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Aluno: Judah Nahum

Metafísica em Aristóteles

Texto I

O termo metafísica tem seu uso e significado disputados desde que o termo foi usado
para se referir à obra de Aristóteles. A tradição afirma, apesar de não haver consenso quanto a
isso, que o termo surgiu pela primeira vez no Século I a.C., e que foi cunhado por Nicolau de
Damasco, um dos primeiros editores da obra aristotélica. Outro ponto interessante a ser
destacado dessa história é que apesar de ter sido escolhido de forma a facilitar a preservação e
a organização editorial das obras de Aristóteles, o termo acabou servindo também para se
referir ao conteúdo dos 14 livros da obra em questão.
Este fato curioso ocorreu por coincidência, defendem alguns especialistas, já que os
livros de filosofia primeira - que era a forma como os gregos se referiam aos estudos das
coisas que estão “além da física” -, ficavam guardados numa seção após os livros de física -
ou estudos que tentavam dar início ao que hoje entendemos como ciências naturais -, dentro
das bibliotecas. Daí surgiu o termo metafísica, como forma de informar em qual parte da
biblioteca ficavam armazenados seus livros (após os livros de física). Com isso, acreditava-se
que o termo tivesse sido escolhido mais por questões editoriais do que propriamente
filosóficas, apenas para facilitar o armazenamento e organização dos textos de Aristóteles.
Ainda analisando a questão da escolha e uso do termo em questão, ao longo do
século XX, no decorrer de mais estudos filosóficos e históricos acerca da obra aristotélica,
acabaram surgindo outras possibilidades de explicação da origem do termo que dá nome a
uma das principais obras do filósofo grego. Uma delas, é que o termo não surgiu apenas por
questões editoriais, mas foi escolhido propositalmente por se referir, como eu disse acima, ao
conteúdo contido nos livros que compõem a obra.
Essa hipótese mais recente é fruto de estudos mais aprofundados do texto,
principalmente de trechos em que Aristóteles afirma mais precisamente sobre o que se propõe
a investigar naqueles 14 livros. Em determinada passagem, por aspirações puramente
didáticas, o filósofo divide os conhecimentos humanos em dois tipos: os conhecimentos de
origem física, que seria o tipo de saber focado na apreensão de conhecimento do mundo
físico ou natural e os conhecimentos de cunho metafísico, que para ele era entendida como o
estudo das coisas inteiramente separadas da matéria e por isso mesmo não possuíam parte ou
corpo físico. É a partir desta distinção que seguem os seguintes questionamentos:
i - O que são conhecimentos metafísicos?
ii - Em que a distinção proposta por Aristóteles nos ajuda a compreender o que seria
metafísica?
Segundo o filósofo, tal distinção é fruto de uma “hierarquia natural” na aquisição de
conhecimento por parte do homem - aqui entendido como toda a espécie humana -, sendo
assim, os tipos de conhecimento da física seriam os primeiros e mais fáceis de serem
apreendidos, pois bastaria compreendermos, através dos sentidos, como se comportam os
objetos físicos e assim conheceríamos o mundo natural e sua física. Porém, apesar de
podermos apreender os conhecimentos físicos de forma mais fácil e quase direta - pois os
compreendemos através dos sentidos -, eles são, por natureza, o tipo de conhecimento
posterior. Mas posterior a quê? Posterior ao conhecimento da metafísica. Aristóteles
acreditava que o estudo da metafísica era naturalmente anterior ao de qualquer outra coisa,
pois na metafísica já estava contido o estudo de todos os demais saberes, já que ela é o saber
que se ocupa do estudo da realidade em si mesma. E para ele, essa “troca de valores” entre os
conhecimentos se dá por nossa natureza humana, que é guiada pelos sentidos e acaba
supervalorizando aquilo que apreende por eles.
E por último, ainda em meados do século XX houve estudiosos que puseram em
xeque o status da obra de Aristóteles como sendo um livro único e até mesmo como sendo de
fato um texto aristotélico. Segundo essa ala - adepta do método histórico-genético - de
especialistas, os 14 livros da Metafísica não possuíam unidade literária suficiente para serem
considerados o mesmo livro. Alguns até defendiam que a obra possuía contradições
argumentativas internas. A partir desses novos questionamentos, iniciou-se uma nova
investigação, ainda mais aprofundada da obra, para tentar encontrar uma resposta satisfatória
a essa ala mais cética. Sendo assim, após mais alguns anos, abandonou-se o método histórico-
genético, que foi considerado o grande responsável pelos novos questionamentos, e chegou-
se à conclusão que a Metafísica não seria uma obra unitária, mas sim uma coleção de livros
que não foram todos escritos de uma só vez, mas que foram frutos de anos de reflexão,
meditação e discussão, por parte dos alunos do Liceu, já que quando os 14 livros foram
escritos por Aristóteles, seu destino primeiro era ser lido por seus alunos. Sendo assim,
chegamos à conclusão que não só os livros são de fato de autoria de Aristóteles, como
também não é possível compreendê-los separadamente, já que eles compartilham além da
unidade literária, uma unidade também especulativa, já que são frutos das mesmas aspirações
e inquietações filosóficas.
Texto II

Nesta primeira seção estudamos a metafísica como ciência e conhecimento das causas
de determinado fenômeno. Por exemplo, se estudarmos as razões dos números e das relações
numéricas, teremos a ciência matemática; se estudarmos as razões e causas dos fenômenos
celestes, teremos a ciência astronômica, e assim por diante. Logo, a ciência metafísica seria o
estudo dos princípios mais básicos de todas as coisas ou o conhecimento das razões mais
básicas de toda a realidade.
Na segunda seção, vemos que a metafísica não se detém apenas numa ou outra
característica da realidade. Pelo contrário, o objeto de estudo da metafísica é a realidade em
si mesma, o que para Aristóteles seria o Ser. Ou o Ser enquanto Ser. Logo, o estudo da
Metafísica se faz necessário, pois é através dele que podemos conhecer as causas supremas
ou primeiras da realidade, causas que a partir das quais se derivam todas as outras.
Na terceira seção, se analisa aquilo que Aristóteles escreveu sobre a substância, que
para ele seria a principal característica ou significado do Ser. Todos os outros sentidos pelos
quais o Ser se expressa são derivados da substância. Logo, conhecer os princípios e causas
primeiras do Ser, passa pelo conhecimento da substância. Ao meu ver, parece existir uma
certa relação de equidade ou equivalência entre Ser e Substância.
Por fim, Aristóteles defende sua metafísica como ciência teológica ao afirmar que a
metafísica é o estudo mais nobre dos conhecimentos humanos por se ocupar das coisas
divinas, que seriam os estudos aprofundados dos princípios basilares da realidade. Ao afirmar
isso, Aristóteles chega mesmo a atacar o que chamava de filósofos naturalistas, que segundo
ele, se dedicavam apenas à consideração dos objetos físicos e esqueciam do supra-sensível.
Pode-se notar por tudo isso uma veia não só teológica, mas mesmo quase religiosa em
Aristóteles.
Se não bastasse, Aristóteles acreditava existir uma substância primeira - talvez
Deus? - e supra-sensível e só por causa dela pode-se existir a filosofia primeira, que é a
metafísica. Ou seja, para Aristóteles a existência da metafísica é consequência lógica da
existência desta substância. Se tal substância primeira não existisse, não existiria metafísica,
logo não teríamos como investigar a realidade além daquilo que os conhecimentos da física e
dos seus objetos nos permitiriam.
REFERÊNCIAS:

ARISTÓTELES. Metafísica. Ensaio introdutório, texto grego com tradução e comentário de


Giovanni Reale. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2001.

REALE, Giovanni. Ensaio Introdutório. IN: ARISTÓTELES. Metafísica. Ensaio Introdutório,


texto grego com tradução e comentário de Giovanni Reale. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo:
Loyola, 2001.

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