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METODOLOGIAS DE ENSINO APRENDIZAGENS APLICADAS A SALA DA


EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO CONTEXTO DE RORAIMA

Elijane Ferreira de Jesus1


Prof. Ms.Gisele Cristina de Boucherville 2
Resumo

O presente artigo tem por objetivo apresentar reflexões voltadas às metodologias de ensino aprendizagem na
modalidade da Educação de Jovens e Adultos - EJA. O artigo se divide em quatro momentos importantes que
repercutem ainda em meu processo de formação. O primeiro eixo aborda a história da EJA no cenário nacional e
seus desdobramentos na busca constante da alfabetização de adultos. No segundo eixo explicito a História da
EJA sobre o enfoque mais específico, ou seja, saliento o Estado de Roraima como campo de estudo a ser
analisado referente a esta modalidade de ensino; bem como suas legislações e forma de gestão. Já no terceiro
eixo enfatizo conceitos, aprendizagens, prática e o trabalho docente na EJA que apontam para o perfil do
profissional comprometido com uma prática significativa e emancipatória. Por fim, no quarto eixo busco
discorrer sobre as concepções pedagógicas e orientações a ser seguidas ou não pelos educadores, a fim de
contribuir na construção de uma postura profissional comprometida. A partir desta perspectiva utilizo como
principais referencias biográficas: BARBOSA (2004); BOUCHERVILLE (2013); FREIRE (1957), por
apresentarem a EJA como um espaço de construção de saberes. A presente pesquisa bibliográfica visa,
sobretudo, repensar essa modalidade de Ensino e suas metodologias como forma de impulsionar o homem a ser
mais.

Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos; Metodologia de Ensino; Aprendizagem.

Introdução

Este artigo é apresentado ao curso de Pedagogia da Universidade Federal de Roraima -


UFRR como trabalho de conclusão de curso, para a obtenção do título de licenciatura em
Pedagogia. Visa discutir a importância da qualidade no ensino/aprendizagem na Educação de
Jovens e Adultos (EJA) dentro de parâmetros que possam respeitar a diversidade dessa
modalidade.

A escolha pela temática é baseada em uma vivencia que considero fundamental em


minha vida. Meus pais, por variados motivos, não tiverem a oportunidade de estudar na
juventude, pois tiverem que trabalhar muito cedo. Apesar disso, sempre fui incentivada a
buscar novos horizontes por intermédio da educação. Essa realidade me fez compreender que
a EJA pode sim ser um espaço de transformação para o alunado. As formas de abordagens

1
Acadêmica de Pedagogia Cursando 9° semestre, bolsista do Programa de Incentivos e Bolsas de Iniciação à
Docência-PIBID.
2
Professora e Mestre. Coordenadora do Curso de Extenção da Educação de Jovens e Adultos a distancia -
Universidades Federal de Roraima.
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aplicadas nessa modalidade de ensino podem ser um fio condutor para a permanência do
discente no contexto educacional. Diante disso, optei por discorrer de forma geral esse tema,
haja vista, que esse tem sido um tema que preocupa educadores que buscam caminhos
diferenciados para uma educação de qualidade.

Neste trabalho, serão apresentadas direções para o professor como alternativas de


práticas pedagógicas em sua sala de aula com base em conceitos de aprendizagem e
concepções pedagógicas. Fala-se ainda do trabalho docente que neste processo é de extrema
importância, pois o educador tem o papel de mediador do conhecimento e, portanto, é um elo
entre a aprendizagem e o aluno que é sujeito principal da aprendizagem. Para isso,
conheceremos de um modo mais geral a nível nacional (Brasil) a história da educação de
jovens e adultos e minuciosamente o percurso desta história em Roraima para
compreendermos a trajetória de lutas, conquistas e recuos pela qual esta modalidade de ensino
perpassou. Justifica-se dessa forma as discussões que visem realidades diferenciadas.

O presente artigo assume características de pesquisa bibliográfica, pois tem como


objetivo explorar de forma minuciosa terminologias relacionadas a Educação de Jovens e
Adultos. Entende-se a pesquisa bibliográfica como o estudo realizado a partir de materiais já
existentes (GIL, 2010).

1. História da Educação de Jovens e Adultos

Existe no contexto atual, uma definição com relação à Educação de Jovens e Adultos
(EJA) na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, porém, é importante conhecermos o percurso
existente nesta trajetória que foi ocorrendo paulatinamente através de lutas, perdas, injustiças,
conquistas, enfim entre avanços e recuos essa história foi acontecendo.

A Educação de jovens e adultos no Brasil teve seu início na colonização, onde os


índios e escravos eram ensinados e catequizados. A educação era ofertada, porém, com
interesses por trás como a mão de obra qualificada e o voto. Os jesuítas e os franciscanos
tinham a intenção de converter os índios e assim a os religiosos estiveram a frente da
educação, mas estes religiosos não duraram muito sob direção, pois percebeu-se que estes
estavam sendo beneficiados e com isso conquistaram poder. Quando foi percebida esta
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intenção, estes (jesuítas e franciscanos) foram expulsos do país e com isso a regressão tomou
lugar no sistema educativo. Percebe-se neste momento que desde o início a EJA traz consigo
árduas lutas e uma limitação constante.

Segundo Paiva (1973), no século XIX, em 1808 houve a vinda da família real
portuguesa para o Brasil e com isso foram criadas escolas superiores. É importante deixar
claro que este ensino era destinado apenas para a elite, sendo assim, o analfabetismo não era a
meta, ainda estava por baixo de dominações.

O que é de fundamental importância a destacar é que através de algumas províncias


com o estabelecimento da constituição é estabelecido e o país teve como resultado 117
escolas no ano de 1976. A realidade desta modalidade seguia e não se via muitos avanços,
mas entre seus momentos, através de interesses, a Revolução de 1930 influenciava as
discussões a favor desta educação.

Di Pierro e Haddad (2000) afirmam que apesar das lutas e esforços, a educação de
adultos foi estabelecida realmente em 1940, apesar de se presentar anteriormente a isso como
intenção e em discussões de movimentos. Estes momentos são importantes nesta trajetória
pois como se vê, o reconhecimento desta modalidade ganha um espaço mesmo que
paulatinamente. Um dos marcos que surge logo em seguida que também traz fortes
influencias ao desenvolvimento desta modalidade é a pedagogia de Paulo Freire que nos anos
60 influencia em muitas experiências positiva como a criação do programa Movimento de
Educação de base (MEB) que buscava uma educação crítica voltada para o social, entre outras
conquistas.

De 1959 até 1964 passam a existir novas experiências e movimentos, assim como o
Movimento Cultural Popular (MPC), no qual se dava a proposta de atendimento educacional
para as crianças e para os adultos voltada para a população carente, a campanha Pé no Chão
entre outros movimentos. Desse modo, as massas populares passaram a ter espaço. Todavia,
como se pode perceber, esta história foi acontecendo entre avanços e recuos. Com base em Di
Pierro e Haddad (2000) quando foi no ano de 1964 veio uma nova ordem, um golpe de
interesse político, era intenso e essa força ganhou lugar, sendo favorecida e assim reprimindo
os movimentos realizados em prol da alfabetização de adultos. Como é apresentado no
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decorrer da história, as limitações estavam presentes e as lutas políticas eram constantes neste
processo.

A história segue e em 1967 o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL


surge. O programa era um sistema controlador que estava também em ligação com os
governos militares. Di Pierro e Haddad (2000) afirma que o MOBRAL vinha com a proposta
de acabar com o analfabetismo, mas não foi muito eficaz para aquela população que tanto
necessitava de uma educação de qualidade e transformadora, pois estavam sob monitoramento
sem muitas perspectivas. A educação passa a ter sérias dificuldades, a sua funcionalidade
estava sem muitos resultados alcançados, pois a educação ofertada pelo MOBRAL era
limitada . Sendo assim muitas escolas pararam suas atividades.

Ainda em 1970 foi criado o Ensino Supletivo para atender aos jovens e adultos em
questão. Passam-se os tempos e em 1980 muitas escolas nortunas ressurgem no sentindo de,
neste momento, entenderem que a educação levava ao progresso do país.

Logo mais, de acordo com Cury (2000) o dever do Estado é incorporado na


Constituição Federal de 1998 que nesta incluía a oferta gratuita para as pessoas que não
tiveram acesso a educação na idade própria. Esses jovens e adultos também ganham esta
educação ligada ao trabalho, o que é de fundamental importância, pois esta realidade é algo
comum para este público.

Na década de 1990 era reafirmado e prosseguia-se o favorecimento a oferta da


educação de jovens e adultos através de conferências que traziam reformas positivas como
resultados. Entre recuos e avanços, a EJA ganhou espaço na LBD 9.394/96 e hoje é um direito
público subjetivo, quer dizer, de cada cidadão.

A EJA caminha devagar em busca de seus reais objetivos que vão além de meros
conhecimentos vagos e mecânicos que tiram dos cidadãos o direito de serem críticos e de
serem por fim cidadãos pensantes e atuantes que fazem parte da sociedade. Entende-se que a
função da EJA significa, então, não só a restauração de seu direito que foi negado, mas
também o reconhecimento da igualdade dentro de uma diversidade e essa busca é constante,
com esse foco para que se mude o olhar limitado para com essa classe de pessoas com pouca
alfabetização ou nenhuma.
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Uma constante busca se segue com organizações sociais e os grupos que realmente se
importam com os constantes movimentos em prol do objetivo de transformar a educação de
jovens e adultos em uma educação significativa e efetiva. Esses grupos concluem que além de
buscar educação estão ao mesmo tempo exercendo sua cidadania, que é negada, e estas ações
demonstram que numa sociedade busca-se mudanças através de questionamentos e críticas.
Só assim é possível mudar esse quadro desagradável.

2. História e legislação da Educação de Jovens e Adultos em Roraima.

O tema educação de jovens e adultos preocupa muitos educadores, pois esta parcela de
população tem sido excluída de seu direito de ser sujeito ativo na sociedade justamente por
falta da oportunidade que lhes tem sido tirada por algum motivo justificável e que deveria ser
considerado. Geralmente os jovens e adultos de hoje que tem a ausência da leitura e da escrita
não tiveram opção de seguir a vida senão por meio do trabalho e, portanto, se dedicam
totalmente ao trabalho, sem sobrar tempo para estudos.

Outro grande empecilho neste caminho é a formação de professores que na sua


maioria tem sido inadequada. Desse modo, é importante que se crie políticas públicas que
atendam honesta e democraticamente essa modalidade de ensino como afirma (Pellicano, 2008
p.3):
[...]muitas vezes são ignorados aspectos fundamentais como o respeito ao
processo ensino-aprendizagem, os tempos escolares de aprender e de ensinar
e o cuidado com estratégias metodológicas e avaliativas que contribuam para
a qualidade do ensino destinado a uma clientela com características e perfis
bastante diferenciados.

Segundo Oliveira (2013), desde o início pode-se notar as lutas e rompimentos com
relação à educação de jovens e adultos. Observa-se como ponto de partida o período colonial
que tem como descrição, a educação ministrada por religiosos, que educavam e catequizavam
os indígenas e escravos. Em seguida vieram como professores os colonizadores, mas nada
disso era significativo, pois a prioridade era dada à elite que excluía todas as outras classes e
como consequência, os adultos analfabetos não votavam por serem iletrados. Em 1940 a
educação de jovens e adultos foi percebida como um problema de política nacional. Neste
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período, o Brasil recebia alerta, por exemplo, da UNESCO que os fazia lembrar de que a
baixa escolaridade de jovens e adultos causava desigualdades sociais.

Oliveira (2013) ainda discute que os movimentos a favor da educação de jovens e


adultos como campanhas, foram lutas desde 1947 e depois foram acontecendo com o passar
do tempo. É importante lembrar que em 1958 com a realização do II Congresso Nacional de
Educação de Adultos do Rio de Janeiro é levantada uma preocupação na reformulação desta
modalidade, pois como afirma (Oliveira, 2013) “O adulto não escolarizado era percebido
como um ser imaturo e ignorante que deveria ser atualizado com os mesmos conteúdos da
escola primária, acentuando o preconceito contra o analfabeto”. Desta forma, percebe-se um
preconceito claramente estabelecido.

Diz Oliveira (2013) que a educação de jovens e adultos passou a ser reconhecida como
um poderoso instrumento de ação política entre 1959 e 1964 com os vários movimentos
realizados em prol deste ensino que contaram com a colaboração de Paulo Freire, um dos
maiores defensores desta causa. Um desses movimentos teve como fruto o MOBRAL-
Movimento Brasileiro de Alfabetização; outro reconhecimento foi a implantação do Ensino
Supletivo em 1971 e a lei 5.692 que reformulou as diretrizes de primeiro e segundo grau.
Entre estas lutas, mais um degrau é avançado na década de 1990 na educação de jovens e
adultos com a reativação no sentido cultural, jurídico e político. É importante então que a
educação de jovens e adultos e seus defensores continuem a luta pelos seus objetivos para que
essa modalidade se transforme em uma educação de qualidade superando todas as lutas e
barreiras ocorridas no decorrer de sua história com metodologias e prática significativas e
efetivas.

No contexto de Roraima a história de educação de jovens e adultos especificamente,


apresenta Oliveira (2013) relatando que não foi muito diferente no que diz a respeito a
avanços e recuos ao longo do tempo. No estado, o primeiro programa a ser criado foi o João
da Silva semelhante ao MOBRAL, porém o programa estava longe de olhar com base a
pedagogia de Paulo Freire que buscava uma educação libertadora. Perpassaram no estado pelo
percurso do EJA como primeiros programas o PEI – Programa de Educação Integrada que
funcionava de 1ª a 4ª série e em continuidade o PEB – Programa de Educação Básica, porém
acrescentando de 5ª a 8ª série. O Projeto Minerva foi outro programa que funcionava via rádio
e por esse motivo havia muitas dificuldades, dentre elas os problemas de transmissão e
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também o fato de que algumas pessoas que não ouviam e por isso não tinham acesso às aulas.
Havia também uma distância maior entre professor e aluno, pois as aulas presenciais eram
destinadas apenas para aqueles que fossem tirar as dúvidas.

Em 1975 foi criado o primeiro Centro de Estudos Supletivo, no qual o aluno cursava
duas séries em um ano e se ficasse reprovado, tinha que começar novamente desde o inicio.
Foram criados vários centros de educação por motivo de crescimento populacional como o:
CES – Pricumã, para Centro de Educação de Jovens e Adultos José Wickert, o CES- São
Francisco, para Núcleo de Educação de Jovens e Adultos Professora Maria da Glória Leal dos
Santos, CES – Mucajaí para Núcleo de Educação de Jovens e Adultos Mucajaí; CES-
Caracaraí, para Núcleo de educação de Jovens e Adultos de Caracaraí. Esses centros foram
criados exclusivamente para atender os jovens e adultos pouco escolarizados, ou não
escolarizados.

Como afirma Oliveira (2013 p.43 e 44):

Em 1997, com o Decreto 1.511 – E, esta proposta se estende aos Núcleos de EJA do
Estado, assegurando um atendimento em sala de aula; atendimento individualizado;
recuperação paralela; avaliação elaborada em consonância com a nova proposta;
autonomia para elaboração de planos de curso com conteúdos essenciais; equipe de
professores para atender o aluno jovem e adulto; oferta de Exames de Equivalência
para o 1º segmento da EJA.

Com essa afirmação é possível perceber que houve um avanço, mesmo que de forma
vagarosa, porém o Estado teve um avanço, em comparação ao que se tinha do decorrer da
história do EJA local. Logo mais, através do Decreto 4.300 os Núcleos de EJA passam a ser
Centro e cada um agora terá sua autonomia.

Diz o referido autor (Oliveira 2013) que em 2003 os Centros de Educação de Jovens e
Adultos são extintos, o que demonstra a falta de compromisso para com essa modalidade,
porém, com o Decreto Estadual nº 5.580, 2004 é reestabelecido o Centro de Educação de
Jovens e Adultos Professor José Wickert. Atualmente existem 24 escolas da capital que
ofertam a EJA entre outras unidades da seguinte forma: 2 unidades prisionais (Penitenciária
Agrícola de Monte cristo e centro socioeducativo) 27 escolas do interior, 21 escolas indígenas
que ofertam a EJA e existe também intenção de implantação na Penitenciária de São Luíz do
Anauá. Outro dado importante a esse respeito é que existem três comunidades indígenas, onde
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são atendidos 29 alunos. Portanto, com base nesses dados, é entende-se que há necessidade se
ampliar esse número de atendimento no município, este entendimento ocorre na rede estadual
e municipal.

Com relação à legislação, Oliveira (2013) relata que na Constituição Federal no


Art.208 e na LDB foram criados os artigos: Art. 36; Art.37 e Art. 38 e além da LDB, outra lei
importante foi o decreto que criou o PROEJA -- uma educação Profissional técnica integrada
ao ensino médio na modalidade de jovens e adultos.

O grupo de pessoas que são parte da formação da EJA é olhado de várias formas. Do
ponto de Vista sócio-econômico a EJA é constituída homogeneamente. O que é negativo, pois
desta forma este grupo é excluído da sociedade com um preconceito disfarçado de boa
intenção. Já do ponto de vista sociocultural esses jovens e adultos são caracterizados como
parte um grupo heterogêneo, o que significa que precisa ser considerada a história de vida
dessas pessoas. E por fim outro ponto de vista é dado pela Psicologia que até certo tempo,
entendeu através de estudos que para o adulto não havia mudanças, porém, nos anos 70, é
constatado que o adulto possui capacidade de ser mudado e consequentemente de que este
tem possibilidade de aprender como nas outras fases.

O professor, portanto, será de fundamental importância para que esta realidade de


preconceitos que exclui jovens e adultos seja transformada em práticas que se relacionam, por
exemplo, com as experiências de vida destas pessoas. A prática do educador poderá contribuir
ou não para desenvolvimento e trazer de volta a auto-estima destas pessoas para com seus
aprendizados. Quando os educandos se sentirem parte principal da construção de
conhecimentos, poderão descobrir a autonomia que lhes foi negada há muito tempo.

Conforme Santos (2013) e Oliveira (2013) a EJA continua suas buscas e seus
objetivos com relação ao aluno: compreender a cidadania como participação social e política;
conhecer as características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e
culturais; posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva na diferentes situações
sociais; desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em
suas capacidades afetiva, cognitiva, ética, estética; conhecer e valorizar a pluralidade do
patrimônio sociocultural de outros povos e nações; perceber-se integrante, dependente e
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agente transformador do ambiente; conhecer o próprio corpo e dele cuidar; utilizar de


diferentes linguagens.

A educação de jovens e adultos por fim, tem a função de atender essas pessoas e pode
ser classificada como reparadora (no âmbito de seus direitos civis), equalizadora (relacionada
à igualdade de oportunidades) e por fim qualificadora (que se refere à educação permanente)
como é apresentado por (Oliveira 2013).

É possível perceber de um modo geral que a educação de jovens e adultos necessita de


mais atenção e investimentos começando, por exemplo, de sua abordagem pedagógica como
conteúdos, metodologias, tipologias de organização e processos de avaliação diferenciados.

Neste sentido, fala-se ao mesmo tempo da formação de professores de qualidade, que


será indispensável neste processo ainda carente destes quesitos. Outro ponto a ser considerado
importante para que haja transformação nesta modalidade é a contribuição efetiva da
sociedade civil que se fazendo parte desta estará exercendo sua cidadania. A sociedade já
trouxe grandes resultados se olharmos ao início desta história, portanto, é essencial que se dê
continuidade a essas forças unidas em movimentos sociais para que tragam constantemente
mudanças na EJA transformando a prática sem compromisso em uma aprendizagem que
tenha importância e significado para o aluno.

3. Conceitos, aprendizagem, prática e trabalho docente na EJA.

Muitas vezes, o olhar destinado à diversidade é um olhar simplista e romântico que


quando não torna o aluno homogêneo, acaba por vê-lo com um olhar romântico que não vai
além de suas características físicas. Boucherville (2013) afirma que as pessoas são
homogêneas apenas enquanto ser humano, mas esta mesma característica o faz perceber sua
complexidade, pois somos todos diversos e, portanto heterogêneos. Os jovens e adultos são,
parte desta diversidade e se encontram em busca da oportunidade que lhes foi negada.

Um dos maiores empecilhos para com a educação da EJA ocorre na realidade da sala
de aula. Muitas vezes a oportunidade de se expressar e se fazer sujeito ativo e autônomo é
tirada deste adulto, ou jovem que já tem sua trajetória marcada por uma negação feita no
passado e que até aos dias de hoje se estendem mesmo que mais discretamente. As
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consequências que os padrões escolares têm trazido não são poucas e, portanto, este é um dos
motivos de fracasso escolar. Atualmente o modelo civilizatório tem buscado estratégias de
manter suas limitações e imposições dentro escola que é um espaço onde vivem pessoas e,
portanto gerando uma correlação, (BOUCHERVILLE, 2013).

O que é negativo e que devemos refletir a respeito deste ponto é que quando o sistema
impõe seu modelo e tira o lugar que poderia ser conquistado pelo aluno na escola e quando
este espaço se torna privado, a dificuldade de se buscar este conhecimento acaba com a auto-
estima desses alunos que passam a internalizar a informação de que são incapazes e se
percebem fracassados. Como consequência, a violência passa a ganhar lugar em suas vidas e
o planeta inteiro é prejudicado. Quando esse sistema que estabelece normas e controles passa
a atuar na vida destes jovens e adultos que os tratam como homogêneos, na verdade, eles
parecem não enxergar, porém é intencional e eles estão ao mesmo tempo demonstrando que
essas regras de comportamento mascaram as diferenças.

Como diz Boucherville (2013) dentro da EJA existe uma pluralidade de saberes e o
espaço de saber dado ao indivíduo que os torna distintos no âmbito de culturas, e cada cultura
é a representação de uma realidade, cada indivíduo possui uma experiência de vida e essas
experiências são cruzadas na sala de aula. Somente com a reeducação de nosso olhar a
respeito desta diversidade que podemos então refletir sobre nossas práticas pedagógicas e
sobre o sistema de ensino para que esta nova oportunidade seja alcançada de forma
diferenciada e significativa na vida de cada pessoa que faz parte e necessita desse significado
em seu aprendizado.

A educação de jovens e adultos, com base em suas várias culturas e no processo


informal na vida de cada um, é essencial para que considere-se que o indivíduo desenvolve
suas aprendizagens através de sua construção social. Desse modo, a escola é um dos espaços
onde esta realidade pode ser construída, pois através da realidade reconhecida, o educando
poderá se sentir como parte daquele aprendizado, o que o tornará prazeroso e motivador. Na
troca de experiências, em uma sala diversificada uma rica aula pode ser aproveitada.

Considerando os pontos até agora vistos sobre a educação de jovens e adultos,


percebe-se que é importante que a escola, e de forma mais específica, o planejamento
pedagógico, reconheça essa diversidade que a forma e que essas pessoas que são ainda
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excluídas se tornem inclusas de fato no currículo que ainda oculta grade parte da diversidade
de maneira indireta. A teoria e a prática devem andar juntas de forma a contribuir para que o
aluno passe a aceitar a si mesmo. Por que não buscar ensinar através do que tem acontecido
na vida desses alunos fora da sala de aula e lhes mostrar sua importância na vida social e em
sua vida subjetiva? O caminho pode ser facilitado sim, desde que o educador se faça
comprometido com suas responsabilidades contribuindo para práticas libertadoras.

É de fundamental importância que o professor educador acredite na potencialidade de


seu aluno da EJA e o ajude a sentir-se seguro e competente para que este se sinta motivado a
ser alfabetizado. O professor pode gerar a esperança que um dia foi perdida neste aluno. A
necessidade de ler e escrever nos dias atuais é indispensável, porém, é preciso que os
objetivos de ensinar estejam ligados ao compromisso e preocupação de que o aluno realmente
aprenda, ou seja, para que o aluno aprenda de fato a ler e escrever, é essencial que este
consiga interpretar textos nas suas várias formas e intenções. A partir do momento que o
aluno passar a sentir que sua alfabetização esta fazendo a diferença em sua vida fora da
escola, então este aluno sentirá o gosto em aprender e assim irá buscar sem perder a
motivação.

Segundo Gomes (2013) o professor quando reflete sobre suas práticas e busca meios
diferenciados para aplicar na sala de aula e se questiona constantemente quanto à
aprendizagem de seus alunos, está desta forma aperfeiçoando suas práticas pedagógicas que
devem ser reavaliadas a partir da ação – reflexão - ação. A experiência do professor para
educar os jovens e adultos também é de grande aproveitamento em sua prática, o que
facilitará para o mesmo em sua prática. O educador que busca uma educação de qualidade
possui muitas ferramentas ao seu redor que podem ser aproveitadas, uma delas é desafiar o
aluno, a outra entre elas, é possibilitar que o aluno construa seus conhecimentos. Isso poderá
também desenvolver sua autonomia. Outro instrumento importante que o professor tem em
mãos é considerar o ponto de vista de seus alunos a ainda, aproximá-lo de sua realidade e da
diversidade de representações de realidades na qual é característica de uma sala de aula.
Contudo, o mais importante é que o professor incentive seus alunos para que se sintam
motivados através de práticas facilitadoras, pois o professor compromissado pode transformar
realidades e transformar a si mesmo através de sua prática pedagógica.
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Acredita-se na importância de alfabetizar, portanto, é relevante saber também do valor


da construção da língua oral e da escrita na alfabetização. Como diz Gomes (2013) a
alfabetização e o letramento são elementos que devem mediar o conhecimento adquirido na
sala de aula para com a realidade que vai além desta. A vida social, o comportamento, a forma
de se expressar farão sentido na vida deste aluno que perceberá a transformação em sua vida
após se tornar alfabetizado e letrado por meio do conhecimento, o que facilitará muito para o
educando perceber o significado deste aprendizado incluindo também a relação do que
aprende com sua comunidade. Dessa forma, cabe ao educador despertar o desejo no aluno
para que ele sinta o gosto e desperte o prazer em ler e escrever. A leitura e a escrita estão
relacionadas e acontecem juntas e quando o aluno absorve o conhecimento, ele passa a
praticá-lo, tendo como resultado a alfabetização.

Levando em consideração que um dos maiores obstáculos para se romper é a evasão


pela leitura, e que esta se dá devido ao fato de que a leitura muitas vezes não é interpretada de
forma correta, é fundamental que o educador tenha um olhar atento.

Nesse sentido, a escola, por ser mediadora desse processo entre ela e o cotidiano do
jovem e do adulto, deve buscar meios e metodologias que alcancem a realidade do aluno e a
traga para dentro da sala de aula.

Gomes (2013) explica que que o fato relevante com relação à metodologia de EJA é
que assim como na educação infantil, a EJA sempre irá funcionar mais facilmente quando
houver atividades diferenciadas e atrativas que incentivem o aluno, portanto, o método do
professor será de extrema importância para que o aluno dê continuidade a seu caminho em
busca do conhecimento.

Sabendo desta importância, justifica-se as discussões, planejamentos e ações que


visem realidades diferenciadas, que tragam resultados positivos relacionando a vivencia do
aluno com seu cotidiano como na seguinte afirmação.

A constatação de sua importância apóia-se no fato de que a matemática desempenha


papel decisivo, pois permiti resolver problemas da vida cotidiana, tem muitas
aplicações no mundo do trabalho e funciona como instrumento essencial para a
construção de conhecimentos em outras áreas curriculares. Do mesmo modo,
interfere fortemente na formação de capacidade intelectuais, na estruturação do
pensamento e na agilização do raciocínio dedutivo do aluno. (PCN, Volume 03,
2001, p. 15).
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Nos dias atuais, ainda é possível observar a evidência de uma conservação ao método
tradicional no ensino de matemática, por exemplo, que ainda impõe padrões limitadores ao
aluno e torna o conhecimento deste aluno limitado a conteúdos de um livro didático, pouco
produtivo. O aluno da EJA especificamente é considerado, de uma forma genérica, como
pessoa que aprende menos que as outras, dessa forma seu acesso aos conhecimentos gerais se
tornam dificultados e não muito acessíveis. O que se percebe dessa forma é que a prática
escolar é insuficiente para que o aluno aprenda efetivamente, através de um aprendizado de
qualidade. O papel do professor, então, é de considerar o que o aluno traz consigo de suas
experiências de vida e dar forma, sistematizando esse conhecimento, que certamente irá abrir
caminhos de facilidade para o aluno da EJA desenvolver o domínio universal das diversas
linguagens, inclusiva a linguagem matemática. Nesse sentido, deve ser utilizado na EJA o
método que relaciona o social e o escolar tornando-os conhecimento de mundo.

Segundo Gomes (2013), no trabalho com educação de jovens e adultos, é essencial


que se perceba como está sendo organizada a construção do currículo voltado para as pessoas
que formam este grupo, pois o currículo escolar, muitas vezes acaba por excluir uma classe
menos favorecida e classificar outra (elite) como sendo padrão.

Essa padronizadora pode ser chamada de elite e é na maioria das vezes a privilegiada,
o que leva dessa forma as outras classes serem submissas, estando sob dominação. Deve-se,
enquanto educador e enquanto sujeito social questionar o espaço que é dado dentro desse
currículo; exigir o direito da existência em que se dá oportunidade para que esses jovens e
adultos atuem enquanto sujeitos ativos, pois o currículo, diz diretamente, como ele classifica e
identifica as pessoas dentro da escola, que é espaço onde deveria haver direitos iguais de
oportunidade.

Sendo assim, a prática, é um dos principais meios pelo qual pode-se desenvolver o
que foi construído no currículo, o foco para a educação de jovens e adultos é uma educação
autônoma que dá vez a um aluno que teve sua oportunidade de aprender tirada e, na sala de
aula, no tratamento escolar, deve-se reeducar o olhar para com essas práticas no sentido de
mudar essa realidade.

4. Concepções Pedagógicas.
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No processo de ensino aprendizagem, o educador, como se tem afirmado, tem papel


fundamental, pois este se torna mediador do conhecimento adquirido em toda vida e
experiência do indivíduo e assim, transforma-o em conhecimento formal e sistematizado,
dando sentido à bagagem que cada aluno traz de sua realidade para a escola. Uma das
principais funções do professor é seu compromisso com o aprendizado de forma significativa
para que o aluno perceba a importância de construir seus conhecimentos ligados ao seu
cotidiano e é neste sentido que a educação de jovens e adultos deve caminhar, com essa
perspectiva.

O professor tem a possibilidade de facilitar o aprendizado ou dificulta-lo; de torna-lo


acessível ou inacessível, e relaciona-lo conforme a realidade e necessidade do aluno. Dessa
forma, quando o professor demonstra intenção de contribuir positivamente para que o aluno
se liberte de práticas conservadoras e limitadoras, esta considerando um aluno que aos olhos
de muitas pessoas é considerado um caso impossível, e um desafio.

O olhar do educador também neste processo deve estar voltado para si mesmo com
críticas positivas e com questionamentos a respeitos de suas práticas. A reflexão é essencial
na prática do professor. O erro em busca de acerto é necessário para aperfeiçoamento da
prática e da principal busca que é educar efetivamente, pois estes são procedimentos didáticos
e estratégias que o professor precisa buscar constantemente.

O foco deste processo de ensino aprendizagem deve estar voltado com intenção de tornar
aquele jovem ou adulto, um cidadão que faz parte de uma sociedade, e que este tenha posição,
direitos, em busca de mudanças e transformações como afirma Catão (1995 p 67) “[...] é
preciso ter coragem de refletir sobre o paradigma ético que preside o trabalho pedagógico do
dia-a-dia, a fim de ajustá-lo, por um lado, ao senso moral dos educandos, por outro, ao perfil
de humanidade que se busca para as pessoas e para a sociedade [...]”. É neste sentido que o
professor deve ter uma tomada de consciência! No sentido de refletir sobre a metodologia e
paradigma adotado pelo mesmo e sua intencionalidade.

A aprendizagem é interpretada de várias formas e, portanto, executada das mais variadas


maneiras. Existem pensamentos de que a aprendizagem se dá no sujeito por meio de
imposição, ou seja, o educando muitas vezes, é tido como uma tabua rasa que não tem nada a
oferecer; sem nenhum conhecimento e neste devem ser colocados os primeiros conhecimentos
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na escola e esta é uma realidade que preocupa muitos educadores que lutam em prol da
educação de jovens e adultos principalmente, pois estas pessoas, como se sabe, tiveram
muitas experiências de vida e têm uma trajetória que vieram desenvolvendo desde seu ponto
de partida vital. É preocupante perceber que estas práticas estão presentes na sala de aula e
como consequência deste paradigma, o aluno acaba por internalizar que chegou a escola sem
nada a oferecer, pois é descartada a opinião do aluno, o ponto de vista, a posição, enfim, a voz
e muitas vezes outros resultados negativos são apresentados pelo aluno como as
consequências de medo, incapacidade, inferioridade, trauma, evasão escolar entre muitos
outros.

Além da concepção apresentada anteriormente, existe também uma concepção


comportamentalista/ behaviorista, onde se afirma que a pessoa aprende através de estímulos e
respostas. Rego (2001) referindo-se a esta perspectiva aponta e critica:

Os conteúdos e procedimentos didáticos não precisam ter nenhuma relação com o


cotidiano do aluno e muito menos com as realidades sociais. É a predominância da
palavra do professor, das regras impostas e da transmissão verbal do conhecimento.
Na pedagogia que superdimensiona a “cultura geral” que deve ser transmitida, o
educando assume uma posição secundária e marcadamente passiva, devido a sua
imaturidade e inexperiência. Cabe ao aluno apenas executar prescrições que lhes são
fixadas por autoridades exteriores a ele.

Como base na afirmação acima, percebe-se que a cidadania, a vez e a voz são
claramente desconsideradas e negadas quando se fala com relação à postura behaviorista que
não dá espaço para que o aluno relacione o aprendizado sistematizado com o meio em que
está inserido, sendo assim o aluno tem tudo muito limitado e controlado em seu processo de
aprendizagem, sem muita oportunidade e às vezes nenhuma liberdade de expressão; o
autoritarismo reina e o aluno se torna um mero receptor de ordens e é obrigado a seguir
normas e um modelo imposto. Afinal, é possível perceber que esta limitação tem maior intuito
de treinar, condicionar, de controlar as pessoas de forma a ficarem sob dependência sem
nenhuma autonomia ao invés de considerar que é importante que o aluno aprenda se
relacionando.

Na concepção nativista, entende-se que o conhecimento já está no indivíduo e vem


com este, e assim, o professor faz poucas interferências e a sociedade nesta, é tida como
ameaça, pois acredita-se que esta pode interferir no indivíduo contaminando-o com as várias
individualidades e características. Pode-se perceber que esta concepção ainda não se
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encontrou totalmente, pois, apesar de acreditarem que o sujeito já possui o conhecimento,


ainda não se consegue chegar a uma conclusão de como acontece à construção do saber.

A concepção nativista é semelhante à concepção pedagógica humanista por terem a


gênese em comum, porém a humanista, diferencia-se ao constatar que o conhecimento é
transferido geneticamente, quer dizer, se meus pais têm bons conhecimentos, este
conhecimento é passado e gerações vão adquirindo. Nesta o professor quase não interfere por
acreditar que o aluno tem muita capacidade e um conhecimento pré-estabelecido e, portanto,
este é apenas motivado, pois a maior parte de sua aprendizagem é adquirida por
espontaneidade e o educador deve facilitar ao máximo o aprendizado para o aluno, sem
muitas exigências.

Esta concepção é evidentemente limitada quando o aluno não entende um


conhecimento mais elevado, porém, não se busca meios de entender o dado conhecimento e
nem se busca supera-lo por cuidado ao aluno que não deve ser criticado em momento algum,
pois deve ter plena autonomia. Giordan e de Vecchi (1996 p.141) também fazem esta
afirmação conforme citação:

No que tange à construção do saber, porém, essa abordagem (não-diretiva) revela


muito rapidamente seus limites ao não permitir, sozinha, uma real superação das
concepções prévias; isso se manifesta mais particularmente no nível da aquisição
dos conhecimentos básicos, pois estes não só não correspondem a um
questionamento, como também exigem uma reinterpretação dos dados iniciais.
Explica-se isso pelo fato de que esta pedagogia pressupõe a existência de uma
continuidade entre o conhecimento da realidade familiar e o conhecimento
científico, e que se pode passar de um a outro sem rupturas ou corte.

No ponto de vista interacionista, a aprendizagem se dá conforme a interação do


individuo com o meio, ou seja, todas as experiências adquiridas pelo sujeito são consideradas
importantes e essenciais ao serem internalizadas para sistematização deste conhecimento que
se desenvolve dessa forma automaticamente com esta base de experiência. Um dos principais
defensores deste pensamento e prática é Vygotsky, ele diz que “o pensamento não é
simplesmente expresso em palavras; é por meio delas que ele passa a existir. Cada
pensamento tende a relacionar alguma coisa com outra, a estabelecer uma relação entre as
coisas” (VIGOTSKI, 2000, p.157). .
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Na concepção construtivista o conhecimento é adquirido pelo aluno por meio de seu


desenvolvimento biológico juntamente com a aprendizagem que perpassa as fases do aluno
acompanhando seu desenvolvimento biológico. O principal defensor desta concepção é Piaget
que defende estudos de que o aluno passa por períodos de desenvolvimento. O conhecimento
neste caso é adquirido por meio da busca tanto do professor quanto do aluno. O professor tem
o papel de questionar e problematizar o conhecimento para que o aluno construa os seus.

Ao contrário de outras concepções pedagógicas, na perspectiva construtivista o aluno é


sujeito ativo e principal ator neste processo e por isso, seus conhecimentos prévios devem ser
considerados, pois é a partir destes conhecimentos que o professor terá base de instigar o
aluno e assim estruturar um novo conhecimento.

Como afirma Moreira (2009) o fator isolado que mais influencia a aprendizagem é
aquilo que o aluno já sabe (cabe ao professor identificar isso e ensinar de acordo). Novas
ideias e informações podem ser aprendidas e retidas, na medida em que conceitos relevantes e
inclusivos estejam adequadamente claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo e
funcionem, dessa forma, como ponto de ancoragem às novas ideias e conceitos.

Esta é considerada uma questão de adaptação e por esse motivo os novos


conhecimentos que também são adquiridos são procedidos por meio da assimilação que irá
somar os conhecimentos que já existem a outros conhecimentos, e por meio da acomodação
em que o novo conhecimento é somado ao conhecimento já adquirido formando um novo
conhecimento. O aluno neste caso constrói seus conhecimentos de forma significativa
desenvolvendo aspectos cognitivos.

Assim como na concepção construtivista é fundamental que se considere o


conhecimento prévio do aluno no ponto de vista socioconstrutivista. A aprendizagem se da
por meio de três possíveis processos. O primeiro é o que o aluno sabe fazer adquirido ao
longo do tempo através da interação social, o segundo é quando o sujeito através do meio
social adquire novos conhecimentos e assim aprende e por fim o terceiro precede quando o
aluno interage com outros sujeitos desenvolvendo assim novos aprendizados.

De acordo com Barbosa, (2004) o conhecimento, assim como o trabalho, é uma


resposta mediada às necessidades surgidas no contexto das relações. É no modo de viver e
captar essas necessidades, no contexto das condições materiais de experiência, que o homem
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conhece. O homem jamais se separa dos seus atos. Ele os vive, e nessa vivência a classe
dominante tenta conduzir as classes subalternas, educando-as mediante a incorporação da
ideologia dominante sob a forma de senso comum.

Com essa afirmação do autor pode-se perceber que a relação é um fator principal nesta
linha de pensamento, pois seja na interação com o homem ou com a sociedade, o educando
desenvolverá aprendizados significativos e o professor será mediador do conhecimento
adquirido e a estruturação do mesmo por meio da construção do aluno.

Rompendo paradigmas tradicionais, temos também a concepção problematizadora ou


dialógica na qual Paulo Freire é defensor. Nesta, o educando, através de sua interação e
assimilação de conhecimentos prévios, se desenvolve conforme a realidade em que busca
compreender e atuar como sujeito ativo. Neste sentido, um dos focos nesta concepção é a
libertação do sujeito para que se torne um ser pensante, questionador e que este mesmo sujeito
se torne crítico no sentido de construir também sua autonomia e seus conhecimentos a serem
sistematizados.

A relação entre o aluno-aluno e aluno-professor é de extrema importância para que a


partir desta base o educando modifique seus pensamentos e se sinta desafiado a construir
saberes. É com esta base que a aprendizagem é problematizadora e dialógica. Como afirma
Freire (1977, p.82): “A educação problematizadora se faz, assim, um esforço permanente
através do qual os homens vão percebendo, criticamente, como estão sendo no mundo com
que e em que se acham”.

Um outro ponto de vista a repeito da aprendizagem é o pressuposto da complexidade


que parte da ideia de que esta é maneira mais obvia de se alcançar os conhecimentos, pois a
mesma esta intimamente ligada à globalização e mudanças que tornam o conhecimento
complexo. Esta concepção faz crítica, portanto, ao conhecimento limitado e defende a
transformação do conhecimento de forma ampla.

E por fim uma ultima concepção a ser apresentada é a transdisciplinar em que se


percebe o mundo sendo completo e se busca alcançar o conhecimento por meio de uma
compreensão globalizada de mundo em que o indivíduo se transforme. Defende-se também
que o conhecimento subjetivo se faz essencial. Esta perspectiva aponta ainda a importância da
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integração entre as pessoas, pois, através dos conhecimentos assimilados, através de trocas
significativas, é possível então contribuir com os conhecimentos externos, ou seja, os
conhecimentos do mundo. Esta, portanto, é uma das concepções existentes na educação.

Percebe-se por fim que as concepções de ensino aprendizagem foram consideradas e


interpretada de maneiras diversas. Dessa forma, é de extrema importância que o professor
educador conheça cada uma e encontre consequentemente seu perfil profissional. Existem
caminhos tanto para transformação quanto para submissão do individuo e da sociedade, cabe
ao professor identificar o que se quer alcançar no exercício de seu trabalho docente.

Considerações finais

A aprendizagem é essencial na vida do aluno, e por este motivo, considera-se


indispensável que o professor conheça as variadas maneiras pelas quais ele pode seguir para
contribuir no que o aluno necessita aprender de forma interessante e significativa. Sabe-se que
não existem receitas prontas de como ensinar, porém, o professor tem ao seu alcance
instrumentos/alternativas pedagógicas que podem modificar a realidade de vida de muitos
jovens e adultos que tem esperança de transformação. O educador, como se sabe, é o
mediador do conhecimento, portanto, é uma peça importante de transformação na educação
do aluno.

Na educação de jovens e adultos ainda há muito o que se conquistar para alcançarmos


mudanças de paradigmas alienadores para obtermos como resultado cidadãos pensantes,
atuantes, críticos e ativos na sociedade que tem esta necessidade latente. Ao longo da história
de educação de jovens e adultos muitas lutas foram enfrentadas e muitas tentativas de
mudança foram sendo construídas no decorrer da história.

Em Roraima, esta luta tem sido constante, houve conquistas assim como recuos. Como
base nas conquistas alcançadas, é possível ver que existem sim meios de mudanças; que
sempre existe solução.

A preocupação de todo educador deveria passar pelos procedimentos metodológicos


estão disponíveis afim de avalia-los e coloca-los em pratica em prol dos alunos.
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Por fim, os questionamentos deveriam ser a premissa da execução do trabalho docente


que se deveria responder às questões educativas e que também respondem o perfil do
educador. Perguntas como: que perfil profissional se busca? E como sequência: que tipo de
cidadão pretendo formar para o futuro? Que sociedade e que mundo pretendo ter no futuro?

A prática refletirá e trará respostas a estas perguntas reflexivas, onde o professor se


encontra como um dos responsáveis e coparticipante na formação de uma sociedade
equânime.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Marcia S. S.. O papel da escola: obstáculos e desafios para uma educação
transformadora. Dissertaçäo de mestrado – UFRGS, 2004.
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/6668/000488093.pdf Acesso em: 02/10/12

BOUCHERVILLE, Gisele Cristina de (Org). Educação de jovens e adultos para a


diversidade. - Boa Vista: ed da UFRR, 2013.

BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais: matemática.


Brasília, DF. 2001.

CATÃO, Francisco. A pedagogia ética. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

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DI PIERRO, Maria Clara; HADDAD, Sérgio. Escolarização de jovens e adultos. Revista


Brasileira de Educação. Campinas, n.14, p.108-130, maio/ago., 2000.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. – 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

GIORDAN, André. & DE VECCHI, George. As origens do saber: das concepções


alternativas dos aprendentes aos conceitos científicos. Trad. Barros Charles Magno. 2ª
edição. Artes Médicas, Porto Alegre:1996.
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MOREIRA, M. A. Subsídios teóricos para o professor pesquisador em ensino de ciências:


A Teoria da Aprendizagem Significativa. Porto Alegre-RS, 2009. Disponível em:

<http://www.if.ufrgs.br/~moreira>. Acesso em: 09/09/12

PAIVA, Vanilda Pereira. Educação popular e educação de adultos. Contribuição à História


da Educação Brasileira. São Paulo: Loyola, 1973.

PELLICANO, Valéria Augusta. Formação do professor da Educação de Jovens e Adultos


- compartilhando ideias. Londrina. 2008. Disponível em:

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/677-4.pdf

REGO, T. Vygotsky. Uma perspectiva histórico-cultural da educação. São Paulo: Vozes,

2001.

VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. 2ª Ed. São Paulo, Martins Fontes, 2000.

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