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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL DA

FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE CIDADE/UF

XX, brasileiro, solteiro, motorista, inscrito do CPF n° XXX..XXX..XXX-XX,


portador na cédula de identidade n° XX.XXX.XXX-X, carregador da CNH n. XXXXXXXXXXXX,
residente e domiciliado na Rua XX, nº XXX, Bairro, CEP XXXXX-XXX, na cidade de XX/UF,
por seus procuradores que esta subscreve, vem à presença de Vossa Excelência, propor a
presente

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR

com fulcro no art. 5o, inciso LXIX, da Constituição Federal, e Lei


1.533/1951 e suas posteriores alterações, contra ato do DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL DE
XX responsavél pelo CIRETRAN – DETRAN/XX, com endereço na Rua XX, bairro XX, XX,
CEP XX pelas razões de fato e de direito as seguir expostas:

DA JUSTIÇA GRATUITA

O Impetrante pleiteia os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, assegurado

pela Lei 1060/50, tendo em vista não poder arcar com as despesas processuais. O

Impetrante é auxiliar de navegação, não possui residência própria. Para comprovar,

junta aos autos folha de pagamento onde consta como média nos rendimentos

líquidos o valor aproximado de R$ 2.022,00 . Ademais, o Impetrante é pai de dois filhos

menores de idade (certidões de nascimento em anexo) ao qual ambos dependem de seu


sustento. O único bem que o Impetrante possui é um carro (o mesmo que auferiu a

infração de trânsito) que inclusive se encontra em alienação fiduciária.

I - DOS FATOS

No dia XX, o Impetrante foi autuado – AIT nº P03VL000TB, sem


abordagem, pela Policia Militar, por suspostamente cometer a infração ao art. 191 do
Código de Trânsito Brasileiro.
O Impetrante não foi devidamente notificado em fase de autuação, bem
como, em fase de penalidade. O mesmo só teve conhecimento deste auto de infração
quando foi realizar o licencimanto anual do seu veículo, no dia 09/09/2019, e para sua
surprersa ali constava a penalidade de multa com o valor de R$ 2.995,43.
Após ter conhecimento desta autuação o Impetrante se dirigiu aos
orgãos competentes de trânsito da sua cidade e solicitou informações sobre o motivo
de não ter sido notificado desta autuação.
Em ato continuo o orgão apresentou um (01) AR de notificação de
autuação nº 82138552-4 (via correio) e um (01) AR de notificação de penalidade nº
92688598-9 (via correio) (documentos em anexo). As duas notificações aqui descritas
não foram efetivadas pelo agente do correio, e em suas justificativas (motivos da
devolução) constavam as seguintes informações: NÃO EXISTE O NÚMERO/ ENDEREÇO
INSUFICIENTE.
Com as duas notificações via correio frustradas o orgão notificou o
Impetrante via Edital, ocorrendo sua publicação no dia 16/02/2019 para Notificação
de Autuação e no dia 20/04/2019 para Notificação de Penalidade – ambas ocorrem no
Diário Oficial dos Municípios.
Ao ter acesso a estas informações o Impetrante ao análisar as
notificações via ARs para sua residência constatou que o endereço ali descrito estava
errado.
Vajamos: O endereço descritos nas notificações via ARs é – RUA XX Nº 1
- CASA, BAIRRO XX, XX. PORÉM O ENDEREÇO RESIDENCIAL E REGISTRADO NO ORGÃO
DE TRÂNSITO É NA RUA XX Nº 57 - CASA, BAIRRO XX, XX.
O Impetrante ciente deste erro procurou o orgão de trânsito
responsável, CIRETRAN (DETRAN/XX) - Delegacia de Polícia Civil de XX, pelo cadastro
do seu endereço e solicitou cópias da Autorização de Transferência de Propriedade do
Veículo, comprovente de residência anexado a está transferência e cópia do registro
de transferência do sistema do DETRAN/XX.
PARA SUA SURPRESA O ENDEREÇO DESCRITO NO REGISTRO DE
TRANSFERÊNCIA DO SISTEMA DO DETRAN/XX ESTAVA DE FORMA ERRADA, EMBORA
NA AUTORIZAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA DE PROPRIEDADE DO VEÍCULO E
COMPROVENTE DE RESIDÊNCIA ANEXADO A TRANSFERÊNCIA ESTAVA COM O
ENDEREÇO CORRETO (DOCUMENTOS EM ANEXO).
O ERRO COMETIDO PELO IMPETRADO FOI NO MOMENTO DA
TRANSFERÊNCIA DAS INFORMAÇÕES PARA SEU SISTEMA.
O ENDEREÇO DO IMPETRANTE É NA RUA XX Nº 57 - CASA, BAIRRO XX,
XX E O ENDEREÇO QUE CONSTA NO SISTEMA DO DETRAN/XX É RUA XX Nº 1 - CASA,
BAIRRO XX, XX. O ERRO SE DEU NA NUMERAÇÃO DA SUA CASA, FATO ESTE QUE
IMPOSSIBILITOU SER NOTIFICADO CORRETAMENTE.

II - DO DIREITO

1. – DA FALTA DE NOTIFICAÇÃO DA AUTUAÇÃO

A Constituição da República consagra em seu artigo 5º, incisos LIV LV o


princípio do devido processo legal, não seria redundante transcrevê-los:

LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o


devido processo legal;

LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos


acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes;

Trata-se, indubitavelmente, de garantia contra eventuais abusos e


arbitrariedades por parte da máquina estatal, em favor de todo e qualquer cidadão.
Note Excelência, que tamanha é a relevância do devido processo legal que nosso
ordenamento o elegeu com “PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL”, o que denota
toda sua carga axiológica, pois se tem, atualmente, o entendimento uníssono de que
princípio constitucional possui normatividade e efetividade ‘supra legal’. Nesse
sentido, os princípios são verdades jurídicas universais, e, assim sendo, são
consideradas normas primárias, pois são o fundamento da ordem jurídica, enquanto
que as normas que dele derivam possuem caráter secundário.

Já com relação à legislação infra-constitucional, são claríssimos os


mandamentos relativos ao processo administrativo necessário para a aplicação de
penalidades em caso de cometimento de infração de trânsito. O capítulo XVIII, artigos
280 – 290 da Lei 9.503/97 que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro – CTB e a
Resolução 363/2010 do CONTRAN estabelecem detalhadamente o procedimento a ser
observado com vistas a aplicação das penalidades previstas no CTB. Tudo isso,
evidentemente, em atenção ao supra invocado PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO
LEGAL, em seus principais desdobramentos, quais sejam, o contraditório e a ampla
defesa.

Com base em todo o ordenamento jurídico, especialmente nas normas


retro invocadas, é que forçosamente concluímos que a falta de notificação da
autuação de infração de trânsito, necessariamente, invalida todo o processo
administrativo daí decorrente, senão vejamos:

O artigo 3º da Resolução 363/2010 expressamente determina a


expedição de notificação da autuação ao proprietário do veículo, que deverá ocorrer
em no máximo 30 dias do cometimento da infração, apresentando apenas uma
exceção referente aos casos em que o infrator é abordado no ato da infração e
coincide com o proprietário. Abaixo, é o texto “in verbis”:

Art. 3º À exceção do disposto no § 5º do artigo anterior, após a


verificação da regularidade e da consistência do Auto de Infração, a
autoridade de trânsito expedirá, no prazo máximo de 30 (trinta) dias
contados da data do cometimento da infração, a Notificação da
Autuação dirigida ao proprietário do veículo, na qual deverão constar
os dados mínimos definidos no art. 280 do CTB e em regulamentação
específica.

O §2º do mesmo artigo, em consonância com o parágrafo único,


inciso II do artigo 281 do CTB, traz:
§2º -A não expedição da Notificação da Autuação no prazo previsto
no caput deste artigo ensejará o arquivamento do auto de infração.

Assim, é irrefutável a nulidade de todo o processo administrativo


decorrente de aplicação de penalidade cuja notificação da autuação não se efetuou no
prazo legal.

No caso em tela, o Impetrante não foi devidamente notificado por erro


gravíssimo do orgão ao transferir seus dados ao sistema, impossibilitando ter o
devido conhecimento de sua autuação e ter seu direito inerente a defesa.

Para os casos em que o suposto infrator ou proprietário do veículo não


são encontrados no endereço fornecido ao DETRAN/XX há duas soluções definidas em
lei: a) desatualização de endereço, nesse caso a notificação é considerada válida para
todos os fins de direito. É o que dispõe o §1º do artigo 282 do CTB; b) para os demais
casos deverá ser realizada notificação por edital, como determina o artigo 13 da
Resolução 363/2010 do CONTRAN, que se transcreve abaixo:

Art. 13. Esgotadas as tentativas para notificar o infrator ou o


proprietário do veículo por meio postal ou pessoal, as notificações de
que trata esta Resolução serão realizadas por edital publicado em
diário oficial, na forma da lei, respeitado o disposto no §1º do art.
282 do CTB.

Como se verifica no caso em epígrafe, o endereço do Autor encontra-se


devidamente atualizado, pois o mesmo reside no endereço por ele fornecido ao orgão
(EMBORA O ORGÃO O CADASTROU DE FORMA ERRÔNEA), não podendo ser
considerada a notificação em detrimento de não procurado o notificando, sob pena de
gritante afronta as normas pertinentes e a todo ordenamento jurídico pátrio. Assim, a
fim de se observar o teor do texto legal retro, haveria que se ter realizado a notificação
via edital, MAS TÃO SOMENTE DEVE ESTÁ ÚLTIMA MEDIDA SER ADOTADA, QUANDO
ESGOTADAS AS VIAS DE NOTIFICAÇÃO PESSOALMENTE AO IMPETRANTE, FATO ESTE
QUE NÃO OCORREU, POR SER ENVIADO AO ENDEREÇO ERRÔNEO.

Desta forma, inquestionável é a afronta ao devido processo legal visto


que a falta de notificação da autuação notadamente cerceou o direito de defesa do
Impetrante, como será demonstrado adiante.
2. – DO CERCEAMENTO DE DEFESA

Como demonstrado anteriormente um dos principais desdobramentos o


PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL é externado pela ampla defesa, que importa
no direito do processado a todos os meios de defesa em direito autorizados, bem
como ao questionamento mesmo das decisões administrativas ou judiciais ao caso
inerente por meio de DEFESAS E RECURSOS previamente estabelecidas pela lei. Assim,
é inegável que a supressão de qualquer meio de defesa ou grau de recurso afronta
diametralmente o PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL e, consequentemente,
todo o ordenamento jurídico pátrio.

Em se tratando de processo administrativo destinado a aplicação de


penalidade em decorrência de infração de trânsito, temos, sinteticamente, o seguinte
procedimento:

I. Lavratura do auto de infração de trânsito (artigo 280 do CTB);


II. Notificação da autuação (artigo 3º da Resolução 363/2010 do CONTRAN);

III. Defesa preliminar ou da autuação (§3º, do artigo 3º da Resolução 363/2010

do CONTRAN);

IV. Julgamento do AIT, verificação de regularidade e consistência (artigo 281);


V. Notificação da penalidade de multa (artigo 282, caput, do CTB);
VI. Recurso direcionado à JARI do órgão autuador (artigos 286 e 287 do CTB);

VII. Recurso direcionado ao CETRAN contra decisão da JARI do órgão


autuador (artigos 288 – 290 do CTB).

Com o julgamento deste último recurso encerra-se o processo


administrativo, pois que da decisão do CETRAN não cabe recurso em esfera
administrativa.

Delineadas as etapas do processo administrativo para imposição da


penalidade de multa de trânsito, basta, agora, verificar a observância de todos os
preceitos legais.

Nesta esteira, o Impetrante não teve ambarado nenhuma das garantias


previstas na Legislação de Trânsito, uma vez que, sequer tinha conhecimento do auto
de infraçao aqui discutido, não podendo desta forma apresentar os devidos recursos a
esta autuação.

NO CASO EM TELA, A FALTA DE NOTIFICAÇÃO DA AUTUAÇÃO E


PENALIDADE IMPEDIU A APRESENTAÇÃO DA DEFESA, PREVISTA NO §3º DO ARTIGO
3º DA RESOLUÇÃO 363/2010 DO CONTRAN E, PORTANTO, É IRREFUTÁVEL QUE
HOUVE CERCEAMENTO DE DEFESA DO IMPETRANTE, MOTIVO PELO QUAL DEVE SER
ANULADO “IN TOTUM” O PROCESSO DE APLICAÇÃO DA PENALIDADE DE MULTA
COM TODAS AS SUAS CONSEQUÊNCIAS, SOB PENA DE SE RATIFICAR ATO
ADMINISTRATIVO ARBITRÁRIO E CONTAMINADO PELO MONSTRO DA ILEGALIDADE,
POR NÍTIDA OFENSA AO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.

Ao ensejo é imperioso destacar que a violação de princípios é mais grave


que violar uma regra infraconstitucional, ou seja, é desrespeitar todo ordenamento
pátrio, esse e entendimento do Ilustríssimo doutrinador Celso Antônio Bandeira, in
verbis:

“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma


qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um
específico mandamento obrigatório, mas a todo sistema de
comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
inconstitucionalidade...” Celso Antônio Bandeira de Melo Curso de
Direito Administrativo.

Não há como referendar tamanha afronta a direito garantido


constitucionalmente, posto que a falta do devido processo legal torna este processo
nulo de pleno direito e já trouxe demasiados problemas ao Impetrante. Por isso, deve-
se declarar sua nulidade ao auto de infração nº P03VL000TB.

3. – DO ARQUIVAMENTO DO AIT

Como comentado, a legislação vigente é cristalina e objetiva no que


tange ao arquivamento do AIT, pois que traz claramente apenas duas possibilidades
bem delineadas, tanto que dispensa-se interpretação, sendo necessária tão somente a
leitura do teor da lei. É o disposto no parágrafo único do artigo 281 do CTB, veja na
transcrição:
Art. 281 [...]
Parágrafo único: O auto de infração será arquivado e seu registro julgado
insubsistente:
I – se considerado inconsistente ou irregular;
II – se, no prazo máximo de 30 dias, não for expedida a notificação
da autuação.

Tal mandamento, ainda, é reforçado pelo teor do §2º do artigo 3º da


Resolução 363/2010 do CONTRAN, que assim dispõe;

§2º -a não expedição da notificação da autuação no prazo previsto


no caput deste artigo ensejara o arquivamento do auto de infração.

Note Nobre Julgador, é inegável a adequação dos fatos narrados e


comprovados à hipótese prevista no inciso II acima invocado, pois que o nexo de
causalidade salta aos olhos até mesmo de um leitor leigo no que tange as ciências
jurídicas, não havendo outra saída senão a declaração da nulidade do AIT ora
questionado e, consequentemente, de todos os seus efeitos, sob pena de
incomensurável injustiça com o Autor, bem como afronta a todo ordenamento jurídico
pátrio.

4. – DA ANULAÇÃO DO AUTO DE INFRAÇÃO

Demonstrada a ofensa ao devido processo legal no caso em analise,


cabe-nos, agora, discorrer sobre a anulação do auto de infração de trânsito originário.
Tarefa das mais fáceis, pois que a Súmula 312 do Superior Tribunal de Justiça regula
de forma brilhante a situação, senão vejamos:

Súmula 312 – No processo administrativo para imposição de multa


de trânsito, são necessárias as notificações da autuação e da
aplicação da pena decorrente da infração.

Esta Súmula orienta no sentido de que "no processo administrativo para


imposição de multa de trânsito, são necessárias as notificações da autuação e da
aplicação da pena decorrente da infração"; nos termos da Resolução n. 149, do
CONTRAN, editada em 19/09/2003 e publicada em 13/10/2003 e revogada em parte
pela Resolução 363/2010, também do CONTRAN, que exigiu a expedição das duas
notificações referidas, ao tratar da "uniformização do procedimento administrativo da
lavratura do auto de infração, da expedição da Notificação da Autuação e da
Notificação da Penalidade de multa". Portanto, não há como ratificar tamanha omissão
por parte da administração pública, pois que a falta da notificação da autuação e da
notificação da aplicação da pena trouxe prejuízo irreparável para o Autor.

Neste sentido é o entendimento jurisprudencial do Tribunal de Justiça


do Estado de Santa Catarina:

APELAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA.


PRETENDIDA ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO. INFRAÇÃO DE
TRÂNSITO. IMPOSIÇÃO DA PENALIDADE DE SUSPENSÃO DO DIREITO DE
DIRIGIR. ALEGADA FALTA DE OPORTUNIDADE PARA O CONTRADITÓRIO
E A AMPLA DEFESA. NOTIFICAÇÃO ENVIADA AO ENDEREÇO
INFORMADO PELO APELADO. AVISO DE RECEBIMENTO DEVOLVIDO
COM A INFORMAÇÃO "NÃO PROCURADO". ESGOTAMENTO DAS
TENTATIVAS NÃO DEMONSTRADO. NOTIFICAÇÃO PELA VIA EDITAL
IRREGULAR. ART. 10 DA RESOLUÇÃO N. 182/2005 DO CONTRAN.
ILEGALIDADE. DECISÃO MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. Apelação / Reexame Necessário n. 0303846-
39.2016.8.24.0036, de Jaraguá do Sul Relator: Desembargadora Vera
Copetti - Florianópolis, 28 de junho de 2018.

APELAÇÃO E REMESSA OFICIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. ORDEM


CONCEDIDA. APELO DO ESTADO. ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO.
INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. ART. 165 DO CTB. IMPOSIÇÃO DA PENA DE
SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR. PRETEXTADA CARÊNCIA DE
CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA A RESPEITO DO RESULTADO DO
PROCESSO ADMINISTRATIVO SSP. TESE PROFÍCUA. NOTIFICAÇÃO
ENVIADA PARA ENDEREÇO DIVERSO DAQUELE INFORMADO PELO
APELADO. AVISO DE RECEBIMENTO DEVOLVIDO COM A INFORMAÇÃO
"NÃO EXISTE O NÚMERO". NECESSIDADE DE ESGOTAMENTO DOS
MEIOS POSSÍVEIS PARA A RESPECTIVA INTIMAÇÃO. INOBSERVÂNCIA
AO ART. 10, §§ 1º E 2º DA RESOLUÇÃO Nº 182/05 DO CONTRAN.
DIREITO LÍQUIDO E CERTO EVIDENCIADO. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. SENTENÇA CONFIRMADA EM SEDE DE REEXAME
NECESSÁRIO. Apelação Cível n. 0312176-12.2016.8.24.0008, de
Blumenau Relator: Desembargador Luiz Fernando Boller - Florianópolis,
2 de abril de 2019.

Ora Excelência, é notório o entendimento de que a falta de notificação


da autuação é causa de anulação e arquivamento do auto de infração de trânsito. É
pacífico o entendimento de que a administração deverá anular seus próprios atos
quando eivados de ilegalidade, como se mostra o presente caso. No entanto, para os
casos em que o ato ilegal não é espontaneamente anulado pelo órgão que o
praticou, é o judiciário competente para apreciar a validade material e formal do
referido ato, declarando-o nulo se necessário.

Noutro norte, é uníssono o entendimento de que o AIT é o ato


administrativo instaurador do processo administrativo punitivo, figurando prova da
ocorrência do ato ilícito praticado, por óbvio que a validade do processo encontra-se
intimamente arraigada na consistência (materialidade) e regularidade (formalidade)
deste instrumento. Tanto é que a própria legislação de trânsito estabelece em seu
artigo 281 que, para que possa a autoridade de trânsito aplicar as penalidades cabíveis
ao infrator, deve primordialmente julgar a consistência e regularidade do documento
(auto de infração), arquivando-o quando inobservado em sua elaboração, um destes
dois requisitos (consistência e regularidade).

Nessa linha de raciocínio, considerando irregular o AIT, nos moldes


preconizados na legislação de regência, indubitável a incidência de seus efeitos sobre
todo o processo administrativo, cabendo, portanto, a DECLARAÇÃO DE NULIDADE da
penalidade aplicado sob seu sustento.

Quanto ao momento em que o ato eivado de nulidade deve ser


reconhecido pela administração, destacamos o entendimento já sedimentado em
nosso ordenamento, inclusive sumulado pelo Supremo Tribunal Federal:

Súmula 473 – A administração pública pode anular seus próprios


atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles
não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência
ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em
todos os casos, a apreciação judicial.

Ainda em consonância com a nulidade, veja-se os artigos 5º e 64 da Lei

14.184/2002:

Art. 5º - Em processo administrativo serão observados, dentre outros, os


seguintes critérios:

I atuação conforme a lei e o direito;

(…)
VI observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos, dos
postulantes e dos destinatários do processo; (…).
Art. 64 - A administração deve anular seus próprios atos quando
eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.

Princípios esses expressos na Constituição Federal de 1988, ápice do


Estado Democrático de Direito, especialmente estampado no retro citado PRINCÍPIO
DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.

Dos Princípios inafastáveis da Administração Pública, segundo se extrai


dos expressos termos da Lei 14.184/2002:

Art. 2º - A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos


princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade,
finalidade, motivação, razoabilidade, eficiência, ampla defesa, do
contraditório e da transparência. (g. n.).

Portanto Nobre Autoridade, A NULIDADE PROCESSUAL (ABSOLUTA) É


CRISTALINA, e acarreta óbice a todo o feito processual, no qual se compreendem o
Auto de Infração e a penalidade (desarrazoado) imposta ao AUTUADO, instando seu
reconhecimento. Nulo o Auto de Infração; nulo o processo dele decorrente!

5. – DOS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE NULIDADE DO AIT

Uma vez superadas todas as prerrogativas para a declaração de nulidade


do auto de infração de trânsito ora combatido, faz mister, ao menos, estabelecer os
efeitos decorrentes desta declaração de nulidade.

Em nosso ordenamento é cediço o entendimento de que mesmo após a


aplicação da penalidade, a declaração de nulidade do ato gera, necessariamente,
efeitos ‘extunc’, ou seja, verificada a nulidade, os efeitos de sua declaração retroagem
até a data em que o ato viciado se originou, alcançando todos os atos passados,
presentes e futuros como se o próprio ato viciado não tivesse existido.

Neste sentido já esta consolidado o entendimento do Superior Tribunal


de Justiça. Apenas com intuito ilustrativo, colacionamos o seguinte:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. Agravo Regimental EM


RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE SENTENÇA ANULATÓRIA DE ATO
ADMINISTRATIVO. REINCORPORAÇÃO DO SERVIDOR AO CARGO
PÚBLICO. RESTABELECIMENTO DO STATUS QUO ANTE. JULGAMENTO
EXTRA PETITA. INOCORRÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.1. A decisão que
declara a nulidade do ato e determina a reintegração de servidor
público ao cargo de origem opera efeitos extunc, ou seja, restabelece
exatamente o status quo ante, de modo a garantir ao servidor o
pagamento integral das vantagens pecuniárias do cargo
anteriormente ocupado.2. Como o pagamento dos vencimentos é
mera consequência do ato de reintegração do servidor público,
inexiste, na hipótese, excesso à execução.3. Não viola os arts. 128,
293 e 460 do Código de Processo Civil a decisão que interpreta, de
forma ampla, o pedido formulado na peça vestibular, pois o pedido é
o que se pretende com a instauração da demanda e se extrai da
interpretação lógico-sistemática da postulação
inicial.128293460Código de Processo Civil4. Agravo Regimental
desprovido.(976306 ES 2007/0185253-7, Relator: Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Data de Julgamento: 28/09/2010, T5
- QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 25/10/2010, undefined)

Em analogia, transcreve-se o Artigo 281 do Código de Processo Civil


Brasileiro:

Art. 281. Anulado o ato, consideram-se de nenhum efeito todos os


subsequentes que dele dependam, todavia, a nulidade de uma
parte do ato não prejudicará as outras que dela sejam
independentes.

Vejamos o que diz o Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

Processo: 0020319-87.2016.8.24.0000 (Acórdão) Relator: Paulo


Henrique Moritz Martins da Silva Origem: Videira Orgão Julgador:
Primeira Câmara de Direito Público Julgado em: 26/09/2017 Classe:
Agravo de Instrumento Ementa: ADMINISTRATIVO. SUSPENSÃO DO
DIREITO DE DIRIGIR. CONDUTOR NOTIFICADO POR EDITAL ACERCA
DE DECISÃO PROFERIDA EM SEDE DE RECURSO ADMINISTRATIVO.
INVIABILIDADE. AUSÊNCIA DE PROVA DO ESGOTAMENTO DE
OUTRAS FORMAS DE CIENTIFICAÇÃO DO INFRATOR.
CERCEAMENTO DE DEFESA CONFIGURADO. EXISTÊNCIA, ADEMAIS,
DE OUTROS TRÊS AUTOS DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO LAVRADOS
SEM A CORRETA NOTIFICAÇÃO DO MOTORISTA. REQUISITOS
AUTORIZADORES DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA PREENCHIDOS.
RECURSO PROVIDO.

Mais uma vez provado a castração do Impetrante em ver se defendido,


ceifado do contraditório e da ampla defesa.

6. PREENCHIMENTO DO AUTO DE INFRAÇÃO INCORRETO:

Em análise do auto de infração, verifica-se que há ausência de requisito


estipulado no Manual Brasileiro de fiscalização do Trânsito, qual seja: o preenchimento
adequado do campo “observações”.

Sabe-se que a autuação da infração é ato vinculado, não cabendo ao


agente autuador a opção de emiti-la ou não no caso de constatada a ocorrência da
infração. Por outro lado, existem requisitos que devem ser preenchidos. Dentre eles,
estão aqueles enumerados no art. 280 do CTB, que prevê:

Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, lavrar-


se-á auto de infração, do qual constará:

I - tipificação da infração;

II - local, data e hora do cometimento da infração;

III - caracteres da placa de identificação do veículo, sua marca e


espécie, e outros elementos julgados necessários à sua identificação;

IV - o prontuário do condutor, sempre que possível;

V - identificação do órgão ou entidade e da autoridade ou agente


autuador ou equipamento que comprovar a infração;
VI - assinatura do infrator, sempre que possível, valendo esta como
notificação do cometimento da infração.

No caso em comento, há falta dos elementos constantes no inciso I,


acima transcritos.

Uma vez cometida tal infração, o agente autuador deve consignar a


situação observada, o que não houve no presente caso, pois o mesmo apenas copiou o
exemplo genérico fornecido no Manual Brasileiro de fiscalização do Trânsito (conforme
ficha em anexo e auto de infração). O agente deveria descrever com precisão a
situação observada, o que não ocorreu!

Saliento que o agente também não observou o que especifica o ANEXO I


da Portaria 59/2007 do DENATRAN, que estabelece os campos de informações que
deverão constar de forma obrigatória no auto de infração. No caso em epígrafe o
agente preencheu de forma incorreta.

Tal fator foi negligenciado, fator suficiente para gera a nulidade do auto
de infração e seu inevitável arquivamento, assim como disposto no art. 281, parágrafo
único, I, do CTB, que abaixo transcrevemos:

Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da competência


estabelecida neste Código e dentro de sua circunscrição, julgará a
consistência do auto de infração e aplicará a penalidade cabível.

Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu registro


julgado insubsistente:

I - se considerado inconsistente ou irregular.

Nesse sentido, Eduardo Antônio Maggio ensina que:

“As formas e meios de constatação da infração, a qual uma vez


constatada será autuada pelo agente fiscalizador da autoridade de
trânsito que deverá fazê-la através de comprovação legal e correta,
sem deixar dúvida quanto à sua lavratura, pois a não ser dessa forma,
será objeto de contestação através de recursos administrativos e até
mesmo, se for o caso, o de se socorrer ao Poder Judiciário.
Entretanto esse embasamento legal para a autuação não quer dizer
que feita essa, já estará absolutamente comprovada, correta e
consumada para fins de aplicação da penalidade de multa pelo
respectivo órgão de trânsito nos termos da lei. Neste aspecto, deve-
se ressaltar, conforme já mencionamos, que a comprovação pelo
agente da autoridade pode ter erros, falhas e até mesmo injustiças,
pois o ser humano é passível desses comportamentos”.

DA MEDIDA LIMINAR

Considerando todo o exposto acima, conclui-se fatalmente que sobram


razões para anular o Auto de Infração cuja validade é discutida na presente.

Assim, amparada pelos ditames do artigo 798 do CPC, o Impetrate


almeja a concessão de medida liminar afirmando que estão presentes em suas
alegações a fumaça do bom direito e o perigo da demora da prestação judiciária.

Ora, não há dúvidas sobre a falta de notificação do Autor a respeito da


autuação da infração, pois que, de maneira inequívoca restou comprovado nos
autos. Também, há presunção nítida que o auto em apreço foi preenchido de forma
irregular e contrário a lei. Diantes do exposto é evidente as variáveis nulidades
apontadas tando no processo administrativo de autuação, bem como, a flagrante
irregulariedade no momento da autuação do agente de trânsito.

Conforme já descrito acima o Impetrante somente teve conhecimento


do Auto de Infração no momento que foi retirar o Certificado de Registro e
Licenciamento de Veículo – Exercício de 2019 (CRLV) (no dia 09/09/2019). Embora
tivesse efetuado o pagamento do licencimento anual, teve sua liberação restrita ao
pagamento da multa aqui recorrida, no valor de R$ 2.995,43. A penalidade referente
a está autuação tem um valor altissímo, inclusive superior a um mês de trabalho do
Impetrante. Cabe salientar que além da penalidade em pecúnia, a infração a qual o
Impetrante foi autuado impõe a suspensão do direito de dirigir.

O Impetrante não carece de recurso no momento para efetura o


pagamento desta multa, que sequer tinha conhecimento, tampouco teve direito de
recorrer da mesma. Ademais, o Impetrante terá seu direito de dirigir suspenso a
qualquer momento, fato este irregular devido a toda a ilegalidade apontada.
Do “periculum in mora”: O Impetrante tem como profissão auxiliar de
navegação, e portanto necessita diariamente se deslocar para seu local de serviço,
cabe mencionar, que o Impetrante também exerce serviços externos requeridos pela
empresa ao qual é prestador de serviços. A cidade onde o Impetrante reside é
pequena, e por sua vez não disponibiliza horários acessíveis do transporte coletivo.

O Impetrante sai para trabalhar em torno das 6 horas da manhã


retornando no período noturno, e ainda tem que levar seus filhos ao colégio e por
eventual circunstância em consultas medicas. A ultilização de seu veículo é
fundamental para execução do seu serviço e para o deslocamente de sua família.

Vossa Excelência, por derradeiro não é justo restringir o Impetrante a


retirar o Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo – Exercício de 2019
(CRLV) por falta de pagamente de uma penalidade a ele imposta sem o direito de
defesa.

O Impetrante não tinha conhecimento desta autuação, não teve seu


direito constitucional de defesa assegurado, e por evidente erro do Impetrado, não
consegue retirar o Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo – Exercício de
2019 (CRLV), para assim transitar legalmente com seu veículo. Ainda, cabe
mencionar que o Impetrante terá a qualquer momento seu direito de dirigir
suspenso.

Excelência, não é razoável querer que o Impetrante aguarde o


deslinde processual para somente então poder dirigir seu veículo, uma vez que, estar-
se-ia privando-o de um direito adquirido (pois efetuou todos os pagamentos anual de
licenciamento do seu veículo, porém esta restrito a retirar o CRLV - Exercício de
2019).

Assim, é indiscutível a existência do perigo da demora.


Do “fumus boni iuris”: É indiscutível também, o fato de que o Autor faz
jus em a retirar o Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo – Exercício de
2019 (CRLV), uma vez que, efetou o devido pagamento (comprovantes em anexo).

Sabe-se que a demanda processual no judiciário Catarinense é enorme,


atos e procedimentos demandam tempo. Visto que o Impetrante carece diariamente a
utilização do seu veiculos para trabalho e o deslocamento de sua família, a fim de, não
prejudicar ainda mais os direitos do Impetrante, requer-se humildimente a concessão
desta liminar.

Pelo exposto, estão presentes todos os pressupostos para a concessão


da medida liminar ora pleiteada, qual seja,a suspensão do pagamento e demais
penalidades previstas na infração decorrente do Auto de Infração nº P03VL000TB e
concessão da liberação do Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo –
Exercício de 2019 (CRLV), do veículo de PLACA XX E RENAVAM XX.

III - DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, REQUER:

I. A concessão da medida liminar, determinando-se a suspensão do


pagamento e demais penalidades previstas na infração decorrente do Auto de Infração
nº P03VL000TB e concessão da liberação do Certificado de Registro e Licenciamento de
Veículo – Exercício de 2019 (CRLV), do veículo de PLACA XX E RENAVAM XX, durante o
transcorrer do processo;

II. A concessão dos benefícios da justiça gratuita ao Impetrante,


porquanto este não possui recursos financeiros suficientes para arcar com os custos da
demanda judicial sem prejuízo ao sustento próprio e de sua família;

III. A citação da Ré, para querendo, apresentar resposta no prazo legal,


sob pena de revelia, nos termos do art. 319 do CPC.

IV. Seja confirmada a segurança e declarada, em definitivo, a


NULIDADE ABSOLUTA do Auto de Infração de Trânsito nº P03VL000TB, em decorrência
do vício apontado e comprovado e, consequentemente, toda anulação do Processo
Administrativo de Autuação de Infração de Trânsito;

V. A condenação da Requerida nas custas processuais e honorários


advocatícios a serem fixados por Vossa Excelência.

VI. Para provar o alegado, requer todos os meios de provas admitidos


em direito, especialmente prova documental, depoimento pessoal.

VII. Dá-se a causa o valor de R$ 1.000,00 ( mil reais), apenas para fins
fiscais.
Nestes temos,
Pede deferimento.

Local, XX, XX, XXXX.

Advogada OAB/XX XXX

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