Você está na página 1de 2

Culturas indígenas no Brasil

Quem é índio?

Por Eduardo Viveiros de Castro, pesquisador e professor de antropologia do Museu Nacional (UFRJ) e sócio-
fundador do ISA (Instituto Socioambiental).

 Índio é qualquer membro de uma comunidade indígena, reconhecido por ela como tal.

 Comunidade indígena é toda comunidade fundada em relações de parentesco ou vizinhança entre seus
membros, que mantém laços histórico-culturais com as organizações sociais indígenas pré-colombianas.

A expressão genérica povos indígenas refere-se a grupos humanos espalhados por todo o mundo, e que
são bastante diferentes entre si. É apenas o uso corrente da linguagem que faz com que, em nosso país e em
outros, fale-se em povos indígenas, ao passo que, na Austrália, por exemplo, a forma genérica para designá-los
seja aborígines.

Indígena ou aborígine, como ensina o dicionário, quer dizer "originário de determinado país, região ou
localidade; nativo". Aliás, nativos e autóctones são outras expressões usadas, ao redor do mundo, para
denominar esses povos.
O que todos os povos indígenas têm em comum? Antes de tudo, o fato de cada qual se identificar como
uma coletividade específica, distinta de outras com as quais convive e, principalmente, do conjunto da
sociedade nacional na qual está inserida.

Índios, Ameríndios

Genericamente, os povos indígenas que vivem não apenas em nosso país, mas em todo o continente
americano, são também chamados de índios. Essa palavra é fruto do equívoco histórico dos primeiros
colonizadores que, tendo chegado às Américas, julgaram estar na Índia.

Apesar do erro, o uso continuado - até mesmo por parte dos próprios índios - faz da palavra, no Brasil de
hoje, um sinônimo de indivíduo indígena.

Como há certas semelhanças que unem os índios das Américas do Norte, Central e do Sul, há quem
prefira chamá-los, todos, de ameríndios. Os índios ou ameríndios são, então, os povos indígenas das Américas.

Em décadas passadas, uma outra palavra era bastante usada no Brasil para designar genericamente os
índios:silvícolas ("quem nasce ou vive nas selvas"). O termo é totalmente inadequado, porque o que faz de
alguém indígena não é o fato de viver ou ter nascido na "selva".

Fonte: Povos Indígenas no Brasil – Instituto Socioambiental

https://pib.socioambiental.org/pt/Quem_s%C3%A3o#Quem_.C3.A9_.C3.ADndio.3F
O conceito de arte e os indígenas
Arte é uma categoria criada pelo homem ocidental. E, mesmo no Ocidente, o que deve ou não deve ser
considerado arte está longe de ser um consenso. O que não dizer da aplicação desse termo em manifestações
plásticas de povos que nem ao menos possuem palavra correspondente em suas respectivas línguas?
O assunto é complexo e, a despeito da inadequação do termo, muitas obras indígenas têm impactado a
sensibilidade e/ou a curiosidade do “homem branco” desde o século XVI, época em que os europeus aportaram
nas terras habitadas pelos ameríndios. Nesse período, objetos confeccionados por esses povos eram
colecionados por reis e nobres como espécimes “raros” de culturas “exóticas” e “longínquas”.

Até hoje, uma certa concepção museológica dos artefatos indígenas continua a vigorar no senso comum.
Para muitos, essas obras constituem “artesanato”, considerado uma arte menor, cujo artesão apenas repete o
mesmo padrão tradicional sem criar nada novo. Tal perspectiva desconsidera que a produção não paira acima
do tempo e da dinâmica cultural. Ademais, a plasticidade das obras resulta da confluência de concepções e
inquietações coletivas e individuais, apesar de não privilegiar este último aspecto, como ocorre na arte
ocidental. Confeccionados para uso cotidiano ou ritual, a produção de elementos decorativos não é
indiscriminada, podendo haver restrições de acordo com categorias de sexo, idade e posição social. Exige ainda
conhecimentos específicos acerca dos materiais empregados, das ocasiões adequadas para a produção etc.
As formas de manipular pigmentos, plumas, fibras vegetais, argila, madeira, pedra e outros materiais
conferem singularidade à produção ameríndia, diferenciando-a da arte ocidental, assim como da produção
africana ou asiática. Entretanto, não se trata de uma “arte indígena”, e sim de “artes indígenas”, já que cada
povo possui particularidades na sua maneira de se expressar e de conferir sentido às suas produções.

Os suportes de tais expressões transcendem as peças exibidas nos museus e feiras (cuias, cestos,
cabaças, redes, remos, flechas, bancos, máscaras, esculturas, mantos, cocares...), uma vez que o corpo humano
é pintado, escarificado e perfurado; assim como o são construções rochosas, árvores e outras formações
naturais; sem contar a presença crucial da dança e da música. Em todos esses casos, a ordem estética está
vinculada a outros domínios do pensamento, constituindo meios de comunicação – entre homens e mulheres,
entre povos e entre mundos – e modos de conceber, compreender e refletir a ordem social e cosmológica.
Nas relações entre os povos, os artefatos também são objeto de troca, inclusive com o “homem branco”.
Ultimamente, o comércio com a sociedade envolvente tem apontado uma alternativa de geração de renda por
meio da valorização e divulgação de sua produção cultural.

Outras leituras

Para saber mais sobre o assunto, ver o artigo de Lúcia Hussak van Velthen, “Em outros tempos e nos tempos
atuais: arte indígena”, no catálogo Artes Indígenas - Mostra do Redescobrimento, Fundação Bienal de SP
(2000), e o livro Grafismo Indígena: Estudos de Antropologia Estética, organizado por Lux Vidal,
Edusp/Nobel (2001)

Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Artes

Você também pode gostar