É evidente que há uma naturalização da literatura, como se fosse claro o que é ou
não é um texto literário, como se não houvesse a necessidade de pensar sobre a disciplina. Jacques Derrida diz se existe um nascimento natural da literatura: “Não ao nascimento natural da literatura, não a sua origem, mas ao momento de uma naturalização da literatura, de uma interpretação da literatura, e de uma literatura de ficção com natureza, interpretação também fictícia, talvez, tanto quanto a falsa moeda da qual ela se serve”. Não existindo uma origem, mas sim, um momento de naturalização dela, um momento que ela passou a ser entendida como natural. A literatura coloca em questão a natureza, a questão da natureza como ficção. A natureza da literatura se baseia na naturalização da ficção, daquilo que é ficção como natureza. Derrida diz que existe uma interpretação da literatura, tanto a literatura que seria naturalmente uma ficção, quanto também a sua interpretação. Portanto, os dois seriam movimentos fictícios, mas também dados como naturais. Ademais, antes da literatura ser uma disciplina, é um modo se fazer, uma maneira de se colocar no mundo. E conceitua-la muda conforma a história, com os principais acontecimentos de cada época, assim a analisamos com os valores que foram construídos ao longo dos tempos. Pensar em definir literatura é pensar em seu fundamento. Há uma forte questão que liga o fundamento à uma identidade, e saber a identidade da coisa é dar a ela seu fundamento. Portanto, o que funda um fundamento se não a própria noção de fundamento, ou seja, o que funda a razão senão a própria razão. Para Hegel, o fundamento é onde identidade e diferença estão unidas de tal forma que não haja mais possibilidade de ficarmos numa identidade sem diferença e uma diferença sem identidade. “Quando se diz que o fundamento é a unidade de medida da identidade e da diferença, não se deve entender sob essa unidade a identidade abstrata; aliás teríamos apenas uma outra denominação, e ao contrário, segundo o pensamento, entender somente a própria identidade do entendimento reconhecida como não- verdadeira. Por esse motivo, para evitar um mal entendido, pode-se dizer também que o fundamento não é somente a unidade, mas também, igualmente, a diferença da identidade e da diferença. O fundamento, que primeiro resultou para nós como a supraunção da contradição, aparece assim como uma nova contradição. Mas, como tal, não é o que persiste em repouso, senão antes um repelir-se de si mesmo. O fundamento ele é próprio; e aí reside o formalismo do fundamento. O fundado e o fundamento são um só e o mesmo conteúdo, e a diferença entre os dois é a simples diferença de forma da relação simples consigo mesmo, e da medida do ser posto.” (O FUNDAMENTO, HEGEL) A história da literatura surge com a formação dos estados modernos europeus, ou seja, a partir da formação dos estados inglês, francês, espanhol, italiano e alemão. Portanto, começa-se a ter uma certa noção de como essa história deve se articular, ou seja, as articulações são todas de nacionalismo e cor-local, trazendo sempre um processo independentista. O que consideramos, em geral, como obras representativas das principais épocas das literaturas mundiais é o fato de que a literatura tem um processo humanizador, ou seja, construindo e falando de caracteristicas que são gerais ou mundiais. Esse movimento que a literatura cria, no caso, história dos grandes estilos literários, é uma história única. Portanto, toda as outras literaturas respondem a literatura europeia. Homero ao escrever a Odisséia, está apenas fazendo um registro da época. Todavia, não possui uma caracteristica de arte pela arte. Com o passar dos séculos, surge e se consolida uma relação com a sociedade, como resultado se tem uma valoração estética da obra. No artigo Una historia literaria posible más allá de la historia de la lieratura, Leonardo Funes afirma que “la historia de la literatura es un género historiográfico con una extensa tradición y rasgos más o menos definidos, entre los que destaca su aspiración panorámica, sea su horizonte local, regional, nacional o universal; mientras que la historia literaria estaría aludiendo a una práctica que puede manifestarse textualmente en formatos muy diversos, pero cuyo fundamento es la consideración prioritaria del espesor histórico de los textos, tanto en su dimensión material y tecnológica, como en su dimensión ideológica y estética”. Mais que uma estrutura verbal, obra literária tem uma relação indissociável com a realidade, porque todos os textos de ficção e todos os poemas são em alguma medida representações da realidade, da própria vida. Eles são formas de percepção da realidade, formas de memória, de juízo, de raciocínio a respeito da vida. Portanto, o escritor é um narrador das suas próprias experiências exteriores e interiores. Ele não é um criador onipotente, como alguns pensam, mas apenas um recriador que aprendeu a utilizar bem o que é chamado de poder evocativo da linguagem. A linguagem literária não tem autonomia, é apenas mediadora entre duas imaginações, a do escritor e do leitor. Por isso a luta do escritor é criar uma linguagem evocativa, isto é, que consiga tornar presente na imaginação do leitor aquela fatia da realidade, de vida que o escritor recriou. Ademais, criar uma linguagem evocativa também significa que o escritor precise incorporar a sua escrita doses crescentes da sua experiência como homem, ou seja, da sua relação com a realidade. Em The Tragedie of Hamlet, Prince of Denmarke de William Shakespeare conta a história do príncipe da Dinamarca, Hamlet, melancólico porque não consegue aceitar a morte tão inesperada e misteriosa do seu pai. E essa desconfiança acaba sendo premiada na perspectiva do aparecimento do fantasma do pai. Ele aparece e revela a verdadeira história da sua morte, que não teria sido natural, mas provocada pelo seu próprio irmão, Cláudio. Cláudio havia se tornado rei da Dinamarca casando com a mãe de Hamlet. Hamlet sabendo da verdade passa por um processo de constatação, ele precisa ter certeza daquilo que é para ser feito. O fantasma do pai clama por vingança e por justiça, pois ele mostra a Hamlet que o atual rei Cláudio é um rei injusto, porque chegou ao poder através de um ato sórdido. Hamlet como príncipe e filho do rei falecido é aquele que deve retornar as coisas no lugar certo. Cabe a ele concertar o que está desconcertado, e para isso ele deve agir. Logo, sendo necessário pensar, pois agir de forma impetuosa produz efeitos maléficos. Hamlet como príncipe e filho do rei falecido é aquele que deve retornar as coisas no lugar certo. Cabe a ele concertar o que está desconcertado, e para isso ele deve agir. Logo, sendo necessário pensar, pois agir de forma impetuosa produz efeitos maléficos. Hamlet teve vários momentos de fazer aquilo que ele tinha que fazer, ou seja, vingar a morte de seu pai. Mas ele deixa esses momentos oportunos escaparem. Com isso, ele se torna escravo das suas próprias paixões ou do excesso de suas próprias razões. Levando-o a cometer atos que não deveria contra pessoas inocentes. Hamlet não viga o pai através da morte do tio, mas ele acaba matando ou levando a morte inúmeros outros personagens. No final desse monólogo, Hamlet reconhece que o excesso de razão nos faz todos covardes. Segundo Freud (1986), a partir da teoria psicanalista, algo real na vida de Shakespeare o influenciou a representá-lo em Hamlet. A leituras em que se pode ter na obra um exemplo renascentista do complexo de Édipo, em que Hamlet tinha inveja do tio, pois era o que gostaria deter feito com seu pai. Com o desejo de possuir narcisisticamente sua mãe. O autor desenvolve na tragédia temas relevantes em todas as épocas e sociedades relacionados a condição humana, como a corrupção, traição, vingança, incesto e moralidade. Seus raciocínios são aplicáveis até os dias de hoje, dando um ar de atemporalidade. Muito se pode extrair da obra, através de seus personagens, suas falas que mostram suas personalidades que são notáveis ao leitor. Parece que Shakespeare havia observado as pessoas e a forma como elas viviam suas vidas, e em suas peças essa observação é bem profunda. Portanto, como o autor relata seus personagens faz com que eles tenham um caráter biográfico universal, dando aos leitores a sensação de se sentirem representados. No fórum 2 feito por nossa turma, Raissa Abreu disse que "em um mundo definido como "conjunto dos sintomas cuja doença se confunde como o homem", Deleuze vê a literatura como um "empreendimento de saúde", como "possibilidade de vida", como devir-revolucionário, movimento, criação, extravasamento." Por mais que a literatura consiga ser uma bela forma de expressar o que está no imaginário de cada indivíduo, que consiga ser, de certo modo, uma forma terapêutica, uma literatura de cura. Como escrever diários durante a pandemia, para aliviar a angústia, a saudade de familiares que se foram ou a ansiedade para voltar a uma rotina normal. Ela também pode vir a ser o contrário, literaturas muito melancólicas que levam ao leitor a uma sensação constante de agonias e tristezas. O que a peça pode trazer também ao leitor.