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“Adão e Eva no Jardim do Éden” - Johann Wenzel Peter

Óleo sobre tela – 336 x 247cm


Os Patriarcas
➢ O Livro de Gênesis narra a história dos Patriarcas.
➢ A narrativa da história dos Patriarcas é intercalada com as genealogias:
• Abraão: Gn 12-24 (genealogia de Abraão: Gn 25);
• Isaque: Gn 26 (não consta a genealogia);
• Jacó: Gn 27-35 (genealogia de Jacó: Gn 35. Gn 36 trata da
genealogia de Esaú);
➢ No entanto, a história dos Patriarcas não se restringe ao livro de
Gênesis. Jó viveu durante o período dos Patriarcas.
➢ E por que a sua história não consta do livro de Gênesis? Porque a divisão
da Bíblia não é feita unicamente pela cronologia, mas pelo gênero
literário também. Por ser um livro poético (literatura sapiencial), a história
de Jó não se encontra em Gênesis.
➢ Os grandes patriarcas são Abraão, Isaque e Jacó. No entanto, outros
patriarcas viveram neste período.

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O período dos Patriarcas
➢ Conforme já foi visto, a Revelação de Deus ao homem se dá de forma “Estabelecerei a minha
progressiva. aliança entre mim e ti e a tua
descendência depois de ti em
➢ Também já foi visto que Deus estabeleceu alianças que, ao mesmo tempo,
suas gerações, por aliança
formam o Seu povo e manifestam a Sua vontade.
perpétua, para te ser a ti por
➢ Na formação do Seu povo, Deus se relacionou inicialmente por meio dos Deus, e à tua descendência
patriarcas, representando famílias. O período do Êxodo, formou uma depois de ti”. Gn 17:7
nação, como povo de Deus. Em seguida, veio a monarquia, quando Deus
se relacionou com o Reino de Israel. Em Cristo, a Igreja é o povo de “Vós me sereis reino de
Deus. sacerdotes e nação santa” Ex
➢ Obviamente, as famílias, a nação e o reino são sombras do que se tornou 19:6
pleno com a Igreja. Alguns textos veterotestamentários demonstram a
promessa de Deus formar um povo de sua propriedade. “Eles serão o meu povo , e
➢ Desse modo, durante o período dos patriarcas, Deus se relacionava com o eu serei o seu Deus” Jr 32:38
seu povo por meio dos patriarcas, que eram representantes das famílias.

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Características do período dos Patriarcas
➢ O período patriarcal é caracterizado pela relação de Deus com famílias,
representada pelos seus chefes (patriarcas).
➢ Desse modo, os sacrifícios eram oferecidos pelos patriarcas em nome de suas
famílias. Um exemplo está no texto de Jó: “Decorrido o turno de dias de seus
banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava (‫ ;)קדש‬levantava-se de
madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia:
talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração.
Assim fazia Jó continuamente” (Jó 1:5).
➢ A função dos patriarcas em santificar as suas famílias é uma prefiguração do
ofício sacerdotal que seria instituído no período do Êxodo.
➢ Uma outra característica do período patriarcal é a ocorrência de algumas teofanias,
em contraposição ao que ocorreu no período anterior, quando o texto bíblico
destaca apenas que Deus “falou” com o homem, sem adicionar a forma ou se foi
acompanhada de alguma aparição. Algumas teofanias: Abraão (Gn 12:7; 15: 17;
17:1); Isaque (Gn 26:2, 24) e Jacó (Gn 28:13, 35:9).
➢ É interessante perceber que a maior parte das teofanias ocorreu em localidades
definidas (fronteiras da terra da promessa), vinculando a presença de Deus à terra
de Canaã, prometida ao povo de Deus – aliança com Abraão.
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Babel
➢ A história da torre de Babel se insere entre a narrativa da história de Noé e a narrativa da história de
Abraão.
➢ A história de Babel resume uma questão que constantemente se repete nas Escrituras: a vontade de
Deus e a rebeldia humana (que não se submete à vontade de Deus).
➢ Deus determinou que o homem povoasse a terra (Gn 1: 28). Assim, a obstinação dos homens em se
ajuntarem e tornarem grande o seu nome revela uma desobediência direta à ordem de Deus.
➢ A fim de manifestar essa dualidade: rebeldia do homem x vontade de Deus, o autor se utilizou de um
linguagem típica da poesia hebraica: o quiasmo. Esta figura funciona da seguinte maneira: duas
ideias contrapostas são repetidas com as ideias opostas e o centro do quiasmo representa a ideia
central do texto. No caso do texto:

A – em toda a terra, só uma E – a cidade e a torre


linguagem D – Venham agora, confundamos
B – O povo se ajuntou X – O Senhor desceu C – Não entendiam uns aos outros
C – Disseram uns aos outros B – O povo se dispersou
D – Venham, façamos tijolos A – A linguagem de toda a terra
E – Uma cidade e uma torre

➢ Babel, então, narra a vontade de Deus sendo estabelecida em meio à rebeldia humana.

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Abraão – o chamado
“O Deus da glória
➢ A narrativa da história de Abraão vai do capítulo 12 ao 24 de Gênesis. apareceu a Abraão,
nosso pai, quando estava
➢ Abrão morava em Ur dos Caldeus quando foi chamado por Deus. A cidade de Ur na Mesopotâmia, antes
se localizava ao sul da antiga Babilônia, próxima ao Golfo Pérsico. de habitar em Harã” (At
➢ É interessante que o texto que narra o chamado de Deus a Abrão usa o verbo no 7:2)
passado (‫ )ויאמר‬o que demonstra que Deus chamou a Abrão quando ele estava em
Ur e não quando estava em Harã. Isso demonstra que ele não obedeceu
imediatamente a ordem de se separar da sua família, pois seguiu com seu pai (Gn
11:31).
➢ É interessante perceber a contraposição deste momento de Abrão e o momento
em que, ainda de madrugada ele obedeceu a Deus e se dirigiu ao Monte Moriá
para sacrificar o seu filho Isaque (Gn 22:3). O relacionamento de Abraão com
Deus fez a sua fé crescer e, consequentemente, a sua obediência.
➢ A obediência de Abraão é destacada pelo autor da Epístola aos Hebreus – Hb
11:8-19.

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Abraão: a aliança da promessa
Acordo entre duas partes, que possui seus
termos, compromissos e punições.
Envolve questões de vida ou morte.

“Aliança é um pacto de sangue soberanamente


administrado.”
Deus toma a iniciativa, o domínio e
a manutenção da aliança.

- O estabelecimento da aliança entre Deus e Abraão é precedido por uma


promessa: “de ti farei uma grande nação, e te abençoarei e te engrandecerei
Owen Palmer Robertson o nome. Sê tu uma benção. Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei
O Cristo dos Pactos os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn
12: 2-3).
- A promessa foi repetida algumas vezes antes do estabelecimento da
aliança: Gn 13:14-17 e Gn 15: 4-7.

09/02/2020 Escola Bíblica Dominical 7


Abraão: a aliança da promessa
➢ A descrição do estabelecimento da aliança entre Deus e Abraão se encontra em Gn 15:12-
21.
➢ Deus determinou que Abraão tomasse uma novilha, uma cabra e um cordeiro de três
anos, uma rola e um pombinho, que os partisse pelo meio e colocasse as metades umas
defronte das outras (Gn 15:9-10).
➢ Naquele contexto cultural, tratava-se de uma prática comum entre os homens. O
estabelecimento de um juramento – os pactuantes faziam isso e passavam juntos pelo
meio das metades dos animais. Qual o significado disso? Que se fizesse com os
pactuantes o mesmo que com os animais se quebrassem a aliança.
➢ Ocorre que, caiu profundo sono sobre Abraão. A promessa foi repetida e um fogareiro
fumegante e uma tocha de fogo passou entre as metades (Gn 15:12-17). Trata-se de uma
teofania – o próprio Deus passou por entre os animais!
➢ Isso significa que Deus estabeleceu uma aliança com Abraão (pacto), de vida e de morte
(de sangue) e o próprio Deus se responsabilizou pelo cumprimento da aliança, pois passou
sozinho entre as metades dos animais (soberanamente administrado).
➢ O símbolo da aliança entre Deus e o seu povo, estabelecida em Abraão é a circuncisão
(Gn17:9-14).

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A Espera pelo cumprimento da promessa
Deus chama Abraão em Abraão vai até o Instituição da
Aliança de Deus
Harã e faz a promessa Egito circuncisão (Gn Abraão vai até Gerar
com Abraão
(Gn 12:1) (Gn 12:10) 17:9-14) (Gn 20:1-18)
(Gn 15:12-21)

Nascimento
Abraão sai de Ur Abraão tinha 75 anos Abraão retorna a Canaã e se Nascimento de Aparecimento dos
de Isaque (Gn
com o seu pai separa de Ló Ismael (Gn 16:15) dois anjos
Abraão partiu para 21:1-7)
para Harã (Gn 13:1-13) (Gn 18:1-15)
Canaã com Ló Abraão tinha 86 anos Abraão tinha
(Gn 11:31) (Gn 12:4) 100 anos

09/02/2020 Aproximadamente 25 anos 9


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Sodoma e Gomorra
➢ O pecado dos moradores de Sodoma e Gomorra já havia sido destacado anteriormente
pelo autor (Gn 13:13).
➢ Após a visita dos dois anjos a Abraão, nos carvalhais de Manre (Gn 18:1-15), eles partem
para Sodoma. Há aqui uma prefiguração da lei mosaica: “Uma só testemunha não se
levantará contra alguém por qualquer iniquidade ou por qualquer pecado, seja qual for
que cometer; pelo depoimento de duas ou três testemunhas, se estabelecerá o fato” (Dt
19:15).
➢ Antes de concretizar o seu intento em relação a Sodoma e Gomorra, Deus anuncia a sua
intenção a Abraão (Gn 18:17-19). É possível também se destacar uma prefiguração do
ofício profético neste momento. Disse Deus: “Porque eu o escolhi para que ordene a seus
filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem
a justiça e o juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu
respeito” (Gn 18:19).
➢ Sobre o ofício profético, Amós afirmou: “Certamente, o SENHOR Deus não fará coisa
alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas”. (Am 3:7).
➢ Da mesma forma que anunciou o dilúvio a Noé, Deus anunciou a iminente destruição de
Sodoma e Gomorra a Abraão. A mensagem profética anuncia o pecado e chama o
pecador ao arrependimento e mudança. No caso de Sodoma e Gomorra, as pessoas não
deram ouvidos (Gn 19:14).
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Sodoma e Gomorra
➢ Ao chegarem a Sodoma, os dois anjos se deparam com Ló que se encontrava assentado na
entrada da cidade (Gn 19:1). Naquele contexto cultural, as pessoas que ficavam na
entrada da cidade eram os grandes cidadãos da cidade.
➢ Há uma nítida comparação feita pelo autor entre Abraão e Ló. Enquanto Abraão se
encontrava assentado à entrada da tenda quando da visita dos anjos (Gn 18:1), Ló se
encontrava assentado na entrada da cidade (Gn 19:1). E toda a narrativa a partir de então
continua com a comparação, evidenciando as profundas diferenças entre um homem que
andava com Deus e um homem que, apesar de conhecer a Deus, estava fascinado pelas
seduções do mundo:

Hospitalidade de Abraão: apressa- Hospitalidade de Ló:


se em preparar a refeição; também oferece uma
refeição aos anjos ;
Sara ri após ouvir a promessa, se Os genros de Ló gracejam
arrepende e é censurada; quando ouvem sobre o juízo.
Não se arrependem e
Abraão intercede pelos justos de morrem;
Sodoma e Gomorra; Ló pleiteia por Zoar por
interesse próprio;

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Sodoma e Gomorra
➢ Ao contrário do que se pode pensar quando se fala em Sodoma e Gomorra, não se trata de
duas cidades, mas de uma região, formada por cinco cidades-estados na região do vale do
Sidim – região do Mar Morto: Sodoma, Gomorra, Admá, Zebolim e Zoar (Bela).
➢ A região de Sodoma e Gomorra era toda bem regada, como o jardim do Senhor (Gn 13:10).
➢ As cidades nunca foram encontradas, mas há fortes evidências, a partir da localização da
região destacada nas Escrituras, bem como por evidências arqueológicas que encontraram
cidades próximas, que as cidades estão hoje na região do Mar Morto, em Israel.
➢ O juízo de Deus que destruiu as cidades por meio de uma chuva de enxofre e fogo (Gn
19:24) transformou toda a região. A região em que havia férteis campinas transformou-se em
um árido deserto, com um mar morto, em que não se desenvolve qualquer vegetação e onde
não habitam animais, em razão da grande salinidade do mar.
➢ O juízo de Deus sobre Sodoma e Gomorra foi cabal. Ao anunciar o juízo sobre Edom (povo
que foi completamente aniquilado por Deus), o profeta Jeremias anuncia: “Como na
destruição de Sodoma e Gomorra e das suas cidades vizinhas, diz o SENHOR, assim não
habitará ninguém ali, nem morará nela homem algum” (Jr 49:18). E também profetizou
Sofonias, dando indicações da região em que se encontra a região de Sodoma e Gomorra:
“Portanto, tão certo como eu vivo, diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel, Moabe
será como Sodoma, e os filhos de Amom, como Gomorra, campo de urtigas, poços de sal e
assolação perpétua” (Sf 2:9)
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Isaque e Rebeca
➢ O início do patriarcado de Isaque ocorre após a morte de Sara (Gn 23), quando Abraão
comissiona o seu servo a buscar uma esposa para o seu filho (Gn 24). Dois aspectos são
importantes nesta narrativa: a) Abraão pede que o servo vá buscar uma esposa na sua
parentela (semitas – povo abençoado por Deus) e não dentre as filhas dos cananeus e b) a
ordem de Abraão para que Isaque não vá para a terra de sua parentela – obediência de
Abraão à vocação de Deus, que o tirou da sua terra e o trouxe para Canaã.
➢ Há uma grande relação de similaridade entre a história de Abraão e a história de Isaque. São
elas:
a) A esterilidade prolongada das esposas: Sara (Gn 18:12) e Rebeca (Gn 25:21);
b) A ida à região de Gerar: Abraão (Gn 20:1) e Isaque (Gn 26:1);
c) A exposição de suas esposas e o tratamento dispensado por Abimeleque: Abraão (Gn
20:2 e Gn 20:14-15) e Isaque (Gn 26:7 e Gn 26:11-13);
➢ Há um contraste entre o início do casamento de Isaque e Rebeca e as transformações
destacadas especialmente quando do nascimento dos seus filhos gêmeos. No momento em
que Isaque e Rebeca se encontram (Gn 24:62-67) o texto revela uma relação de
simultaneidade e reciprocidade entre os dois. No entanto, o casamento se torna disfuncional,
cada um agindo secretamente a fim de garantir a benção ao filho favorecido.

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Esaú e Jacó
➢ Ao contrário da narrativa de Isaque, o patriarcado de Jacó é caracterizado pela existência de
muitos conflitos. Estes conflitos são prefigurados já no início da narrativa: “Os filhos
lutavam no ventre dela (Rebeca); e o SENHOR lhe ouviu as orações, e Rebeca, sua
mulher, concebeu” (Gn 25:22).
➢ Outros conflitos experimentados por Jacó: a) quando ele assegura o direito de primogenitura
(Gn 25:27-34); b) quando ele rouba a benção de Esaú (Gn 27:1-40). Suas lutas se
extravasam nos conflitos entre Rebeca e Isaque (Gn 27:1-46); entre Jacó e suas esposas e
as esposas entre si (Gn 30:1-24) e entre Jacó e Labão (Gn 29:14-31:5).
➢ O nascimento de Esaú e Jacó é precedido da oração de Isaque, tendo em vista que Rebeca
era estéril. Entre o casamento de Isaque e Rebeca e o nascimento dos filhos, passaram-se
vinte anos – Gn 25:20 e Gn 25: 26. Assim como ocorreu na história de Abraão, Deus não
falhou no cumprimento da sua promessa, embora ela não venha imediatamente.
➢ Há uma revelação de Deus a Rebeca, em meio ao sofrimento durante a sua gravidez: a de
que duas nações estavam no seu ventre – dois povos que se dividiriam e que seriam
inimigos (Gn 25:23). De Esaú, descenderiam os edomitas, povo inimigo e que sofreu juízo
da parte de Deus, conforme especialmente destacado no livro do profeta Obadias. Por outro
lado, de Jacó, descenderiam os israelitas, povo da aliança de Deus.
➢ É mais uma manifestação das duas descendências expostas em Gn 3: 15.
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As duas descendências Descendência da Mulher

Adão Sete Noé Sem Héber Abraão Isaque Jacó

Caim Cam e Jafé Ismael Esaú

Descendência da Serpente

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Esaú e Jacó
➢ A narrativa de Esaú e Jacó demonstra a soberania de Deus no estabelecimento de sua aliança.
Algumas atitudes de Jacó comprovam que não depende de méritos humanos, mas da
escolha divina.
➢ No momento do nascimento, Jacó segurava com a mão o calcanhar de Esaú. Por isso o seu
nome, que significa suplantador. Esta característica o acompanhou durante boa parte de sua
vida, até que Deus, após muitas provações na vida de Jacó, mudou o seu nome para Israel.
➢ Apesar das práticas de Jacó, foi ele o escolhido de Deus como o que daria prosseguimento à
aliança estabelecida por Deus com Abraão e com Isaque, seu pai. Não bastasse os eventos
que demonstram a escolha de Jacó por Deus, o profeta Malaquias afirmou: “Eu vos tenho
amado, diz o SENHOR; mas vós dizeis: Em que nos tens amado? Não foi Esaú irmão de
Jacó? – disse o SENHOR; todavia, amei a Jacó, porém aborreci a Esaú; e fiz dos seus
montes uma assolação e dei a sua herança aos chacais do deserto” (Ml 1: 2-3). O apóstolo
Paulo fez referência a este texto: “Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de
Esaú” (Rm 9:13).
➢ Talvez esse seja um dos mais claros episódios de manifestação de predestinação nas
Escrituras Sagradas. Deus escolheu a Jacó não por causa de suas virtudes e de seu caráter,
mas exatamente apesar de suas virtudes e de seu caráter.

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As lutas do enganador
➢ A história de Jacó é caracterizada por uma série de lutas. Pode-se dizer que as lutas que Jacó
enfrenta vêm da parte de Deus para, dentro da sua soberania e da manifestação de sua vontade,
forjar o caráter de Jacó.
➢ A primeira luta ocorre ainda dentro do ventre de sua mãe. A luta é resultado de duas
descendências que são inimigas entre si – a descendência da serpente (Esaú) e a descendência da
mulher (Jacó).
➢ Jacó também luta com Esaú no episódio da venda da primogenitura e da benção (Gn 25:27-34 e
Gn 27: 1-46); luta contra os enganos de Labão (Gn 29:21-30 e Gn 30:27-43) e com o próprio
Deus (Gn 32:22-31).
➢ Um dos episódios mais intrigantes da história de Jacó é o do encontro de Jacó com Deus no vau
de Jaboque. Trata-se de uma teofania e além do próprio texto, o profeta Oséias declarou: “lutou
com o anjo e prevaleceu; chorou e lhe pediu mercê; em Betel, achou a Deus, e ali falou Deus
conosco” (Os 12:4).
➢ No contexto da luta, Deus com apenas um toque deslocou a coxa de Jacó (v. 25). Isso significa
que Jacó não prevaleceria na base da sua força física. Jacó percebe, então, que a luta não é
física, mas espiritual e não deixa que Deus se vá sem que o abençoe.
➢ E Deus abençoa a Jacó mudando o seu nome: de suplantador, que vive lutando para prevalecer,
ele passa a ser Israel – “Deus prevalece”. O vencedor da luta foi Jacó, porém porque se rendeu a
Deus – essa é a belíssima e aparente contradição do Evangelho.
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A descendência de Israel
Israel

Lia Zilpa Bila Raquel

Rúben
Gade Dã José
Simeão

Naftali Benjamim
Levi Aser

Judá

Issacar

Zebulom

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José: o sonhador
➢ De forma semelhante ao que ocorreu com os seus pais, Jacó tinha um filho preferido: José, filho de Raquel. Jacó fez e deu
a José uma túnica talar de mangas compridas. Na história de José dois filhos disputam a liderança: Rúben e Judá.
➢ Rúben havia cometido grave pecado contra o seu pai: tinha deitado com Bila, a concubina de seu pai e mãe de dois de
seus irmãos por parte de pai (Gn 35:22). Rúben tenta evitar que seus irmãos matem José e tentou ganhar tempo para o
restituir a Jacó. Judá, porém, teve a ideia de vender José a uma caravana dos ismaelitas que se dirigia ao Egito e fizeram
Jacó crer que ele havia sido morto por animais (Gn 35:26-32).
➢ É interessante que da mesma forma que enganou o seu pai com a roupa de Esaú, Jacó foi enganado pelos seus filhos com a
roupa de José (Gn 37:32).
➢ A partir de então, três filhos passam a ter destaque na narrativa dos últimos capítulos de Gênesis: José e Benjamim (filhos
de Raquel) e Judá, que após o sofrimento e humilhação experimentado no caso do estratagema de sua nora – Tamar (Gn
38) – foi transformado por Deus. Judá e o filho por meio do qual houve continuidade da descendência da mulher, que
gerou o Messias (Mt 1:3).
➢ A preferência de Jacó por José gerou nos seus irmãos ciúmes. Estes foram potencializados pelos sonhos que José teve e
que foram revelados a seus irmãos.
➢ A história de José manifesta a providência de Deus. O favoritismo do pai, que gerou a rivalidade dos irmãos que os
levaram a vender o seu próprio irmão a mercadores que iam até o Egito revelam a providência de Deus em salvar o Seu
povo. O próprio José entende isso ao afirmar no final da história: “Vós, na verdade intentastes o mal contra mim; porém
Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida” (Gn 50:20).

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José no Egito
➢ José constantemente experimenta a humilhação e a exaltação. Porém
o que guarda o seu coração e o dá entendimento para fazer a afirmação
descrita no ultimo capítulo de Gênesis está no versículo 2 do capítulo
39, quando a história é deslocada de Canaã para o Egito: “O SENHOR
era com José”.
➢ José foi de filho favorito (exaltação) a escravo (humilhação) a homem
de confiança de Potifar (exaltação) a prisioneiro (humilhação) a
segundo homem mais poderoso no Egito (exaltação). Porém, o que
guardou o coração de José foi a presença de Deus, em todos os
momentos. É essa presença, afirmada por Jesus que também deve nos
guardar (Mt 28:20).
➢ A paz da presença de Deus é revelada na paciência de José. Após o
sonho do padeiro e do copeiro e da sua interpretação por José, apesar
de ter rogado ao copeiro que lembrasse dele ao ser reintegrado, foi por
ele esquecido (Gn 40:14-15; 23). Foi lembrado apenas dois anos
depois, quando Faraó teve um sonho que não podia ser interpretado
por ninguém (Gn 41:1; 9-14).
➢ José prefigura duas outras importantes figuras: Moisés e Daniel.
Todos os três foram cativos, oprimidos em uma terra hostil, foram
exaltados nesta terra, opondo a sabedoria de Deus contra os sábios
do mundo e manifestaram a superioridade da sabedoria de Deus e de
seu governo sobre as nações.
➢ A interpretação dada por José ao sonho de Faraó o levou a entregar
toda a sobrevivência do Império à administração de José. O
testemunho de José teve grande impacto em Faraó, que afirmou que
em José estava o Espírito de Deus (Gn 41:38).
A restauração da família
➢ Os sonhos de Faraó se concretizam e após o período de grande abundância na terra (período em que,
por orientação de José, o Egito se abastece), chega o período de grande escassez e há fome por toda a
terra, com exceção do Egito.
➢ Os irmãos de José, então, com exceção de Benjamim descem ao Egito em busca de alimentos sem
saber que José, que os reconheceu quando chegaram, era poderoso naquele local. Os últimos capítulos
narram a restauração da família sob a perspectiva de José de que o próprio Deus havia transformado
o mal em bem a fim de preservar vidas.
➢ Neste cenário, percebe-se também a transformação na vida de Judá, que havia liderado os seus irmãos
na venda de José. Judá é o filho de Israel por meio do qual permanece a descendência da mulher
(genealogia de Jesus). Após a humilhação sofrida quando, enganado por sua nora, tem um filho com
ela, exerce uma liderança ao implorar pela liberdade de Benjamim (Gn 44:16-32) e ofereceu-se como
substituto para o mesmo (Gn 44:33-34).
➢ Após se dar a conhecer e se reconciliar com seus irmãos, José pede para ver o seu pai. Jacó, então,
desceu ao Egito. Jacó desceu ao Egito e Israel passou a habitar na região de Gósen, região muito
fértil.
➢ No seu leito de morte, Jacó abençoa os filhos de José e intencionalmente abençoou o mais novo –
Efraim e não o mais velho – Manassés (Gn 48:14). Jacó morreu e foi levado a Canaã. No momento
de sua morte, José pediu que também fosse levado a Canaã, o que se cumpriu quando da libertação do
povo da escravidão (Ex 13:19).

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As bençãos de Israel
“Rúben, tu és meu primogênito, minha força e o princípio de meu vigor, o mais excelente em alteza e o mais excelente
em poder. Impetuoso como a água, não serás o mais excelente, porquanto subiste ao leito de teu pai. Então o
contaminaste; subiu à minha cama. Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu
secreto conselho não entre minha alma, com a sua congregação minha glória não se ajunte; porque no seu furor mataram
homens, e na sua teima arrebataram bois. Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; eu os dividirei
em Jacó, e os espalharei em Israel. Judá, a ti te louvarão os teus irmãos; a tua mão será sobre o pescoço de teus
inimigos; os filhos de teu pai a ti se inclinarão. Judá é um leãozinho, da presa subiste, filho meu; encurva-se, e deita-se
como um leão, e como um leão velho; quem o despertará? O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre
seus pés, até que venha Siló; e a ele se congregarão os povos. Ele amarrará o seu jumentinho à vide, e o filho da sua
jumenta à cepa mais excelente; ele lavará a sua roupa no vinho, e a sua capa em sangue de uvas. Os olhos serão
vermelhos de vinho, e os dentes brancos de leite. Zebulom habitará no porto dos mares, e será como porto dos navios, e
o seu termo será para Sidom. Issacar é jumento de fortes ossos, deitado entre dois fardos. E viu ele que o descanso era
bom, e que a terra era deliciosa e abaixou seu ombro para acarretar, e serviu debaixo de tributo. Dã julgará o seu povo,
como uma das tribos de Israel. Dã será serpente junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os calcanhares
do cavalo, e faz cair o seu cavaleiro por detrás. A tua salvação espero, ó Senhor! Quanto a Gade, uma tropa o acometerá;
mas ele a acometerá por fim. De Aser, o seu pão será gordo, e ele dará delícias reais. Naftali é uma gazela solta; ele dá
palavras formosas. José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus ramos correm sobre o muro. Os flecheiros
lhe deram amargura, e o flecharam e odiaram. O seu arco, porém, susteve-se no forte, e os braços de suas mãos foram
fortalecidos pelas mãos do Valente de Jacó (de onde é o pastor e a pedra de Israel). Pelo Deus de teu pai, o qual te
ajudará, e pelo Todo-Poderoso, o qual te abençoará com bênçãos dos altos céus, com bênçãos do abismo que está
embaixo, com bênçãos dos seios e da madre. As bênçãos de teu pai excederão as bênçãos de meus pais, até à
extremidade dos outeiros eternos; elas estarão sobre a cabeça de José, e sobre o alto da cabeça do que foi separado de
seus irmãos. Benjamim é lobo que despedaça; pela manhã comerá a presa, e à tarde repartirá o despojo. Todas estas são
as doze tribos de Israel; e isto é o que lhes falou seu pai quando os abençoou; a cada um deles abençoou segundo a sua
bênção”.
28/02/2021 Escola Bíblica Dominical 22
EscolaPrimeiro
Bíblica Dominical
Ciclo – 21/02 até 23/05
Sala de Missões
2. Panorama do AT - Professores: Márcio Ordonho, JP e Davi Pimentel

Ementas
7. O Reino Divido parte I
1. Criação e Dilúvio
8. O Reino Divido parte II
2. Os Patriarcas
9. O Cativeiro Babilônico - I
3. Êxodo e a Lei
10. O Cativeiro Babilônico - II
4. A Terra Prometida
11. O Retorno do Cativeiro
5. Início da Monarquia em Israel
12. Período Intestametário
6. Literatura Sapiencial

Indicação de Bibliografia: Comentário do Antigo Testamento – Ed. Geográfica - Warren W. Wiersbe; Merece confiança o
Antigo Testamento – Vida Nova - Gleason Archer; Entendendo o Antigo Testamento – Shedd Publicações - Raymond
Brawn; Foco e desenvolvimento do Antigo Testamento – Ed. Hagnos - Carlos Osvaldo Pinto; Introdução ao Antigo
Testamento - DILLARD, R. e LONGMAN III - Vida Nova; Revelação Messiânica no Antigo Testamento - VAN
GRONINGEN, Gerard - Cultura Cristã; Teologia do Antigo Testamento - Bruce Waltke - Vida Nova.

09/02/2020 Escola Bíblica Dominical 23


“Os Filhos de Israel cruzando o Mar Vermelho” – Frédérich Schopin
Óleo sobre tela – 57 x 95cm

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