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José Augusto, atualmente com 72 anos de idade, aposentado por invalidez pelo INSS,
percebe 01 salário mínimo por mês. Por mais de 25 anos, laborou em atividade insalubre, e
por tal razão lhe causou sequelas de modo que a doença adquirida lhe exige o uso contínuo
de medicamento, cuja utilização diferente da forma prescrita pelo médico pode colocar em
risco a sua vida. Em razão desses fatos, religiosamente, no dia 10 de cada mês, comparece
ao postinho existente na localidade em que reside (povoado tucuns) município de José de
Freitas-PI, retirando a quantidade necessária do medicamento para trinta dias. No último
dia 10 de maio deste ano, foi notificado, pelo atendente do postinho, que a distribuidora de
medicamentos não entregaria mais o mesmo, já que o Município de José de Freitas-PI, em
razão da pandemia do corona vírus, não pagava os fornecedores há dois meses.
Por não ter condições financeiras de adquirir a medicação de que necessita e negado o
fornecimento do remédio ao autor por meio do Sistema de Saúde Público, não lhe restou outra
solução senão socorrer-se do Poder Judiciário, impetrando o presente Mandado de Segurança
para poder realizar seu tratamento médico, pois a manutenção de sua saúde e,
consequentemente da própria vida e dignidade, é direito líquido e certo do impetrante, cuja
violação por ato de autoridade pública não pode ser tolerada.
II – O DIREITO
1. DOS REQUISITOS DO MANDADO DE SEGURANÇA
O impetrante possui direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data,
nos termos do art. 1º da Lei 12.016/2009, que consiste no seu direito de ter a saúde garantida
pelo Estado, quando possui doença que necessita de tratamento com medicamentos de alto
custo e que constam no rol de medicamentos dispensados pelo Poder Público. Este direito está
relacionado às funções do Estado e à manutenção de vida digna (consequentemente, com
saúde e acobertada pelo princípio da dignidade da pessoa humana).
Todavia, seu direito foi ilegalmente violado pelas autoridades indicadas no preâmbulo desta
petição, pois requereu junto ao Poder Público os medicamentos que são por ele dispensados à
população, mas não conseguiu obter os fármacos, estando sem tratamento há mais de 6 meses.
Logo, caracterizados o direito e o ato lesivo, nos termos da Lei 12.016/2009, não restou
alternativa ao autor a não ser valer-se da tutela jurisdicional estatal por meio do presente
mandado de segurança.
O direito à saúde é direito fundamental consagrado pela Constituição Federal em seu artigo
6º e em toda Seção II do Capítulo II do Título VIII, que se inicial com o artigo 196. De
acordo com este mandamento constitucional, o direito à saúde é garantido como “direito de
todos e dever do Estado”, visando à redução do risco de doença e o acesso às ações e serviços
para sua promoção proteção e recuperação.
O direito à saúde também é previsto na Constituição Paulista em seu artigo 219 e parágrafo
único, na Lei nº 8.080/90, que estatui em seu artigo 2º a saúde como “direito fundamental do
ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”.
No mesmo sentido, a Lei nº 8.080/90 dispõe em seu artigo 2º que “a saúde é um direito
fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu
pleno exercício”.
Desta forma, percebe-se que não falta arcabouço jurídico para a proteção do direito à saúde
dos cidadãos, bem jurídico da mais alta relevância social, intimamente relacionado ao direito
à vida - direito inerente a todo ser humano, portanto, natural, inalienável, irrenunciável, e
impostergável, cuja inviolabilidade está garantida pela Constituição Federal, em seu art. 5º,
caput - e ao princípio da dignidade humana – fundamento da República Federativa do
Brasil como Estado Democrático de Direito, conforme consagrado no art. 1º, III, da
Constituição, vetor de todo e qualquer ordenamento jurídico, devendo ser utilizado como
parâmetro para orientar a interpretação e compreensão de qualquer sistema normativo.
Os direitos invocados, por sua tão grande importância ao se relacionar com a essência do
Estado, devem ser preservados em quaisquer circunstâncias, de forma que a pretensão do
impetrante em receber os medicamentos que necessita é resguardada mesmo que estes não
estejam descritos no rol de medicamentos dispensados pelo ente político, e mesmo com a
eventual falta de recursos orçamentários, continuando o ente obrigado a cumprir com suas
funções primordiais, tal como a presente.
Ademais, consoante se depreende do caput do artigo 196, que prevê que a saúde é dever do
Estado, não há indicação ou distinção a quem cabe essa obrigação – se ao Município, Estado,
União ou Distrito Federal – sendo razoável se concluir que a incumbência é de todos os entes
políticos da Federação de forma igualitária.
Não obstante, também respalda este entendimento o fato de o Sistema Único de Saúde (SUS)
ser composto, indistintamente, por todos os entes políticos.
4. DISPENSA DE LICITAÇÃO
O art. 7º, inc. III da Lei nº 12.016/2009, que regulamenta o mandado de segurança, dispõe
que a liminar será concedida, suspendendo-se o ato que deu motivo ao pedido, quando for
relevante o fundamento do pedido e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida.
Há relevância do fundamento – bem como probabilidade do direito (fumus boni iuris) –, haja
vista que a documentação acostada demonstra fartamente que o autor está acometido da
doença e necessita da medicação. Outrossim, o fumus boni juris está representado pelo
direito constitucional inalienável e irrenunciável à saúde e pela obrigação do Poder Público
em custear o tratamento, previstas na ampla legislação e jurisprudência trazidas à colação.
Há também perigo de ineficácia da medida, caso não seja deferida de imediato – ou risco ao
resultado útil do processo (periculum in mora) –, porquanto a demora pode causar o
agravamento da saúde do impetrante de modo a lhe causar danos irreversíveis ou até mesmo a
morte, já que há tempos o autor vem tentando – sem sucesso – obter os medicamentos – o que
vem piorando seu estado de saúde cada vez mais, trazendo diversas formas de mal-estar ao
impetrante (descrever sintomas). Em outras palavras, o perigo da demora resta evidenciado
pelo atual estado de saúde do impetrante (que está muito agravado) e pela necessidade vital e
urgente de fazer uso da medicação indicada ao seu caso, sob pena de enormes riscos a sua
saúde.
Sendo assim, o autor preenche todos os requisitos para a concessão deste tipo de tutela.
Diante da relevância dos fundamentos da demanda, e por todo o exposto, o impetrante pede e
requer:
3) Requer que a comunicação de concessão da tutela seja feita aos representantes legais dos
Réus, imediatamente, e em caráter de urgência, em vista dos riscos aos quais está exposto o
autor pela falta da medicação;
4) Requer ainda a condenação dos impetrados, nos termos do art. 297 do Código de Processo
Civil (Lei 13.105/2015), ao pagamento de multa em favor do impetrante no valor de R$
1.000,00 (um mil reais) por dia de atraso no fornecimento dos medicamentos referidos;
5) Sejam concedidos os benefícios da justiça gratuita, visto que o autor não tem condições
de arcar com as custas processuais sem prejuízo do próprio sustento e do de sua família, sendo
carente de recursos, nos termos dos artigos 98 e seguintes do Código de Processo Civil (Lei
13.105/2015);
6) A citação dos Réus, na pessoa de seu representante legal, nos endereços indicados no
preâmbulo desta petição, para que, querendo, apresentem resposta à presente demanda, sob
pena de, não o fazendo, sofrer os efeitos da confissão e revelia, nos termos do art. 7º da Lei
12.016/2009;
7) A determinação de oitiva do Ministério Público para oferecer parecer (art. 12, caput, Lei
12.016/2009);
8) Por fim, requer que todas as intimações e publicações sejam encaminhadas ao advogado
(Nome do Advogado), devidamente inscrito na OAB/XX sob nº XXX, com endereço
profissional situado na XXX (conforme art. 77, inc. V do CPC/15 – Lei 13.105/2015), sob
pena de nulidade;
Termos em que,
Pede deferimento.
Local, data.
Nome do advogado
Número da OAB