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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA FLORESTAL

ANÁLISE HIDROLÓGICA E HIDRÁULICA COMO


BASE NO MANEJO DE CURSOS DE ÁGUA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Gilberto Quevedo Rosa

Santa Maria, RS, Brasil

2014
ANÁLISE HIDROLÓGICA E HIDRÁULICA COMO BASE
NO MANEJO DE CURSOS DE ÁGUA

Gilberto Quevedo Rosa

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de


Graduação em Engenharia Florestal, da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de
Engenheiro Florestal.

Orientador: Prof. Dr. Fabrício Jaques Sutili

Santa Maria, RS, Brasil

2014
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Rurais
Departamento de Ciências Florestais
Curso de Graduação em Engenharia Florestal

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de


Conclusão de Curso

ANÁLISE HIDROLÓGICA E HIDRÁULICA COMO BASE NO MANEJO


DE CURSOS DE ÁGUA

elaborado por
Gilberto Quevedo Rosa

como requisito parcial para obtenção do grau de


Engenheiro Florestal

COMISSÃO EXAMINADORA:

Prof. Dr. Fabrício Jaques Sutili


(Engº Florestal - Presidente/Orientador)

Charles Rodrigo Belmonte Maffra


(Engº Florestal - Doutorando - PPGEF - UFSM)

Rita dos Santos Sousa


(Engª Biofísica - Mestranda - PPGEF - UFSM)

Santa Maria, 10 de dezembro de 2014.


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado saúde, força e coragem


para que eu pudesse superar todas as dificuldades, e assim chegasse aonde
cheguei.
Aos meus pais e aos meus irmãos, especialmente, por todo amor, todo apoio
e todos os esforços que fizeram para eu conseguisse continuar nesta caminhada, e
por compreenderem os motivos de minha ausência nestes últimos anos.
A minha namorada, por todo amor, compreensão e incentivo incondicional
que tem me dedicado, me inspirando a cada dia e me ajudando a suportar os
momentos difíceis.
Ao meu orientador Fabrício Jaques Sutili, pelos ensinamentos que têm me
ajudado a construir um conhecimento de grande valor, também pela paciência e pela
amizade sincera.
Ao amigo e colega Charles, pela amizade e pelo apoio que me deu na
pesquisa deste trabalho.
Aos amigos e colegas Rita e Vagner, pela amizade e parceria.
Aos amigos e colegas de graduação, especialmente o Francisco, o Kervald, o
Rafael, o Caçapava e a Lisi, pela amizade criada nestes últimos anos.
Aos colegas do Laboratório de Sensoriamento Remoto pelo apoio e amizade.
À Agencia Nacional do Petróleo - CENPES pelo bolsa concedida através da
Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (FATEC).
Aos meus padrinhos Eleú e Marli pelo apoio que sempre me deram.
E a todos que diretamente ou indiretamente fizeram parte da minha formação.
RESUMO
Trabalho de Conclusão de Curso
Curso de Graduação em Engenharia Florestal
Universidade Federal de Santa Maria

ANÁLISE HIDROLÓGICA E HIDRÁULICA COMO BASE


NO MANEJO DE CURSOS DE ÁGUA
Autor: Gilberto Quevedo Rosa
Orientador: Fabrício Jaques Sutili
Data: Santa Maria, 10 de dezembro de 2014.

Nas últimas décadas análises hidrológicas e hidráulicas têm sido usadas como
ferramentas para compreensão do comportamento de sistemas hídricos, servindo
como subsídio no manejo de cursos de água, no dimensionamento de obras, na
prevenção de enchentes, entre outras finalidades. O presente trabalho tem por
objetivo empregar estas análises para compreender o comportamento do
escoamento superficial em um curso de água retificado, de modo a identificar e
caracterizar os seus problemas, para no final, propor soluções para o seu correto
manejo. Para a análise hidrológica foram primeiramente gerados dados no software
ArcMap 9.3, de onde foram levantadas as características morfométricas da bacia, e
depois foi determinada a intensidade da chuva de projeto com a curva IDF, e
estimada a vazão de projeto pelo Método Racional. Para a análise hidráulica do
canal, foi feito o seu levantamento topográfico, e depois digitalizados estes dados no
software AutoCAD 2010, onde se obtiveram os dados geométricos necessários para
calcular o comportamento da água nas seções consideradas. A análise hidrológica
indicou que esta bacia possui baixa potencialidade de produção de picos de
enchente, porém desenvolve rápida resposta a eventos pluviométricos intensos. Na
análise hidráulica se constatou que a água extravasa na parte canalizada do curso
de água, e também que a energia do fluxo ultrapassa a resistência do revestimento
do canal, o que causa a sua degradação, sendo necessário o uso de alguma forma
de intervenção, de Engenharia Hidráulica ou Engenharia Natural.

Palavras-chave: Caracterização morfométrica. Método racional. Renaturalização.


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Fórmulas para análise morfométrica de bacias hidrográficas.................26


Tabela 2 – Classificação da declividade segundo Embrapa (1979).........................27
Tabela 3 – Valores de coeficiente de escoamento recomendados
pelo SCS – USDA...................................................................................29
Tabela 4 – Parâmetros fisiográficos determinados para a Bacia da
Sanga Lambari........................................................................................35
Tabela 5 – Aspectos hidrológicos da bacia..............................................................36
Tabela 6 – Comportamento hidráulico das cinco primeiras seções.........................38
Tabela 7 – Condições hidráulicas da seção 1.........................................................39
Tabela 8 – Condições hidráulicas da seção 2.........................................................41
Tabela 9 – Condições hidráulicas da seção 3.........................................................43
Tabela 10 – Condições hidráulicas da seção 4.........................................................45
Tabela 11 – Condições hidráulicas da seção 5.........................................................47
Tabela 12 – Condições hidráulicas das demais seções do canal
considerando a vazão de projeto...........................................................49
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica da Sanga Lambari,


no município de São João do Polêsine, RS...........................................20
Figura 2 – Imagem da bacia hidrográfica da Sanga Lambari,
com seus cursos de água.......................................................................21
Figura 3 – Área urbana de Vale Vêneto atravessada pelo canal............................22
Figura 4 – Canalização feita com revestimento de pedra argamassada.................23
Figura 5 – Revestimento do canal em pedra argamassada....................................23
Figura 6 – Delimitação da bacia hidrográfica da Sanga Lambari............................32
Figura 7 – Mapa de declividade da bacia hidrográfica...........................................33
Figura 8 – Perfil longitudinal da Sanga Lambari......................................................34
Figura 9 – Aspecto da Sanga Lambari em vista superior........................................35
Figura 10 – Ponte de madeira que atravessa a Sanga Lambari...............................39
Figura 11 – Perfil transversal da seção 1..................................................................40
Figura 12 – Área ocupada pela água na seção 1 para a chuva de projeto..............40
Figura 13 – Perfil transversal da seção 2 .................................................................42
Figura 14 – Área ocupada pela água na seção 2 para a chuva de projeto...............42
Figura 15 – Perfil transversal da seção 3..................................................................44
Figura 16 – Área ocupada pela água na seção 3 para a chuva de projeto ..............44
Figura 17 – Perfil transversal da seção 4..................................................................46
Figura 18 – Área ocupada pela água na seção 4 para a chuva de projeto...............46
Figura 19 – Perfil transversal da seção 5 .................................................................48
Figura 20 – Área ocupada pela água na seção 5 para a chuva de projeto...............48
Figura 21 – Área de inundação da Sanga Lambari...................................................51
Figura 22 – Vista da área de estudo no sentido de jusante para montante..............51
Figura 23 – Modelagem tridimensional da área de estudo,
vista no sentido de jusante para montante.............................................52
Figura 24 – Vista da área de estudo no sentido de montante para jusante..............53
Figura 25 – Modelagem tridimensional da área de estudo,
vista no sentido de montante para jusante.............................................53
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................10
2 REVISÃO DE LITERATURA..............................................................................13
2.1 Bacia hidrográfica como unidade de planejamento...................................13
2.2 Escoamento superficial.................................................................................13
2.3 Morfometria da bacia hidrográfica...............................................................13
2.3.1 Área de drenagem e perímetro.....................................................................14
2.3.2 Comprimento do talvegue e perfil Longitudinal.............................................14
2.3.3 Ordem dos cursos de água...........................................................................15
2.3.4 Densidade de drenagem...............................................................................15
2.3.5 Fator de forma...............................................................................................15
2.3.6 Coeficiente de compacidade e/ou índice de circularidade............................16
2.3.7 Índice de sinuosidade e tipos de canais fluviais............................................17
2.3.8 Declividade média da bacia e do talvegue....................................................17
2.3.9 Tempo de concentração da bacia.................................................................18
2.4 Estimativa das vazões máximas...................................................................18
2.5 Comportamento hidráulico de cursos de água...........................................19
3 MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................20
3.1 Caracterização da área de estudo................................................................20
3.1.1 Localização geográfica..................................................................................20
3.1.2 Caracterização da Sanga Lambari................................................................21
3.1.3 Vegetação.....................................................................................................24
3.1.4 Clima.............................................................................................................24
3.1.5 Geologia, geomorfologia e solos...................................................................24
3.2 Equipamentos, dados e softwares usados..................................................25
3.3 Análise hidrológica da bacia.........................................................................25
3.4 Análise hidráulica do trecho canalizado......................................................30
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................32
4.1 Caracterização morfométrica da bacia hidrológica....................................32
4.2 Análise dos aspectos hidrológicos da bacia...............................................36
4.3 Comportamento hidráulico do canal............................................................37
4.3.1 Análise detalhada das primeiras cinco seções.............................................37
4.3.2 Análise das demais seções...........................................................................48
4.3.3 Modelagem tridimensional.............................................................................50
4.4 Sugestões para resolução dos problemas encontrados neste
estudo....................................................................................................................54
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................58
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................60
10

1 INTRODUÇÃO

As bacias hidrográficas são consideradas as unidades de planejamento mais


adequadas para a gestão de recursos hídricos, devido estas possuírem
características particulares que influenciam diretamente no comportamento que a
água apresenta dentro da área de drenagem. Santana (2003) afirma que a bacia de
drenagem se mostra uma unidade conveniente para se compreender a ação dos
processos hidrológicos e geomorfológicos e as ligações espaciais entre áreas
distintas, que podem afetar tanto o planejamento local como o planejamento
regional. A legislação brasileira também garante, do ponto de vista legal, através da
lei Nº 9.433, que instituiu o Plano Nacional de Recursos Hídricos, que a bacia
hidrográfica seja considerada a unidade territorial no manejo de recursos hídricos.
Utilizando a bacia como unidade de planejamento é possível alcançar o
entendimento dos processos hidrológicos, através de sua caracterização fisiográfica.
Segundo Silveira (2007) as informações fisiográficas de uma bacia são todos os
dados que podem ser extraídos de mapas, fotografias aéreas e imagens de satélite,
como: áreas, comprimentos, declividades e cobertura de solos medidos diretamente
ou expresso por índices. Durlo e Sutili (2014) comentam que o reconhecimento de
alguns destes fatores tem importância para a compreensão dos processos fluviais e
para o correto manejo dos cursos de água. Além de ser utilizada como base no
manejo dos cursos de água, a compreensão dos processos hidrológicos é essencial
em estudos de previsões e controle de enchentes e nos dimensionamentos de obras
hidráulicas.
A discussão das características físicas e funcionais das bacias hidrográficas
tem como objetivo proporcionar o conhecimento dos diversos fatores que
determinam a natureza de descarga de um rio, sendo este conhecimento importante
devido o fato de que através da avaliação dos parâmetros que condicionam essa
vazão, se possam fazer comparações entre bacias, podendo-se conhecer melhor os
fenômenos passados e fazer extrapolações, fazendo assim o aproveitamento dos
recursos hídricos de forma mais racional e com maiores benefícios para a sociedade
geral (Porto, 1999).
11

Segundo Cecílio e Reis (2006) o manejo de bacias hidrográficas é a


administração dos recursos naturais de uma área de drenagem, primariamente
voltado para a produção e proteção da água, incluindo o controle de erosão,
enchentes e a proteção dos aspectos estéticos associados com a presença da água.
Dentro deste conceito amplo de manejo de bacias, existe o manejo biotécnico
de cursos de água. Este compreende a construção de estruturas físicas com
materiais inertes combinados com material vegetal vivo, tendo como objetivo a
estabilização e/ou recomposição das encostas, áreas degradadas e das margens
das sangas, ravinas, arroios, córregos e rios (DURLO E SUTILI, 2014).
Segundo Maffra (2014) para dimensionar as intervenções em projetos de
Engenharia Natural são realizados os dimensionamentos hidrológicos, hidráulicos,
estruturais, geotécnicos e vegetacionais, sendo determinada então a forma de
intervenção, o tipo de material a ser utilizado, as dimensões, as configurações e o
conjunto de todos os elementos que constituem a intervenção.
Tanto no manejo dos cursos de água, como nos estudos de previsão e controle
de enchentes e no dimensionamento de obras hidráulicas, também são utilizados
métodos de transformação da chuva em vazão como o Método Racional, que utiliza
informações hidrológicas da bacia, como o tempo de concentração e coeficiente de
escoamento superficial para calcular uma vazão de projeto. Através desta, e do
conhecimento das condições hidráulicas do canal, se pode prever o comportamento
do curso de água, além disso verificar os eventuais problemas associados à sua
competência.
No Método Racional é assumido que o pico de vazão seja produzido por uma
determinada chuva que se mantém durante um tempo igual ou maior do que o
tempo de concentração da bacia hidrográfica, o que sugere que esta metodologia
seja válida principalmente para microbacias com área inferior a 10 km² (CHANG,
1982 apud LIMA, 2008). Para Collischon e Tassi (2008), este método deve ser
aplicado em bacias de até, aproximadamente, 2 km².
Para compreensão das condições hidráulicas dos cursos de água é necessário
entender como ocorre o escoamento da água em superfícies livres. Segundo Porto
(2006) os canais de escoamento podem ser naturais, como as pequenas correntes,
córregos, rios, estuários, entre outros, ou artificiais, de seção aberta ou fechada, que
são construídos pelo homem, como os canais de irrigação, de navegação,
aquedutos, galerias, entre outros. Ainda segundo Porto (2006), o estudo do
12

comportamento hidráulico destes canais é baseado em equações de resistência,


que ligam a perda de carga de um trecho à velocidade média, ou vazão, através de
parâmetros geométricos e da rugosidade do perímetro molhado, sendo a equação
de Manning a base de cálculo para os problemas sobre escoamentos livres.
A partir dessa abordagem conceitual, se compreende que o uso das análises
hidrológicas e hidráulicas como instrumento de planejamento justificam a sua
importância no manejo de cursos de água, contribuindo para a elucidação dos
processos hídricos que determinam o comportamento de rios, arroios, sangas,
canais, entre outros, e os seus problemas, podendo desta maneira, fazer as
intervenções necessárias para que se mantenha a estabilidade destes sistemas de
escoamento e a segurança das pessoas que residem nas suas áreas marginais.
Este trabalho tem como objetivos demonstrar a possibilidade dos usos da
análise hidrológica de uma microbacia, através da caracterização fisiográfica desta e
do cálculo da vazão de projeto; e realizar a análise hidráulica de um trecho
canalizado do curso de água principal da bacia, para que se possa compreender o
comportamento deste sistema hidrológico, com ênfase em alguns trechos de maior
interesse, como planícies de inundação e canalizações que passam por baixo de
edificações habitadas, prevendo os possíveis problemas que podem ocorrer e, ao
final, sugerir soluções apropriadas para o manejo do curso de água em estudo.
13

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Bacia hidrográfica como unidade de planejamento

Segundo Silveira (2007) a bacia hidrográfica é uma área onde ocorre a


captação natural da água da precipitação, que faz com que os escoamentos
convirjam para um único ponto de saída, sendo esta formada por um conjunto de
superfícies vertentes, nos quais escoam a água precipitada, e por uma rede de
drenagem constituída por cursos de água que confluem até resultar em um único
leito no exutório.
A bacia hidrográfica é tradicionalmente considerada como a unidade fisiográfica
mais conveniente para o planejamento dos recursos hídricos, por constituir-se em
sistema aberto de fluxo hídrico a montante do ponto onde a vazão do curso principal
é medida. Portanto, o comportamento hidrológico da bacia hidrográfica pode ser
avaliado através dos atributos fisiográficos inerentes à sua área e aferido através de
registros fluviométricos (ROCHA, 2008).

2.2 Escoamento superficial

O escoamento superficial é o fator mais importante do ciclo hidrológico em


termos de drenagem, pois este trata da ocorrência e transporte de água na
superfície terrestre, estando associado à maioria dos estudos hidrológicos
(YOSHIZANE, 2003).

2.3 Morfometria da bacia hidrográfica

Segundo Lima (2008) o comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica


depende das suas características morfológicas, como a área, a forma, a topografia,
a geologia, o solo, a cobertura vegetal, entre outros, sendo necessária a
caracterização da bacia em termos quantitativos para se entender as inter-relações
14

existentes entre esses fatores de forma e os processos hidrológicos de uma bacia


hidrográfica.
As características físicas de uma bacia são elementos muito importantes no
seu comportamento hidrológico, havendo a correspondência entre o regime
hidrológico e estes elementos, que ao se estabelecerem as relações e comparações
entre eles e os dados conhecidos, pode-se determinar indiretamente os valores
hidrológicos em seções ou locais de interesse nos quais faltem dados ou em regiões
onde não seja possível a instalação de redes hidrométricas (VILLELA E
MATTOS,1975).
O movimento da água depende fundamentalmente da morfometria da bacia,
devido esta constatação, o seu conhecimento é fundamental para o estabelecimento
de estratégias de manejo (SOARES, 2000 apud MORA, 2008).

2.3.1 Área de drenagem e perímetro

Para Villela e Mattos (1975), a área da bacia é o elemento básico para o


cálculo das outras características físicas. Segundo Yoshizane (2003) a área é
determinada topograficamente ou planimetricamente, acompanhando os espigões e
fechando sempre ortogonalmente às curvas de nível em direção ao “ponto do
projeto”.

2.3.2 Comprimento do talvegue e perfil longitudinal

Christofoletti (1980) define o comprimento do talvegue como sendo a


distância ao longo do curso de água desde a desembocadura até determinada
nascente.
Collischon e Tassi (2008) consideram o comprimento da drenagem principal
como uma característica fundamental da bacia hidrográfica, devido este estar
relacionado ao tempo de viagem da água ao longo de todo o sistema.
Para Durlo e Sutili (2014) a forma do perfil longitudinal de um curso de água
correlaciona-se de forma segura com as suas demais características fisiográficas e
hidráulicas, e consequentemente relaciona-se com os processos fluviais. Os autores
15

ainda afirmam que o perfil longitudinal do leito merece maior destaque devido à sua
importância para o entendimento dos fenômenos que interessam ao manejo
biotécnico dos cursos de água.

2.3.3 Ordem dos cursos de água

A ordem dos rios é uma classificação que reflete o grau de ramificação dentro
de uma bacia.
Silveira (2007) destaca como critérios de ordenamento da rede de drenagem
propostos por Horton (1945) e Strahler (1957). O sistema mais utilizado é o proposto
por Strahler, onde é evitada a subjetividade de classificação de nascente, sendo
todos os canais sem tributários de 1ª ordem, mesmo sendo nascentes dos rios
principais e afluentes, os canais de 2ª ordem resultam da confluência de dois canais
de 1ª ordem, os canais de 3ª ordem sendo formados pela confluência de dois canais
de 2ª ordem, e assim sucessivamente.
De acordo com Durlo e Sutili (2014), a hierarquia fluvial é um dado que pode
ser facilmente visualizado, sendo útil para situar o curso de água, dentro de sua rede
de drenagem ou esta última em relação às outras.

2.3.4 Densidade de Drenagem

Segundo Silveira (2007) a densidade de drenagem é definida como sendo a


razão entre o comprimento total dos canais e a área da bacia hidrográfica. Lima
(2008) considera este índice importante, pois reflete a influência da geologia,
topografia, do solo e da vegetação da bacia hidrográfica, e está relacionado com o
tempo gasto para a saída do escoamento superficial da bacia.

2.3.5 Fator de forma

Segundo Villela e Mattos (1975) a forma superficial de uma bacia hidrográfica


é importante pois está relacionada com o seu tempo de concentração, indicando a
16

maior ou menor tendência para enchentes de uma bacia, onde uma bacia com um
fator de forma baixo é menos sujeita a enchentes que outra de mesmo tamanho,
porém com maior fator de forma.
Estes autores explicam que isso ocorre devido ao fato de que numa bacia
estreita e longa, com fator de forma baixo, há menos possibilidade de ocorrência de
chuvas intensas cobrindo simultaneamente toda sua extensão; e também, numa tal
bacia, a contribuição dos tributários atinge o curso de água principal em vários
pontos ao longo do mesmo, afastando-se, portanto, da condição ideal da bacia
circular, na qual a concentração de todo o deflúvio da bacia se da num só ponto.
Segundo Lima (2008) a forma é uma das características físicas mais difíceis
de ser expressas em termos quantitativos. A forma da bacia, bem como a forma do
sistema de drenagem, pode ser influenciada por algumas outras características da
área, principalmente a geologia, além de atuar em processos hidrológicos ou no
comportamento hidrológico da bacia.

2.3.6 Coeficiente de compacidade e/ou índice de circularidade

Segundo Villela e Mattos (1975), o Coeficiente de Compacidade (Kc) é a


relação entre o perímetro da bacia e a circunferência de um círculo de área igual à
da bacia.
Os autores também afirmam que este coeficiente é um número adimensional
que varia com a forma da bacia, independentemente de seu tamanho; quanto mais
irregular for a bacia, tanto maior será o coeficiente de compacidade. Um coeficiente
mínimo igual à unidade corresponderia a uma bacia circular. Se os outros fatores
forem iguais, a tendência para maiores enchentes é tanto mais acentuada quando
mais próximo da unidade for o valor desse coeficiente.
Simultaneamente ao coeficiente de compacidade, o índice de circularidade
tende para unidade à medida que a bacia aproxima-se da forma circular e diminui à
medida que torna-se alongada (TEODORO et al., 2007).
17

2.3.7 Índice de sinuosidade e tipos de canais fluviais

O índice de sinuosidade descreve a relação entre o comprimento do canal


principal (L) e o comprimento do talvegue (Lt), que segundo Villela e Mattos (1975) é

um fator controlador da velocidade do escoamento.


Durlo e Sutili (2014) relatam que este índice presta-se tanto para distinguir os
trechos retilíneos dos sinuosos, quanto para ser usado como fator de comparação
entre estes.
Segundo Christofoletti (1980) a fisionomia apresentada por um curso de água
ao longo de seu perfil longitudinal, vista de uma perspectiva superior, podem ser do
padrão retilíneo, meandrante e anastomosado, sendo esses padrões resultantes do
ajuste do canal à sua seção transversal.

2.3.8 Declividade média da bacia e do talvegue

A declividade do terreno é expressa como a variação de altitude entre dois


pontos do terreno, em relação à distância que os separa (TONELLO, 2005).
Segundo Lima (2008) a declividade média de uma bacia hidrográfica é
característica importante no que diz respeito à taxa ou à velocidade do fluxo de água
ao longo do canal, bem como ao tempo de residência da água na bacia, podendo
ser facilmente obtida em mapa planialtimétrico, medindo a diferença de elevação
entre dois pontos ao longo do canal principal.
Villela e Mattos (1975) indicam que a declividade de um curso de água, entre
dois pontos, pode ser obtida dividindo a diferença total de elevação do leito pela
extensão horizontal do curso de água entre esses dois pontos.
De acordo com Collischonn e Tassi (2008) a declividade média da bacia e do
curso de água principal também são características que afetam diretamente o tempo
de viagem da água ao longo do sistema, sendo reduzido o tempo de concentração
de uma bacia com o aumento da declividade.
18

2.3.9 Tempo de concentração da bacia

Segundo Lima (2008) o tempo de concentração da bacia pode ser definido


como o tempo gasto para a água fluir desde o ponto mais remoto até a saída da
bacia hidrográfica, o que significa que uma vez atingido este tempo de
concentração, teoricamente toda a bacia hidrográfica estaria contribuindo para o
deflúvio.
Dessa forma, o conhecimento do tempo de concentração é fundamental para
a determinação da máxima vazão que ocorre em um determinado ponto da bacia
após o início da chuva.
Existem diversas fórmulas para calcular o tempo de concentração em função
das características da bacia (área, declividade, comprimento do talvegue,
rugosidade das superfícies e outras) e, eventualmente, da intensidade da chuva.

2.4 Estimativa das vazões máximas

Quando não se possuem as medições das vazões das bacias hidrográficas, é


comum a utilização de um método de estimativa baseado em dados de chuva, que
são transformados em vazão, destes métodos o mais simples é conhecido como
método racional (COLLISCHONN E TASSI, 2008).
Segundo Zanetti (2007) o método racional permite que seja determinada a
vazão máxima de escoamento superficial a partir de dados de precipitação em
pequenas bacias hidrográficas, considerando-se que a vazão máxima, provocada
por uma chuva de intensidade uniforme, ocorre quando toda a bacia contribui ao
mesmo tempo com o escoamento na seção de deságue.
Segundo Eltz et al. (1992) para estimar a vazão de projeto pelo método
Racional, são necessárias as curvas IDF (Intensidade – Duração – Frequência).
Pela equação IDF se faz uma estimativa da precipitação que atinge uma
determinada área em uma duração de tempo, com uma dada probabilidade de
ocorrência em um ano qualquer,e são obtidas a partir da análise estatística de séries
longas de dados de um pluviógrafo (COLLISCHONN E TASSI, 2008).
A intensidade da chuva de projeto é calculada para o tempo de retorno
escolhido para o estudo. Este período de retorno é o período de tempo médio que
19

um determinado evento hidrológico é igualado ou superado pelo menos uma vez,


sendo um parâmetro fundamental para a avaliação e projeto de sistemas hídricos, e
devendo ser estabelecido através dos seguintes critérios: bom senso, custos das
obras e prejuízos finais (TOMAZ, 2010).

2.5 Comportamento hidráulico de cursos de água

Os cursos de água existentes na natureza são classificados como canais


naturais, e constituem o melhor exemplo de condutos livres, porém além destes,
também funcionam como condutos livres os coletores de esgotos, as galerias de
água pluviais, os túneis-canais, as calhas, canaletas, entre outros (PIZA, 2013).
Para compreender as condições hidráulicas dos cursos de água é necessário
entender como ocorre o escoamento da água em superfícies livres.
Segundo Porto (2006) o estudo do comportamento hidráulico destes canais é
baseado em equações de resistência que ligam a perda de carga de um trecho à
velocidade média, ou vazão, através de parâmetros geométricos e da rugosidade do
perímetro molhado, sendo a equação de Manning a base de cálculo para os
problemas sobre escoamentos livres.
20

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Caracterização da área de estudo

3.1.1 Localização Geográfica

O presente estudo foi realizado na bacia hidrográfica da Sanga Lambari,


localizada entre os paralelos 29°39’15” e 29° 38’ 35” Sul e os meridianos 53° 32’ 39”
e 53° 31’ 40” Oeste, situados entre os municípios de Silveira Martins e São João do
Polêsine, no estado do Rio Grande do Sul. A bacia insere-se na Região Hidrográfica
do Guaíba, pertencendo a bacia hidrográfica do Vacacaí e Vacacaí-mirim. É afluente
de 2ª ordem do Arroio Divisa, tendo seu ponto de controle localizado nas
coordenadas 29°39’08” Sul e 53° 31’ 41” Oeste, na parte urbana do Distrito de Vale
Vêneto.

Figura 1- Localização da bacia hidrográfica da Sanga Lambari, no município de São


João do Polêsine, RS
21

3.1.2 Caracterização da Sanga Lambari

A Sanga Lambari é o curso de água principal da bacia hidrográfica estudada.


Apresenta uma fisionomia retilínea, e possui um fluxo contínuo de água, sendo
classificada como um curso de água perene, que significa que é um curso de água
que possui escoamento permanente, independente das estações do ano ou regimes
de precipitação.
Este curso de água nasce em uma área de floresta no Planalto da Serra
Geral, e se desenvolve em uma das encostas deste planalto, caracterizado pela
presença de mata ciliar em sua maior parte (Figura 2).

Figura 2 - Imagem da bacia hidrográfica da Sanga Lambari, com seus cursos de


água

Na região que a Sanga Lambari se aproxima da parte urbana de Vale Vêneto,


foi realizada a retificação e canalização do curso de água, num comprimento
aproximado de 250 metros, não apresentado por isso a presença de meandros.
22

Neste trecho também não há presença de mata ciliar (Figura 3). Possivelmente, o
objetivo desta retificação e canalização foi aumentar a velocidade de escoamento de
forma a evitar temporariamente a inundação das áreas adjacentes.

Figura 3 - Área urbana de Vale Vêneto atravessada pelo canal

A canalização foi feita com revestimento de pedra argamassada nas paredes


e no fundo do leito do curso de água, conforme se pode observar nas Figuras 4 e 5.
Nas proximidades da seção de controle, localizada junto à ponte de madeira (ponto
de referência) que atravessa a Sanga Lambari, esse canal é totalmente retilíneo,
suas margens são vegetadas por gramíneas e existem algumas edificações.
23

Figura 4 - Canalização feita com revestimento de pedra argamassada

Figura 5 - Revestimento do canal em pedra argamassada


24

3.1.3 Vegetação

A vegetação natural da área de estudo pertence à Floresta Estacional


Decidual, estando segmentada nas formações Montana e Submontana. Esta
formação vegetal cobre cerca de 73% da bacia hidrográfica em questão.

3.1.4 Clima

O clima desta região do Estado se enquadra em temperado chuvoso e quente


do tipo Cfa, segundo a classificação de Köppen (Moreno, 1961), com temperatura
média anual mínima de 14ºC e máxima de 25ºC. A média anual de precipitação é de
1.600mm, não ocorrendo estação seca definida.

3.1.5 Geologia, geomorfologia e solos

A bacia hidrográfica está localizada no domínio morfoestrutural dos Depósitos


Sedimentares, dentro da região geomorfológica do Planalto das Araucárias, onde se
divide em duas unidades geomorfológicas: Planalto dos Campos Gerais e
Patamares da Serra Geral. A sanga Lambari tem sua nascente no Planalto dos
Campos Gerais e desenvolve o resto de seu curso nos Patamares da Serra Geral.
Esta bacia hidrográfica abrange três formações geológicas. As suas áreas
mais elevadas e as partes de maior inclinação são constituídas pela Formação Serra
Geral, e as áreas dos patamares são constituídas pelas Formações Botucatu e
Rosário do Sul.
Os solos mais encontrados nesta bacia são: Podzólico Bruno-Acizentadoálico
nas áreas mais elevadas e nas de maior inclinação, e Podzólico Vermelho-Escuro
álico e distrófico Tb abrúptico A, e Podzólico Vermelho-Amarelo álico Tb A, nos
patamares.
25

3.2 Equipamentos, dados e softwares usados

Para a realização do estudo foram utilizados os seguintes softwares


computacionais:
- Microsoft Office Excel;
- Microsoft Office Word;
- Spring 5.2.6;
- ArcMap 9.3;
- AutoCAD 2010;
- Google Earth.
Foram utilizadas imagens de diferentes fontes, as quais estão listadas a
seguir:
- Carta Topográfica digitalizada de Camobi - SE, RS, Folha SH.22-V-C-IV/2-
SE, elaborada pela Diretoria de Serviço Geográfico (DSG) do exército;
- Imagem 2225404 do Sensor RapidEye, de 11/09/2013, cedida pelo
Laboratório de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Santa Maria;
- Imagens do Google Earth (2006).
No levantamento de dados a campo foram utilizados os seguintes
equipamentos: clinômetro analógico, mangueira de nível, régua graduada e trena.

3.3 Análise hidrológica da bacia

Para a realização da caracterização hidrológica da bacia, foram gerados


dados no software ArcMap 9.3, utilizando como base a carta topográfica digitalizada
de Camobi - SE, RS, folha SH.22-V-C-IV/2- SE e a imagem 2225404 do sensor
RapidEye, de 11/09/2013, além de imagens do Google Earth (2006).
Foram levantadas e determinadas as seguintes informações para análise
morfométrica da bacia: área de drenagem, perímetro, comprimento do talvegue,
ordem dos cursos de água, equivalente vetorial, densidade de drenagem, fator de
forma, coeficiente de compacidade, índice de circularidade, índice de sinuosidade,
padrão de drenagem, declividade média da bacia, declividade média do talvegue e
tempo de concentração da bacia.
26

O processo de delimitação da bacia hidrográfica foi desenvolvido de forma


manual no software ArcMap 9.3, utilizando as curvas de nível da carta topográfica,
onde o traçado da bacia foi realizado ligando as cotas de maior valor no entorno da
rede hidrográfica do estudo, sendo criado um shapefile desta bacia. A partir deste,
foi criada uma tabela de atributos, onde foi calculada com a ferramenta
CalculateGeometry a área e o perímetro da bacia.
Também de forma manual, foram vetorizados o talvegue e o contribuinte, e foi
traçado o equivalente vetorial, ligando a nascente mais distante à seção de controle
do estudo. Com estes vetores, foi possível calcular os comprimentos do talvegue, do
contribuinte e do equivalente vetorial, com a mesma ferramenta CalculateGeometry
do software ArcMap 9.3.
Com estas informações obtidas no software ArcMap 9.3 foi possível calcular
os demais dados para a análise morfométrica da bacia com suas respectivas
fórmulas, que são descritas na Tabela 1.

Tabela 1 - Fórmulas para análise morfométrica de bacias hidrográficas

Dados Fórmula Componentes


L = comprimento total de todos os
Densidade de L
𝐷𝑑 = canais (km)
drenagem (Dd) A
A = área da bacia hidrográfica (km²)
A = área da bacia (km²)
Fator de forma A
𝐾𝑓 = L = comprimento do curso de água
(Kf) 𝐿2
principal (km)

Índice de P P = perímetro da bacia (km)


𝐾𝑐 = 0,28 .
Compacidade(Kc) √A A = área da bacia (km²)

Índice de A A = área da bacia (km²)


𝐼𝐶 = 12,57 ∗
Circularidade(IC) P² P = perímetro da bacia (km)
L = comprimento do curso de água
Índice de L principal (km)
𝐼𝑠 =
sinuosidade (Is) Ev Ev = equivalente vetorial (km)
Continua...
27

Tabela 1 - Continuação.
Dados Fórmula Componentes
L = comprimento do curso de água

0,385
principal (km)
L3
Tempo de 𝑇𝑐 = 57 . dH = diferença de altitude em metros
dH
Concentração (Tc) ao longo do curso de água principal
(m)

dH = diferença de altitude ao longo do


curso de água principal (m)
Declividade média do dH .
𝐷𝑡% = . 100 dL = comprimento do curso de água
talvegue (Dt%) dL
principal (m)

Também foi gerado um mapa de declividade a partir das curvas de nível da


carta do exército. As classes de declividades geradas neste tema foram
reclassificadas em seis intervalos distintos sugeridos pela Embrapa (1979), como
mostra a Tabela 2. Esta operação foi realizada utilizando a técnica de reclassificação
disponível na extensão SpatialAnalyst do software ArcMap 9.3. Nesta operação
também se obteve o valor da declividade média da bacia.

Tabela 2 - Classificação da declividade segundo Embrapa (1979)

Declividade (%) Discriminação


0-3 Relevo plano
3-8 Relevo suave ondulado
8 - 20 Relevo ondulado
20 - 45 Relevo forte ondulado
45 - 75 Relevo montanhoso
> 75 Relevo forte montanhoso
Fonte: EMBRAPA (1979)
28

Para verificar a variação da declividade do curso de água (Sanga Lambari)


desde sua nascente até a seção de controle considerada, gerou-se no software
Excel a representação gráfica do perfil longitudinal.
Este perfil foi gerado demonstrando a altitude no eixo das ordenadas, sendo
as leituras fixadas de acordo com a notação das curvas de nível disponíveis. Neste
caso, as curvas foram obtidas da carta topográfica do exército, sendo colocado no
eixo das abscissas o somatório das distâncias percorridas pelo curso de água entre
cada cota.
Após ser feita esta caracterização morfométrica, foram determinados alguns
aspectos hidrológicos importantes para estimar o volume que poderá ser drenado
nesta bacia. Para isto, se considerou um tempo de retorno de 25 anos. Este valor foi
escolhido após realizados cálculos iniciais para diversos tempos de retorno, onde se
observou que a partir do tempo de retorno de 25 anos, pouca variação era obtida
como resposta da intensidade de chuva de projeto. Também foi levado em
consideração que os possíveis impactos que podem ocorrer na canalização da
Sanga Lambari, são de baixa magnitude, sendo recomendado nas Diretrizes de
projeto para estudos hidrológicos da Secretaria de Vias Públicas do município de
São Paulo, o uso de períodos de retorno de 25 anos nestes casos.
Primeiramente, foi estimada a intensidade da chuva de projeto com a curva
IDF (intensidade - duração - frequência) da região de Santa Maria (ELTZ,1992):

807,801 . Tr0,1443
I= -0,0280
(t + 5,67)0,742 . Tr

Onde:
t = tempo de concentração
Tr = tempo do retorno

Para se estimar a vazão de projeto, foi o utilizado o método racional, o qual é


indicado para bacias com área menor que 2 km2 (Collischon e Tassi). Este é
calculado pela seguinte fórmula:
ciA
Q=
3,6
29

Onde:
Q = vazão (m3/s)
c = coeficiente de escoamento superficial
i = intensidade da chuva de projeto (mm/h)
A = área da bacia (km²)

O coeficiente de escoamento superficial representa a relação entre o volume


total escoado e o volume total precipitado. Neste trabalho foi utilizado um ''c''
ponderado devido o fato de existirem diferentes tipos de superfícies na área de
estudo. Os valores utilizados para cada superfície foram recomendados pelo SCS -
USDA (PRUSKI, 2004) conforme podemos verificar na tabela 3.

Tabela 3 – Valores de coeficiente de escoamento recomendados pelo SCS – USDA

Superfície Coeficiente de escoamento superficial


Estrada 0,7
Mata 0,4
Prado 0,5
Área urbana 0,9
Agricultura 0,3
Fonte: Escoamento superficial. Pruski (2004)

Para o cálculo deste coeficiente ponderado também foi necessário conhecer a


área de cada superfície. Para isto, foi feita uma classificação no software SPRING
5.2.6 e posteriormente foi estimada a área de cada classe. Com estes dados foi feita
uma média ponderada onde se obteve o coeficiente de escoamento superficial
utilizado no cálculo da vazão.
30

3.4 Análise hidráulica do trecho canalizado

Foram analisadas as condições hidráulicas da parte canalizada do curso de


água, com ênfase nas proximidades da seção de controle, objetivando-se a
descrição do comportamento apresentado pela água nestes lugares em função das
características da geometria das seções, da rugosidade do fundo, leito e dos taludes
e da inclinação do leito.
Foi realizado então um levantamento topográfico do canal para a obtenção de
seus dados geométricos. Neste levantamento foram medidas com auxílio de
clinômetro, mangueira de nível, régua graduada e trena, várias seções transversais
e também o perfil longitudinal do canal.
Os dados geométricos do canal foram digitalizados no software AutoCAD
2010, sendo desenhadas todas as seções medidas e o perfil longitudinal do canal.
Com estes dados digitalizados, foi possível obter as áreas de cada seção transversal
para que posteriormente fossem utilizadas nos cálculos que descrevem o
comportamento do fluxo de água. Nesta verificação foi utilizado o princípio de canais
de seções compostas, pois foi observado, nos cálculos iniciais, que o canal
extravasa em certas seções quando simulada a passagem de grandes vazões.
Foram então desenhados inicialmente os retângulos que normalmente representam
a área do canal artificial e, posteriormente, traçados trapézios formados pelos
taludes das seções.
Estes cálculos foram realizados utilizando a Equação de Manning, descrita
por Porto(1999) como:

1 1 2
Qad = v. Am = 𝐼 2 . 𝑅ℎ3 . 𝐴𝑚
n

Onde:
Qad = vazão admissível (m3/s)
v = velocidade do escoamento (m/s)
Am = área molhada da seção transversal (m2)
n = coeficiente de rugosidade de Manning (s.m1/3)
I = inclinação do fundo do leito (m/m)
Rh = raio hidráulico da seção transversal (m)
31

O raio hidráulico foi descrito pela seguinte fórmula:

Am
Rh = Pm

Onde:
Am = área molhada da seção transversal (m2)
Pm = perímetro molhado (m)

Devido algumas seções transversais levantadas serem formadas por


diferentes superfícies, o coeficiente de rugosidade (n) foi calculado utilizando o
coeficiente de Manning equivalente, descrito por Porto (1999) como:

N
i=1 Pi . ni 3/2 2/3
ne = [ ]
P
Onde:
ne = rugosidade equivalente
P = perímetro molhado total
N = número de subseções

Após ser calculada a vazão admissível (Qad) para cada seção transversal, foi
verificado se estas comportariam a vazão de projeto calculada no estudo hidrológico
da bacia.
Próximo a seção de controle foram feitas análises detalhadas, onde se
estimaram as cotas de inundação alcançadas com a vazão de projeto. Com os
dados geométricos das primeiras cinco seções e suas respectivas cotas de altura
máxima foram criados, no AutoCAD 2010, perfis transversais destas seções e uma
modelagem tridimensional da área das mesmas, ilustrando os perfis transversais,
edificações e a possível área atingidas pela inundação. Para as demais seções (a
montante) se analisou apenas o comportamento da água dentro do canal artificial,
onde foi observado se estas seções comportariam a vazão de projeto.
32

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos nos


procedimentos realizados no trabalho e são sugeridas algumas soluções para a
resolução dos problemas encontrados.

4.1 Caracterização morfométrica da bacia hidrológica

Como se pode observar na Figura 6, a bacia hidrográfica estudada apresenta


uma área de 1,12 km2, com um perímetro total de 4,77 km. Esta possui um curso de
água principal de 1,92 km e um contribuinte de 0,76 km, sendo, portanto, de 2ª
ordem.

Figura 6 - Delimitação da bacia hidrográfica da Sanga Lambari


33

No Mapa de Declividade (Figura 7) pode-se observar que a bacia apresenta


desde áreas com relevo plano até áreas de relevo forte montanhoso, possuindo uma
declividade média de 32%.

Figura 7 - Mapa de declividade da bacia hidrográfica

A Figura 8 mostra o perfil longitudinal do curso de água, apresentando uma


variação de altitude de 295 metros no decorrer do percurso de 1,92 km de extensão
longitudinal da Sanga, o que resulta em uma inclinação média de 15,38%.
34

500
h (m)
450
400
350
300
250
200
150
100
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
L(m)

Figura 8 - Perfil longitudinal da Sanga Lambari

O índice de circularidade e o coeficiente de compacidade são


respectivamente de 0,62 e 1,26, o que demonstra que esta bacia possui uma forma
alongada, indicando uma menor potencialidade de produção de picos elevados de
enchentes. Além disso, o fator de forma da bacia é igual a 0,30, o que confirma
baixa potencialidade de produção desses picos.
A densidade de drenagem é de 2,38 km/km2. Segundo as classificações de
Christofoletti (1969), a bacia pode ser classificada como de baixa densidade de
drenagem. Também pela classificação de Villela e Mattos (1975), a bacia é
classificada como sendo de baixa capacidade de drenagem, o que indica que o
sistema hidrográfico tem pouco volume de escoamento fluvial.
O índice de sinuosidade é de 1,12, o que mostra que a sanga apresenta uma
fisionomia retilínea, conforme representada na Figura 9.
35

Figura 9 - Aspecto da Sanga Lambari em vista superior

O tempo de concentração foi estimado em 13,54 minutos, o que indica uma


rápida resposta da bacia a um evento pluviométrico.
A tabela 4 apresenta os principais dados levantados nessa primeira etapa do
trabalho.

Tabela 4 - Parâmetros fisiográficos determinados para a Bacia da Sanga Lambari

Parâmetro Dimensões
Área de drenagem 1,12 km²
Perímetro 4,77 km
Comprimento do curso de água principal 1,92 km
Comprimento do contribuinte 0,76 km
Ordem dos cursos de água 2ª
Continua...
36

Tabela 4 - Continuação.
Parâmetro Dimensões
Densidade de Drenagem 2,38 km-1
Equivalente Vetorial 1,71 km
Fator de forma 0,30
Coeficiente de Compacidade 1,26
Índice de Circularidade 0,62
Índice de Sinuosidade 1,12
Padrão de drenagem Reto
Declividade média da bacia 31,97%
Declividade média do talvegue 15,38%
Tempo de Concentração da bacia 13,53 min

4.2 Análise dos aspectos hidrológicos da bacia

Na tabela 5 são apresentados os resultados obtidos da Intensidade da Chuva


de Projeto (I) e da Vazão de Projeto (Q):

Tabela 5 – Aspectos hidrológicos da bacia

Tempo de Intensidade da Chuva de Vazão de projeto


Retorno(anos) Projeto(mm/h) (m3/s)
25 173,28 23,26

O coeficiente de escoamento superficial estimado foi de 0,43, mostrando que


cerca de 43% de uma precipitação que ocorre na bacia poderá contribuir
diretamente para o fluxo do curso de água no ponto de controle.
37

4.3 Comportamento hidráulico do canal

4.3.1 Análise detalhada das primeiras cinco seções

A rugosidade equivalente foi calculada para cada uma destas cinco seções,
sendo encontrados valores muito próximos, que quando arredondados para três
casas decimais resultaram todos no valor de 0,016.
A Tabela 6 mostra os resultados encontrados na análise do comportamento
hidráulico da parte canalizada da Sanga Lambari, para as cinco seções iniciais.
A vazão admissível média que é suportada nessa parte do canal é de 5,83
m³/s, sendo o valor mínimo encontrado na seção 4, onde a Qad é igual a 3,16 m³/s,
e o valor máximo encontrado da seção 3, onde o Qad é igual a 11,58 m3/s.
Como os valores adotados de rugosidade equivalente foram os mesmos para
estas cinco seções, as características que determinam o Qad são a geometria da
seção e a inclinação do leito, sendo esta última a principal determinante da
capacidade das mesmas.
A seção 3, que suporta a maior vazão admissível, possui a segunda maior
área molhada (1,23 m²) e o segundo maior raio hidráulico (0,39 m). A inclinação de
0,080 m/m que foi o fator determinante para que esta fosse a seção de maior
capacidade de escoamento. Assim, a seção 5, que possui a maior área molhada e o
maior raio hidráulico, apenas possui a segunda maior capacidade de vazão devido à
sua inclinação baixa, de 0,015 m/m.
A seção 4, que suporta a menor vazão admissível, possui a terceira maior
área molhada (1,01 m²) e o terceiro maior raio hidráulico (0,35 m), mas por possuir a
menor inclinação (0,01 m/m) é a seção de menor capacidade de vazão.
Como a vazão de projeto é de 23,26 m³, a água irá extravasar a área nesta
parte canalizada da Sanga em todas as seções (1 até 5), invadindo as áreas de
seus taludes.
Outro problema é constatado ao se analisar os resultados encontrados no
estudo do comportamento hidráulico das primeiras 5 seções, a alta velocidade
alcançada, com média de 5,39 m/s. Segundo a Secretaria de Estado de Energia,
Recursos Hídricos e Saneamento de São Paulo, a velocidade máxima admissível
para que seja evitada a erosão em canais revestidos de pedra argamassada é de
38

3,00 m/s, então é provável que o revestimento do canal seja danificado pelo
processo de erosão causado pelo excesso de velocidade da água.

Tabela 6 - Comportamento hidráulico das cinco primeiras seções

Canal b y Am Pm n I Rh v Q ad
artificial
(m) (m) m² (m) (s.m1/3) (m/m) (m) (m/s) (m³/s)
Seção 1 1,34 0,65 0,87 2,64 0,016 0,040 0,33 5,97 5,19
Seção 2 1,34 0,65 0,87 2,64 0,016 0,020 0,33 4,22 3,68
Seção 3 1,46 0,84 1,23 3,14 0,016 0,080 0,39 9,45 11,58
Seção 4 1,58 0,64 1,01 2,86 0,016 0,010 0,35 3,12 3,16
Seção 5 1,59 0,83 1,32 3,25 0,016 0,015 0,41 4,20 5,54
Média 0,033 0,36 5,39 5,83
onde: b, base; y, altura; Am, área molhada; n, coeficiente de rugosidade; I, inclinação do leito; Rh,
raio hidráulico; v, velocidade de fluxo; Qad, vazão admissível.

A seguir serão apresentados os resultados detalhados obtidos na verificação


do comportamento hidráulico das primeiras 5 seções transversais, levando em
consideração o princípio de canais de seções compostas, onde foram desenhados
inicialmente os retângulos representando a área na qual a sanga é canalizada e,
posteriormente, foram traçados os trapézios formados pelos taludes das seções.

Seção 1

A seção 1 foi considerada como a seção de controle para delimitação da


bacia hidrográfica neste estudo. Ela está localizada junto à ponte de madeira (ponto
de referência) que atravessa a Sanga Lambari (Figura 10).
39

Figura 10 - Ponte de madeira que atravessa a Sanga Lambari

Três figuras geométricas foram traçadas para se projetar o comportamento


que a água terá nesta seção para a chuva de projeto (Tabela 7). O retângulo A,
representando a parte canalizada da sanga, que suporta uma vazão de 5,20 m³. Os
trapézios A e B, que representam as áreas formadas pelos taludes da sanga,
suportam, respectivamente, 7,33 m³ e 62,67 m³. Como a vazão de projeto é de
23,26 m³, a água deverá ocupar toda a área do retângulo A mais a do Trapézio A e
ainda uma pequena parte do Trapézio B (10,73 m³).

Tabela 7 - Condições hidráulicas da seção 1

Elemento B b y m1 m2 Am Pm I Rh v Qad
(m) (m) (m) (m/m) (m/m) m² (m) (m/m) (m) (m/s) (m³/s)
Ret A 1,34 0,65 0,87 2,64 0,04 0,33 5,97 5,2
Trap A 8,18 1,34 0,35 14,03 5,26 1,69 8,22 0,04 0,21 4,35 7,33
Trap B 26,04 8,18 0,54 22,96 5,26 9,32 23,61 0,04 0,39 6,73 62,67
onde: B, base maior; b, base menor; y, altura; m1 e m2, inclinações dos taludes; Am, área molhada;
Pm, perímetro molhado; I, inclinação do leito; Rh, raio hidráulico; v, velocidade de fluxo; Qad, vazão
admissível; Ret, retângulo; Trap, trapézio.
40

Com isso, a água deve alcançar a cota de inundação de 1,15 m em relação


ao leito da sanga, se estendendo 8,71 m na margem direita e 2,63 m na margem
esquerda (Figura 11). Essa distribuição da água, predominantemente na margem
direita, se deve ao fato deste talude ter uma inclinação bem inferior ao talude
esquerdo. Como neste ponto, não existe a ocupação por edificações e a área não é
utilizada para nenhuma atividade, a possível inundação não trará grandes prejuízos
na seção.

Figura 11 - Perfil transversal da seção 1

Figura 12 - Área ocupada pela água na seção 1 para a chuva de projeto


41

Seção 2

A segunda seção analisada está localizada 5 metros a montante da seção 1.


Nesta projeção foram utilizadas quatro figuras geométricas para se estimar o
comportamento que a água terá na seção considerando-se a chuva de projeto.
As áreas da seção não foram suficientes para comportar a vazão de projeto
de 23,26 m³ (Tabela 8). Não foram projetadas mais figuras porque os dados
topográficos foram levantados apenas do terreno por onde corre a Sanga Lambari, e
como o principal objetivo desse tópico era conhecer a altura de inundação nesse
terreno, não se considerou necessário um novo levantamento topográfico que
medisse áreas além da utilizada no estudo.
O retângulo A, representando a parte canalizada da sanga, suporta uma
vazão admissível de 3,68 m³. Os trapézios A, B e C, que representam as áreas
formadas pelos taludes da sanga, suportam respectivamente 1,13 m³, 11,87 m³ e
2,31 m³. Estas quatro subseções juntas totalizam uma vazão admissível de 18,99
m³. Como a vazão de projeto é de 23,26 m³, a água deverá extravasar.

Tabela 8 - Condições hidráulicas da seção 2

Elemento B b(m) y(m) m1 m2 Am Pm I Rh v Qad


(m) (m) (m) (m/m) (m/m) m² (m) (m/m) (m) (m/s) (m³/s)
Ret A 1,34 0,65 0 0 0,87 2,64 0,02 0,33 4,22 3,68
Trap A 7,15 1,34 0,15 32,58 5,6 0,64 7,08 0,02 0,09 1,77 1,13
Trap B 20,31 7,15 0,29 40 5,29 3,98 20,31 0,02 0,2 2,98 11,87
Trap C 24,11 20,31 0,07 25,96 6,45 1,55 22,59 0,02 0,07 1,48 2,31
onde: B, base maior; b, base menor; y, altura; m1 e m2, inclinações dos taludes; Am, área molhada;
Pm, perímetro molhado; I, inclinação do leito; Rh, raio hidráulico; v, velocidade de fluxo; Qad, vazão
admissível; Ret, retângulo; Trap, trapézio.

Como a água deverá ultrapassar a altura de 1,16 m em relação ao leito da


sanga, será essa altura considerada como a cota de inundação máxima dentro da
área de estudo. Lateralmente, esta água se estende por 20 m da margem direita da
sanga até a rua e 2,86 m na margem esquerda (Figura 13). Essa distribuição da
água novamente é causada pela baixa inclinação do talude direito. A área atingida
pela inundação, também não é ocupada por edificações, nem trará grandes
42

prejuízos, porém esta já se encontra próxima da casa que há no terreno. Nos


resultados da modelagem tridimensional, se pode visualizar a linha média ligando
está área inundada à próxima seção.

Figura 13 - Perfil transversal da seção 2

Figura 14 - Área ocupada pela água na seção 2 para a chuva de projeto

Seção 3

A seção 3 está localizada 5 metros a montante da seção 2. Na linha deste


corte transversal se encontra a casa que há no terreno.
Três figuras geométricas foram traçadas para se projetar o comportamento
que a água terá nesta seção para a chuva de projeto (Tabela 9). O retângulo A,
43

representando a parte canalizada da sanga, suporta uma vazão admissível de 11,68


m³, o trapézio A, representando a área formada pelos taludes da sanga até o nível
da casa, suporta 8,86 m³, o trapézio B, que representa a área formada acima do
nível da casa, suporta 53,26 m³. Para a vazão de projeto de 23,26 m³, a água deverá
ocupar toda área do Retângulo A e do Trapézio A e ainda uma pequena parte do
Trapézio B.

Tabela 9 – Condições hidráulicas da seção 3

..
Elemento B b(m) y(m) m1 m2 Am Pm I Rh v Qad
(m) (m) (m) (m/m) (m/m) m² (m) (m/m) (m) (m/s) (m³/s)
Ret A 1,46 0,84 1,23 3,14 0,08 0,39 9,45 11,58
Trap A 13,41 1,46 0,29 54 7,21 2,16 19,23 0,08 0,11 4,11 8,86
Trap B 16,49 13,41 0,4 0 7,21 5,98 16,72 0,08 0,36 8,91 53,26
onde: B, base maior; b, base menor; y, altura; m1 e m2, inclinações dos taludes; Am, área molhada;
Pm, perímetro molhado; I, inclinação do leito; Rh, raio hidráulico; v, velocidade de fluxo; Qad, vazão
admissível; Ret, retângulo; Trap, trapézio.

Com isto, a água alcança a cota de inundação de 1,19 m em relação ao leito


da sanga, se estendendo 10 m na margem direita, chegando à parede dos fundos
da casa, onde subirá 0,06 m acima do nível do solo neste local. Na margem
esquerda da sanga deve se estender por 2,50 m. (Figura 15).
Como nas demais seções, a água deve se distribuir principalmente na
margem direita, devido este talude ter uma inclinação bastante inferior ao talude
esquerdo.
Esta inundação, apesar de chegar até a casa, também não deve produzir
grandes prejuízos, já que o piso desta possui uma diferença de nível para o solo de,
aproximadamente, 50 cm, sendo a altura da água neste ponto em torno de 6 cm.
44

Figura 15 - Perfil transversal da seção 3

Figura 16 - Área ocupada pela água na seção 3 para a chuva de projeto

Seção 4

A quarta seção analisada está localizada 5 metros à montante da seção 3.


Nesta projeção foram utilizadas quatro figuras geométricas para se estimar o
comportamento da água para a chuva de projeto. Estas áreas, assim como na seção
2, não foram suficientes para comportar a vazão de projeto de 23,26 m³ (Tabela 10).
O retângulo A, representando a parte canalizada da sanga, suporta uma
vazão admissível de 3,16 m³. Os trapézios A, B e C, que representam as áreas
45

formadas pelos taludes da sanga, suportam respectivamente, 0,19 m³, 0,47 m³ e


10,98 m³. Estas quatro subseções juntas totalizam uma vazão admissível de 14,8
m³. Como a vazão de projeto é de 23,26 m³, a água deverá extravasar para fora da
área de estudo.

Tabela 10 - Condições hidráulicas da seção 4

Elemento B b y m1 m2 Am Pm I Rh v Qad
(m) (m) (m) (m/m) (m/m) m² (m) (m/m) (m) (m/s) (m³/s)
Ret A 1,58 0,64 1,01 2,86 0,01 0,35 3,13 3,16
Trap A 4,65 1,58 0,08 50 0 0,25 5,66 0,01 0,04 0,78 0,19
Trap B 8,47 4,65 0,08 50 12,5 0,52 9,65 0,01 0,05 0,9 0,47
Trap C 24,6 8,47 0,3 42,75 7,41 4,96 23,54 0,01 0,21 2,21 10,98
onde: B, base maior; b, base menor; y, altura; m1 e m2, inclinações dos taludes; Am, área molhada;
Pm, perímetro molhado; I, inclinação do leito; Rh, raio hidráulico; v, velocidade de fluxo; Qad, vazão
admissível; Ret, retângulo; Trap, trapézio.

Como a água deverá ultrapassar a altura de 1,10 m em relação ao leito do


curso de água, será essa altura considerada como a cota de inundação máxima
dentro da área de estudo.
Lateralmente, a inundação se estende por 20 m da margem direita da sanga
até a rua e 3 m na margem esquerda (Figura 17). Essa distribuição da água
novamente é causada pela baixa inclinação do talude direito. A linha deste corte
transversal não é ocupada por edificações, porém entre esta seção e a seção
anterior, estão localizados a casa e o galpão. Nos resultados da modelagem
tridimensional, se pode visualizar a linha média ligando estas cotas de inundação,
onde é possível estimar os locais afetados entre as seções e os possíveis prejuízos.
46

Figura 17 - Perfil transversal da seção 4

Figura 18 - Área ocupada pela água na seção 4 para a chuva de projeto

Seção 5

A seção 5 foi medida aproximadamente 1,0 m a montante da seção 4. Esta se


encontra já em outra propriedade, também estando em um patamar com diferença
de nível de aproximadamente 0,30 m do terreno onde estão as 4 primeiras seções.
Entre esta seção e a anterior, existe um degrau de aproximadamente 0,30 m, que
pode ser apresentado nos resultados da modelagem tridimensional. Nesta projeção
foram utilizadas três figuras geométricas para se estimar o comportamento que a
água terá nesta seção para a chuva de projeto, no entanto, assim como ocorreu nas
47

seções 2 e 4, estas áreas não foram suficientes para comportar a vazão de projeto
de 23,26 m³ (Tabela 11).
O retângulo A, representando a parte canalizada da sanga, suporta uma
vazão admissível de 5,54 m³. Os trapézios A e B, que representam as áreas
formadas pelos taludes da sanga, suportam respectivamente,10,53 m³ e 2,82 m³.
Estas três subseções juntas totalizam uma vazão admissível de 18,89 m³. Como a
vazão de projeto é de 23,26 m³, a água deverá extravasar para fora da área de
estudo.

Tabela 11 - Condições hidráulicas da seção 5

Elemento B b y m1 m2 Am Pm I Rh v Qad
(m)(m) (m) (m/m) (m/m) m² (m) (m/m) (m) (m/s) (m³/s)
Ret A 1,59 0,83 1,32 3,25 0,02 0,41 4,2 5,54
Trap A 9 1,59 0,51 10,4 0 2,7 7,43 0,02 0,36 3,9 10,53
Trap B 23 9 0,12 103,9 11,9 1,92 22,9 0,02 0,08 1,47 2,82
onde: B, base maior; b, base menor; y, altura; m1 e m2, inclinações dos taludes; Am, área molhada;
Pm, perímetro molhado; I, inclinação do leito; Rh, raio hidráulico; v, velocidade de fluxo; Qad, vazão
admissível; Ret, retângulo; Trap, trapézio.

Como a água deve ultrapassar a altura de 1,46 m em relação ao leito do


curso de água, essa altura será considerada como a cota de inundação máxima
dentro da área de estudo. Lateralmente, esta inundação se estende por 20 m da
margem direita da sanga até a rua e 1,42 m na margem esquerda (Figura 19). Nesta
seção, a distribuição da água no terreno também ocorre predominantemente na
margem direita, porém, neste caso, é devido à diferença de altura das paredes do
canal artificial, sendo 0,83 m no lado direito e 1,34 m no lado esquerdo, o que
ocasiona o alocamento da água extravasada quase toda na margem direita. Esta
área atingida pela inundação, também não é ocupada por edificações, não sendo
gerados grandes prejuízos neste ponto.
48

Figura 19 - Perfil transversal da seção 5

Figura 20 - Área ocupada pela água na seção 5 para a chuva de projeto

4.3.2 Análise das demais seções

A Tabela 12 mostra os resultados encontrados na análise das condições


hidráulicas para seções nas quais somente se haviam medido as dimensões da
parte canalizada da sanga.
A vazão admissível média suportada nestas seções é de 12,04 m³/s, sendo o
valor mínimo encontrado na seção 11, onde a Qad é igual a 3,02 m³/s, e o valor
máximo é encontrado na seção 14, onde o Qad é igual a 29,03 m³/s. Como os
49

valores adotados de rugosidade para cada seção são os mesmos, as características


determinantes da vazão admissível são a geometria da seção e a inclinação do leito.
A seção 14, que suporta a maior vazão admissível, possui a maior área
molhada e o maior raio hidráulico (Rh = 0,59 m) dentre as seções aqui analisadas,
este valor alto de Rh significa que esta é a seção de drenagem mais otimizada. Por
também possuir o segundo maior valor de inclinação (I= 0,09), fica justificado seu
alto valor de Qad. A seção 11, que suporta a menor vazão admissível, possui a
menor área molhada (Am= 0,69 m²) e o menor raio hidráulico (Rh = 0,29 m) das
seções aqui estudadas, mesmo não possuindo uma das menores inclinações, é a
seção de menor capacidade. Neste caso, o fator determinante foi a geometria da
seção.
Como a vazão de projeto é de 23,26 m³, nesta parte canalizada da Sanga
Lambari apenas nas seções 13 e 14, a água não irá extravasar o canal. Isso
confirma a incapacidade desta parte canalizada da sanga de suportar grandes
chuvas, o que tem ocasionado periodicamente inundações na próxima seção a
montante, onde funciona a Casa de Retiros Nossa Senhora de Lourdes.

Tabela 12 - Condições hidráulicas das demais seções do canal considerando a


vazão de projeto

b y Am Pm n I Rh v Qad ΔQ
Seções
(m) (m) (m²) (m) (s.m1/3) m/m m m/s m3/s m3/s
6 1,18 1,35 1,59 3,88 0,02 0,03 0,41 4,78 7,62 15,64
7 1,05 1,30 1,37 3,65 0,02 0,03 0,37 4,50 6,14 17,12
8 1,22 1,20 1,46 3,62 0,02 0,03 0,40 4,74 6,93 16,33
9 1,40 0,84 1,18 3,08 0,02 0,01 0,38 3,00 3,53 19,73
10 1,35 1,23 1,66 3,81 0,02 0,01 0,44 2,87 4,77 18,49
11 1,38 0,50 0,69 2,38 0,02 0,04 0,29 4,38 3,02 20,24
12 1,50 1,48 2,22 4,46 0,02 0,04 0,50 6,28 13,94 9,32
13 1,70 1,35 2,30 4,40 0,02 0,10 0,52 10,25 23,51 -0,25
14 2,30 1,20 2,76 4,70 0,02 0,09 0,59 10,52 29,03 -5,77
15 2,50 1,00 2,50 4,50 0,02 0,08 0,56 9,25 23,13 0,13
16 1,50 0,94 1,41 3,38 0,02 0,08 0,42 7,64 10,78 12,48
Média 0,44 6,20 12,04
onde: b, base; y, altura; Am, área molhada; Pm, perímetro molhado n, coeficiente de rugosidade; I,
inclinação do leito; Rh, raio hidráulico; v, velocidade de fluxo; Qad, vazão admissível; Δ Q, diferença
entre a vazão solicitada e a vazão admissível.
50

Neste trecho também foi constatada a alta velocidade alcançada pela água,
sendo em média de 6,20 m/s, e podendo chegar a 10,52 m/s. Como o valor de
velocidade máxima admissível é de 3,0 m/s, certamente ocorrerá o processo de
erosão do revestimento do canal, como já se pode observar in loco em pontos
específicos ao longo da extensão estudada.

4.3.3 Modelagem tridimensional

Nesta etapa serão apresentados os resultados obtidos na modelagem


tridimensional do terreno, elaborada no software AutoCAD 2010.
A partir das informações obtidas sobre o comportamento hidráulico para cada
seção, foi possível traçar a área de inundação no trecho onde foi feito o estudo
detalhado. Essa área de inundação é de 261,12 m2, estando representada nas
figuras pela áreas hachuradas.
Na Figura 21 pode-se observar que a inundação se estende por uma pequena
área na margem esquerda da sanga e uma grande área na margem direita,
chegando a alcançar os fundos da casa e o galpão.
Essa área inundada não deve trazer grandes prejuízos, pois apesar de chegar
até a casa, ela não deverá invadir o interior desta, já o galpão deve ficar com piso
alagado, embora a lâmina de água seja pequena.
51

Figura 21 - Área de inundação da Sanga Lambari

A Figura 22 ilustra a área de estudo vista no sentido de jusante para


montante.

Figura 22 - Vista da área de estudo no sentido de jusante para montante


52

A Figura 23 apresenta uma vista superior, no sentido de jusante para


montante, onde se pode observar em perspectiva a área de estudo, o que facilita a
visualização do comportamento da água no terreno.

Figura 23 - Modelagem tridimensional da área de estudo, vista no sentido de


jusante para montante

A Figura 24 apresenta a área de estudo vista no sentido de montante para


jusante, onde se observa que água ocupa praticamente toda a área à direita da
casa, desde a sanga até a o fim do terreno.
53

Figura 24 - Vista da área de estudo no sentido de montante para jusante

A Figura 25 ilustra a área de estudo, de uma vista superior em perspectiva, no


sentido montante para jusante, onde se pode observar o comportamento da água
nas seções 4 e 5. Nestas duas seções a água se estende desde a margem da
sanga até a rua.

Figura 25 - Modelagem tridimensional da área de estudo, vista no sentido de


montante para jusante
54

4.4 Sugestões para resolução dos problemas encontrados neste estudo

As soluções indicadas neste trabalho serão abordadas em duas temáticas


distintas, a primeira no âmbito da engenharia hidráulica convencional e a segunda
no âmbito da engenharia natural.
No âmbito da engenharia hidráulica convencional, os principais problemas
encontrados foram a inundação das áreas marginais e a erosão do revestimento da
parte canalizada do curso de água. Analisando estes problemas, se observa que a
canalização foi realizada sem dimensionamento hidrológico e hidráulico para que
suportasse possíveis chuvas de grandes intensidades.
A inundação no trecho entre as seções 1 e 5, deve ocupar uma pequena área
da margem esquerda da sanga e uma grande área da margem direita. Esta segunda
área é a mais preocupante devido nela estarem construídas a residência e o galpão
que existem no terreno. Pela projeção, a casa deverá ser alcançada pela água,
porém esta não deve invadir o interior da residência, já o galpão deverá ter seu piso
inundado com alguns centímetros de lâmina de água. Nas demais seções
analisadas, as mais preocupantes são as seções que estão localizadas em baixo da
Casa de Retiros. Neste trecho, bem como abaixo da rua a frente a Casa de Retiros o
canal encontra-se fechado e não possui o dimensões suficientes para a vazão
resultante de uma chuva de projeto de 25 anos. Essa situação cria o represamento
de água a montante implicando no alagamento e dano às estruturas da Casa de
Retiros.
Segundo Tucci (1993), as medidas de controle das inundações em áreas
ribeirinhas podem ser classificadas em estruturais e não estruturais. O autor explica
que as medidas estruturais são aquelas nas quais ocorre a modificação do rio pelo
homem, sendo o controle feito através de obras hidráulicas como: barragens, diques
e canalização, entre outras. Já as medidas não estruturais são do tipo preventivas,
como zoneamentos de áreas de inundação, sistema de alerta ligado à defesa civil e
seguros.
As medidas estruturais podem ser divididas em extensivas e intensivas,
sendo que as extensivas são aquelas que agem na bacia, onde se procura modificar
as relações entre precipitação e vazão, e as intensivas são as que agem no rio,
acelerando, retardando ou desviando o escoamento (BARBOSA, 2006).
55

Como algumas destas medidas envolvem custos elevados, a escolha da


solução a ser implementada deve ser dada em função das características do curso
de água, do benefício da redução das enchentes e dos aspectos sociais de seu
impacto (TUCCI, 2007).
O problema da erosão do revestimento do canal é causado pela elevada
velocidade da água, que devido à inclinação do leito e à rugosidade, acaba
ultrapassando o limite permitido para que não ocorra degradação do canal.
Analisando os problemas identificados neste estudo, se observa que é
necessário aumentar a capacidade de vazão suportada pelo sistema de drenagem,
para que a água não extravase do canal e acabe inundando as áreas marginais.
Esse aumento da vazão admissível de escoamento pode ser obtido com a elevação
da inclinação do leito do canal, com o aumento da área do canal e também com a
criação de um desvio neste canal, distribuindo a vazão em mais de um canal de
escoamento.
Como a velocidade da água já está acima do limite admissível para o material
de revestimento, o aumento da inclinação para elevar a vazão de escoamento, neste
caso é desaconselhado, pois reduziria a vida útil do revestimento, caso esse não
seja substituído por outro de maior resistência.
O aumento da área do canal parece ser uma boa alternativa neste caso para
elevar a vazão admissível a um valor que suporte a vazão de projeto. Este aumento
da área para escoamento da água pode ser feito de duas maneiras: refazendo o
próprio canal ou criando um muro de contenção a alguns metros de sua margem.
Nos trechos onde o canal passa por baixo do convento e da rua, aumentar a sua
profundidade ou fazer outro canal para distribuir essa vazão seriam as alternativas
possíveis. Nos trechos que se encontram em campo aberto, existe tanto a
possibilidade de refazer o canal, aumentando sua área, como a alternativa da
construção de muros de contenção a alguns metros da margem, para que a água
barre neles, ou também poderia ser construído um canal de desvio para essa vazão
em excesso.
Todas essas sugestões apresentadas até o momento são medidas estruturais
intensivas, que buscam evitar a inundação interferindo diretamente no curso de
água. Apesar dessas alternativas serem bastante efetivas, elas acabam tendo um
alto custo de execução, devendo ser considerada a relação custo/benefício que
estas trariam. Outra opção seria o uso de medidas não estruturais, onde a os
56

moradores próximos ao curso de água , aprendam a conviver com os riscos,


podendo ser feito o monitoramento do nível de água nos dias com chuvas intensas e
também seguros que cubram possíveis danos nas propriedades. Novas construções
podem ser realizadas sobre aterro ou com elevações, no entanto devem respeitar a
manutenção de um canal suficiente para a vazão de projeto.
Outra abordagem que se pode dar aos problemas em questão, seria de não
suprimir a inundação que eventualmente pode ocorrer, e sim renaturalizar o curso
de água, algo que frequentemente vem sendo realizado em países europeus. Neste
caso se buscaria reestabelecer os padrões de comportamento hidráulico e
hidrológico, de forma semelhante aos originais. Isto se daria com a retirada da
canalização nos trechos que são a campo aberto, para que esta sanga corresse em
um leito semelhante ao natural, sendo feita a restauração vegetal das margens
através de técnicas de Engenharia Natural.
Esta alternativa, com certeza seria a melhor opção do ponto de vista
ecológico e estético, porém com a remoção do canal e a adequação a uma condição
mais próxima à normal do curso de água, o leito da sanga ficaria bem maior e seria
facilitada a ocorrência de inundações no terreno, sendo necessária a desocupação
das margens da sanga por parte dos moradores.
Rigotti e Pompêo (2011) indicam que para fazer a naturalização em
canalizações com edificação na margem ou leito, podem ser usadas as seguintes
medidas: recuperação da mata ciliar; acompanhamento do processo da recuperação
natural do leito; utilização de intervenções de Engenharia Natural na recuperação
dos meandros da seção transversal e estabilização das margens; retirada da
canalização, reabrindo as seções transversais e restaurando o revestimento do
curso de água; criação de zonas de amortecimento para reconfiguração natural do
traçado, retirada dos resíduos sólidos do curso de água, eliminação das ligações
clandestinas de esgoto na rede pluvial; remover ou remanejar as edificações que
estejam irregulares, adaptar o terreno da edificação nos casos em que não é
possível a desapropriação, entre outras.
Segundo Binter (1998), nos casos de intervenções de cursos de água dentro
de áreas urbanas, as possibilidades de renaturalização ficam limitadas devido à
necessidade de manter os níveis da água e controlar as enchentes, porém mesmo
assim existe a possibilidade de serem feitas melhorias ambientais, que muitas vezes
também favorecem as condições de vida da população ribeirinha. Ainda segundo
57

este autor, a recuperação e renaturalização dos rios é sempre realizável, entretanto,


às vezes de forma limitada em trechos onde não há áreas marginais à disposição,
tendo como restrições os custos econômicos e sociais, no caso da necessidade da
remoção da população ribeirinha ou do remanejamento de áreas agrícolas.
A renaturalização do trecho canalizado da Sanga Lambari pode ser uma
alternativa viável, desde que se entre em acordo com os proprietários dos terrenos
para a desapropriação e/ou a adaptação do terreno às novas condições do curso de
água, mediante um estudo de viabilidade desta alternativa.
58

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos neste trabalho permitem afirmar que os objetivos


propostos foram alcançados. A realização da análise hidrológica da bacia e da
análise hidráulica do trecho canalizado da Sanga Lambari permitiu que fosse
compreendido o comportamento deste sistema hídrico, e a partir disso identificados
e caracterizados os principais problemas causados pela água, possibilitando sugerir
propostas interventivas para solução destes.
Na análise hidrológica, se pode observar que a pequena bacia estudada
possui uma baixa potencialidade de produção de picos de enchentes devido à sua
forma alongada. Esta também possui uma baixa capacidade de drenagem através
dos seus dois cursos de água, o que indica que este sistema hidrográfico tem pouco
volume de escoamento fluvial.
Esta bacia apresenta um baixo tempo de concentração de 13,54 minutos,
devido a sua alta variação de altitude, o que indica que esta desenvolve uma rápida
resposta a eventos pluviométricos.
Como está bacia possui uma grande cobertura vegetal, sendo composta por
73% de florestas, se obteve um valor baixo de coeficiente de escoamento superficial,
estimando-se que apenas 43% das chuvas intensas contribuam diretamente para o
fluxo do curso de água até a seção de controle.
Na análise hidráulica, se constatou que a água pode extravasar na parte
canalizada da sanga na maioria das seções averiguadas, o que ocasionará nos
trechos que estão a céu aberto, a inundação de parte de suas áreas, alcançando a
residência localizada na margem direita deste curso de água, porém sem invadir o
seu interior, e nos trechos que se localizam abaixo do Retiro, as águas devem atingir
diretamente sua edificação. Outro fator observado na análise hidráulica foi que a
água irá atingir velocidades que podem comprometer o revestimento do canal.
Através destas informações hidrológicas e hidráulicas, se pode concluir que a
canalização da Sanga Lambari, foi realizada sem um correto dimensionamento
hidrológico e hidráulico para que esta suportasse chuvas de grandes intensidades.
Para solucionar estes problemas, foram propostas intervenções no âmbito da
Engenharia Hidráulica e no âmbito da Engenharia Natural, sendo que estas duas
59

possuem as suas peculiaridades, obtendo-se resultados bem distintos. O uso da


Engenharia Hidráulica convencional, resolveria os problemas de inundação e de
degradação do canal, mantendo as condições para habitação nas margens do curso
de água, porém seriam necessárias grandes obras, com elevados custos e um efeito
pouco agradável esteticamente e sem ganhos ecológicos. Com o uso da Engenharia
Natural, fazendo-se a renaturalização do curso de água, os resultados obtidos
seriam positivos do ponto de vista ecológico e estético, porém também seria
necessário grandes intervenções, com elevados custos, além da adequação da
ocupação das margens da sanga por parte dos moradores.
Para finalizar, se pode concluir que os resultados obtidos neste trabalho
permitiram compreender o comportamento do sistema hídrico estudado, identificar e
caracterizar os problemas deste e indicar possíveis soluções.
Ao fim, recomenda-se que se façam medições das respostas hídricas do
canal aos eventos de precipitação, para que se cruzem estes dados com os valores
estimados, e se avalie se a modelagem hídrica é representativa realmente para esta
bacia.
60

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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