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Abstract: In the present time, museum and heritage management becomes an issue
increasingly discussed among museum professionals. Questions around citizenship, the
social function of museums, and communication with visitants now are part of Estate’s
reunions and government programmes agenda. Such a worry has arisen from the
establishment of cultural institutions as social spaces in the service of society, through
many different actions. On this context the case study concerned the time when Lina Bo
Bardi was director of Museum of Modern Art of Bahia, between 1959 and 1964. Over
those years of cultural-political agitation in Brazil, the Italian architect tried to implement at
MAM-Ba serial activities which foresaw to accomplish a social sense to the institution. So,
her performance can be the first step to a new approach of museums as institutions not
only concerned with objects, but especially with human beings.
*
Graduanda em Museologia pela Universidade Federal da Bahia - UFBA e bolsista PIBIC/CNPq. Correio
Eletrônico: reju@uol.com.br. Trabalho orientado pela Profª Drª Heloísa Helena F.G. Costa, Departamento de
Museologia/FFCH/UFBA.
Revista Eletrônica Jovem Museologia – Estudos sobre Museus, Museologia e Patrimônio 2
Ano 01, nº. 02, agosto de 2006. http://www.unirio.br/jovemmuseologia/
Juliana Monteiro
Introdução
núcleo central de memória artística que o mundo moderno tinha muito a dever. Assim, o
arquiteto provavelmente foi uma das pessoas importantes na formação do
posicionamento de Lina Bo em relação ao que era considerado como “arte popular” e
“artesanato” – algo que certamente ela traria para o Brasil.
Ainda durante a II Guerra, a arquiteta se alistou nas fileiras do Partido Comunista
e sua casa passa a ser ponto de encontro de intelectuais e artistas italianos. Por isso,
chegou a ser perseguida pela Gestapo algumas vezes. No ano de 1946, Lina Bo casou-se
com o jornalista, crítico de arte e marchand Pietro Maria Bardi e viaja com ele logo depois
para o Brasil, onde fixam residência.
Logo conhecem o empresário e jornalista Assis Chateaubriand, dono dos Diários
Associados, que convida Pietro Bardi para estar à frente de uma audaciosa empreitada –
o Museu de Arte de São Paulo, com sede na rua 7 de abril. Lina Bo é envolvida no projeto
do museu, devido a sua experiência pessoal de realizar diferentes tipos de exposições na
Itália e ao seu envolvimento com a área do design de móveis. Desta forma, no ano de
1947, ela se vê responsável pelo planejamento do espaço, pela organização das
exposições e atividades educativas do novo museu.
É interessante ressaltar determinados aspectos em relação ao projeto do MASP2
da rua 7 de abril, pois algumas das idéias presentes em sua concepção são ilustrativas do
pensamento de Lina sobre museus. A intenção da italiana era concretizar um museu de
arte no seu sentido mais amplo, com arquitetura simples e que atuasse não apenas como
um mero guardião de obras de grandes mestres, mas que participasse da vida cultural da
cidade. Sobre a inauguração da primeira sede do museu, Lina declara: “é neste novo
sentido social que se constituiu o Museu de Arte de São Paulo, que se dirige
especificamente à massa não informada, nem intelectual3.”
Vale destacar aqui a preocupação de Lina Bo com a instalação de um espaço
museológico cujo enfoque estivesse no caráter educativo das exposições ou, ainda, na
experiência de aprendizado que qualquer pessoa poderia vivenciar dentro da instituição,
independente de condição social. Para ela, os museus novos de países como o Brasil
tinham a missão de ser diferentes, de abordar a arte de tal forma a criar uma continuidade
ou um panorama entre os variados estilos e períodos históricos.
Importante também é a participação de Pietro Bardi. Junto, o casal propõe
inovações para o museu da rua 7 de abril, muitas vezes mencionadas negativamente pela
crítica jornalística (advinda em grande parte dos jornais concorrentes do Diário de São
Paulo, de Chateaubriand), que não aprovava a indicação de um italiano, e não um
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Ano 01, nº. 02, agosto de 2006. http://www.unirio.br/jovemmuseologia/
Juliana Monteiro
brasileiro, para a direção da instituição. Deu-se pouca atenção ou notícia sobre a criação
do auditório para cinema, a realização de conferências com artistas e historiadores de
arte de renome internacional, ao setor dedicado às crianças ou as atividades do Instituto
de Arte Contemporânea, cujo intuito era promover o encontro entre desenho industrial e
as ‘artes aplicadas’. Tampouco noticiou-se a gratuidade da entrada no museu, aspecto
singular da nova instituição.
Segundo Pietro Bardi4, estas críticas teriam surgido por causa de uma não
compreensão geral da proposta dele e de Lina Bo para o novo museu. Ele chega mesmo
a definir o MASP como um ‘anti-museu’, por seu caráter dinâmico, aberto, representativo
de uma nova era para os museus. Logo, o MASP estaria distante do que era entendido
como ‘museu’ naquela época, ou seja, lugares de um saber hermético, fechados sobre
suas relíquias. Esta idéia de ‘anti-museu’, ou antes, sua proposta conceitual,
compartilhada provavelmente não só por Pietro mas também por Lina, é outro ponto
essencial que se deve ter em mente para analisar a posterior atuação dela no MAM-Ba.
Outras experiências de Lina Bo com as artes no Brasil reforçam esta idéia. Estas
experiências possuem um traço de união que se reflete na constante preocupação da
arquiteta com a criação de espaços públicos para a cidade, com o papel social do
arquiteto e com a flexibilidade do espaço expositivo. Por exemplo, no ano de 19475, Lina
Bo também é convidada a elaborar um projeto para o Museu de Arte da rua do Ouvidor no
Rio de Janeiro. Em 19506 inaugura, junto com Pietro Bardi, a revista “Habitat”, uma
publicação voltada para a arquitetura e a arte. Em 19517, é convidada a fazer um projeto
para o “museu à beira do oceano”, na cidade de São Vicente, em São Paulo, e realiza a
grande Exposição Paulista de Agricultura, no Parque da Água Branca. Um fato importante
que ocorreu no mesmo ano foi a naturalização de Lina Bo como brasileira.
Em 19578, a arquiteta será a realizadora do projeto arquitetônico do atual prédio
do MASP, na avenida Paulista. No entanto, este novo edifício seria inaugurado somente
em 1968.
Assim, com esta breve re-construção das influências e do caminho percorrido por
Lina Bo no Brasil, chega-se aos anos de Bahia, nos quais muitas coisas estavam por
acontecer.
Capítulo 1
Art.2. (...) a promover o estudo e a difundir o conhecimento das artes em geral
notadamente as plásticas sob critério representativo de sua evolução
contemporânea11.
• A Escola da Criança
Uma das primeiras atividades colocadas em prática logo após a inauguração do
museu14. Surge com o objetivo de trabalhar a arte com as crianças, através de atividades
manuais, nas quais elas poderiam sentir objetos, desenhá-los e pintá-los se quisessem.
No dizer de Glauber Rocha, “(...) é uma escola nova, sem esquemas dirigidos, onde a
liberdade total da infância (para uma realização consciente de seus atos) é o motivo
fundamental”15. Dança, teatro e treinamento da fala e da expressão corporal são outras
oportunidades complementares oferecidas pela Escola.
Lina Bo não se esqueceria dos professores, ligados diretamente ao processo de
aprendizado dos jovens. Como numa espécie de atividade de extensão do museu, abrem-
se as vagas para o curso de formação aos instrutores do ensino primário e elementar,
com a finalidade de “(...) despertar nos instrutores a faculdade crítico-intuitiva16”. Todos os
cursos são dirigidos pelo professor da Escola de Teatro, Martim Gonçalves, que traz seus
assistentes para auxiliá-lo na tarefa, contando também com o pintor baiano Sante
Scaldaferri na tarefa de coordenação das aulas.
• As exposições
Por último, mas não menos relevantes, estão as exposições no MAM. Newton
Sobral, assistente de montagem de exposições de Lina Bo à época, em entrevista à
autora, assim explica como eram organizadas:
(...) a cada 15 dias mudavam as exposições. Tinha um lado fixo que era acervo,
um de quadros que eram doados, umas peças que tinham sido doadas por
pessoas e instituições e tinham as exposições móveis que de 15 em 15 dias saiam
e entravam outras. Às vezes ela [Lina] desenhava num papel o projeto do que
seria a exposição, a disposição dos quadros e tal. Se ela tinha tempo ela ficava e
montava comigo. Se fosse uma exposição difícil ela ficava. E tinha as chamadas
exposições didáticas, (...) mais trabalhosas pelos painéis. (...) cada painel
representava uma era, como, digamos, pré-história, arte das cavernas, arte
chinesa, arte japonesa, egípcia e cada painel tinha um tema até chegar na arte
moderna. (...) tinham uns painéis que se seguravam no teto do teatro, era uma
espécie de duas hastes de metal que você colocava assim com um painel no
meio, então encaixava o painel nas duas hastes de metal, depois torcia um
parafuso e prendia no teto sob pressão. Cada painel daquele tinha um tema
histórico, aí ela cortava livros, reproduções e textos, textos explicativos do que foi
aquela pintura, do que foi aquela era, (...) fazendo os painéis na seqüência
cronológica21.
pregado pelos grandes nomes do movimento moderno, para se aproximar dos planos
simplificados, cujas linhas eram marcadas pela delicadeza do traço e por uma harmonia
com o espaço exterior.
Segundo o autor, o maior reflexo da preocupação de Lina com o popular inserido
no espaço moderno seria o projeto da Escola de Desenho Industrial e Artesanato, onde,
entre outros objetivos (bastante estratégicos), o arquiteto-estudante teria uma função
aglutinadora, direcionando o seu trabalho para fazer da cultura popular um fator de
legítima expressão cultural da identidade nacional. A tática de Lina, portanto, era realizar
projetos e comunicar-se politicamente com diferentes segmentos da sociedade no
Nordeste.
O Museu de Arte Popular do Nordeste é citado pelo autor como a estratégia
pensada especificamente para o Nordeste – tendo em vista o MAM-Ba possuir um caráter
mais generalizante e internacional – no qual Lina pensava em continuar seu trabalho com
a cultura popular. O MAP teria como unidade dinamizadora um Centro de Documentação,
responsável pelo mapeamento e o registro de todas as técnicas artesanais encontradas
por ela em suas viagens.
O objetivo da escola era integrar o aluno ao processo de industrialização e seu
viés social era enfatizado por Lina: a escola tinha viabilidade econômica e utilizaria “[...]
matérias primas dispensadas pela indústria30”. Desse modo, “Lina Bo Bardi procurava
operar tanto de acordo com um ideal da vanguarda modernista, como atuar em
consonância com a lógica da cultura popular31”, o que teria levado, como já ressaltado
anteriormente, a arquiteta a vivenciar um outro moderno, aberto à cultura popular e a
outras formas de conceber o espaço arquitetônico.
Para Rossetti, a discussão sobre artesanato e folclore na produção de Lina Bo
passa pelo questionamento da função política do povo que existia no Brasil dos anos 50-
60. O povo era compreendido como fator de transformação efetiva do país, tanto por
esquerdistas como por direitistas. Nesse sentido, Lina Bo deixava transparecer em seu
discurso uma possível influência do pensamento de Antonio Gramsci - um importante
pensador marxista italiano, que fora preso durante a II Guerra e que se dedicara, entre
outras coisas, a uma reflexão sobre povo, folclore e nacionalismo enquanto fatores
revolucionários.
Ao realizar suas pesquisas sobre artesanato, é possível entrever a questão da
função política do povo como uma das premissas nas quais se apóia Lina. Assim, mesmo
que de modo parcial, a preocupação moderna – para utilizar a idéia de Rossetti – de Lina
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Em busca da poesia da vida: a gestão de Lina Bo Bardi no MAM - BA (1959-1964)
com o povo talvez passe pela concepção deste como grupo a ser estimulado pelos
intelectuais, para, em algum futuro, desvincular-se, grosso modo, da “falsa consciência”32
imposta pela ideologia da classe social hegemônica, a fim de adquirir a sua própria
consciência enquanto classe. A ruptura com esta “falsa consciência” se faria pelo
estabelecimento de uma cultura nacional-popular que proporcionaria a construção de uma
identidade plural e unificada, brasileira por excelência.
Diz-se talvez, pois ainda não foi possível verificar a extensão da influência do
pensamento de Gramsci em Lina Bo. A única coisa que é possível afirmar é que no
período histórico em questão essas idéias serão amplamente discutidas pelos teóricos da
“modernização”, que anteviam no povo brasileiro, ainda apegado a uma mentalidade
rural, a razão de todos os problemas do “subdesenvolvimento” do país. Lina Bo deveria
saber dessas discussões e estar atenta ao que era falado e escrito, antenada com o
mundo como era. Isso, sem contar a própria participação de Lina no Partido Comunista
italiano na Segunda Guerra, quando as obras de Gramsci eram amplamente citadas pelo
seu impacto no marxismo.
Contudo, a arquiteta não veria este projeto funcionando, nem tampouco
conseguiria concretizar a mudança do MAM para o Solar do Unhão, conforme previra. O
ano de 1964 chegara e com ele, os militares.
ideologia do Golpe. A situação se tornou insustentável e Lina Bo não teve outra opção a
não ser ir embora da Bahia. Ela declararia, anos depois, para uma reportagem sobre o
MAM-Ba que:
Saí do museu porque ia ser presa. Consegui me safar com um grande processo
no 2° Exército e também na Bahia pela Marinha. Eu não gosto de ser presa35.
Entretanto, sua ligação com os museus e com a área cultural não se findaria, pois
ela se veria envolvida com muitos projetos, tais como o do SESC Pompéia, em São
Paulo, da mesma forma que atuaria ativamente como incentivadora do cinema, do teatro,
da curadoria e das artes plásticas, até seu falecimento em 20 de março de 1992.
operário, grosso modo, é visto como uma máquina de produção, e a organização como
um conjunto de tarefas arranjadas sob uma forte centralização e hierarquização funcional.
O autor estabelece algumas categorias de análise – ou critérios organizativos –
para identificar como e porquê determinados projetos, que se afastaram dos ideais
mecanicistas supracitados, deram certo na Europa entre os anos de 1850-1950. Um deles
seria a existência de grupos criativos coordenando estes projetos, que se caracterizavam
pelo trabalho coletivo e por compartilhar uma rede de relações interpessoais e
profissionais na sua sistemática de produção. Assim, este e outros critérios apresentados
pelo autor tornam-se pertinentes para a compreensão do período de Lina Bo no MAM-Ba.
Conexão Brasil-Bahia
Ao longo dos vários ensaios da obra de De Masi, fica claro que a existência de
uma teia de amizades e contatos pessoais para a conformação das iniciativas é um ponto
relevante e estratégico. Lapointe (1991) também ressalta que o processo da gestão,
principalmente o dos organismos culturais sem fins lucrativos - como o museu - está
intrinsecamente ligado à ação de seres humanos, que estão a todo o momento lidando
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Ano 01, nº. 02, agosto de 2006. http://www.unirio.br/jovemmuseologia/
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Como se vê, o que ocorreu na Bahia, entre as décadas de 50 e 60, foi uma
convergência excepcionalmente feliz. (...) Formou-se, assim, o eixo Museu de Arte
Moderna – Universidade da Bahia. As pessoas contratadas para coordenar estes
trabalhos – de Agostinho Silva a Lina Bo, passando por Martim Gonçalves a
Koellreuter – levavam consigo informações caíram em solo fértil – a juventude
universitária baiana, movendo-se de modo livre e inventivo47.
Os recursos financeiros
Compreende-se que do mesmo modo como ela encontrou maneiras criativas para
trabalhar com um acervo relativamente pequeno – mas importante – e imprimir ao museu
um caráter dinâmico, ela buscou resolver as questões relativas aos recursos financeiros.
Novamente, Lina apresentaria a sensibilidade necessária para gerenciá-los de forma
correta e concretizar as atividades que idealizara.
A liderança de Lina Bo
Desse modo, a arquiteta se via imbuída dos meios pelos quais poderia fazer valer
sua própria influência junto a artistas e patrocinadores, como meio de transpor
burocracias inerentes ao funcionalismo público e conquistar mais parceiros para a
instituição.
Ela também contava com a existência do estatuto, que garantia um grau relativo
de autonomia ao encargo de dirigir o museu. Ela poderia distribuir as atividades aos
encarregados conforme lhe conviesse, contanto que não desrespeitasse o regimento
interno. Dessa forma, é possível destacar Lina Bo enquanto líder, pessoa de
personalidade forte, ativa e intransigente, principal interessada em manter a boa imagem
pública do museu que dirigia e a alta qualidade das atividades por ele engendradas.
Nossa convivência foi intensa nos quinze anos que trabalhamos juntos,
praticamente diária, sem grandes férias ou intervalos. Lina era incansável, não nos
dava trégua e nem facilitava, intelectualmente falando. Exercitávamos as
discussões de projetos e todos os assuntos em geral constantemente. (...) [Lina]
se dedicava ‘ao outro’ ou aos outros de corpo e alma no trabalho. Era também
absolutamente amiga e cultivava a lealdade51.
angariar livros para a biblioteca que desejava construir para o museu e estabelecer
contatos para a realização de exposições.
As oficinas de música e de artes para as crianças, o Clube de Cinema, as peças
do teatro inovador proposto por Bertold Brecht, exposições temporárias diferentes a cada
quinze dias, as Exposições Didáticas (nos mesmos moldes das realizadas no Museu de
Arte de São Paulo) e posteriormente, o Museu de Arte Popular se configuram como
elementos estratégicos, em sincronia, inseridos em um planejamento cuidadoso e
sensível às especificidades da realidade baiana.
Para Rossetti, é possível compreender a sincronia das estratégias de Lina na
seguinte forma: cada um dos seus projetos coadunava com a crença que a arquiteta
possuía na força do popular para o desenvolvimento de um desenho industrial nacional –
de um design brasileiro, ou mesmo na certeza de entrever no Nordeste, possibilidades de
desenvolvimento de uma atividade manufatureira organizada. Era a tensão moderno /
popular que impulsionava Lina Bo.
Segundo Wright54, muitos curadores e historiadores de arte pecam por infringir
uma espécie de exame invisível a todos os visitantes dos museus de arte, como se estes
fossem obrigados a conhecer sobre todas as escolas artísticas e técnicas pictóricas da
mesma maneira que especialistas. Estes profissionais, enquanto principais responsáveis
pela organização e realização de exposições, não levam em consideração as tecnologias
de comunicação e o caráter pedagógico das exposições - o que demonstra como a
prática de Lina Bo estava distante de abordagens herméticas do espaço museológico e
da arte, persistentes até a atualidade.
A arquiteta desejava o museu atuante sobre o mundo cotidiano, antenado às
práticas culturais da população nordestina, e, ao mesmo tempo, conectado com os
acontecimentos as variadas formas de manifestação da arte contemporânea. Côté55, por
exemplo, explica que o princípio do museu operante sobre e para o mundo é fundamental
para se verificar o efetivo sucesso de visitação do museu (como o Diário de Notícias
noticia sobre o MAM-Ba ao longo de 1960), assim como o estabelecimento de uma
prática organizacional aberta para novas experiências de diálogo com as sociedades.
Neste caso, a existência de uma missão institucional também é outro elemento
imprescindível na criação do direcionamento organizacional: é a partir da missão que se
estabelecem os critérios de planificação, organização, seleção de pessoal e avaliação da
atuação institucional.
Pode-se dizer que a missão do MAM-Ba, tal qual delineada por Lina Bo, era a
tarefa de atuar didaticamente para e com crianças, jovens, adultos e idosos, com um forte
sentido social, sobre a temática do moderno. Esta é uma característica central da sua
gestão - que pode ser compreendida como estratégica. Sua competência técnica, ética e
o grande conhecimento a respeito da arte e da arquitetura que possuía, foram as
ferramentas pessoais que a ajudaram na tarefa de administrar um museu, que como
outros semelhantes, sofria com os obstáculos e impedimentos do funcionalismo público.
3. Considerações finais
Notas:
1. BARDI, Lina Bo. Museu de Arte, rua do Ouvidor – Rio de Janeiro. In: FERRAZ, Marcelo. (edit.) Lina Bo
Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi, 1993, p.43.
2. Isto não significa, contudo, que os mesmos princípios não seriam encontrados no projeto para a nova
sede do MASP.
3. BARDI, Lina Bo. Museu de Arte: rua 7 de abril, São Paulo, 1947. In: FERRAZ, Marcelo (edit.) Lina Bo
Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi, 1993, p.44. Grifo nosso.
4. BARDI, Pietro apud TENTORI, Francesco. Pietro Maria Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e Pietro Maria
Bardi, 2000.
5. BARDI, Lina Bo. Museu de Arte, rua do Ouvidor – Rio de Janeiro. In: FERRAZ, Marcelo (edit.). Op. cit.,p. 43.
6. BARDI, Lina Bo. Revista Habitat: revista de Artes no Brasil. Id. p. 64.
7. BARDI, Lina Bo. Museu à beira do oceano: São Vicente, São Paulo. Ibid., p.90.
8. BARDI, Lina Bo. Museu de Arte de São Paulo: av. Paulista, São Paulo. Ibid. p.100.
9. LOURENÇO, Maria Cecília França. Museus acolhem moderno. São Paulo: EDUSP, 1999. p.178.
10. LINA Bo Bardi: o Baiano e o Museu de Arte Moderna. Jornal da Bahia. Salvador: Seção Tablóide,
31/01/1960.
12. Id.
13. BARDI, Lina Bo. Museu de Arte Moderna da Bahia: Salvador. In: FERRAZ, Marcelo (edit.). Op. Cit. p.139.
14. Em 29/04/1960 o Diário de Notícias já traz maiores detalhes e informações aos interessados.
15. ROCHA, Glauber. MAMB não é museu: é Escola e “Movimento” por uma arte que não seja desligada do
Homem. Jornal da Bahia. Salvador: 21/09/1960.
16. Id.
18. O costume de ir ao cinema era algo muito presente em Salvador, naquela época. Em consulta a
diversos números do Diário de Notícias, foi possível constatar que a cidade contava com,
aproximadamente, 18 salas de cinema, funcionando nos mais diferentes horários, como as matinées. Os
cinemas localizavam-se não apenas na região central da cidade, mas em bairros mais distantes como Rio
Vermelho e Plataforma, sendo possível citar alguns deles: o Guarani, Tupi, Capri, Jandaia, Brasil, Rio
Vermelho, Itapagipe, Art, Aliança, Glória, Pax, Liceu, Roma, Santo Antônio, Excelsior, Popular, Plataforma e
Brasil.
19. ROCHA, Glauber. Vereador contra o MAMB. Diário de Notícias. Salvador: 14/10/1960.
21. SOBRAL, Newton. Entrevista concedida à autora. (Fita 01). Salvador, 16/08/2005.
22. A exposição que reuniu Van Gogh, Renoir e Cézanne em 1960, foi uma das primeiras grandes
exposições promovidas por Lina Bo na Bahia, realizada graças ao empréstimo das obras dos artistas
supracitados pelo MASP.
26. Id.
27. ROSSETTI, Eduardo Pierrotti. Tensão moderno/popular em Lina Bo Bardi: nexos de arquitetura.
2003. Disponível em: http://www. vitruvius.com.br. Acesso em: 16/10/05.
29. Id. p. 2.
30. Ibid. p. 8
Revista Eletrônica Jovem Museologia – Estudos sobre Museus, Museologia e Patrimônio 22
Ano 01, nº. 02, agosto de 2006. http://www.unirio.br/jovemmuseologia/
Juliana Monteiro
31. Ibid. p. 8
33. MATERIAL subversivo prova de razões da Revolução: MAMB. Diário de Notícias. Salvador: 31/07/1964.
35. STRECKER, Márion. Espaço está fechado e sem diretor. Folha de São Paulo. São Paulo, 13/06/1987.
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49. CICILLO Matarazzo montará indústria: MAMB na mira. Diário de Notícias. Salvador: 21/09/1960. Nesta
reportagem, o empresário declara que fora assegurado, através de uma negociação com o Estado da
Bahia, o envio de 5 milhões de cruzeiros para o MAMB durante oito anos.
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