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SEMINÁRIO TEOLÓGICO EVANGÉLICO DO BETEL BRASILEIRO

Extensão – Osasco
FABIANA FREIRE DA SILVA

EXEGESE DO ANTIGO TESTAMENTO

Exegese da pericope de Joel 2.12-14

Osasco/SP
2019
FABIANA FREIRE DA SILVA

EXEGESE DO ANTIGO TESTAMENTO

Exegese da pericope de Joel 2.12-14

Trabalho apresentado como requisito


parcial de avaliação da disciplina
Exegese do Antigo Testamento, do curso
de Teologia do Seminário Teológico
Evangélico do Betel Brasileiro, sob a
orientação do Prof. Marcos Novaes.

Osasco/SP
2019
SUMÁRIO

Introdução ......................................................................................... 4
I. Pericope e tradução do texto original ........................................... 5
II. Contexto histórico - Contexto literário – Forma - Estrutura....... 10
III. Comentário do texto .................................................................. 19
IV. Teologia do texto ....................................................................... 21
V. Estrutura do sermão ................................................................... 23
VI. Ideia homilética e esboço do sermão ....................................... 24
Referências bibliográficas .............................................................. 26
4

INTRODUÇÃO
Os profetas menores são absolutamente relevantes para a nossa época. Sua
mensagem é contundente, oportuna e urgente. Os profetas menores são
totalmente atuais. Eles são nossos contemporâneos.
Embora tenham vivido há mais de 2.500 anos, abordam temas que ainda estão
na agenda das famílias, das igrejas e das nações. Eles são atemporais. A
mensagem deles não é periférica, mas toca no cerne dos problemas que ainda
hoje afligem a alma humana. Joel em especial, fala que o pecado atrai o
inevitável juízo divino, enquanto o arrependimento traz bênçãos materiais e
espirituais; temporais e eternas. O livro do profeta Joel nos mostra a
consequência do pecado e da desobediência, ao mesmo tempo em que
descreve as bênçãos do arrependimento sincero. No desenvolvimento da
mensagem que o profeta havia recebido de Deus, ele falou de arrependimento,
conversão e vida renovada.
A perícope em estudo se encontra na seção do livro que constitui um chamado
urgente ao arrependimento sincero e à conversão. Portanto fica claro no estudo
do livro que aqueles que se sujeitam ao Senhor e o obedecem encontram
misericórdia e são restaurados, e assim experimentam a dádiva das bênçãos
grandiosas de Deus.
Os profetas menores lamentavelmente têm sido esquecidos pela nossa geração.
Poucos cristãos leem com a devida atenção esses preciosos livros proféticos.
Poucos pregadores expõem com clareza, fidelidade e sistematicidade esses
livros no púlpito.
5

I. PERÍCOPE E TRADUÇÃO DO TEXTO ORIGINAL


Exegese do A.T – Joel 2. 12-14

Joel 2.12
‫לְ בַ בְ כֶ֑ם ּובְ ֹ֥צום ּובְ בְ ִ ִ֖כי ּובְ ִמ ְס ֵּֽפד‬-‫שֻׁ֥בּו עָ ַדִ֖י בְ כָל‬
ֹ֥ ‫יְה ָ֔ ָוה‬-‫עַ תָ ֻׁ֥ה נְאם‬-‫וְ גַם‬:

Hebraico Classificação Tradução


‫וְ גַם־‬ Conjunção Portanto

ֻׁ֥‫עַ ָתֻׁ֥ה‬ advérbio agora

‫נְאם־‬ Substantivo - construto


Masculino singular
diz

‫יְה ָ֔ ָוה‬ Nome próprio YHWH

‫שֹ֥בּו‬ Verbo Qal imperativo


plural
convertei

‫עָ ַדִ֖י‬ preposição até mim

‫בְ כָל־‬ Preposição b com todo


Substantivo – construto
Masculino singular
‫לְ בַ ְבֻׁ֥כֶ֑ם‬ Substantivo
Masculino singular
vosso coração

‫ּובְ ֹ֥צֹום‬ Conjunção waw


Preposição b
e com jejum

Substantivo masculino singular


‫ּובְ בְ ִכִ֖י‬ Conjunção waw
Preposição b
e com pranto

Substantivo masculino singular


‫ּובְ ִמ ְס ֵּֽפד‬ Conjunção waw
Preposição b
e com rito fúnebre

Substantivo masculino singular

Tradução literal: Portanto, agora diz YHWH convertei até mim com todo vosso
coração e com jejum e com pranto e com rito fúnebre.
6

Joel 2.13
‫חַ נֶ֤ ּון וְ ַרחּוםֻׁ֥ ָ֔הּוא ֶ֤ארְך‬-‫יְהוָ ָ֣ה אֱ לֵּֽ היכֶ֑ם ִ ֵּֽכי‬-‫יכם וְ ִ֖שּובּו אל‬
ָ֔ ‫בִ גְ ד‬-‫ם וְ אַ ל‬
ֻׁ֥ ‫וְ קִ ְרעֶ֤ ּו לְ בַ בְ כ‬
‫הָ ָר ָ ֵּֽעה‬-‫חסד וְ נִ ָחִ֖ם עַ ל‬-‫ב‬ָ֔ ‫אַ פַ יִ םֻׁ֥ וְ ַר‬

Hebraico Classificação Tradução


‫ְוֻׁ֥קִ ְרעֶ֤ ּו‬ Waw conjuntivo;
Verbo Qal imperativo plural
E rasgai

ֻׁ֥‫לְ בַ בְ כם‬ Substantivo masculino singular O vosso coração,

‫וְ אַ ל־‬ Waw conjuntivo


Advérbio
e não

‫יכם‬ָ֔ ‫בִ גְ ד‬ Substantivo masculino plural As vossas roupas,

‫ֻׁ֥שּובּו‬
ִ֖ ‫ְו‬ Waw conjuntivo;
Verbo Qal imperativo plural
e convertei

‫אל־‬ Preposição Para

‫יְהוָ ָ֣ה‬ Nome próprio YHWH

‫אֱ לֵּֽ היכֶ֑ם‬ Substantivo masculino plural O vosso Deus;

‫ִ ֵּֽכי־‬ Conjunção porque

‫חַ נֶ֤ ּון‬ Adjetivo masculino singular gracioso

ֻׁ֥‫וְ ַרחּום‬ Waw conjuntivo;


Adjetivo masculino singular
e compassivo

‫ָ֔הּוא‬ Pronome masculino- 3ªp.


singular
do ele,

‫ֶ֤ארְך‬ Adjetivo masculino singular longânimo de

ֻׁ֥‫אַ פַ יִם‬ Substantivo fúrias

‫וְ ַרב־‬ Waw conjuntivo;


Adjetivo construto masculino,
e grande

singular
‫ָ֔חֻׁ֥סֻׁ֥ד‬ Substantivo masculino, singular de benevolência

‫ֻׁ֥נִחִ֖ם‬
ָ ‫ְו‬ Waw conjuntivo;
Verbo nifal particípio, masculino,
e o que se consola

singular
‫עַ ל־‬ Preposição Por causa

‫הָ ָר ָ ֵּֽעה‬ Artigo; Da maldade


Adjetivo singular, feminino

Tradução literal: E rasgai o vosso coração e não as vossas roupas e convertei


para YHWH, o vosso Deus; porque gracioso e compassivo ele, longânimo de
fúrias e grande de benevolência e o que se consola por causa da maldade.
7

Joel 2.14

‫יכם׃ פ‬
ֵּֽ ‫יו בְ ָר ָָ֔כה ִמנְ ָחָ֣ה ו ָָ֔נסְך לַיהוָ ִ֖ה אֱ לה‬
ֻׁ֥ ‫וד ַֻׁ֥ע י ָָ֣שּוב וְ נ ִָחֶ֑ם וְ הִ ְש ִ ֶ֤איר ַ ֵּֽאח ֲָר‬
ִ֖ ‫ִ ֹ֥מי י‬
Hebraico Classificação Tradução
‫ִ ֹ֥מי‬ interrogativo Quem

‫יֹוד ַֻׁ֥ע‬
ִ֖ Verbo Qal particípio, masculino,
singular
O que sabe

‫י ָָ֣שּוב‬ Verbo Qal imperfeito, 3ª p. singular,


masculino
retornará

‫ֻׁ֥נִחֶ֑ם‬
ָ ‫ְו‬ Waw conjuntivo
Verbo nifal conjuntivo perfeito, 3ª p.
e se consolará

Singular, masculino
‫וְ הִ ְש ִ ֶ֤איר‬ Waw conjuntivo
Verbo Hifil conjuntivo perfeito, 3ª p.
e deixará remanescer

singular, masculino
ֻׁ֥‫ַ ֵּֽאח ֲָריו‬ Preposição – 3ª p. singular atrás dele

‫בְ ָר ָָ֔כה‬ Substantivo feminino, singular benção

‫ִמנְ ָחָ֣ה‬ Substantivo feminino singular oferta de grão

‫ו ָָ֔נסְך‬ Waw conjuntivo e libação


Substantivo masculino, singular
‫לַיהוָ ִ֖ה‬ Preposição
Substantivo masculino, singular
A YHWH

‫יכם׃‬
ֵּֽ ‫אֱ לה‬ Substantivo masculino construto O vosso Deus?

‫פ‬ pontuação .

Tradução literal: Quem o que sabe retornará e se consolará; e deixará


remanescer atrás dele benção, oferta de grão e libação a YHWH, o vosso Deus?
8

Comparação de versões

Jl 2.12

“Ainda assim, agora “Contudo, agora, diz “Agora, porém”, declara o


mesmo, diz o Senhor: Yahweh: “Convertei- Senhor, “voltem-se para
Convertei-vos a mim vos a mim de todo o mim de todo o coração,
de todo o vosso coração, com jejum, com jejum, lamento e
coração; e isso com lamento e pranto!” pranto.”
jejuns, com choro e (KJ) (NVI)
com pranto”. (ARA)

Portanto, agora diz


YHWH convertei até
mim com todo vosso
coração e com jejum e
com pranto e com rito
fúnebre.
Tradução literal

Jl 2.13

“Rasgai o vosso “Dilacerai o vosso coração “Rasguem o


coração, e não as e não as vossas vestes coração, e não as
vossas vestes, e como de costume. vestes. Voltem-se
convertei-vos ao Retornai com todo o vosso para o Senhor, o seu
Senhor, vosso Deus, ser para Yahweh, vosso Deus, pois ele é
Elohim, Deus; porquanto
porque ele é misericordioso e
ele é tardio em irar-se e
misericordioso, e magnânimo em compassivo, muito
compassivo, e tardio misericórdia. Compassivo, paciente e cheio de
em irar-se, e grande paciente, todo amor, e amor; arrepende-se,
em benignidade, e se capaz de arrepender-se, e e não envia a
arrepende do mal.” suspender a desgraça desgraça.”
(ARA) prevista.” (NVI)
(KJ)
9

E rasgai o vosso coração e não


as vossas roupas e convertei
para YHWH, o vosso Deus;
porque gracioso e compassivo
ele, longanimo de fúrias e grande
de benevolência e o que se
consola por causa da maldade.
Tradução literal

Jl 2.14

Quem sabe se não se “É possível que ele “Talvez ele volte atrás,
voltará, e se volte atrás e se arrependa-se, e ao passar
arrependerá, e deixará arrependa, e ao passar deixe uma benção. Assim
após si uma benção, ainda permita uma vocês poderão fazer
uma oferta de manjares benção sobre vós. Assim ofertas de cereal e ofertas
e libação para o Senhor, podereis fazer ofertas de derramadas para o
vosso Deus? cereais e apresentar Senhor, o seu Deus.”
(ARA) libações ao vosso (NVI)
Yahweh, o vosso Elohim,
Deus!”
(KJ)

Quem o que sabe


retornará e se
consolará; e deixará
remanescer atrás dele
benção, oferta de grão e
libação a YHWH, o vosso
Deus?
Tradução literal
10

II. Contexto Histórico – Contexto Literário – Forma - Estrutura

A vida do profeta
A introdução de Joel é sucinta, não dando nenhuma informação sobre quem ele
é ou quando viveu.
Dispomos de tão poucas informações acerca de Joel que só podemos imaginar
como viveu, onde trabalhou e o que havia por trás de seus discursos proféticos.
Não há nenhum registro histórico sobre seu ministério nem referência a seu
chamado ou comissionamento.
Segundo Groningen (2004, p.21) “o nome Joel fala da sua identidade. É uma
combinação de uma forma abreviada de yêhwâ èlõhím e yôêl, ‘Yahweh é Deus’”.
Com isso, pode indicar uma confissão de fé da parte dos pais da criança.
O Antigo Testamento, entre os livros de Samuel e Neemias, faz referência a doze
diferentes homens que receberam o nome de Joel. Esse, porém, é distinguido
dos demais pelo nome de seu pai, Petuel. Nada mais sabemos sobre a pessoa
do profeta além do nome de seu pai. O nome do profeta é mencionado apenas
duas vezes na Bíblia (J1 1.1; At 2.16).
Na cultura hebraica o nome tinha uma conexão com a vida. Os pais escolhiam o
nome dos filhos pelo significado espiritual. Joel significa “O Senhor é Deus”. Seu
nome é uma confissão de fé que expressa uma verdade bendita, a singularidade
da pessoa de Deus. Não há vários deuses.
Para Groningen (2004, p.21) “quanto a Joel, pode-se dizer que ele era um profeta
dêbar yèhwâ ’ãèer hãyâ lel yôel (a palavra do Senhor foi dirigida [veio] a Joel).
Ele recebeu uma comunicação divina de Yahweh; uma mensagem lhe foi dada
para que ele a proclamasse. Ele foi um porta-voz para seu Senhor, cujo nome
ele carregava em seu próprio nome”.

De acordo com Hubbard (1996, p.32),

Alguns indícios combinados sugerem que Joel pode


ter tido um vinculo oficial com o templo. Sua
familiaridade com as práticas e atividades do templo,
seu conhecimento das formas litúrgicas, a descrição
do papel dos sacerdotes tanto no sofrimento por
causa das pragas quanto na recuperação delas, o
interesse por Jerusalém na aflição daquele momento
bem como por seu livramento futuro, a atenção
voltada para o monte Sião como o lugar de habitação
de Javé, no mínimo, tudo isso o destaca como um
cidadão da capital, sofrido mas ainda esperançoso.
11

A época da passagem

O tempo no qual Joel profetizou é incerto. Não nos é revelado quando e como
Joel recebeu a palavra de Yahweh. Ele não indicou o tempo de sua atividade
profética. Não fez referência ao reinado de nenhum monarca e sua mensagem
não foi associada a acontecimentos específicos cuja data seja conhecida. Assim,
há muitas discussões sobre o tempo durante o qual ele profetizou. Algumas
teorias situaram o livro de Joel nos séculos IX ao II a.c.
Hill e Walton (2007, p.524) informa-nos:
Como o cabeçalho de Joel (1.1) não contém
dados cronológicos, deve-se chegar a uma
conclusão com base nas evidências internas
oferecidas pelo livro. A evidência mais notável é
o endereçamento do livro aos “anciãos” e não ao
rei. Ainda que alguns estudiosos não deem
importância a este fato, muitos outros
concluíram que Joel deve ter profetizado na
época em que não havia rei em Israel. A opção
mais óbvia é o período após a queda de
Jerusalém; outra possibilidade que tem longa
tradição de apoio é a era (835-830 a,C) da
menoridade de Joás, que subiu ao trono aos
sete anos (2Rs 11).O período exílico é
eliminado, pois o sistema sacrificial estava em
operação quando Joel testemunhou (1.9), o que
torna o século IX e o período pós exílico os dois
candidatos principais.

Hubbard (1996, p.27, 28) nos mostra ainda que:

“Os outros argumentos mais comuns em favor


dessa data mais antiga (pré exílica) são: (1) a
colocação no cânon entre dois profetas do
século oitavo (Oséias e Amós); (2) a provável
atuação de Joel na contínua luta de Judá contra
a incursão do culto a Baal; (3) a relação dos
inimigos, condenados por maltratarem Judá:
Tiro (Amós 1.9), Sidom (1 Rs 16.31), Filístia ( Am
1.6), os jônios, Egito (1Rs 14.25-28), Edom ( Am
1.6,9,11); não se diz uma única palavra acerca
da Assíria e da Babilônia, as potencias
dominantes entre o oitavo e o quinto século a.C.”

O fato de nem a Assíria nem a Babilônia estarem entre os inimigos de Israel é


usado para sugerir que Joel anteceda a era imperial.
Sobre a teoria que sustenta o período pós exílico para a profecia de Joel, Hill e
Walton (2007, p. 525) argumentam que:
12

Entre as evidências a favor do período pós-exílio


estão, principalmente, a referência a Joel 3.1,2,
em que a dispersão dos israelitas é tratada
como acontecimento passado, Isto não pode ser
exemplo do "perfeito profético" (uso do passado
para transmitir acontecimentos futuros que
certamente acontecerão), pois ele ocorre em
meio a uma sequência no futuro. Além do mais,
a idolatria e a adoração a Baal, temas comuns
dos profetas pré-exílicos, nem sequer são
mencionados. O fato de a Assíria e a Babilônia
não serem mencionadas pode ser facilmente
explicado no período pós exílico, quando ambos
os impérios já estavam fora do cenário global, e
a menção aos gregos (3.6) é considerada muito
mais lógica no pós-exílio que no século IX,
quando haveria pouco conhecimento dos gregos
no Oriente Médio. A evidência mais forte da data
pós-exílica é que Joel é claramente um exemplo
de profecia clássica, iniciada apenas no século
VIII a.c. Isto favoreceria a data posterior a Amós.
Se Joel é mais recente que Amós, outras
constatações citadas fazem do pós-exílio o
contexto mais lógico do livro. A referência à
futura destruição de Edom (3.19) e a descrição
geral do sacerdócio favoreceria a data do início
do período pós exílico, talvez final do século VI
ou início do V.

Contexto da passagem

Diante de uma crise devastadora, a comunidade enfrenta situações extremas


como a falta de chuva, a seca, a improdutividade do solo, a invasão dos
gafanhotos, o sofrimento, a morte dos animais do campo e a impossibilidade de
se oferecer dons no templo. Percebe-se uma grande e generalizada crise que
assola todas as esferas da vida do povo de Judá.
Conforme Groningen (2004 p.26),
Joel chamou a atenção de seus ouvintes para
os gafanhotos que haviam invadido a terra.
Joel fez referência aos vários estágios de
desenvolvimento do gafanhoto (1.4).
Observou o mundo natural ao seu redor. Ele
foi além e descreveu o resultado da invasão
de gafanhotos; a vegetação foi destruída. O
profeta falou dos efeitos sobre a vide e o
vinho, sobre as figueiras que ficaram sem
casca, os grãos (especificamente trigo e
13

cevada), sobre a romeira, a palmeira e a


macieira (1.7-12), sobre celeiros (vazios),
sobre o gado que geme e as ovelhas que
sofrem (1.17,18). Também percebeu que
esse fenômeno trágico no âmbito da criação
deveria ser considerado um julgamento do
Deus Yahweh sobre o povo nos aspectos
culturais, sociais e espirituais de suas vidas.

Groningen (2004 p. 26) ainda menciona que, “Joel prosseguiu proclamando que
a invasão dos gafanhotos e seus resultados eram um prenuncio de uma invasão
ainda maior e mais devastadora: um exército poderoso iria marchar sobre a terra
e destruí-la como julgamento maior de Deus (1.6; 2.1-11).”
Fee e Stuart (2013, p.258) nos mostram que:

Embora Joel não mencione tal fato, ao longo de todo o


livro, ele pressupõe o relacionamento de aliança entre
Javé e o povo. Os gafanhotos e a seca são parte das
maldições decorrentes da desobediência à aliança
(Dt 28.22,38-42), assim como o fato de Israel ser
espalhado entre as nações (Joel 3.2; v. Dt 28.64); o
chamado ao arrependimento como caminho para a
restauração futura é profundamente característico do
relacionamento de aliança, bem como a ideia de que
Deus castiga o povo que ele ama (Dt 30.1-10). Observe
também que o apelo ao caráter de Deus em Joel 2.13
retoma a linguagem de Êxodo 34.6, um momento de
renovação da aliança; o engajamento de Deus na guerra
santa (Joel 2.10,11; 3.9-11) também é parte do tema da
mensagem de Joel .

De acordo com Groningen (2004 p.26), Joel devia proclamar uma mensagem
de julgamento, que incluía um chamado ao arrependimento e uma mensagem
de esperança, que voltava a atenção para um futuro glorioso. O povo foi
chamado a ouvir, obedecer e servir.
Quanto a mensagem de arrependimento, que diz respeito a perícope (2.12-14)
em analise, segundo Zuck (2009, p.454),

Joel, usando uma antiga formula de concerto, exortou os


contemporâneos: “Convertei-vos ao Senhor, vosso
Deus; porque ele e misericordioso, e compassivo, e
tardio em irar-se, e grande em beneficência e se
arrepende do mal” (J12.13; cf. Ex 34.6; Nm 14.18). A
mesma misericórdia experimentada pela geração
rebelde de Moises também estava disponível a geração
de Joel. Os princípios de recompensa e castigo
referentes ao concerto, por meio dos quais a obediência
traria benção divina e a desobediência traria julgamento,
ainda estavam em vigor na comunidade pós- exílica.
14

O livro de Joel ainda prevê grandes coisas para o povo de Deus. A visão de Joel
diz respeito aos imediatos acontecimentos subsequentes e futuros associados
ao dia do Senhor. Depois de assegurar a geração de Joel que o julgamento fora
evitado (Jl 2.20), o Senhor prometeu que ele restabeleceria as colheitas
destruídas pelos gafanhotos (Jl 2.19,21-26).
Conforme Zuck (2009, p.456), “estes atos de intervenção divina são classificados
como procedimentos feitos ‘maravilhosamente’ (v. 26), colocando-os no mesmo
nível que as ações poderosas de Deus na história de salvação de Israel (cf. Ex
3.20; 15.11; 34.10; Js 3.5; Jz 6.13; SI 77.14).”
Como esses grandiosos atos, esta nova exibição de poder divino revelaria a
presença de Deus entre o povo e demonstraria a superioridade a todas as outras
supostas deidades (Jl 2.27).
Resumindo, os pontos principais enfatizados no contexto do livro de Joel,
segundo Groningen (2004 p.27) são:
1) o profeta Joel recebeu uma mensagem
dirigida ao povo de Israel. 2) O povo foi afligido
por pragas de gafanhotos que causaram danos
graves na esfera criacional da vida. 3) A razão
principal da calamidade na esfera criacional é a
separação espiritual de Israel da vontade do Deus
Yahweh e da incumbência que lhes foi dada por
ele. 4) As nações que deveriam ser abençoadas
pela vida e o serviço de Israel também sofrem
pelo fato dê Israel não cumprir suas
responsabilidades para com elas. 5) Todos os
aspectos da vida, o natural, o social, o cultural e o
espiritual são apresentados por Joel como um
todo integrado. Cada aspecto poderia ter e, de
fato, possuía efeito e influência generalizados -
tanto para o bem quanto para o mal - sobre os
outros aspectos.

Contexto geográfico

A mensagem do livro de Joel relaciona -se principalmente com Jerusalém e


Judá, reino do Sul, Lopes (2009, p.16) diz que:

Joel demonstra um profundo conhecimento da vida


religiosa do seu povo. Detalha com precisão o
templo, as ofertas, as oferendas, o culto, os
sacerdotes como ministros do Senhor. O livro deixa
15

claro que Joel exerceu o seu ministério na cidade


de Jerusalém. É aos habitantes dessa cidade que
se dirige (2.23). É Jerusalém que vê em perigo
(2.9). É em Sião que soará o “alarme” (2.1,15). É no
monte Sião e em Jerusalém que se dará a salvação
no futuro (2.32). É o cativeiro de Judá e de
Jerusalém que então findará (3.1), e Judá e
Jerusalém serão “habitadas para sempre” (3.20). O
reino de dez tribos no Norte não é mencionado nem
sequer uma vez.

Podemos concluir que ele ensinava em Jerusalém, ou pelo menos no reino de


Judá. Assim como Oséias foi designado Profeta para o reino de Israel, também
Joel teve outra designação; pois teve que labutar especialmente entre os judeus,
não entre as Dez Tribos: isso merece ser particularmente observado.

Ambiente social

Groningen (2004 p. 23) mostra-nos que em primeiro lugar, deve-se dar atenção
ao chamado da parte do profeta para os vários tipos de ouvintes. Segundo o
autor, Joel dirige-se, de imediato, a três grupos.
Primeiro, hazzèqênim (os anciãos). Anciãos
eram os líderes das famílias e clãs. Haviam sido
parte integrante da vida e das funções sociais,
políticas e religiosas de Israel, quando ainda era
um grupo étnico. O segundo grupo chamado a
ouvir foi kõl yôêèbê (todos os habitantes). O
termo se refere a todo o povo, inclusive os
estrangeiros. Esse chamado não foi apenas
para os israelitas. Remanescentes dos clãs
cananeus haviam permanecido na terra;
estrangeiros haviam passado a fazer parte das
famílias descendentes dos patriarcas; homens
de outras nações haviam sido incluídos entre os
militares de Israel. Todas essas pessoas eram
consideradas parte da monarquia teocrática que
era uma representante local, temporária e
operante do reino cósmico de Yahweh.
O terceiro grupo ao qual o profeta se referiu foi
o dos filhos, filhos dos filhos, e seus filhos. Esse
chamado para instruir as crianças, que são
membros integrantes do reino cósmico de
Yahweh e os futuros líderes desse reino e dentro
dele, não é um fenômeno inédito. O
mandamento de instruir as crianças nos
caminhos e obras de Yahweh era um aspecto
que fazia parte da administração pactuai para
garantir a continuidade do reino e do modo de
vida da aliança. (GRONINGEN, 2004 p. 23)

Ainda, de acordo com o mesmo autor, Joel também dirige seu chamado a vários
outros grupos de habitantes da terra. Ele chamou aqueles que bebiam vinho
16

(ébrios?) para que chorassem (1.5), falou do lamento como de virgens vestidas
em panos de saco, em profunda tristeza (1.8). Chamou a atenção de sacerdotes
(1.9), agricultores e donos de vinhedos. O ponto que deve ser seriamente
considerado é que Joel não está simplesmente tratando de um problema
religioso e se dirigindo a líderes religiosos. Sua abrangência foi muito mais ampla
e tão inclusiva.
Groningen (2004 p.24) também menciona que:
os sacerdotes receberam uma mensagem direta
e específica. De acordo com as prescrições
mosaicas, eles deveriam vestir-se com trajes
sacerdotais (Êx 28.1 -13), mas Joel os chama
para se vestirem com panos de saco, uma
cobertura áspera e feia para o corpo, para dar
evidência de luto (1.13). Os sacerdotes devem
convocar um jejum, chamar os anciãos para o
templo, proclamar um jejum para toda a
assembléia. Devem soar um alarme com as
trombetas (2.1,13). Tendo reunido o povo,
devem liderá-lo no pranto e na intercessão
(2.17).

FORMA

O gênero literário do livro de Joel é o profético, onde o profeta manifesta ao povo


a vontade de Deus através de sinais, exortações e oráculos. Logo no primeiro
versículo da perícope em estudo, o profeta já envia um oráculo divino, que é um
chamado ao arrependimento. Em partes do livro, percebe-se que Joel escreve
como um poeta lírico e dramático. Suas descrições do ataque dos gafanhotos
são vividas, dramáticas e reais. Por exemplo, ele descreve os gafanhotos como
exército, como nação e como povo. Eles marcham em ordem; têm os dentes de
leão e os queixais de uma leoa. Eles se apresentam como cavalos de guerra,
como o estrondo de carros militares. Outra característica do estilo literário de
Joel, é o uso de contrastes. Joel contrasta o sofrimento dos homens e animais
provenientes da praga de gafanhotos (1.4-20) e a sua felicidade na restauração
da produtividade da terra (2.18-27). Contrasta o julgamento divino das nações
com as ricas bênçãos do povo do Senhor (2.28-3.21).
17

ESTRUTURA

Estrutura do livro

A mensagem de Joel cresce a partir da calamidade nacional: a invasão da praga


de gafanhotos. Junto com a praga de gafanhotos, há um a terrível seca
(1:19-20), e a combinação dos dois eventos trouxe escassez absoluta para a
terra. Joel tem um a mensagem para o povo de Judá, pois viu nessas
calamidades a mão disciplinadora do Senhor por causa dos pecados do povo.
No entanto, ele olhou além dos gafanhotos e viu outro “exército” – um exército
real de nações gentias atacando Jerusalém (3:2). Em outras palavras, Joel usou
o julgamento imediato do Senhor (os gafanhotos) como uma ilustração do
julgamento final, "o Dia do Senhor”.
Groningen (1995, p.407) mostra-nos que a estrutura da profecia de Joel é
prontamente dividida em duas partes:
A primeira divisão vai do cap.1.1 até o cap.2.17,
sendo que está primeira parte pode ser
denominada como o pronunciamento da ira de
Yahwéh, pela qual ele executa a maldição do
pacto (cf. Dt 27-30 sobre uma clara advertência
concernentes às maldições do pacto, bem como
às bênçãos); essa ira, entretanto, é atenuada
pelo chamado ao arrependimento e pela
garantia de que Yahwéh é um Senhor bondoso,
compassivo, paciente e amoroso.
A segunda divisão do cap.2.18 até o 3.21, esta
parte é introduzida pelo ciúme do Senhor, isto é,
seu amor ativo que o leva a procurar, defender
e fazer prosperar o seu povo, bem como manter
sua própria santidade e honra. As bênçãos do
pacto virão seguramente a um povo fiel;
entretanto, essa garantia de bênçãos para a vida
pactual, para pessoas de todas as gentes ou
nações, inclui referências ao julgamento de
Yahwéh sobre todos – sejam de Israel ou de
outras nações, quantos não se submetem ao
governo gracioso de Deus.

Conforme menciona Groningen (1995, p.408) “na primeira parte da profecia de


Joel (1.1 – 2.17), a referência ao dia de Yahwéh é proclamada primeiro em
termos da invasão de gafanhotos (um desastre natural) e depois em termos de
uma terrível invasão por um inimigo poderoso, destruidor, no futuro dia de
Yahwéh. Nesse especial contexto Joel proclama a fidelidade pactual de Yahwéh
(2.13).”
18

Estrutura do Capitulo

O capítulo 2 da profecia de Joel, onde se encontra a perícope em análise, está


dividido da seguinte maneira, conforme Henry (2010, p.989):
I –Uma descrição adicional (segundo relato do ataque de gafanhotos) da terrível
assolação que acometeu a terra de Judá pelos gafanhotos (2.1-11);
II – Uma séria convocação ao povo, quando eles estão sob um juízo doloroso, a
voltar-se e se arrepender, e buscar a Deus por misericórdia, com instruções de
como fazer isto bem feito (2.12-17);
III – Uma promessa de que, ao se arrependerem, Deus retiraria o juízo, e lhes
restauraria a plenitude de todas as coisas boas (2.18-27).

Resposta de Deus -
O exército O chamado ao promessa
invasor de Deus arrependimento
de abundância
2.1-11 2.12-17
2.18-27

Estrutura da Seção

A seção que a perícope analisada se encontra inicia -se no versículo 12 com o


chamado ao arrependimento, e termina no versículo 17.

V. 12 - o chamado do Senhor ao arrependimento


V.13,14 - a convocação do profeta e os atributos divinos
V.15 – apelo profético ao povo- convocação publica da volta para Deus
V.16,17- os integrantes da volta para Deus
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III- COMENTÁRIO DO TEXTO


Levantamento das principais perguntas do texto (Joel 2.12-14)
1) Qual a natureza desta volta para Deus?
Em primeiro lugar, é uma volta para uma relação pessoal com Deus (2.12). “...diz
o Senhor: Convertei-vos a mim...” (2.12).
Lopes (2009, p.63) “enfatiza o fato de que Joel não está falando no próprio nome,
mas falando em nome do próprio Deus. Assim, ao introduzir o próprio Deus como
aquele que fala, torna o seu discurso ainda mais grave e mais urgente.”
Encontramos aqui o verdadeiro milagre da graça, pois o ofendido é aquele que
busca a restauração do ofensor; o ofendido é quem convida o transgressor a
renunciar sua desobediência. A expressão: convertei evoca o relacionamento
pactual.
Em segundo lugar, é uma volta com profundidade (2.12). “[...] de todo o vosso
coração” (2.12). Lopes (2009, p.66) nos diz que” o arrependimento precisa ser
profundo, autêntico, sincero e total. Deus não aceita coração dividido (SI
51.17). Ele não se satisfaz com uma espiritualidade farisaica. Ele vê o coração
e requer verdade no íntimo.”

2) Qual o significado da ordem: rasgai o vosso coração?


De acordo com Hubbard (1996, p.66), “‘rasgai o vosso coração’ é a maneira
hebraica de dizer que a contrição interna é mais importante do que a
manifestação externa de pesar. A expressão citada significa ‘modificai toda
vossa atitude’, com um resultado semelhante ao coração quebrantado e contrito
de Salmos 51.17 ou o coração circuncidado de Deuteronômio 10.16.”

As vestimentas eram rasgadas como prova de dor e tristeza extremas. Deixai as


vossas vestes inteiras! Yahweh exige um coração contrito (2.13). A contrição
interna é mais importante do que a manifestação externa. É o coração que
precisa ser atingido, ele precisa ser rasgado, quebrantado, a resposta do povo
de Israel deveria ser mais do que simples aparência.

3) Quais os argumentos usados pelo profeta Joel para persuadir o povo a


voltar ao Senhor?
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O profeta Joel aponta quatro motivações que leva o povo a voltar, a buscar a
Deus com urgência. “[...] porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em
irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal” (2.13). A única coisa
que serve de estímulo para que nos arrependamos e voltemos para o Senhor é
o caráter de Deus.

Henry (2010, p.1.125) destaca o “fato de que devemos nos tornar para o Senhor,
não somente porque ele tem sido justo em punir-nos pelos nossos pecados, mas,
sobretudo, porque ele é gracioso e misericordioso em nos receber na base do
nosso arrependimento.”
No 2:13, o profeta Joel citou a bela descrição de Deus encontrada no culto
israelita (cf. Ex. 34: 6) e usou a descrição do caráter de Deus como um incentivo
para o arrependimento. E cita a contínua lealdade da Aliança de Deus (ele é
misericordioso e compassivo) como motivação para o chamado ao
arrependimento do povo de Judá.

O profeta Habacuque (Hc 3.3) nos diz que até na ira Deus se lembra da sua
misericórdia. A restauração vem quando Deus afasta de nós sua ira e volta o
seu rosto para nós (Is 64.7-9). Se houver arrependimento em nosso coração,
teremos a garantia de que o Senhor usará de misericórdia para conosco e
restaurará nossa sorte

4) Deus pode se arrepender?

“[...] e se arrepende do mal” (2.13). Quando Joel fala que Deus “se arrepende
do mal”, segundo Lopes (2009, p.74), o profeta está “usando uma figura de
linguagem. Isso é uma antropopatia. E atribuir a Deus um sentimento humano.
A relação de Deus com o homem é bilateral. Na verdade, o propósito de Deus
permanece imutável, pois Deus é imutável. Não é Deus quem muda, mas o
homem.”
Henry ( 2010, p.1.125 ) também esclarece esse ponto: “Quando a Bíblia diz que
Deus se arrepende do mal não quer dizer que Deus muda a sua mente; ao
contrário, quando a mente do pecador é mudada, a maneira de Deus tratar com
ele é mudada; então, a sentença é revertida e a maldição da lei suspensa”
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IV. TEOLOGIA DO TEXTO

Em primeiro lugar, conforme Hubbard (1996, p.40), “a soberania de Deus sobre


a natureza. Joel é um livro teocêntrico. A praga, o apelo ao lamento, as
instruções para a conversão, a restauração, a dádiva do Espírito e a convicção
da vitória final são, todos, atos de Deus.”
Conforme Fee e Stuart (2013, p.261), o livro de Joel ocupa-se especialmente
com os grandes temas da história bíblica: o juízo de Deus sobre o pecado
humano, a necessidade do arrependimento e a graça misericordiosa de Deus,
devido à qual todos os que clamam pelo seu nome serão salvos.
Assim, Joel nos apresenta ensinos teológicos de muito valor. Dentre os vários
ensinamentos destacaremos apenas três pontos importantes acerca da teologia
encontrada apenas na perícope em análise.
Lopes (2009, p.21) corrobora dizendo que:
o arrependimento humano é o caminho seguro para
a misericórdia divina. O arrependimento é a porta
de entrada da graça; o caminho seguro para
alcançar a misericórdia divina. Duas vezes o
profeta chama o povo ao arrependimento (1.13,14;
2.12-17). O arrependimento deve ser profundo, de
todo o coração e também sincero; ou seja,
rasgando o coração e não as vestes. O pecado do
povo da aliança traz consequências dramáticas não
apenas para o culto e para os sacerdotes, mas
também para o campo, para o gado e até mesmo
para a terra.

Quando o povo da aliança se volta para Deus em arrependimento, converte-se


de seus maus caminhos é que Deus perdoa seus pecados e sara a sua terra
(2Cr 7.14).
Lopes (2009, p.22) diz ainda, que o “Deus da aliança é o Deus da restituição. O
arrependimento traz a suspensão do castigo e a volta das bênçãos (2.18-27).
Quando o povo se volta para Deus em arrependimento, Deus se volta para ele
em graça, restituindo-lhe tudo aquilo que o inimigo havia levado (2.18-27).”
A restauração divina alcança a terra, o campo, as fontes, os animais, os homens,
o templo e o culto. Tudo que estava morto pelo pecado recebe vida pela
conversão.
Conforme Lopes (2009 p.21), o segundo ponto diz que:
“A salvação é pela graça mediante a fé e não
uma conquista das obras. Segundo Joel, a
salvação é pela graça de Deus, mediante a fé.
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O profeta Joel faz uma declaração categórica:


“Todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo” (2.32). Com base na profecia de
Joel, a salvação pela graça mediante a fé foi
livremente apresentada a todas as pessoas de
todas as nações do mundo pelo apóstolo Pedro
no dia de Pentecostes (At 2.39). O apóstolo
Paulo aplica esse mesmo princípio a todas as
pessoas, de todas as raças, de todos os lugares
e de todos os tempos (Rm 10.13).”

Groningen (2004 p.28) diz que “os elementos básicos da aliança do Deus
Yahweh, tanto em seus aspectos criacionais quanto redentores/restauradores,
constituem o cerne e a essência da mensagem de Joel. O Deus Yahweh é
proclamado como Senhor soberano. Ele tem controle absoluto sobre todas as
forças e acontecimentos na natureza. Ele trouxe julgamento sobre toda a
criação; os gafanhotos são seus servos, o estrago que causaram é como o de
um fogo que consome campos e florestas.”
O julgamento, missaddai, doTodo- Poderoso na esfera natural tem efeito sobre
toda a vida (1.15). O Senhor que traz julgamento, contudo, é aquele que os
chama de volta para ele, pois continua a ser o imutável Senhor de seu povo na
aliança.
O elemento da aliança que recebe maior ênfase no livro de Joel é a promessa.
De acordo com Groningen (2004, p.31),
os diversos aspectos da promessa, todos eles
sendo promessas em si, são colocados diante
do pano de fundo das maldições que Israel
sofreu por causa de sua desobediência, por
meio da qual rompeu a aliança, desconsiderou
as estipulações da mesma, desobedeceu aos
agentes pactuais fiéis de Yahweh e desonrou e
rebelou-se contra o seu Senhor soberano da
aliança, o Deus Yahweh. Além disso, essas
promessas se tornariam realidade quando - e
não se - Israel se arrependesse e observasse
todas as estipulações da aliança. As
estipulações não deveriam ser consideradas
condições; eram, sim, instruções, diretrizes que,
quando seguidas, teriam como consequência a
expressão plena e os frutos das promessas.
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V. ESTRUTURA DO SERMÃO
Texto: Joel 2.12-14
Tema: Uma chance de retorno

A urgência da volta para Deus v.12

A natureza da volta para Deus v.12 - 13

A motivação da volta para Deus v.13


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VI - IDEIA HOMILÉTICA E ESBOÇO DO SERMÃO

Texto: Joel 2.12-14


“Agora, porém, declara o Senhor, voltem-se para mim de todo o coração, com
jejum, lamento e pranto. Rasguem o coração, e não as vestes. Voltem-se para o
Senhor, o seu Deus, pois ele é misericordioso e compassivo, muito paciente e
cheio de amor; arrepende-se e não envia a desgraça. Talvez ele volte atrás,
arrependa-se, e ao passar deixe uma benção. Assim vocês poderão fazer ofertas
de cereal e ofertas derramadas para o Senhor, o se Deus.”

Tema: Uma chance de retorno

Introdução: Você se lembra do tempo da sua infância quando desobedecia seu


pai ou sua mãe e eles ficavam irados? Tenho certeza que muitos aqui, como eu,
davam um jeito de fugir da presença deles, quando eles aplicavam o castigo. Ao
lado da minha casa tinha um terreno grande e vazio, quando eu aprontava
alguma coisa e meu pai vinha para me corrigir, eu corria dele para este terreno,
mas quando meu pai via que não tinha mais para onde eu correr, então ele
soltava o chinelo ou a varinha no chão e dizia: volta agora Fabiana, se você voltar
vamos conversar e quem sabe eu suspendo o castigo.

Divisões

I - A urgência da volta para Deus (v.12). “Agora, porém [...]”

a) O alarme do Senhor. “Tocai a trombeta em Sião” (2:1).

II - A natureza da volta para Deus (v.12, 13).

a) É uma volta para Deus com quebrantamento – v.12 “[....] de todo o coração,
com jejum, lamento e pranto.
b) É uma volta para Deus com sinceridade – v.13 “Rasguem o coração e não
as vestes [...]”

III - A motivação da volta para Deus (v.13). “[...] pois ele é misericordioso e
compassivo, muito paciente e cheio de amor; arrepende-se e não envia a
desgraça.”
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a) O caráter misericordioso de Deus (v.13)


b) Deus se arrepende do mal (v.13)

Conclusão

Deus havia firmado uma aliança com seu povo. E nessa aliança, se o povo
desobedecesse seria disciplinado com castigo, que foi justamente o que estava
acontecendo com eles, mas se reconhecesse seu pecado e, se arrependesse,
Deus o restauraria. Porém, Deus ainda abre a porta do arrependimento para o
povo e o convoca a voltar-se com urgência para ele.
A misericórdia de Deus triunfa sobre sua ira sempre que seu povo se volta para
ele com o coração quebrantado. Um coração arrependido e contrito é o que Deus
requer. Um coração compungido, arrependido jamais será desprezado por
aquele que não se impressiona com rituais externos como rasgar as vestes,
vestir-se com pano de saco e clamar com altas lamentações. Diante de Deus as
máscaras caem. Ele vê o coração. Em Joel 2. 12,13, Deus quer nos mostrar, que
ele não está olhando para nossas atitudes externas, mas sim para nosso
coração. Não existe para ele rituais vazios. Ao contrário, Ele quer um coração
sincero diante Dele. Aqui reside uma grande lição de Joel 2,13 não adianta fazer
os maiores sacrifícios, com vestimentas especiais de penitência ou jejuns e
sacrifícios querendo aparentar um grande gesto de humildade, se o coração não
for sincero. Isso seria apenas uma falsidade, um farisaísmo declarado. O aviso
do Joel serve para sublinhar o chamado de Deus para uma mudança de coração
e de hábito, como em todos os profetas. O cerne desta urgente mensagem pode
ser sintetizado da seguinte maneira: O caminho da volta é aberto quando
voltamos nossas costas ao pecado e a face para o Senhor. Não há restauração
espiritual sem volta para Deus.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FEE, Gordon O; STUART, Douglas. Como ler a Bíblia livro por livro: um guia
de estudo panorâmico da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2013.

GRONINGEN, Gerard Van. Criação e consumação, v.2. São Paulo: Cultura


Cristã, 2004.

GRONINGEN, Gerard Van. Revelação Messiânica no Velho testamento.


Campinas: Luz para o caminho (LPC Publicações), 1995.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento Isaias a


Malaquias. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

HILL, Andrew. E; WALTON, John. H. Panorama do Antigo Testamento. São


Paulo: Editora Vida, 2007.

HUBBARD, David A. Joel e Amós: introdução e comentário. São Paulo: Vida


Nova, 1996.
LOPES, Hernandes Dias. Joel: o profeta do pentecostes. São Paulo: Hagnos,
2009.

ZUCK, Roy B. Teologia do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

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