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Poesia
Jacson J. Faller
Escombros
Poesia
2ª Edição
Organização
Marcus Wörterheim
fosse apenas o desespero da
ocasião da
descarga de palavreado
perguntando se não será melhor abortar
que ser estéril
Samuel Beckett
Prefácio, 11
Escombros, 121
Marcus Wörterheim
Porto Alegre, outono de 2021.
O Fruto Comemora o Apodrecer
Olhando pela Janela
15
Coisas
16
Mais uma Canção de Amor
Amar é confuso
Minha vida não é como a tua.
Te amo. Te deixo…
O pessimismo toma conta
A verdade vem à tona
Um poeta se insinua.
17
À Loucura
A loucura
É a rouquidão da mente.
É uma doença ou algo que nos atrai?
Quando a loucura se manifesta
O ambíguo se impõe,
Sua voz provoca o riso ou
Nos leva à paixão?
Coisas do Homem ou coisa do gênio
Que nos une ou nos divide
Nos palcos do dia a dia
De onde tiramos a experiência.
A loucura,
Aquela que nos confunde, lamenta a controvérsia
Dos Homens que a rodeiam…
Sente-se triste e solitária quando sua origem não levanta
Nenhum suspiro (longo) no Tempo
Ou nenhuma Causa maior que antes.
‘Sou um parasita julgado pelo medo ou
Uma essência que assombra os entes…’
Pensa ela, aliciada pela dúvida
Que rasga também
O espírito servente.
A loucura,
A que não impõe limites.
Que fútil aos covardes
E um tesouro — para o ir-além….
Deslumbrante enigma do mundo,
Deusa de Calígulas e de Napoleões,
Amante dos poetas entre os sonetos
Perfumado lençol da ilusão —
18
Recebe os lobos e seus ideais
Junto aos inocentes e aos amorais…
Como se fossem todos filhos
Que precisassem de paz.
À Loucura,
Dama colossal de qualquer território.
Irmã mais velha da Razão e do Caos.
Que o desequilíbrio acompanha desde sempre
Atribuído ao descaso dos ausentes.
Julgada como qualquer palavra
Em que o significado nos perturba, e se mantém…
19
03:00
20
Insônia
21
Lúcia
22
Deixo Meus Cânticos
Homem-Seu. Incompreendido.
Cujo Deus foi o desequilíbrio,
A noite sua genitora e
Seu pai, o sofrimento….
23
O Fruto Comemora o Apodrecer
24
Você ainda lembra?
25
Também Tenho uma Sina
26
Sabino
Em louvor à arte
Tomo emprestado de um livro
A ilustração magnífica
da capa
e a imortalidade
de Sabino.
Exibindo-me (assim) entre os convidados
divulgo a poesia sem lucro….
… e minha camiseta toda estampada
com a ilustração
(ilustre).
Bebo um ou outro champanha
Lançando assim meu livreto
“Como é estranho esse poeta”
Irão dizer as marionetes….
[UM PRELÚDIO DE FUTURO ANSEIO UM DIA
MUITO MAIS QUE POEMAS NA BARRIGA]
Espero que ao amanhecer, bêbado, eu esteja ainda
Os críticos de olhos arregalados e
todas nuas
as meninas.
E solitário em pensamentos
direi sem rodeios…
Ficaste louco de vez
em anseios
Quando choveu
— Sabino.
27
Ruínas
28
É Tão Engraçado
É tão engraçado
Eu, aqui parado
E o tempo passando
A lua nova fingindo
Um tal astro-rei chorando
O céu azulado
O amor iludindo e deixando
E eu aqui, sentado
É tão engraçado
Os casais entre olhares namorando
Conciliações pelo ar pairando
E eu aqui, sozinho
Só pensando
É tão engraçado.
29
Meu Leito é um leito de Gelo
30
Potência do Nada
31
Palavras que não cessam…
32
Relatos
I
Na calçada há uma flor entre os corpos.
Uma flor trazida por uma menina cega.
Ao lado, com câncer, uma idosa espera…
II
Sigo uma linha áspera que me leva ao céu.
Flutuo sobre a cidade noturna…
Caio à disposição dos carros na avenida.
III
Abraçam-se os dois, sorrindo
Com corpos brilhantes de sangue.
IV
Corre perto dali o assassino.
Uma criança contempla a cena.
33
Uma Tarde de Caminhada
34
À Mesa
embriago de gregos
aparenta-me
um desvelo de outro deus
35
Oblata
36
Adeus
gostaria de partir
rumo ao princípio da terra
ao livro perdido
partir rumo a um horizonte, nunca
visto antes
37
Ouço o Clamor da Serpente
38
Morte Sorrateira
Há tempos
Não via noite tão escura
Tanta escuridão em uma só noite
Funesta figura
Um rosto tão voraz e deslumbrante.
39
Um Dolorido e Presunçoso Quintanar
Ontem
estive n’um velório
40
Noites
em momentos de lucidez
com minhas calejadas mãos
sustento este imenso céu…
II
III
IV
41
V
acordo
deparo-me com meu corpo no teto
olhando-me e sorrindo
com os ossos quebrados e o coração partido
VI
VII
VIII
de perfil distraído
o fantasma-mor me fita
a página me desafia:
Idiota... Medíocre... Insolente...
preencha-me com tua impotência
sufoca-me com tua pobreza...
a abandono sem medo
entrego-me à noite
e vejo-me a fragmentar.
42
XIX
XX
não me importa
se a palavra é fraca
se a rima é pobre
aonde te levas
onde te sentes
me importa.
43
Desalento
44
Quinto de Gregório
45
é o da sua própria solidão...
Já com fome e muita sede,
não distingue realidade e alucinação,
conversa horas com o cadáver que,
calmante, levantara-se do chão...
Ele desce as escadas com o corpo em seus braços,
sonolento e transtornado, chega ao escuro porão.
Sem aguentar o peso do ouro,
o casco rompido do velho navio
traduzia para o assassino:
aquele seria seu fim...
O corpo já estava boiando,
enquanto o assassino se desesperava:
Aqui estou afundando, na gélida saliva de Deus… e
agora que a morte purifica meu coração,
percebo que o Demônio é o ouro
e que, eu, ao desejar o tesouro
— assassinei meu irmão.
46
Segundo da Cânone
47
Uma Homenagem ao Erro
48
Nos Jardins da Alquimia
49
Fragmento
50
Aβουλή
Abulia.
51
Encontro
52
Uivos de um Amor Perdido
53
Doença
54
Morrer Todas as Noites
Ontem me deitei
Com o pesar daqueles anos.
Lembrei-me de como eram doloridas
Minhas feridas de infância...
Ontem me deitei
Com uma dúvida sombria:
Para que pensar assim
Se é assim todos os dias?
Ontem me deitei
Em toda a minha insignificância,
Me cobri com nossa música,
Sonhei com nossa dança...
Ontem me deitei
Nas pétalas da verdade:
Nem mais as crianças são sinceras
Nem a noite
Nem a morte...
Ontem me deitei
Sobre meu atro destino –
Relutei pela madrugada;
Padeci sozinho...
Ontem me deitei
Para cumprir os versos do
[epicédio,
Abraçar minha sina:
Morrer todas as noites
55
Meu Pensar em Ti
Se te faço frases
Queres flores –
Se te trago rosas
Forças briga –
(É sempre bom
quando à noite
ficas comigo...)
Se te rogo pragas
Sentes sono –
Se te amaldiçoo mais
Viras anjo –
(É sempre bom
quanto antes
virar o jogo...)
Se fico em silêncio
Choras por dentro –
Se falo um pouco
Já estamos bem –
(É sempre bom
quando lês...
meu pensar em ti.)
56
Adro
A persistência e a angústia
Imperam durante as eras.
Almas humanas sem anelo
São escravas do carbono...
57
O que procuras não existe
Até encontrarmos uma imagem.
À nossa volta sentimos o mundo
Cada pessoa possui um horizonte...
58
Temporalidade Cacofônica
O nojo do hoje
O já jazigo —
Vida cacofônica
Onde amo os mortos.
59
Não Vejo Meus Dias Há Anos
60
Revés
O meu revés
estava torto
ao invés
de gritar
calei.
A minha vida
estava torta
ao contorno de passar
parei.
61
Onde Está a Arte
os Palhaços.
62
Poema
(são dolorosos
os primeiros passos de um dia –
flores
sangue
poemas)
63
Despertar
64
Espelho
65
Fato-Passo
De cada passo
Que destaco da calçada
Perco um movimento...
Se não fala minha palavra
Não possuo uma imagem:
A perdi no ante-atrito
Que precede ao fato...
Não escrevo nas ruas
Poeto a passadas!
Depois dissipo no pós-atrito
Que sucede ao fato...
Um passo, dois passos
Como me doem estes detalhes
Que fotografo
— à tarde...
66
Composição
com pó
com po sição
com ra razia
com por
com dor
can ç ões
com po esia
com po dridão
com nos talgia
com a versão
con so lidei
con so lação
não va cilei
67
Ilha
68
Movimentos
Um movimento
Um alvo em movimento...
Alvo para quem?
Alvo para que?
É só um movimento
Um pensamento...
Sou só. É só aparência:
Trespasso a rua em devaneio
Não estou a salvo...
Sou um alvo.
Enquanto alvo
Noite ávida...
Enquanto ávido
Manhã esfólia...
Um movimento
Um alvo em movimento...
Retrocedo.
Sou um alvo.
69
Olhos Índios
70
Santidade
71
Maria-Puta-Da-Paixão
72
Na Carne
73
Alvitre
74
Quarto de Infância
Medo.
75
Líquido
à menina que bebia aquilo rosa
76
No Corpo um Universo
à menina que comia sementes
77
Animæ
78
Ele poderá existir...
Sombras e movimentos assombram o forçado olho,
Enquanto brinco e espero a constância do ser...
O fruto podre da espera é a angústia maturada
Em anseios e calafrios... uma criança –
Que solta o choro, solta o riso,
Baba a boca, transborda o muco...
No silêncio ouço mais, na cegueira a tudo se vê...
– Rasgo o véu! O outro sou eu! – Acorda! Brinca! Levanta-te!
Espera & brinda! Saúda a juventude com os teus!
(de saudades morro, irmão & irmã...
estou só – e a meia-noite se aproxima...
de vontades morro, escuridão & lampejo...
estou só – e a meia-noite se aproxima...).
Qual é o gesto dos gestos pouco importa,
Há a raiva e há o tempo; qual espaço é o espaço pouco noto
– há o movimento... e
Existo; Eu... Carapaça dura, frágil coração...
De carne também é o feto e o pão...
Alimento & alimento...
De palavra também é o feto e o pão...
Proeminente é o homem em seu castelo de ideais,
Na pueril realidade de seus sonhos infantis –
A dúvida faz o humano na promessa e na certeza,
Como o silencioso “Não!” do animal infeliz...
Perceber o mundo, a terra e o fel,
O inerte ato controverso e real,
Negar aos céus o que nos é obrigação,
Reter a dormência da língua viril –
É lançar-se ao perigo, proteger e pedrar...
A melancolia é uma deusa tranquila,
Satisfeita do necessário, passa a desejar...
Do desejo vem o vácuo; manto áspero sobre corpo senil...
— de todas as noites, a meia-noite é a mãe,
79
Sopro dos sopros e de toda traição...
Do despertar sempre presente da luz que não comporto...
Da escuridão de minha vida &
dos beijos de minha sorte:
80
Um Adeus à Vovó
À menina que comia sementes
81
A Análise de Hermes
82
Poesia
83
Nu Artístico
hoje
o que quero
é
despir-me
despir-me de todo efêmero
despir-me de toda amargura
armadura
de todo receio
almejo
ao meio
despir-me da sina
das cinzas
das coimas
despir-me de toda a sorte
todo norte
todo seixo
despir-me da máquina
da máscara
das sombras
das farpas
de tudo o que é presumível
plausível
inerte
despir-me sem zelo
vagar sem elo
acordar sem medo
84
hoje
o que quero
é
despir-me
despir-me ao ventre
despir-me ao útero
85
Azáfama
Sofremos
&
Calados
Futuros
&
Passados
Vexames
&
Vitórias
Marias
&
Glórias
Fantasmas atormentados
86
Ex-Voto
87
Silêncio
Absurdo!
Venho gritar sobre o meu silêncio...
Mas não grito
— Assumo.
88
Ex-Voto-Redux
89
Há Sempre Algo Entre o Plano e os Fatos
90
Tempo
91
Da poesia de que não tive coragem
92
da poesia de que não tive coragem
93
da maria puta da paixão
94
da enferma que sonha sonhos de deus
95
da infanti solidão
96
do desapego
97
das coisas que há
98
do fazer-se em cacos
99
do querer-dizer no rasgo da analogia
100
dos pré-fragmentos
101
das coisas que não sei o nome
102
do não estar mais presente
103
das criaturas que habitam a realidade
104
do fisicalista em crise
105
do amor prometido
Lábios, dentes, saliva —
Do que é feito o amor prometido?
Vibrações de um crânio oco, uma vertigem
Um pueril instante, uma língua...?
“Prometo-te... é para sempre...”
A resposta: Um Ruído!
106
do desaconchego pátrio
emaranhado à tela
os pés ao léu
acortino o descompasso
da vertigem do tempo
oscilo ao gosto
de um deus qualquer
de toda senda a sombra é o pai
e ainda me sobra um pescoço
que ei de quebrar
107
do sábado por dentro frio
108
das coisinhas pequenas e grudentas
à música
109
do fetiche
M
Mi
Mil
Mill
Milla
Milla J
Milla Jo
Milla Jov
Milla Jovo
Milla Jovov
Milla Jovovi
Milla Jovovic
Milla Jovovich
Milla Jovovic
Milla Jovovi
Milla Jovov
Milla Jovo
Milla Jov
Milla Jo
Milla J
Milla
Mill
Mil
Mi
M
110
dos sábados às dez
111
da transcendência
112
dos versos tortos
113
da primavera interior
114
do desalento
tão mau
tão vão
tão nulo
homem que sonha
homem que sombreia
e tateia sobre a própria sombra
em busca de algo que não pode tocar
115
da poesia
116
da experiência anapodíctica
117
da criação
118
do vazio nas prateleiras
119
do final
120
Escombros
121
Poema Primeiro
122
Poema Segundo
123
Poema Terceiro
124
Poema Quarto
125
Poema Quinto
no escrito da carta
um segredo...
126
Poema Sexto
em vão
palavra torta, frase morta
amém!
e o povo ora
reza, esfrega as mãos
e o povo ruge, foge
finge, não passa
há uma escada!
e o povo ora
chama, proclama, reclama
meu deus!
reza, para
gato preto, não!
e o povo ora
arruda, ferradura
amém!
127
Poema Sétimo
128
Poema Oitavo
129
Poema Nono
quando escrevo
não penso no sentido
penso no ritmo
se o som é longo ou conflito
absinto.
alojada.
gemido.
formiga.
130
Poema Décimo
131
Poema Décimo Primeiro
132
Poema Décimo Segundo
133
Poema Último
134