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Romance
ROGÉRIO CARVALHO
Romance
Revisão: Eva S.M.Silva - +55 31 991154338
Fotografia: Luis Hang +55 31 992889911
ISBN: 978-85-5522-0982
SUMÁRIO
EU ME CHAMO... 9
A PRIMEIRA IMPRESSÃO 21
O ENFERMO 33
A DEFESA DE MARCELE 47
A ACUSAÇÃO DE PAUL 63
O ENCONTRO 77
A REVELAÇÃO 95
EU ME CHAMO...
1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Maníaco_do_Parque
investigações — que sentia prazer em matar. Ficou
detido longe dos demais prisioneiros por ter sua
vida ameaçada por eles; devido, claro, a crimes
brutais cometidos contra mulheres indefesas.
Numa entrevista concedida a uma emissora de
televisão, ele confessou ao repórter que não nutria
arrependimento algum pelos atos praticados. Após
vários anos na prisão, durante uma nova entrevista
ele alegou arrependimento; enquanto trazia nas
mãos uma Bíblia. Reconheça: portar uma Bíblia
não é sinal de conversão, menos ainda de
arrependimento. Ora, vamos! Seja sincera com
você e comigo: acredita mesmo que este homem,
nascido sob tão má índole, além de arrepender-se,
se voltou para o “Bem”?! Quantos já mataram em
nome de Deus?! Será que se arrepender é o
suficiente?! Você se lembra das 2 cruzadas?
Pessoas assim matam, estupram, roubam dinheiro
destinado aos pobres, lançam cidadãos honestos
na miséria, relegam-nos ao abandono. E, pior
2 http://www.infoescola.com/historia/as-cruzadas/
ainda: tais pessoas fazem tudo isso sob a fachada
da religião que cultuam. Eu não creio em mudança
ou arrependimento. Além do quê, deles, somente
espero maldade e muita crueldade.
— Eu também acho impossível — ironizou a
Morte, rindo. E você, Marcele, meu amor? O que
diz?!
Marcele pôs-se em silêncio por alguns
segundos e, quando pensou em responder, foi
novamente interrompida pela Morte:
— Bem... Paremos para um breve almoço,
menino e menina! Eis: “Um para você, um para
mim; um para você um para mim”...
Parecia inacreditável, mas a Morte foi
distribuindo os sanduíches que trazia consigo num
dos bolsos do casaco, estendendo o primeiro em
direção à Marcele e outro para mim — que não
aceitei, dizendo:
— Não quero, obrigado! Trouxe meu próprio
lanche.
— Ah, sim! O “homem do mal” não come com
“a mulher do bem” e menos ainda com a “Morte”.
Eu já devia ter imaginado...
— Deixe de bobagem, Paul! — clamou
Marcele. Coma logo, pois precisamos terminar este
assunto o quanto antes.
— Meu jovem rapaz das trevas, vamos
almoçar! O tempo de Marcele já se esgotou. Logo
após a nossa refeição, será a sua vez de fazer a
defesa.
— Eu não preciso, já argumentei
concisamente — respondi, sem mais delongas.
— Nada disso, nada disso! Você fará sua
defesa “sim”, pois apenas permitirei que a alma
deste homem seja levada por um de vocês, caso
os argumentos apresentados por ambos
demonstrem coerência e fundamento. Se o
contrário acontecer, nada levarão daqui!
— Pare de bobagem...
— Nada disso, mocinho! É hora do almoço,
não discuta com o seu querido “Padre Félix” —
disse ela, sempre cínica e... Irredutível.
5 http://bibliaportugues.com/kja/genesis/4.htm;Gn 4:4-8;
imensidão de homens e mulheres cujas atitudes se
dão de forma correta, honesta e humanizada. Ora,
talvez você devesse observar a quantidade de
pessoas que morrem no continente africano,
vitimadas pela privação de alimentos, submetidos
às doenças — que ao mesmo tempo são causa e
consequência da pobreza; e que nem por tais
razões matam-se uns aos outros, seja por comida
ou por remédios. Sua afirmação de que “só porque
o homem nasceu em pecado, toda essência dele é
apoiada no mal” é frágil, muito frágil. Basta
observar a história da vida de homens, como: Abel,
Abraão, Moisés, Pedro, José e outros mais.
— Muito bem, querida Marcele! Isso que
chamo de “ressurgir dos mortos”. Gostei de ver! —
ironizou a Morte.
— Pare com isso, Morte! — Marcele retrucou
veementemente.
— Não, não pararei! Agrada-me colocar
“lenha na fogueira” — gargalhou ela.
— Reclamo esta alma (eu continuei,
desconsiderando a intromissão de ambos), pois os
homens tendem nitidamente a se recobrir de
padrões morais e éticos que verdadeiramente não
conseguem manter. Culpam a Deus pelas
desgraças, pelos desastres e tragédias que caem
sobre eles. Matam e destroem em nome da fé, da
paixão, até mesmo do “suposto amor” que dizem
possuir. Afinal, quem criou tais situações? Não
fomos nós, garanto! Vocês criaram o amor, a
paixão, o perdão e outras bobagens; por isso
colhem os frutos de toda esta desordem. Como o
conformismo conduz à mediocridade, observe bem
aqui: 6 “A ânsia de alcançar o êxito e obter
recompensas, seja no domínio material ou no
domínio espiritual, assim como a procura de
segurança e o desejo de conforto, sufocam a
dimensão mais espontânea do ser humano,
alimentam o medo, bloqueiam a compreensão
inteligente da vida, instalam, enfim, a apatia e a
incapacidade de descobrir”. Talvez, baseando-me
nesse pensamento, eu creia que isto cause nos