lado, o caro estudante,
pode confirmar isto, a partir, por exemplo, da leitura da Bíblia Sagrada.

O Evolucionismo emerge no século XIX, pese embora a ideia da evolução tivesse já surgido nos dois
séculos anteriores. Para ser mais concreto, o Evolucionismo começa a ser considerado como corrente
antropológica, a partir da segunda metade do século XIX, mais concretamente, com a ideia do progresso
das civilizações, expressa por Condorcet e no Iluminismo, onde brotam as bases de crescimento dessa
teoria.

Se bem que está recordado, o século XIX é conhecido não só como o século das várias transformações
sociais mas também como o século do progresso científico e tecnológico. Os sinais desse progresso são
demonstrados pela Revolução Industrial, a partir da invenção do motor a vapor; pelo crescimento da

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produção, mercê da introdução de tecnologias modernas e de insumos agrícolas melhorados; pela


explosão demográfica devido aos avanços da medicina convencional; pelo crescimento da urbanização
que se deveu ao aumento e melhoria dos hábitos de vida e de consumo, os quais, na totalidade, serviram
de evidentes indicadores sócio-económicos da capacidade evolutiva do homem.

Entretanto, as ideias do Evolucionismo estão baseadas nos estudos feitos por Charles Darwin, os quais
aparecem sistematizados na sua obra: A Origem das Espécies.

Tal como defende Martinez (2004, p. 60), o gérmen das teorias evolucionistas atingiu o seu auge no
século XIX, em virtude de ter havido manifestação de confiança por parte dos estudiosos, na capacidade
do homem, de fazer uma história cada vez mais grandiosa. Como pode ver, todos esses acontecimentos
emitiam sinais claros da existência da dinâmica humana que clamava por uma explicação assente no
conhecimento científico do próprio homem.

Entretanto, várias foram as contribuições trazidas para o evolucionismo, de entre elas são apontadas, as de
Lewis MORGAN, publicadas no seu livro intitulado, (Anciety Society, 1877), cujos estudos estão
alinhados com à organização social. Segundo Bernardi (Ibid., p. 179), MORGAN fez um "(…) estudo
científico e sistemático do parentesco, como fundamento necessário da organização social e política".
Segundo Martinez (2001), MORGAN definia três grandes estádios do evolucionismo, nomeadamente, a
selvajaria, a barbárie e a civilização. Nessa altura, o evolucionismo considerava que o ponto mais alto da
evolução das sociedades (portanto, o estado terminal), era a sociedade Ocidental.

De acordo com Colleyn, (1998), o outro percursor do evolucionismo foi o Sir Edward B. TYLOR, autor
da obra intitulada por (Cultura Primitiva, 1871). Este estudioso pensava que as religiões evoluíam do
animismo para o monoteísmo passando pelo culto da natureza e pelo politeísmo. Mais tarde, essa teoria
foi criticada, todavia o rigor que Tylor emprendia nas suas pesquisas, designadamente, crítica as
informações de segunda mão (crónicas antigas, investigações de missionários, relatórios administrativos,
etc,) a preocupação em elaborar um método científico, o cuidado de não simplificar arbitrariamente a
realidade, suplantaram questionamentos da teoria.

Em conformidade com Bernardi (1978, p. 177), Edward B. TYLOR definiu a cultura de tal maneira que os
aspectos que arrola, como são os casos da integração étnica, estrutura e função, relativismo cultural, o
individuo e a comunidade, constituem pontos-chave nos estudos antropológicos.

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Sir James Frazer, citado por Colleyn, (1998), editou doze volumes nos quais se destaca (O Ramo de Ouro,
1a Edição, 1890). Valeu-lhe o talento de escritor mas também o mérito no interesse aos modos de
pensamento, nas relações entre magia e religião, no totemismo e sobretudo pelo tema da realeza sagrada.
FRAZER defendia que todas as sociedades passavam por três estádios, a seguir designados: o mágico, o
religioso e o científico.

Entretanto, a teoria evolucionista viria a apoiar-se no transformismo de Monet LAMARCK. De acordo


com Martinez (2001), Monet LAMARCK é considerado, o fundador da corrente evolucionista. Uma das
célebres ideias que o eleva para tal estatuto, é a sua tese na qual LAMARCK defende o seguinte: "a
função cria o órgão".

4.1.1. Características Principais do Evolucionismo

De uma maneira geral, os evolucionistas debruçaram-se sobre temas tais como, as instituições religiosas,
as instituições familiares, as instituições jurídicas e até aspectos da cultura material, isto é, o objecto de
estudo era diversificado.

Os evolucionistas focalizavam os seus estudos no "exótico" e nos povos "primitivos", ou melhor, nos
aspectos excepcionais dos fenómenos contemporâneos. Essa preferência deve-se ao facto dos
evolucionistas acreditarem que a cultura era um fenómeno baseado numa única linha.

Na interpretação das instituições sociais, os evolucionistas "(…) acreditavam que, voltando os olhos ao
passado, teriam subsídios para determinar como a história da cultura humana se comportaria" (MELLO,
2005, p. 204). Assim, os evolucionistas introduziram o tempo cultural, como uma nova dimensão
cronológica e esta foi a outra característica do evolucionismo, assente basicamente na reconstituição do
passado para explicar o que acontecia à sua volta.

Finalmente, o uso alargado do método comparativo que vinha sendo utilizado nas ciências sociais,
constituiu uma das características dos evolucionistas.

Entretanto, a falta de rigor na aplicação desse método, a falta de crítica das fontes das informações bem
como a ausência de trabalho de campo, pesaram sobremaneira no enfraquecimento desta corrente. Importa

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aqui ressaltar que as principais dúvidas residiam nos factores da evolução cultural, ao mencionarem
aspectos subjectivos de carácter psicológico.

4.2. O Difusionismo Cultural

O difusionismo enquanto corrente antropológica, baseou-se na difusão e no contacto entre os povos, como
factor da dinâmica cultural com um reconhecimento humano e universal. Esta corrente antropológica teve
o seu apogeu, no período da crítica (1900-1930).

O Difusionismo é assim considerado a corrente antropológica que se opunha ao Evolucionismo, o qual


vigorava desde o nascimento da Antropologia. Segundo Colleyn (1998) os Difusionistas acreditavam que
na história da humanidade, "as verdadeiras invenções são em número reduzido e propagam-se a partir de
centros culturais. É evidente que existe a difusão cultural: o nosso alfabeto veio dos Fenícios, os nossos
algarismos são árabes, o cristianismo veio do Médio-Oriente, etc."

Para explicar as semelhanças que existiam entre as culturas particulares, o Difusionismo baseou-se em
pressupostos históricos, dai que Luis Gonzaga de Mello (1986), também o apelidou de historicismo.

Para Layton (1997), foi o Difusionismo que pela primeira vez, se preocupou em adicionar rigor aos
métodos de pesquisa da Antropologia Cultural ao introduzir a pesquisa dos fenómenos e factos no campo,
com uma considerável intensidade. Assim, esta corrente antropológica começa a estudar os povos
etnograficamente, ou seja, a partir das suas origens, línguas, religiões, costumes, partindo da recolha de
dados e informações no campo e posterior elaboração teórica dos mesmos. Desta maneira, foram
desenvolvidas outras técnicas de pesquisa, com destaque para a observação participante e o reforço da
linguística, como outro ramo da ciência.

O foco mais relevante da pesquisa passou a ser o estudo das culturas particulares, no lugar da cultura
universal, facto que indubitavelmente conferiu maior segurança nas informações recolhidas no campo e
um maior conhecimento dos fenómenos que até hoje são relegados para o segundo plano, no decorrer de
uma pesquisa antropológica.
Apresenta-se aqui, um marco histórico que importa ressalvar: O ressurgimento do psicologismo, do
funcionalismo e do estruturalismo como tendências teóricas da Antropologia Cultural.

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Esta corrente, congrega várias tendências ou escolas da antropologia, algumas das quais, a seguir são
mencionadas: A escola Inglesa, a escola Alemã, a escola Americana, etc.

4.2.1. Características da Escola Difusionista

a) A Escola Inglesa
De acordo com Martinez (2009) a Escola Inglesa foi criada na segunda década do século XX pelo
estudioso Grafton Elliot SMITH bem como, pelo seu discípulo, o W.J. Perry, o qual se tornou o
responsável na implantação definitiva dessa instituição.

SMITH introduziu na Escola Inglesa, o fenómeno do paralelismo cultural, facto que leva a escola a
defender que a difusão era o principal motor da dinâmica cultural. E foi com esse pressuposto que esta
escola assumiu ser difícil, a existência da inovação, ou seja, a criação de novos valores culturais.

Baseado no factor difusão, a escola Inglesa considerava que a cultura de todo o mundo moderno era
basicamente mesma (teoria pan-egípcia).

O método de pesquisa com que esta escola ficou conhecida, era pouco científico e alimentado por
especulações. Embora o método histórico advogado por esta escola seja comummente aceite, o mesmo
tinha o cuidado de não manipular informações inseguras e duvidosas.

Finalmente ficou claro que a difusão não é a única explicação plausível para a existência de semelhanças
entre as diferentes culturas do mundo.

b) A Escola Alemã (conhecida por Escola de Viena ou Histórico-Cultural)

GREBNER foi o principal fundador da Escola Alemã. Outros percursores desta escola são: Fr. RATZEL,
L. FROBENIUS, W. FROY Pe. W. SCHMID.

A Escola Alemã difere da Escola Inglesa por aquela utilizar na sua pesquisa, a metodologia baseada em
informações mais seguras, representando deste modo, uma valiosa contribuição para a Antropologia.

Na análise dos traços culturais semelhantes entre os povos (língua, religião, maneira de cultivar e de
preparar os alimentos, etc,), esta escola dá primazia aos aspectos particulares.

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Para o F. GRAEBNER, o estudo analítico da difusão cultural enquanto corrente antropológica, deve ter
em conta, o número e a complexidade de informações recolhidas, onde, quanto maior for o número de
semelhanças constatadas, maiores são as probabilidades de ter havido empréstimos ou cedências de traços
culturais (Mello, 2005, p. 228). Importa recordar que, qualquer cultura cede ou empresta alguns traços, ao
mesmo tempo que adquire ou recebe traços de outras culturas.

Para terminar com esta dialéctica, vale a pena referir que, tanto a escola Inglesa como a escola Alemã,
basearam-se no trabalho de gabinete, e por assim dizer, ambas as escolas aproximaram-se aos métodos de
pesquisa dos evolucionistas.

c) A Escola Americana

Segundo Martinez (2001), o principal defensor da Escola Americana foi o Franz BOAS. Em seguida
foram, Alfred KROEBER, Clark WISSLER, P. RADIN, E. SAPIR, Ruth BENEDICT, Margareth MEAD.
Estes preferiram reduzir o campo de estudo da antropologia, argumentando para o efeito que a cultura era
uma disciplina complexa e como tal, não podia ser estudada até atingir o seu conhecimento completo e
universal. Assim, dedicaram a pesquisa da cultura em áreas pequenas, tornando deste modo, o estudo não
só mais fácil como também mais seguro.

Nas suas pesquisas, esta escola preferiu trabalhar com estudos e pesquisas de campo, privilegiando assim,
as informações e dados primários.

O facto de a escola ter-se empenhado exaustivamente na questão descritiva de dados e informação


antropológica, pode ter permitido a transformação da etnologia em etnografia.

Pese embora o receio aparente do perigo que esta escola representava, havia por detrás da intenção, a
necessidade expressa de recolher o máximo de documentação.

Foi a partir deste método que, novas abordagens começaram a surgir no campo da antropologia como
ciência.

4.3. O Funcionalismo

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Para Martinez, o Funcionalismo é uma corrente antropológica fundada por Bronislaw MALINOWSKI
nascido na Polónia em 1084. A partir de 1914, com base nos seus trabalhos de campo, realizados nas ilhas
Tobriand (Melanésia). Ele preocupou-se em estudar a natureza humana e a cultura. Uma das suas obras
mais representativa, publicada dois anos depois da sua morte, é intitulada por: “Uma Teoria Científica da
Cultura”. Importa referir que os trabalhos dos sociólogos franceses influenciaram sobremaneira ao
MALINOWSKI e ao RADCLIFFE-BROWN, considerados principais antropólogos Ingleses do século
XX.

Portanto, o tamanho das amostras sobre a qual incidiam as pesquisas de MALINOWSKI eram as
instituições (famílias, grupos de sexos, membros de uma aldeia, grupo de sacerdotes, etc,).

Com o objectivo centrado na explicação do funcionamento de uma cultura num determinado momento, o
funcionalismo ultrapassa sem contestação, as tendências do conhecimento que até então dominavam a
geração dos intelectuais daquela época, como seja, a preocupação pela origem do Homem e do Universo,
assim como, os problemas das transformações sócio-culturais que vinham tendo lugar.

Foram também as preocupações relacionadas com as noções de utilidade (para que serve?), de casualidade
(qual é a razão?) e de sistema (conhecimento da interdependência dos elementos num conjunto coerente),
que determinaram o nascimento desta corrente antropológica.

MALINOWSKI definiu a cultura como sendo a "aparelhagem instrumental que permite ao homem
resolver da melhor maneira, os problemas concretos e específicos que deve enfrentar no seu meio, quando
tem de satisfazer as suas necessidades" (Id.). Para ele a cultura é também uma extensão do mundo
artificial, dado que, a satisfação das necessidades básicas do homem resulta das condições impostas por
cada cultura.

Para MALINOWSKI, a natureza humana exprime o determinismo biológico que impõe a toda a
civilização e a todos os indivíduos, a realização de funções corporais como sejam, respirar, dormir,
repousar, caminhar, reproduzir-se, etc. Enquanto isso, "a cultura é o conjunto de padrões de
comportamento, das crenças, das instituições" (a família, o grupo de vizinhos, grupo de pescadores, grupo
de estudantes, etc.,) e de outros valores morais e materiais, característicos de uma sociedade, civilização.

Foi MALINOWISKI quem revolucionou a investigação, privilegiando assim o inquérito do campo e a


elaboração do método de observação-participante. De acordo com o funcionalismo desenvolveu-se logo

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depois da colonização da Nova Guiné e da África Oriental pelo Reino Unido e por outras potências
europeias, tendo a sua investigação sido efectuada junto de povos colonizados.

Por outro lado, DURKHEIM defendia que os factos sociais deviam ser estudados separadamente da
consciência de pessoas como indivíduos que compõem uma sociedade.

O outro defensor do funcionalismo foi o A. R. RADCLIFFE-BROWN que se interessou mais pelos


sistemas de relações entre homens e grupos. Antropólogos de orientação sociológica, os seus estudos
basearam-se na estrutura e função. Para explicar os termos, estrutura e função, ele socorre-se da analogia
que existe entre esses termos e um organismo vivo. Para ele, a estrutura deve ser definida como uma série
de relações entre entidades enquanto função é qualquer actividade periódica (trabalhar, caminhar,
repousar, etc,), desempenhada na vida social, como um todo.

De acordo com Layton (1997), os funcionalistas utilizavam três diferentes definições de função que
passamos a citar:

 A primeira definia a função numa perspectiva quase matemática. "Qualquer costume de uma
comunidade está em interligação com os restantes, pelo que cada qual condiciona o estado de
outro".

 A segunda com a perspectiva fisiológica e utilizada principalmente por Malinowiski apresentava a


"função dos costumes como a satisfação das necessidades biológicas de base do indivíduo, através
da cultura".

 A terceira foi apresentada por Radcliffe-Brown com base nas teorias de Durkheim e que frisava, "a
função de cada costume é o papel por ele desempenhado na manutenção da integridade do sistema
social".

Por seu turno, Radcliffe-Brown defendia que "a função de um costume era contribuir para a continuação
da vida do organismo social" (Radcliffe-Brown 1952:178-9).

Uma das principais críticas desta corrente de conhecimento é a de não explicar a génese e as
transformações de uma cultura ou organização.

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Por seu turno, H. SPENCER via a função como a finalidade procurada intencionalmente. E. DURKHEIM
defendia a tese segundo a qual, a função era a causa eficiente dos processos sociais de adaptação, de
organização e de interacção (Rivière, 2000, p. 52).

Com base na lógica do sistema assumido pela cultura em exame ou seja, a visão sistémica, os
funcionalistas tentam explicar as modalidades de cada cultura. Os funcionalistas tinham a convicção de
que a cultura de um povo podia ser conhecida sem no entanto, estudar a história desse povo.

Assim, as bases sobre as quais se assenta o funcionalismo, estão intrinsecamente ligadas às tendências
organicistas da sociologia, facto que faz o funcionalismo empregar métodos de pesquisa semelhantes aos
das ciências naturais. Para o funcionalismo, a sociedade e a cultura são vistos como um todo, com as
partes integrantes dessa unicidade, inter-ligadas entre si, à semelhança de um organismo biológico e os
seus respectivos órgãos.

4.4. O Estruturalismo

De acordo com Martinez (2009), o Estruturalismo teve como principal percursor, o cientista Claude
LÉVI-STRAUSS, na década de sessenta (1950-1960), pese embora, Alfred R. RADCLIFFE-BROWN
tenha contribuído com os seus conhecimento nesta corrente que é considerada a corrente mais recente de
todas as que estudaste.

Ainda de acordo com Layton (1997), a principal diferença entre a teoria de Radcliffe-Brown e a de Lèvi-
Strauss é a seguinte: Enquanto o primeiro estudava os aspectos regulares da acção social (que via como
expressão das estruturas sociais construídas por redes e grupos), o ultimo localizava as estruturas no
pensamento humano, encarando a interacção social como a manifestação dessas estruturas cognitivas.

Para esta corrente antropológica, a estrutura "é o sistema simbólico das relações constantes entre os
factos" corroborando assim, com a tese de Alfred R. RADCLIFFE-BROWN, segundo a qual, a estrutura
como sendo a disposição ordenada das partes ou elementos que compõem um todo.

De uma forma mais abrangente, a estrutura associa sistemas como, o parentesco, a religião, a política,
enquanto, no sentido restrito, ela enaltece a rede de relações entre as posições sociais.

Importa aqui clarificar que, a noção de estrutura social não se refere à realidade empírica mas aos modelos
construídos de acordo com essa tal estrutura. É aqui onde reside a diferença entre a estrutura social e as

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relações sociais. As relações sociais são, por assim dizer, a base sobre a qual se assenta a construção de
modelos que tornam expressa, a estrutura social.

Para assumirem categoricamente o estatuto de estrutura, o modelo atrás referido deve cumulativamente
satisfazerem, os seguintes requisitos:

 Uma estrutura deve apresentar o carácter de um sistema, quer dizer, uma estrutura deve
manifestamente ser um conjunto ordenado de elementos de tal forma que, a modificação
de um deles, signifique necessariamente, a modificação da estrutura, como um todo.

 Todo o modelo seja parte integrante de um grupo de transformações, cada uma destas
transformações devem corresponder a um modelo da mesma família, de tal modo que, o
conjunto dessas transformações constitua um grupo de modelos.

 Os pré-requesitos ou propriedades de uma estrutura acima mencionados devem permitir


antever, de que maneira reagirá o sistema, em caso de modificação de um dos seus
elementos que o integram.

 O modelo deve ser construído, de tal forma que o seu funcionamento possa explicar todos
os factos observados.

Para o Claude LÉVI-STRAUSS, a comunicabilidade humana está na raiz das relações culturais, portanto,
o conceito de troca (aliança, reciprocidade) é a chave para a solução do problema da passagem da natureza
à cultura. Assim, a troca estabelece entre os indivíduos, as relações de reciprocidade e constroem o
mecanismo no qual surge e vive a cultura. Por outro lado, a própria actividade do individuo, deve
manifestar uma determinada ordem nas trocas.

Verifica-se aqui um relativo aproximar do pensamento evolucionista, quando o LÉVI-STRAUSS defende


que as diferenças entre as culturas peculiares são menos relevantes do que as estruturas mentais
inconscientes que são universais e ao mesmo tempo, são responsáveis das formas particulares das culturas.

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Perguntas de Controlo

1. Defina com suas palavras o Evolucionismo.

2. Porque é que o tempo cultural foi considerado pelo evolucionismo como sua caracteristica
peculiar.

3. O Difusionismo como corrente antroplógica, teve tres escolas: a escola Inglesa, a escola alemã e
escola americana. Qual e a principal diferença que existe entre essas escolas.

4. Qual foi o objecto do estudo do funcionalismo segundo Malinowiski?

5. Oque entende por “estrutura” segundo a corrente estruturalista?

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TEMA 5

ANTROPOLOGIA: CIÊNCIAS DO TRADICIONAL OU DO ACTUAL

TEMA: Tradição e identidade cultual: (conceito de cultura e suas características)

Introdução
Nesta unidade temática iremos abordar os assuntos relacionados a tradição e identidade cultural, neste
contexto, serão aprofundadas as questões de cultura e suas características.

5.1. Tradição e identidade cultural


Tradição

Todos os povos têm crença num Ser sobrenatural com que eles se comunicam. É a transmissão espiritual
de valores, costumes, hábitos de um povo que passam oralmente em forma de lendas, de uma geração
mais velha para a geração seguinte.

Ao fazermos uma leitura minuciosa de todos os povos do mundo, veremos que qualquer um deles
estabelece uma relação com um Ser sobrenatural que mora num mundo imaginário (invisível e intangível),
o qual guia as suas crenças. Esta é a tradição de todos os povos. Não se deve fazer confusão entre
adoração à Deus, todo-poderoso e a crença que as comunidades mantêm de forma imaginária mas com um
sentido carregado de grande simbolismo, com um Ser invisível. Essa crença não paira apenas nas cabeças
dos moçambicanos. Os brasileiros, os chineses, os indianos e outros tantos, cada qual da sua maneira
adora ou venera um Ser sobrenatural.

Muitas vezes, essas manifestações são exibidas quando determinados grupos populacionais enfrentam
uma catástrofe sem precedentes ou quando a natureza lhes proporciona uma bênção através da qual as
suas vontades são correspondidas, como é o caso de uma boa saúde na família, uma safra agrícola com
resultados acima das espectativas mercê da queda da chuva a medida das necessidades dos produtos
agrícolas em campo, etc.

Apesar das inúmeras explicações científicas que possam existir, quando um mistério acontece, qualquer
um continua a acreditar que a força divina esteve presente. Quantas vezes um individuo gravemente
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doente recupera no leito de uma unidade sanitária e a esse acontecimento é associado ao poder do Ser
invisível; quantas vezes uma pacata aldeia, depois de enfrentar sucessivas épocas de seca e estiagem,
depara-se com uma chuva que faz sorrir qualquer camponês, etc.

Para agradecer ao Ser sobrenatural por uma bênção ou então para implorar a esse Ser sobrenatural, para
pôr fim a um "castigo", homens e mulheres escalam montanhas, pernoitam a volta de árvores sagradas,
sacrificam animais ou até levam os poucos alimentos já concessionados para os cemitérios ou outros
locais por eles considerados sagrados.

No nosso país, hoje em dia, tornou-se costume quase que incontornável, lançar a primeira pedra de um
empreendimento social ou inaugurá-lo (seja escola, centro de saúde, mercado, etc) antecedido de uma
cerimónia orientada por um/a líder tradicional, aos olhos vistos de altos e digníssimos dirigentes do
Governo aos vários níveis. Todas essas manifestações demonstram claramente a crença sobre a relação
que nós mantemos com o Ser invisível. É uma forma tradicional de pedir a esse Ser sobrenatural para que
tudo corra bem.

5.1.1. O conceito de cultura

Na nossa sociedade, a palavra cultura tem vários significados, dai que se pede ao usuário deste módulo,
para prestar especial atenção ao sentido que lhe é atribuído, enquanto ponto de partida para o estudo da
cadeira de Antropologia Cultural.

Quando estamos a ler um jornal ou uma revista nacional, assistir um programa de televisão, escutar rádio,
navegar na internet, com certeza que chegaremos a essa conclusão.

No nosso dia-a-dia, é comum depararmo-nos com a palavra cultura a ser aplicada nos seguintes termos: A
nossa cultura; cultura geral; aquele fulano é culto; culto a beleza material; a cultura de milho; património
cultural; actividades culturais; sarau cultural; Ministério da Cultura, etc. Como pode ver, a palavra cultura
assumiu uma infinidade de significados.

Com o passar do tempo, o significado da palavra cultura foi evoluindo, foi sendo enriquecido, pelas
diferentes escolas de pensamento até aos dias de hoje. Ugo Fabietti já chegou a afirmar que o conceito da
cultura está em crise e portanto, deve ser reformulado. Portanto, o processo de globalização no qual
estamos metidos e submetidos, faz emergir novas questões e desafios.

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Enquanto algumas teorias definem a cultura, do ponto de vista sociológico, outras consideram que a
cultura é algo indefinido, que não traz qualquer valor acrescentado na pesquisa científica, e portanto, uma
invenção dos antropólogos para atrapalhar a audiência.

Entretanto, no sentido antropológico, o conceito de cultura está ligado ao aspecto sistémico (metódico), ao
aspecto de alteridade (diferença) e de diversidade cultural bem como o aspecto dinâmico que evidencia os
processos de encontros inter-culturais, de complementaridade, de mudança e de transformação.

5.1.2. Etimologia

A palavra cultura, de acordo com Martinez (2001), provém do particípio passado do verbo latino, colo,
colis, colere, colui, coltum e que significa, cultivar, cuidar, ter cuidado, prestar atenção. Assim, a palavra
cultura mostra a relação dinâmica e estável que ela tem com um lugar. Alguns dos seus derivados, são:
agri-cola = cultivador de terra; agri-cultura = cultivo do campo; in-cola = morador; colomus = a pessoa
que cultiva; colónia = o local cultivado.

A palavra cultura foi usada em diferentes sentidos, alguns dos quais, vale a pena saber:
 No sentido material, colere terram significa cultivar a terra - É o primeiro sentido atribuído
a palavra cultura.

 No sentido espiritual, colere significa venerar a Deus.

 No sentido humanista, cultura animi significa conhecimento e elegância da pessoa culta.

 Sentido social, com efeitos a partir do século XVII, a palavra cultura começa a relacionar-
se com algo que tem a ver com populações e nações.

 No sentido étnico, a palavra cultura assumiu o sentido de formas de manifestação de uma


determinada sociedade.

 No sentido universal, a palavra cultura é equivalente a civilização.

5.1.3. Definições da palavra cultura

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Nos finais dos anos 800, surgiram duas definições de cultura que passaram a influenciar e a enriquecer a
antropologia. Segundo Mathew Arnold (1869) a cultura é "o conseguimento da perfeição, que implica
uma condição interna da mente e do espírito (doçura e luz) através do bom e do melhor que se pensou e se
diz na história. Essa definição de cultura exalta criatividade e estética como também sublinha aquilo que
eventualmente se pode considerar cultura objectiva.

Por seu turno, Edward B. Taylor (1871), o pai da antropologia moderna definiu a cultura no seguinte
sentido: "Conjunto complexo que inclui, conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e várias
outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade". Essa definição
tornou-se clássica na antropologia cultural.

É importante interpretar a definição de Edward Taylor nas seguintes perspectivas:

 A cultura é adquirida na sociedade e nunca é transmitida de pai/mãe para o filho.

 O mundo é multi-cultural, quer dizer, existem muitas e várias culturas no mundo e cada
qual pertence a uma sociedade.

 Todas as culturas são dignas (merecedoras de respeito, de honra) e podem ser decompostas
por traços culturais (símbolos, ritos, normas, instituições)

Deste modo, Taylor concebeu a cultura como sendo o património específico de um de um determinado
grupo social e foi este, o significado que suportou a Antropologia.

Como foi dito anteriormente, o conceito de cultura foi mais tarde, reformulado e aperfeiçoado, com o
propósito de deixar de ver a vida do homem, como uma série de entidades delimitadas, isoladas,
circunscritas e fechadas.

É caso para dizer que as culturas não são "frutos puros", eles estão sujeitos sim, a processos constantes de
contaminação. Em outras palavras, as culturas cedem alguns dos seus traços a outras culturas ao mesmo
tempo que recebem e se abastecem de traços culturais de outras sociedades.

As culturas, por assim dizer, não são algo permanentes, elas estão em constantes transformações devido a
interacção e a comunicabilidade entre as pessoas, confirmando assim o carácter dinâmico que
anteriormente foi referido.

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Com base na obra do Martinez (2009), Vinigi L. Grotanelli, antropólogo italiano definiu a cultura como
sendo "toda a actividade consciente e deliberada do homem como ser racional e como membro de uma
sociedade e o conjunto das manifestações concretas que derivam daquela actividade". Esta definição
remete-nos a seguintes interpretações:

 O homem é individuo mas ao mesmo tempo, é membro de uma sociedade.

 A distinção entre as acções de pensamento (ideias) e as acções fisiológicas, estas últimas que são
partilhadas com os outros homens e resultando dê, transformações em acções culturais.

Para Martinez (2001), o Concílio do Vaticano definiu a cultura, no Gaudium et Spes (nn. 53-62), numa
perspectiva humanística, da seguinte maneira: "bem e valores da natureza", associado ao aspecto histórico
e social bem como ao sentido sociológico, etnológico e a pluralidade das culturas (n. 53).

Enquanto isso, o estudioso C. Geertz (2001), definiu a cultura como sendo "uma estrutura de significados,
transmitidos historicamente, encarnados simbolicamente para comunicar e desenvolver o conhecimento
humano e as actitudes para com a vida, uma lógica informal da vida real e do sentido comum de uma
sociedade que funciona também como controlo ". Nesta extensa definição, o autor pretende realçar, a
cultura expressa pela linguagem simbólica; os sistemas nos quais estão enquadrados as culturas e o
dinamismo da cultura, o qual o mantem viva.

O Arcebispo e Teólogo colombiano, José Luis A. Castro concebeu a cultura como sendo um conjunto de
relações que o homem mantem com os outros homens, com a natureza, com Deus, assim como, com as
suas próprias expressões, instituições (famílias, grupos de profissionais, grupos de sacerdotes, etc.), com
significados e comportamentos.

George de Napoli, antropólogo americano e Professor na Universidade Gregoriana de Roma na obra do


Bernardi (1978), definiu a cultura, no seguinte modo: "Conjunto de significados e valores partilhados e
aceites por uma comunidade". De forma mais resumida, este Professor quis dizer que a cultura é o modo
de vida de um grupo de homens junto com os seus valores e comportamentos.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura - A UNESCO define a cultura
segundo Martinez (2001), da seguinte maneira: "Um conjunto de traços distintivos, espirituais e materiais,
intelectuais e afectivos, que caracterizam uma sociedade ou um grupo social". Como pode ver, para além

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das artes e letras que seria óbvio, esta definição salvaguarda, os modos de vida, os direitos fundamentais
do homem, os valores, as tradições bem como as crenças.

No final do dia, pretende-se que o estudante entenda que a cultura faz dos homens, seres vivos racionais,
críticos e comprometidos eticamente. Através da cultura, o homem consegue distinguir os valores sociais,
éticos e morais e consequentemente, faz opções justas e sustentáveis. É com a cultura que o homem tem
consciência da sua existência e da existência dos outros membros da sua sociedade. Reconhece que é um
projecto inacabado e dai batalha honestamente para alcançar mais realizações impondo-se a novos
desafios.

Na definição da UNESCO, a cultura faz transbordar quatro elementos que importa reter na mente:

 A ideia de conjunto, que de igual modo, os outros autores fazem referência.

 O homem e a sociedade como elementos-chave incluídos na definição.

 A cultura material e espiritual.

 As expressões culturais e a transcendência.

traços traços traços

sociedade sociedade

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5.2. Características da cultura

5.2.1. A cultura é simbólica

Para compreenderes a cultura, o símbolo é o ponto de partida. No estudo da cultura, torna-se imperioso
referir-se ao simbolismo e a função de determinados aspectos, acções e instituições. Como é sabido, o
homem vive entre dois mundos que se completam entre si.

Queremos aqui referir do mundo das imagens ou dos símbolos constituído por linguagem verbal, ritos,
costumes, instituições culturais, relações, etc, e o mundo exterior.

O SÍMBOLO
SINTONIA

EMISSOR CÓDIGO RECEPTOR

5.2.2. A cultura é social

Segundo Colleyn (2005), esta é uma das características básicas da cultura, porquanto ela pertence à uma
sociedade. Ela representa deste modo, o manancial de conhecimentos, costumes, valores, hábitos que são
transmitidos ao longo da história, dentro de um grupo social.

"A pessoa é formada pela cultura e o seu comportamento é pautado pela cultura interiorizada". Há-de ver
que qualquer individuo, antes de agir conscientemente, já tem um padrão de condutas que exprime os seus
comportamentos. Então, vale a pena aceitar que uma pessoa é, antes de tudo, uma construção cultural.

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Os processos de transmissão dos conhecimentos, valores etc, acontecem tanto em sociedades pequenas
quanto em sociedades mais alargadas. Os membros de uma sociedade são os vectores de transmissão da
cultua e fazem-na em nome da sua sociedade. São os elementos de uma sociedade que se encarregam em
trazer traços culturais de outros grupos sociais, bem como o inverso, por meio da comunicabilidade que
mantém com os elementos de outras sociedades.

5.2.3. A cultura é estável e dinâmica

A cultura é estável e dinâmica, ao mesmo tempo. Ela é estável pois mantem os seus principais elementos
como sejam, o território, a língua, o parentesco, instituições e normas religiosas e memória histórica
comum.

Não se pretende com isso dizer que esses elementos da cultura não ganham novos elementos. Pretende-se
sim convidar ao estudante a entender que apesar de sofrerem metamorfoses com o passar do tempo, estes
elementos da cultura continuam a referirem-se ao mesmo grupo social ou sociedade, dai a interpretação
antropológica da estabilidade.

Por outro lado, a cultura é dinâmica, quer dizer, quer queiramos, quer não queiramos, alguns elementos
que compõem uma cultura evoluem, aperfeiçoam-se quer com o passar do tempo, quer por outras razões
como é caso da mudança de domicílio de um grupo social devido a um desastre natural ou um conflito
político.

Assim, a cultura muda internamente ou seja, os seus elementos estruturais começam a transformarem-se
lentamente, muitas vezes, sem darmos conta desses acontecimentos que interiormente vão afectando a
cultura.

É como uma pessoa em crescimento. Alguns aspectos estruturantes dessa pessoa mudam mas outros há,
que permanecem inalteráveis, portanto, continuam estáveis. Vejamos a seguinte ilustração:

Cultura estável (cultura repetitiva) Cultura dinâmica (sentido tradicional


positivo)

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5.2.4. A cultura é selectiva

Quando duas culturas estão em contacto mútuo, acontece o processo de selecção de alguns
conhecimentos, valores, crenças, etc. O processo selectivo inicia com a avaliação dos elementos que
compõem a nossa cultura para depois aceitarmos aquilo que nos interessa e rejeitar o que prejudica a nossa
cultura.

Vejamos alguns dos seguintes factores que influenciam a cultural como selectiva:
 Factores de utilidade prática (Se na prática, os elementos culturais a incorporar trazem
consigo alguma utilidade).
 Factores culturais baseados na tradição cultural (Se os traços culturais a assimilar não
ofendem os hábitos e costumes que tem vindo a ser preservados).
 Factores psicológicos (Se os elementos a encaixar no nosso mosaico cultural não
atentam a nossa identidade)
 Factores sociais (Se os novos elementos não alteram substancialmente as relações
sociais)
 Factores de receptividade (Quando há receio em receber novos valores)

Para A. Leroi Gourhan, na obra do Martinez (2001), a sociedade pode rejeitar determinados traços
culturais, quando a mesma manifesta o seguinte:

a) Inferioridade técnica (falta de preparação para assumir inovações)


b) Inércia técnica (não é oportuno assimilar a inovação)
c) Plenitude técnica (não se sabe o que fazer com os novos valores, uma vez que na sociedade
existem valores semelhantes)

5.2.5. A cultura universal e regional

 A cultura é universal

Antes de mais nada, é preciso saber que a cultura é um fenómeno universal. A história universal defende
que não há povo sem cultura, nem tão pouco, homens incultos. Portanto, qualquer afirmação que contrarie
a essa tese, reveste-se de total cegueira intelectual.

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Quando falamos de cultura universal, queremos aqui dizer que "todos os povos tem as mesmas
necessidades de subsistência, de alimentação, de abrigo perante as inclemências do tempo, de defesa dos
perigos da natureza e dos animais, da comunicação com os outros seres humanos, da satisfação das
apetências sexuais, da descendência, do respeito, da amizade, da ordem social e da abertura ao
transcendente".

 A cultura é regional

As culturas são regionais por se referirem a grupos sociais menores, portanto elas são particulares ou por
outra, fazem parte de um grupo social menor.

Não confunda cultura regional (particular) de cultura inferior. Recorde-se sempre que não há culturas
superiores nem culturas inferiores. Existem apenas, culturas diferentes, umas das outras.

5.2.6. A cultura é determinante e determinada

"A cultura faz o homem e este faz a cultura". Isso significa que a cultura impõe os seus traços aos homens
e por sua vez, estes tem poucas manobras de se livrarem dessa imposição. O homem pensa e age de
acordo com a sua cultura por causa da força que ela exerce sobre os homens. Os hábitos e costumes
culturais herdados muitas vezes conformam o homem na maneira de se manifestar.

Por outro lado, a cultura é determinada pelo homem. As mudanças que são operadas numa cultura, tem
como actor principal o homem. As reformas geofísicas, sociais, demográficas, económicas, políticas são
introduzidas na cultura pelos homens de diferentes gerações, muitas vezes para acomodar as suas
necessidades mais recentes.

5.2.7. Cultura e sub-cultura

Quando nos referimos de sub-cultura, não queremos dizer que se trata de uma cultura inferior. A sub-
cultura é a cultura regional, portanto, parte da cultura nacional. Em determinadas sociedades, a sub-cultura
pode estar ligada a certos estratos sociais ou classes sociais.

5.2.8. Aspecto cognitivo da cultura

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No aspecto cognitivo, a cultura apresenta três aspectos, que são:

 Significados operativos, que estão relacionados com a maneira justa de agir (normas).
 Significados cosmológicos, que estão relacionados com a visão do universo, da
natureza, das crenças do povo, das explicações e respostas sobre os porquês e da
abertura do transcendental.
 Significados morais, que estão relacionados com a ética, com os princípios e valores,
portanto o que é bom e belo e o que não é bom, nem tão pouco, belo.

Perguntas de Controlo

1. O que entende por cultura?


2. Ate que ponto a cultura é estatica e dinamica?
3. Enumere as caracteristicas da cultura?
4. Difena por suas palavras cultura social.
5. Quando é que a cultura é selectiva?
6. Faça uma síntese sobre tradição e identidade cultural.
7. Enuncie alguns factores que inflruenciam a cultura.
8. Relacione os factores culturais que estudaste com os da sua cultura.

Bibliografia
BERNARDI, Bernardo. Introdução aos estudos Etno – Antropológicos. Lisboa, Edições 70, Droz S.A, 1978.
MARTINEZ, Antroplogia cultural, Guião para o estudo, 3ª Ed. Matola, 2001.

JEAN-PAUL, Colleyn, Elemntos de Antropologia Social e Cultural, Lisboa Ed. 70, 1998.

ROBERT, Layton, Introducao a teoria em Antropologia, Lisboa Ed. 70, 1997.

Fim
Boa leitura
Mcs. Joao Tavares Guerra

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