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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS

MISSÕES
CÂMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E PÓS-GRADUAÇÃO
DEPARTA MENTO DE LINGUÍSTICA LETRAS E ARTES

III SIMPÓSIO AFROCULTURA:


narrativas afro-brasileiras e indígenas,
memórias e ensino

ANAIS
Organizadores:
Ana Paula Teixeira Porto
Bibiane Trevisol
Denise Almeida Silva
Luana Teixeira Porto

FREDERICO WESTPHALEN - RS – 2015


Anais do III SIMPÓSIO
Frederico Westphalen N. 1 p. 364 Abril de 2015
AFROCULTURA

4 Anais do III Simpósio Afrocultura: narrativas afro-brasileiras e indígenas, memórias e ensino


URI - Frederico Westphalen/RS
Organização: Ana Paula Teixeira Porto, Bibiane Trevisol, Denise Almeida Silva e Luana Teixeira
Porto
Revisão Metodológica: Ana Paula Teixeira Porto
Revisão Linguística: Responsabilidade dos autores

As informações, ideias e conceitos apresentados em cada resumo bem como sua redação
formal são de responsabilidade exclusiva dos(as) autores(as).

Catalogação na Fonte elaborada pela Biblioteca Central URI/FW

S621a Simpósio Afrocultura (3.: 2015 : Frederico Westphalen, RS)


Anais [recurso eletrônico] [do] Simpósio Afrocultura: narrativas afro-brasileiras e
indígenas, memória e ensino / Organizadoras: Ana Paula Teixeira Porto, Bibiane
Trevisol, Denise Almeida Silva, Luana Teixeira Porto. – Frederico Westphalen :
URI – Frederico Westph, 2015.
364 p.

ISBN 978-85-7796-137-5

1. Literatura. 2. Afrocultura. 3. Indígenas. 4. Memória. 5. Ensino. I. Porto, Ana


Paula Teixeira. II. Trevisol, Bibiane. III. Silva, Denise Almeida. IV. Porto, Luana
Teixeira. V. Título.
CDU 82.09

5 Anais do III Simpósio Afrocultura: narrativas afro-brasileiras e indígenas, memórias e ensino


URI - Frederico Westphalen/RS
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA: O REFLEXO DAS
GUERRAS PÓS-COLONIAIS NAS OBRAS NÓS MATAMOS O CÃO-TINHOSO, DE
LUIS BERNARDO HONWANA E O DIA EM QUE O PATO DONALD COMEU PELA
PRIMEIRA VEZ A MARGARIDA, DE JOÃO MELO

Patrícia Simone Grando


Vanderléia Skorek
Silvia Helena Niererauer

RESUMO
O presente trabalho é resultado de um estudo inicial do projeto de pesquisa e do grupo de estudo:
―Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e as Guerras Pós-Coloniais – o Exemplo de Angola e
Moçambique‖ e visa constituir uma reflexão teórica e crítica acerca da formação da identidade de países
africanos lusófonos, em especial Angola e Moçambique. O estudo objetiva apresentar um panorama das
guerras pós-coloniais nestes dois países para, a seguir, apontar para um presente ainda em construção.
Através de dois autores representativos, João Melo e Luís Bernardo Honwana, buscamos resquícios de um
olhar revisionista sobre as questões coloniais e pós-coloniais, como possibilidade de criar uma identidade
própria, legítima e independente. Para tanto, o referencial teórico terá seu aporte em estudiosas como
Inocência Mata, Jane Tutikian, Rita Chaves, Laura Padilha, dentre outros.

Palavras-chave: Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Guerras Pós-Coloniais.


Angola e Moçambique.

INTRODUÇÃO

O termo pós-colonial ainda é muito debatido e causa discussões do que deve


abranger. Inocência Mata (2007), usa o termo relacionado a toda a cultura afetada pelo
processo imperial a partir do momento da colonização até o momento presente, a autora
questiona o que seria realmente uma Literatura pós-colonial, para ela não tem a haver
com a linearidade do tempo, mas sim com o processo que acontece após a
descolonização, ou independência política dos países africanos. Além do que o colonial
está sempre presente, o que possibilita moldar e sonhar com o futuro. O colonial continua
a agir, agora de outras formas, se uma vez quem dominava era externo, agora a
dominação é interna.
A literatura africana acaba por ser subsidiária dos saberes que as Ciências Sociais
e Humanas proporcionam, pois constam de sociedades independentes há pouco tempo,
sem escritos, e ―padecendo de um constrangimento que diz respeito ao facto de o homem
africano continuar a ser objeto e raramente sujeito do conhecimento científico‖ (MATA,
2007, p.27-28). Assim, a literatura africana enuncia problemas, éticos, sociais, políticos,
econômicos e ideológicos, indo além de sua natureza primária – a ficcionalidade.
Desde os períodos coloniais, quando a liberdade de expressão estava cercada, o
ponto de partida da literatura era o ―conteúdo histórico‖, pois o autor, consciente de sua
responsabilidade social e seu dever ético com a sociedade faz suas personagens
dizerem, dando voz aqueles que estão à margem da ―voz oficial‖, dai, então, dizer que a
literatura dá lugar ao indizível.
Temos que lembrar que cada país tem traços específicos de pós-colonialismo, por
isso pretendemos, com esse projeto, estudar dois países africanos – Angola e
Moçambique e,a partir de então, fazer relação entre sua literatura, identificando as
relações de semelhanças e diferenças, de rupturas e continuidades ocorridas nesse
período pós-colonial. Falamos em relações de diferenças e semelhanças, pois mesmo
que não possamos esquecer os pormenores de cada país africano ex-colônia, devemos
ter em mente que existem traços generalizantes. ―Não admira que no caso dos sistemas

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literários dos países africanos de língua portuguesa haja lugares persistentes que
percorrem as literaturas, como é o caso da utopia libertária‖. (MATA, 2007, p. 34).
O fato de esses países terem ―conquistado‖ independência política, não quer dizer
―independência real e de liberdade, como prova a literatura que tem revelado e
denunciado a internalização do outro no pós-independência‖. (MATA, 2007, p. 39).

ESTUDOS INICIAIS

Para iniciarmos este estudo, nos baseamos no livro ―A Literatura Africana e a


Crítica Pós-colonial: reconversões‖, de Inocência Mata, neste caminho, analisamos os
contos ―Nós Matamos o Cão-Tinhoso‖, de Luis Bernardo Honwana, e ―O Dia Em Que O
Pato Donald Comeu pela Primeira vez a Margarida‖, de João Melo.
Nós matámos o Cão Tinhoso(1964), pode ser considerado um projeto
literariamente moçambicano, foi lançado na década de 60 por Luís Bernardo Honwana. A
história se passa em Moçambique, nos insere, enquanto leitores, nas violentas estruturas
sociais da época. Ao considerarmos a linguagem da história, notamos que o autor usa-se
do português fundamentalenriquecido com aquisições linguísticas moçambicanas.
Narrada por uma criança inocente, o conto vai revelando-se com um grau de violência
espantoso, a história, aparentemente sem importância, resulta na impressãodo tempo
arrastado, que parece não passar, provoca no leitor um desconforto, surgindo um
estranhoefeito, a impressão de que talvez o que está sendo contado não seja a realidade
que aparecerá nas páginas seguintes.
Durante a leitura somos envolvidos pelo que está sendo contado, assim
partilhamos do sofrimento daquele cão, e também do próprio menino, que também é o
narrador do conto, em certo ponto, até nos penalizamos, tendo em vista que o
envolvimento deste na morte do cão ter sido involuntária. A história revela-se cruel e
absurda com a morte do pobre cão.
Nós matámos o Cão Tinhoso questiona a situação de discriminação racial, tem
claros componentes político-ideológicos, todavia, esboça com clareza uma problemática
ética, concentrando em si mesma essas propostas políticas e ideológicas. De um lado
vemos a opressão, a violência e a injustiça, onde o sacrifício do cão pode ser visto como
uma metáfora de todo um povo ou país inteiro, ai também encontra-se o sistema colonial,
senil, encanecido e já sem forças para enfrentar uma nova força que busca o progresso
de Moçambique. Deoutro lado tem-se, involuntariamente o narrador, que sofreu pelo
crime que cometeu.
No segundo conto, notamos que João Melo busca, em sua escrita recuperar
parodicamente certos personagens, como o Pato Donald e Margarida, personagens
infantis de quadrinhos da Disney, ele brinca com a obra parodiada, trazendo-as ao
continente africano e dando-lhes um novo contexto. O dia em que o Pato Donald comeu
pela primeira vez a Margarida(2006) já ousa expressando ao leitor que não se trata de um
conto habitual, mas deixa claro que ali o leitor encontrará histórias marcadas pelos traços
da oralidade, característicos da cultura angolana, assim aproxima-se daquilo que Simões
Lopes Neto chama de causos e mesmo à literatura angolana marcada por traços orais.
Em O dia em que o Pato Donald comeu pela primeira vez a Margarida,o escritor,
jornalista e professor, procura a motivação erótica demaneira curiosa, mostra o erotismo
de forma escancarada, mencionandoformas de violência geralmente pautadas a
encontros aleatórios e causaisnos quais os corpos procuram serenar a urgência de sexo.
Com isso o escritor expõemum erotismo que é fortementeperturbador com relação não
apenas ao contexto de enunciação de seus contos,mas também à exposição de relações
amorosas contrárias ao senso comum. Haja vista que o erotismo presente nos contos

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funciona, como umaestrutura de desestabilização e de enfrentamento, para isso usa
expressões mais duras, dando tom de forte realismo e se afastando de visões românticas.
A leitura do conto, precisa ser atenta aouso intencional da ironia e da crítica, não
deixando escapar os recursose os elementosimportantes do discurso de narradores nada
dignos de fé.

APROXIMAÇÕES CONCLUSIVAS

Tratando-se este, de um estudo inicial, consideramos cedo para uma conclusão


com teor mais definitiva, uma vez que esta é a semente inicial de um estudo que ainda
está por florescer, a certeza nos bons frutos que devem ser colhidos continua forte
refirmando assim a importância deste estudo, apoiado e apoiandoa lei federal nº 10.639,
de 2003, que modificou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de cultura africana e afro-brasileira nas
escolas públicas e privadas de todos os estados brasileiros. Desse modo, com a
divulgação dos resultados a serem alcançados pela pesquisa, qualifica-se, inclusive a
prática docente dos participantes do projeto e do grupo de estudo, integrando ensino e
pesquisa de forma imbricada e multidisciplinar.

REFERÊNCIAS

HONWANA,Luis Bernardo.Nós Matamos o Cão-Tinhoso. Editora Afrontamento. Porto,


1964. Disponível em www.fnac.pt/Nos-Matamos-o-Cao-Tinhoso-Luis-
Bernardo.../a239986. Acesso em: 07 out. 2014.

MATA, Inocência. A Literatura Africana e a Crítica Pós-colonial: reconversões. Editorial


Nzila. São Paulo, Luanda, Angola, 2007.

MELO,João. O Dia em que o Pato Donald comeu pela primeira vez a Margarida.
Editorial Caminho AS. Lisboa, 2006.

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