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3 UNIDADE 1 – Introdução
6 UNIDADE 2 – Os antecedentes históricos das políticas públicas sociais
20 UNIDADE 3 – Políticas públicas para saúde
34 UNIDADE 4 – Políticas públicas para educação
37 UNIDADE 5 – Políticas públicas para habitação
42 UNIDADE 6 – A política social do século xxi – A transferência de renda
44 REFERÊNCIAS

SUMÁRIO
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UNIDADE 1 – Introdução

Destinado aos profissionais graduados ser da profissão reside na necessidade de


em Serviço Social, Educação, Psicologia, En- ajudar a combater o grave problema social
fermagem e demais áreas afins, o curso de existente em vários países do mundo, inclu-
especialização tem como objetivo, propor- sive no Brasil onde a questão social é séria,
cionar novos conhecimentos que envolvem complexa, antiga e desafiadora não só para
práticas de gestão, elaboração e viabilidade quem governa o país como para todas as
de projetos voltados para a área social (saú- classes sociais, uma vez que a desigualdade
de, educação e habitação), qualificar para tende a distanciar as pessoas, torná-las por
o magistério superior, levando o profissio- um lado egoístas e por outro, revoltadas, o
nal a uma formação humanística através que cria uma bola de neve, um círculo vicio-
da disciplina tópicos especiais em trabalho so que precisa ser analisado e tratado com
e educação, sendo críticos e reflexivos em igual seriedade e atenção.
sua prática, além de receber subsídios para
Seria muita utopia querer acabar radi-
elaboração de trabalhos científicos.
calmente com as desigualdades sociais em
O profissional que deseja atuar no serviço países em desenvolvimento como o Brasil,
social deve lembrar que é chamado a inter- visto que nem em países economicamente
vir nos segmentos urbanos, rurais, indus- estáveis e ricos, ou em países onde o siste-
triais e religiosos da sociedade, através de ma econômico-político-social é diferente do
uma ação planejada, buscando o bem-estar capitalismo ou adeptos de doutrinas como
das pessoas, ensinando-as a agir com inte- neoliberalismo atual (a grosso modo), po-
ligência e bom senso frente à realidade da dem ser considerados países onde prevale-
vida. Sua atuação é ampla e passa pela vida ce a igualdade social. Sensibilidade por par-
familiar, trabalho, educação, saúde, lazer, te da população em relação aos problemas
Organizações Não Governamentais (ONGs), causados pela desigualdade existe, von-
promoção e previdência privada. tade de mudar, com certeza, não falta, ins-
piração também não, entretanto é preciso
Segundo FAPSS (2009), o profissional do
reorganizar desde questões orçamentárias
Serviço Social estuda a realidade social dos
(elaborar pensando numa justa distribuição
usuários para propor medidas e benefícios
de renda) até mobilização social.
que venham ao encontro de suas necessida-
des. Cabe ao profissional de Serviço Social Enfim, o caminho que leva a igualdade e
informar aos cidadãos sobre os programas dignidade entre as pessoas é longo!
sociais disponíveis e democratizar o acesso
Para colaborar com os conhecimentos
a esses programas. Quanto aos Assistentes
necessários para se tornar especialista em
Sociais, estes trabalham em instituições
Serviço Social, esta apostila apresenta um
públicas e particulares, visando a melhoria
pouco da história das políticas sociais ado-
das condições de vida dos usuários, através
tadas pelo Brasil, tomando como ponto de
de programas implementados.
partida a chegada da industrialização no
Evidentemente que uma das razões de país, por volta dos anos 30, além de levar
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o leitor a refletir criticamente (sem fazer República Velha, onde tanto a história como
apologia ou sair em defesa a teorias ou a literatura nos mostram que as iniciativas
doutrinas políticas) sobre as políticas volta- do governo para produzir habitação ou re-
das para saúde, educação e habitação, não gular o mercado era praticamente nulo, mas
esquecendo que segurança pública, lazer, há que se constatar o problema do déficit
seguridade também são extremamente im- habitacional persistente nos tempos atuais.
portantes para o desenvolvimento saudá-
De acordo com Santos (1999) e Morais
vel de um país.
(2000), a habitação é um bem com algumas
Assim, identificar os antecedentes his- características que indicam a necessidade
tóricos das políticas sociais, compreender de uma forte intervenção do Estado. É um
as políticas brasileiras específicas para as bem de primeira necessidade, que depende
áreas de educação, saúde e habitação e re- do dispêndio de valores monetários expres-
fletir sobre a política social do século XXI – a sivos.
transferência de renda – através dos pro-
A Pesquisa Nacional de Amostragem Do-
gramas sociais são os objetivos principais
miciliar PNAD (2001) mostra que no Brasil,
desta apostila.
4% da população morava em favelas, na
No contexto atual em que a educação é mais absoluta informalidade e amplamente
vista como chave para o desenvolvimento, desprovida de infraestrutura urbana com
voltada para a competência, produção de acesso restrito a serviços públicos de saú-
trabalho e riqueza, o papel do Estado tem de, educação e transporte.
sido o de racionalizar o sistema educacional
Enfim, como diz Silva (2009), a imple-
para otimizar os resultados, como veremos
mentação de Políticas Públicas quer uma
no capítulo sobre o rumo que tomaram as
disseminação do conhecimento com a ga-
políticas públicas voltadas para educação.
rantia de acesso das pessoas aos recursos
Em relação a saúde, é muito pertinente tecnológicos, garantia de motivação para
promover uma retrospectiva histórica para a participação e demanda não só o investi-
percebermos que os avanços foram consi- mento adequado, mas também a existên-
deráveis, mas ainda há muito a se construir. cia de pessoal habilitado a lidar com tais
ferramentas para que tais ações possam
A história das conquistas, dos avanços,
ser concebidas realmente como públicas.
das dificuldades e dos desafios em relação
Política pública refere-se, portanto, à ação
à promoção da saúde no Brasil, vem sendo
dos governantes que detêm a autoridade e
construída ao longo de décadas e perpassa
o poder para dirigir a coletividade organiza-
por conceitos relacionados aos programas,
da, bem como às ações da coletividade em
ações, projetos, agentes comunitários de
apoio ou contrárias às autoridades gover-
saúde, dentre outros, os quais formam uma
namentais.
imensa rede interligada e ao mesmo tempo
descentralizada. Salientamos que esta apostila é uma
compilação de tópicos que acreditamos se-
Para falarmos das políticas públicas de
rem importantes para o conhecimento dos
habitação, nosso ponto de partida será o
profissionais que estão se especializando
período de 1889 a 1930, denominado de
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em Serviços Sociais, mas ressaltamos que a


literatura é vasta, portanto, sugerimos que
busquem sanar lacunas e aprofundamento
através das referências bibliográficas dis-
ponibilizadas no final e, por fim, vale lembrar
que o ser humano é complexo, os caminhos
percorridos assim como as ideias e pontos
de vistas podem ser diferentes e divergen-
tes, o que não invalida o objetivo final que é
ver a igualdade e a dignidade prevalecendo
no nosso meio.
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UNIDADE 2 – Os antecedentes históri-
cos das políticas públicas sociais
A apresentação dos antecedentes his- ca, a grosso modo, poderia ser: a) identi-
tóricos das políticas públicas sociais re- ficar o problema; b) formular a política; c)
quer um mínimo de conhecimento sobre implementar ações e d) avaliar.
Política Pública, portanto, de acordo com
a) A identificação do problema ou for-
Wilson (2000 apud Costa, 2003), pode-
mação da política é a constituição de agen-
mos definir simplesmente como um con-
das, a conformação do campo de interes-
junto específico de ações governamentais
ses e a explicitação das alternativas (Silva,
que irão produzir determinados efeitos.
1999). Essa etapa envolve todo o saber, a
Essas ações abrangem o significado ou a
experiência acumulada pelas instituições
interpretação de um determinado proble-
e pelos grupos de interesse e também de
ma percebido por vários agentes. Dessa
um determinado diagnóstico. Esse é um
forma, são formuladas propostas para
dos aspectos problemáticos, pois os diag-
alterar a situação inicial a partir de con-
nósticos podem estar apoiados em infor-
sequências antecipadas daquelas ações.
mações insuficientes ou inadequadas, o
Ela também pode ser entendida como
que comprometeria o processo como um
um conjunto de ações conduzidas por um
todo. A qualidade do diagnóstico é, pois,
ator, ou um conjunto de atores, referen-
essencial para se identificar problemas
tes a um determinado problema que, nos
realmente pertinentes. Além de informa-
modernos Estados democráticos, busca
ções inadequadas, os diagnósticos podem
legitimidade.
incorporar pontos de vistas políticos que
Para Silva (1999), essas ações são ra- comprometam ou que conduzam a iden-
cionalmente formuladas visando alcançar tificação de falsos problemas (COSTA,
determinados resultados por meio de sua 2003);
implementação, na forma de projetos, de
b) A partir da identificação do problema
programas ou políticas. Essas atividades
que se pretende resolver, são construídas
são intervenções que se caracterizam,
alternativas de políticas para solucioná-lo
segundo Contandriopoulos et al. (1997, p.
ou mitigá-lo e, dentre essas, tomada a de-
31), por um “conjunto dos meios (físicos,
cisão sobre qual é a mais adequada. Para
humanos, financeiros, simbólicos) orga-
Dunn (1981 apud Costa, 2003), a formu-
nizados em um contexto específico, em
lação envolve o desenvolvimento e a sín-
um dado momento, para produzir bens ou
tese dessas soluções alternativas, sendo
serviços com o objetivo de modificar uma
uma atividade basicamente teórico-con-
situação problemática”. Conforme esse
ceitual. As questões relativas à natureza
autor, as intervenções têm cinco compo-
do problema, como um correto entendi-
nentes: contexto preciso de um dado mo-
mento do problema e a definição de obje-
mento; objetivos; recursos; serviços, bens
tivos adequados para resolvê-los são as-
ou atividades e efeitos.
pectos centrais nessa fase da política. Um
O ciclo até chegar a uma política públi- grande perigo nessa fase passa por saber
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se está ou não, escolhendo a alternativa podem mudar entre o momento da formu-


correta. A formulação é baseada em um lação e o da implementação, mudando sua
diagnóstico prévio e em um sistema ade- disposição em colaborar;
quado de informações, quando são defi-
Decisão dos próprios agentes imple-
nidos as metas, os recursos e horizonte
mentadores. Os implementadores devem
temporal da atividade de planejamento,
seguir a orientação da autoridade central,
definindo-se a estratégia da implemen-
mas por vários fatores isso pode não ocor-
tação. Neste momento, as propostas ga-
rer ( por desconhecimento dos objetivos,
nham forma e estatuto de política e se
discordância das prioridades – burocráti-
transformam em programa, quando são
cas, clientelas, grupos de interesse – inca-
criadas as ‘condições iniciais’ que antece-
pacidade fiscal e administrativa);
dem sua implementação.
Desconhecimento ou discordância do
c) A implementação é “um conjunto
desenho do programa;
complexo de relações entre formuladores
e implementadores e entre implementa- Impossibilidade do implementador de
dores situados em diferentes posições na desempenhar as funções que deveria; e
máquina governamental” (Silva, 1999, p.
Necessidade de adaptação do dese-
12). Ainda segundo esse autor, essa eta-
nho por aspectos não previstos na formu-
pa “corresponde à execução de atividades
lação.
que permitem que ações sejam imple-
mentadas, com vistas à obtenção de me- Há, dessa forma, uma margem razoá-
tas definidas no processo de formulação vel de decisão na implementação, o que
das políticas”. Essa é uma atividade práti- aufere aos seus responsáveis uma enor-
ca, onde a escolha de ações e a verifica- me autonomia. Segundo Dunn (1981, p.
ção de sua adequação, ao longo do tempo, 339 apud Costa, 2003), enquanto o mo-
são preocupações centrais (Dunn, 1981 nitoramento é um procedimento para
apud Costa, 2003). É importante ressaltar produzir informações sobre as causas e
que as perspectivas político-ideológicas consequências de políticas, a avaliação
e os interesses entre os diversos atores “é um procedimento analítico de política,
ou grupos de interesse envolvidos nesse usado para produzir informações sobre a
processo, em geral, não são convergentes. performance ou desempenho de políticas
Deste aspecto decorrem as alterações no na satisfação de necessidades, valores ou
curso da política, em relação à sua formu- oportunidades, que constituem um pro-
lação. Silva (1999, p. 12) identifica vários blema”. Em um sentido mais específico,
fatores que contribuem para a distância avaliação se refere à produção de infor-
entre formulação e implementação: mações sobre os valores ou méritos dos
resultados de uma política.
Recursos, prioridades e a influência
relativa dos agentes encarregados da im- Para Contrandiopoulos et al. (1997), a
plementação frequentemente mudam; partir dos objetivos de uma política é pos-
sível avaliar se ao ser implementado o pro-
Os interesses e a influência dos gru-
grama: (a) produziu ou não os resultados
pos de interesse de um dado programa
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e em que grau; e também (b) o modo pelo tos sociais surgidos naquele século pos-
qual os resultados, esperados ou não, fo- suíam entre suas causas a contestação às
ram alcançados. A primeira avaliação diz condições sociais de vida que se degrada-
respeito aos resultados e a segunda ao vam e a reivindicação por mudanças que
processo ou à implementação. De acordo proporcionassem sua melhoria.
com Silva (1999), o primeiro tipo de ava-
Bandeiras políticas relativas a um pro-
liação é realizado a partir da pergunta: “em
jeto de independência nacional ou à con-
que medida os resultados esperados fo-
quista de áreas territoriais na fronteira
ram atingidos com sua implementação?” E
brasileira tinham sua base social ampliada
a questão que interessa ao segundo tipo
à medida que se encontravam associadas
é: “como o programa funciona e quais os
a reivindicações sociais da população da
mecanismos que o fizeram atingir tais re-
época.
sultados?”.
A influência das transformações políti-
Breve retrospectiva histórica
cas no contexto internacional também se
As políticas destinadas ao atendimento fazia sentir na motivação dos movimen-
das necessidades básicas principalmente tos sociais do país, especialmente por in-
da população mais pobre, agrupadas sob o termédio de membros da elite agrária que
rótulo de políticas sociais, não chegaram a retornavam da Europa, os ideais liberais
ocupar ao longo da história papel de des- da República Francesa chegavam ao Bra-
taque nos planos de governo e nas dota- sil e compunham o substrato de legitima-
ções orçamentárias, quadro também que ção dos movimentos sociais emergentes.
se fez presente na década de 80. Gohn (1995) contabiliza para o período da
primeira metade do século XIX, o número
Quando o assunto é política pública so-
de quarenta e duas lutas sociais impor-
cial e após consultar vários autores como
tantes que, entretanto, por aglutinarem
Faleiros (2008); Silva, Yasbek, Giovanni
em sua base social segmentos muito di-
(2008); Bonduki (2004), podemos de-
versificados, não logravam constituir um
marcar o seu início, na década de 1930,
projeto de transformação política e social,
mas como é de praxe, faremos um breve
devido, especialmente, à dificuldade de
resumo histórico da evolução das políti-
superar as divergências entre interesses
cas sociais no Brasil, buscando facilitar o
imediatos dos segmentos envolvidos.
entendimento das enormes deficiências
Mas, em todos eles, a sustentação do pro-
observadas no início dos anos 90.
pósito de independência política e finan-
Os movimentos sociais que emergiram ceira do país em relação a Portugal e os
no contexto brasileiro do século XIX ca- ideais de liberdade e igualdade encontra-
racterizaram-se, essencialmente, pela vam-se condicionados à incorporação de
inexistência de algum projeto político e reivindicações concretas de melhoria das
social que lhes dotasse de unidade históri- condições sociais de vida no Brasil.
ca quanto às estratégias de intervenção e
Dentre as principais lutas e movimen-
à base social na qual se apoiavam. É certo,
tos sociais da época, três episódios mere-
porém, que todos os principais movimen-
cem ser destacados pela abrangência de
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sua base social – composta por militantes de exploração colonial – a independência


oriundos das classes subalternas, traba- política e econômica de Portugal apresen-
lhadores e escravos, por estudantes, in- tando-se como modo de constituição de
telectuais e outros membros da burguesia um governo próprio, que governasse para
em ascensão – e pela importância de suas os brasileiros e em defesa dos interesses
repercussões no período que lhes suce- nacionais – e, em segundo lugar, às pro-
deu: postas de transformações de base na eco-
nomia nacional com realização de reforma
a) O movimento da Cabanagem que,
agrária e mudança da estrutura produtiva
durante dez meses, entre os anos de 1835
local. Essa dupla associação constitui de-
e 1836, sucedeu no Pará, chegando a ins-
monstração irrefutável da identificação
tituir um governo local próprio que Gohn
da base social dos movimentos analisa-
nos descreve como o primeiro “governo
dos.
popular de base índio-camponesa da his-
tória do Brasil no período imperial”; Conforme Rizotti (2001), a exemplo do
período que a antecedeu, a última me-
b) A Revolução Farroupilha, transcor-
tade do século XIX também foi palco da
rida no Rio Grande do Sul, que perdurou
emergência de um grande número de lu-
por dez anos, entre 1835 e 1845, denomi-
tas políticas e sociais no Brasil. De fato,
nada pelos que dela participaram “Guerra
nos últimos cinquenta anos do século XIX,
dos Farrapos”, remetia sua identificação
registraram-se aproximadamente seten-
à grande massa de homens livres pobres
ta movimentos sociais, das mais diversas
que constituíam sua base social e que
origens, que possuíam como estratégias
vislumbravam na deposição do Governo
características um amplo leque de ações,
Provisório o meio de superação de sua
abrangendo desde a associação para a
condição de vida marcada pela pobreza e
prestação de socorro mútuo no âmbito
miséria social;
corporativo ou étnico, até as reivindica-
c) A Revolução Praieira, levante político ções pelo fim da escravatura e pela pro-
organizado pelo “Partido da Praia” em Per- clamação da República. É certo que as
nambuco, entre os anos de 1847 e 1849, exigências do contexto político nacional e
que agregou elites intelectuais e políticas internacional fizeram estas últimas lutas
e uma importante participação popular na possuírem maior destaque na história na-
oposição ao Governo Imperial, propondo cional.
já naquela época a realização da reforma
Segundo Rizotti (2001), as análises nos
agrária e o fim dos latifúndios rurais.
levam igualmente a verificar a preocupa-
Ao destacarmos esses três movimen- ção com as condições de vida das classes
tos, segundo Rizotti (2001), deve-se res- subalternas que encontravam-se presen-
saltar como as aspirações por melhorias tes nesses movimentos de forma mul-
na qualidade de vida surgiam associadas, tifacetada, reivindicações de reformas
em primeiro lugar, aos ideais de consoli- econômicas, ora pela apresentação de
dação de regimes mais democráticos no reivindicações sociais da população, ora
país e de libertação do regime econômico pela composição da base social de militan-
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tes que engrossavam suas fileiras. Nes- surgiam como desestabilizadores do es-
se particular aspecto, Canudos constitui tablishment constituído. De outro, o cres-
o exemplo maior da associação de várias cimento das cidades modificava o perfil da
dessas expressões: com o movimento de população e acelerava o crescimento das
contestação ao domínio dos latifundiários carências urbanas no país.
e de reivindicação da resolução da ques-
Para Rizotti (2001), a natureza des-
tão agrária aliava, também, preocupações
sa dupla transformação permite explicar
com o socorro aos pobres e inválidos e
adequadamente a origem e o desenvolvi-
com a superação das condições de miséria
mento das novas lutas sociais que domi-
que caracterizavam a vida da massa pobre
naram o cenário político do país naquele
sertaneja, da fome em especial – e não era
momento. Os movimentos sociais que
sem razão que o Conselheiro evocava, em
surgiam caracterizavam-se por reunir, sob
suas pregações, as imagens de um mundo
uma única bandeira, a reivindicação de
de fartura que deveria suceder o fim da
ampliação dos direitos de cidadania no país
luta.
e o objetivo de conquista do poder políti-
Esse período demarca o momento a co no aparelho de Estado. É este também
partir do qual as reivindicações populares, um período no qual as filosofias políticas
expressas nos movimentos sociais, pas- revolucionárias, de inspiração socialista e
saram a ser respondidas através de ações anarquista, ganham expressão através da
assistenciais que, a despeito de seu cará- organização de trabalhadores recrutados
ter pontual, introduziam na pauta política dentre as fileiras de imigrantes que ha-
do país a questão da desigualdade social. viam chegado ao país desde a década de
Além disso, já se pode localizar, no perío- 1910.
do, o surgimento consistente de organi-
De acordo com Gohn (1995), no ano de
zações da sociedade civil que se destina-
1914, na cidade do Rio de Janeiro, saques
vam a prover serviços de atendimento às
a casas comerciais colocavam em evidên-
demandas sociais da população.
cia a luta contra a carestia levada a termo
Mas o princípio do século XX seria real- pelos movimentos populares da época. A
mente o período durante o qual essas or- expressão política desses movimentos
ganizações proliferariam. Brasil o período tornou-se ainda mais evidente com sua
de uma dupla transformação. De um lado, unificação no Movimento Contra a Cares-
o fim do regime escravocrata enfraque- tia de Vida, que alcançou repercussão em
cera o domínio político e econômico das várias das cidades mais importantes do
antigas oligarquias rurais, promovendo país e culminou com a realização, na ca-
o surgimento de uma nova classe de se- pital da República, do comício contra a ca-
nhores, cujo principal interesse na cena restia que reuniu mais de dez mil pessoas.
política nacional foi adequadamente ex-
Em 1917, o movimento de trabalhado-
presso na política do “café com leite”; mas
res organizados promoveu em São Paulo
a fragilidade política das novas oligarquias
um conjunto de grandes manifestações,
dominantes seria logo evidenciada pelas
culminando com a deflagração de uma
ações dos novos movimentos sociais que
greve geral que reivindicava a redução
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da jornada de trabalho para oito horas e sou a regular pelo viés da repressão ins-
a regulamentação do trabalho feminino e titucional as ações destinadas à infância
infantil. no país. A esse respeito, Oliveira (1989,
p. 109) assinala, apropriadamente, como
Em 1925, eclodiu no Rio Grande do Sul
a ausência do Estado no provimento de
a Coluna Prestes que encontraria ampla
políticas sociais nessa época decorreu da
base social para crescer no interior do país
inexistência de organização política sufi-
e, nos dois anos seguintes, percorreria o
cientemente expressiva dos segmentos
Brasil organizando levantes populares
específicos que a demandavam: a política
contra a deterioração das condições so-
social relativa à prestação de serviços que
ciais de vida e reivindicando a criação de
se refere às demandas gerais da popula-
direitos civis e políticos, tais como a ins-
ção (saúde, educação, saneamento, entre
tituição do voto secreto, a extensão do
outras), como não tinha grupos específi-
direito de voto às mulheres e o respeito à
cos que a demandasse, foi delegada a se-
liberdade de imprensa.
gundo plano na agenda social do governo,
Não obstante o relativo sucesso dos haja vista o reconhecimento social de gru-
movimentos populares surgidos naquele pos profissionais.
momento – cuja mais expressiva vitória
De acordo com Rizotti (2001), apenas
parece ter sido a organização do movi-
na década de 1930 o país seria palco de
mento sindical nos principais centros do
importantes transformações no papel
país, com o surgimento de comitês de fá-
desempenhado pelo Estado para a propo-
brica que se mostraram eficazes na mobi-
sição de alterações no campo de direitos
lização dos trabalhadores para reivindica-
sociais no Brasil. O regime surgido da Re-
ção de melhorias salariais e de condições
volução, ao contrapor-se em suas táticas
de trabalho – poucos avanços se fizeram
de domínio às oligarquias regionais tradi-
sentir na organização dos serviços sociais
cionalmente instaladas no poder, requeria
demandados pela população.
a constituição, pela primeira vez levada a
Como afirmamos anteriormente, o perí- termo no Brasil, de um projeto político
odo foi marcado pela proliferação de orga- nacional que estendesse a ação do poder
nizações corporativas e de auxílio mútuo, central a todas as regiões do país.
fazendo os serviços criados dependerem
Naturalmente, a ação do governo cen-
quase que exclusivamente de gestões de
tral teria de afirmar-se por meio de artifí-
cunho privado e filantrópico, cuja ação de
cios múltiplos que fossem capazes de evi-
maior relevância pode ser registrada nas
denciar o novo papel desempenhado pela
iniciativas das Santas Casas no campo da
União, ao mesmo tempo em que ofuscava
saúde e da assistência.
a proeminência dos governos regionais.
Da parte do Estado, as iniciativas de- Para tanto, o novo regime utilizou-se do
senvolvidas restringiram-se ao surgi- expediente de encerrar o regime político
mento de novos elementos na legislação enquanto, concomitantemente, buscava
que regulava o trabalho assalariado e na difundir sua presença por meio de políti-
edição do Código de Menores que pas- cas públicas diretamente operadas pelos
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órgãos centrais do poder. A questão social balhadora do país.


seria trazida, gradativamente, para o cen-
Desse modo, de um lado, o Estado pro-
tro da ação política do Estado.
porcionaria o desenvolvimento econômi-
A forma de operar tal mudança estaria co, aliando-se ao processo de industria-
estreitamente associada aos novos me- lização; de outro, produziria um amplo
canismos de organização do poder instau- processo de respostas ao agravamento
rados pela Revolução vitoriosa. das condições de vida com a realização
de ações de intervenção direta nas condi-
Para garantir a eficácia do ordenamen-
ções de reprodução da força de trabalho
to político central no nível local, o meca-
no país. Neste momento, as bases da po-
nismo das interventorias, sendo de nome-
lítica social brasileira seriam construídas
ação imediata do Presidente da República
de acordo com a marcha da modernização
e consistindo num permanente rodízio de
com a qual o país se encontraria, a partir
governantes regionais, monitorado pelo
de então, comprometido.
poder central, mostrou-se de imediato
apropriado para os propósitos do governo Em síntese, podemos afirmar que a
getulista. busca da legitimidade política e a neces-
sidade de constituição de um projeto po-
Impedidos que estavam de ganhar a ex-
lítico nacional eram naquele momento os
pressão política anteriormente possuída
principais elementos a impulsionar a ação
pelos coronéis e governadores do interior
governamental na área das demandas so-
do país, os interventores possuíam seu
ciais. As inovações produzidas nas áreas
prestígio e sua importância política dire-
da Educação e da Cultura, com a institui-
tamente vinculados ao sucesso alcançado
ção da obrigatoriedade do ensino funda-
na implementação das novas ações go-
mental e a participação governamental
vernamentais das quais estavam incum-
na produção e disseminação de bens cul-
bidos. Por sua vez, as atribuições próprias
turais de caráter nacionalista, constituem
das interventorias proporcionavam-lhes
exemplos da nova disposição do Estado
realizar um governo centralizador que po-
em interferir nas respostas às carências
deria, rapidamente e com grande eficácia,
sociais historicamente consolidadas no
executar as novas formas de intervenção
país. Na outra ponta, a iniciativa de im-
do Estado na vida política e social do país.
plementação de uma legislação trabalhis-
Na esfera nacional, o principal proble- ta de abrangência nacional modificava o
ma do novo governo residia na necessi- conjunto de relações de trabalho no Bra-
dade de legitimar-se rapidamente em to- sil, embora sua eficácia estivesse ainda
das as regiões do país, a fim de impedir o limitada ao conjunto dos trabalhadores
ressurgimento das oligarquias regionais urbanos.
não-aliadas. A ação governamental que
De acordo com Rizotti (2001), o enfren-
perseguiu tal propósito apontará para o
tamento à questão social havia se torna-
desenvolvimento de grandes planos na-
do, definitivamente, uma bandeira e uma
cionais que vão responder de diversas
necessidade do regime pós-revolucioná-
formas às demandas sociais da classe tra-
rio na década de 1930: o caminho ao po-
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der galgado pela nova elite emergente re- ao moderno parque produtivo e, de outro,
queria, ainda que de modo centralizador em amplo conjunto de trabalhadores, cujo
e seletivo, a ação social do Estado para precário vínculo empregatício tornava im-
proporcionar a qualificação da força de praticável à efetiva integração econômica
trabalho e o desenvolvimento econômico e social. Ao mesmo tempo, as caracterís-
correspondentes ao processo de indus- ticas políticas do regime influíam negati-
trialização que se instaurava no país. vamente na possibilidade de organização
política dessa nova classe social urbana,
As políticas sociais iniciadas a partir da
chegando a ocorrer apenas nos maiores
década de 1930 destinaram-se então a
centros urbanos do país a organização da
permitir alcançar, concomitantemente,
atividade sindical eficaz e da luta política
os objetivos de regulação dos conflitos
operária por melhores condições de vida e
surgidos do novo processo de desen-
de trabalho.
volvimento econômico e social do país e
de legitimação política do Governo. Para A descrição apresentada acima por Ri-
compreendermos como isso se tornou zotti (2001) explica porque as políticas
possível, faz-se mister relacionarmos os sociais nascidas no período não surgiriam
novos serviços sociais realizados pelo po- determinadas diretamente pelas deman-
der público às emergentes necessidades das populares expressas nos movimentos
de reprodução e qualificação da força de sociais da época, mas encontrariam sua
trabalho nacional. origem na iniciativa estratégica do Esta-
do. Respondendo à necessidade seletiva
Com efeito, a política de substituição
de garantia apenas parcial das condições
de importações iniciada pelo governo ge-
básicas de reprodução da força de tra-
tulista sustentava-se na introdução no
balho no país, o Estado desempenhava o
país de um padrão tecnológico exterior à
papel de guardião dos interesses da nova
dinâmica econômica nacional que, se de
elite industrial e, ao mesmo tempo, inter-
um lado proporcionava a modernização
feria nas possibilidades de organização
das formas tradicionais de produção e a
política reivindicatória, sempre presente
rápida criação de um eficiente parque in-
devido à intensificação das relações de
dustrial, de outro encontrava à sua dis-
trabalho assalariado.
posição fartos contingentes de força de
trabalho, cuja qualificação não correspon- Foi da ação centralizadora do Estado
dia à requerida e cujo volume era dema- que surgiram as iniciativas de intervenção
siadamente superior ao demandado pelas social consolidadas desde então, tal qual
indústrias que surgiam. a ordem social competitiva que se instau-
rava, as políticas sociais que lhes davam
Conforme Rizotti (2001), como resulta-
parte da sustentação necessária conver-
do dessa inadequação inicial, a integração
giam para a integração apenas parcial da
da força de trabalho ao setor produtivo
força de trabalho nacional.
ocorreria de forma parcial, e sua maior
consequência consistiria na cisão do mer- Ao lado da resposta privativista, a
cado de trabalho urbano, resultando, de questão social no Brasil produzia, a par-
um lado, em uma elite operária integrada tir de então, a ação estatal seletiva como
14

forma de manipulação econômica e con- além de manifestamente assistencialis-


trole político das massas de trabalhadores tas, eram correntemente utilizadas como
urbanos. instrumentos de controle e repressão das
reivindicações por melhores condições de
De acordo com Kugelmas e Almeida
vida promovidas por segmentos organiza-
(1987), a Constituição Federal de 1934,
dos da classe trabalhadora.
primeira constituição do país a possuir um
capítulo referente à ordem econômica e A própria preocupação com o tema da
social, foi também pioneira na definição ordem econômica e social na Constituição
de responsabilidades sociais do Estado. de 1934 decorreu, primariamente, das
Entre as novas iniciativas governamen- mudanças que se faziam sentir nas rela-
tais no campo das políticas sociais foi ins- ções econômicas e sociais e que se ori-
tituída a assistência médica e sanitária ao ginavam do desenvolvimento industrial
trabalhador e à gestante. Seu texto final recente. A esse respeito, Lonzar assim se
incluiu ainda temas como o salário míni- refere:
mo, a jornada de trabalho de oito horas,
o repouso semanal remunerado, o direito O crescimento e a organização da
a férias anuais, a indenização em caso de força de trabalho industrial, aliado às
demissão sem justa causa, a aposentado- péssimas condições de trabalho, de-
ria por idade, invalidez ou acidente de tra- sencadeavam o que se passou a cha-
balho, a concessão de pensão aos depen- mar embate entre capital e trabalho. O
dentes por morte do trabalhador, além crescimento e a organização da buro-
de outras medidas de caráter preventivo cracia estatal, além de uma certa auto-
que, sob responsabilidade da União, dos nomia do Estado em relação à socieda-
Estados e dos municípios, formavam o de, traziam à luz um segundo embate,
sistema de seguridade social do trabalha- entre a iniciativa privada e a estatiza-
dor na época. No campo específico da as- ção, correlatamente vai surgindo uma
sistência social foram criados serviços de terceira questão com a expansão do
amparo aos desvalidos, serviços de socor- capital através da propriedade da ter-
ro às famílias de prole numerosa, serviços ra. A disputa aqui envolverá o capital
de proteção à maternidade e à infância, privado, o trabalho e o Estado (1987, p.
além de ter sido regulamentado o traba- 45).
lho infantil.
Com a instalação do Estado Novo, no
Se, por um lado, a introdução dessas
ano de 1937, um novo período pode ser
obrigações do poder público no novo sis-
demarcado para aquele modelo inicial de
tema legal indicava um salto de qualidade
organização das políticas sociais no país.
nos serviços sociais existentes, expres-
Revogada a Constituição de 1934, a nova
sando novas determinações políticas e
Carta Constitucional apresentava grandes
ideológicas na relação entre o Estado e a
retrocessos no que tange às liberdades
sociedade civil, por outro, as formulações
políticas e aos direitos sociais dos cida-
da política social introduzidas pelo mo-
dãos. Somando-se a isso, o novo panora-
delo adotado na esfera governamental,
ma político do país, após a instauração da
15

ditadura varguista, tornava extremamen- de reafirmação da legislação social cor-


te difícil a sustentação desses direitos porativa, incorporando de forma parcial
pela via da mobilização popular. Embora e controlada as reivindicações populares,
não tenham sucumbido por completo, as através de procedimentos clientelistas na
manifestações populares que reivindica- relação entre o Estado e os setores orga-
vam melhores condições de vida foram nizados da sociedade civil.
reprimidas com força cada vez maior, a
É nesses termos, enquanto mediadora
ponto de terem suas consequências neu-
da relação entre capital e trabalho, que
tralizadas pelo aparelho de Estado.
se desenvolveram as iniciativas governa-
Conjuntamente, a edição de uma nova mentais da época, com destaque da cria-
legislação trabalhista interferiu na estru- ção da Legião Brasileira de Assistência,
tura de organização do movimento sindi- em 1938, e do Departamento Nacional da
cal, atrelando-o ao Estado e reforçando o Criança, vinculado ao Ministério da Saúde.
corporativismo no interior das categorias No âmbito das ações privadas, a criação
de trabalhadores. do Serviço Nacional de Aprendizagem In-
dustrial (SENAI) e do Serviço Social da in-
Como alternativa legítima para mani-
dústria (SESI), respectivamente em 1942
festação das demandas populares, resta-
e 1946, acentuaria o caráter conservador
ram as ligas de bairros, que na época de-
das ações sociais da época.
senvolveram suas atividades ativamente
nas lutas por infraestrutura urbana, rei- De acordo com Rizotti (2001), a análi-
vindicação dotada de grande apelo popu- se do caso particular da política de assis-
lar no contexto de urbanização acelerada tência social apenas reafirma a conclusão
que se desenvolvia, sobretudo, nos en- que apresentamos no parágrafo anterior.
tornos dos grandes centros urbanos. A década de 1940 foi o período no qual o
Estado, ao lado dos tradicionais progra-
Entre os retrocessos que podemos re-
mas de atenção a crianças carentes e aos
gistrar na Constituição de 1937 encon-
idosos, iniciou novas linhas de atuação na
tram-se a limitação do direito à educação
área, tais como os programas de enfren-
universal, a ampliação do controle estatal
tamento à pobreza realizados na época.
sobre a organização sindical trabalhis-
Entretanto, os novos programas apre-
ta e a redefinição das competências dos
sentavam-se fortemente condicionados
governos regionais e locais nas ações de
por uma concepção assistencialista, o que
política social, resultando em grande cen-
resultava em ações pontuais, fragmenta-
tralização de ações e chegando ao ponto
das e de alta seletividade, com alijamen-
de restar aos municípios tão somente a
to significativo de parcelas da população
administração de cemitérios.
que não possuíam acesso aos serviços de-
Nesse contexto legal e político, as mandados por suas carências, originadas
ações das políticas sociais desenvolvidas da nova situação de desenvolvimento do
terão caráter apenas incipiente, servindo país. Esse era o limite do primeiro marco
prioritariamente como método de contro- das políticas sociais no Brasil.
le dos movimentos sociais emergentes e
Mas não podemos nos esquecer que
16

foi durante o período populista que, final- políticas sociais estender-se-ia ainda ao
mente, a extensão de direitos sociais no campo da Previdência Social, resultando
país encontrou-se definitivamente selada na promulgação da Lei Orgânica da Previ-
pela marca corporativa, em virtude de sua dência Social, em 1960, que estabeleceu
associação às modificações na legislação a uniformização dos benefícios previden-
trabalhista vigente, quase sempre impul- ciários.
sionadas pela pressão política daquelas
Segundo Fagnani (1989), dessa rees-
camadas e categorias mais bem organiza-
truturação parcial, desenvolveu-se um
das e plenamente integradas à ordem so-
modelo de financiamento das políticas so-
cial competitiva.
ciais que expressava contundentemente
De acordo com Mestriner (1992), é sig- as contradições do regime populista. De
nificativo o sentido da criação de novos um lado, os serviços para os quais foi pos-
serviços e de reestruturação da gestão sível criar fontes de financiamento que
dos serviços sociais existentes na época. contavam com a contribuição de empre-
Isso porque o modelo de cooptação instau- gados e empregadores (o exemplo mais
rado pelas políticas populistas de Estado importante aqui é política previdenciária,
encontrar-se-ia alinhado a iniciativas de à qual encontravam-se agregados os ser-
privatização daqueles serviços de alguma viços de assistência médica, habitação e
maneira rentáveis, tais como os serviços saneamento básico); de outro, políticas
médicos, previdenciários e de produção inteiras dependentes exclusivamente do
de habitações e, no período, ganharia for- orçamento fiscal, tais como a saúde públi-
ça o modelo de prestação de serviços so- ca, a educação, a suplementação alimen-
ciais sob gestão do empresariado – como tar e o transporte de massas.
atesta a criação do Serviço Nacional de
Não podemos nos esquecer em mo-
Aprendizagem da Indústria (SENAI), com o
mento algum que o Banco Mundial, em
objetivo de adequação da força de traba-
negociações com o governo brasileiro,
lho às demandas emergentes das empre-
foi o principal organismo internacional
sas. Isso também porque àqueles serviços
a interferir sobre o padrão das políticas
cujas características eram impróprias à
sociais no país. Como consequência mais
gestão privada – os serviços assistenciais,
importante dessa interferência, perde-
em particular – foi dada nova formulação,
ram força as ações de regulação no cam-
que sinalizava um reforço aos modelos de
po do trabalho e sobrevieram medidas de
gestão científica, com a criação de servi-
atenção às necessidades sociais ligadas
ços próprios, tais como creches, hospitais
ao saneamento básico e à educação. Tais
e lactários vinculados à Legião Brasileira
medidas foram impostas, sobretudo, pelo
de Assistência (LBA) e a criação da Fun-
modelo de desenvolvimento econômico
dação Estadual do Bem-Estar do Menor
adotado em toda a América Latina, e no
(FEBEM), encarregada da difusão de ser-
Brasil em particular, que tornava indis-
viços de atendimento social a crianças em
pensável a constituição de políticas glo-
situações de risco, a partir da perspectiva
bais para o atendimento à questão social
da educação e da prevenção. A preocupa-
que se apresentava.
ção com a reformulação dos serviços de
17

De acordo com Rizotti (2001), a com- impondo um esvaziamento das ações e


binação desse modelo de financiamento responsabilidades dos governos regionais
com os mecanismos de cooptação do Esta- e locais, com a ausência de Estados e mu-
do populista – que procurava antecipar-se nicípios na execução dessas políticas pú-
às demandas sociais dos movimentos or- blicas. A questão social era incorporada ao
ganizados, esvaziando-lhes os conteúdos regime autocrático como ação estratégica
de reivindicação e produzindo respostas de manutenção da estabilidade política e
seletivas às demandas apresentadas – re- social no país.
dundou no enfraquecimento dos direitos
Desse modo, segundo Rizotti (2001),
sociais da população, sendo os benefícios
foi levada a termo uma significativa refor-
e serviços das políticas públicas configu-
mulação dos mecanismos de gestão e de
rados como privilégios de setores particu-
controle das políticas sociais que, por for-
lares da sociedade civil, oriundos de uma
ça do contexto político daquele momento,
negociação política regulada e injusta.
redundaria de imediato na exclusão da
Isso se tornou ainda mais evidente com a
participação popular em qualquer forma
interferência de organismos internacio-
de controle sobre as políticas desenvolvi-
nais que condicionavam o apoio financeiro
das. Movimentos sociais, sindicatos e par-
externo ao Brasil ao cumprimento de re-
tidos políticos encontravam-se alijados do
formas sociais pelo governo federal.
processo de discussão e avaliação das po-
No princípio da década de 1960, o con- líticas, reforçando-se ainda mais o caráter
texto político brasileiro prenunciava uma tecnocrático de sua gestão.
era de grandes transformações sociais.
Conforme Rizotti (2001), no final da
Nos mais diversos campos da vida nacional
década de 1970, o modelo de desenvolvi-
eclodiam movimentos sociais de amplitu-
mento instaurado pelo regime militar da-
de abrangente. Das ligas camponesas, no
ria seus primeiros sinais de esgotamento.
meio rural nordestino, ao movimento pe-
O fim do “milagre econômico brasileiro” já
las reformas de base no centro-sul desen-
podia ser sentido nos últimos anos da dé-
volvido, as reivindicações populares do
cada e, no período de 1977 a 1982, agra-
período produziam permanente mobiliza-
varam-se as condições gerais de vida da
ção no interior da sociedade, dotando de
população, fazendo ressurgir, agora com
grande expressão as bandeiras de lutas
força renovada, os movimentos sociais de
sociais das classes subalternas, entretan-
reivindicação.
to, os setores conservadores da socieda-
de também se mobilizaram e o resultado Conforme Rizotti (2001), em 1979,
foi a derrubada do governo seguido pela aconteceu em São Paulo e em Belo Hori-
instauração do regime ditatorial, susten- zonte o movimento das favelas. Nessas
tado e regido pelas forças armadas. Che- mesmas cidades, no período subsequen-
gamos, então, ao fim dos governos popu- te, somaram-se a este os movimentos
listas. de luta por creche. O transporte coletivo
também foi motivo para manifestações
O Governo Federal centralizou os servi-
em muitas cidades brasileiras e obteve
ços e recursos das políticas sociais no país,
grande repercussão até mesmo entre os
18

setores patronais, pois desempenhava da arrecadação auferida, e perdeu rapida-


função estratégica na determinação das mente sua capacidade de investimento,
possibilidades de recrutamento da força abandonando as metas de médio e longo
de trabalho pelas empresas. Em 1982, o prazo anteriormente traçadas para o se-
Movimento Contra a Carestia ganharia ex- tor. O sistema previdenciário, diante da
pressão nacional, reunindo sob suas ban- perspectiva de restrição financeira, redi-
deiras amplas reivindicações populares e mensionou suas alíquotas de arrecadação
promovendo mobilização em todo o terri- e limitou os benefícios pagos, buscando
tório nacional. obter por meio dessas medidas o equilí-
brio orçamentário perdido com a insufi-
Para o mesmo autor, citado anterior-
ciência de recursos do tesouro nacional
mente, os anos 80 seriam identificados
para sua manutenção. O caráter seletivo
como a “década perdida”, especialmente
das políticas sociais foi ainda mais acentu-
pelo período recessivo que o país conhe-
ado pelo novo conjunto de normas admi-
ceu entre 1981 e 1983. Nesse contexto
nistrativas, que passaram então a regular
de grave crise econômica, a atividade in-
o acesso aos direitos sociais previstos na
dustrial no país caiu em quatro por cento,
legislação.
ocasionando um crescimento acelerado
do desemprego e acentuada defasagem Chegamos a Nova República!
no valor real dos salários pagos para a for-
O contexto político e econômico da pri-
ça de trabalho. Ambas as circunstâncias
meira metade dos anos 80 recolocou a
agravavam ainda mais as já comprometi-
questão social na agenda pública da socie-
das condições de vida, porque resultavam,
dade brasileira. O esgotamento do mode-
numa ponta, na generalização da pobreza
lo de desenvolvimento baseado em forte
e, noutra, na geração de uma importante
desempenho das exportações primárias
crise fiscal que tornava ainda mais pre-
que se fizera sentir desde os fins da dé-
cária a manutenção das políticas sociais
cada anterior e que se acelerou naqueles
conduzidas pelo Estado.
anos, aprofundou ainda mais a crise eco-
Conforme Rizotti (2001), pressionado nômica e social vivenciada. Politicamente,
por um desempenho econômico aquém a emergência de novos e mais intensos
do esperado, e pela perspectiva de degra- movimentos sociais tornara o problema
dação do quadro econômico futuro que da “dívida social” parte obrigatória do de-
a conjuntura internacional prenunciava, bate em torno da transição para a demo-
o governo federal recuou na sua política cracia. O resgate da “dívida social” passou
de investimentos sociais e em infraestru- a consistir, a partir de então, em bandeira
tura, passando a adotar um programa de política legitimadora da instauração de
controle rígido do orçamento público. uma nova ordem democrática.

Para o mesmo autor, os efeitos dessa Cardoso (1994 apud Rizotti, 2001)
nova condição financeira seriam rapida- apresenta-nos uma análise dos movimen-
mente sentidos no campo das políticas so- tos sociais na fase da transição para a de-
ciais. O sistema educacional passou a ter mocracia no Brasil, interpretando-os de
seu orçamento limitado a percentual fixo acordo com o papel que desempenharam
19

na constituição das novas políticas públi-


cas do período. De acordo com a autora,
duas grandes fases identificam os movi-
mentos sociais da época. A primeira, que
remonta ao último ciclo do período militar,
caracterizou-se por uma “emergência he-
róica dos movimentos” que cumpriam o
papel de combater frontalmente as políti-
cas desenvolvidas pelo aparelho governa-
mental. A segunda, tipicamente localizada
nos processos de ascensão das oposições
ao poder (tanto na esfera estadual, quan-
to na esfera federal), caracterizou-se por
uma progressiva institucionalização des-
ses movimentos, que passaram a intera-
gir diretamente com as agências governa-
mentais encarregadas do planejamento e
gestão das políticas públicas.

Embora o resultado mais importante da


conjunção das aspirações por liberdade
política e igualdade social que se espera-
va com o processo de abertura democráti-
ca fosse a formação de um novo paradig-
ma para as políticas sociais no Brasil, ainda
se observa que as políticas sociais ficam
caracterizadas mais pela manutenção e
garantia do controle social do que uma
busca efetiva e plena do desenvolvimen-
to social.
20
UNIDADE 3 – Políticas públicas para
saúde
Para os profissionais que não tiveram ticipam ou se beneficiam dela.
uma formação específica na área de saú-
Segundo o Ministério da Saúde (Brasil,
de ou ainda não atuam diretamente nessa
2001), as linhas de atuação devem pro-
área, pode ser difícil entender os cami-
porcionar à população condições e requi-
nhos percorridos pela saúde até os dias
sitos necessários para melhorar e exercer
atuais, portanto, acreditamos ser impor-
controle sobre sua saúde, envolvendo a
tante fornecer subsídios teóricos para a
paz, a educação, a moradia, o alimento,
construção de uma base sólida, concei-
a renda, um ecossistema estável, justiça
tuando políticas e discorrendo um pouco
social e equidade.
sobre os programas de saúde na esfera
pública. Apresentaremos a divisão “polí- No entanto, como apontam Teixeira,
tico-administrativa” do sistema de saúde Paim e VilasBôas (1998), o movimento de
pública no Brasil, seus níveis de assistên- promoção da saúde no país é indissociável
cia e a descentralização; analisando as do processo de reorientação das políticas
perspectivas da política de saúde brasilei- de saúde na década de 90 e de seus múl-
ra e ainda definindo as várias políticas de tiplos desdobramentos institucionais e
saúde implantadas pelo governo federal políticos. As Normas Operacionais Básicas
voltadas para o idoso, a mulher, a criança (NOBs), a partir de 1991, estruturaram e
e o adolescente, o índio, o negro, o tra- aprofundaram o processo de descentra-
balhador, o portador de deficiência física, lização do SUS e reorientaram o modelo
dentre outras que são importantes para o assistencial, favorecendo a ampliação do
Serviço Social. acesso aos serviços de saúde, a participa-
ção da população e a melhoria do fluxo de
Vamos tomar como ponto de partida
recursos financeiros destinados à saúde
para analisar as políticas públicas direcio-
entre a união, estado e municípios. A im-
nadas para saúde, meados dos anos 50
plementação do Programa de Agentes Co-
do século XX quando os indicadores de
munitários de Saúde (PACS), do Programa
saúde começaram a registrar progressos
de Saúde da Família (PSF) e a criação da
e mesmo quando se iniciou o processo de
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
implementação. Assim, ao longo desses
(ANVISA) foram, igualmente, iniciativas
sessenta anos, dentre outros elementos,
que pavimentaram a trajetória da promo-
encontramos que a esperança de vida
ção da saúde. Neste sentido, pode-se di-
média do brasileiro aumentou considera-
zer que a Política de Promoção da Saúde
velmente e a taxa de mortalidade infantil
agregou aos princípios norteadores do
diminuiu quase quatro vezes, o que, de
Sistema Único de Saúde (SUS), propostas
acordo com Médici (2007), nos mostra
que reconhecem a necessidade de trans-
mudanças consideráveis em termos de
formar o perfil de intervenção e que apro-
promoção de saúde, entretanto, há que
fundam a análise da interdependência en-
se ressaltar que infelizmente essas cons-
tre problemas sociais e de saúde.
tatações não querem dizer que todos par-
21

Nesse sentido, as políticas de saúde enças, que por sua vez, eram executadas
pública assumem um papel de extrema em serviços de saúde pública, organiza-
importância, enquanto estratégias go- dos em estrutura governamental diversa
vernamentais, capazes de criar condições e com aporte financeiro extremamente
sanitárias favoráveis, visando preservar reduzido. Os serviços de saúde pública de
a saúde dos membros de uma sociedade, responsabilidade do Ministério da Saúde e
principalmente para os segmentos sociais das Secretarias Estaduais de Saúde, cui-
menos favorecidos economicamente. Se- davam basicamente das doenças infec-
gundo Lucchese (2004), nesse processo ciosas de caráter endêmico e epidêmico,
foram ainda intensamente valorizados o com alguma ênfase na educação em saú-
potencial individual e comunitário para de. A assistência médica nesses serviços
participar das escolhas e decisões públi- era completamente subordinada ao enfo-
cas sobre a política de saúde. que coletivo, sendo oferecida com o obje-
tivo de controlar a incidência/prevalência
A municipalização da Saúde no Brasil,
das doenças infecciosas, em detrimento
nosso ponto de chegada, é fruto de um
da demanda espontânea por assistência
longo processo, surgindo na década de
médica individual.
1950, pautada pelas concepções do cha-
mado “sanitarismo desenvolvimentista”. Devido às consequências do modelo
econômico vigente na década de 70 e o
Segundo Fadul (1978) “a idéia funda-
endividamento do país, mais precisamen-
mental era criar uma rede flexível, que a
te após a segunda metade da década, o
nível municipal se adequasse à realida-
modelo previdenciário brasileiro entrou
de do município e que fosse se tornando
numa aguda crise financeira, que foi o pri-
mais complexa à medida que o próprio
meiro passo para a descentralização.
município se desenvolvesse [...]”, mas, se-
gundo Heimann et al (2008), somente na Até a década de 1980, o sistema de
década de 70 surgiram, em algumas cida- saúde era centralizador e em 1987, inicia-
des, como Londrina (PR), Campinas (SP) e -se a criação do Sistema Unificado e Des-
Niterói (RJ), experiências de formulação centralizado de Saúde (SUDS) - primeiro
de políticas locais de saúde e de organi- movimento na direção da descentraliza-
zação de redes municipais baseadas nos ção e hierarquização. Na Constituição Fe-
princípios da atenção primária, divulgada deral de 1988 foram estabelecidos os
pela Conferência de Alma Ata/OMS e da princípios de universalização do direito à
medicina comunitária. saúde e ao atendimento médico gratuito
como deveres do Estado. Rede regionali-
De âmbito nacional, a assistência mé-
zada e hierarquizada. Criação do Fundo de
dica previdenciária era a principal forma
Seguridade Social. Em 1990, foi criado o
de prestação de atenção à saúde, carac-
Conselho Nacional de Saúde e instituída
terizando-se pelo atendimento clínico
a Lei 8.080 que dispõe sobre a criação do
individual, com privilégio da atenção hos-
Serviço Único de Saúde (SUS) e estabele-
pitalar e especializada, estando ausen-
ce o conjunto de ações que devem ser se-
te qualquer medida de saúde pública de
guidas por instituições públicas, federais,
promoção da saúde ou prevenção de do-
22

estaduais e municipais, bem como a Con-


ferência e o Conselho de Saúde regula- o conjunto de ações coletivas volta-
mentaram a participação da comunidade das para a garantia dos direitos sociais,
na gestão do SUS através da Lei n. 8142. configurando um compromisso público
que visa dar conta de determinada de-
De acordo com Brasil (2002), a nossa
manda, em diversas áreas. Expressa a
Constituição Federal (1988) estabeleceu
transformação daquilo que é do âmbi-
em seu artigo 196 que a saúde é “direi-
to privado em ações coletivas no espa-
to de todos e dever do Estado, garantido
ço público.
me¬diante políticas sociais e econômicas
que visem à redução do risco de doença e Sendo diretrizes tomadas que visam a
de outros agravos e ao acesso universal e resolução de problemas ligados à socie-
igualitário às ações e aos serviços para sua dade como um todo, englobando saúde,
promoção, proteção e recuperação”, o que educação, segurança e tudo mais que se
vem ampliar o conceito de saúde firmado refere ao bem-estar do povo.
na Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos. Essa ampliação é um resultado Ao contrário de uma decisão política,
de vários fatores determinantes e con- uma política pública envolve muito mais
dicionantes como alimentação, moradia, que uma vontade ou uma decisão, pro-
saneamento básico, meio ambiente, tra- priamente dita. Ela requer diversas ações
balho, renda, educação, transporte, lazer, estrategicamente selecionadas para im-
acesso a bens e serviços essenciais. Por plementar as decisões tomadas. Portan-
isso, as gestões municipais do SUS – em to, é necessário que sejam expressas,
articulação com as demais esferas de go- manifestas e se traduzam em recursos no
verno – devem desenvolver ações conjun- Orçamento. Só a intenção não é suficien-
tas com outros setores governamentais, te, é preciso vinculá-las aos recursos.
como meio ambiente, educação, urbanis- Conforme Brasil (2002), em termos de
mo, entre outros, que possam contribuir, saúde, é o conjunto de ações e serviços
direta ou indiretamente, para a promoção de saúde, prestados por órgãos e institui-
de melhores condições de vida e da saúde ções públicas federais, estaduais e muni-
para a população. cipais, da administração direta e indireta
Embora já tenhamos discorrido sobre e das fundações mantidas pelo Poder Pú-
conceitos e definições para as Políticas blico. Consiste de um conjunto normativo,
Públicas, é importante frisar que são as institucional e técnico que materializa a
decisões de um governo em diversas áre- grande política de saúde desenhada para
as que influenciam a vida de um conjunto o país a partir da Constituição de 1988.
de cidadãos. São os atos que o governo Embora integrando o campo das ações
faz ou deixa de fazer e os efeitos que tais sociais, orientadas para melhoria das
ações ou a ausência destas provocam na condições de saúde da população e dos
sociedade. Para Lucchese (2004), Políti- ambientes naturais, social e do trabalho,
cas Públicas são: especificamente em relação a política pú-
blica para saúde, podemos dizer que ela
23

organiza as funções públicas governa- tegração entre o planejamento e o orça-


mentais, através da promoção, proteção mento público (funções/ subfunções do
e recuperação da saúde dos cidadãos e da planejamento x programas do orçamen-
coletividade. to).

De acordo com Lucchese (2004), as po- Articula um conjunto de ações que con-
líticas públicas no Brasil se orientam pelos correm para um objetivo comum prees-
princípios da universalidade e equidade tabelecido, mensurado por indicadores
no acesso às ações e serviços e pelas dire- estabelecidos no Plano Plurianual (PPA),
trizes de descentralização da gestão, de visando à solução de um problema ou o
integralidade do atendimento e de parti- atendimento de uma necessidade ou de-
cipação da comunidade, na organização manda da sociedade.
de um sistema único de saúde no territó-
rio nacional.
Os programas são compostos por
atividades, projetos e uma nova cate-
Uma vez que elas se materializam goria de programação denominada
através de ações concretas envolvendo operações especiais:
sujeitos e atividades institucionais, em
determinado contexto e condicionando Atividade – é um instrumento de pro-
resultados, elas precisam de acompanha- gramação para alcançar o objetivo de um
mento e avaliação permanentes. Aconte- programa, envolvendo um conjunto de
cem através dos programas, definido no operações que se realizam de modo con-
glossário temático referente ao sistema tínuo e permanente, das quais resulta
de Planejamento, Monitoramento e Ava- um produto necessário à manutenção da
liação das Ações em Saúde, lançado pelo ação de governo.
Ministério da Saúde em 2006, como: Projeto – é um instrumento de pro-
gramação para alcançar o objetivo de um
Instrumento de organização da ação
programa, envolvendo um conjunto de
governamental com vistas ao enfren-
operações que se realizam num período
tamento de um problema e à concre-
limitado de tempo, das quais resulta um
tização dos objetivos pretendidos,
produto que concorre para a expansão ou
sendo mensurado por indicadores.
o aperfeiçoamento da ação de governo.
Nota: articula um conjunto coerente
de ações (orçamentárias e não-orça- Operação Especial – são ações que
mentárias), necessárias e suficientes não contribuem para a manutenção das
para enfrentar o problema, de modo a ações de governo, das quais não resulta
superar ou evitar as causas identifica- um produto e não geram contraprestação
das, como também aproveitar as opor- direta sob a forma de bens ou serviços. Re-
tunidades existentes. Resumidamen- presentam, basicamente, o detalhamen-
te, são ações permanentes para atingir to da função “Encargos Especiais”. Porém,
objetivos precisos. um grupo importante de ações com a na-
tureza de operações especiais quando as-
Segundo Piscitelli et al (2004), o pro- sociadas a programas finalísticos podem
grama representa o elo de ligação e in- apresentar produtos associados.
24

De acordo com Piscitelli et al (2004), Polignano (2008) define muito bem


toda a ação finalística do Governo Fede- os objetivos e as atribuições do SUS:
ral deverá ser estruturada em programas,
orientados para consecução dos objetivos Identificar e divulgar os fatores con-
estratégicos definidos para o período no dicionantes e determinantes da saúde;
PPA. A ação finalística é a que proporciona Fornecer assistência às pessoas por
bem ou serviço para atendimento direto intermédio de ações de promoção, prote-
às demandas da sociedade. São 3 (três) os ção e recuperação da saúde com a reali-
tipos de programas previstos: zação integrada das ações assistenciais e
Programas Finalísticos São pro- das atividades preventivas;
gramas que resultam em bens e serviços Executar as ações de vigilância sani-
ofertados diretamente à sociedade. O in- tária e epidemiológica;
dicador quantifica a situação que o pro-
grama tenha por fim modificar, de modo Executar ações visando a saúde do
a explicitar o impacto das ações sobre o trabalhador;
público alvo; Participar na formulação da política e
Programas de Gestão de Políticas na execução de ações de saneamento bá-
Públicas Os Programas de Gestão de sico;
Políticas Públicas abrangem as ações de Participar da formulação da política
gestão de Governo e serão compostos de de recursos humanos para a saúde;
atividades de planejamento, orçamento,
controle interno, sistemas de informação Realizar atividades de vigilância nu-
e diagnóstico de suporte à formulação, tricional e de orientação alimentar;
coordenação, supervisão, avaliação e di- Participar das ações direcionadas ao
vulgação de políticas públicas. As ativida- meio ambiente;
des deverão assumir as peculiaridades de
cada órgão gestor setorial; Formular políticas referentes a me-
dicamentos, equipamentos, imunobioló-
Programas de Serviços ao Estado gicos e outros insumos de interesse para
Programas de Serviços ao Estado são os a saúde e a participação na sua produção;
que resultam em bens e serviços ofer-
tados diretamente ao Estado, por insti- Controlar e fiscalizar os serviços, pro-
tuições criadas para esse fim específico. dutos e substâncias de interesse para a
Seus atributos básicos são denominação, saúde;
objetivo, indicador(es), órgão(s), unida-
Fiscalizar e inspecionar alimentos,
des orçamentárias e unidade responsável
água e bebidas para consumo humano;
pelo programa.
Participar no controle e fiscalização
Uma vez que temos os conceitos relati-
de produtos psicoativos, tóxicos e radio-
vos a políticas públicas e programas, quais
ativos;
são os objetivos primordiais das políticas
públicas voltadas para a saúde? Incrementar o desenvolvimento cien-
25

tífico e tecnológico na área da saúde; sil” (BRASIL, 2006).

Formular e executar a política de san- Como começamos a falar no início deste


gue e de seus derivados. capítulo, a política de descentralização do
sistema de saúde no Brasil não aconteceu
Quanto às funções essenciais da de uma só vez, nem de forma homogê-
saúde pública, Lucchese (2004) sinte- nea. Para o Ministério da Saúde (BRASIL,
tiza da seguinte maneira: 2001), o fortalecimento da gestão des-
Prevenção e controle de doenças, centralizada constitui estratégia funda-
elaborando estratégias de vacinação; mental para assegurar o acesso integral
da população às medidas dirigidas à pro-
Vigilância epidemiológica sobre gru- moção, proteção e recuperação da saú-
pos e fatores de riscos; de. Tal fortalecimento depende, todavia,
Monitoramento de situação de saú- da participação decisiva dos secretários
de; de saúde e dos prefeitos, o que de fato já
vem ocorrendo na grande maioria dos mu-
Avaliação de eficácia/efetividade de nicípios e propiciando os avanços obtidos.
serviços de saúde;
De acordo com Ortiz (2007), a criação e
Regulação e fiscalização estabele- a implementação de uma série de progra-
cendo padrões de qualidade; mas com a descentralização e a municipa-
Planejamento; lização da saúde, permitiu a cada municí-
pio, conhecedor de seus problemas, agir
Pesquisa e desenvolvimento tecno- de acordo com as suas necessidades.
lógico; e por fim,
Os resultados da descentralização
Desenvolvimento de recursos huma- também não foram homogêneos, sendo
nos – capacitando epidemiologistas de diversas as razões: dimensão continental
campo. do país, diferenças regionais e uma enor-
me quantidade de municípios existentes,
Para Barros, Piola e Vianna (1996),
mais de 5000, dos quais a maioria de pe-
o objetivo é fazer cumprir os preceitos
queno porte. Dada essa extensão, houve
constitucionais que estão no artigo 196.
dificuldades de muitos municípios para
Nas palavras do ministro da Saúde, José assumir o novo modelo, assim, para viabi-
Gomes Temporão: “A melhoria dos servi- lizar o processo de descentralização, Or-
ços e o incremento de diferentes abor- tiz explica que foram criadas três Normas
dagens configuram, assim, prioridade do Operacionais Básicas (NOB) no SUS duran-
Ministério da Saúde, tornando disponíveis te a década de 90: NOB 91, NOB 93 e NOB
opções preventivas e terapêuticas aos 96, que procuraram estabelecer critérios
usuários do SUS. Esta Política Nacional gerais no modelo assistencial de saúde,
busca, portanto, concretizar tal priorida- incluindo seus aspectos organizacionais e
de, imprimindo-lhe a necessária seguran- financeiros.
ça, eficácia e qualidade na perspectiva da
A Norma Operacional Básica 96 (NOB
integralidade da atenção à saúde no Bra-
26

96) dividiu as condições em: Gestão Ple- várias foram as mudanças, principalmen-
na do Sistema Municipal, que incorpora te na década de 90, como por exemplo, a
a gestão de média e alta complexidade e criação do SUS, modelo amplo de assis-
Gestão Plena de Atenção Básica, onde os tência à saúde da população, independen-
municípios se responsabilizam pela ges- te da classe social.
tão dos serviços básicos de saúde. Para
Como sabemos, as políticas públicas
garantir a operacionalização desses no-
para o setor da saúde são definidas a par-
vos procedimentos, em 1998, foi criado o
tir de critérios técnicos, bem como atra-
Piso de Atenção Básica (PAB), no qual os
vés de órgãos deliberativos, com a partici-
recursos passaram a ser diretamente pro-
pação de vários segmentos da sociedade
porcionais ao número de habitantes do
brasileira, como, por exemplo, o Conselho
município, o que possibilitou uma maior
Nacional de Saúde, cujas competências
estabilidade no planejamento das ações
também foram elencadas acima.
de saúde local.
Quanto aos limites para a atuação do
Ainda, segundo Ortiz (2007) com a des-
Poder Executivo na área da saúde no Bra-
centralização, o sistema de saúde melho-
sil, estes são bastante amplos. É o Poder
rou na transferência dos recursos que
Executivo, geralmente através do Minis-
passou a ser direta para estados e municí-
tério da Saúde, que define quais serão
pios, houve transferência de responsabi-
as políticas públicas prioritárias durante
lidades e atribuições do nível federal fun-
a gestão de um governo e o Congresso,
damentalmente para o municipal. Houve
conjuntamente, pelo menos em sintonia,
também expansão e desconcentração
deve decidir e aprovar qual a área prio-
da oferta de serviços, aumento da parte
ritária para investir em saúde. Dito isto,
de alguns municípios no financiamento
vamos tentar analisar, mesmo que super-
à saúde, criação de instâncias mais de-
ficialmente, o que o último governo tem
mocráticas de participação da sociedade
feito para entendermos um pouco a dinâ-
na implementação da política de saúde,
mica daqueles que vivem e trabalham no
formação de instâncias intergestoras de
sistema de saúde.
gestão entre estados e municípios, ex-
pansão da atenção primária à saúde e mu-
dança nas práticas assistenciais da saúde
Diagnóstico e perspectivas atuais das
mental.
políticas públicas para saúde
Segundo Appio (2008), a forma como
Segundo Bravo (2008), a análise que se
o Estado interfere na sociedade e as re-
faz do governo atual é que a política ma-
percussões do modelo econômico adota-
croeconômica do antigo governo foi man-
do por boa parte dos países ocidentais, ao
tida e as políticas sociais estão fragmen-
longo dos últimos vinte anos, trouxe se-
tadas e subordinadas a lógica econômica.
veras consequências para os respectivos
Nessa setorização, a concepção de segu-
sistemas de assistência pública à saúde.
ridade social não foi valorizada, mantendo
Até o ano de 1985, o Brasil convivia com
a segmentação das três políticas: saúde,
um regime de ditadura militar. Depois,
assistência social e previdência social.
27

Com relação à saúde, havia uma expec- projetos. Em algumas proposições procu-
tativa que o governo atual fortalecesse o ra fortalecer o primeiro projeto e, em ou-
projeto de reforma sanitária que foi ques- tras, mantém o segundo projeto quando
tionado nos anos 90, havendo, no perío- as ações enfatizam a focalização e o des-
do, a consolidação do projeto de saúde financiamento.
articulado ao mercado ou privatista, en-
O quadro abaixo fornece alguns aspec-
tretanto, apesar de explicitar como desa-
tos que Bravo (2008) considera inovado-
fio a incorporação da agenda ético-políti-
res e outros de descontinuidade relacio-
ca da reforma sanitária, pelas suas ações
nados com os dois projetos em disputa.
tem mantido a polarização entre os dois

Inovação Descontinuidade
- Retorno da concepção de Reforma Sanitá- - Ênfase na focalização, na precarização,
ria, que, nos anos 90, foi totalmente aban- na terceirização dos recursos humanos, no
donada; desfinanciamento e a falta de vontade po-
- Escolha de profissionais comprometidos lítica para viabilizar a concepção de Seguri-
com a luta pela Reforma Sanitária para ocu- dade Social:
par o segundo escalão do Ministério; - O programa Saúde da Família, por exem-
- Alterações na estrutura organizativa do plo, precisaria ter sua direção modificada
Ministério da Saúde, sendo criadas quatro na perspectiva de prover atenção básica
secretarias e extintas três; em saúde para toda a população de acordo
- Convocação extraordinária da 12ª Confe- com os princípios da universalidade. Para
rência Nacional de Saúde e a sua realização garantir a integralidade, o mesmo precisa
em dezembro de 2003; ter como meta a (re)organização do siste-
- Participação do ministro da saúde nas ma como um todo, prevendo a articulação
reuniões do Conselho Nacional de Saúde da atenção básica com os demais níveis de
e a escolha do representante da CUT para assistência.
assumir a secretaria executiva do Conselho - Em relação à precarização e terceirização,
Nacional de Saúde; refere-se a ampliação da contratação de
- Criação da Secretaria de Atenção à Saúde agentes comunitários de saúde e a inserção
que visou unificar as ações de atenção bá- de outras categorias que não são regula-
sica, ambulatorial e hospitalar integrando mentadas: auxiliar e técnico de saneamen-
as atribuições das extintas secretarias de to, agente de vigilância sanitária, agentes
Política de Saúde e de Assistência à Saúde; de saúde mental.
- Criação da Secretaria de Gestão do Traba- - A questão do desfinanciamento é a mais
lho em Saúde que tem como função formar séria, pois está diretamente articulada ao
recursos humanos para a saúde e regula- gasto social do governo e é a determinan-
mentar as profissões e o mercado de tra- te para a manutenção da política focal, de
balho na área. A criação desta secretaria precarização e terceirização dos recursos
busca enfrentar a questão de recursos hu- humanos.
manos para o SUS que é um grande proble-
ma de estrangulamento do sistema.
28

Segundo Nogueira e Mioto (2008), a trabalho coletivo e requer o esforço cola-


expectativa que se colocava para o gover- borativo das pessoas e organizações.
no atual era a de fortalecer o SUS consti-
O governo estuda, analisa, formula e
tucional. Entretanto, o que temos visto é
lança as políticas que poderíamos cha-
o Projeto de Reforma Sanitária perdendo
mar de “macropolíticas”. Elas consistem
disputa para o projeto voltado para o mer-
basicamente na oferta de meios para que
cado. Outro ponto que merece destaque e
os cidadãos realizem determinados ob-
que deve levar a reflexões e debates pro-
jetivos, ou seja, as políticas precisam ser
fundos é o rumo que temos observado,
apropriadas pelos indivíduos para surtir
a permissão da “anti-política” social, na
algum efeito. Dentre as várias políticas do
medida em que permite a “inclusão” não
governo, discorremos abaixo sobre aque-
por direito de cidadania, mas por grau de
las que atendem um maior número de po-
pobreza, não garantindo a base de igual-
pulações distintas, mas deixamos claro
dade necessária a uma verdadeira política
que existem muitas outras, as quais po-
social.
dem ser consultadas no sitio do Ministério
Enfim, no cenário em que se encontram da Saúde (www.saúde.gov.br).
as políticas nacionais de saúde, Noguei-
ra e Mioto (2008) lembram que o debate Para o Idoso
sobre a promoção da saúde pode, nesse
No âmbito do SUS, a política voltada
momento, adquirir um significado estra-
para o idoso objetiva garantir atenção in-
tégico, na medida em que se constitua
tegral à Saúde da população idosa, enfa-
como um dos referenciais que ajudem a
tizando o envelhecimento familiar saudá-
retomar e atualizar o conjunto de propos-
vel e ativo e fortalecendo o protagonismo
tas do projeto da reforma sanitária, cujo
dos idosos no Brasil (Portaria nº 1.395, de
escopo ultrapassa o processo de constru-
10 de dezembro de 1999).
ção do SUS e pressupõe a formulação e a
implementação de políticas econômicas e São diretrizes importantes para a
sociais que tenham como propósito a me- atenção integral à Saúde do idoso:
lhoria das condições de vida e saúde dos
diversos grupos sociais, de modo a redu- 1) Promoção do envelhecimento sau-
zir desigualdades sociais, promovendo a dável compreende ações que promo-
equidade e justiça no acesso às oportu- vem modos de viver favoráveis à saúde e
nidades de trabalho, melhoria dos níveis à qualidade de vida, orientados pelo de-
de renda e garantia das condições de se- senvolvimento de hábitos como a alimen-
gurança e acesso à moradia, educação, tação adequada e balanceada, prática
transporte, lazer e serviços de saúde. regular de exercícios físicos, convivência
social estimulante, busca de atividades
O direcionamento das po- prazerosas e/ou que atenuem o estresse,
redução dos danos decorrentes do consu-
líticas de saúde no Brasil mo de álcool e tabaco e diminuição signifi-
A implementação de qualquer política cativa da automedicação;
pública, por mais simples que seja, é um 2) Manutenção e reabilitação da capa-
29

cidade funcional; lidade de vida da população feminina, es-


timulando esse segmento a ampliar seus
3) Apoio ao desenvolvimento de cuida-
conhecimentos sobre seus direitos na
dos informais.
área da Saúde e conhecimentos sobre se-
É importante qualificar os serviços de xualidade e cuidados com o corpo. A polí-
Saúde para trabalhar com aspectos espe- tica macro contempla ações de promoção
cíficos à saúde da pessoa idosa (como a da Saúde, prevenção e tratamento dos
identificação de situações de vulnerabi- principais agravos e problemas de saúde
lidade social, a realização de diagnóstico que afetam as mulheres, como o câncer
precoce de processos demenciais, a ava- de colo do útero, câncer de mama, gravi-
liação da capacidade funcional, entre ou- dez de alto risco, violência contra a mu-
tros). O sistema formal de atenção à Saú- lher, dentre outros.
de precisa atuar como parceiro da rede de
O MS tem uma série de ações na área da
suporte social do idoso (sistema de apoio
saúde da mulher, em parceria com outros
informal), auxiliando na otimização do su-
departamentos e áreas técnicas, para re-
porte familiar e comunitário e fortalecen-
alização de projetos especiais como Saú-
do a formação de vínculos de co-respon-
de da População Indígena, DST/Aids, Saú-
sabilidade.
de da Mulher Trabalhadora (SGTES e Área
Desse modo, voltando a atenção para Técnica de Saúde do Trabalhador). Possui
a Gestão Municipal de Saúde, cabe a esta também parceria com outros ministérios
desenvolver ações que objetivam a cons- para desenvolvimento de programas e
trução de uma atenção integral à Saúde projetos, como Saúde da Mulher Negra
dos idosos em seu território, sendo fun- (Sepir) e Violência contra a Mulher (Minis-
damental organizar as equipes de Saúde tério da Mulher e Secretaria Nacional de
da Família e a atenção básica, incluindo Segurança Pública). (BRASIL, 2003).
a população idosa em suas ações (por
exemplo: atividades de grupo, promoção Para a criança e o adoles-
da saúde, hipertensão arterial e diabe-
tes mellitus, sexualidade, DST/Aids). Seus
cente
profissionais devem estar sensibilizados e As políticas nacionais do MS para a
capacitados a identificar e atender às ne- criança e o adolescente vêm sendo elabo-
cessidades de Saúde dessa população. radas de forma integrada com as diversas
áreas técnicas da Saúde, principalmen-
Mais informações podem ser adquiri-
te para promover, proteger e recuperar
das no Estatuto do Idoso: Lei nº 10.741,
a saúde dos jovens e adolescentes. Isso
de 1º de outubro de 2003, e na Portaria nº
significa reduzir as principais doenças e
1.395, de 10 de dezembro de 1999.
agravos, melhorar a vigilância à saúde e
contribuir para a qualidade de vida desses
Para a Mulher cidadãos brasileiros.
As políticas do SUS voltadas à saúde da
Concordando com o MS, é um inves-
mulher têm por finalidade a responsabili-
timento que se faz tanto no presente
zação do sistema pela promoção da qua-
30

quanto no futuro, compreendendo que os acom-panhamento do recém-nascido de


comportamentos iniciados na adolescên- risco; 3) acompanhamento do crescimen-
cia são cruciais para o restante da vida, to e desenvolvimento e imunização; 4)
porque repercutem no desenvolvimento promoção do aleitamento materno e ali-
integral. mentação saudável – atenção aos distúr-
bios nutricionais e anemias caren-ciais; 5)
Os dois pilares que sustentam as políti-
abordagem das doenças respiratórias e
cas voltadas para o adolescente são a pre-
infecciosas; 6) Vigilância à Saúde e Vigi-
valência dos direitos humanos e o Esta-
lância do Óbito.
tuto da Criança e do Adolescente, onde a
criança e o adolescente são reconhecidos
como sujeitos sociais, portadores de direi-
Para o índio
tos e garantias próprias, independentes Uma vez que o governo federal reco-
de seus pais e/ou familiares e do próprio nheceu os direitos legais dos povos in-
Estado. dígenas, a política de saúde direcionada
para esses povos é voltada para garantir
A partir do reconhecimento das ques-
o acesso à atenção integral à Saúde, de
tões prioritárias na atenção à saúde de
acordo com os princípios do SUS, contem-
adolescentes e jovens, a Área Técnica da
plando as diversidades sociais, culturais,
Saúde de Adolescente e Jovens do Minis-
geográficas, históricas e políticas dessa
tério da Saúde vem desenvolvendo suas
população, tendo como principal diretriz,
ações sob três grandes eixos:
estabelecer nos territórios indígenas,
1) Crescimento e Desenvolvimento; uma rede de serviços básicos de atenção
à Saúde, organizada a partir de distritos
2) Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva; sanitários especiais e pólos-base. Para o
3) Redução da Morbimortalidade por desenvolvimento das ações são formadas
Violência e Acidentes. parcerias com municípios, estados, uni-
versidades e organizações não-governa-
De acordo com Brasil (2001), especi- mentais – inclusive as indígenas.
ficamente voltada para a criança (nas-
cimento ao décimo ano de vida), a or- Maiores informações podem ser obti-
ganização da atenção à Saúde inclui o das na Lei nº 9.836, de 23 de setembro de
desenvolvimento de ações que atendem 1999, que acrescenta o capítulo V – “do
às necessidades específicas desse pú- sistema de atenção à saúde indígena” à lei
blico, como por exemplo, o compromisso 8080/90 e no Decreto nº 3.156, de 27 de
pela redução da mortalidade infantil. As agosto de 1999, que dispõe sobre as con-
ações são voltadas também para a saúde dições para a prestação de assistência à
da mulher, para a prevenção de acidentes, saúde dos povos indígenas no âmbito do
maus-tratos, violência e trabalho infantil, Sistema Único de Saúde.
e ainda a atenção à saúde bucal e mental
e à criança portadora de deficiência. Algu- Para o negro
mas das linhas de cuidado prioritárias são:
A promoção da equidade na atenção
1) promoção do nascimento saudável; 2)
à Saúde da população negra é uma meta
31

do SUS, objetivando a inclusão social e a 1990).


redução dos diferentes graus de vulnera-
bilidade a que estão expostos os afrodes- Para a pessoa com defici-
cendentes, segmento da população histo-
ricamente vitimada pela exclusão social.
ência
As políticas públicas voltadas para esse
Nos municípios, as ações em saúde de-
segmento objetivam a reabilitação da pes-
vem considerar a prestação de serviços
soa com deficiência em sua capacidade
especiais a camadas vulneráveis da popu-
funcional, contribuindo para sua inclusão
lação, como as populações negras, indí-
plena em todas as esferas da vida social,
genas, idosa, entre outras. As secretarias
e ainda proteger a saúde desse segmento
municipais de Saúde devem garantir uni-
populacional, prevenindo agravos que de-
versalidade e equidade no SUS, procuran-
terminam o aparecimento de deficiências.
do superar dis-criminações e preconcei-
Para o alcance deste propósito, foi criada
tos em todas as unidades de atendimento
a Política Nacional de Saúde da Pessoa
e esferas de gestão.
com Deficiência que orienta a definição
Conforme Brasil (2008), dentre outras de políticas locais e a readequação dos
estratégias para prevalecer a equidade planos, projetos e atividades voltados à
e universalidade, temos a capacitação e Saúde das pessoas com deficiência.
educação permanente de RH para o re-
No âmbito municipal, as políticas e es-
corte étnico/racial na Saúde, pactuando
tratégias devem ser: promoção da quali-
a inclusão dos temas da Saúde da popu-
dade de vida das pessoas com deficiência;
lação negra e do impacto do racismo na
atenção integral à saúde das pessoas com
produção e manutenção das desigualda-
deficiência; prevenção das deficiências;
des sociais nos cursos técnicos da área da
ampliação e fortalecimento dos mecanis-
Saúde, inclusive como atividade de huma-
mos de informação; organização e fun-
nização do SUS.
cionamento de serviços de atenção às
pessoas com deficiência e capacitação de
Para o Trabalhador recursos humanos.
Faz parte de uma área específica da
Nesse contexto, é importante que os
Saúde Pública que prevê o estudo, a pre-
gestores implementam em seus territó-
venção, a assistência e a vigilância aos
rios, a Rede de Serviços em Reabilitação
agravos à Saúde relacionados ao traba-
Física e a Rede de Serviços em Reabilita-
lho, tais como Acidente de trabalho (tipo/
ção Auditiva, assim como o atendimento
típico), Agrotóxico, Amianto (ou asbesto),
específico às pessoas com deficiência na
Centro de referência em Saúde do traba-
atenção básica. No âmbito da Saúde, é
lhador (CRST ou Cerest), Doença relacio-
um direito das pessoas com deficiência o
nada ao trabalho, Lesões por esforços re-
acesso a serviços de saúde gerais e a ser-
petitivos (LER), Rede Nacional de Atenção
viços especializados, a órteses e próte-
Integral à Saúde do Trabalhador (Renast),
ses, tais como, aparelhos auditivos, cadei-
Silicose, Vigilância dos ambientes de tra-
ras de rodas, bolsas de colostomia, óculos,
balho (Lei nº 8.080, de 19 de setembro de
32

próteses mamárias e demais ajudas técni- anterior, que se pautava pela internação
cas necessárias. em hospitais especializados. Por este
novo modelo, preconizado pela reforma
Para as pessoas do campo psiquiátrica, a atenção à saúde mental
deve ter base comunitária e territorial,
As políticas voltadas para as pessoas do
avançando na redução do número de lei-
campo objetivam organizar e estruturar
tos hospitalares e na expansão da rede
uma rede de serviços do SUS, de forma re-
de serviços de atenção diária. A desinsti-
gionalizada e hierarquizada, com garantia
tucionalização da assistência psiquiátrica,
do acesso às ações integrais de atenção
a defesa dos direitos humanos dos porta-
básica, de média e de alta complexidade,
dores de transtornos mentais, o comba-
em um modelo humanizado, que dialogue
te ao estigma, o cuidado à saúde mental
com os princípios do modelo agrícola ado-
através de dispositivos extra-hospitala-
tado por cada movimento social organiza-
res e sua inclusão na atenção básica são
do no campo e com os princípios do etno-
algumas das diretrizes da política de saú-
-desenvolvimento.
de mental do SUS.
De acordo com o MS serão desenvolvi-
Maiores informações: Lei nº 10.216, de
das ações que permitam o enfren-tamen-
6 de abril de 2001, que dispõe sobre a pro-
to de questões como: combate ao uso de
teção e os direitos das pessoas portado-
agrotóxicos, implantação da política de fi-
ras de transtornos mentais e redireciona
toterápicos, acesso humanizado, comba-
o modelo assistencial em saúde mental.
te à discriminação e defesa de um modelo
autossustentado.
Para a saúde da família
Maiores detalhes podem ser obtidos na
Estratégia prioritária adotada pelo Mi-
Portaria nº 719, de 2004, que cria o Grupo
nistério da Saúde (MS) para a organização
da Terra com a finalidade de acompanhar
da atenção básica, no âmbito do SUS, dis-
a implantação da Política de Saúde para a
pondo de recursos específicos para seu
População do Campo e detalhar as ações a
custeio, sendo que suas ações abrangem
serem implementadas.
promoção, prevenção, tratamento e rea-
bilitação.
Para as pessoas com pro-
Reservamos um tópico específico para
blemas mentais apresentar toda a estrutura do Programa
O Ministério da Saúde diz que a preva- Saúde da Família, visto ser ponto primor-
lência de transtornos mentais é elevada dial deste curso e, com certeza ser, não
na população brasileira e, em geral, com somente de interesse, mas de extrema
peso relevante entre as principais causas importância aos futuros gestores.
de anos de vida saudável perdidos, assim,
o Brasil enfrenta o desafio de aumentar a No sistema penitenciário
acessibilidade e a qualificação da atenção
Política interministerial elaborada pe-
em saúde mental de forma paralela e ar-
los Ministérios da Saúde e Justiça, objeti-
ticulada com a transformação do modelo
33

va incluir nas ações e serviços de Saúde plementar brasileiro reunia mais de 2 mil
do SUS a população confinada em estabe- empresas operadoras de planos de saúde.
lecimentos prisionais, considerando que Essa rede prestadora de serviços de Saú-
o atual padrão de confinamento da maio- de atende a mais de 37 milhões de benefi-
ria das unidades prisionais favorece uma ciários que utilizam planos privados de as-
série de fatores de risco à Saúde dessa sistência à Saúde para realizar consultas,
população (superlotação, precárias con- exames ou internações.
dições de higiene, relações violentas, uso
Pela Lei nº 9.961/02 foi criada a Agên-
indiscriminado de drogas, entre outros).
cia Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
Lançada em 2003, com a instauração com atribuição de regular, normalizar,
do Plano Nacional de Saúde no Sistema controlar e fiscalizar as atividades que ga-
Penitenciário (Portaria nº 1.777/03), essa rantem a assistência suplementar à Saú-
política prevê a organização das ações e de em todo o território nacional.
serviços de atenção básica em unidades
Maiores informações consultar a Lei nº
prisionais, além da referência aos demais
9.656, de 3 de junho de 1998, que dispõe
níveis de atenção à Saúde (média e alta
sobre os planos e seguros privados de as-
complexidade) pactuados nas Comissões
sistência à saúde.
Intergestores Bipartites (CIBs), conforme
preconizado pelo SUS.

Para viabilizar sua execução, foi cria-


do o Incentivo para Atenção à Saúde no
Sistema Penitenciário, pelo qual o Fundo
Nacional de Saúde (FNS) repassará recur-
sos aos fundos estaduais e/ou municipais
de Saúde, de acordo com a pactuação ce-
lebrada, o número de equipes de saúde
e o quantitativo de pessoas presas das
unidades prisionais. As ações de atenção
básica serão desenvolvidas por equipes
multiprofissionais (médico, enfermeiro,
odontólogo, psicólogo, assistente social,
auxiliar de enfermagem e auxiliar de con-
sultório dentário), articuladas a redes as-
sistenciais de Saúde.

Saúde Suplementar
Temos ainda um conjunto de institui-
ções privadas que oferece serviços de
atenção à Saúde sob a forma de pré ou
pós-pagamento, os planos e seguros de
saúde. Em 2005, o setor de Saúde su-
34
UNIDADE 4 – Políticas públicas para
educação
No capítulo II da CF de 1988, encon- nos e diretrizes;
tramos no artigo 6º que fazem parte dos
2. Definir as políticas para infância e ju-
direitos sociais, a educação, a saúde, o
ventude; para a diversidade étnico-racial;
trabalho, a moradia, o lazer, a segurança,
para a educação inclusiva, para educação
a previdência social, a proteção à mater-
infantil, ensino fundamental, ensino mé-
nidade e à infância, a assistência aos de-
dio, educação de jovens e adultos, pós-
samparados, na forma desta Constituição.
-médio profissionalizante; para o ensino
Especificamente para a educação, a CF superior; para a educação a distância;
reserva a partir do artigo 205 os desejos, para a inclusão digital; para a educação
direitos e deveres para sua promoção, não-formal;
com vistas ao pleno desenvolvimento da
3. Erradicar o analfabetismo;
pessoa.
4. Ampliar as universidades públicas;
Não há dúvidas de que é dever do Es-
tado implementar políticas públicas capa- 5. Promover avaliação educacional e
zes de garantir sua qualidade social, bem institucional e o compromisso social;
como o acesso e permanência de todos e
de todas; construir espaços de participa-
6. Favorecer e incentivar a gestão de-
mocrática, direta, participativa e repre-
ção direta, indireta e representativa, nos
sentativa;
quais a sociedade civil possa atuar efeti-
vamente na definição, gestão, execução 7. Valorizar os profissionais da educa-
e avaliação de políticas públicas educa- ção, dentre outras mais específicas.
cionais. É necessário que os governos ga-
rantam prioridade de recursos financeiros O movimento de descentralização tam-
para a educação pública, pois o compro- bém vale para a educação, transferindo
misso com a qualidade é também compro- para os municípios uma série de respon-
misso financeiro com a educação. sabilidades e expectativas, cuja maioria
das localidades por falta de infraestrutura
Também se constitui tarefa de todos física e financeira, tem encontrado sérias
acreditarem no direito à educação e exi- dificuldades em atender, mesmo com o re-
gir que o Estado efetive políticas públicas passe de recursos financeiros.
para a educação de qualidade, conceben-
do-a não como simples acesso às cadeiras Se faz mister abrir espaço para falar da
escolares e sim à garantia ao conhecimen- importância da educação no trabalho do
to historicamente construído. profissional do Serviço Social, uma vez
que a escola e educação, em geral, consti-
Como sub-eixos das políticas públi- tuem-se por excelência em veículo de dis-
cas para educação, podemos enume- seminação de conhecimentos e ideologias
rar: e, é justamente ai que se vislumbra a pos-
sibilidade de intervenção do profissional.
1. Organizar a educação através de pla-
35

Segundo Martins (2007), educação é uma sociedade. Indiscutivelmente, as for-


na prática o que possibilita instrumenta- mas de organização, o poder de pressão e
lizar o indivíduo para o desenvolvimento articulação de diferentes grupos sociais
de potencialidades, habilidades e apro- no processo de estabelecimento e rei-
priação de conhecimentos que lhe possi- vindicação de demandas são fatores fun-
bilitam alcançar níveis cada vez mais ele- damentais na conquista de novos e mais
vados de crítica, criatividade e autonomia, amplos direitos sociais, incorporados ao
reconhecendo seu valor e capacidade de exercício da cidadania.
agir e transformar a realidade, com vistas
Em um Estado de inspiração neoliberal,
à melhoria da sua qualidade de vida e da
como vive o Brasil atualmente, as ações
sociedade.
e estratégias sociais governamentais in-
Mas, voltando a refletir sobre as polí- cidem essencialmente em políticas com-
ticas públicas, devemos concordar com pensatórias, em programas focalizados,
Hofling (2001) quando diz que a sua defi- voltados àqueles que, em função de sua
nição para uma sociedade reflete os con- “capacidade e escolhas individuais”, não
flitos de interesses, os arranjos feitos nas usufruem do progresso social.
esferas de poder que perpassam as insti-
A presença do Neoliberalismo na edu-
tuições do Estado e da sociedade como um
cação e os compromissos assumidos pelo
todo. Um dos elementos importantes des-
governo brasileiro com as determinações
te processo – hoje insistentemente incor-
das agências internacionais, no traçado
porado na análise das políticas públicas –
das políticas educacionais é o retrato da
diz respeito aos fatores culturais, àqueles
situação atual.
que historicamente vão construindo pro-
cessos diferenciados de representações, Para Dourado (2002, p. 239), “o Banco
de aceitação, de rejeição, de incorporação Mundial, o Banco Interamericano de De-
das conquistas sociais por parte de deter- senvolvimento – BID – e agências da Orga-
minada sociedade. Com frequência, loca- nização das Nações Unidas (ONU) configu-
liza-se aí procedente explicação quanto ram-se como importantes interlocutores
ao sucesso ou fracasso de uma política ou multilaterais da agência brasileira” fican-
programas elaborados; e também quanto do visível, a partir da década de 80, o pa-
às diferentes soluções e padrão adotados pel do Banco Mundial, ou seja, sua orien-
para ações públicas de intervenção. tação é no sentido de articular educação
e produção de conhecimento, por meio do
Segundo Hofling (2001), a relação en-
binômio privatização X mercantilização da
tre sociedade e Estado, o grau de distan-
educação.
ciamento ou aproximação, as formas de
utilização ou não de canais de comunica- De acordo com Hofling (2001), ao nos
ção entre os diferentes grupos da socie- reportamos para a política educacional,
dade e os órgãos públicos – que refletem ações pontuais voltadas para maior efici-
e incorporam fatores culturais, como aci- ência e eficácia do processo de aprendiza-
ma referidos – estabelecem contornos gem, da gestão escolar e da aplicação de
próprios para as políticas pensadas para recursos são insuficientes para caracteri-
36

zar uma alteração da função política des-


te setor. Enquanto não se ampliar efetiva-
mente a participação dos envolvidos nas
esferas de decisão, de planejamento e de
execução da política educacional, estare-
mos alcançando índices positivos quanto
à avaliação dos resultados de programas
da política educacional, mas não quanto à
avaliação política da educação.

Queremos dizer que a gestão democrá-


tica e autônoma da escola não acontece
de fato em 90% das escolas brasileiras, o
que se torna um empecilho para a efetiva-
ção de uma política justa para o setor da
educação, e claro, a dependência dos ór-
gãos e orientações internacionais.

Numa sociedade extremamente desi-


gual e heterogênea como a brasileira, a
política educacional deve desempenhar
importante papel ao mesmo tempo em re-
lação à democratização da estrutura ocu-
pacional que se estabeleceu e à formação
do cidadão, do sujeito em termos mais sig-
nificativos do que torná-lo “competitivo
frente à ordem mundial globalizada”.
37
UNIDADE 5 – Políticas públicas para
habitação
A década de 1930 (governo Vargas) pode da construção de casas para os trabalhado-
ser considerada um marco para as mudan- res. Assim, suas iniciativas restringiam-se à
ças que começariam a acontecer em rela- repressão às situações mais graves de insa-
ção a moradia no Brasil. Como diz Bonduki lubridade, via legislação sanitária e ação po-
(1994), tratava-se do momento em que o licial, e à concessão de isenções fiscais que
Estado brasileiro passaria a intervir tanto beneficiavam basicamente os proprietários
no processo de produção como no mercado de casas de locação, ampliando sua rentabi-
de aluguel, abandonando a postura de dei- lidade.
xar a questão da construção, comercializa-
Segundo Bonduki (1994), a produção da
ção, financiamento e locação habitacional
moradia operária no período de implantação
às “livres forças do mercado”, que vigorou
e consolidação das relações de produção
até então. Essa nova postura do Estado bra-
capitalistas e de criação do mercado de tra-
sileiro na questão da habitação seria parte
balho livre, que corresponde aos primórdios
integrante de uma estratégia muito mais
do regime republicano, era uma atividade
ampla, colocada em prática pelo governo
exercida pela iniciativa privada, objetivando
Vargas, de impulsionar a formação e forta-
basicamente a obtenção de rendimentos
lecimento de uma sociedade de cunho ur-
pelo investimento na construção ou aquisi-
bano-industrial, capitalista, mediante uma
ção de casas de aluguel.
forte intervenção estatal em todos os âm-
bitos da atividade econômica. A estrutura da economia brasileira es-
tava centrada nas atividades agro-expor-
Entre as medidas mais importantes im-
tadoras, havendo nas cidades forte pre-
plementadas pelo governo no que diz res-
domínio do comércio sobre a produção e
peito à questão habitacional, estiveram o
ocupando a indústria um papel subordinado
decreto-lei do inquilinato, em 1942, que,
e secundário. Dada a reduzida capacidade
congelando os aluguéis, passou a regula-
de a indústria absorver novos e crescentes
mentar as relações entre locadores e in-
investimentos, o “negócio” de possuir ca-
quilinos, a criação das carteiras prediais dos
sas de aluguel era uma segura e excelente
Institutos de Aposentadoria e Previdência
forma de rentabilizar poupanças e recursos
e da Fundação da Casa Popular que deram
disponíveis na economia urbana, fortemen-
início à produção estatal de moradias subsi-
te aquecida pela expansão da atividade
diadas e, em parte, viabilizaram o financia-
agrário-exportadora.
mento da promoção imobiliária, e o Decre-
to-Lei n° 58 que regulamentou a venda de Conforme Langenbuch (1971); Melo
lotes urbanos a prestações. (1992 apud Bonduki, 1994), num momento
de enorme crescimento das cidades brasi-
De acordo com Rolnik (1981 apud Bon-
leiras, principalmente na região Sudeste,
duki, 1994), fiel ao liberalismo predominan-
com destaque para São Paulo e Rio de Ja-
te, o Estado privilegiava a produção privada
neiro, que recebiam forte contingente po-
e recusava a intervenção direta no âmbito
pulacional egresso da imigração estrangei-
38

ra, a valorização imobiliária era acentuada população paulistana foi despejada neste
e se constituía numa importante opção de período. Essa imensa dimensão dos despe-
investimento para reserva de valor, na au- jos é explicada pelos mecanismos formais e
sência de um mercado de capitais. informais que passaram a reger o mercado
de locação.
Sinteticamente, pode-se dizer que a re-
volução de 1930 marcou um ponto de rup- O decreto de 1942 congelou por dois
tura na forma de intervenção do Estado na anos todos os aluguéis pelos valores de de-
economia e na regulamentação das rela- zembro de 1941. Os proprietários passaram,
ções capital/trabalho. De acordo com Olieira assim, a ter rendimentos reais declinantes,
(1971), a partir da destruição das regras do sendo fortemente penalizados numa eco-
jogo que faziam do poder público um mero nomia crescentemente inflacionada. Sem
representante dos interesses da economia instrumentos legais para aumentar os alu-
agro-exportadora, vai-se desenvolver, de- guéis, o jeito passou a ser despejar os in-
pois de 1930, um longo processo de criação quilinos para, na nova situação, elevar os
das novas condições que passam a fazer das valores locativos, alterar a destinação dos
atividades urbano-industriais as centrais na imóveis ou mesmo renovar a construção.
nossa economia. A base de sustentação po-
Como as novas construções eram insu-
lítica do novo regime teve de ser modificada
ficientes para atender uma demanda cres-
através da incorporação de novos setores
cente, o proprietário que tivesse sua casa
sociais emergentes — entre os quais se des-
desocupada poderia alugá-la a um preço
tacam as massas populares urbanas.
muitas vezes superior ao valor congelado.
A necessidade de Vargas em legitimar Além disso, frente à cada vez mais grave
seu poder a partir de 1930 e o surgimento falta de moradia, os locatários passam a só
das massas populares acabou servindo de alugar suas moradias mediante o pagamen-
base para formular uma política econômica to antecipado de uma quantia fixa, a título
e social que, embora contraditória e des- de luvas. Assim, despejar o inquilino antigo
contínua, apresenta certas características passa a ser um excelente negócio, pelo me-
bem definidas. nos a curto prazo, pois com o tempo nova-
mente os aluguéis tendiam a se desvalori-
Por volta de 1940, a grande maioria dos
zar.
trabalhadores e da classe média eram inqui-
linos, o aluguel representava uma parcela De acordo com Melo (1991); Aureliano e
fixa de grande peso a ser despendida men- Azevedo (1980 apud Bonduki, 1994), era
salmente, e quando veio a crise pós 1948, preciso então uma ação articulada entre os
o congelamento teve forte impacto para as vários órgãos e ministérios que de alguma
massas urbanas. maneira interferissem na questão. Assim,
no governo Dutra, em 1946, foi criada a
De acordo com Bonduki (1994), é difícil
Fundação da Casa Popular, uma resposta do
estimar o total de famílias despejadas du-
Estado à crise de moradia no pós-guerra, é,
rante o período mais agudo da crise de habi-
contraditoriamente, o melhor exemplo des-
tação, entre 1945 e 1948. Uma estimativa
ta ausência de política.
aproximada calcula que cerca de 10% da
39

A origem da produção estatal de habita- decisões e alocação dos recursos descen-


ção social tralizados.

O início, em larga escala, da produção de Dentro dessa nova perspectiva, o pro-


conjuntos habitacionais pelo Estado, foi grama de construção de moradias para po-
a criação, em 1937, das carteiras prediais pulação de baixa renda deveria considerar
dos Institutos de Aposentadoria e Pensões as potencialidades locais quanto aos insu-
(IAPs), seguida pela instituição da Fundação mos para a construção, a tecnologia dispo-
da Casa Popular, em 1946, falado anterior- nível e os recursos humanos qualificados
mente. A produção estatal de moradias para como forma de proporcionar o desenvolvi-
os trabalhadores representa o reconheci- mento regional.
mento oficial de que a questão habitacional
De acordo com Silva e Shimbo (2004), o
não seria equacionada apenas através do
Municipalismo e a produção pública da habi-
investimento privado, requerendo, neces-
tação, dissociada da ação estatal na esfera
sariamente, intervenção do poder público.
federal, têm sido pautados pela ausên-
Também na década de 40 presenciamos cia de políticas estruturais. O Estado fica à
o que podemos chamar de intervenção es- margem de provisão de políticas públicas
tatal pela ausência, ou seja, numa época de habitação social, estando essa compe-
em que muitos trabalhadores chegavam às tência aos municípios. Algumas prefeituras
cidades grandes e não encontravam mo- municipais tomam iniciativa na formulação
radia ou não tinham condições de pagar os de propostas alternativas de ação pública
aluguéis, surgem ou se desenvolvem novas e planejamento estratégico, atuando prin-
“alternativas habitacionais” baseadas na cipalmente na urbanização de favelas, em
redução significativa, ou mesmo na elimi- programas especiais nas áreas de risco, na
nação, do pagamento regular e mensal de produção de novas moradias por empreitei-
moradia: a favela e a casa própria autocons- ras e mutirões, na regularização e urbaniza-
truída ou autoempreendida em loteamen- ção de loteamentos irregulares e incremen-
tos periféricos carentes de infraestrutura tando o discurso de participação cidadã e
urbana. geração de renda.

Segundo Silva e Shimbo (2004), apesar


O problema do déficit ha- de algumas experiências inovadoras nas
bitacional no Brasil
1- A ação do Banco Nacional de Habitação (BNH) não se limitou
No campo das políticas habitacionais, apenas à habitação; atuou, também, no setor de desenvolvimento
a partir do final dos anos 80, com a extin- urbano, sendo considerado como um dos mais expressivos agentes
financeiros do processo de desenvolvimento urbano. Esse banco
ção do BNH 1 e a tentativa da implantação financiou obras de infraestrutura urbana: melhorou o sistema viário
e pavimentou cidades; bem como aperfeiçoou a rede de energia
do modelo de gestão pública participativa elétrica, de transportes e de comunicação, incentivou a educação e
e democrática, a política habitacional in- a cultura, melhorou os serviços públicos, dentre outros. Podemos,
então, afirmar que o BNH foi um dos importantes promotores das
corporou a tendência da descentralização, transformações urbanas no Brasil.
tornando-se responsabilidade dos estados O Sistema Financeiro de Habitação - SFH -, gerenciado pelo BNH, foi
e municípios. A partir disso, o papel das ins- de fato um instrumento oficial através do qual se estabeleceram as
condições para a capitalização das empresas ligadas à construção
tâncias de poder local foi fortalecido e as civil, além de permitir a estruturação de uma rede de agentes finan-
ceiros privados, realizando, assim, o financiamento da produção.
40

políticas habitacionais locais, o que se ob- cia Nacional das Cidades.


serva na maioria dos municípios brasileiros
A reorganização institucional e legal do
é que tais experiências (mutirão, autocons-
setor de habitação foi feita de modo a re-
trução, geração de trabalho e renda, entre
estruturar o mercado privado de habitação,
outras) têm tido pouco apoio do poder pú-
melhorar o ambiente regulatório, ampliar as
blico, e quando o faz compactua com a ini-
formas de captação de recursos para o se-
ciativa privada, reafirmando interesses do
tor, estimular a inclusão de novos agentes,
mercado. Dessa forma, as obras de habita-
facilitar a promoção imobiliária para atendi-
ção ficam restritas aos modelos propostos
mento de famílias de renda média, ampliar
por órgãos financiadores, configurando –
a oferta de crédito imobiliário, estabelecer
principalmente ao pequeno município – um
medidas de incentivo à concessão de finan-
papel limitado, na espera por políticas assis-
ciamento para imóveis de mais baixo valor à
tencialistas sem o esforço na elaboração de
taxa de juros menores e apoiar com o incen-
um projeto coletivo.
tivo tributário brasileiro.
Arretche (1996) observa que embora
Sobre o Sistema Nacional de Habitação
tenham ocorrido importantes iniciativas no
de Interesse Social – SNHIS,
sentido de descentralização das políticas
públicas, no campo da habitação pouco se é um sistema criado pelo governo com o
observam movimentos no sentido de alte- intuito de atender a população de baixa ren-
ração das bases centralizadas de tomada da e assim dar acesso à terra urbanizada e
de decisões. Existe um esforço por parte habitação digna e sustentável à população
dos governos estaduais e/ou prefeituras brasileira. Esse sistema tem como objetivo
no sentido da constituição de mecanismos implementar as políticas e os programas de
locais de formulação e implementação de investimentos habitacionais e subsídios. O
programas sociais de habitação, ficando tal sistema é composto pelo Ministério das Ci-
esforço restringido e obstacularizado pela dades, o Conselho Gestor do Fundo Nacio-
manutenção da dependência financeira. nal de Habitação de Interesse Social, a Cai-
xa Econômica Federal (agente operador do
Como últimas conquistas do Estado bra-
FNHIS) e o Conselho das Cidades. Além de
sileiro temos, em 2003, a criação do Minis-
conselhos dos estados e municípios, órgãos
tério das Cidades que tem como competên-
integrantes da Administração Pública fede-
cia tratar da política de desenvolvimento
ral, estadual e municipal, fundações, sindi-
urbano e das políticas setoriais de habita-
catos, cooperativas, associações e agentes
ção, saneamento ambiental, transporte
financeiros.
urbano e trânsito. Nesse mesmo ano ocor-
reu a Conferência Nacional das Cidades. Em De acordo com Magalhães (2006), o
2004, aconteceu o Conselho das Cidades e Fundo Nacional de Habitação de Interes-
a formação das Câmaras Técnicas do Conse- se Social – FNHIS, tem como objetivo cen-
lho das Cidades. Em 2005, foi instituída a Lei tralizar e gerir os recursos orçamentários
11.124/05, junto com a criação do Sistema e liberados para a execução de programas
do Fundo Nacional de Habitação de Interes- habitacionais de interesse social. A criação
se Social. Aconteceu também a II Conferên- desse Fundo auxilia na junção dos recursos
41

de várias origens como a iniciativa privada


(doações, pagamento de multas, entre ou-
tros) e do Orçamento Geral da União. Esses
recursos são repassados para os estados,
Distrito Federal e municípios para auxiliar
na execução de programas habitacionais
destinados à população de baixa renda.

Para consultas sobre as realizações do


governo Federal sugerimos como referên-
cia, o Plano Nacional de Habitação editado
pelo Ministério das Cidades, em novembro
de 2004, que não consta nas referências,
pois não foi usado como referência, justifi-
cando que seu uso poderia se caracterizar
em propaganda política, o que não é inten-
ção desta apostila.
42
UNIDADE 6 – A política social do século
XXI – A transferência de renda
As grandes transformações econômi- Segundo Silva, Yazbek, Giovanni
cas, sociais e no mundo do trabalho de- (2008), o que o governo brasileiro deno-
correm da revolução tecnológica da era minou de Rede de Proteção Social direcio-
da informação. São transformações que nado à população de baixa renda, trata-se
geram um profundo rearranjo do merca- de um esforço articulador de programas
do capitalista que se manifesta através compensatórios, com ações no campo da
dos processos de globalização e regio- educação, saúde e trabalho, tendo como
nalização dos mercados, concentrando eixo duro, programas nacionais de trans-
o capital. Disso decorrem situações que ferência de renda, destacando-se: o Be-
demandam ações do Estado para prote- nefício Prestação Continuada (BPC); Pro-
ger o grande contingente de trabalhado- grama de Erradicação do Trabalho Infantil
res que passam a vivenciar o desemprego (PETI); Programa Agente Jovem; Progra-
estrutural, aumentando e disseminando a ma Nacional de Renda Mínima vinculado
pobreza, tanto em países em desenvolvi- ao Bolsa-Escola; Bolsa alimentação, Auxí-
mento quanto em países ricos. lio-gás, dentre outros.

Nessa conjuntura floresce o debate e, Segundo Ananias (2008), a concepção


claro, o desenvolvimento de experiências de desenvolvimento, assumida em sua
internacionais que aqui se configura nos integralidade, apresenta-se como um
Programas de Transferência de Renda, to- projeto de nação. Parte da sua dimensão
mados como alternativas de políticos, or- ética de formação de pátria, de noção de
ganizações sociais e estudiosos das ques- pertencimento que implica a garantia dos
tões sociais. direitos constitutivos da cidadania. Além
dessa dimensão – que por si só seria uma
No Brasil, essa ideia começou a vigo-
justificativa suficiente para sua existência
rar a partir de 1991 com a instituição do
– as políticas sociais têm efeitos positivos
Programa de Garantia de Renda Mínima
sobre a economia. Essas políticas incorpo-
– PGRM, destinado a todos os brasileiros
ram novas pessoas ao mercado interno e
residentes no país, maiores de 25 anos de
formam cidadãos que, ao consumirem e
idade que auferissem uma renda que cor-
ao terem oportunidades de inclusão pro-
responda, a cerca de 3 salários mínimos
dutiva, dinamizam a economia. Existem
nos valores de 2007.
diversas evidências de que o investimen-
Não vamos entrar no mérito se são ape- to no atendimento a necessidades huma-
nas respostas automáticas e mecânicas às nas básicas melhora a produtividade e o
necessidades e carências apresentadas e crescimento econômico, ampliando o re-
vivenciadas pelas diferentes sociedades torno dos investimentos. Para potenciali-
ou se configuram em formas históricas de zar os efeitos desse investimento, é pre-
consenso político, mas fica a deixa para ciso continuar avançando na integração
uma reflexão. das políticas e ações públicas.
43

De acordo com Ananias (2008), a situ- Segundo Ananias (2008), em um pri-


ação de pobreza não se resume à insufi- meiro momento, devido à nossa histórica
ciência de renda. Ter uma baixa renda é dívida social, as políticas sociais podem – e
o resultado de diversos fatores inter-re- devem – assumir como prioridade corri-
lacionados: baixa escolaridade, poucas gir as mazelas decorrentes dessa dívida
oportunidades de qualificação, difícil in- e promover o resgate das situações que
serção no mercado de trabalho, acesso a atentam contra a dignidade humana, em
postos mal remunerados e sem perspecti- caráter emergencial. Contudo, devem se
vas de progresso. Outra vertente cruel da articular na perspectiva estrutural de for-
pobreza é sua reprodução entre gerações: talecer um Estado de Bem-Estar Social
filhos de pais pobres não têm as mesmas que garanta e promova a qualidade de
oportunidades de desenvolvimento edu- vida de nossos cidadãos. O pleno desen-
cacional e de inclusão social que os filhos volvimento nacional somente se concreti-
das famílias mais abastadas. za quando todos os membros de uma so-
ciedade podem realizar plenamente suas
O desenvolvimento social só será alcan-
capacidades e aspirações, a partir de um
çado, efetivamente, a partir da integração
patamar igual de direitos e oportunida-
de todas as suas dimensões. Envolve es-
des.
tratégias que articulem – respeitando as
demandas de cada região e de cada seg- Acreditamos ter lançado muitas infor-
mento da população – políticas de edu- mações importantes, as intenções vistas
cação, saúde, reforma agrária, moradia, também são positivas, mas o que importa
transporte coletivo para massas, geração é que tenhamos capacidade de analisar,
de trabalho e renda, economia solidária, refletir e ajudar a transformar a realidade
assistência social, segurança alimentar e do país, levantando propostas que levam
nutricional, transferência de renda, estí- a políticas dignas e justas e que contem-
mulo à agricultura familiar, saneamento, plam todos os segmentos da sociedade
cultura. brasileira.

Há que se concordar que as políticas


sociais devem, assim, ser implementadas
como políticas permanentes e integradas,
que acompanhem as demandas da popu-
lação à medida que a sociedade evolui, e
não como medidas limitadas e paliativas
direcionadas a soluções pontuais de pro-
blemas específicos. Nesse contexto, o
Estado deve responder às demandas por
direitos emergentes, decorrentes de um
novo patamar civilizatório: à alimentação
adequada, à convivência familiar e comu-
nitária, a um meio-ambiente sadio e sus-
tentável.
44

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