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Chesterton
Hereges
Na introdução de Ortodoxia, sua obra-prima, o autor afirma que aquele livro “é um
complemento” de Hereges. Assim, a precedência de Hereges estava clara para
Chesterton. O que levou Chesterton a escrever Hereges foi freqüentar clubes literários
na Londres fin de siècle, clubes estes onde se promoviam debates sobre as modas
intelectuais da época, ele começou a chegar a algumas conclusões. Eis a primeira
delas, sobre a qual ele nos conta em sua Autobiografia:
Ortodoxia
“Muitas vezes me imaginei a escrever um romance onde um velejador inglês errasse ligeiramente
os cálculos de sua trajetória e viesse descobrir a Inglaterra sob a impressão de que era uma nova
ilha nos mares do sul. [...] Pois se este livro é uma piada, o feitiço se volta contra o feiticeiro. Sou
eu o homem que com a mais completa ousadia descobriu o que já fora descoberto.”
– G. K. Chesterton.
Ortodoxia (1908) é que se trata, como dito logo no prefácio, da autobiografia espiritual
de Chesterton, isto é, de uma descrição dos caminhos intelectuais que o levaram a
descobrir ou, antes, a ser descoberto pelo cristianismo.
Capítulo 1 - O Lunático.
Em resumo, esses primeiros capítulos expressam porque o mundo atual, apesar de
crer-se o mais racional de todos, é na verdade louco e suicida.
1. “O editor disse sobre alguém: “Aquele homem subirá na vida; ele acredita em si
mesmo [...] O senhor me permitiria dizer onde estão os homens que mais
acreditam em si mesmos? Pois tenho a resposta; conheço homens que
acreditam em si mesmos de uma forma mais veemente que Napoleão ou
César. Sei onde flameja a estrela fixa da certeza e do sucesso. Posso guiá-lo
aos tronos dos super-homens. Os homens que realmente acreditam em si
mesmos estão todos nos manicômios. A autoconfiança completa não é
meramente um pecado; é uma fraqueza.
4. É o homem feliz que faz coisas sem sentido; o doente é fraco demais para o
ócio. São exatamente essas ações despreocupadas e desinteressadas que o
louco não pode compreender; pois (como o determinista) geralmente vê
causas demais em tudo. Leria uma conspiração nessas atividades vazias. Se
pudesse por um instante se tornar despreocupado, também se tornaria são.
6. Podemos dizer em resumo que é a razão sem raiz, a razão no vazio. O homem
que começa a pensar sem os primeiros princípios apropriados enlouquece; ele
começa a pensar pelo lado errado. Nas próximas páginas precisamos
descobrir qual o lado certo. Mas podemos perguntar como conclusão: se é isso
que leva os homens à loucura, o que é que os mantém sãos? Ao fim deste livro
espero ter dado uma resposta definitiva — talvez muito definitiva para alguns.
8. Assim ele sempre acreditou que existia o destino, mas também o livre-arbítrio;
que as crianças eram de fato o reino dos céus, mas que deveriam obedecer ao
reino da terra. Admirava a juventude porque era jovem e a velhice porque não
era. É exatamente esse equilíbrio de aparentes contradições que tem sido
responsável pela leveza do homem são. O lógico mórbido busca tornar tudo
lúcido, e só consegue tornar tudo misterioso. O místico permite que uma coisa
seja misteriosa, e tudo o mais se torna lúcido.
Capítulo 1 -