Entende-se que a neurose obsessiva é uma das psiconeuroses de
defesa, pelo fato de ser resultante de uma ação “traumática” de experiências sexuais na vida infantil e se constitui um esforço de defesa contra qualquer representação e qualquer afeto oriundo de tais experiências e tendem a perpetuar o que elas tinham de incompatível com o eu. Freud (1996), em seu texto sobre as neuroses, apresenta sua preocupação com tal problema e a partir de seus estudos sobre o tipo clínico Neurose Obsessiva, pode entender que o paciente que analisou gozava de boa saúde mental até o momento em que houve uma ocorrência de incompatibilidade em sua vida representativa – isto é, até que seu eu se confrontou com uma experiência, uma representação ou um sentimento que suscitaram um afeto tão aflitivo que o sujeito decidiu esquecê-lo, pois não confiava em sua capacidade de resolver a contradição entre a representação incompatível e seu eu por meio da atividade de pensamento. Assim, a tarefa que o eu se impõe, em sua atitude defensiva, de tratar a representação incompatível, simplesmente não pode ser realizada por ele. Tanto o traço mnêmico como o afeto ligado à representação lá estão de uma vez por todas e não podem ser erradicados. Mas uma realização aproximada da tarefa se dá quando o eu transforma essa representação poderosa numa representação fraca, retirando-lhe o afeto – a soma de excitação – do qual está carregada. A representação fraca não tem então praticamente nenhuma exigência a fazer ao trabalho da associação (GOMES et al 2009). Desse modo, o que caracteriza a construção de uma neurose, é que o Eu está submetido às exigências da realidade e imposições do superego. Nesse sentido, o sujeito obsessivo passa a ter falsas conexões psíquicas, e assim, tem a tentativa de retirar do pensamento alguma representação incompatível, através de outros pensamentos, o que geram diversos pensamentos ritualísticos, para conseguir lidar com tal incompatibilidade. O CASO “HOMEM DOS RATOS” E A NEUROSE OBSESSIVA
Para responder a questão da neurose obsessiva, Freud (1909) se
deteve a estudar um caso clínico em específico. Esse estudo pôde ser conhecido como caso “homem dos ratos”, em que tece algumas considerações sobre a neurose obsessiva. Seu protagonista é um jovem advogado que sofria de sintomas clássicos de neurose obsessiva, como ideias terríveis que sempre voltam e que requerem o cumprimento de certos rituais para que não se tornem realidade. O paciente teme que coisas terríveis ocorram com seu pai e com uma dama venerada. Está submetido a impulsos obsessivos, como o de fazer mal à dama, que lhe ocorrem quando ela está ausente; mas estar longe dela lhe faz bem. Ele se impõe interdições e se atrasa em seus estudos de direito, pois apresenta inibições ligadas ao combate contra seus sintomas. Ele vem consultar Freud porque leu a “Psicopatologia da vida cotidiana”. Pode-se dizer que houve ali o encontro com o sujeito suposto saber, encontro que o conduz à hipótese de que seus sintomas querem dizer alguma coisa (SUAREZ, 2011). Para analisar a formação da neurose obsessiva, Freud (1909) discorre sobre algumas especificidades acerca da sintomatologia desse indivíduo, como a onipotência de seus pensamentos, bem como a necessidade de incerteza e da dúvida em suas vidas. A onipotência decorre da superestimação dos efeitos de seus sentimentos hostis sobre o mundo externo. Em relação a incerteza e a dúvida, o obsessivo tende a protelar qualquer decisão e são incapazes de chegar a um decisão, especialmente no que tange ao aspecto afetivo. De acordo com Suarez (2011) o neurótico obsessivo é um sujeito afetado por seu pensamento, que sofre de seus pensamentos. Na neurose obsessiva, contrariamente à histeria, o recalcamento não é ligado à amnésia e ao esquecimento, mas a uma disjunção da relação de causalidade que se produz em função de um deslocamento do afeto. O sintoma obsessivo é o resultado de deformações destinadas a mascarar o pensamento, que provêm da censura primária. O pensamento obsessivo torna-se alheio ao sujeito. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas discussões apresentadas nesse trabalho pôde-se
compreender que a estrutura neurótica obsessiva é um tipo de estrutura que realiza várias conexões através de pensamentos ritualísticos na tentativa de retirar da consciência algumas representações que foram conflituosas em determinado momento da vida do sujeito. Desse modo, o indivíduo cria uma série de estratégias ou pensamentos obsessivos a fim de lidar com essa situação de forma mais tolerável. O debate empreendido tem a finalidade de apontar qual a função da psicanálise no manejo com o sujeito obsessivo, identificando que a psicanálise pretende fazer o indivíduo falar sobre suas demandas, a fim de que este possa ressignificar o afeto mal elaborado.